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Lívia Milena da Silva
Rosemeire Rodrigues Junqueira

O PROCESSO DE REINSERÇÃO FAMILIAR DE CRIANÇAS E


ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO
INSTITUCIONAL
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - “Família”. Tarsila do Amaral, 1925 ........................................................................ 11


Figura 2 - Abandono de bebê na Roda dos Expostos ............................................................... 16
Figura 3 - Restos da coleção Casa Pia de Lisboa ..................................................................... 19
Figura 4 - Primeira Roda dos Expostos do Brasil na Santa Casa de Misericórdia em Salvador
– Bahia ...................................................................................................................................... 21
Figura 5 - “Asylo dos Expostos”. São Paulo, 1919 .................................................................. 22
Figura 6 - “Mãe com crianças e laranjas”. Picasso, 1951......................................................... 32

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF/88 - Constituição Federal de 1988


CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social
SGD – Sistema de Garantia de Direitos
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
SAICA – Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes
SMADS – Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome
PNAS - Política Nacional de Assistência Social
PAEF - Programa de Atendimento a Família e Indivíduo
PAIF - Programa de Atendimento Integral à Família
PIA – Plano Individual de Atendimento
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4
I – BREVE RESGATE HISTÓRICO DA FAMÍLIA E DA ASSISTÊNCIA A INFÂNCIA8
1.1 - A Origem da Família: uma análise sobre o estudo de Engels .................................... 8
1.2 – Mudanças na família contemporânea ...................................................................... 11
1.3 - A gênese da assistência à criança abandonada ......................................................... 15
1.4 - Principais marcos históricos da institucionalização de crianças no Brasil ............... 19
II – AVANÇOS E DESAFIOS NA INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES .............................................................................................................. 25
2.1 - O direito a convivência familiar e comunitária e a função do Estado na sua garantia25
2.2 - Reinserção à família de origem ................................................................................ 31
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 44
4

INTRODUÇÃO

A pesquisa a que segue é resultado da experiência no campo de estágio supervisionado


em Serviço Social no equipamento CREAS – Centro de Referência Especializado de
Assistência Social da subprefeitura Sé, no Município de São Paulo - SP. Órgão público
estatal, que na divisão da Tipificação Nacional (2011) e Portaria 46/47 do Município de São
Paulo (2012) dos Serviços Socioassistencias, atende as demandas da Proteção Especial de
Média e Alta Complexidade e supervisiona os serviços que prestam tal proteção, executados
pelas ONGs conveniadas com a SMADS – Secretaria Municipal de Assistência e
Desenvolvimento Social, dentre eles os 07 (sete) SAICAS – Serviço de Acolhimento
Institucional de Crianças e Adolescentes, localizados na região central de São Paulo - SP. Que
se caracterizam por oferecer acolhimento de caráter provisório, protetivo e excepcional, como
prevê o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), em medida de proteção e em
situação de risco pessoal, social e de abandono, quando suas famílias ou responsáveis
encontrarem-se temporariamente impossibilitados de cumprir seu dever de cuidado e
proteção.
A indagação surgiu especificamente com a chegada de diversos Ofícios do Ministério
Público – Vara da Infância e Juventude e Vara da Família, solicitando relatório
circunstanciado referente à dinâmica de vida de determinadas famílias, que se encontram com
seus filhos “provisoriamente” sob tutela do Estado. Ofícios esses que tinham um conteúdo
com viés de julgamento às famílias, que eram contraditórios a fala das mesmas, referente a
real causa de seus filhos estarem acolhidos. Este atendimento é realizado mediante visita
domiciliar. As famílias residem na região de abrangência do CREAS-Sé, os abrigos onde os
filhos destas famílias estão acolhidos, nem sempre estão próximos, como determina a
legislação vigente.
É esta contradição do Estado Democrático de Direito, para com estas famílias que vai
ser abordado como problema nesta pesquisa: até que ponto o acolhimento institucional é de
caráter protetivo, provisório e excepcional para com a criança/adolescente e passa a ser uma
ação invasiva, culpabilizadora e punitiva, que oprime as famílias pobres? O Estado garante os
direitos básicos dessas famílias, para terem chances concretas de se “organizarem”, dentro das
suas possibilidades e dinâmica de vida peculiar, para assim terem a guarda de seus filhos de
volta?
5

Considerando haver a necessidade de levantar a discussão sobre esta realidade que é


tão perversa e invisibilizada, no intuito de possibilitar a reflexão dos trabalhadores da rede
socioassistencial que lidam direto ou indiretamente com a situação, bem como no ambiente
acadêmico, nos movimentos de infância e adolescência, nas instituições do Poder Público,
principalmente do Judiciário, e da sociedade em geral, para que assim sejam pensadas
estratégias que possibilitem a superação dessa situação que não pode continuar sendo
ignorada.
Se a pesquisa causar ao menos uma pequena reflexão fora do senso comum, é
possível dizer que foi alcançado algum resultado com a mesma, pois é sabido que as ideias
que são contra a ordem burguesa estabelecida, são difíceis de serem aceitas.
O estudo deste fenômeno tem como objetivo geral: realizar um levantamento
bibliográfico referente ao processo de reinserção familiar de crianças e adolescentes em
situação de acolhimento institucional. E como objetivo específico: é pretendido realizar uma
contextualização histórica do tema, em seguida analisar a legislação que prevê a convivência
familiar como um direito, em contrapartida com leituras crítica referente à reinserção familiar.
Acompanhando as visitas domiciliares às famílias que estavam com seus filhos
acolhidos, como estagiária, em caráter de observação, foi possível perceber e levantar a
seguinte hipótese: que independente do tempo que havia ocorrido o acolhimento institucional
dos filhos destas famílias, o Estado não havia proposto possibilidades concretas para as
mesmas se organizarem a terem seus filhos de volta, apenas o tempo pelo tempo, onde muitas
vezes as questões que possibilitaram a perda “provisória” do poder familiar, não se
resolveram ou até se agravaram. Outro fator predominante é a habitação, a maioria vive em
ocupações da região central de São Paulo, ou seja, famílias pobres, onde o Poder Público em
vez de cumprir com o seu papel de assegurar direitos a estas famílias, sendo a habitação um
deles, pune-as e lhes cobra uma organização das mesmas, sendo muitas vezes este mesmo
Estado que determina as reintegrações de posse dos prédios ocupados, sem haver políticas
habitacionais alcançáveis para esta população. É necessário frisar também que, não por acaso,
mas decorrido do processo histórico da formação do Brasil, a maioria dessas famílias é de
pessoas negras.
Para contextualizar esta temática e chegar aos objetivos propostos, foram utilizados
como pilares da pesquisa a contribuição de Friedrich Engels em sua teoria da família, que traz
uma contextualização histórica da família desde os primórdios até a civilização romana.
Engels foi o filósofo alemão que criou juntamente com Marx a teoria marxista histórica
dialética, como explica o autor Netto (2011), sendo esta a base teórica do curso de Serviço
6

Social, essencialmente utilizada em toda essa pesquisa. Portanto a teoria da família de Engels
se faz tão necessária para o entendimento de dado fenômeno estudado; Cyntia Sarti, a
antropóloga em seu artigo, utilizado nesta pesquisa “Famílias enredadas”, faz um importante
estudo e reflexão referente às mudanças na família no Brasil e no mundo, a partir da década
de 60, mudanças que refletem em diversos arranjos familiares na contemporaneidade; Maria
Luiza Marcílio que é pioneira em pesquisa histórica da criança abandonada e outras
perspectivas relevantes a esta pesquisa; Irene Rizzini e Irma Rizzini, que são pesquisadoras de
excelência e referência nacional e internacional em relação ao estudo da criança brasileira.
Serão utilizadas obras onde as autoras fizeram um mergulho profundo e apaixonante nos
aspectos determinantes da institucionalização, trazendo resgate histórico e apresentando
novos caminhos para a mudança desta realidade; Marcos Cezar de Freitas, que também faz
uma importante contribuição no estudo histórico social da criança abandonada no Brasil;
Eunice Teresinha Fávero, Maria Amália Faller Vital, Myrian Veras Baptista e Renato Pinto
Venâncio, que também são referências no estudo da infância, especialmente sobre crianças
que vivem em abrigos. Pesquisadores renomados nesta temática. Além de revisão de literatura
em diversos artigos, teses e dissertações referentes a esta temática, que ajudaram em uma
melhor compressão, tanto em contextualizações pertinentes, quanto do próprio fenômeno
estudado, como a colaboração de Nayara Hakime Dutra Oliveira, em sua pesquisa referente à
família contemporânea, que analisa as transformações através de um contexto histórico,
político, ideológico e econômico, dentre outros.
Também será realizado análise das principais legislações que ratificam o direito à
convivência familiar como a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do
Adolescente de 1990, a Nova Lei de Adoção - LEI Nº 12.010/09, bem como demais
documentos derivados desses supracitados, que dialogam melhor as determinações legais,
como o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito á Convivência Familiar e
Comunitária de 2006; Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes de 2009, e etc.
A principal base teórica foi a marxista dialética, sendo esta a atual teoria do curso de
Serviço Social, onde não há verdade absoluta, essencial para a análise da totalidade de
determinada expressão da Questão Social de forma crítica, ou seja, de contra ao que está posto
pela ordem burguesa-capitalista.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica: Sendo uma técnica decisiva para a pesquisa
em ciências sociais e humanas, a Análise Documental. É indispensável porque a maior parte
das fontes escritas - ou não - é quase sempre a base do trabalho de investigação; é aquela
7

realizada a partir de documentos, contemporâneos ou retrospectivos, considerados


cientificamente autênticos. (Santos, 2000)
A pesquisa foi dividia em dois capítulos, inicia-se com um breve levantamento
histórico da origem família, estudo realizado por Engels no século XIX, que se dá desde os
primórdios, quando ainda nem existia a concepção de família, e sim grupos tribais. Onde as
relações carnais eram mútuas e promiscuas, não havendo regras de parentesco, nem o
sentimento de ciúmes. Passando por vários estágios de mudanças na pré-história, como a
família consanguínea, a paluanda e a sindiásmica.
Já na civilização romana são instituídas regras de parentesco e relações, chegando à
família monogâmica, onde é estabelecido o pátrio-poder e consequentemente o patriarcado e a
submissão da mulher. Depois, em um considerável salto no tempo, a pesquisa aborda as
mudanças no mundo que implicam na família contemporânea. Sendo a Revolução Industrial,
que ocorreu entre os séculos XVIII e XIX, chegando ao Brasil no ano de 1930, considerada
como um fator marcante, já que a partir da perspectiva desenfreada de produção e lucro,
desvalorizando a produção manual. Assim os membros da família que até então trabalhavam
juntos, passaram a ocupar lugares diferentes. Onde o homem sai para trabalhar fora e a mulher
fica em casa cuidando dos filhos e do lar. Essa imposição do sistema provoca o esgarçamento
dos laços familiares. Porém, através dos movimentos feministas, que surgiram na França, as
mulheres começam a lutar por seus direitos e a conquistar espaço na sociedade, inclusive a
ocupar o mercado de trabalho. Por volta de 1960, conseguem a pílula anticoncepcional e a
inseminação in vitro, podendo escolher ter filhos ou não, superando a lei da natureza, além da
separação da vida sexual e da vida materna. Portanto, o entendimento das inúmeras mudanças
ocorridas na família através de fatores externos.
É no primeiro capítulo que também é abordado a história da institucionalização de
crianças. Onde o resgate histórico mostra que o abandono de crianças existiu em todos os
tempos. Passando pelo Antigo Regime Europeu, a assistência religiosa, caritativa,
filantrópica. O sistema das Rodas dos expostos, que o Brasil herda de Portugal, bem
como a cultura de se institucionalizar crianças, através da colonização, perpassando pelo
Império, República, Ditadura Militar, até a redemocratização do país, com a conquista do
Estado Democrático de Direito. Consolidado com a Constituição Federal de 1988, que
embasa o Estatuto da Criança e do Adolescente, ratificado em 1990, onde traz um novo marco
no tratado da infância no Brasil, bem como o papel da família.
No segundo e último capítulo, é resumidamente destrinchado os avanços que a
legislação traz e os desafios para a sua promoção, em relação ao tema proposto. Onde a CF/88
8

reconhece a família como a base da sociedade e criança e adolescente como prioridade


absoluta, sendo dever da família, da sociedade e do Estado. O ECA traz um novo conceito
referente ao acolhimento institucional, devendo ocorrer em caráter protetivo, provisório e
excepcional, reconhecendo que a família é a instituição ideal para o seu desenvolvimento,
toda criança e adolescente tem o direto a viver em ambiente livre de substâncias psicoativas
que podem levar a negligência, maus tratos e todas as formas de violência e violações de
direitos.
Destacam-se as ações do Estado e da participação por representatividade da sociedade
civil em gerar políticas públicas a partir do que propôs a legislação, principalmente em
relação ao direito e a convivência familiar nas ações realizadas para prevenir o acolhimento
institucional. Tanto com o avanço na assistência a infância através do reconhecimento da
Assistência Social como política pública, e não mais como caridade, benevolência entre
outros. Por fim, chega-se ao objetivo proposto, que aborda as determinações em relação ao
processo de reinserção familiar de crianças e adolescentes em situação de acolhimento
institucional, em contrapartida com leituras crítica que apontam alguns limites e possibilidade
nesse processo, que pode ser considerado delicado e complexo, portanto requer especial
atenção e importância.

I – BREVE RESGATE HISTÓRICO DA FAMÍLIA E DA ASSISTÊNCIA A


INFÂNCIA

1.1 - A Origem da Família: uma análise sobre o estudo de Engels

Engels (1984) em seu estudo sofre a origem da família, baseado na pesquisa do


filósofo Morgam, reflete sobre como viviam as famílias na história antiga e a história das
sociedades primitivas. É utilizado em seu estudo o materialismo histórico dialético, sendo este
método que o próprio Engels construiu juntamente com o também filósofo Karl Marx. O
filósofo alemão realiza este debate sobre a família no século XIX, que ainda se faz atual. Tal
teoria é essencial para embasar a contextualização histórica da família, que dará início a
pesquisa.

Reconstituindo retrospectivamente a história da família, Morgan chega, de acordo


como a maioria de seus colegas, à conclusão de que existiu uma época primitiva em
que imperava, no seio da tribo, o comércio sexual promíscuo, de modo que cada
mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem pertencia a todas as
mulheres. (ENGELS, 1984, P. 31).
9

A origem da família parte da era primitiva, onde as relações carnais eram reguladas
pela promiscuidade que era natural e tolerante entre os grupos, não havendo ciúmes. Nessa
era, as relações sexuais ocorriam entre pais e filhos e entre pessoas de diferentes gerações, ou
seja, ainda não havia as imposições de parentesco, portanto não é possível falar de família
nesse período, mas sim em grupos tribais, onde o animal ainda estava se transformando em
Homem.
Esta forma de relações sexuais do início da História é denominada nessa teoria como
poligamia1 e numa fase posterior de desenvolvimento desses povos as relações se
constituíram na poliandria2, excluindo ainda mais os ciúmes destas relações mútuas.
Levando em consideração o estudo de Morgam, Engels (1984), que fala sobre o
desenvolvimento cultural da família após esse período de promiscuidade, que é dividido em
três estágios ainda pré-históricos, sendo eles:

I. Família Consanguínea: onde é instituído que irmãos se casem com irmãs e


os grupos conjugais passam a ser classificados por gerações.
II. Família Paluanda: onde já se excluem as relações carnais entre irmãos e
irmãs e criam-se aqui a categoria de sobrinhos (as) e primos (os). É a partir
destas imposições na sociedade primitiva que passa a ser proibido o
casamento entre parentes consanguíneos. As famílias começam a se
distinguirem pela ordem social e religiosa na mesma tribo.
III. Família Sindiásmica: inicia-se aqui o matrimônio por pares. Nascendo uma
cultura de separação de papeis homem X mulher. O homem poderia ser
infiel e ter várias mulheres por direito, enquanto a mulher deveria ser fiel,
sendo severamente castigada em caso de infidelidade. Porém caso houvesse
a separação conjugal, era garantido o direito materno.

Engels considera esse ultimo modelo de família na era primitiva como um estágio
evolutivo, que permitirá o desenvolvimento da Família Monogâmica. Até aqui predominava a
economia doméstica comunista. Intensifica-se agora a divisão sexual do trabalho, até então a
figura da mulher era preponderante. Passando agora para uma cultura opressora para com as
mulheres. O direito dos filhos, em caso de desfecho conjugal agora é paterno. Na análise dos
estudos de Morgan, realizado por Marx (1945), Engels diz:

1
União conjugal de uma pessoa com várias outras. Costume socialmente aceito em certas sociedades que
permite esse tipo de união.
2
Estado de uma mulher casada simultaneamente com vários homens.
10

“[...] “A família”, diz Morgan,” é o elemento ativo, nunca permanece superior, à


medida que a sociedade evolui de um grau mais baixo para outro mais elevado. Os
sistemas de parentesco, pelo contrário, são passivos; só depois de longos intervalos,
registram os progressos feitos pela família, e não sofrem uma modificação radical
senão quando a família já se modificou. “Karl Marx acrescenta:” O mesmo
acontece, em geral com os sistemas políticos, jurídicos, religiosos e filosóficos”. Ao
passo que a família prossegue vivendo, o sistema de parentesco se fossiliza; e,
enquanto este continua de pé pela força do costume, a família o ultrapassa [...]”.
(ENGELS, 1984, p. 30).

Já na civilização romana, foi instituída a expressão "família” – até então inexistente no


período pré-histórico. Com a definição do termo, surge um novo organismo social, onde era
dado um papel superior aos homens, sendo este considerado chefe, mantinha sob seu domínio
a mulher, os filhos e os escravos. Tendo o homem, chefe, o direito sobre a vida e a morte
destes, considerados como posses. Nesse momento também surge o pátrio poder – direito do
homem em caso de separação do casal. Ou seja, neste período da civilização romana é
instituído o patriarcado3, ocorrendo à passagem da Família Sindiásmica para a Família
Monogâmica, esta última é considerada a grande derrota do sexo feminino em todo o mundo.
Agora na civilização nascente, que tem como base a predominação masculina, a
finalidade do homem passa ser a de procriar filhos, sendo a paternidade indiscutível, para
garantir os herdeiros de seus bens. Na união conjugal cabe somente ao homem rompe-lo e tem
direito a poligamia e a indenidade. Enquanto da mulher é exigido que fosse guardada a sua
castidade até o matrimônio e fidelidade conjugal rigorosa. Já para os homens, a mulher será
apenas a mãe de seus filhos. Ou seja, o modelo monogâmico de família funcionava apenas
para as mulheres.
A Família Monogâmica é considerada como o modelo que escraviza um sexo pelo
outro. Iniciando aqui um conflito entre os sexos. Engels reflete que é na monogamia que surge
o primeiro antagonismo de classes, dado entre o homem e a mulher, na opressão do sexo
feminino pelo masculino. Considera que a monogamia foi um grande progresso histórico.
Porém iniciou-se concomitantemente com a escravidão e as riquezas privadas. Ou seja, um
avanço simultâneo ao retrocesso, por interesses econômicos e de poder, sendo esta a lógica da
sociedade civilizada em vigência.
A teoria de Engels possibilita refletir que a constituição deste modelo familiar, não se
deu por sentimento/vínculo/amor, mas sim por interesses adversos de poder e acúmulo de
riqueza que deveria ser mantida de geração em geração pelos homens.

3
Definição ideológica da supremacia do homem nas relações sociais.
11

O direito era sancionado apenas pelo costume – Código de Napoleão – sendo este um
código das leis burguesas, sob Napoleão I, em 1804, a partir do Code Civil da Grande
Revolução Francesa. (Engels, 1984)

1.2 – Mudanças na família contemporânea

De acordo com Sarti (2007) antes da chegada dos portugueses no Brasil, os índios
viviam em uma real comunidade. Onde uns cuidavam dos outros, o dever com as crianças não
era responsabilidade exclusiva de seus pais, mas toda a comunidade da tribo contribuía no seu
cuidado. Após a Revolução Industrial, início do século XVIII e XIX, período marcado pela
inserção de máquinas na produção, que no Brasil, só acontece em 1930, começam a ocorrer
mudanças na dinâmica familiar.
Silva, Chaveiro (2009), refletem que pela forma de colonização, foi imposto no Brasil
um único modelo de família, modelo este centrado na relação conjugal patriarcal. Porém,
afirmam ainda que mesmo com esta imposição do sistema dominante tradicional da sociedade
brasileira, não conseguiu impedir o surgimento de alternativos e distintos arranjos familiares
ainda no período colonial. O número de famílias estáveis e legalmente constituídas entre as
classes trabalhadoras se deu com a transformação da sociedade pela emergência do trabalho
livre e ao desenvolvimento do capitalismo industrial em nosso país. Entretanto ao longo do
tempo as relações de parentesco se enfraqueceram consequentes do novo modo de produção,
que separa os membros da família em diferentes espaços.
Figura 1 - “Família”. Tarsila do Amaral, 1925

Fonte: Acervo Tânia F. Landau.


12

A família vem sofrendo diversas transformações ao decorrer do tempo, como afirma


Sarti (2007):

Falar em família neste começo do século XXI, no Brasil, como alhures, implica a
referência a mudanças e a padrões difusos de relacionamentos. Com seus laços
esgarçados, torna-se cada vez mais difícil definir os contornos que a delimitam.
Vivemos uma época como nenhuma outra, em que a mais naturalizada de todas as
esferas sociais, a família, além de sofrer importantes abalos internos tem sido alvo
de marcantes interferências externas. Estas dificultam sustentar a ideologia que
associa à família a ideia de natureza, ao evidenciarem que os acontecimentos a ela
ligados vão além de respostas sociais e culturais, disponíveis a homens e mulheres
em contextos históricos específicos. (SARTI, 2007, p. 21).

De acordo com Silva, Chaveiro (2009), as transformações da família no século XXI,


vem se dando pela lógica da sociedade global, como as disputas no mercado, a forma e o
conteúdo do trabalho, as relações sociais com base no consumo, que influencia no conteúdo
da família. Refletem ainda, que os problemas estruturais dessa mesma sociedade, como o
desemprego global ou estrutural, assim como as desigualdades sociais, a fome e a grande
concentração da população na cidade, geram dispersões e fronteiras nas relações da família
contemporânea. Prevalece agora a busca por interesses individuais, consequente da lógica do
capital e reforçado com o mundo liberal, intensificando a separação entre os membros das
famílias, que já não se pautam nas relações de negociações mútuas. Enquanto os autores a
seguir defendem em sua pesquisa sobre a família contemporânea que:

A família contemporânea tem criado formas particulares de organização, não mais


se limitando à família nuclear (pai, mãe e filhos dos mesmos pais), essas formas são
consequências adquiridas ao longo do tempo através de determinados fenômenos.
(BORTOLLI, BÜRGER, CASTRO, FERRÃO, 2012 p. 01).

Sarti (2007) diz ainda que, antes da Revolução Industrial, com grande população na
zona rural, a família trabalhava em conjunto para sua própria sobrevivência. Com a revolução
e a consequente migração para o urbano, o homem, agora chefe da família, vai trabalhar nas
indústrias – mundo público – e a mulher fica cuidando da casa e dos filhos – ambiente privado
– ou seja, a Revolução Industrial foi um grande marco na relação da família no mundo.
O estudo de Borttoli, Bürger, Castro, Ferrão (2012), mostra que se faz necessário,
compreendermos melhor as diversas configurações familiares e como as mesmas vêm se
desenvolvendo na contemporaneidade. Apontam que por meio desses aspectos podemos
identificar como se deu a trajetória desde a família nuclear até a família contemporânea,
considerando as várias influências que vem através dos fenômenos sociais, políticos, afetivos,
sócio-políticos e inevitavelmente do avanço da tecnologia. Ressaltam ainda, que estas novas
13

configurações mostram que a família não desapareceu, ela continua se alterando e se


adaptando as demandas da contemporaneidade. Defendem que independentemente da
configuração, a família exerce um papel fundamental na vida de um indivíduo, onde mesmo
com essa diversidade, o afeto, o apoio, o sentimento e a dedicação não mudam, o importante é
que ela exista e que podemos fazer parte dela e assim nos desenvolvermos.
Á partir de 1960 acontece outro marco mundial, inclusive no Brasil, difundiu-se a pílula
anticoncepcional, separando a vida sexual da mulher da reprodução. Associado a expansão do
feminismo, que surgiu fortemente na França e a inserção da mulher na vida social, sua
atuação no mercado de trabalho remunerado, abalando os alicerceares familiares. Agora a
mulher pode escolher casar, ter filhos ou não, o que era naturalizado, e ter prazer nas relações
sexuais, o que antes era um direito apenas dos homens. (Sarti, 2007).
É no caminhar deste processo de evolução feminina, que em 1980 a mulher descobre
que não precisa de homem para ter filhos. Com as novas tecnologias reprodutivas nascem às
inseminações artificiais e em seguida a fertilização in vitro e a reprodução assistida. Havendo
assim a dissociação da gravidez à relação sexual entre homem e mulher. (Sarti, 2007).
Aqui são rompidas questões como a maternidade ser algo sagrado e a associação entre
ser mulher e ser mãe. Agora as mulheres têm o método que evita e outro que provoca a
gravidez, superando a lei da natureza. Porém a autora ressalta que ainda não conseguimos
romper com a ideia de família biológica. (Sarti, 2007).
Wirth (2013) defende que a família tradicional passou e continua passando por
mudanças de paradigmas, e afirma que diante das mudanças sempre surgem resistências e
incertezas. Critica que diante das novas configurações da família contemporânea até a
religião - considerada uma das instituições mais conservadoras - não pode adotar princípios de
exclusivismo e menos ainda de intolerância. Que é preciso diante dessas novas mudanças, a
elaboração de novos conceitos para dar conta das novas indagações que estas famílias exigem,
em seus diversos arranjos. Que a religião precisa acompanhar as mudanças na
contemporaneidade. Reflete que a mudança não é fácil, é uma luta a ser enfrentada, e que ela
tem que ocorrer na casa, na igreja e na sociedade em geral, que vencer as estruturas de poder é
o grande desafio para mulheres e homens que defendem a igualdade.
Ainda segundo Sarti (2007) na década de 90 surge a paternidade reconhecida (DNA).
Agora as mulheres podiam provar quem era o pai de seu filho. Trazendo o direito à pensão no
universo familiar.
14

“Não à toa, Bilac (1998) argumenta que os homens nunca foram tão responsáveis por
sua reprodução biológica como no momento atual de nossa história” (Fonseca, 2001 apud
Sarti, 2007, p. 24).
Sarti (2007) ressalta a importante informação que neste período, nos anos 90, paralelo a
tais mudanças supracitadas, ocorrem alterações também no plano jurídico, sendo alterado o
estatuto da família, resultante da engajada luta de dois peculiares movimentos sociais: o
movimento feminista e os movimentos em favor dos direitos da criança.
Com a grande conquista da Constituição Federal de 1988, são instituídas duas profundas
alterações referentes à família:

I. A quebra da chefia conjugal masculina, tornando a sociedade conjugal


compartilhada em direitos e deveres pelo homem e pela mulher;
II. O fim da diferenciação entre filhos legítimos e ilegítimos, reiterada pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em 1990, que os
define como “sujeitos de direitos”. Com o exame de DNA, que comprova
paternidade, qualquer criança nascida de uniões consensuais ou de
casamentos legais pode ter garantidos seus direitos de filiação, por parte do
pai ou da mãe.

A autora analisa que ambas as medidas foram um golpe, contra o pátrio poder, hoje
denominado como poder familiar, quando afirma que:

“O ECA dessacraliza a família a ponto de introduzir a ideia da necessidade de se


proteger legalmente qualquer criança contra seus próprios familiares, ao mesmo
tempo em que reitera “a convivência familiar” como um “direito” básico dessa
criança”. (Sarti, 2007, p. 24).

Podemos considerar o ECA como um avanço na proteção da infância e adolescência


no Brasil, porém a autora aborda os pós e contras desta legislação quando diz que:

É importante destacar esse aspecto por contribuir para “desidealização” do mundo


familiar, ainda que se saiba que esse recurso legal é frequentemente utilizado para
estigmatizar as famílias pobres, definidas como desestruturadas, “incapazes de dar
continência a seus filhos”, sem a devida consideração do lugar dos filhos no
universo simbólico dessas famílias pobres. (SARTI, 2007, P. 24-25).

Sarti (2007) defende ainda que apesar da família ser objeto de muitas idealizações, é
impossível sustentar a ideia de um modelo “adequado”. A família contemporânea se configura
de diversas formas, não devendo haver mais o conceito do que é adequado ou inadequado.
Concomitante com as informações supracitadas, Oliveira (2009), observa que é possível
verificar que as transformações ocorridas com o início da industrialização, o advento da
15

urbanização, a abolição da escravatura e a organização da população provocam alterações nas


famílias e em todo o meio social. Afirma que a expansão da economia acelerou o processo de
retirada da produção de casa para o mercado, e a pressão pelo consumo de bens e serviços,
sendo esta uma das características do capitalismo, agora os orçamentos familiares começa a
apertar, e as mulheres passam a utilizar do trabalho assalariado.
A autora considera que, apesar de todas as transformações, a nova família conjugal
mantém alguns traços da família anterior, como o de controlar a sexualidade feminina e a
preservação da manutenção de classes. Ressalta ainda que os costumes que marcam época
podem ou não estar distantes de nossos costumes, pois os conceitos evoluíram ou, até mesmo,
mudaram de denominação, porém, estudando estes conceitos atualmente, é possível perceber
que não poucos, ainda estão presentes na nossa sociedade, mesmo que de forma oculta.

1.3 - A gênese da assistência à criança abandonada

Segundo a pesquisa histórica e pioneira da autora Marcílio (1998), sobre a criança


abandonada, o costume de abandonar crianças é um fenômeno em todos os tempos, pelo
menos no Ocidente. Traz-nos exemplos como a história bíblica contada no antigo testamento
a.C, de Ismael, que foi rejeitado e expulso por seu pai Abraão e consequentemente, em
seguida por sua mãe, a escrava Agar no deserto, Moisés que foi abandonado quando bebê à
beira do Rio Nilo, criado pela filha de um Faraó e José que foi vendido por seus irmãos.
Sendo esta prática comum para aquele tempo e cultura, e até mesmo incentivada.
Resgata ainda memórias da mitologia e da filosofia. Platão orientava os pobres a
terem poucos filhos. Sugeria que os filhos dos muito pobres fossem criados fora do seu lar
natal, existindo um sistema de transferência para lares em melhor situação. Aristóteles
também previa a limitação do número de filhos e aprovava o aborto, como forma de controle
da família e da população. Defendia que a Lei determinasse a morte de algumas crianças
abandonadas. Na Grécia clássica foi estabelecido o instituto da adoção para casais que não
podiam ter filhos. Onde o poder do pai sobre o filho era absoluto. Sendo permitido a este:
matar, vender ou expor seus filhos recém-nascidos. Diz ainda que Júpiter o deus da Luz,
também foi abandonado por seus pais ao nascer, dentre outros exemplos que o estudo nos
lembra. A deformidade da criança ou a pobreza da família bastavam para que a justiça
doméstica decretasse sua morte ou abandono. O aborto era legítimo e o infanticídio admitido.
Ainda de acordo com Marcílio (1998) enquanto na alta Idade Média o que existia de
solução para as crianças abandonadas era a piedade e a caridade da população, advindas dos
16

ensinamentos do Cristianismo, na Europa Clássica por volta dos séculos XIV e XV, surgem
as instituições de caridade para crianças enjeitadas. A assistência era prestada em hospitais,
onde posteriormente instalou-se em 1594 a Roda dos Expostos, por onde começou a entrar um
número considerável de crianças.

O nome Roda – dado por extensão à casa dos expostos – provém do dispositivo de
madeira onde se depositava o bebê. De forma cilíndrica e com uma divisória no
meio, esse dispositivo era fixado no muro ou na janela da instituição. No tabuleiro
inferior da parte externa, o expositor colocava a criancinha que enjeitava, girava a
Roda e puxava um cordão com uma sineta para avisar à vigilância – ou Rodeira –
que um bebê acabara de ser abandonado, retirando-se furtivamente do local, sem ser
reconhecido. (Marcílio, 1998, p. 57).

Figura 2 - Abandono de bebê na Roda dos Expostos

Fonte: Revista de História

Marcílio (1998) explica que a origem desses cilindros rotatórios vinha dos átrios ou
vestíbulos de mosteiros e de conventos medievais, usados para outros fins, como o de evitar o
contato dos religiosos com o mundo exterior.
O autor também aponta as amas-de-leite como pilar do sistema de assistência aos
expostos. Onde diz que no sistema hospitalar de assistência às crianças abandonadas, a ama
de criação mercenária, era uma figura fundamental. Considera que sem estas nenhuma
assistência à primeira infância poderia ter sido organizada antes do século XX, sendo a era da
pasteurização e da amamentação artificial. As amas eram utilizadas em todos os sistemas
hospitalares europeus de proteção a infância abandonada. Existiam as amas internas, na
instituição, que geralmente era um pequeno número, estas que amamentavam as crianças que
17

chegavam e cuidavam até que fossem distribuídas para as amas de fora, e cuidavam das
crianças que voltavam das casas das amas-de-leite, depois que desmamavam. A quantidade
das amas externas era muito maior que as internas. As amas de fora amamentavam e criavam
as crianças em suas próprias casas. As duas categorias de amas - de - leite recebiam
remunerações miseráveis, que era suspensa assim que a criança completasse em média sete
anos, pois já seria considerada apta ao trabalho, como aprendiz, recebendo apenas casa e
comida do dono do negócio, ou seja, sem nenhuma remuneração. As amas no geral faziam
parte da categoria mais pobre da época, com menos escolarização, fatores que afetavam na
qualidade dos cuidados com os bebês, como a higiene e alimentação. Sendo a maioria
composta por camponesas casadas e que viviam longe da sede da Roda dos Expostos. Muitas
vezes as mesmas se apresentavam nas instituições para levar os bebês, ou eram levados as
suas casas por condutores, neste caso de maneira muito precária, afetando na sua saúde e
muitos bebês iam a óbito neste processo. Outra informação importante, é que as amas-de-leite
amamentavam seus filhos ao mesmo tempo em que amamentava o exposto, prejudicando
ambos. Algumas dessas mulheres que se apresentavam como amas, haviam perdido seus
bebês há poucos meses, tendo assim a possibilidade de ganhar algum dinheiro, por menos que
fosse. Era comum o fato de algumas mães deixarem seus filhos na Roda, e a mesma ir busca-
lo como ama. Sendo esta uma realidade sabida pelos empregados da Roda.
Marcílio (1998), conta inda que no século XVIII foi o século das ideias secularizantes
e críticas à igreja, surgindo à tendência em substituir a caridade religiosa, ou particular, por
uma beneficência pública. A sociedade europeia estava entre a fase das fundações piedosas e
caritativas da Idade Média Clássica e a atual fase do Estado Previdência, ou do Estado do
Bem-Estar Social para a fase da filantropia, surgindo de forma emergente às primeiras
políticas públicas sociais, adequadas ao ideário do progresso, da ciência, da medicina
higiênica, do interesse da nação, do liberalismo triunfante. Trata-se de um momento de
transformações ideológicas no campo político e social, o liberalismo trazia consigo mudanças
na moral burguesa, positiva e individualista. O Estado reconhece sua incapacidade em
especial à assistência a criança abandonada, juntando-se a aliados leigos e religiosos, agora
submetidos a um controle maior. Ainda no século XVIII, o utilitarismo4 e o higienismo5
passaram a ser a nova teoria que denominava as práticas de assistencialismo e serviços
sociais. Ou seja, a assistência à criança abandonada esteve ligada e conectada diretamente

4
Sistema de moral que coloca no interesse particular ou geral a regra das nossas ações. (Dicionário Aurélio,
2010).
5
Linha de pensamento, em que se defendiam padrões sociais e de comportamento em nome da saúde.
(Dicionário Aurélio, 2010)
18

com importantes revoluções dos últimos dias do Antigo Regime. A disputa ideológica da
sociedade se dava entre os que defendiam as práticas tradicionais, práticas do passado e os
que tinham visão do futuro se apoiando no iluminismo6.

Para os tradicionais, havia uma óbvia conexão entre família patriarcal e Estado
paternalista. A função dos hospitais de expostos seria a de garantir honra da mãe e a
salvação da alma da criança. O hospício não era um hospital, mas sim um lugar de
passagem, para onde um filho indesejado poderia ser levado e, depois batizado,
enviado para a casa de uma ama-de-leite. Se a criança morresse, pelo menos morria
batizada e não deixaria atrás de si a culpa por um infanticídio.
Mas os que pensavam de uma nova forma situavam-se em uma fase em que o
assistencialismo seria utilitarista e, ao mesmo tempo, “científico” e modernizante.
(MARCÍLIO, 1998, p. 73).

Nesse sentindo é enfatizada a história da assistência à criança abandonada em


Portugal, reconhecendo ser de suma importância para entendermos como se deu no Brasil,
que segundo ela as primeiras formas de assistência à criança abandonada no Brasil, foi
transplantada de Portugal, assim como a prática de expor os filhos foi introduzida entre nós
pelos portugueses. Considera importante conhecermos a história do abandono de bebês em
Portugal, por ser de grande relevância para o entendimento do fenômeno em nosso país.

O abandono de crianças em Portugal vem de longe: remota à Idade Média anterior e


é anterior a própria constituição da nação portuguesa. Desde, pelo menos o século X,
a assistência caritativa de caráter público esteve presente por meio de pequenos
hospitais (albergarias, hospícios, gafarias, asilos, mercearias) por todo o território de
Portugal. Eles eram mantidos por doações, legados ou com o apoio de instituições
religiosas, das confrarias que se foram criando e das comparações de ofícios.
(MARCÍLIO, 1998, P. 89).

Já na contemporaneidade em Portugal, passa gradualmente da ação caritativa para a


assistência social de natureza filantrópica. Lentamente o Estado assumiu a responsabilidade
em estimular e auxiliar na manutenção da criança exposta. Foi em fins do século XVIII que
foi fundado a Casa Pia (1780) e a oficialização das Rodas de Expostos (1783). No século XIX
foi instruído um dispositivo legal, o alvará de 18 de outubro de 1806, que ordenava que as
mulheres solteiras declarassem sua gravidez, no intuito de diminuir o abandono de bebês, que
crescia aceleradamente em Portugal.

6
1- Doutrina de certos movimentos religiosos marginais, baseada na crença de uma iluminação interior ou em
revelações inspiradas diretamente por Deus. (Dicionário Aurélio, 2010).
2- Movimento de renovação científica na Itália, no século XVIII. (Dicionário Aurélio, 2010).
19

Figura 3 - Restos da coleção Casa Pia de Lisboa

Fonte: Blog Spot.

1.4 - Principais marcos históricos da institucionalização de crianças no Brasil

Marcílio (1990) aponta que parte da História Social da América Latina, que segundo a
mesma, não pode prescindir da forte presença da pobreza, da marginalidade social, da criança
ilegítima ou da criança abandonada. Para a autora ignorar esse amplo segmento de nossa
população é fazer uma História Social, uma História da Família, uma História da Vida
Privada ou uma História do Cotidiano, incompletas, omissas, insuficientes.
Ainda de acordo com o pensamento de Marcílio (1998) quase nada sabemos sobre a
história dos enjeitados e ilegítimos de amplos territórios, de países inteiros da América Latina.
Venâncio (1999) enfatiza que os dicionários dos séculos XVIII ainda mencionavam as
expressões criança exposta ou criança enjeitada em vez de criança abandonada.
Segundo Freitas (2003), no Brasil, do século XIX, o abandono de crianças e o
infanticídio foram práticas encontradas entre índios, brancos e negros em determinadas
circunstâncias, distantes da questão da concentração devastadora nas cidades, da perversa
distribuição de bens e serviços entre camadas sociais e das fronteiras que se estabeleceram
entre elas.
As pesquisadoras Irene Rizzini e Irma Rizzini (2004), abordam que a história da
institucionalização no Brasil tem importantes repercussões até os dias de hoje. Em uma
profunda e crítica análise de documentações histórica sobre a assistência à infância no Brasil
dos séculos XIX e XX, revela que as famílias em situação de pobreza e/ou outras dificuldades
de criarem seus filhos, tinham um destino quase que certo ao buscarem apoio do Estado:
terem seus filhos acolhidos como se fossem órfãos ou abandonados.
20

As autoras apontam ainda que o Brasil possui uma longa tradição de internação de
crianças e jovens em instituições asilares, muitos filhos de famílias ricas e dos setores
pauperizados da sociedade passaram pela experiência de serem educados longe de suas
famílias e comunidade. Que no período colonial, formam criados no país colégios internos,
seminários, asilos, escolas de aprendizes artífices, educandários, reformatórios, dentre outras
modalidades institucionais surgidas pelas tendências educacionais do período.
Expõem ainda, que o recolhimento de crianças às instituições de reclusão foi o
principal instrumento de assistência à infância no país. Que após a segunda metade do século
XX, o modelo de internato cai em desuso para os filhos dos ricos, foi praticamente extinto no
Brasil por vários anos. Porém a cultura de institucionalizar crianças foi mantida para os
pobres até a atualidade. Em especial a medida para os adolescentes que cometeram ato
infracional. (Rizzini, Irma, 2004).
A tradição da institucionalização de crianças foi adquirida no Brasil, passando por
altos e baixos, mantida, revista e revigorada por uma cultura que valoriza a educação da
criança por terceiros.

Um dos aspectos de grande interesse desta análise centra-se nas iniciativas


educacionais entrelaçadas com os objetivos de assistência e controle social de uma
população que, junto com o crescimento e reordenamento das cidades e a
constituição de um Estado nacional, torna-se cada vez mais representada como
perigosa. A ampla categoria jurídica dos menores de idade (provenientes das classes
pauperizadas) assume, a partir da segunda metade do século XIX, um caráter
eminentemente social e político. Os menores passam a ser alvo específico da
intervenção formadora do Estado e de outros setores da sociedade, como as
instituições religiosas e filantrópicas. (RIZZINI, IRMA, 2004, P. 22).

Vendo o fenômeno do abandono de crianças na perspectiva histórica, Freitas (2003),


afirma que a maioria dessas crianças abandonadas por seus pais, não foram assistidas por
instituições especializadas. Que elas foram acolhidas por famílias substitutas. Ressalta ainda
que, até no início do século passado, XX, os até recentemente chamados “filhos de criação”
não tinham seus direitos garantidos.
Surgiram no Brasil colonial as primeiras instituições para educação de menino, com
ação educacional jesuítica, implantando escolas elementares (para ler, escrever e contar)
direcionado as crianças pequenas das aldeias indígenas e vilarejo. Criou também colégios,
para a formação de religiosos e instrução superior para os filhos das camadas mais
privilegiadas da população. Os jesuítas foram os principais agentes educacionais até meados
do século XVIII. Mas em 1759, formam expulsos pelo Marquês de Pombal, e outras ordens
21

religiosas instalaram seminários, colégios para órfãos e recolhimento de órfãs na segunda


metade do século XVIII (Schueler, 2001 apud Rizzini, Irma, 2004).
Segundo Marcílio (1998), os jesuítas criaram colégios nas principais vilas e cidades do
país dos primeiros tempos da colonização, porém destaca que durante todo o tempo de
domínio da educação da infância brasileira, nunca criaram nenhuma instituição destinada à
educação para as crianças desvalidas e desamparada. Nenhum exposto, jamais pode
frequentar os colégios jesuítas.
A autora aponta ainda, que no período colonial nem o Estado nem a Igreja assumiram
diretamente a assistência aos pequenos abandonados. Atuavam indiretamente, apenas com o
controle legal e jurídico, apoios financeiros esporádicos e diversos outros estímulos. A
sociedade civil organizada e no geral, que se preocupava e se compadecia com a situação da
criança desvalida e sem família, este fenômeno era visto como falta de sorte dos enjeitados.
No período colonial, século VXIII, afirma Rizzini, Irma Rizzini (2004) apud Marcílio
(1997b, p. 52), que a Santa Casa de Misericórdia tem a iniciativa de criar uma modalidade de
atendimento a bebês abandonados de longa duração, a Roda de Expostos é instada no Brasil,
este sistema será extinto somente no período republicano. As primeiras cidades brasileiras a
instalarem as Casas de Expostos foram: Salvador, Rio de Janeiro e Recife. Este modelo de
atendimento, mantinha em sigilo o autor ou autora do abandono. Surgiram outras dez Rodas
de Expostos no país até o século XIX, mantendo-se este sistema até meados do século XX.
Este sistema evitava que bebês fossem abandonados nas ruas e nas portas das igrejas por mães
que buscavam ocultar a desonra de gerar um filho ilegítimo, ou que não tinham condições de
cria-lo.
Figura 4 - Primeira Roda dos Expostos do Brasil na Santa Casa de Misericórdia em Salvador – Bahia

Fonte: Blogspot Lampião aceso


22

Enquanto surgiam muitas Rodas de Expostos no Brasil, segundo Rizzini, Irma (2004),
estas estavam sendo eliminadas na Europa pelos higienistas e reformadores, motivados pela
alta mortalidade e pela suspeita de promover o abandono de crianças.
Freitas (2003) considera a roda dos expostos uma das instituições brasileiras de mais
longa vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa História.
Marcílio (1989) nos traz uma rica reflexão referente à fase caritativa da assistência à
infância abandonada, que durou até meados do século XIX, quando diz que:

Do período colonial até meados do século XIX vigorou a fase que aqui dominada de
caritativa. O assistencialismo dessa fase tem como marca principal o sentimento da
fraternidade humana, de conteúdo paternalista, sem pretensão a mudanças sociais.
De inspiração religiosa, é missionário e suas formas de ação privilegiam a caridade e
a beneficência. Sua atuação se caracteriza pelo imediatismo, com os mais ricos e
poderosos procurando minorar o sofrimento dos mais desvalidos, por meio de
esmolas ou das boas ações – coletivos ou individuais. Em contrapartida, esperam
receber a salvação de suas almas, o paraíso futuro e, que aqui na terra, o
reconhecimento da sociedade e o status de beneméritos. Ideologicamente, procura-se
manter a situação e prevalecer à ordem, propagando-se comportamentos
conformistas. (MARCÍLO, 1998, P. 134).

Figura 5 - “Asylo dos Expostos”. São Paulo, 1919

Fonte: Museu de imagens apud Revista A Cigarra, Ano VI, nº 121, de 1º de outubro de 1919

Já no governo Imperial, a forma de assistência à infância no Brasil, foi a de inserir as


crianças das classes pauperizadas, em especial aos desvalidos, a formação profissional para os
meninos, com a Campanha de Aprendizes Marinheiros, funcionando como escolas do tipo
23

internato. Estes meninos, quando ainda crianças, eram treinados e enviados aos navios de
guerra, sendo um número maior do que de soldados e voluntários adultos. (Rizzini, Irma,
2004).
Enquanto as meninas eram ensinadas e preparadas para serem donas de casa.
Aprendiam sobre educação do lar e enxoval, seu dote era pago pelo presidente da Província
ao seu pretendente. (Dias, 1989 [1852], p. 256 apud Rizzini, Irma 2004).
Ainda no regime Imperial, sobre o acolhimento institucional de crianças no Brasil,
Rizzini, Irma (2004) trazem a informação que neste período também foram criados internatos
masculinos e femininos nas aldeias indígenas, com o interesse de através de afasta-los dos
seus costumes tribais, inseri-los a cultura e idioma português, para que assim o Estado
obtivesse conquista sobre seus territórios.
Em relação aos filhos de escravos, não foi encontrado nos registros históricos a
informação de ter existido alguma instituição específica para eles. O que se sabem é que, não
era comum serem acolhidos, pois eram submetidos sobre domínios dos senhores. Isso já após
a Lei do Ventre Livre (1871) – que permitia aos senhores mantê-los sob servidão até a idade
de 21 anos. A ideia era a de educa-los. A outra possibilidade era a de os senhores poderem
entrega-los ao governo Imperial, mediante indenização. (Rizzini, Irma, 2004).
Rizzini, Irma (2004) apontam a especialização dos serviços de assistência e justiça
período republicano em relação à criança desvalida. Segundo as autoras, ao mudar o regime
político, o Brasil já possuía uma vasta experiência na assistência a infância desvalida.
Enquanto no período Imperial o tratado da infância desvalida se deu na formação da força de
trabalho, neste regime, dado no século XX, surge um novo marco no tratado da infância no
Brasil, baseado na identificação e no estudo das categorias necessitadas de proteção e
reforma. Visando um melhor aparelhamento institucional capaz de “salvar” a infância
brasileira neste período.
No governo ditatorial de Getúlio Vargas, em 1941, foi instalado o malfado SAM –
Serviço de Assistência ao Menor (Rizzini, Irma, 2004).
Nogueira Filho (1956) apud Rizzini, Irma (2004, p. 34) dizem: “Em termos rudes, a
realidade é que o SAM entrega mais de uma dezena de milhar de menores por ano a terceiros,
para que cuidem de sua vida e educação, sem a mínima garantia jurídica de que lhes seja
dispensado um trato razoavelmente humano”.
De acordo com Carneiro (1966) apud Rizzini, Irma (2004), Em 1964, na Ditadura
Militar, é instituído a FUNABEM – Fundação do Bem-Estar do Menor, com a proposta anti-
SAM em 1966, sendo o SAM considerado um sistema corrupto, depósito de menores e
24

oficina de maus feitores, agora as crianças ficavam sob responsabilidade dos Juizados de
Menores, onde os pais eram estimulados a se livrarem da responsabilidade de criarem seus
filhos.
A Política do Bem-Estar do Menor, com a instauração da FUNABEM, vem com
objetivos mais humanos aos cuidados das crianças que se encontravam sob responsabilidade
do Estado. (Rizzini, Irma, 2004).
As autoras apontam a dificuldade em encontrar informações referentes às famílias das
crianças acolhidas em determinados períodos históricos. Informam que no século XIX o
silêncio era a tônica predominante em relação à família, e mesmo com o educando, ao
menor7. Sobre o mito da desorganização familiar dos menores internados as autoras afirmam:

A culpabilização da família pelo “estado de abandono do menor” não foi uma


criação da Política Nacional de Bem-Estar do Menor, engendrada nos primeiros
anos da FUNABEM. As representações negativas sobre as famílias cujos filhos
formavam a clientela da assistência social nasceram junto com a construção da
assistência à infância no Brasil. A ideia de proteção à infância era antes de tudo
proteção contra a família. Foi, sobretudo, a partir da constituição de um aparato
oficial de proteção e assistência à infância no Brasil, na década de 1920, que as
famílias das classes populares se tornaram alvo de estudos e formulação de teorias a
respeito da incapacidade de seus membros em educar e disciplinar os filhos.
(RIZZINI, IRMA, 2004, P. 39).

Ressaltam também que estas famílias estigmatizadas, como objeto de estudo e de


intervenção, não foram passivas a este sistema de intervenção de seus filhos. Segundo as
autoras, estas famílias dominavam o sistema do internamento: interferia, manejava e adquiria
benefícios.
As famílias que acionavam o acolhimento dos filhos, na antiga FUNABEM, que
estavam em idade escolar. Pois foi instituída a ideia de que a instituição era um lugar seguro,
onde seus filhos iriam estudar, comer, vestir bem e sair de lá com uma formação profissional.
As famílias procuravam a instituição para o controle dos filhos rebeldes. Elas conseguiam
internar mais de um filho, e havia casos de todos os irmãos serem internados, considerando
que na época as famílias tinham um número maior de filhos.
O fato de essas famílias serem pobres não era levado em consideração, relatam
Rizzini, Irma (2004), por haver um discurso culpabilizador de que as mesmas queriam se
livrar dos filhos. Ressalvam ainda que essas crianças vinham de mães solteiras, empregadas
domésticas que tinham relações afetivas instáveis. Este fenômeno social era visto como

7
Termo histórico, ideologicamente usado para segregar, excluir e marginalizar as crianças e adolescentes pobres.
Utilizado até a atualidade.
25

disfunção familiar – onde havia autores engajados em provar a insensibilidade e a indiferença


das mães solteiras para com os filhos.
As vagas na FUNABEM aconteciam muitas vezes por meio de indicações dos patrões,
quando esta mãe solteira e empregada doméstica além de ter baixo salário era obrigada a
dormir no trabalho.
A legislação menorista confirmava e reforçava a concepção da incapacidade das
famílias pobres em educar seus filhos. O novo Código de Menores, instaurado em
1979, criou a categoria de “menor em situação irregular”, que, não muito diferente
da concepção vigente no antigo Código de 1927, expunha as famílias populares à
intervenção do Estado, por sua condição de pobreza. A situação irregular era
caracterizada pelas condições de vida das camadas pauperizadas da população, como
se pode ver pelo artigo 2º da lei nº 6.697/79. Os amplos poderes mantidos aos
magistrados não demoraram a ser questionados e combatidos pelos movimentos
sociais, com a transição democrática. (RIZZINI, IRMA, 2004, P. 41).

Freitas (2003) colabora com o estudo quando diz que, no final do século XX a infância
tornou-se uma questão cáustica para o Estado e para as políticas não governamentais e para
diversas áreas envolvidas direta ou indiretamente com este “problema”. Aponta que neste
período intensificou o fenômeno das crianças, denominadas de turma e/ou bando, que
deixavam suas casas e suas famílias pela rua, forçados pela sobrevivência nas grandes
cidades, e consequentemente levados à marginalidade social e a morte prematura, por
desnutrição ou pela violência.

II – AVANÇOS E DESAFIOS NA INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E


ADOLESCENTES

2.1 - O direito a convivência familiar e comunitária e a função do Estado na sua garantia

Relacionando com o capítulo anterior Rocha, Castilho (2015) refletem que a história
social da infância no Brasil, em especial das classes sociais menos favorecidas, pode ser
considerada como uma lamentável e violenta realidade a ser superada. Ressaltam que a
criança, que hoje é reconhecida ao menos formalmente pela Constituição Federal - CF (1988)
e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (1990) Lei nº 8.068 de 1990, a proteção
integral e a condição de sujeitos de direitos, relembram que nem sempre tiveram esta garantia
e nem qualquer estatuto com este viés mais humanizado na sociedade brasileira.
A CF/88, através do art. 2268, o Estado brasileiro - sendo esse o conjunto dos poderes
políticos, segundo o dicionário Aurélio - legitima a centralidade da família e assume a sua

8
Art. 226 – A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

26

responsabilidade para com a mesma, passando a entender como entidade familiar a


comunidade formada por qualquer um dos pais, bem como de seus desentendes e no art. 2279,
traz um novo marco para a história da criança e do adolescente, legitimando-os como
prioridade absoluta, reconhecendo que a sua proteção é dever da família, da sociedade e do
Estado. Dentre outros avanços constitucionais em direitos sociais conquistados com a
redemocratização do país, através de muita luta e resistência dos movimentos sociais no
período ditatorial.
É através da Carta Magna que se criam as bases para a elaboração do ECA, o qual
preconiza e regulamenta todo o direito, inerente às crianças e aos adolescentes brasileiros ou
naturalizados, considerados crianças aqueles na faixa etária de 0 a 12 anos e adolescentes de
12 a 18 anos incompletos. Reconhecendo-os como sujeitos de direitos, reforçando o que
expressa a CF em relação ao reconhecimento do dever da família e a responsabilidade da
sociedade e do Estado em assegurá-los, um novo ordenamento na prestação do serviço de
abrigo, agora como medida protetiva, provisória e excepcional, tendo como ideal a
reintegração familiar como expressa o art. 19 e 2310.
Em 1993 é incluído na CF/88 o art. 203, Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS,
LEI Nº 8.742/ 93. Prevista para quem dela necessitar, sem haver necessidade de contribuição
à Seguridade Social (Assistência Social, Previdência Social e Saúde), tendo como principais
objetivos - sendo o que mais interessam a pesquisa - a proteção à família, à maternidade, à
infância, à adolescência e à velhice. Estabelece também a garantia ao BPC – Benefício de
Prestação Continuada. Que trata-se de um salario mínimo mensal, tendo direito pessoa
portadora de deficiência e idoso que não tenha como provê seu sustento.
Em 2004 foi aprovado pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) a
Política Nacional de Assistência Social (PNAS), com o objetivo de efetivar os direitos
previstos na CF/88 e na LOAS/93. Em 2005 temos a consolidação do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS), que organiza a Política de Assistência Social em Proteção Social

9
Art. 227 – É de dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, á cultura, à dignidade, ao
respeito, á liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010).

10
Art. 19 – Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da
presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.

Art. 23 – A falta ou a carência de recursos materiais não constitui suficientemente para a perda ou suspensão do
poder familiar.
27

Básica, que deve ser elaborada no intuito da prevenção das vulnerabilidades sociais e na
Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade, que são situações onde os vínculos
familiares e/ou comunitários estão fragilizados ou esgarçados. Pressupondo a articulação da
rede socioassistencial com as demais políticas públicas e com o Sistema de Garantia de
Direitos (SGD) e elege a família como foco central. Na sequência, a aprovação do
NOB/SUAS que estabeleceu parâmetros para a operacionalização do SUAS em todo o
território nacional. E em 2006 foi aprovada a NOB-RH, estabelecendo novos aspectos, dentre
eles os parâmetros de nível nacional para a composição das equipes que devem atuar nos
serviços de acolhimento. (Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes).
De acordo com a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistencias (2009) as novas
características com a organização do SUAS na Política de Assistência Social são as
seguintes:

9 Matricialidade sócio familiar;


9 Descentralização Político-administrativo e territorialização;
9 Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil;
9 Financiamento;
9 Controle Social;
9 O desafio da participação popular/cidadão usuário;
9 A Política de Recursos Humanos;
9 A informação, o monitoramento e a Avaliação da mesma.
Como informado acima, um dos princípios da Política Nacional de Assistência Social
é a descentralização da mesma. Dada pelo cofinanciamento das três esferas de governo:
federal, que deve ordenar e financiar; estadual, fiscalizar a sua efetivação e o municipal gerir.
Devendo ser executada com base nas orientações da Tipificação Nacional e da construção da
Sociedade Civil que responda as peculiaridades do município gestor, considerando que a
realidade social não é estática e se expressa em múltiplas facetas. (Tipificação Nacional dos
Serviços Socioassistenciais, 2009).
Sendo assim, o Município de São Paulo, com as suas especificidades de uma grande
metrópole, através das portarias 46 e 47 da SMADS - Secretaria Municipal de Assistência e
Desenvolvimento Social elabora em 2011 a Tipificação da Rede Socioassistencial e
Regulação de Parceria da Política Nacional de Assistência Social. Sendo denominado nessa
organização o Serviço de Acolhimento Institucional de Crianças e adolescentes – SAICA,
28

prestado através de parcerias entre organizações sociais e a SMADS, devendo ser adequado às
novas diretrizes de ordenamento de acordo com o Conselho Nacional de Assistência Social -
CNAS e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA e
outras determinações legais. (Tipificação da Rede Socioassitencial e Regulação de Parceria da
Política de Assistência Social, 2011).
De acordo com as informações do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome – MDS (2004) - ministério ao qual pertence à Secretaria Nacional de Assistência Social
- a Proteção Social Básica deve ser prestada no equipamento estatal, Centro de Referência de
Assistência Social – CRAS, onde é o oferecido a Proteção e Atendimento Integral à Família
(PAIF) que tem como intuito a acolhida, acompanhamento e apoio as famílias, na perspectiva
da prevenção da ruptura dos laços, promovendo a convivência familiar e comunitária, bem
como o acesso aos direitos, contribuindo assim na melhoria da qualidade de vida dos sujeitos.
Enquanto a Proteção Social Especial é ofertada pelo equipamento estatal, Centro de
Referência Especializado de Assistência Social – CREAS e seus respectivos serviços, como
serviços de acolhimento institucional para crianças e adolescentes. É no CREAS que deve ser
ofertado a Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI) sendo
direcionado a famílias e indivíduos que estão em situação de risco social e/ou tiveram seus
direitos violados. Oferecendo-os apoio, orientação e acompanhamento para a superação de
tais situações, através da promoção de direitos, preservação e fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários, por ora fragilizados ou rompidos.
De acordo com as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento Institucional para
Crianças e Adolescentes (2009), assim que a criança chegar ao serviço de acolhimento deve
ser elaborado pela equipe técnica o Plano de Atendimento Individual e Familiar, o chamado
PIA. A elaboração do Plano de Atendimento deve ter como objetivo orientar o trabalho de
intervenções durante o período de acolhimento, baseado nas novas concepções de
acolhimento previstas no ECA, levando em consideração as peculiaridades de cada caso.
Em 2009 foi sancionado a Nova Lei de Adoção - LEI Nº 12.010/09 que altera alguns
artigos do ECA. Apesar do nome, essa nova lei veio no intuito de aperfeiçoar os dispostos na
Lei 8.069/90, em relação à garantia ao direito à convivência familiar, sendo direito de todas as
crianças e adolescentes.
Dentre os principais avanços trazidos pela Nova Lei de Adoção, os que tem principal
relevância no assunto aqui tratado, é a complementação do art. 19 do ECA, com o inciso 1º,
que legitima que deve haver a reavaliação das crianças e adolescentes que se encontram em
programa de acolhimento institucional ou familiar, a cada 6 (seis) meses, através de relatório
29

elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar que embasarão a avaliação da


autoridade judicial, que possibilite a reinserção familiar ou família substituta. Outra alteração
significativa para esta pesquisa é no art. 39 do ECA, instituído no inciso 1º que reafirma que a
adoção é medida excepcional e irrevogável, que só deve ocorrer somente quando esgotadas
todas as tentativas de recursos para manutenção da criança ou do adolescente em sua família
natural ou extensa.
Segundo Svicero (2010), a legislação atual reconhece a família como o espaço ideal e
privilegiado para o desenvolvimento integral dos indivíduos e o direito da criança e do
adolescente à convivência familiar e comunitária. Porém a autora considera que ao mesmo
tempo ainda vigora uma cultura da institucionalização de crianças e de adolescentes. Como
nos afirma a seguir:

O encaminhamento de crianças e de adolescentes para abrigos, ainda é o


procedimento mais utilizado nos casos cujas famílias enfrentavam momentos
difíceis em seu percurso de vida. Desta forma, crianças e adolescentes provenientes
de famílias pobres, desprotegidas pelo Estado e desassistidas pelas políticas
públicas, vivem sob a ameaça do seu direito à convivência familiar ser violado, uma
vez que aumenta a possibilidade de seu afastamento do ambiente familiar (VOLIC,
2006, p.2 apud SVICERO, 2010, p. 10).

Rizzini, Irma, Naiff, Baptista (2005), enfatizam que as principais causas do


afastamento de crianças e adolescentes de suas famílias são as situações denominadas como
violações de direitos pelo ECA. No caso a violência intrafamiliar, como o abuso físico,
negligência, abuso sexual, exploração pelo trabalho infantil, entre outros. Analisam que
superados estes fatores, é comum que a pobreza se mantenha, sendo este um grande obstáculo
que a criança/adolescente volte a conviver com a sua família. Trazem a importante crítica da
falta de suporte à família, como as dificuldades de se inserirem no mercado de trabalho, a
falta de creches e escolas públicas de qualidade, em horário integral. Apontam que o grande
desafio está no quadro brasileiro, com a amplitude da desigualdade socioeconômica e
violência estrutural, sendo esta última característica de sociedades como a brasileira, regidas
pela denominação de classe e por profundas desigualdades na distribuição da riqueza social.
Sendo este um fator determinante na marginalização da população pobre, especialmente das
crianças e adolescentes, que não tem a garantia de seus direitos básicos previstos na
legislação.
Ainda de acordo com Rizzini, Irma, Naiff, Baptista (2005), entende-se por convivência
familiar e comunitária, a possibilidade da criança permanecer no meio ao qual pertence. De
preferência com sua família de origem, a chamada família nuclear ou com a família extensa.
30

Caso aja impossibilidade destas, a família substituta. Ou seja, o ideal deste direito é evitar o
máximo o acolhimento institucional. Porém em casos necessários, em que ocorre o
afastamento provisório da criança ou do adolescente de seu meio, a reintegração familiar deve
ser priorizada, sempre que possível.
As autoras Rizzini, Irma, Naiff e Baptista (2007), realizaram uma pesquisa em
diversos municípios de vários estados do país que vai colaborar com esta pesquisa. Destacam
as principais dificuldades existentes no sistema de garantia de direitos. Segundo a pesquisa,
ainda persiste o modelo assistencialista que historicamente marcou o atendimento a essa
população, mantendo-a na pobreza e sujeita a políticas clientelistas. Apontam que a
intervenção do Estado ainda é frequente e predominante sobre as famílias pobres e seus filhos.
Apontam ainda que este fenômeno se reproduz de geração em geração nas mesmas
famílias. Levantam a importante crítica de que a violação de direitos nunca é reconhecida por
parte do Poder Público, mas sempre culpabilizando e punindo as famílias e as crianças ou
adolescentes, quando são retirados de casa. Afirmam que esta ação do Estado faz com que a
própria família se sinta incapaz de criarem seus filhos, acreditando como em outrora, que eles
estando sob responsabilidade do Estado, seja a melhor alternativa.
Outro fator relevante é a falta de articulação entre as instâncias do Estado, a
denominada Rede11, que muitas vezes atendem a mesma família, porém não unem as suas
atribuições, o que dificulta no real andamento das demandas destas famílias. Afirmam que o
Estado só age com estas famílias quando as situações de vulnerabilidades já se agravaram. Ou
seja, não há suporte básico para apoiar estas famílias nos cuidados dos seus filhos, para a
prevenção do esgarçamento do vínculo. Muitas vezes a Rede só atende a criança ou o
adolescente quando já estão em situação de rua, consequentes de dificuldades na família que
poderiam ter sido resolvidas no seu início, prevenindo assim o agravo das vulnerabilidades.
Relatam que existem programas por organizações não governamentais que trabalham
esta questão de dá suporte básico às famílias. Na perspectiva de evitar o acolhimento
institucional de seus filhos. Estas organizações recebem algum investimento de órgãos
internacionais e raramente possuem parcerias com o Poder Público. (Rizzini, Irma, Naiff,
Baptista, 2007).
Dados de uma pesquisa do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2004)
apontam que 87% das crianças e adolescentes abrigados tinham famílias, mas somente 57%

11
Define-se rede como o tecido de relações e interações que se estabelecem com uma finalidade e se
interconectam por meio de ação ou trabalhos conjuntos. (RHAMAM, IPAS, s/d apud RIZZINI, IRMA, NAIFF E
BATISTA, 2007, P. 111-112).
31

mantinham seus vínculos familiares. A pesquisa aponta ainda que 100% das crianças e/ou
adolescentes acolhidos eram oriundos de famílias pobres e 90% negras.
Rizzini, Irma, Naiff, Baptista (2005), enfatizam que tanto o acolhimento institucional,
como o acolhimento familiar, também denominado como família acolhedora, devem ocorrer
como caráter emergencial, provisório e excepcional, tendo como prioridade o retorno mais
rápido possível para suas famílias. Trazem a informação que existem equipes profissionais
que atuam com o objetivo de auxiliar os abrigos na tarefa de reintegrar às crianças as suas
famílias como veremos melhor no próximo item.

2.2 - Reinserção à família de origem

Como foi visto anteriormente, apesar dos avanços legais, o acolhimento institucional
ainda é um fenômeno frequente, apesar de iniciativas para promover a convivência familiar e
comunitária, a fim de evitar o acolhimento, ainda persiste enraizada a cultura de se
institucionalizar crianças no Brasil. Será apontado agora propostas e ações para reinserir essas
crianças e adolescentes acolhidos à sua família de origem, considerando que o acolhimento
institucional deve ser de caráter protetivo, excepcional e provisório e que o fator pobreza não
justifica a perda provisória ou permanente do poder familiar. Porém como abordado, estes
direitos fundamentais são constantemente violados. Observar-se agora, as orientações legais
referentes à reinserção familiar e algumas pesquisas realizadas referente ao fazer desse
processo.
De acordo com Oliveira (2009) apud Silva (2012), o termo reintegração indica um
trabalho de integrar de novo, juntar o que foi separado. Neste caso, retornar à família de
origem, tanto a nuclear, os pais e irmãos, como a extensa, avós, tios e primos. Conforme o
Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à
Convivência Familiar e Comunitária, (2006, p. 29), “Reintegração Familiar: retorno da
criança e do adolescente ao contexto da família de origem da qual se separou; re-união dos
membros de uma mesma família”.
32

Figura 6 - “Mãe com crianças e laranjas”. Picasso, 1951

Fonte: Blog arte na rede.

De acordo com as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e


Adolescentes (2009), é de fundamental importância à implementação de uma sistemática de
acompanhamento da situação familiar, iniciada imediatamente após o acolhimento,
reconhecendo que com o passar do tempo, as possibilidades de reintegração familiar e de
adoção tornam-se mais difíceis e que o prolongamento do afastamento da criança ou
adolescente contribui por provocar o enfraquecimento dos vínculos da família, bem como,
perda de referências do contexto e de valores familiares e comunitários. É ressaltado a
importância de uma cuidadosa preparação no processo de reinserção familiar.
O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006) aponta as diferentes facetas do
direito a convivência familiar e comunitária. Sendo elas: em primeiro lugar, a família de
origem e a comunidade na qual está inserida, bem como a importância da preservação dos
vínculos familiares e comunitários e o papel das políticas públicas de apoio sócio-familiar; em
segundo lugar, a intervenção institucional nas situações de rompimento ou ameaças de
rompimentos de vínculos familiares e no investimento no reordenamento dos Programas de
Acolhimento Institucional e na implementação dos Programas de Famílias Acolhedoras, com
foco na excepcionalidade e na provisoriedade destas medidas e na preservação, fortalecimento
e restauração dos vínculos familiares; e em terceiro lugar, a necessidade de uma nova família
ou para o adolescente, somente quando esgotadas todas as possibilidades anteriores.
33

O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e


Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006), enfatiza também que o
fortalecimento e o empoderamento da família devem ser apoiados por políticas de apoio
sócio-familiar, em diferentes dimensões que visem à reorganização do complexo sistema de
relações familiares, especialmente no que se refere ao respeito aos direitos de crianças e
adolescentes. Como descrito na afirmação:

Devem ser firmados acordos entre serviços de acolhimento, equipe de supervisão e


apoio aos serviços de acolhimento – ligada ao órgão gestor da Assistência Social – a
equipe técnica do Poder Judiciário e os demais serviços da rede das diversas
políticas públicas, incluindo os não-governamentais, a fim de promover a articulação
das ações de acompanhamento à família, além de reuniões periódicas para discussão
e acompanhamento dos casos. (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS: SERVIÇOS DE
ACOLHIMENTO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES, 2009, P. 31).

O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e


Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006), também recomenda que de
acordo com o ECA o acompanhamento da situação familiar deve-se dar início imediatamente
após o acolhimento da criança ou adolescente, caso a equipe técnica analise que a medida de
acolhimento é desnecessária, os encaminhamentos a fim de promover a reinserção familiar
devem ocorrer imediatamente.
Em São Paulo é realizada a Oficina Neca – Núcleo de estudos da criança e do
adolescente, onde foi apontado pelos participantes da oficina, sendo esses trabalhadores de
abrigos, que o trabalho com as famílias é uma das suas maiores dificuldades. Relatam que as
famílias têm conhecimento do caminho, porém necessitam de estímulos para buscarem e
usarem os serviços disponíveis. Apontam ainda que o ciclo de abandono inclui a família tanto
quanto seus filhos e, que muitas vezes, o abrigo ainda é visto como um recurso comunitário,
sentem o abrigo como uma ajuda, que possibilita mais conforto aos seus filhos do que teriam
em casa.
Os trabalhadores reconhecem a dificuldade de incluir as famílias no processo de
acolhimento, visando à reinserção de seus filhos, por as famílias terem sentimentos confusos,
de impotência e sem valor. Enfatizam que o processo de reinserção familiar, trata-se de um
trabalho que requer participação e comprometimento multidisciplinar, bem como união e
disposição de todos os envolvidos no trabalho com as crianças e adolescentes acolhidos e suas
respectivas famílias. Concluem que é necessário também muita atenção e humildade, para ter
a capacidade de perceber que não se percebe direito. Perseverança, paciência, serenidade,
amor e compaixão também são apontados como fundamentais nesse trabalho. Reconhecem
34

que há muitos retrocessos no percurso, mas que o avanço deve ser conquistado
cotidianamente, que o sucesso é feito em pequenos detalhes, que juntos transformam essa
desafiadora e delicada situação. (Bernardi, 2010).

A intervenção profissional na etapa inicial do acompanhamento deve proporcionar,


de modo construtivo, a conscientização por parte da família de origem dos motivos
que levaram ao afastamento da criança e/ou adolescente e das consequências que
podem advir do fato. Esta conscientização é fundamental para que as próximas
etapas possam ser planejadas, com acordos firmados entre o serviço e a família, com
vistas ao desenvolvimento de ações pró-ativas que contribuam para a superação de
situações adversas ou padrões violadores que possam ter levado ao afastamento. A
equipe técnica do serviço de acolhimento deve, ainda, acompanhar o trabalho
desenvolvido com a família na rede local, mantendo-a informada, inclusive, a
respeito de possíveis decisões por parte da justiça. (ORIENTAÇÃOES TÉCNICA:
SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES, 2009,
P. 31).

Cavalcante, Silva, Magalhães (2010), afirmam que esse processo está atrelado à
capacidade de sensibilidade e criticidade de profissionais e autoridades da área frente às
divergentes e complexas demandadas das crianças e adolescentes, bem como das relações
familiares. Não devendo haver juízo de valor, o que gera uma visão superficial, equivocadas e
discriminatórias, afetando obviamente na eficácia das resoluções dessas situações.
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (2009),
apontam diversas técnicas que podem ser utilizadas no acompanhamento às famílias, como os
exemplos que seguem:
Estudo de caso: que se dá pela reflexão coletiva a partir das informações disponíveis
sobre a família e a apresentação dos resultados das intervenções realizadas. Deve ser realizado
com a participação dos profissionais do serviço de acolhimento, da equipe de supervisão do
órgão gestor (no caso da cidade de São Paulo, o CREAS que supervisiona os SAICAS), da
Vara da Infância e Juventude e de outros serviços da rede que acompanham a família;
Entrevista individual e familiar: trata-se de uma importante estratégia, principalmente
nos primeiros contatos com a família e seus membros, permitindo avaliar a expectativa da
família referente à reinserção de seus filhos acolhidos, bem como elaborar em conjunto com a
família o Plano de Atendimento. Podendo ser realizada várias técnicas nesse item no intuito
de se estabelecer uma parceria de confiança entre o profissional e a família;
Grupo com famílias: um dos aspectos é o favorecimento da comunicação com a
família, à troca de experiências entre famílias, a aprendizagem e a troca de apoio. Esse
trabalho deve possibilitar a reflexão sobre as relações familiares e responsabilidades da
família na garantia dos seus direitos de seus membros sobre os aspectos relativos ao
35

acolhimento. Essa é uma importante estratégia para a potencialização dos recursos da família,
para o engajamento nas ações necessárias para a retomada do convívio familiar com os seus
filhos, criança ou adolescente que estão em situação de acolhimento institucional;
Grupo multifamiliar: este se dá pela necessária troca de experiências, reflexões e
discussões com as famílias e com as crianças e adolescentes acolhidos. No intuito de permitir
a compreensão de diferentes pontos de vistas de diversos relacionamentos familiares e de
diferentes gerações;
Visita Domiciliar: este recurso é indispensável no processo de reinserção familiar,
permite conhecer o contexto e a dinâmica familiar, bem como identificar demandas,
necessidades, vulnerabilidades e riscos. Este instrumento de trabalho que deve ser pautado no
respeito à privacidade, possibilita uma aproximação com a família e a construção de um
vínculo de confiança que é de tamanha importância para prosseguir com o trabalho;
Orientação individual, grupal e familiar: esta intervenção tem como objetivo
informar, esclarecer e orientar a família sobre a medida de proteção aplicada. Devendo haver
uma metodologia que possibilite a participação dos participantes;
Encaminhamento e acompanhamento de integrantes da família à rede local, de acordo
com demandas identificadas: psicoterapia, tratamento de álcool e/ou outras drogas e diversos
tratamentos na área da saúde, geração de trabalho e renda, educação de jovens e adultos e etc.
Esse acompanhamento sistemático da família deve ocorrer no prazo de até dois anos,
porém o retorno à família não se deve ocorrer de forma prematura, mas sim de acordo com as
respostas que cada família apresentar como resultados dessas atividades.
O empoderamento da família deve-se dá na potencializarão da capacidade e dos
recursos da família para o enfrentamento de desafios inerentes às diferentes etapas do ciclo de
desenvolvimento familiar, e da superação de condições adversas, como a situação de
vulnerabilidades e violações de direitos. O trabalho com essas famílias precisa favorecer a
superação das questões, que são geralmente muito complexas, questões essas que contribuirão
para o afastamento das crianças e adolescentes do convívio familiar. (Plano Nacional de
Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e
Comunitária, 2006).
Ainda de acordo com as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças
e Adolescentes (2009) o trabalho com a família, devem ser consideradas tanto as questões
objetivas, que deve se dá por encaminhamentos para serviços da rede; fortalecimento das
alternativas para gerar renda e garantir a sobrevivência da família, bem como organização de
estratégias para conciliar cuidados com a criança e o adolescente, afazeres doméstico e
36

trabalho formal ou informal, dentre outras, quanto às subjetivas, que se dão através das
relações familiares, formas de comunicação, significado da violência na família e do
afastamento da criança ou do adolescente do convívio, dente outros.
O documento aponta ainda que considerar essas duas dimensões: objetiva e subjetiva é
importante para apoiar a família no processo de reinserção e prevenir novos afastamentos. É
ressaltado que lidar com essas questões objetivas é fundamental para prevenir situações que
possam gerar uma tensão excessiva na família, em função do processo de exclusão social ou
das reais dificuldades para conciliar o cuidado com a criança e o adolescente e a
sobrevivência do núcleo familiar. Que essas situações podem dificultar o desenvolvimento de
relações afetivas que contribuam para o exercício de seu papel de proteção e cuidados.
Fávero, Vitale, Baptista (2008), na organização de uma importante e necessária
pesquisa com as famílias de crianças e adolescentes acolhidos, em relação à perspectiva de
terem seus filhos de volta, foi evidenciado pelos pesquisadores diversos sentimentos como de
carinho, tristeza, esperança, visão do abrigo como uma melhor condição de vida para os
filhos, bem como um aparente conformismo. Refletem que os familiares manifestaram quase
na sua totalidade que gostariam de ter seus filhos de volta, mesmo que em muitas situações
reconhecem que no abrigo seus filhos tenham melhores condições de vida, no aspecto
material.
Os autores enfatizam ainda em sua pesquisa, baseado nos relatos da maioria das
famílias que encontram-se com seus filhos em situação de acolhimento institucional, que a
dificuldade maior que essas famílias enfrentam para terem seus filhos de volta, se dá no Poder
Judiciário - Vara da Infância e Juventude. Analisam que os profissionais dessa instância
parecem assumir postura de culpabilização da família, principalmente das mães solteiras pelo
acolhimento dos filhos. Parecem tratar a questão como individual, focam na responsabilização
particular da pessoa, chegam a dar “broncas”, tratando as famílias como acomodadas. Não
relacionando a situação a um contexto social mais amplo, na conjuntura em que se vive. As
famílias relatam ainda que tem pouca informação sobre o significado da medida de proteção
do abrigo. Rebelam ter receio que o juiz não acredite que tenham condições de cuidarem de
seus filhos, netos, sobrinhos. Com base na fala de alguns coordenadores dos abrigos, os
pesquisadores pressupõem que ainda há um distanciamento e pouco dialogo entre as
instituições de acolhimento e a Vara da Infância e Juventude. Que o abrigo parece ficar
subordinado ao Judiciário, não havendo um trabalho em conjunto, como foi visto nas
determinações legais ao decorrer desse capítulo.
37

Silva (2012), conjectura que a retirada da criança/adolescente da família de origem


ocorre quando há violações de seus direitos, e que sempre há um fator que determina estas
violações, que levam a família a não cumprir com o seu dever de cuidado. São fatores
emocional, social, econômico e outros. Estes fatores podem ser momentâneos ou podem haver
situações em que nunca existiu o vínculo, afeto e/ou cuidado em alguns contextos familiares.
Em qualquer situação encontrada é necessário investir no fortalecimento desses vínculos para
que assim a criança/adolescente possa ter seus direitos de cuidado e desenvolvimento
prestados por sua família. Não sendo possível, após tentadas todas as possibilidades de
reinserção à sua família de origem, deve-se realizar o encaminhamento à família substituta
junto ao Poder Judiciário, para que seja garantido o direito da criança e/ou adolescente à
convivência familiar.
Existem grupos de entidades que se organizam no intuito de auxiliarem os abrigos na
tarefa da desinstitucionalização de crianças e adolescentes, ou da também denominada
reintegração familiar,

São grupos de entidades que, unidos, procuram intervir na situação de


institucionalização das crianças e adolescentes com o objetivo de auxiliar os abrigos
na tarefa de reordenamento institucional e reintegração familiar. Essas chamadas
“iniciativas articuladas” englobam profissionais ligados a entidades não
governamentais de garantia de direitos e outras que focalizam sua atuação na
desinstitucionalização de crianças e adolescentes abrigados. A metodologia é
composta por atividades que dão suporte aos abrigos para favorecer a reintegração
familiar. Todo o trabalho é direcionado às famílias e os procedimentos podem ser
assim resumidos: levantamento da situação familiar das crianças abrigadas; estudo
das condições de vida das famílias; contato e preparo das famílias para reintegração;
inserção das famílias e crianças em programas sociais. A prática desenvolvida se
baseia em entender as necessidades trazidas tanto pelas crianças quanto por suas
famílias, e ampará-las material e psicologicamente. São realizadas visitas quinzenais
às famílias onde são levantadas as possibilidades de reinserção. Destacou-se a
importância de se respeitar a família em suas condições emocionais e financeiras
que, em última análise, vão orientar a possibilidade de que ela possa manter seu (s)
filho (s). A duração do atendimento depende da receptividade de cada família.
Somente em casos de insucesso, as crianças são encaminhadas para adoção, mas os
técnicos trabalham em proximidade com as equipes dos Juizados para se tentar todas
as possibilidades de reinserção familiar. (RIZZINI, IRMA, NAIFF, BAPTISTA,
2007, P. 102).

As autoras assinalam ainda que o programa possibilitou ao abrigo um número elevado


de reintegrações em comparação a sua média anual. Além de possibilitar um melhor
atendimento com as crianças e adolescentes que se encontram com dificuldades de retornarem
às suas famílias de origem, como o apadrinhamento afetivo, que tem como ideal promover o
convívio familiar, possibilitando as crianças e adolescentes experiências familiares, enquanto
aguardam o retorno ás suas famílias ou em último caso a adoção, família substituta.
38

Entendem o apadrinhamento como uma solução provisória, para reduzir os danos causados
pela institucionalização quando prolongada.
Euzébio (2015) analisa que a Nova Lei de Adoção promove avanços, principalmente
em relação ao trabalho realizado com as famílias de origem. Porém, segundo o autor, baseado
na experiência de especialistas em violência doméstica, é necessário que haja cautela na
avaliação do número de reinserção como indicador positivo dos acolhimentos.
Rizzini, Irma, Naiff, Baptista, (2007), apontam os inúmeros desafios e possíveis
caminhos a serem enfrentados na realização desse trabalho apontados pelos trabalhadores na
pesquisa realizada. Dentre eles: O risco de descontinuidade por mudanças políticas; Falta de
retaguarda para atendimento na rede pública, tendo em vista as diversas demandas trazidas
pelas crianças e adolescentes e suas famílias, sendo impossível os abrigos por si só
responderem a todas; A dificuldade de articulação com a rede de atendimento, que prejudica o
andamento do atendimento, ex.: como a descontinuidade dos encaminhamentos, que resultam
na consequência dessa criança ou adolescente se tornar jovem (completando 18 anos) e não
tendo retornado à sua família, não ter sido adotado e nem ter sido preparado para esta nova
realidade. Já que também faltam políticas públicas que trabalhem a autonomia, emancipação
desse adolescente que perdeu os vínculos familiares e não há perspectiva de ser adotado.
Há uma dificuldade ainda maior para a garantia do direito a convivência familiar que é
das crianças e adolescentes com deficiências, que demandam questões bem mais complexas,
necessitando de intervenções multisetoriais. Rizzini, Irma, Naiff, Baptista, (2007), refletem
que a raiz de todas essas dificuldades do funcionamento dos serviços e programas é do
modelo político neoliberal, que repercutem diretamente na área social. Onde os projetos de
consolidação de políticas sociais universais e democráticas emperram, pelo recuo dos
investimentos do Estado, que se exime da responsabilidade na redução das desigualdades
sociais.
Fávero (2010) considera a ausência de políticas públicas redistributivas e
compensatórias de apoio às famílias em situação de pobreza, como uma violência social.
Aponta a necessidade de mudanças nas práticas cotidianas dos profissionais que atuam junto
com esse segmento da população, especialmente os do judiciário.

Nesse contexto é importante ressaltar que a atenção à infância pobre no Brasil foi
sempre realizada por um viés de punição, controle, caridade e filantropia. O objetivo
era (e muitas vezes ainda é) controlar a população pobre e educá-la para que esta
aceitasse como natural a situação de exploração e falta de assistência a que
historicamente foi submetida. (SARTOR, MARTINS, SILVA, 2002, p.120).
39

No que diz respeito às políticas públicas, a pesquisa de Fávero, Vitale, Baptista (2008)
aponta que a política social para a população pobre, está mais voltada para a concessão de
benefícios assistenciais focalizados, que tem se transformado em moeda de troca política, o
que não resulta em mudanças concretas na vida dos usuários, no caso, das famílias pobres,
que encontram com seus filhos em situação de acolhimento institucional.
“No entanto, o retorno de crianças e adolescentes abrigados às famílias de origem tem
sido um tema pouco explorado cientificamente na realidade brasileira, apontando a
necessidade de pesquisas que compreendam como este processo está ocorrendo”. (Siqueira,
Dell’ Aglio, 2007, P. 134).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa que teve como problemática, investigar a evidente contradição do Estado


Democrático de Direito, para com as famílias que se encontram com suspensão provisória da
guarda de seus filhos; até que ponto o acolhimento institucional é de caráter protetivo para
com a criança/adolescente e passa a ser uma ação invasiva, culpabilizadora, punitiva, que
oprime as famílias pobres e o que o Estado oferece de concreto para que essas famílias
tenham a real chance de superarem a causa da suspensão da guarda de seus filhos para o
próprio Estado? Levando em consideração suas possibilidades e dinâmica de vida peculiar,
para assim terem a guarda de seus filhos de volta, visto que, toda criança e adolescente tem
direito a convivência familiar e comunitária.
Como objetivo geral, foi almejado realizar um levantamento bibliográfico referente ao
processo de reinserção familiar de crianças e adolescentes em situação de acolhimento
institucional. Como objetivo específico, foi pretendido realizar uma contextualização histórica
do tema, em seguida, analisar a legislação que prevê a convivência familiar como um direito,
em contrapartida com leituras com viés crítico para saber como de fato ocorre a reinserção
familiar e foi levantada a hipótese de que independente do tempo do acolhimento institucional
dos filhos dessas famílias, o Estado nega direitos mínimos a estas famílias, não havendo
possibilidades concretas para as mesmas se organizarem a terem seus filhos de volta. Percebe-
se apenas o tempo pelo tempo, onde muitas vezes as questões que possibilitaram a suspensão
“provisória” do poder familiar, não se resolvem ou até se agravam enquanto seus filhos estão
acolhidos.
A realização da pesquisa possibilitou uma melhor aproximação dessa realidade, que
assimilou a todo tempo com o curso de Serviço Social e com a experiência vivida no campo
40

de estágio no CREAS-Sé, experiência essa que despertou a curiosidade e vontade de


problematizar esta expressão da Questão Social – que é o objeto de trabalho do Assistente
Social.
Diante da pesquisa realizada, que para chegar aos objetos propostos, foi necessário a
realização de um breve, porém profundo resgate histórico, tanto referente à instituição social
Família, quanto referente à prática da institucionalização de crianças/adolescentes, como
orienta o método dialético marxista, atual base teórica do Serviço Social, para assim ser
compreendida de forma teórica, metodológica e crítica, como se deu o atual fenômeno
estudado.
Através da apropriação histórica do assunto, análise da atual legislação que prevê o
direito a convivência familiar, bem como a reinserção familiar e de leituras críticas em relação
à promoção do que a legislação estabelece, assimilando com a experiência de estágio e com
toda a bagagem teórica do curso de Serviço Social, é possível considerar muitos avanços,
porém grandes desafios na institucionalização de crianças e adolescentes atualmente. Partindo
de falhas na sua prevenção, bem como no seu caráter protetivo, provisório e excepcional.
Os avanços se deram por parte da luta coletiva dos movimentos sociais. Começando
pela conquista da Constituição Federal de 1988, que considera a família como base da
sociedade e a criança e o adolescente como prioridade absoluta, devendo o Estado prestar-lhes
auxílio para a manutenção de todos os membros. O ECA, ratificado em 1990, pode ser
considerado o maior avanço em relação ao tratado da infância e adolescência no Brasil, com
viés mais humanizado, legitimando-os como sujeitos de direitos, responsabilidade da família,
da sociedade e do Estado. Sendo que a história mostra que nunca houve nenhuma outra
legislação para crianças e adolescentes, no intuito de protegê-los, mas sempre na lógica da
correção e punição.
Tivemos consideráveis avanços na assistência à infância e a adolescência, sendo a
Assistência Social reconhecida legalmente como política pública e universal, fazendo parte do
tripé da seguridade social: Previdência Social, Assistência Social e Saúde. Portanto os
avanços, dado pela cobrança popular para com o Estado Democrático de Direto, com a
redemocratização do país, possibilita um novo ordenamento no acolhimento de crianças e
adolescentes no Brasil. Devendo ocorrer somente de forma excepcional e provisória, no
intuito da proteção, em casos de negligência, maus tratos ou violência física, psicológica e/ou
sexual praticada pela família. Devendo ser trabalhado tanto a criança/adolescente, quanto a
família no período de acolhimento, no intuito do retorno familiar. Porém a pesquisa apontou
que o costume decorrido do processo histórico ainda vigora no Brasil. Ou seja, a maioria das
41

crianças e adolescentes acolhidos, é de famílias pobres e negras. Portanto, é importante


salientar, que, não se trata somente de uma questão de classe, mas inevitavelmente
entrelaçada à questão étnico racial. Embora este fator tenha aparecido somente nos dados da
pesquisa do IPEA, realizada em 2004, não tendo sido abordada por nenhum autor nas leituras
consultadas sobre a temática estudada. É sabido que, a população negra é a maioria que vive
em situação de pobreza e vulnerabilidade social no Brasil, devido ao processo de colonização,
por meio da escravidão dos povos brancos sobre os negros e índios, e que ainda vivemos
fortes resquícios da história. Sendo que temos mais tempo de história de escravidão (quase
400 anos) do que pós-escravidão (pouco mais de 100 anos), e que não houve políticas
públicas compensatórias aos escravos libertos, ficando a margem da sociedade.
Em relação ao objeto da pesquisa, que é entender como se deve e como ocorre de fato
o processo de reinserção familiar, foi entendido que além da legislação, há orientações em
documentos elaborados conjuntamente pela sociedade civil, movimentos sociais e
organizações do Estado de várias esferas e segmentos, principalmente do CNAS e
CONANDA, que resulta tanto na geração de políticas públicas que correspondam a tal
realidade, como para subsidiar todos os atores envolvidos nesse processo. As orientações são
precisas e objetivas, para que assim haja uma uniformidade das organizações de abrigos, que
é um serviço prestado por diversas Organizações Não Governamentais – ONGs, através de
convênio com o Poder Público, algumas religiosas, que obviamente possuem intuitos
diferentes, tanto no olhar para as crianças e adolescentes acolhidos, bem como para suas
famílias que também devem ser acolhidas, ouvidas e trabalhadas da melhor forma, com
criticidade e sensibilidade, independente do que ocorreu, para terem a guarda dos seus filhos
de volta. Mas que o motivo pelo qual houve a suspensão do poder familiar, a denominada
situação de risco, tenha sido superado.
No entanto, como foi apontado na pesquisa, apesar dos avanços na legislação, na
assistência a infância, bem como as demais políticas públicas conquistadas através de muita
luta e resistência, à adesão da política neoliberal do Estado brasileiro limita a sua eficácia de
universalidade. Tornando-as políticas compensatórias. Pois, enxuga as responsabilidades do
Estado de Direto, afetando todas as políticas, principalmente a área social, que acaba ficando
sob responsabilidade da própria sociedade. Ou seja, as políticas existem, no entanto não
atendem toda a população, não supre as demandas existentes, são limitadas, seletivas e
focalizadas. Além das mudanças de governo das três esferas, nacional, estadual e municipal,
interferirem no andamento dos serviços e projetos direcionados a essa questão, já que alguns
ministérios, secretarias e políticas, são planos de governo e não de Estado.
42

Levando em consideração que as crianças e adolescentes acolhidos, e suas famílias


apresentam demandas que necessitam de atendimento em todas as políticas, além das já
citadas que são: saúde, assistência social e previdência social, dependendo do que a situação
exigir devem ser incluídas nas demais políticas públicas como: moradia, saúde, emprego,
educação, cultura, esporte e lazer, dentre outras. Para que assim aconteça de fato o trabalho
com as famílias para terem seus filhos de volta.
A pesquisa apontou também que as famílias ainda são culpabilizadas, como em
outrora, por instâncias do Estado, principalmente pelo poder judiciário. Se sentem coagidas e
tem que provar que tem condições de cuidarem de seus filhos. Ainda vigora em algumas
famílias, também a ideia de que é melhor seus filhos estarem sob a responsabilidade do
Estado do que sob os seus cuidados, por não conseguirem suprir suas necessidades básicas,
como alimentação, vestimenta e educação. Com um sentimento de incapacidade e culpa.
Foi percebível também, que a centralidade da/na família, só se dá por conta das
obrigações para com as crianças e adolescentes, o Estado não auxilia na sua manutenção
como prevê a legislação, intervindo somente quando entendem que a família não deu conta de
cuidar e/ou prover o sustento de seus filhos. Intervenção essa que se dá de caráter invasivo,
investigativo e culpabilizador das famílias pobres e negras.
É sabido que muitas vezes o profissional que é designado a fazer essa intervenção é o
Assistente Social, o que contradiz com o atual ideal da profissão, que tem como uns dos
princípios a autonomia e emancipação dos usuários atendidos.
Apesar de alguns limites na realização dessa pesquisa, como as deficiências da
instituição educacional, sendo uma delas, não ter comissão de ética instituída na faculdade,
impedindo a pesquisa de campo, o que resultaria em uma melhor análise e compreensão de
como está ocorrendo esse processo atualmente. Tendo em vista, que as obras consultadas não
são tão atuais e não corresponde especificamente ao território de onde surgiu a indagação - a
região central de São Paulo - Bem como, a demora em disponibilizar os professores
orientadores, afetando na qualidade da pesquisa. Além de haverem poucos estudos sobre
como ocorre o processo de reinserção familiar e de não ter encontrado pesquisas que
relacionem a temática diretamente com o Serviço Social. É possível considerar que o
resultado da pesquisa traz importantes subsídios para reflexão sobre o tema e a necessidade da
sua continuidade, bem como de novas pesquisas referentes à temática, que relacionem
diretamente com o Serviço Social.
43

A pesquisa constatou que há uma grande disparidade entre o dever do Estado em dar
o suporte necessário às crianças e adolescentes, bem como de suas famílias, para assim
garantir a convivência familiar.
A medida de acolhimento institucional, não funciona como caráter protetivo,
emergencial e provisório como prevê o ECA. Mas sim, ainda vigora a criminalização da
pobreza, que se dá pelo conservadorismo burguês. Além das inúmeras dificuldades que a
estrutura desse Estado mínimo, possibilita aos atores da reinserção familiar. Algumas
instituições do Estado envolvidas com a questão, principalmente no campo Jurídico, ainda
culpabilizam as famílias, não compreendendo a totalidade da situação, o que contradiz o que
estabelece a legislação.
Foi possível perceber na pesquisa, que diante das deficiências do Estado mínimo,
consequente da política neoliberal, que contradiz a conquista do Estado de Direito, existem
algumas ações de organizações sociais não governamentais que nem ao menos recebem verba
de nenhuma esfera de governo, somente de organizações internacionais. Realizam um
trabalho de apoio e suporte aos abrigos, tendo em vista as diversas e complexas demandas
existentes. Esse trabalho é focado na família, atendendo as suas demandas diversas e por
vezes complexas, exatamente na perspectiva da reinserção de seus filhos que se encontram
sob tutela do Estado. Alternativas essas que trazem um bom resultado no número de crianças
e adolescentes que voltaram para suas famílias de origem. Além de acompanharem as famílias
após a reinserção. Esse é mais um reflexo da política neoliberal, onde a sociedade assume as
responsabilidades do Estado, principalmente no campo social.
Portanto, diante do exposto, é possível propor alternativas para a superação dessa cruel
realidade, onde um grande número de crianças e adolescentes vivem longe de suas famílias.
Como apontado na pesquisa, a principal causa é por falta de iniciativa do Estado, falta de
articulação da rede e entendimento crítico, humano e sensível de alguns atores do processo de
reinserção familiar. Portanto, é necessário que sempre haja formação continuada e articulada
dos trabalhadores dos SAICAs, CREAS e Ministério Público – Vara da Infância e Juventude e
Vara da Família e outras instituições envolvidas. Considerando que conhecer a história da
institucionalização de crianças e a instituição família com viés crítico, humano e sensível, sem
juízo de valor, superando o senso comum. E que seja de fundamental importância também à
compressão da legislação atual, que determina um novo ordenamento de acolhimento
institucional, como foi resumido na pesquisa, para ao menos promover uma mudança
significativa dessa realidade. Pois é sabido, através da formação em Serviço Social, que as
inúmeras expressões da Questão Social não se resolvem de forma rápida e nem fácil. Sendo
44

preciso haver a superação da visão messiânica - de que tudo se resolve-, bem como a visão
fatalista - de que nada se consegue-, mas agir, diante dos limites e possibilidades.
Portanto, há a necessidade de haver profissionais engajados, que militem pela causa
criança e adolescente, para a ampliação e geração de políticas públicas que correspondam à
dada realidade, envolvendo os principais atores nessa construção, que são as crianças e
adolescentes e suas respectivas famílias. Visto que o fazer pelo fazer, sem significado
ideológico-político não é suficiente na área social. Mas agir sempre de forma estratégica,
articulada e coletiva, ocupando os espaços de construção das diversas políticas públicas
sociais, modificando as estruturas do sistema capitalista, na construção de uma nova ordem
social, com justa divisão das riquezas econômica e no combate a discriminação de qualquer
natureza.

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