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ey _ O PROBLEMA DA ORDEM NAS SOCIEDADES SIMPLES Wor i ctitony Iniciaremos este capitulo com o caso de um indio Cheyenne apresen- tado por Llewellyn e Hoebel (The Cheyenne way, cit., Caso 2, p. 6-9), contado por Lobo Negro. “Pawnee, quando muito jovem, era um Cheyenne da regiao sul, po- rém nos anos posteriores morou conosco aqui em cima. Ele estava o tem- po todo cuidando da moral das pessoas e aconselhando os Tapazes sobre o bom comportamento. Eu o ouvi contar sua historia muitas vezes quan- do eu era muito jovem, porém sempre a estava contando-nos como uma lig&o, Ele tinha sido um velhaco terrivel, 1 embaixo, em Oklahoma, quando era moleque: roubando carne das prateleiras das pessoas, pegan- do seus cavalos para um passeio sem lhes pedir autorizacio. Depois, quando chegava ao local em que ia, soltava o cavalo e o deixava vaguear de volta a seu dono, se é que alguma vez 0 animal o fazia. Desrespeitava muito as pessoas e as xingava na cara. Todos achavam que ele era um menino desprezivel e era considerado culpado por qualquer coisa que acontecesse no acampamento. Esta historia que vou contar aconteceu... quando os soldados estabeleceram um regulamento de que ninguém no campo podia pegar o cavalo de uma outra pessoa sem permissao. Isto é0 que Pawnee costumava nos contar: “La embaixo (em Oklahoma) havia dois cavalos malhados muito amados pela sua familia. Um dia eu os peguei e me dirigi para 0 oeste. Trés dias se passaram ¢ cu ainda me encontrayaa salvo. Agora eu estava fora de dificuldade e entéo comecei a me sentir muito bem. No quarto dia, enquanto olhava para tras, vi surgirem algumas pessoas. Nao é na- da, pensei, apenas algumas pessoas viajando, Quando me alcancaram, vi que eram soldados Corda-de-Arco procurando por mim, “Vocé roubou aqueles cavalos’, eles grifavam enquanto puxavam- 35 me de meu cavalo, ‘Agora nds encontramos 0 seu rastro.” Atiraram-me no chao e me bateram até que eu ndo pudesse ficar de pé, estragaram mi- nhas armas e danificaram minha sela; cortaram meus cobertores, mocas- sins e deixaram minhas roupas em tiras. Quando terminaram, levaram toda a minha comida e sairam com 0s cavalos, deixando-me sozinho na planicie, com dores e sem recursos, fraco e ferido demais para me loco- mover. No dia seguinte, iniciei o retorno, viajando o melhor que pude o dia todo. Eu sabia que la fora tinha um pequeno acampamento de cacgadores de bifalos e estava procurando por ele. Viajei o dia todo. No dia seguin- te, pensei que fosse morrer. Eu nao tinha comida, somente agua. A tardi- nha acampei num riacho. Meus pés estavam sangrando e eu nao podia caminhar mais. Rastejei vagarosamente sobre as maos e joelhos até o ci- mo de uma alta colina a fim de achar um lugar para morrer. Esperei em pranto. Longe, ao sul de mim, eu podia ver a terra ondulada; a oeste, mi- nha visdo estava bloqueada. Meu cachimbo e meu tabaco tinham desapa- recido. Sem fumo, eu me sentei pensando em muitas coisas, enquanto observava o sangue pingar através de meus pés inchados. Enquanto eu contemplava firmemente o sul, um cagador apareceu na colina atras de mim. Quando me viu, ele parou e observou-me por longo tempo. Apés trés dias ¢ duas noites na minha situacdo, eu devo ter estado quase surdo, pois nao 0 ouvi até que ele falasse de seu cavalo bem atrAs de mim. Eu estava nu. Levei um susto quando ouvi sua voz surgir no siléncio. O homem desceu do cavalo e me abragou. Ele chorou de tao mal que se sentia ao ver minha situacdo. Era Lobo-do-Dorso-Alto, um homem jovem, porém ja um chefe. (Um famoso chefe Cheyenne, morto poste- riormente numa escaramuca com as tropas americanas em julho de 1865 — nota de Llewellyn e Hoebel.) Ele colocou seu cobertor em volta de mim e levou-me para casa. O acampamento era no riacho abaixo, escon- dido bem em torno de uma curva onde eu nao o tinha visto. Sua esposa me deu comida e me alimentou. Depois Lobo-do-Dorso-Alto mandou buscar os chefes que estavam -no acampamento. Quatro ou cinco vieram, um dos quais era um chefe- soldado. Lobo-do-Dorso-Alto falou primeiro ao chefe-soldado: ‘Esta é a pri- meira vez, desde que me tornei um grande chefe tribal, que encontrei por acaso um homem tao pobre; agora vou equipa-lo. Até que ele se restabe- lega, nao Ihe farei perguntas. Depois saberemos como ele veio a ficar nu. Eu nao vou pedir a vocés para Ihe darem qualquer coisa, a menos que vo- és desejem fazé-lo. Conheco este homem’, ele disse. ‘Ele é um grande fumante. Porém ndo vou lhe dar fumo até que ele tenha em primeiro lu- gar comida.’ (Na minha propria opiniao, eu preferiria fumar primeiro.) Em primeiro lugar, deram-me um pouco-de sopa, depois carne. 36 Depois Lobo-do-Dorso-Alto encheu o cachimbo. Enquanto ele o apontava nas cinco diregdes, orava: ‘Este é o meu primeiro ato bom co- mo chefe. Ajude este homem a dizer a verdade’. Depois, segurou 0 ca- chimbo para que eu fumasse; em seguida, deu-o ao préximo homem e aos Outros. Entao ele encarou-me novamente. ‘Agora conte a yerdade. Vocé foi agarrado por inimigos e despojado de seus pertences? Ou foi al- guma outra coisa? Vocé me viu fumar este cachimbo, voc? 0 tocou com seus prdprios labios. Isto é para ajuda-lo a falar a verdade. Se vocé nos disser honestamente, Mayun te ajudara.’ Eu contei-lhes toda a hist6ria. Contei a quem pertenciam os cavalos gue roubei, Contei-thes que foram os soldados Corda-de-Arco que me haviam punido. Lobo-do-Dorso-Alto sabia que eu era maroto, portanto ele me re- preendeu. ‘Agora vocé tem idade suficiente para saber o que é certo’, ele Ppregou. ‘Vocé tem estado em guerra. Agora desista desta tolice. Se nao tivesse acontecido de eu ir passear nas colinas a cavalo, vocé teria morri- do. Ninguém saberia o seu fim. Vocé sabe como nos Cheyennes tentamos viver. Vocé sabe como cagamos, como vamos a guerra. Quando pegamos cavalos, os pegamos dos inimigos, nio dos Cheyennes. Seria melhor vocé juntar-se a uma sociedade militar. Voc@ pode aprender bom comporta- mento com os soldados. Porém peco-lhe uma coisa. Seja decente de ago- ra em diante! Pare de roubar! Pare de debochar das pessoas! Nao use mais uma linguagem grosseira no acampamento! Leve uma vida de- cente!’ “Agora vou auxiliar vocé. E para isto que estou aqui, porque sou um chefe do povo. Aqui estao suas roupas. L4 fora ha trés cavalos. Vocé po- de fazer sua escolha.’ Ele me deu um revdlver de seis tiros. ‘Eis uma pele de onca. Eu costumava us4-la nos desfiles. Agora eu a dou a vocé.’ Ele me ofereceu todas estas coisas € eu as peguei. Os outros me deram peles de castor para trangar em meu cabelo, co- lares e mocassins extras ¢ mais dois cavalos. Depois Lobo-do-Dorso-Alto finalizou: ‘Agora, no vou te dizer pa- ra deixar este acampamento. Vocé pode ficar aqui o tempo que desejar. Nao te direi que direc&o tomar, oeste ou sul’. Eu tinha uma namorada no sul, porém quando essas pessoas fize- ram isto por mim, senti-me envergonhado. Tinha todas as coisas com as quais pareceria belo, porém n4o ousei voltar, pois eu sabia que ela teria ouvido o que os Corda-de-Arco fizeram a mim. Achei mais conveniente ir para o norte até que a coisa estivesse morta. Quando os Flexas se foram, renovados, os Raposos (sociedade de soldados) montaram sua tenda para conseguir mais homens. Eu entrei, me reuni a eles... Eu permaneci com os Cheyennes do norte por muito tempo, até o tratado de Horse Creek. (Um tratado observado pelos in- dios, em 1851, porém nunca ratificado pelo Congresso dos Estados Uni- 37 dos — nota de Llewellyn ¢ Hoebel.) Embora eu viesse a me tornar um chefe dos Soldados Raposos entre os povos do norte, eu nunca me im- portei com os bandos do sul. Essas pessoas sempre se lembravam de mim como uma pessoa sem valor. Vocés, meninos, lembrem-se disso. Vocé pode fugir, porém seu po- vo sempre lembra. Apenas obedegam as leis do acampamento e vocés fa- Tao tudo certo’”’. Esta historia, excepcionalmente rica em sutileza e detalhes revela tanto o método antropolégico como a pratica real do direito “‘primitivo” em sua melhor forma. A vantagem do estudo do direito nas sociedades simples é reduzir os seus elementos: a formagao, a ajudicacdo, a aplica- do e a execucdo da lei, como a reabilitacdo a seus elementos mais basi- cos, livres de burocracias complexas, ou mesmo de confusbes delibera- das. O direito é fundamentalmente uma série de regras primarias, desen- volvidas para permitir que uma sociedade funcione, para solucionar dis- putas entre grupos ¢ entre individuos, e também uma série de normas se- cundarias, estabelecidas para cercear aqueles que ameacam a ordem so- cial sob controle. £ um erro dizer que as sociedades socialmente simples e sem Estado nao tém leis. Como se viu no caso de Pawnee, 0 povo Cheyenne tinha leis, maneiras formais de estabelecer leis, juizes e até Policia. A diferenca € que todas essas funcOes eram realizadas pelos membros da propria co- munidade e nao por setores burocraticos profissionais. Lobo-do-Dorso- Alto, em seu papel de grande chefe, agia como juiz e conselheiro, porém principalmente por conta propria e arcando com as despesas. J& que nas sociedades simples geralmente falta um sistema adminis- trativo profissional, elas precisam contar com outras instituigdes de or- dem social, de modo especial a familia, que ¢ fundamentalmente um agrupamento bioldgico ¢ social, ¢ a propria comunidade que, nessas so- ciedades, & basicamente uma unidade econdmica. Esses grupos t¢m imenso poder real. Na pratica, provavelmente se possa dizer com seguranga que a fami- lia é a instituigao legal mais importante em todas as sociedades. Seu pa- pel no controle social é duplo. Primeiro, ela é fundamental na socializa- co, na incorporacdo dos valores e da cultura legal de uma sociedade aos seus membros mais jovens. Ainda que a comunidade maior compartilhe disto, nao ha diavida de que a orientacdo social basica de uma pessoa provém do seu proprio lar, que é o grupo de parentes ou a familia. Este problema de ontogonia da lei foi foco de inimeras pesquisas, de Sigmund Freud a Jean Piaget, contudo foge um pouco do tema deste estudo, (Para uma sinopse desse problema atual, y. Lickona, Moral de- velopment and behavior, 1976.) Em segundo lugar, a familia age de maneira muito mais direta ao punir imediatamente uma conduta que seus membros véem como incor- 38 reta. Em parte isso é importante por causa dos fortes lagos de dependén- cia emocional que os membros mais jovens da familia normalmente sen- tem por aqueles que os criaram. Também durante todo o perfodo da de- pendéncia infantil, sio geralmente os membros mais velhos da familia que punem diretamente os procedimentos considerados inadequados dos mais jovens, ao lhes negar afeicao, alimento, ou punindo-os fisicamente, Este papel de sanco da familia continua, freqiientemente, por toda a vi- da, e muitas sociedades acreditam que a familia seja o agente principal de controle social em todas as ocasides. E exemplo desse tipo de sociedade, até hoje, o Japao. E necessario observar aqui que o antropdlogo esta consciente da am- pla variacdo nos modelos de familia. A familia nuclear basica, composta de pais e filhos, tio comum na moderna sociedade ocidental, ¢ rara no mundo em geral. As sociedades ‘‘simples’’ muitas vezes tem uma organi- zacao familiar excepcionalmente complexa e geralmente sio essas fami- lias ‘‘maiores’’ que em muitas culturas formam tanto as instituigdes de socializaco como as de sang4o. Pode-se observar o extenso cla patrili- near, as vezes com diizias de geracdes envolvendo milhares de pessoas, que tiveram uma enorme importancia legal na sociedade tradicional de paises como China, Japao e Coréia. Nessas sociedades, ser expulso do cla de alguém ndo era simplesmente uma desgraca, significava uma perda teal dos direitos civis e econdmicos, ja que o Estado aceitava a decisao da familia nesses assuntos. A segunda grande instituicao legal nas sociedades simples ¢ a comu- nidade. A comunidade ¢ normalmente definida como um grupo co-resi- dencial que vive todos os dias frente a frente. Esta definigdo é util desde que possa ser aplicada tanto aos bairros urbanos como as vilas rurais ¢ As cidades. Nas sociedades de caca e colheita, bem como nas sociedades agricolas, a comunidade muitas vezes tem um significado mais profun- do. Isto é devido ao fato de nessas sociedades a comunidade poder tam- bém formar a base econdmica e a unidade de producdo. Nas sociedades que se dedicam a caca, 0 grupo de cagadores é denominado ‘‘bando”’ pe- los antropdlogos e pode abranger poucos ou centenas de individuos. A “comunidade’’ em tais sociedades pode, freqiientemente, consistir de va- tios bandos, embora o vinculo possa ainda ser econdmico: os bandos bem-sucedidos na caga repartem com os menos favorecidos da comuni- dade. Nas aldeias agricolas, o maior grupo econdmico pode ser necess4- rio somente em periodos especificos do ano, como na colheita ou na épo- ca de preparo de novas rocas, quando o trabalho comunitario (no Brasil, © mutirao) é necessdrio. Foi Malinowski quem primeiro enfatizou a importancia da interde- pendéncia econémica da comunidade na ordem social. Qualquer mem- bro de uma pequena sociedade comunal esté atado a uma rede muito complexa de dividas e obrigagdes econdmicas que sAo importantes para a sua propria sobrevivéncia e a de sua familia. A expulsao da comunidade 39 significa, na melhor das hipOteses, ostracismo social, ¢, na pior, morte pela fome. Embora em algumas sociedades de cagadores, possa ser possi- vel um individuo sobreviver sozinho, como Pawnee pareceu sentir que pudesse fazer, no final das contas é altamente dificil viver s6, e mesmo Pawnee foi forcado, com o tempo, a retornar ao bando, sendo ao dele pelo menos a um outro. A vida solitaria, em qualquer circunstAncia, se- ria extremamente arriscada e desagradavel. Dessa maneira, a comunida- de mantém verdadeiro dominio sobre seus membros, assim como tem também uma vantagem no controle social que a cidade moderna nao possui. Devido ao fato de seus membros estarem regularmente em intera- cdo constante uns com os outros, todos sabem 0 que sucedem com seus yizinhos. Nessas condigdes, é muito dificil manter um ato desviado em segredo. Por outro lado, as redes sociais e econdmicas altamente comple- xas, existentes nessas sociedades, em geral levam a crer que as pessoas nao estdo dispostas a tomar atitudes violentas contra vizinhos, O ato de yioléncia pode conduzir de forma muito facil a uma outra acao violenta posterior, em resposta, podendo mesmo causar uma ruptura perigosa na estrutura social e econdmica da comunidade, a menos que haja um con- senso geral de que a violéncia deve ser aplicada pela propria comunidade contra um determinado individuo. Assim é que a maioria das sociedades sem Estado desenvolveu uma série elaborada de sancdes sociais e psicologicas mais leves a fim de dar uma adverténcia adequada ao infrator, bem como obter 0 apoio da co- munidade antes de tomar o passo sério da expulsdo violenta ou da execu- gao comunal. Os esquimés, um povo anarquico em politica, mas com leis muito bem elaboradas, t@m uma série progressiva de sang6es desta espécie: 1) Escérnio: os esquimés so mestres na arte de se divertir com os defeitos dos outros, como o egoismo, a cobica, ou o orgulho excessivo. Qualquer pessoa que no se sinta bem tratada por outra, comega a ri culariza-la em puiblico. Isto é tanto uma sancdo direta como uma manei- ra de ganhar 0 apoio da comunidade. Muitos antropdlogos foram ator- mentados pela arte do escarnio dos esquimés. 2) Disputas constantes: se o escarnio é insuficiente para mudar a conduta de alguém, o individuo ofendido pode desafiar seu oponente pa- ra uma competic¢ao com misica, onde a disputa é apresentada e discutida publicamente, de maneira formal, através do canto e da musica. Este é um modo de expressar hostilidade publicamente com um minimo de rup- tura violenta a estrutura social; 6 um mecanismo usado nas pequenas co- munidades em todas as partes do mundo (semelhante ao desafio, costu- me do Brasil e de Portugal). 3) Recorrendo @ influéncia de um ancido respeitado: este individuo deve ser parente do acusado e 0 ofendido precisa ser capaz de persuadi-lo da seriedade do problema e de que este é do interesse da comunidade. 40 4) Destruigdo das armas e da provisdo de alimentos do outro: ato de violéncia muito sério, porém ainda nao é contra a pessoa, mas muitas ye- zes pode gerar mais violéncia. 5) Desafio para um duelo de boxe: é um estado de violéncia aberto, embora ainda controlado por certos regulamentos publicos e fixos. Uma partida de boxe esquimé acontece com golpes formais trocados alternati- vamente até que um membro desista ou seja posto fora de combate, in- consciente, 6) Homicidio: se tudo o mais fracassar, um individuo ofendido tema faculdade de tentar matar seu inimigo. Isto pode tomar duas formas. Se 0 ofendido tiver 0 apoio da comunidade, poder recrutar outros mem- bros dela, inclusive parentes do proprio inimigo, para ajuda-lo. Nos ca- sos extremos de individuos altamente hostis, uma comunidade pode con- vencer seu irmao ou primo a cometer o ato, confirmando assim 0 consen- so geral para uma ‘‘execucio”’. Nos casos onde o acusador nao tem o apoio da comunidade, ele pode agir sozinho, porém sabendo que depois tera que fugir para evitar vinganga por parte dos parentes da vitima (van den Steenhoven, apud Hoebel, The law of primitive man, cit.). A funcao principal desses procedimentos elaborados pelo direito es- quim6, como em outras sociedades simples, ¢ obter a simpatia popular, 0 apoio geral, para que a propria comunidade atue como uma unidade ao sancionar 0 infrator. Isto é importante para evitar divisSes na comunida- de e nos feudos, o que poderia prejudicar muitas pessoas. Nestas socie- dades ndo ha ‘‘crimes” no sentido de um delito contra a comunidade, mas s6 contra individuos. Mesmo assim pode haver “‘criminosos’’, como pessoas condenadas pelo grupo social por uma série de delitos indivi- duais. Nas sociedades de cagadores e coletoras, estes mecanismos comuni- tdrios sfo menos desenvolvidos do que nas sociedades agricolas, ja que uma cisdo fisica naquelas comunidades € normalmente menos prejudi- cial. O grupo ofendido pode simplesmente ir para um outro lugar. Nas sociedades agricolas, com comunidades mais fixas e maior acimulo de riquezas, os mecanismos para impedir a diviso dos feudos e das comuni- dades sAo muito mais severos. E nessas sociedades agricolas que encon- tramos os primérdios das instituicdes juridicas, como juizes e processos. 41

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