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wy A PSICOLOGIA DO ESPAGO CONSTRUIDO Artigo Rafael Femando Falavigna, Angela Maria Bavaresco Resumo estudo tem como objetivo relacionar a psicologia ambiental e a rquitetura, de forma que seja possivel compreender a capacidade de um ambiente promover diferentes sensagdes em seus individuos. Para este estudo utiizouse uma revisGo bibliogréfica, que implica fazer um levantamento de informagées teéricas sobre determinade assunto em bases de dados reconhecidas cientificamente, como: Lilacs, Scielo, Google Académico, além de outros sites que abordam 0 assunto, no qual foram selecionados artigos cientificos dos seus bancos de dados. Ao conceber-se um ambiente, em determinada escala de implantagao, seja ele de pequeno, médio ou grande porte, faz-se necessario levar em conta que fal espaco iré, ou ndo, receber um perfil pré-estabelecido de usuarios. Este fator devera reger um didlogo entre engenharia e estética, arquitetura psicologia, que seja capaz de equacionar o espago e o usudrio. A arquitetura e a psicologia andam juntas como forma de apropriagao do espaco, principalmente em situagdes de realoca¢ées de moradias. Palavras-chave: Psicologia Ambiental; Arquitetura; Estética. 1 INTRODUGAO: O bem-estar de um usuario em relagao ao seu ambiente de convr esta intimamente ligado & identificagaéo que o mesmo tem do espago ao ANUARIO PESQUISA E EXTENSAO UNOESC SAO MIGUE! seu redor. As escalas de ambientes sdo infinitas, a diversidade de pessoas também, levando-se em consideragGo valores, culturas, etnias, entre outr percebesse a pluralidade de personalidades possiveis que deve levados em consideragGo ao desenvolver a criagéo de um espago em relagéo a ambientes reduzidos, como je ara Artigo s € residenciais, a personalidade de um Unico perfil de um usuario é a prevalece, porém, sem deixar de levar em consideragGo, que o mesmo stard inserido & um meio plural, seja um condominio, um bairro, um edificio ou até mesmo uma favela. Como descreve Furtado (2005) "Devido ao seu objeto, a Psicologia Ambiental foi, e , antes de tudo uma Psicologia do ago, na medida em que ela analisa as percepgées as atitudes, e os portamentos do individuo em sua relagdo explicita com o contexto isico € social no que ele evolui, Desta manera, a relagao individuo- ambiente é analisada nos seguintes quatro niveis de referéncia espacial e social: 1) © microambiente: 0 espago privado, a moradia, implicande o individuo; 2) os ambientes de proximidade: os espagos partihados semi- pUblicos, 0 habitat coletivo, o baiiro, o lugar de trabalho, os parques e os espagos verdes, concementes & comunidade de proximidade ou de viinhanga: 3) os ambientes coletivos publicos: as cidades, os vilarejos, ¢ os povoamentes diversos, implicando os agregados de individuos; e 4) 0 ambientes global: o ambiente em sua totalidade, construido ou nao, os recursos naturais ¢ os concernente 4 sociedade enquanto tal”. © objetivo deste estudo é relacionar a psicologia ambiental e a arquitetura, de forma que seja possivel compreender a capacidade de um ambiente promover diferentes sensagdes em seus individues. Indiferente de qual seja 0 perfil psicolégico do usuario, é a percepgdo que o mesmo tera do ambiente em que ele se encontra que definiré quais serdo as sensagées, conscientes ou inconscientes que o individuo ira captar do ambiente natural ou construido que estard fazendo parte. 2 DESENVOLVIMENTO Ao se tratar de sensa¢des, cada individuo pode reagir a qualquer ANUARIO PESQUISA E EXTENSAO UNOESC SAO MIGUE! estimulo exterior que receber de uma forma completamente diferente. Isso dependerd da informagdo que estara sendo transmitida, e a forma da qi a mesma sera transmitida, que ao somar-se & personalidade deste indivi repleta de tantas outras informagées culturais, is ou emocic Artigo mara em uma experiéncia sensorial Unica e exclusiva para cada 00. Projetos de arquitetura de interiores comerciais, como lojas, restaurantes, supermercados ou hotéis, atualmente sGo elaborados com o intuito de desenvolver uma experiéncia marcante nos seus usudrios, que a com que os mesmos se sintam atraidos por aquele ambiente, Janegam por um longo espago de tempo e retomem futuramente. Para Que isso acontega é necessdrio que o ambiente promova diversas experiéncias sensoriais marcantes aos seus usudrios, obtidas através do conforto visual, odores, misicas, que ativem facimente a meméria de quem desfrutou daquele espago. As cores, por exemplo, influenciam diretamente na percep¢ao que o individuo teré da informagdo que ele estaré recebendo, além disso, poderd ser usada como uma forma de orientagdo, mesmo que inconsciente de como ele deveré agir em determinado ambiente, como por exemplo um ambiente de trabalho ou um refeitério. De acordo com Heller (2013, p. 17) as cores podem ser usadas em exclusividade para realgar algo marcante, ou compor um ambiente com diversas informa¢gées, conhecemos muito mais sentimentos do que cores. Dessa forma, cada cor pode produzir muitos efeitos, frequentemente contraditéries. Cada cor atua de modo diferente, dependendo da ocasiéo. © mesmo vermelho pode ter efeito erético ou brutal, nobre ou vulgar. O mesmo verde pode atuar de modo solutar ou venenoso, ou ainda calmante. O amarelo pode ter um efeito caloroso ou initante. Em que consiste 0 efeito especial? Nenhuma cor esta ali sozinh; esta sempre cercada de outras cores. A cada efeito intervém varias um acorde cromético" (HELLER, 2013, p. 17). A cor utilizada para um ambiente deverd ser equivalente 4 sua ANUARIO PESQUISA E EXTENSAO UNOESC SAO MIGUE! fungGo, isso por que o significado que esta cor trara de informagao ao usuario, sera feita através de um conjunto de outras informagées, co! descreve Heller (2013, p. 18) “nGo existe cor destituida de significad impressdio causada por cada cor é determinada por seu contexto, pelo entrelagamento de significados em que a 8. Ac Artigo ‘aliada de modo diferente do que a cor num ambiente, num jento, ou na arte” (HELLER, 2013, p. 18). Quando se refere ao conceito de morar na arquitetura, 0 assunto toma-se um pouco mais complexo. O bem-estar do seu usuario, nao é mais como em ambientes comerciais, que poderia ser considerado momentaneo, Jando refere-se ao lar, 0 bem-estar deve ser permanente, para que isso atendido, a Arquitetura deve ser extraida da personalidade de quem Serd seu usuario, atendendo suas necessidades basicas e seus anseios de um lar, como expe Pallasmaa (2011, p.60), individuo e lar, passam a ser um sé, dentro dos parametros necessarios, a arquitetura deve promover movimento ao comportamento de quem @ usufrui “a experiéncia do lar é estruturada por atividades distintas - cozinhar, comer socializar, ler, guardar, dormir, ter atos intimos - e ndo por elementos visuais. Uma edificagao é encontrada; ela € abordada, confrontada relacionada com o corpo de uma pessoa, explorada por movimentos corporais, utilizada como condigéo para outras coisas. A arquitetura inicia, direciona e organiza o comportamento e o movimento". (PALLASMAA, 2011, p. 60). Em espaco urbanos, diretrizes de projetos voltam-se a necessidade dos usudrios aquele espaco, muitas vezes, surgem como um exaustor em meio as cidades mais populosas, traduzidos em pragas ou parques, onde tendem a transmitir a seus Usuarios um bem-estar urgente, que a cidade, um jogo de atranha-céus ndo consegue fomecer. Eo que transmite em seu pensamento Pallasmaa (2011, p.16): "[...] a arquitetura, como todas as artes, estd intrinsecamente envolvida com questées da existéncia humana no espaco, no tempo; ela expressa e relaciona a condi¢éo humana no mun arquitetura estd profundamente envolvida com as questées metatisicas individualidade e do mundo, interioridade e exterioridade, tempo e ANUARIO PESQUISA E EXTENSAO UNOESC SAO MIGUE! durago, vida e morte. [..J. A arauitetura & nosso principal insirumento de relagdo com 0 espago e o tempo, e para dar uma medida humana a es dimensdes, ela domestica 0 espago ilimitado € 0 tempo in mito, toman toleravel, habitével e compreensivel para a humanidade" (PALI 2011, p. 16-17). wy lém disso, a arquitetura e psicologia andam juntas como forma de Artigo priag&o do espace, principalmente em situagdes de realocagées de joradias. Uma caracteristica muito marcante neste movimento, é a necessidade de cada morador se identificar com o seu novo ambiente de morada, um fato muito frequente, que ocore nestes movimentos jtacionais, 6 a negagdo dos moradores ao seu novo lar. A nova fagem, vizinhos diferentes, familiares que antes compartilhavam a mesma joradia e agora vivem distantes uns dos outros, fazem com que muitas vezes, os moradores abram mao do seu novo espaco, e retornem para a sua situagdo anterior. Este fato ocore pela falta de identificagao que este sofrera, ao ser removido do espaco que ele ocupava e transferide para um novo local. Cavalcante (2011:65-66) descreve a relagéo de apropriagao do espago que a arquitetura deve promover, de acordo com a personalidade do seu usuario: “apropriagéo por agao/transformagao geralmente vem antes e consisle em comportamentos explicitos que vao desde a demarcagao de um espago até uma ocupagao territorial mais elaborada e complexa. Pode ser traduzida por altitudes de reivindicagéo, delimitagao e defesa diante de ameagas percebidas, por densidade ou invasdo. [...] A apropriagao por identificagao compreende processes simbélicos, cognitivos, afetives € interativos que transformam o espago (extensdo) em lugar reconhecivel e pleno de significado para o sujeito ou grupo social” CAVALCANTE, (2011:65-66). A identificagao com 0 meio urbano a partir do individuo também pode ser compreendida através de uma andlise entre a Arquitetura e Psicologia, isso por que o desenvolvimento da paisagem urbana, mod através da arquitetura, proporcionam ao individuo direcionamentos & si identidade, como descreve Pallasma (2011, p.11): “a sensagdo de ANUARIO PESQUISA E EXTENSAO UNOESC SAO MIGUE! identidade pessoal, reforcada pela arte e pela arquitetura, permite que nos envolvamos totalmente nas dimensdes mentais de sonhos, imagina¢ao, desejos. Edificagées e cidades formecem o horizonte para o entendiment © confronto da condigdo existencial humana. Em le criar mero: de sedugdo visual, a arquitetura relaciona, m fa sig wy do final de qualquer edificagao ultrapassa a arquitetura; ele Artigo jreciona nossa consciéncia para o mundo e nossa prépria sensagéo de rmos uma identidade e estarmos vivos” (PALLASMAA, 2011, p. 11). Arquitetura € Psicologia quando desenvolvidas em conjunto, sao capazes de traduzir importantes valores na concepgdo do espago, que jam baseados em valores estéticos € voltados 4 personalidade do iduo, proporcionando ao ambiente, a capacidade de promover Sensacées fisiolégicas em seus usuarios. 3 CONCLUSAO. Arelacdo entre Arquitetura e Psicologia pode ser muito mais intima do que aparenta. A concepgao de um espago, parte, além de principios estéticos, de valores pré-identificados da personalidade do individuo que ira ocupar aquele ambiente. A Psicologia Ambiental, ainda € muito pouco utilizada no desenvolvimento de projetos de Arquitetura e Urbanismo, o que traduz a incapacidade de um ambiente atender preceitos basicos das necessidades de seus usuarios. © que gera entao o mal-estar de quem o ocupa, no que possivelmente se transformara em um espago inerte. A compreensdo da Psicologia Ambiental e sua aplicagéo na concepgao de espagos em escalas macro e micro, relaciona-se intrinsicamente com a qualidade de vida, 4 sade e o bem-estar do home: para com o meio 4 sua volta. Para que isso seja possivel, devemos deixay Nos basearmos em solugdes padronizadas ou abstratas, € sim, que levem consideragGo a diversidade fisiolégica, cultural, social, estética, econdmica ANUARIO PESQUISA E EXTENSAO UNOESC SAO MIGUE! e entre outros tantos aspectos tecnicos como dimensdo. REFERENCIAS Artigo ANTE, S.; ELALI, G. A. Temas bdsicos em psicologia ambiental. rOpolis, RJ: Vozes, 2011. Vera Helena M. B. Fundamentos da Ergonomia e da Psicologia Mbiental. Aparecida de Goidnia, GO: Mundial Grafica e Editora Lida., 2011. FURTADO, José Luiz. Fenomenologia e crise da arquitetura. Kriterion [online] 2005, vol.46, n.112, pp.414-428, ISSN 0100-512X HELLER, Eva. A psicologia das cores: como as cores afetam a emogdo ea 70. | ed. Go Paulo : Gustavo Gil, 2013. ASMAA, Juhani. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Tradugao lexandre Saivaterra. Porto Alegre: Bookman, 2011. Sobre o{s) autorles) Gradvado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC - Campus de Sdo Miguel do Oeste. Rua Oiapoc, 211. Séo Miguel do este - SC (Brasil E-mail: rafaelffalavigna@hotmallcom Professora do Curso de Graduagao em Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC - Campus dé Séo Miguel do Ceste. Rua Oiapac, 211 Séo Miguel do Oeste - $C (Brasil) E-mail: ambavaresco@hoimail.com ANUARIO PESQUISA E EXTENSAO UNOESC SAO MIGUE!

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