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ico para eras par si mesmos meios de coorde- hacio.e dotarse de sidas redes de aids, van lose de sun poxglo de eo ente 0 campo pliico to auadémico,csundo uma revista que contrib para dfundir um novo corpus de autores © de obje- tos de estado, Sem esquecero peso de personaida- tes do mundo cultural, como Doris Lessing, que fravitam nos melos feguentados pelos founding fathers. A ocupacto das peiferias uiversitriaa ferard cera renabildade quando, durante o8 anos 1970, o desenvolvimento do sistema universtéio Tritico se realizar por seus "subusbew”, com a preservayio dos santudrioe acadénicos contra de- Inocratngto, que se realiza por forga d ego de polgtcnc, pela inaoguraci, em 1970, da Open Cniversiy isa dupa rede pollen e universitiia fe trduzid, ainda nos anos 1970, a emergtncia de editors de esquerta (Harvester, Pluto, Merin, Comedia) ou fenistas (Virago), MATELART, Nrmanads NEVEY, bck doh pan uthivoie dtl. Ldibriol, 2004+ I, OS ANOS DE BIRMINGHAM (1964-1980) A PRIMAVERA DOS ESTUDOS CULTURAIS Na Universidade de Birmingham, nasce, em 1964, o Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS). A histéria do Centro nuinea esteve isenta de tensdes e de debates (Grossberg, in Blundell, 1993]. E nao é tudo o que foi publicado em seus working papers que merece passar para a posteri dade, Mumificar quinze anos em ama dezena de atronimos e livros a canonizar seria esquecer a desordem, a paixio e a efervescéncia criadora pré- prias dos “estados nascentes”. Parte da inteligén- cia empreendedora dos sucessivos disetores do Centro foi saber fazer pesquisadores com preocu- acdes'e referéncias heterogéneas se confrontarem em canteiros partilhados, Do marxismo althusseria- no a semiologia, os membros do Centro partilha- yam uma atragao comum pelo que o establishment universitério considerava, na melhor das hipste- ses, um vanguardismo pitoresco e, na pior, “o Gpio dos intelectuais”. Essa atengao & renovagde dos ins: trumentos de um pensamento eritico jamais mu 35 dou a ortodoxia. O Centro foi um caldeirao de ceultura de importagées tedricas, de trabalhos ino- vadores com objetos julgados até entio indignos do trabalho académico. Quase sempre pretensio- sa, a nogio de laboratério adquire toda a sua pettinéncia no CCS. Uma rara combinacéo de comprometimento social e politico ¢ de ambigao intelectual produziu durante mais de quinze anos ‘uma impressionante massa de trabalhos. A inveneio dos estudos culturai 0 cccs 0 estabelecimento do CCCS se ard lentamen. te, Expresso por Hoggart em uma conferéncia de 1964, 0 projeto do Centro é claro. Ele faz apelo explicito a heranca de Leavis. Quer utilizar 0s mé- todos ¢ os instrumentos da eritica textual e litera ria, deslocando sua aplicagio das obras clissicas e logitimas para os produtos da cultura de massa e para o universo das priticas culturais populares Mas, mesmo vinculado a uma universidade, o Cen- fro esté desde 0 inicio mareado pela marginalidade institucional vivida pela geracio dos pais fundado- es, Os recursos financeiros da equipe Sio to Timita: dos que Hoggart precisa solictar 0 mecenato da edi tora Penguin para alguns investimentos e para a contratagio de Stuart Hall, que 0 suceders em 1968. 56 O desafio € também aceitar componentes préximos a universidade. Os sociélogos descon- fiam desses recém-chegados que avangam sobre seu territdrio. Os especialistas em estudos literari ‘0s no nutrem menos desconfianga por um proce- dimento que thes parece querer desviar seus sabe- es para objetos menores. O primeiro desafio com que Hoggart se defronta o de legitimar academica- ‘mente um veio original dedicado a cultura, de tran- quilizar colegas receosos, Uma de suas titicas fot convidar para as baneas de tese do departamento de estudos culturais colegas mais tradicionalistas, por vezes os que eram consideradlos os mais seve. os, a fim de atestar aos olhos dos pares a serie- dade da formacao, E necessério situar no limiar dos anos 1970 a decolagem cientifica do Centro, ultrapassadas as arreiras de seu enxerto na universidade, da for- ‘magdo das primeiras nomeagées. Elas dardo o am- biente do que podemos designar, segundo os pais, findadores, como a segunda geracio dos estudos culturais: Charlotte Brunsdon, Phil Cohen, Cas Critcher, Simon Frith, Paul Gilroy, Dick Hebidge, Dorothy Hobson, Tony Jefferson, Andrew Lowe, ‘Angela McRobbie, David Morley, Paul Willis, para citar os mais conhecidos. A crescente visibilidade cientifica do CCCS deve-se particularmente, segun- do uma tradigdo angléfona, a citculagdo, a partir Ge 1972, de working papers (artigos mimeografacos, ‘que formavam uma revista artesanal). Uma parte desses textos sera depois compilada em livros que condensam 0 melhor da produgéo da equipe. STUART HALL, Jamaicano de origem, Stuart Hall nasce em 1982 em ‘ina fui que ele define como “andl dass" Seu pai E funciondrio da United Fruit, “Ele era o primeiro fomaieano a ser promovido para todos 0s postos que ‘eupou Hall insist na imsportncia da experiéncia do Chionzad, da reagdo & postura paternalista dos brit tices acerca de sua faiia na consttuigo de soa iden- fidade. Ele deina a Jomaica em 1951, para continusr us eatudos na Inglaterra. Em Oxford, onde estuda Tetrs,vincula-se tanto aos militants nacionalistas de inugoes colonizadas como aos meios da esquerda mar: ‘Gata som se fila ao partido comuniss, Em 1957, ele ‘Nouime um posto de professor em uma escola secundiia fe Bexion, junto 2 akinos dos meios popula, onde fisenvelve um projeto pedagico que busea evar em Consideragio a fealdade de soas prticas culturais. (quando cle se fina definitivamente na Gri-Bretaha, Em 961, comeca a dar um curso sobre mia ¢ enema n0 Cakes College da Universidade de Londres. Em 1964, (Sereve,cm comotoria com Paddy Whannel, seu primi ivr, The Paar Ars, que trata especialmente do jazz No intsmo ano, Hoggart convideo part acompanhio Me ddagto do Cento de Birmingham. cua chefia aaa hind Hoggaet dir “Ea no sou um tdrico. Stuart Hall Erm teurico. Ele & por babito e por instinto, um Sutilisimo manipulador de torias, de forma que nos ompletamos prfeitamento” Coordenador da maicria dos (gates taba cletivs do Centro, Hall desempennou 86 tum considerivel papel de empreendedorcintficn ein- | {ele em Birmingham. Dierentement dos outros pis fanadores, Hall nao é autor de livros de relerénia, mas Drouin uma enorme mass de artigos. Els aborda Tina grande variedade de assuntos: dt rubra *fofocas tho eotdiano as ftografias de imprens, passando pelo ‘novimento unk, Mas sma parte signifcativa da prod | atc al vm vm rl se I a ss te ate es inn, ae sco vem ecotoe iter tae poe Se en Nem ep fi dcr i da dna pes scone octet iedinecestmerony | scree com etm de spre, mo ia apne de pee ces a ei ec ae P ra een acts noe jem exon I ts al icp 2 Ope Une Ween te us aon spread # > so amine em lo cogs mera SS rgd por em ewer em se de gde eta, opto a a exile ic. gatas coisas om, ete eae 0 mao wee iab cme nenatangn too serio hums Moy Rionng Cen ts) acolo a LigTiartaese basin | Num primeiro momento, a pesquisa no COCS vai se apoiar sobre a aquisicao dos trabalhos de 0 Hoggart, sobre a sensibilidade reflexiva a todas as, dimensdes vividas do cotidiano da classe oper que ele explorara em uma forma original e pro- funda de autoctnografia [Passeron, 1999]. Mas um dos tragos do trabalho de Hoggart é falar de um ‘mundo em erosdo, que passa por uma sequéncia decisiva de mutagdes no momento mesmo de sua descrigdo ¢ teorizagao. Em um texto publicado ‘menos de cinco anos depois do langamento de seu As utilizagies da cultura, ele enfatiza a que ponto suas descrigées podem se tornar obsoletas diante do aumento da mobilidade espacial, de um bem- estar material relative, mas erescente, do impacto inédito do automével e da televisio sobre a soci- abilidade operiria [Hoggart, 1973] Retorno as sociabilidades e culturas populares © projeto inicial de uma etnografia compreen: siva da cultura das classes populares supde mii: tiplos retornos ao campo. O titulo original do Ii vro fundador de Hoggart era The Uses of Literacy, literalmente “Os usos da alfabetizaglo” ou “Os usos do letramento”, porque se trata de estudar também as novas formas de literacy, de competén- 15 escolares e culturais. Hoggart questiona os efeitos de influéncia do equipamento em telespectadores, 2 ampliacao da escolarizacao. Ele tworiza as capacidades de resistencia as mensa- gens da midia, a simples forca de inéreia repre- sentada por um estilo popular de “consumo negl- o gente”, que ele simboliza pela formula “causa sempre”. Fazer um retorno a0 mundo operario é eonfrontar-se com 0 impacto das operagdes de “fevitalizagio urbana do East End, com 0 nasci- ‘mento de novas cidades, cujos efeitos struturantes sobre a sociabilidade popular so “mostrados por Phil Cohen [in Réseaucr, 1996}, pois “esse nascimiento quebra os lugares de expansio (rus, pares, jardins e avenidas), perturbando a ecologia idas relagdes de vizinhanga, de parentesco ou de {geraclo. Sem constituir um eixo principal dos estu dos culturais, o urbanismo ¢ a arquitetura, pensa dos como dispositives organizadores da sociabilida- ile e da cristalizacao de identidades coletivas, en- tram assim em sua paleta de objetos. Essa atenciio go se desdird, como o demonstram, vinte anos depois, os dois textos consagrados em New Times [Hall © Jacques, 1989] as cidades simbolo do neoliberalismo tatcheriano como Basingstoke. retorno as formas da sociabilidade operé- ria leva também a prestar atengdo a uma dimen- jermanccera secundaria em Hoggart: a es das geragies, das formas de identida. des eale subculturas especificas que mobilizam 08 jovens de meios populares. Miiltiplos fatores tra- em essa questio & ordem do dia. A transi¢do para 0 urbanismo de grandes conjuntos mina os meca- rnismos de controle social que contribuiam para a Divisa do yensamentoenusista [n. do 6 reprodugio do grupo operirio. A escolarizagio mais prolongada de parte dos jovens dos meios populares feta seus referents culturas, redefine o espaga dos possiveis no qual inscrever seus projetos profisio- nas. Mas gbalmente, 0 mundo operdrio é taba. Thado por miltplas mudancas, que suscitam um debate sobre “o operiro da abundincia” [Golddhorpe © Lockwood, 1968], equivalente das discusses fran cesas da época sobre a “nova classe operiria’. A crise ¢ a desindustrializagao massiva dos anos 1980 constituirdo outro traumatismo social e identitirio Iaior. As subculturas jovens so um dos terrenos onde os pesquisadores do CCCS se mostraram, 20 mesmo tempo, os mais produtivos, os mais Inventivos, 05 que mais imediatamente percebiam as dinamicas sociais [Hebdige, 1979] “SUBCULTURAS” E SiGNIFICAGRO As “subculturas”jovens — no sentido de estilo cultural ‘specifica — si objeto de um grande nimero de rmonograias dese nico dos anos 1970. Bikers hippie, rads, punks, rasas, rookers, ruddies, skinheads, teddy | toys. nao € certo que essas“subeulturas brtdnica, As yews jd com quarenta anos lem todas a leitores Bikers: membros de gangues de motociclistas, hippies ovens da decada de 1960 que rejitavam ct valores 05 {nsttigdes entabeleciaeeIuscaonn a exported das ‘elagbes pessoas dives, o amar a expan da conse fein © tnham modo de se vest ipso; mas: adlescen Cy do século XX1, que tlvex tenham difieuldade de sitwar fs “blousons noirs”” franceses de 1960. © quadro interpretativo partihado pelos pesquisadoresbritinicos permite dar o sentido preciso dessa floracdo de estilos fe marcadores vestimentares,caplares (Wnicas india rss, vespas, tachas de metal), A constaagao nical é a de uma ctise da reprodugdo do mundo operirio, no sentido de sma impossiblidade de reinvestimento sm is paternos pelos fihos. O desenvolvimento do habitat coletivo e da escolarizacio, ‘as mudancas do ambiente mididtco introduzem uma rrptura na socalizagdo das geragbes do baby-boom. Ao ‘mesino tempo, as mudangas multplas (processos de produgdo, remuneragées, desemprego em massa mais ter britinico da dead de 1960 que primavam por uma Ssoaréncia muito aofticada e se vestam rproduaindo a ‘moda eduardiana pune movimento sssocado a0. punk ‘maguiagem agressiven nio conversions e peo denao AS ormas socal de comportamento; rasta seguidores do rasta, culty religioso jamaicano que tem = Africa omo a Terra Prometida, 2 qual retornado todos o yrds deizos Beis: rockers: adeptos do rock'n'roll raddie: radeboys, membros de gangues de fua antiestalishment, FRequentemente ewolvdos em crimes violenton. Ox rel se orgnaram na Jamaica na década Je 1960, tinkend 08 dlinguente que rasa @ ‘bees como mare distin odd ovens bitin ‘que a dccada de 1950 enc da dca de 1900 seg Dic fino eTongas costletas [a do) ‘ovens faeesescontestatrios da década de 1960, revo! tales contr delogin dominante «seus dgaoncotiinnon. (Os Blowsons noi” exprenam com vole aecus dese imegar a uine sotedade que mio compreendem eda gual consideram o produto neato epontanen [n.d tarde) que o mundo operdrio vive remodelam e desesta bilizam sua identidade- A gama de estilos de vida pode entdo remeter e duas modaldades fundamentais de saiministragdo das incertezas ideniras, uma marca «doa continuidad, oura a ruptuta, Para ma parte dos ovens dos meios populares (rockers, posteiormente os skinheads), tratase de retranscrever em um estilo de vida jovem valores tomados de empréstimno & heranga operiria(soldariedade de grupo, valorizaglo de uma Virilidadeagressiva, da fora), sto (skinheads), de to rar de empréstimo componentes mais regressivas des- sa heranga (racismo) 04 de transcender tum destino temivel em esto reivindicade, por mimetismo, do hi pemproetariado. No outro polo, uma segunda famfia 4e estlos de vida (particularmente simbolizada pelos ‘mods dos anos 1960) mobitiza wma pandplia que far uso de um imagindrio de consumo hedonista, de mobi lidade soil, de distincia dos aspectos mais “vulgares” a virlidade'e das presses do trabalho, Apesar de ser mais caratersco das lasses médias, o esto hippie pode ‘amb constr uma subcultura portadora dessa sin Dolca de sida do popular oper, Mas literatura sobre as subculuresnio se limita a ese registro bindro, Duas 4 suas contribuiges merecem ser enftizadss. * Ao introduzi as dimensies do tempo (crise dos anos 1970) e da eticdade (os emigrados de primeira ou de segunda geragio também tim suas subcultures que susctam atragdo ou animosidade), esas pesquisas permite compreender at evokes, ae hibidacen, 1s coniradiies dessa sucesso de estes, a coeréncia de cada \o tomar intelgivel © modo pelo qual as contradi- ‘es da sociaizaga criam um faxo Mento esis, shordagens evita a redugio mecancista de exiles de vide ao resultado das presses socisis. A énfae é 40 contri, posta sobre o modo polo qual, sob pres slo estrutural, os jovens desenvolver titicas de sle G0 em seu potencalidenitrio, Os estudos de caso mostram ainda como essas subcultras so, 4 partir de sua cristlizacdo no espago pubic, instrumentos de mecanismos de provocagao, de promogao ow de tstigmatizagio pela publicidade, pela midia, pelas autoridades. Tal abordagem se distancia das andises ‘em termos de consumo passivo, de “americanieagio” submissa, dé tengo a uma possvel pate eriativa, 4e escudo do consumo [S. Cohen, 1972; Hall ¢ Jerson, 1975; Hebdige, 1979, 1988, Réseau, 1996) Se esses trabalhos nem sempre esto isentos de uma relacdo fascinada com seu objeto, ao me- nos dois elementos tornam sua leitura estimulan- te, mesmo quando tratam de fenémenos que, no vos a época, pareceriam nao justificar nada além de nostalgia de quinquagensirios. Uma primeira forga vem da capacidade desses textos de restituir verdadeiras fatias de vida, nutri- das pela observacdo, uma preocupagao com 0 deta The que raramente’ degenera em exotismo social [Willis, 1978]. Essa qualidade ¢ visivel nos estudos dle Hebdige sobre o cotidiano dos punks ou dos mods [1979], sobre 0 valor simbélico que as mods ante rem a Vespa italiana [1988], o1 a atencao minsciosa que Corrigan consagra a descrever e compreender 0 que pode ser a ociosidade ordindria de adolescentes obrigados a permsnecer em sua cidade sem “fazer nada” fin Hall e Jefferson, 1993]. © interesse dessas andlises vem também de sua densidade teérica, tributéria das anélises de Becker [1963] sobre 0 desvio. Numerosos textos se fixam na maneira com que as autoridades so- ciais intervém nas subculturas para estigmatizar ‘9s comportamentos e seus autores. O cariter des- viante nfo deriva de seus componentes objetivos (cabelos longos, piercings), mas da acio das insti- tuigdes que os definem como indesejaveis. O “p nico moral” que, em meados dos anos 1960, trans- forma as disputas entre mods e rockers nas praias de Kent em sintoma de uma crise da juventude & da autoridade 6 um exemplo disso [S. Cohen, 1972} A anélise das subculturas visa compreender seus desafios politicos. Sao elas inicialmente “resistén- cias mediante rituais”, segundo o titulo de uma obra do CCCS [Hall et alii, 1975]? E preciso dar- Thes um valor subversivo? Sugerir mais modesta- ‘mente que elas contém uma critica latente dos valores instituides? Ou nao passam de inconse- quentes passatempos que © capitalismo autoriza, fora do tempo da escola e da fabrica? Expansio ¢ coeréncia das problemiticas A mancha de éleo do cultural © questionamento sobre a cultura no cotidia no vai se espalhar concentricamente, como uma ‘mancha de 6leo, ‘Uma primeira extensio das pesquisas vai se debrugar sobre a relagio dos jovens dos meios populares com a instituiglo escolar. Em uma abor- dagem etnografica de grande riqueza, Paul Willis [1977] esclarece a tensio no interior de uma esco- la popular entre o comportamento rebelde dos “boyzinhos” e 0 dos “manos” marcados por for- mas diversas de submissdo e de boa vontade para com a instituigao escolar. O préprio subtitulo do livro (“Como as erianas da classe operaria encon: ‘tram empregos de operrios?”) condensa também ‘os impasses dessa resisténcia. Ao exprimir na es- cola um estilo rebelde, uma masculinidade agressi vva, uma recusa a se comprometer com os valores intelectuais e a docilidade requerida pela institui io, 08 “boyzinhos” resistem a suas iniciativas socializadoras, reivindicam valores operérios. Si multaneamente eles fazem advir o destino mais provavel ao fechar para si as margens de mobili dade social oferecidas pela escola. A contribuigao de Willis e o trabalho do CCS sobre a fungao do sistema educative — que di ocasido, em 1981, & coletinea Unpopular Education — so também pro: Iongamentos duriveis. O interesse dispensado is praticas culturais, definidas sem preocupacdo com seu prestigio so” cial, leva os pesquisadores do Centro a levar em consideracdo a diversidade de produtos culturais consumidos pelas classes populares. Birmingham seré uma das primeiras equipes a mobilizar as ciéneias sociais em torno de hens tdo profanos quanto a publicidade o rock [Frith, 1983]. Mas, como o mostra uma obra coletiva (Hall, Hobson, Lowe e Willis, 1980], pouco a pouco as pesquisas vo estudar as midias audiovisuais e seus progra- ‘mas de informagdo e de entretenimento. Hé um importante texto que deve ser mencionado. Em “Codage/décodage” [1977], Hall desenvolve um quadro tedrico que sublinha que © funcionamento de uma midia ndo pode ser limitado a ama trans- ‘isso meciinica (emissdo/recepcao), mas supe uma formatagio do material discursivo (discurso, ima- fens, relato) em que pesam dados técnicos, pressbes de produgio e modelos cognitivos. Hoje esse quadro analitico pode parecer banal. Contudo, ele implicava 4 época levar em conta todas as situagdes de distanciamento, de confusdes entre os cddigos cultu- rais, com, de um lado, as gramsticas mididticas pre- sidindo a produgio da mensagem e, de outro, as re- feréncias culturais dos receptores. Havia nisso algo capaz. de balangar as rotinas da sociologia empirico- funcionalista da midia, pouco preocupada com as condigoes de producao das mensagens. A nocao de \devodificagao convida a levar a sério o fato de que 0s receptores tém estatutos sociais, culturas © que ver ou ouvir um mesmo programa ni implica tirar ele um sentido ou uma recordagio similares. Género ¢ “raga”: novas alteridades © movimento em forma de mancha de dleo conheceré, por fim, duas extensdes cujas os consequéncias, a longo termo, serdo essenciais, A primeira condus is questies de genero, & variével rasculino/feminino. Essa grade de Ieitura estra tura_a coletinea Women Take Issue [Women's Studies Group, 1978]. A valorizagao do genero 6 tsibutéria do trabalho empirico que manifesta as diferengas de consumo ¢ de apreciagao entre-ho- mens e mulheres em matéria de televisao ou de bens culturais. Ela vem também da sensibiidade feminista das pesquisadoras (Charlotte Brunson e Dorothy Hobson). Como nao notar o quanto personagens © comportamentos analisados pela Iiteratura sobre as subeulturas so quase sempre rasculinos, como nao se interrogar sobre uma forma de conivéncia macho em certas descrigies da cultura operiia? Willis e seu modo de falar de “poyzinhos” sio hoje atacados na literatura fem nista sobre a escola Valorizada desde seus primeiros trabalhos por Hebdige, a outra alteridade, simbolizada pelas co: munidades imigrantes e pela questao do racismo, vai tomar um lugar de primeizo plano com a cole tinea The Empire Strikes Back [CCCS, 1982]. Aqui tambéin o terreno e a presenca de fortes comuni- dades imigradas, as reagbes de atragao, de rejeigao racista que elas suscitam impéem uma atengao cssas variveis. Essa sensiblidade também é tribu tiria da presenga de imigrados ow de filhos de imi grados entre 03 pesquisadores do Centro, a come: sar por Hall ou Paul Gilroy. Acrescente-se que a situacdo britanica se opde a da Franca em um ponto essencial: criadores provindos da imigragio sio ld mais fortemente presentes ¢ reconhecidos no mundo cultural, especialmente em literatura (Kincaid, Kureishi, Rushdie). 0s refratarios: passado/presente Se Birmingham representa o lugar institu- cional motor dos estudos culturais, a origem des sas abordagens ndo se limita a ela. Williams, tar- diamente contratado em Cambridge — inicialmente ‘como professor assistente em inglés, depois (1974) como professor de “dramaturgia"! —, af desenvol- ve suas pesquisas. A contribuicdo da componente “historiografica” dos estudos culturais ilustra a coo- réncia dos questionamentos, visem cles ao pasado ou a0 presente, ‘Thompson tira proveito da eriagao de uma nova universidade em Warwick para ali se fazer contratar em 1964. Fle cria em Warwick um cen: tro de pesquisas em histéria social. Na sequéncia da obra de referéncia que produziu sobre a forma- ‘gio da classe operaria britinica [1963], ele desen- volve, também em Cambridge, suas pesquisas rela- tivas a0 universo dos costumes e culturas popula- tes ingleses a partir do século XVII. Mesmo tendo se fixado em comportamentos “foleléricos” como (08 charivaris, essas contribuicdes, compiladas em Customs in Common [1991], visam sobretudo compreender como as potencialidades contraditéri- 0 as da cultura popular, feita de deferéncia & autori- dade e de espirito rebelde, de sustentagdo nas tra digdes e de uma dimensao picaresca de busca do movimento, interagem com os poderes sociais, ‘Trata-se, entlo, de pensar a “economia moral” do mundo popular — que considera a terra e seus produtos como devendo, antes de tudo, servir as necessidades da comunidade citadina — em face do surgimento de uma economia monetarizada, de captar os atritos entre as representagbes tradivio nais da sociabilidade e as exigéncias (de pontus!s dade, por exemplo) de uma disciplina de produgio na indiistria nascente. Um dos resultados mais acer: tados dessa atitude é Whigs and Hunters [1975], obra em que Thompson se dedica a elucidar o que primeira vista aparece como a inexplicdvel feroci dade de uma lei de 1723 que reprime a caga pre- datéria. A mobilizacdo dos arquivos judictérios cor: porifica um mundo de cagadores ilegais, de respiga ores, de guardas florestais e de grandes aristocra: tas cagadores. Ela mostra como a caga predatéria, a sabotayem das reservas de pesca dos poderosos, as pithagens de madeira podem ser lidos eomo um registro de protesto, um modo de agao popular. Ele ‘opde em atos a representacdo da floresta como um bem sobre 0 qual todo membeo da comunidad dispoe de modestos direitos a sua privatizacao apoi- ada em uma evolucao juridica que 86 reeonhece os direitos exclusives do proprietitio. Compreende-se entio qual é, para além das figuras dispares do mod do Soho de 1964 ou do ceagador ilegal de Windsor, de 1714, a coeréneia ddesses trabalhos. Tratase sempre de aproximar social por baixo, de observar o cotidiano dos meios populares. Os estudos culturais nascem de uma recusa do legitimismo, das hierarquias académicas dos objetos nobres e ignheis. Eles se fixam sobre f aparente banalidade da publicidade, dos progra- ‘mas de entretenimento, das modas vestimentares. © proprio estudo do mundo popular atinge infini. ‘tamente menos as figuras heroicas dos dirigentes do que a sociabilidade cotidiana dos grupos, 0s porme- nnores de decoracao, as priticas e os costumes. "Essa parcialidade implica privilegiar métodos de pesquisa capazes de apreender © mais perfeita- ‘mente possivel as Vidas comuns: etnografia, hist ria oral, pesquisa em escritos que deem a ver 0 popular (arquivos judicidrios, industriais, paro- ‘Qiais) © no apenas a gesta dos poderosos. Enfim, © sobretudo, esses trabalhos derivam daquilo que Passeron chama — sem o minimo tom de depreci cdo — uma anélise “ideoldgica” ou externa da Cultura, Eles ndo buscam simplesmente mapear culturas, captar sua coeréncia, mostrar a maneira com que frequentar o pub, assist ao jogo de fu tebol, particinar de festas populares pode consti- tuir um conjunto de praticas eoerentes. As ativi- Gades culturais das classes populares sio analisa- das para interrogar “as FungGes que elas assumem perante a dominagao social” [Grignon ¢ Passeron, 1989, p. 29]. Se a cultura 6 0 miicleo do comporta. mento, ela 0 é como o ponto de partida de um questionamento sobre seus desafios ideolégicos ¢ politicos. Como as classes populares se dotam de sistemas de valores ¢ de universos de sentido? Qual Ga autonomia desses sistemas? Sua contribuigdo & ‘constituigdo de uma identidade coletiva? Como se frticulam nas identidades eoletivas dos grupos do- minados as dimensoes da resistencia e de uma acei tacio, resignada ou aflita, da subordinagao? As cireulagdes da teoria Dominagaes resisténcias A partir do momento em que o objeto cultu- ra é pensado em uma problemética de poder, um conjunto de interrogagées tedricas e de conceitos se far necessério, Quatro deles tomam um lugar estruturante. Inicialmente a nogio de ideologia: ela faz parte do legado marxiano no qual se inspira a maioria dos pesquisadores dessa corrente. Pensar os contetidos ‘deoldgicos de uma cultura nada mais é que perce- ber, em um contexto dado, om que os sistemas de valores, as representagées que eles encermam levam a estimular processos de resistencia ou de aceitagio do status quo, em que discursos e simbolos dao aos grupos populares uma consciéncia de sua identida- de e de sua forca, ou participam do registro “alic~ rnante” da aquiescéncia as ideias dominantes. A referéncia a ideologia conduz a temédtica da hegemonia, formulada pelo teérico marxista italiano Antonio Gramsci, nos anos 1930, Mesmo aderindo ao pensamento de que “as ideias domi- nantes slo as ideias da classe dominante”, Gramsci interroga também as mediagSes pelas quais essa autoridade e essa hierarquia funcionam, ele inte- gra o papel das ideias e das crengas como suportes, de aliangas entre grupos sociais. A hegemonia & fundamentalmente uma construcdo do poder pela aquiescéncia dos dominados aos valores da ordem social, pela produgdo de uma “vontade geral” consensual, Compreende-se, a partir disso, a aten- 10 que @ nocdo gramsciana leva a dispensar a Tan Connell mostra como as rotinas do jor- nalismo televisivo levam a destacar 0 ponto de vista, patronal na apresentacao do debate sobre a poli ca salarial [in Hall et ali, 1980]. © emprego frequente do termo “resisténci remete a uum terceiro indice conceitual e questiona a especificidade do poder cultural que as classes populares podem exercer. Fluida, a nogao de resis- téncia sugere mais um espaco de debate que um conceito impenetrivel. De um lado, longe de se- ‘rem consumidoras passivas, idiotas eulturais, para retomar a expressio do antropologo Clifford Geertz, [1973], as classes populares mobilizam um reper- t6rio de obsticulos & dominacio. Trata-se do con- Alito social, mas também da indiferenca pritiea 20 discurso, que Hoggart chamava de “consumo ne- Aligente”, Pode tratar-se também dos efeitos da derrisio, da mé disposicao, da ordenagao de micro- ‘espacos de autonomia ox de festa [S. Cohen e Taylor, 1976]. O problema subjacente a nogdo de resistén- cia 6 0 mesmo que a questo das armas dos fracos suscita no campo dos movimentos sociais [Neveu, 2002a]. Serdo elas realmente armas fracas? Elas dao prova de um potencial de agao auténoma. Mas nao festardo condenadas a uma postura puramente de fensiva, a éxitos parciais e provisérios, a oscilar entre bater-se e debater-se, sem poder inverter as relacdes de forca? Hebdige exprime essa ambivaléncia, a0 notar que as subculturas nao so “nem simples afirmagio, nem recusa, nem ‘exploracdo comercial, nem ‘evotaauténtica [..] Trae a0 mes- ‘mo tempo, de uma declaracio de independéncia, de alteridade, de intengdo de mtdanga, de wma reeusa 20 tnonimato ¢ a um estaruto subordinado. uma insu ‘bordinagdo. E se trata, ao mesmo tempo, de uma con: firmagio do prépriofato da privagdo do poder, de uma ‘clebragdo da impoténcia” [1988, . 35 Enfim, a problemiitica da identidade se esbo- ca.em filigrana. A medida que a dinamica dos trabalhos vem superpor as classes sociais varié- veis como geragso, género, etnicidads, sexualida de, € todo um questionamento sobre 0 modo de constituicio das coletividades, uma atencao cres- cente & mancira com que os individuos estruturam_ subjetivamente sua identidade que vém ocupar ‘um lugar estratégico, 8 A teoria como objeto de importagio Hebdige afirma em Hiding in the Light: “Muitos dos pontos de referencia eritcos e tericos que io a orientacio de hase desso ivr so franceses. Al {guns outros so italianos ou alemées. Pouguissimos so ‘dentifcaveis como britinicos. Como tantas pessoas formadas em artes ciaciassocais diplomadas no fim dos anos 1960 e nos anes 1970, tnta gi da tradi ingesa,tentei encontrar minha especifcdade nowtro Tuga.” (1988, p, Essa postura € a regra entio. Os primeiros working papers sio suportes de difusio de autores continentais ndo traduzides no Reino Unido. A atracio por teorias continentais é uma for- ‘ma de reagio as orientagdes dominantes das cién- cias sociais anglofonas, cuja critica foi desenvolvida nos Estados Unidos por Wright Mills [1958]. Nao obstante suas virtudes objetivantes, a pesquisa “ad: ‘ministrativa” ou aplicada, sustentada por financia- ‘mentos contratuais e fundada no tratamento quan titativo dos dados, nao tende facilmente a aborda- dens quulitativas nem a prova de questionamentos criticos e inovadores. Quanto ao funcionalismo, entdo todo-poderoso, as enormes maquinarias de Talcott Parsons aplainam os “teries0s”, dissolvean exatinnien- te a questo do poder € da dominagio. A maior parte dos usos dessa teoria postula um mundo no qual tudo, a comecar pela desigualdade,é funcional, como 0 escapism, a busca de evasio que seria 0 principio brando de numerosas préticas cultura. 6 A busca de novos instrumentos teéricos deri- vva também dos desafios com os quais os pesquisa- dores se defrontam. Os estudos culturais proce: dem de um deslizamento fundador que mobiliza rumo a cultura profena os instrumentos tedricos surgidos dos estudos Titerdrios. Ora, se os esque- ‘mas de interrogagao fecundos para analisar Dickens podem ainda esclarecer textos menos canénicos, sua rentabilidade se torna mais duvidosa quando se trata de interesse pelos mods ou pelos acampa- ‘mentos de escoteiros. F, a partir dai, fazer seu mer- cado tedrico do lado de pesquisas mais criticas, venham elas da Europa continental ou dos adver- sérios americanos da sociologia oficial, aparece como niio desprovido de coeréncia, ‘0 campo da sociologia é um exemplo disso. Mesmo que Hall evoque o trabalho coletivo de lei ‘ura critica de Weber, fica claro que, identificada a0 funcionalismo, essa disciplina nao ¢ 0 miicleo de inspiragao da equipe, distancia que s6 pode ra- tificar a falta de interesse da Associacao Britanica de Sociologia pela cultura. Mas 0 canteiro das ‘subeulturas, a atengao dispensada ao desvio, a preo- cupagio em observar 0 mais proximamente possivel ‘a9 Interagies sociais no cotidiano vio suscitar o in teresse do grupo pela contribuigdo do interacionis- ‘mo simbélico, pelo parti pris etnografico da Escola de Chicago. Becker [1963] logo constituird uma for ‘ma de referencia culta. Sua qualidade de observai da rua fard também do Street Corner Society de 7 White [1943] um ponto de apoio. Essas incursées pelos procedimentos sociolégicos mais aptos a cap tar a trama das experiéncias vividas se identificam ainda no interesse pelo procedimento biogréfico que estrutura os grandes livros de Hoggart [1957, 1991], ‘ese exprime em outros pontos de mado mais progra- ‘itico [Critcher, in Hall ¢ Jefferson, 1975]. HELO MARKISMO? A teoria marxista, tal qual vulgarzada pelo movimento ‘comunista, estbelece a primazia das infrastruturas econ micas, das quais ak superestrutura (sistemas po. liticas, diveit, eriagdo cultural) sio apenas produto, Raramente levada em conta com preciso, a divesidade as superesruturas de uma sociedade, de uma “forma. ‘Ho social” a outra, nao passa entio de puro “rellexo” das relagies de classe e de produgio. A contrbuigao propria da cultura &estabilidade (ou ndo) de um mode: lo de sociedad, sua possivel margem de atomomia so portanto rechagadas. Mecaniista, esa visio torna toda reflex supérfua, pois #explicagio das eulturas ¢ dada de antemao. Ela quase nio questiona mais at modalida des concreias, as mediagdes plas quis ainfraestatura ‘econmica pode se choear com a inécia ow a resisten- cia de orengas ou de comportamentos, com as artiula- ‘ies milipas entre os dois niveis.O desconforto ted rico, imediatamente expresso por Thompson ou Willams, dors pesquisadores ao mesmo tempo vincula 4os ao marxsmo e conscientes, em decorréncia de suas proprias pesquisa, dos impasses deste quadro de an lise, eslarece seus abjetivos e seus emprestns tei cos. isso o que leva Willams a fazer dessas questes 7 4 base de seu proeto do um “materilismo cultura” “a armadilha que ae esconde soba nogdo marta ta icinal de producio ecandmica é «produto dicta de “pt visto que toda dase governanteconsuga wna yarlesiguificatva de produgao material a fim de in {aura una ordem politica. Do meso modo, «orem sociale politi que mantém tanto um mercado capita Tsta como at Tuas soiisepoltias que ese ultimo fers alo nersariamente prougio material, Desde os castls, palcis © igrejas até as prises, hoses € escola desde © amamenta de goers até controlada: ta clase governante, sob diversi anc zis, mas sempre materiaimente, rode wna order sociale politica. Essas.atividades nunca s80 superestrturas[..]. A complexdade dsse proceso & partcularmentedetermindvel nas sociedades de capita Timo avangado, onde nio fz nea seid soparar ‘produgio' de indstra' da producio, ela também ma tev, de ‘fess, dee ede onde, de hemvestar’ de “opnido pila” ede diverco: Ao facasar na are ensio do carder meterial da produc de uma onder sociale potica, 0 materalismo seletivo (para falar abertament, bugs) também fracas, eso de mx ainda mais patente, em compreender 0 carter materi da produgao de uma ordem cultural” [Wilims, 1977) Quanto aos empréstinos teics, cles pasaram plas reeitras de Maex propostas or Lois Alhssr, por sua teorizacio do papel espeiic dos “aparelhos ideo ligcos de Pstado™ como a escola a mii por sua ‘nusca de vinculos entre marxismo, estrutraisto, ps canis [Sparks, in Morey e Kuanlsing Chen, 1996) ssa redescoberia de wm marsiamo heterodoxo explica sina eeuso& esol de Frankfurt (soretudo Walter a Benjamin), a atengodispensada ao sociolinguist svi tico Mikhail Bakhtin, aos tedricas marxstas da litera fra que sfo Lucien Goldmann ¢ o hiingaro Gyorgy Lukics. Hla desemboca sobretido em Gramsci, por sas reflexdes sabre 0 papel dos intelectas e suas relagoes ‘com a5 classes populares, sobre a desigual capacidade dos grupos socais de se dotar a si mesmos de porta voues que deem uma forma coerente a suas erengas ¢ aspiragées. O pensamento de Gramsci serd objeto de rnumerosos desenvolvimentos © comentirios [Laclas, 1977; Laclau e Mouffe, 1985), particularmente porque enfatiza que as relagdes de poder nio sio o decalque adgutido de antemao das relages econdmicas. Gramsci leva a sério a formula de Marx sobre a “deologia como forga material, busca pensar tanto a eapacidade de re sisténcia dos dominados como © modo com que um senso comum” difundid pela cites contribu para seu assentimento &ordem social. Para além de posiges abstratas, Gramsci desenvolve suas intwigies em wma Série de anilises de campo: sobre o papel da literatura Popular de folhetim eomo instrumento de difusto de uma ideologia, sobre as resistencias e a automomin de uma *sociedade civil", sobre os efeitos politicos e cal ras das dispardades de desenvolvimento (a questo do sul da Tilia), sobre os vinelos dos inteleetuas como mediadores “onginicos” dos dispsitivos de por, ot como promotores de estratégas de “conta-hegemoni’. A nogio de “marxismo sociologizado” daria perfeitamente conta das I6gicas de importagdo ‘conceitual do CCCS. Ela sugere um itinerdrio que sociologiza um procedimento de critica literdria 0 via marxismo critico. Viu-se como a atengio dis- pensada a Althusser ¢ a Gramsci respondia a uma vontade de dar mais atengdo a densidade e a com- plexidade das mediagbes ¢ das interagdes entre cul- tura e mudanga social, O atrativo do estruturalismo, o lugar erescen- te ocupado pela midia entre os objetos dos estudos culturais explicam, enfim, a importancia conside ravel tomada por outras importagdes francesas, ponto de Thompson fulminar contra o que ¢ nomearé “a eletrificagao da linha Paris-Londres' Barthes sera o principal e 0 mais precoce benefi rio desse interesse, logo acompanhado por autores ‘como o teérico de cinema Christian Metz ou Julia Kristeva, que entio participam da “aventura semio- 6gica” em torno da revista Communications e de Tel Quel. O momento vanguardista da importagio ndo deve levar a esquecer os empréstimos anterio- res mais previsiveis (Sartre e sua visdo da literatu- ra) por parte de uma comunidade eyjo ponto de partida foi a critica literdria As importagdes nao deixaram de suscitar po- lémicas quase sempre acaloradas. Elas se cristali- zam ein toro da bastante althusseriana revista de analise filmica Screen (Robbins, 1979]. Hall chega até mesmo a se interrogar sobre a emengéneia de um, “segundo paradigma”, estruturalista, nos estudos cealturais [apud Collins e Curran, 1986]. Thompson desencadeia uma verdadeira barreira de fogo amtialthusseriana em The Poverty of Theory (1978). at Dividas ¢ éxitos Custoso distanciamento da sociolagia Por em perspectiva os aportes ¢ as contribu ses do COCS nio nos impede de apontar fraquezas, Elas so visiveis na bagagem sociolégica de intimeros pesquisadores do CCS. Sua esqualides, comporta explicagies logicas. Se 08 usos estimulan- tes dos aportes da Escola de Chicago por Cohen ou. Hebidge desmentem a regra, imimeros pesquisado- res provindos das hhumanidades, mais que das cin. cias sociais, tém escassa familiaridade com a socio- logia, mesmo a sociologia da cultura, lacuna que presenta alguns inconvenientes em 1sm empreendi- ‘mento intelectual muito préximo exatamente... de ‘uma sociologia da cultura! O que est em jogo nesse debate nao ¢ patriotismo nem ortodoxia disciplinar, ‘mas os efeitos priticos de um desconhecimento do que é “fundamental” em citneias sociais. © desafio epistemoldgico posto pelo estudo das culturas populares é exemplo disso. Hoggart ou Thompson realmente souberam dispensar as culturas dominadas ama atengdo minuciosa, res. peitosa e compreensiva, sem escorregar para uma complacénecia acritica: mas nem todas as pesasisas de Birmingham escaparam a dupla armaditha do miserabilismo e do populismo. Algumas andlises do deslocamento da identidade operiria as vezes sobrevalorizam a erosdo simbolica e estatutiria do grupo, seus infortinios. Mesmo que nao ignorem, ‘a ambiguidade das subculturas, as sedutoras and. ises de Hebdige sobre os mods ndo estio isentas ‘uma celebracao de seu objeto, Alids, é nessa yertente populista que se exprime a mais forte edo, muito especialmente na atribuigio vez por itra generosa do rétulo de “resistencias” a prati que podem também ser interpretadas como las de autonomia pouco suscetiveis de questio- sr as relagdes sociais. Insistir nessas tensdes & ‘perceber uma grande dificuldade derivada das pré. prias contradigdes dos objetos analisados, mas tam "bem compreender sinteses intespretativas que se ro sistematizadas mais tarde. LEGITIMISMO, POPULISM E MISERABILISMO Em um trabalho que, ao mesmo tempo, se pretende prolongamento e eitica da socologi da cultura desen- vyolvida por Bourdieu, Grignon e Passeronexplicitam as Aifculdades espociicas suscitadas pela andise das cl: tras populares quase sempre estudadas por autores {solados dos mundos populares por sua posicdo de inte lectusis.dificuldade mais evidente esta no risso de ‘uma forma de condeseendéneia, do “lgitimismo” que leva observadores “letrados” e“cultivados" a restringie 4 nocio de cultura: “alta” literatura, musica “lissc ‘bras nos scervos dos museus. Esse viés leva a pensar a relagdo das clases populares com a cultura n0 modo da fata, do menos, da incultura, visto que elas estio ‘menos funiliarizadas com a cultura legitima, ou seja, socialmente consagrada. Uma ruptura necesséra con- siste entio em assumir um relativismo que nao consiste | tanto em fing que tudo vale, mas em consierar que iver de rade osu ata op ares merce a mesa tengo, o mesmo fps ge cs deum acai, que els podem ser ines Sines subjetas tthe intense, gear um si tena simbalzo unente oe corn Ea tpt ‘4 com o leftimisno confrontase com difcldade

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