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vill PRATICA DOS TRATAMENTOS TERMICOS 1. Generalidades — O conhecimento dos aspectos préticos dos tratamentos tér- micos de agos é essencial para a obten¢éo dos melhores resultados nas operagdes de tratamento. A prética dos tratamentos térmicos, como todas as préticas metalUirgicas, tem evoluido consideravelmente, desde as épocas herdicas, em que se produziam as famosas espadas de Damasco, até nossos dias, em que os mais modemos e sofistica- dos equipamentos e aparelhos de controle so empregados nas diversas operacées. Ainda assim, talvez aqui mais do que em qualquer outra técnica metalurgica, 0 equipamento mesmo automético, néo resolve todos os problemas. Sao intimeros os casos em que ainda a arte e a experiéncia do tratador térmico sao imprescindiveis na realizacao efi- ciente dos tratamentos térmicos. ‘Convém lembrar ainda que a crise energética.produziu uma verdadeira revolucdo na pritica dessas operacées. Varias técnicas e muitas medidas visando sobretudo eco- nomizar e recuperar energia, encurtar o tempo das operagées, substituir as fontes tradi- cionais derivadas do petrdleo ou do gas natural, foram desenvolvidas e postas em prati- ca em diversos paises. Entre as medidas adotadas, podem ser citadas as seguintes”*™*"™, = diminuigo do uso de gases endotérmicos e exotérmicos ¢ utilizacdo crescente de vécuo e gases sintéticos, visando economizar energia, seguranca e controle mais preciso do proceso; — utilizago crescente de leito fluidizado, visando conservacao de energia; — emprego de micro-processadores e micro-computadores, para controlar fornos intermitentes isolados ou baterias de fornos intermitentes ou linhas completas de producdo, desde a confor- macSo do material, tratamento térmico, inspec¢ao, montagem, controle e embalagem; — emprego de recuperadores de calor. O exemplo de um fabricante nos Estados Unidos mostra que, numa linha continua de cementaco a gés em que a atmosfera endotérmica foi queimada dentro de um tubs irradiante, antes de sait do forno, 6 possivel recuperar a maior parte do calor nna atmosfera gasosa: 17% do gés necessério para operar o forno. A linha inclui igualmente um dispositive que utiliza o fluxo de g4s quente proveniente do forno de cementagdo para aquecer © forno de revenido associado. Nesta operacéo economiza-se 90% do combustivel necessério. ara aquecer 0 forno de revenido; — aplicagdo crescente das técnicas de témpera superficial, por aquecimento por indugdo, raios laser ou feixe eletrnico; — elevacao, dentro dos limites necessarids, das temperaturas de tratamento, propiciando redu- 0 as vezes muito grande do ciclo de tratamento, com aprecidvel economia de energia; — isolamento methorado dos fornos de tratamento, visando também conservar energia; — empregs de atmosferas constituidas de misturas de nitrogénio e metanol, em substituico 0 gs endotérmico; — emprego de polimeros liquidos, como banhos de témpera, de modo a reduzir 0 cohsumo de dleo. 150 AGOS E FERROS FUNDIDOS 2. Recursos — Sio diversos e os mais variados os recursos de que um experien- te temperador dispde para a realizacdo eficiente de sua tarefa, desde o equipamento € 08 dispositivos e ferramentas mais simples, até os fornos especiais, atmosferas con- troladas etc., para a producdo seriada, dentro das mais rigorosas condigées de controle das diferentes fases da opera¢ao. 2.1. Ferramentas e dispositivos manuais — Tenazes sao ferramentas imprescindi- veis para servicos gerais, principalmente quando néo se possui equipamento autométi- co. E conveniente possuir uma colecdo razodvel de tenazes de diversos formatos e pe- S0S que possam prender e sustentar, seja por fechamento, seja por abertura, longas e curtas, pecas de forma chata ou cilindrica. Sua construgdo deve ser tal que permita ape- fas um minimo de contacto com as pecas a tratar. Normalmente, essas tenazes séo fabricadas de agos comuns de baixo carbono, de modo a néo sofrer influéncia da varia- do da temperatura durante o servico; contudo, hd tenazes em que os cabos sao feitos com agos de alta resisténcia. Além das tenazes, outra ferramenta que inestimdveis servicos presta é 0 gancho, de peso e conformacao adequados, para permitir eficiente movimentagdo das pecas no interior dos fornos, nos banhos de sal ou nos banhos de resfriamento. A figura 91 apresenta alguns exemplos das varias ferramentas e dispositivos usa- dos por um experiente temperador. 2.2. Meios de restriamento — No Capitulo IV foram abordados os diversos meios de resfriamento usualmente empregados em tratamentos térmicos. Fig. 91 — Exemplos de ferramentas e dispositivos usados em operagées de tratamentos térmicos. Para as operagdes de tempera, 6 necessério que se disponha de 4gua corrente e limpa em volume adequado. Tanto os banhos de égua como os de dleo devem ser convenientemente localizados junto aos fornos, para permitir a mais rapida transferén- cia do forno aos banhos. No caso de banhos de dleo, admite-se, como regra geral, quer ‘sao necessérios cito litros de leo para temperar um quilo de pecas por hora. Por outro lado, este dleo deve ser mantido em temperaturas entre 30°C e 60°C, a fim de ser PRATICA DOS TRATAMENTOS TERMICOS Ash assegurada adequada fluidez. Para isso, impGe-se que haja circulacao do dleo em ser- pentinas, devidamente resfriadas por agua, quando o volume de pecas a temperar é constante. £ importante observar que podem ocorrer fracassos nas operacdes de tém- pera e mesmo incéndios, se 0 volume de dleo néo for suficiente. Um dos meios de resfriamento mais eficazes é a salmoura que deve ser propor- cionada convenientemente (5% a 10% de sal grosso) e devidamente resfriada. Do mesmo modo, o ar comprimido seco constitui um recurso necessério, para 0 resfriamento na témpera, de ferramentas produzidas a partir de acos de alto teor em liga e de selecdo mais fina. 2.3. Condicées de aquecimento — O aquecimento é, como se viu, fator de funda- ‘mental importéncia no tratamento térmico, ndo s6 no que respeita & temperatura de aque- cimento, como também quanto ao tempo de permanéncia a temperatura. Reside aqui uma das condigées que pode tornar um operador de tratamentos térmicos uma das pe- ¢as basicas nessa importante fase de producdo metaluirgica. Uma qualidade pessoal que Ihe ¢ indispensdvel é a paciéncia, a fim de que 0 aquecimento seja efetivo e haja com- pleta uniformizagéio de temperatura. Para aquecer e uniformizar uma pega de aco-carbono de dimensées normais e em perfis chatos até cinco quilos, a regra usual é permitir que Permanega no forno um tempo que corresponda a um minuto para cada milimetro de espessura; além deste tempo para uniformizar, hé necessidade de um tempo adicional em fungao da forma da pega. ‘A experiéncia mostra que a penetracao de calor se faz a razdo de cerca de um milimetro por minuto em barras redondas. Existe, contudo, um fator de aquecimento que é maior para pecas esféricas e cilindricas cerca de 50% do que para pecas longas ou quadradas e que é trés vezes maior do que em placas retangulares. Observe-se ain- da que quanto maior a porcentagem de elementos de liga, tanto maior sera o tempo de aquecimento para solubilizacdo completa. Como se verd, ha agos que ndo podem ser aquecidos continuamente até as tem- peraturas criticas. Nessas condigées, recorre-se a preaquecimentos, simples ou duplos; tal 6 0 caso de acos com elevada porcentagem de elementos de liga, como os acos répidos, com alto teor de cobalto, cuja temperatura de témpera situa-se nas proximida- des da linha liquidus. Nestes agos, a permanéncia a altas temperaturas (1.300°C a 1.330°C), deve ser reduzida a um minimo de 2, 3 e até 7 minutos no maximo, para que se evite a fusdo incipiente. No revenido, igualmente, a permanéncia das pecas temperadas a temperatura do revenido, obedece a critérios adequados. Por outro lado, as pecas, logo apés a témpera, devem ser transferidas aos fornos ou banhos de revenido, onde devem permanecer por tempo minimo necessério, que, entretanto, serd tanto mais longo quanto maior o teor de elementos de liga no aco. Para pecas delgadas (até 3/8") de acos-carbono, é sufi- ciente a permanéncia & temperatura de revenido durante 15 minutos, enquanto que, pa- ra as pecas de alto cromo, alto carbono ou de aco rapido, os tempos de revenido devem ser de 8 a 10 vezes maiores. Além disso, para os aos com alto teor de ligas, recomen- da-se a ado¢do de pelo menos dois revenidos, com o objetivo de garantir a precipitagao da maior parte da austenita retida na operacdo de tempera e para que se verifique com- pleto alivio de tensées. No que diz respeito ao alivio de tensdes, é importante mencionar que é boa préti- ca processar-se 0 reaquecimento com revenido a baixa temperatura em todas as ferra- mentas apés 0 uso e antes de envid-la 4 estocagem. Este alivio de tensdes impée-se Principalmente para os acos para trabalho a quente. 2.4. Preservacao da superficie — Este cuidado deve ser tomado sobretudo duran- te 0 aquecimento, para evitar a oxidacdo ou formagao de casca de oxido. As vezes pro- cura-se obter a formacdo de uma camada de éxido, azulada ou negra, para evitar ulte- rior oxidagao. 152 AGOS E FERROS FUNDIDOS A prevengao a oxidagao, é possivel mesmo em fornos a éleo, praticamente aber- tos, através de um controle adequado da chama e do ciclo de aquecimento; por exem- plo, é pratica corrente aquecer-se 0 forno a temperatura superior em cerca de 100°C & temperatura de tempera e, em seguida, fazer combustdo incompleta do dleo e, mes- mo com perda de temperatura, conseguir-se atmosfera protetora para a tempera de fer- ramentas. Outro recurso largamente empregado em fornos de mufla a dleo, a gas ou elétri- cos, 6 0 do empacotamento das pecas em caixas contendo carvao de madeira granula- do, ou limalha de ferro fundido cinzento, Do mesmo modo, em fornos de mufla que pos sam ser fechados hermeticamente, ao colocar a peca para aquecimento, langa-se a0 mesmo tempo no interior do forno substancias redutoras, pulverizadas, tais como car- vo de madeira e aditivos para a producao de atmosferas redutoras a altas temperatu- ras. Em equipamentos rudimentares, pode-se condicionar as pegas a tratar em recipien- tes de grafita devidamente conformados e cobertos, no interior dos quais 0 aquecimen- to se processa em condigdes excelentes. E ainda prdtica usual 0 aproveitamento de restos de eletrodos de grafita utilizados nos fornos de fundi¢do de aco, ou a formacdio de um leito de carvéo de madeira, com resultados excelentes na tempera de pequenas ferramentas, mesmo de aco répido. E importante observar que para conseguir éxito so necessérias duas faculdades ao tem- perador: a primeira é a acuidade visual para observacdo das temperaturas correspon- dentes a emissividade da pega sendo aquecida; e a segunda, a percep¢ao do tempo minimo de permanéncia a temperatura de tratamento para que seja garantida a solubili- dade dos carbonetos na austenita e a conseqiiente operacao de témpera. A preservacao da superficie é methor garantida pelo emprego de fornos a banho de sal, devidamente controlados, assim como pelo emprego de atmosferas controladas em fornos de mufla aquecidos eletricamente ou nao. 2.5. Avaliagdo da temperatura — Um operador pratico tem o recurso de avaliar as temperaturas, pela emissividade a altas temperaturas; assim a cor marrom corres- Ponde aproximadamente aos 550°C; o cereja-escuro aos 700°C; o cereja aos 800°C; 0 alaranjado aos 900°C; 0 amarelo aos 1000°C e 0 amarelo-claro aos 1100°C. £ evi- dente que tal recurso deve ser evitado e substituido pelo emprego de aparelhos de me- dida e controle de temperaturas. Esses aparelhos, por outro lado, devem oferecer leitu- ras reais e ser periodicamente verificados. A aferi¢éo dos aparelhos medidores, regula- dores ou registradores de temperatura é tanto mais importante quanto mais complica- dos os fornos de tratamento e as operagées a realizar. 2.6. Atmosferas controladas — Essas atmosferas, geralmente gasosas, podem ser produzidas por diversos meios, alguns dos quais sao bastante econémicos e preenchem perfeitamente as necessidades do tratamento térmico. De acordo com a “Committee on Furnace Atmospheres” da American Society for Metals®”, as atmosferas controladas comercialmente importantes foram classifica- das pela “American Gas Association” em seis grupos, com base no método de preparo € nos constituintes originais empregados: — 4 base exotérmica, obtida por combustéo parcial ou completa de uma mistura gas/ar; po de-se remover 0 vapor de agua para produzir 0 desejado “ponto de orvalho”; ~ a base de nitrogénio preparado, obtida a partir da base exotérmica, com rem @ do vapor de agua; do CO: — 4 base endotérmica, obtida por reacdo parcial de uma mistura de g8s combustivel e ar numa ara cheia de substancia catalizadora externamente aquecida; — 4 base de carvao de madeira, obtida fazendo-se passar ar através de um leito de carvéo de madeira incandescente; — 4 base exotérmica-endotérmica, obtida pela completa combustio de uma mistura de gés com- PRATICA DOS TRATAMENTOS TERMICOS, 153 bustivel e ar, removendo-se 0 vapor d'égua e formando de novo 0 CO; a CO mediante uma rea- ¢80 com gés combustivel numa cdmara cheia de substancia catalizadora externamente aquecida; — 4 base de aménia, que pode consistir de aménia crua, aménia dissociada ou aménia disso ciada parcialmente ou completamente queimada com ponto de orvalho regulado. A composicao de doze atmosferas comumente utilizadas est indicada na Tabe- la 17° e a Tabela 18° indica aplicagées tipicas dessas atmosferas. O conhecimento do “ponto de orvalho” do gés produzido nos varios geradores que do origem as atmosferas controladas é muito importante, visto que existe uma correlagao entre esse fator e 0 potencial de carbono do gas, em fungao da temperatu- ra no interior do forno. Existem curvas que definem essa relacdo, e portanto, permitem saber-se a quantidade de carbono que um gas de um determinado ponto de orvalho, introduziré no ago, em fungao da temperatura. Tabela 17 Classificagéo das principais atmosferas controladas Composiggo Nominal, Ponto de i (%) em Volume Relacdo ee organo | ariGas N: 4: | CH Exotérmica pobre 86,8 12| — . 2.0 Exotérmica rica 75 12,5 | 0.8 : 6.0 Nitrogénio preparado pobre | 97,1 12| ~40 9.0 Nitrogénio preparado rico 793)1110| — 1132} 0,5} —40 6.0 Endotérmica pobre 45,1/196| 04/346|0.3| +20a50| 26 Endotérmica rica 39,8} 20,7) — |387/0.8]+25a-5| 25 Carvao de madeira eat |3a7| — | 12) - —20 = Exotérmica-endotérmica pobre |63,0|17,0| — | 200] — -70 2.8 Exotérmica-endotérmica rica | 60.0} 19,0} — | 21.0] — —50 72 Aménia dissociada 250| — | — [75.0| - —60 ~ Aménia queimada pobre go} - | - | 10] - : 3,7 Amdénia queimada rica 80.0] - | - {200} - : 19 * 0 ponto de orvalho é cerca de 10°F acima da temperatura da 4gua de restriamento; pode) ser reduzido 2 +40 F por refrigeraco ou a — 50 F em torre absorvente de desidratagio. Tabela 18 Aplicagdes comuns das principais atmosferas controladas. Tipos Aplicagées Comuns Exotérmica pobre Revestimento de éxido de ago Exotérmica rica Recozimento brilhante; brasagem de cobre; sinterizagao Nitrogénio preparado pobre Aquecimento neutro Nitroganio prepatado rico Recozimento e brasagem de acos inoxidéveis Endotérmica pobre Tempera Endotérmica rica Cementacéo & gés A carve de madeira Cementacdo a gés Exotérmica-endotérmica pobre Tempera Exotérmica-endotérmica rica Cementacdo a gés ‘Aménia dissociada Brasagem; sinterizaco ‘Aménia queimada pobre Aquecimento neutro Aménia queimada rica Sinterizagao de pés de aco inoxidavel. AGOS E FERROS FUNDIDOS Uma mistura de gases, a uma certa temperatura, para uma dada pressao, precipitard seu teor de umidade. A temperatura exata em que a umidade precipita ou na qual o at fica saturado 6 chamada “ponto de orvalho”. Quando ar e gas sdo misturados em proporgses fixas e deter- minadas e s80 aquecidos de modo a permitir que as reagdes quimicas atinjam o equilibrio, 0 ponto de orvatho refletiré 0 equilibrio quimico dos varios componentes, incluindo os produtos de reacdo. Em consequiéncia, 0 controle do potencial de carbono pela utilizago do ponto de ‘orvalho & um procedimento rapido, seguro e relativamente simples. Existem aparelhos de con- trole automstico para determinacdo do ponto de orvalho, os quais possibilitam manter-se cons- tante um determinado ponto de orvatha, durante todo 0 ciclo de tratamento térmico. E possivel, Contudo, construir-se um aparelho simples para sua medicSo que funciona com eficiéncia ne- cessaria e suficiente. A figura 92 mostra um desses aparelhos, que consta de um vaso de vidro transparente, em cuja tampa de borracha esté inserido um cilindro com fundo, no interior do qual se pode vaporizar CO;. Nesse mesmo cilindro, cuja superficie é altamente polida, repousa um termémetro de leitura répida, em graus Farenheit. Através desse vaso passam tubos de en- trada e saida para o gs, cujo ponto de orvalho se quer medir e que é queimado ao ar pelo tubo de saida. Uma vez cheio de gas 0 interior do vaso, inicia-se a vaporizacdo de CO2 no interior do cilindro polido até que sua superficie comece a se embacar por deposi¢o de orvalho; nesse Ponto, faz-se a leitura do termémetro e corta-se a passagem de COs: a seguir observa-se a tem peratura em que desaparecem no tubo polido os ultimos vestigios daquele embacamento. A média das duas temperaturas dar 0 ponto de orvalho do gs. Com alguma pratica, pode-se determinar 0 ponto de orvalho em dois minutos. REGISTRO TERMOMETRO. SAIDA DE GAZ (acEso) TUBO POLIDO Fig. 92 — Aparelho rudimentar para determinacao do ponto de orvalho. Conhecida ¢ a aplicagdo de gasogénios portateis que operam com hidrocarbo- netos liquidos, cuja vaporizacdo se efetua em cdmaras aquecidas e cujos gases sdo conduzidos aos fornos. Um sistema de gotejamento controlado permite a producdo de maior ou menor quantidade de gas a ser introduzido nos fornos. Para tratamentos térmicos em grande escala, no caso de emprego de gasogé- nio, utilizam-se os que operam a carvdo de madeira. Sao estes constituidos de um recipiente, no interior do qual se queima carvéo de madeira, originando-se um gas cu- ja composigao quimica média corresponde a aproximadamente 64% Nz, 35% CO e 1% Ha (ver Tabela 17), com ponto de orvalho de —20°F. A figura 93 mostra o esque- ma de um gasogénio. A atmosfera a base exotérmica ¢ produzida em geradores exotérmicos, utilizan- do 0 calor gerado pela propria combustdo parcial do gds. Os fluxos de gas e de ar sao devidamente medidos por medidores de vazdo. O gas produzido ¢ resfriado e even- tualmente purificado e secado em filtros. Os geradores exotérmicos podem também utilizar catalizadores (fig. 94) cuja fungao € a de decompor o CO2, em CO. PRATICA DOS TRATAMENTOS TERMICOS, 135 CARREGAMENTO DO CARYAO LIMPEZA DE CINZAS Fig. 93 — Diagrama esquemético de um gasogénio. As atmosferas exotérmicas contém grandes quantidades de nitrogénio (67 a 87%) e quantidades relativamente menores de CO (1,5 a 20%), de CO (5 a 11%) e hidrogé- nio (1 a 13%), podendo conter também tracos de metana (CHa). Sao geralmente dividi- das em duas classes: ricas e pobres. Nas primeiras, a mistura gas/ar 6 rica do lado do gas, resultando assim num efeito redutor acentuado. Como se verifica pela Tabela 17, a mistura rica contém maiores porcentagens de CO e Hz. A atmosfera exotérmica po- bre contém porcentagens muito baixas desses gases e maiores porcentagens de N2 e CO2 O COz presente tanto nas misturas ricas como pobres, pode ser convertide em CO pelo uso de uma substancia catalizadora, ou seja, fazendo-se passar a atmosfera através de carvao de madeira incandescente; esta técnica aumenta acentuadamente © potencial redutor das misturas pobres. Fig. 94 — Diagrama esquemético de um gerador exotérmico As atmosferas 4 base endotérmica sao produzidas por geradores endotérmicos, que requerem uma fonte de aquecimento para manutencdo de temperatura satisfatoria & reago. Essas atmosferas sao preparadas pela combustdo parcial com ar de gas natu- ral, gds artificial, propana, butana etc, na presenga de uma catalista a base de niquel. A figura 95 mostra o diagrama esquemético de um gerador endotérmico. As atmosferas endotérmicas podem também ser ricas e pobres, como a Tabela 17 mostra. Sua composi¢ao varia da seguinte maneira: N2 — 40 a 45%; CO — 20a 21%; H. — 35 a 39% aproximadamente. Essas atmosferas prestam-se para quaisquer tipos de tratamentos térmicos dos acos, sejam os brilhantes, sejam os comuns, servin- do ainda de veiculo para cementacao a gés e para carbonitretacdo. As atmosferas a base exotérmica-endotérmica s8o pouco utilizadas na prética de- vido ao elevado custo da sua gera¢do e a maior complexidade de equipamento. As atmosferas 4 base de nitrogénio preparado sao atmosferas exotérmicas (obti- das pela combustado de uma mistura de ar e gas combustivel) das quais se removeram CO: e vapor d’égua. Podem ser usadas virtualmente em todas as aplicacées de trata- mentos térmicos que ndo exigem condigdes altamente redutoras. Entretanto, devido a0 seu ponto de orvalho muito baixo, que 86 pode ser mantido em fornos de construgao que permitam boa veda¢ao da atmosfera, o seu maior uso, na pratica atual, é feito no recozimento de bobinas de aco em fornos tipo sino. escape | (UAWA DE DESYIO PARA PARTIDA, Fig. 95 — Diagrama esquemético de um gerador endotérmico. Entre as atmosferas a base de aménia, a mais comum é a aménia dissociada, ob- tida pelo aquecimento de aménia liquida anidra na presenga de um catalista de ferro ou niquel. Apresenta uma composigao equivalente a 25,0% de Nz e 75,0% de H2, com um ponto de orvalho de —60°F. E utilizada principalmente como um substituto para hidrogénio puro em processos de recozimento quando se deseja uma atmosfera prote- tora ou quando ha necessidade de reduzir xidos superficiais. Finalmente, esté se tornando uma prética comum o emprego da atmosfera sinté- tica nitrogénio/alcool, numa mistura de nitrogénio e dlcool etilico (etanol hidratado), em porcentagens que possibilitem obter-se a seguinte composicéo™, CO — 18a 20% H, — 32 a 40% No — 36 a 49% CHs — 1.2 4% CO, + Hz — 0,10 a 0,30% PRATICA DOS TRATAMENTOS TERMICOS, 157 O emprego dessas atmosferas é feito em operacées de recozimento e témpera e em tratamentos termo-quimicos, tais como cementacao e carbonitretacao. Pode-se mencionar igualmente, como possiveis atmosferas protetoras, alguns ga- ses inertes, como 0 argénio, que se presta para 0 tratamento térmico de acos inoxidaveis. 3. Conclusées — Ha uma grande disponibilidade de fornos para tratamento térmi- co e escapa a finalidade desta obra fazer a sua descricao. Contudo, como é comum ocorrer 0 defeito do empenamento em pecas submeti- das ao tratamento térmico, é conveniente lembrar alguns cuidados que devem ser to- mados na utilizacdo dos fornos. Por exemplo, deve-se evitar carregar pecas em fornos com soleiras irregulares. E necessario igualmente que as pecas sejam apoiadas de mo- do adequado nas soleiras e que as pecas de grande secodo transversal sejam dispostas horizontaimente, ao passo que as pecas de seccées finas sejam suspensas ou dispos- tas verticalmente. Ao mesmo tempo, deve-se empregar para o seu manuseio ferramen- tas rigidas e bem proporcionadas. A imers&o das pecas nos meios liquidos de resfriamento deve ser feita com muito cuidado, introduzindo-se as sec¢des mais finas em primeiro lugar. Outra causa de empenamento esté ligada ao projeto inadequado da peca, o qual Pode ainda levar ao aparecimento de fissuras, pela concentracao de tensdes em deter- minadas areas. Assim, 0 didlogo entre o projetista e o tratador térmico torna-se indis- pensdvel quando se trata de pecas de formas mais complexas. Um inconveniente que pode surgir no tratamento térmico esta relacionado com a dureza superficial, a qual varia em fungdo da forma de carregamento das pecas nos fornos. Deve-se, para contomar esse problema, evitar cargas extremamente densas de pecas de pequena dimensdo, sobretudo quando colocadas em cestas, porque quanto estas estéo mergulhadas nos banhos de témpera. 0 fluxo do meio de resfriamento para ‘0 centro da carga fica prejudicado. O mesmo problema pode surgit durante o revenido dessas cargas muito densas. Além do equipamento principal — fornos — outros recursos de que o tratador tér- mico deve dispor para executar satisfatoriamente as operacdes de tratamento térmico incluem tintas de protecdo, borax, lapis indicadores de temperatura, amianto em pd ou ‘em placas, arame de aco recozido etc. Embora simples, esses materiais séo elementos indispenséveis para facilitar as operacdes. Do mesmo modo, maquinas de dureza — Rock- well, Brinell ou do tipo escleroscépio so aconselhaveis. As vezes, uma lima mursa per- mite ao temperador experiente avaliar, com razoavel precisdo, se os resultados obtidos estéo de acordo com 0 prevista. Quaisquer que sejam, entretanto, os recursos disponiveis, a importancia do “ele- mento humano” ndo pode ser subestimada no tratamento térmico. De certo modo, o tratamento térmico é ainda uma arte, pois nao consiste somente em produzir o aqueci- mento ou 0 esfriamento, mas produzi-los com método e controle, do mesmo modo que é uma arte no manuseio correto do material nas varias fases de operagdo. Um bom “tem- perador” é to importante quanto um “ferramenteiro”, pois se os métodos modernos de tratamento térmico incluem fornos continuos, controles automaticos, atmosferas es- peciais etc, 0 éxito final da operacdo pode ainda depender muito da habilidade, julga- mento, inteligéncia e experiéncia do operador. O forno, os controles e o restante do equi- pamento sao comparaveis as maquinas e as ferramentas do ferramenteiro, as quais, sem este, tornam-se praticamente inuteis, na quase totalidade dos casos. x AGOS-CARBONO E ACOS-LIGA. CLASSIFICACAO, PROPRIEDADES MECANICAS E FATORES DE QUE DEPENDEM 1. Sistemas de classifica¢éo dos agos — Dada a grande variedade de tipos de acos, foram criados sistemas para sua classificagdo, os quais periodicamente sao sub- metidos a revisdes. Os acos podem ser classificados em grupos, em base de propriedades comuns: a — composic¢ao, como acos-carbono e acos-liga b — processo de acabamento, como acos laminados a quente ou agos lamina- dos a frio cc — forma do produto acabado, como barras, chapas grossas, chapas finas, ti- ras, tubos ou perfis estruturais. Ha ulteriores sub-divisdes desses grupos, como agos-carbono de baixo, médio ou alto teor de carbono. Os acos-liga sao frequentemente classificados de acordo com o principal ou principais elementos de liga presentes. Uma das classificagées mais generalizadas — e que, inclusive, serviu de base pa- ra 9 sistema adotado no Brasil — 6 a que considera a composic¢do quimica do acos e, dentre os sistemas conhecidos, séo muito usados os da “American Iron and Steel Insti- tute — AISI" e da “Society of Automotive Engineers — SAE”. A Tabela 19, adaptada do DATABOOK — 1980, editado pela American Society for Metals” mostra a designago adotada pela AISI e SAE que coincidem e a do “Uni- fied Numbering System — UNS", devida 4 “American Society for Testing Materials — ASTM” e SAE. Nesse sistema, as letras XX ou XXX correspondem 4 cifras indicadoras dos teo- res do carbono. Assim, por exemplo, nas designacées AISI-SAE, a classe 1023 significa ago-carbono com 0,23% de carbono em média e na designacdo UNS, a classe G10230, significa o mesmo teor de carbono. Por outro lado, os dois primeiros algarismos diferenciam os varios tipos de acos entre si, pela presen¢a ou somente de carbono como principal elemento de liga (além, 6 claro, das impurezas normais silicio, manganés, fésforo e enxéfre), ou de outros ele- mentos de liga, como niquel, cromo, etc., além do carbono. Assim, quando os dois primeiros algarismos sdo 10, os acos sdo simplesmente a0 carbono; quando so 11, os acos sdo de usinagem fécil com alto enxéfre; quando 840 40, os acos sd0 ao molibdénio, com 0,25% de molibdénio em média e assim em seguida. Os agos de alto teor em liga, como os inoxiddveis, refratérios, para ferramentas, etc., so clasificados de modo diferente, como se verificaré por ocasido da discussdo dos mesmos. Os alemaes — cujas normas sao também populares no Brasil — adotam um crité- rio de classificagao diferente. A norma DIN 17100 classifica os “agos para construgao ‘em geral”, por exemplo, em fungao do seu limite de resisténcia a tragéo. Assim, a desi nado St 42 corresponde a um aco com limite de resisténcia a tracdo entre 42 e 50 kgf/mm? (410 e 490 MPa), St 60, limite de resisténcia a tragdo entre 60 e 72 kgf/mm? } (590 e 710 MPa). Jé a norma DIN 17200, os classifica de acordo com a composi¢ao quimica: por exemplo, C35 significa a¢o-carbono com carbono médio de 0,35%; 34 CrMo4 corres- ponde a ago com carbono médio de 0,35% com cromo e molibdénio, equivalente a0 tipo A151 4136, No Brasil, a Associacdo Brasileira de Normas Técnicas — ABNT, por intermédio das normas NB-80, NB-81 e NB-82"*® classifica os acos-carbono e os de baixo teor em liga segundo os critérios adotados pela AIS! e SAE. Muitos agos-ligas séo igualmente especificados pela sua endurecibilidade, quan- do esse caracteristico é exigido. Nesse caso, emprega-se 0 sufixo “H” (hardenability) TABELA 19 Sistemas SAE, AISI e UNS de classificac&o dos acos Designagso : AISLSAE UNS oe ana 10xx G10xxx ‘Agos-carbono comuns xx GUXxx ‘Acos de usinagem facil, com alto S 12xx G12XXxx ‘Agos de usinagem facil, com altos P ¢ S 15Xx GIBXXX ‘Agos-Mn com manganés acima de 1,00% 13xx G13Xxx ‘Agos-Mn com 1.75% de Mn médio 40xx G4OXxx ‘Acos-Mo com 0,25% de Mo médio 41KX G4IXXX ‘Agos-Cr-Mo com 0,40 a 1,10% de Cr e 0,08 a 0,35% de Mo 43KX G43xxx Agos-Ni-Cr-Mo com 1,65 a 2,00 de Ni, 0,40 a 0,90% de Cr € 0,20 a:0,30% de Mo 4GXX G46Xxx ‘Agos-Ni-Mo com 0.70 a 2,00% de Ni e 0.15 a 0,30% de Mo 47XX Ga7xx Acos-Ni-Cr-Mo com 1,05% de Ni, 0,45% de Cre 0.20% de Mo 48xx GABXxX Agos-Ni-Mo com 3,25 a 3,75% de Ni ¢ 0,20 a 0,30% de Mo 5IXX G51xxx ‘Acos-Cr com 0,70 a 110% de Cr E5110 51986 Acos-cromo (forno elétrico) com 1,00% de Cr £52100 G52986 ‘Acos-cromo (forno eléttico) com 1.45% de Cr 61xX GEIKXx ‘Acos-CrV com 0,60 ou 0,95% de Cr € 0,10 ou 0.15%, de V min 86Xxx GBEXxX Acos-Ni-Cr-Mo com 0,55% de Ni, 0,50% de Cre 0.20% de Mo B7XX GB7Xxx Acos-Ni-Cr-Mo com 0,55% de.Ni, 0,50% de Cre 0.25% de Mo 88xx GBBXxx Acos-Ni-Cr-Mo com 0,55% de Ni, 0,50% de Cr ¢ 0,30 a 0,40 de Mo 9260 G92xxx Acos-Si com 1,80% a 2,20% de Si SOBXX GEOXXX ‘Acos-Cr com 0,20 a 0,60% de Cr e 0,0008 a 0,003% de boro 51860 651601 Agos-Cr com 0,80% de Cr ¢ 0.0005 a 0,003% de boro a145 e145 ‘Acos-Ni-Cr-Mo com 0,30% de Ni, 0,45% de Cr, : 0.12% Mo e 0,008 a 0,003% de boro 94BXx 694xxx ‘Agos-Ni-Cr-Mo com 0,45% de Ni, 0,40% de Cr, 012% Mo e 0,008 a 0,003% de boro (") As publicacdes especializadas contendo essas normas devem ser consultadas pelos leitores qt desejam aprofundar-se no assunto. ACOS-CARBONO E AGOS LIGA 16 para distingut-los dos tipos correspondentes que ndo apresentam exigéncias de endu- recibilidade, Para os produtos de a¢o, as especificagdes mais utilizadas sdo da “American So- ciety for Testing Materials — ASTM” e muitas dessas especificagdes da ASTM sao ado- tadas pela “American Society of Mechanical Engineers — ASME", com pequena ou ne- nhuma modificacao. 2. Impurezas normais dos agos-carbono.e inclusdes ndo-metélicas — Os produ- tos siderirgicos, ao serem fabricados, apresentam normalmente, além do carbono co- mo principal elemento de liga, uma série de impurezas de natureza metalica ou ndo, as quais se originam de reagdes entre as matérias primas empregadas ou de outros tipos de reagées. Essas impurezas normais so 0 fésforo, o enxofre, o manganés, o silicio e o alumi- nio. A maior parte delas reage entre si ou com outros elementos ndo metélicos com © oxigénio e, eventualmente, 0 nitrogénio, formando as chamadas “inclusdes ndo- metélicas’. A formagao dessas inclusées se dé, em grande parte, na fase final de deso- xidago dos acos. Devido a tendéncia de se produzirem agos com propriedades cada vez melhores, em face das condi¢ées de sua aplicacao se tornarem cada vez mais severas, o estudo do efeito das inclusées nessas propriedades e o aperfeigoamento das condigses de fa- bricagdo, tém concentrado, nos Ultimos anos, a atengdo dos estudiosos na matéria. Na realidade, algumas das inclusGes podem até mesmo serem consideradas ne- cessérias ou benéficas devido ao efeito de certo modo positive que podem acarretar. Mesmo assim, e principalmente quando as condigées de servico provocam o apare mento de estorcos ciciicos € alternados, alguns tipos de inclusées, podem ser prejudi- ciais, sobretudo quando sua quantidade, forma e dimensées esto além do que se con- sidera aceitével. Dentre as impurezas, 0 fésforo foi considerado, por muito tempo, um elemento exclusivamente nocivo, devido a fragilidade a frio que confere aos acos, sobretudo nos acos duros, de alto carbono e quando o seu teor ultrapassa certos limites. Por essa ra- 280, as especificagses so rigorosas a respeito. Certas especificagdes restringem as por- Centagens maximas admissiveis 20s valores abaixo, conforme as aplicagées considera- das: trilhos eixos - estrutura de pontes _estrutura de construcdo e 0,04% —0,05% 0,06% barras de concreto armado 010% Nos a¢os-liga, 0 fésforo é especificado como 0,04% no maximo em alguns casos e em outros, 0,025% méximo. Nao possui esse elemento tendéncia a formar carbone- tos, mas dissolve-se na ferrita, endurecendo-a e aumentado o tamanho de gréo do ma- terial, ocasionando a “fragilidade a frio’, representada por baixa resisténcia ao choque ou baixa tenacidade. Essa influéncia tanto mais séria, quanto mais alto o teor de car- bono do aco. Por outro lado, o fésforo apresenta alguns aspectos favordveis, pois ao aumentar a dureza do aco, aumenta igualmente sua resisténcia a tracdo, fato esse que pode ser aproveitado nos ac¢os de baixo carbono onde seu efeito nocivo é menor, juntamente com outros élementos como cobre, niquel e cromo em baixos teores. Além disso, 0 fésforo melhora a resisténcia a corrosdo e a usinabilidade dos acos, principalmente neste tlti- mo caso, quando adicionado juntamente com o enxofre. 0 fésforo se caracteriza por ser um tanto incompativel com 0 carbono, ou seja ele tende a expulsar o carbono da austenita, de modo que, quando no resfriamento se ultrapassa a linha Ar, as dreas originalmente ricas em fésforo ficam praticamente cons- tituidas somente de ferrita, com auséncia quase que completa da perlita®”. A figura n° 96 mostra a estrutura que resulta desse fenémeno — denominada textura “ghost lines” — caracterizada, como se vé, por estrias constituidas quase que exclusivamente 162 AGOS E FERROS FUNDIDOS Fig. 96 ~- Aspecto microgréfico de aco doce forjado mostrando a textura chamada “ghost lines”. Ataque: reativo de nital. Aumento: 100 vezes. de ferrita, devido a presenca de fésforo, agrupando-se a perlita, por seu turno, nas bei- radas dessas faixas. : Um alto teor de fésforo pode acarretar airtda a presenca de um eutético fosforoso. A figura n° 97 reproduz 0 aspecto micrografico de aco meio doce moldado com fésfo- to elevado. 0 fendmeno que ocorre quando o fésforo se situa em torno de 0,4% ¢ noci- Vo, pois 0 eutético fosforoso funde a temperatura pouco acima de 1000°C, o que pode ocasionar a ruptura ou esboroamento do ago se este for deformado a quente. Como, entretanto, teores altos de fésforo nos agos ndo séo comuns, as estruturas do tipo apre- sentado na figura n° 97 sao relativamente raras. Quanto aos outtos elementos, enxofre, manganés, silicio e aluminio, eles so os principais responsdveis pela formacao das inclusdes ndo-metélicas. Estas, de acordo com sua origem, podem ser classificadas em dois grupos princi- pais. “endégenas", as quais so devidas a reagdes que se desenrolam durante a ela- boragao do ago ou durante sua solidificagao e geradas pela precipitagdo do enxofre e do oxigénio sob a forma de sulfetos, éxidos, silicatos e aluminatos; — “exégenas”, derivadas de fontes externas, como de escérias, corrosdo ou ero- so dos refratérios das paredes do forno e canais de vazamento, metais e ligas de dis- solugo dificil no banho metélico etc. Essas inclusées exégenas sao geralmente consti- tuidas de silicatos, aluminatos e dxidos varios e se caracterizam por dimensdes maio- res, forma irregular e constituig&o complexa. E importante assinalar que o comportamento das inclusdes sob 0 ponto de vista de deformabilidade, quando 0 aco é sujeito 4 conformacao mecénica, pode alterar o seu caracteristico de maior ou menor nocividade. De fato, de inicio as inclusdes podem ser imaginadas como particulas estéricas ou globulares de pequenas dimensdes. No processo de conformacao mecénica, algu- mas delas se alongam na dire¢ao da laminagao, por exemplo, enquanto outras se man-| tém intdtas ou se fragmentam em particulas menores™. | Silicatos e sulfetos, por exemple, formam estrias alongadas. Contudo, ao passo| que as estrias de sulfetos tem extremidades com raios apreciaveis, as de silicatos apre- sentam nas extremidades arestas vivas, mais favordveis 4 concentracao de tensdes 6 AGOS-CARBONO E AGOS LIGA 163 Fig. 97 — Aspecto microgratico de aco meia doce moldado com alto teor de fésforo natado pela presenga de um eutético fdsforoso, existente quando o teor de fésforo se situa em toro de 0,4%. Nota-se no eutético incluso de MnS. Ataque: reativo de nital. Aumento: 700 vezes. iniciagSo de micro-fissuras. O aluminio, por outro lado, fragmenta-se em particulas diminutas, com menor pre- juizo parao aga * Como ja se mencionou, as inclusdes nos acos séo de varias naturezas e sdo devi- das a uma série de causas, todas elas ligadas a reagdes que ocorrem no aco liquide, durante seu processo de fabricacao. As causas mais importantes sao”, — Precipitacdo, durante o proceso de solidificagao do aco, de éxidos e sulfetos cuja solubilidade no ago liquido ou sdlido diminui 4 medida que cai a temperatura; — separacdo deficiente dos produtos de oxidagao e desulfuracdo resultantes da adigao de desoxidantes e desulfurantes; ~ formacdo de escérias nos fornos e nas panelas de vazamento; — arrastamento para o metal liquido de produtos de erosdo € corroséo do mate- rial refratério das paredes dos fornos ou dos canais de vazamento; — adigdo de produtos como ferro-ligas ou aditivos de fundicao, mais dificeis de se dissolverem no banho metalico. Em resuma as inclusdes formadas em fungdo desses varios fenémenos quimicos @ mecénicos correspondem a compostos quimicos coma éxidos diversos, sulfetos, catos @ aluminatos. A quantidade de inclusdes é muito grande; admite-se que uma tonelada de ago- carbono comum possua cerca de 10” a 10” inclusdes somente de éxidos, sendo que a maior quantidade, cerca de 98%, tém dimensées inferiores a 0,2 micron®”. Des- se modo, somente 1 a 2% so visiveis ao microscépio. As inclusdes de sulfetos sao, em quantidade, da mesma ordem de grandeza. No caso de “acos efervescentes”, as inclusdes de dxidos podem atingir dimen- ‘sdes superiores a 30 microns na camada superficial do ago. Esses éxidos sao princi- palmente FeO, MnO, Al,0; ¢ SiO, e o seu agrupamento junto a superficie pode provacar defeitos superficiais nos laminados a frio. Outros tipos de inclusdes nes acos efervescentes so os sulfetos FeS e MnS que se localizam nas regides de maior segregacao e, portanto, sdo igualmente prejudiciais. O sulfeto de ferro possui um ponto de fusdo muito baixo, em relacdo ao do aco lo FeS solidifica em torno de 1000°C), de modo que sua presenca nos processos de conformagao mecanica a quente, realizados normalmente acima de 1000°C, confere a0 aco a chamada “fragilidade a quente’, defeito que deve ser evitado para permitir uma conformagdo mecénica correta. Nessas condi¢ées, faz-se necesséria a adi¢do de man- ganés, pois 0 enxofre tem maior afinidade por esse elemento do que pelo ferro e o sul- feto de manganés formado, cujo ponto de fusdo é em torno de 1600°C™”, elimina a fragilidade a quente. Além disso, o Mn forma-se em particulas diminutas, relativamen- te plasticas, deformando-se e amoldando-se no sentido em que o material é trabalhado. Sugere-se que a rela¢do MnS seja superior a 4 para garantir a formacdo de MnS. Contudo, como as outras inclus6es, 0 MnS pode ser prejudicial, principalmente nos agos efervescentes e semi-acalmados onde o teor de oxigénio é mais elevado que ‘© normal. Pode-se ter, entdo, a formagao de inclusdes duplex, caracterizadas por se- rem constituidas de silicatos monofésicos ou dxidos multifasicos possuindo uma ca- mada de sulfeto que pode atingir dimensdes maiores que 100 microns. Se tais inclu- sGes se formarem nas proximidades de bolhas, elas dao origem ao defeito chamado “pontos pretos”) 0 aco 6, em conseqiiencia, prejudicado quando submetido a opera- do de dobramento e estiramento a frio. A substituigao do silicio pelo aluminio na fase de desoxidacao reduz 0 efeito no vo dos pontos pretos, pois seu nimero e dimensées ficam diminuidos. De qualquer modo, pela aco relativamente prejudicial do enxofre, procura-se man- té-lo até 0,05% ou pouco mais nos acos-carbono comuns e até 0,025% nos acos. especiais. Excetua-se 0 caso dos acos de usinagem facil, onde a presen¢a de MnS em quan- tidades maiores — exigindo pois maiores porcentagens de enxofre e manganés nesses cos, interrompem a continuidade da matriz ferritica que, como se sabe, é muito plasti- ca; obtem-se, assim, condigées de usinagem mais rapida, com menor poténcia e me- thor acabamento superficial. O efeito do enxofre sobre as propriedades mecanicas dos acos 6 minimo, quando © teor de carbono é muito baixo™”, tornando-se mais sensivel, no sentido negativo, quan- do aumenta a quantidade de carbono. As propriedades mais afetadas sdo a resisténcia trac, a ductilidade e a tenacidade. Cumpre ressattar, entretanto, que até o limite de 0,1% de enxofre, essa influéncia nao é téo pronunciada como as vezes se admite. O manganés, além de atuar como agente desulfurante, atua do mesmo modo que © silicio e © aluminio, como’elemento desoxidante. De fato, o manganés, ao reagir com © oxigénio, forma o composto sélido MnO, de preferéncia ao CO ou CO:, evitando as- sim 0 desprendimento de bolhas. O MnO néo exerce influéncia de maior vulto. O manganés que no se combinou com o enxofre ou com o oxigénio pode atuar de duas maneiras: quando 0 teor de carbono ¢ baixo, ele se dissolve na ferrita, aumen- tando sua dureza e resisténcia mecanica; com teor de carbono mais elevado, admite-se que se forme o composto Mn3C” que se associaria com o Fe3C, aumentando ainda mais a dureza e a resisténcia do aco. Normalmente, o manganés é especificado em teo- res que variam de 0,23% a 0,90%, podendo em certos casos (agos de usinagem facil) apresentar valores mais elevados. Em teores acima de 1%, portanto, jé deve ser consi- derada sua influéncia no sentido de conferir aos agos caractenisticas especiais. O silicio, responsdvel pela formacdo dos silicatos, varia nos agos comuns de 0,05 a 0,30%. Dissolve-se na ferrita do mesmo modo que o fésforo, sem, contudo, afetar apreciavelmente a sua ductilidade, embora aumente ligeiramente a sua dureza e a sua resisténcia mecénica. A funcdo principal do silicio ¢ a de agente desoxidante, isto é quando adicionado ao aco liquide, combina-se com 0 oxigénio, originando compostos sélidos e evitando a combina¢ao do oxigénio com o carbono, 0 que provocaria o des- preendimento de CO ou CO2 com a resultante formagdo de bolhas. Entretanto, ndo se ine AGOS-CARBONO E AGOS LIGA 165 deve esquecer a aco das inclusées de silicatos. 0 aluminia, adicionado em principio como desoxidante, age nesse sentido mais eficientemente que 0 silicio e o manganés, formando com o oxigénio inclusdes em par- ticulas diminutas, com menor efeito nocivo para 0 ago. O aluminio atua, ainda, como elemento controlador do crescimento de gros nos acos. O “hidrogénio”, de um modo geral, aparece em teores de 0,001 a 0,0001%"" A sua presenca produz certa fragilidade no material. 0 “nitrogénio”, que se dissolve na ferrita, produz nos a¢os de baixo carbono 0 fenémeno de. endurecimento por precipitacdo, visto que sua solubilidade na ferrita é, & temperatura ambiente, de somente 0,001%'"”, aumentando a pouco mais de 0,02% a 425°C. Desse modo, quando o seu teor estiver acima de 0,01% poderé causar aque- le fenémeno. Esse elemento, precipitado em tais acos, sob certas condigées, pode ser notado ao microscépio como aguihas de nitreto de ferro. 0 “oxigénio” forma uma variedade de éxidos liquidos ou gasosos, quando 0 aco esta fundido. Quando 0 a¢o solidifica, alguns desses dxidos permanecem na forma de bolhas; outros, isolados ou combinados com outros éxidos formam compostos resul- tando, como jé se viu, em inclusdes ndo-metélicas. Um outro elemento que pode estar presente nos'acos é 0 “estanho”, devido a0 emprego de sucata estanhada. O estanho pode tornar o ago suscetivel a fragilidade a quente e a fragiidade de revenido. Outros elementos residuais que podem ser encontrados nos acos sao certos ele- mentos de liga existentes nas matérias primas empregadas na fabricacdo do aco. Entao esse caso, 0 titdnio, o vanadio, 0 zircénio, 0 cromo e o cobre. Como elementos resi- duais, pouco afetam, isoladamente, as propriedades daquelas ligas. Contudo, como a maioria desses elementos aumenta a endurecibilidade dos acos, seu efeito adicionado pode ter consequéncias indesejaveis, principalmente quando a ductilidade é fator criti- co, como em aplicagdes de estampagem profunda. Por isso, os fabricantes de aco de- vem ter 0 cuidado de reduzir ao minimo a quantidade desses elementos nos a¢os co- muns, mediante uma selecdo cuidadosa da sucata utilizada. Para concluir, no que se refere a impurezas e inclusdes ndo-metilicas, pode-se ti- rar as seguintes conclusées; — oenxofte, 0 fésforo, 0 oxigénio, o hidrogénio so elementos considerados inde- sejaveis sob 0 ponto de vista de qualidade do aco: o fosforo pela sua aco como ele- mento que pode acarretar a “fragilidade a frio”; o enxofre pelos sulfetos que forma, so- bretudo 0 de ferro que pode acarretar a “fragilidade a quente”; 0 oxigénio, pelas inclu- ses que forma eo hidrogénio pela fragilidade que pode conferir ao aco. Esses elemen- tos ndo podem ser totalmente eliminados, nas condi¢des normais de fabricagdo dos pro- dutos siderurgicos, mas devem ser mantidos dentro de faixas de teor que néo ultrapas- sem os limites de influéncia prejudicial aqueles produtos; — o manganés, o silicio e o aluminio, os trés agindo como desoxidantes e o man. ganés também como desulfurante so elementos de um lado benéficos, mas de outro lado prejudiciais pelas inclusGes que formam de sulfetos, silicatos e aluminatos; — 0 conceito “aco limpo" ou seja isento de inclusdes ¢ relativo, porque, sob o ponto de vista técnico é impossivel produzir-se um aco totalmente isento de inclusdes; além disso, algumas delas — as micro-inclusGes — so em geral necessérias. O impor- tante é a identificagao dessas inclusées sob os pontos de vista de composi¢ao, quanti- dade e dimensdes e otimizar os processos de fabricacdo dos produtos sidertirgicos, de modo a que elas afetem o menos possivel as propriedades basicas daqueles produtos. As inclusdes mais prejudiciais séo as macro-inclusées: frequentemente utiliza-se como fronteira que separa as micro das macro-inclus6es a dimensdo de inclusdo de 5 a 100 microns®”, — outro fator importante a considerar é a deformabilidade das inclus6es””: os ‘éxidos FeO, MnO e (FaMn)O apresentam alta deformabilidade 4 temperatura ambiente e perdem gradualmente esse caracteristico na faixa de temperaturas de 400° a 800°C; 166 AGOS E FERROS FUNDIDOS © Al,O; e aluminatos de célcio séo indeforméveis em toda a faixa de temperaturas de fabricagao do aco, assim como os dxidos dupios tipos “spinel” (de aluminio e magné- sio, por exemplo}; os silicatos sdo indeformaveis a temperatura ambiente, mas depen- dendo de sua composicao, tornam-se altamente deformaveis na faixa de 800° a 1300°C, a qual corresponde a da maiotia das operacdes de conforma¢ao mecénica dos acos. Por esse motivo, essas inclusdes sdo de grande importéncia para as propriedades finais desses produtos; o MnS é altamente deformdvel até temperaturas em torno de 1000°C, a partir da qual sua deformabilidade diminui graduaimente. — finalmente, a necessidade mundial crescente de aos de melhor qualidade en- volve uma série de providéncias por parte dos produtores, as quais devem abranger to- do 0 ciclo de produgdo do aco, desde as praticas do refino do aco liquido até sua trans- feréncia aos moldes. Entre as técnicas que esto sendo adotadas para reduzir o efeito prejudicial das inclusdes nao metdlicas pode-se citar as seguintes: tratamento a vacuo do aco na panela, de modo a minimizar os seus niveis de oxidaco; a injecdo na panela, pratica relativamente recente, a qual, se realizada sob condigdes de perfeito controle, pode significar uma importante contribuicdo no que se refere A remogdo do enxofre, modificacdo das inclusdes endégenas e reducdo do volume total de inclusées; selecdo correta dos revestimentos refratdrios de modo a reduzir as inclusGes exégenas; preven- 0 para impedir a transferéncia de escérias do forno e da panela as fases subsequen- tes de processamento do aco; projeto adequado das panelas intermediétias, incluindo © seu revestimento e assim em seguida. € claro que todas essas priticas significam um aumento de custo de producdo, fato esse sem duivida compensado pela melhor qua- lidade do ago produzido. 3. Propriedades mecénicas dos agos-carbono _— As propriedades mecénicas dos acos-carbono sao afetadas, em principio, pelos dois fatores seguintes: = composi¢ao quimica; — microestrutura. No que se refere & composi¢ao quimica, nos aos esfriados normalmente, isto é, em condi¢ées tais que se processe transformacao total da austenita, o elemento predo- minante é 0 carbono que, como se viu, 4 medida que aumenta, methora as proprieda- des relativas a resisténcia mecénica, isto 0 limite de escoament, o limite da resistén- cia a tragdo e a dureza e piora as propriedades felativas a ductilidade e a tenacidade, isto ¢, 0 alongamento, a estricgdo e a resisténcia ao choque. Quanto aos elementos re- siduais, a sua influéncia j4 foi comentada. No que se refere & microestrutura, esta é inicialmente afetada pela composicgo quimica, pois sabe-se que os constituintes presentes sdo ferrita e perlita, ou perlita e cementita ou somente perlita, conforme se trate de aco hipoeutetdide, hipereutetdide ou eutetdide. Por outro lado, a microestrutura dos acos depende também dos seguintes fatores: — estado ou condi¢o do aro, sob 0 ponto de vista de fabricacdo: se fundido, trabalhado a quente (laminado, forjado, etc.) ou trabalhado @ trio {encruado); = tamanho de gréo austenitico; — velocidade de estriamento; No estado fundido 0 a¢o apresenta granulacao grosseira, do tipo dendritico, visto que a austenita se forma a altas temperaturas @ 0 esfriamento do interior dos moldes & muito lento (fig. 98). No estado trabalhado a quente, em que a maioria dos agos é utilizada (laminados, forjados, etc), como as operacées de conformagao a quente sao realizadas a tempera- turas em que 0 ago se apresenta no estado austenitico, verificam-se as seguintes con- seqiiéncias: AGOS-CARBONO E AGOS LIGA. 167 — homogeneizacdo apreciével da estrutura, pela tendéncia a eliminar ou reorientar as inclusdes e segregagdes que ocorrem durante a solidificacdo do metal no interior dos moldes; — destruigdo da estrutura dendritica; — recristalizago, com acentuada influéncia sobre o tamanho do gro, que, por sua vez, depen- de das temperaturas finais de deformaco: geralmente, o trabalho a quente produz uma redu- ¢80 do tamanho de gro do aco. Fig. 98 — Aspecto comum de aco moldado, no estado bruto de fusdo. Parte da estrutura € acicular e parte é rendilhada. £m conseqiéncia, as propriedades mecanicas finais do aco séo melhoradas sen- sivelmente, em relacdo as do material fundido. No estado encruado, caracteristico de alguns dos mais importantes produtos si- dertirgicos, como fios, fitas, chapas, etc., os efeitos mais importantes sao os seguintes: — aumento da resisténcia mecénica; = aumento da dure — diminuigo da ductilidade, representada por um decréscimo de alongamento e estrigdo. A figura 99 mostra o aspecto microgréfico de um ago meio duro, encruado por martelamento a frio. oo efeito do encruamento sobre a ductilidade do aco pode ser verificado na figura 100, A figura 101 mostra 0 efeito do encruamento sobre as curvas tensdo-de-for- magao de ago de baixo carbono. Finalmente, a Tabela 20 da alguns valores de p-opriedades mecanicas de aco com 0,14% de carbono, para diversos estados de fabricacdo. No que se refere ao tamanho de gréo austenitico, a Tabela 3 apresentada no Ca- pitulo Il permite avaliar 0 seu efeito em alguns dos mais importantes caracteristicos dos acos. Finalmente, 0 fator velocidade de estriamento jé foi abordado no Capitulo Il. Viu-se, entiio, como, modificando-se essa velocidade a partit do estado austenitico, originam-se .as diversas estruturas tipicas dos acos e que determinam as suas propriedades finais. 168 AGOS E FERROS FUNDIDOS. Fig. 99 — Aspecto microgréfico de ago duro encruado por martelamento a frio. ‘Ataque: reativo de nital. Aumento: 200 vezes. TABELA 20 Efeito do encruamento obtido por laminagao a frio sobre as propriedades de tragdo de aco de — Encruado | Encruado Propriedade eerate, | com 30% de | com 60% de Fedugio tedugao Limite de proporcionalidade kgfimm? (MPa) 19,0 (190) | 11.0(110) | 7.0 (70) Limite de escoamento kgfimm* (MPa) 24,0 (240) | 52,5 (515) | 67.5 (665) Limite de resisténcia a tracdo, kgfimm? (MPa) 41,0 (400) | 56,5 (555) | 68,5 (675) Alongamento em 4”, % 4.7 22.0 10.5 Estricedo, % 658 58,0 43,0 4. Importéncia e limitacées dos acos-carbono — Os agos-carbono constituem 0 mais importante grupo de materiais utilizados na engenharia e na industria. De fato, as propriedades mecénicas desses a¢os simplesmente ao carbono, sem qualquer elemen- to de liga, e na maioria dos casos também sem qualquer tratamento térmico, séo sufi- cientes para atender 8 maioria das aplicagdes da pratica. Como se sabe, os estados nor- mais de utilizacéo desses materiais so 0 fundido e 0 trabalhado. As pecas fundidas geralmente requerem um tratamento térmico de recozimento ou normalizagao para ali- vio das tensées originadas na solidificagdo e para homogeneizagao da microestrutura. 0 ago trabalhado por forjamento, laminagao, estiramente, trefilagdo, etc., é utilizado di- retamente na forma de perfis obtidos através desses processos, sem necessidade de tratamentos térmicos complexos, a ndo ser nos casos de trabalho final a frio, quando € necessério eliminar o efeito do encruamento. Por outro lado, em sec¢des pequenas, os a¢os-carbono podem, dentro de certos limites, ser esfriados a velocidades que sejam suficientes para produzir qualquer uma das possiveis distribuigées de cementita na ferrita, inclusive a formacdo da martensita. Sabe-se que, para cada tipo particular de distribuigdo de carbonetos, o teor de carbono AGOS-CARBONO E ACOS LIGA JO 28 + 26 24 22 20 we 4 Morngamerto err 10 8 + O 10 20 30 40 50 60 70 50 9 100 LICrUanelyo, PE ESEl todo pelo reducio ae grea 170 estirarmerso, Jo Fig. 100 — Efeito do encruamento sobre @ ductilidade do aco. s 8 e FwVwy Carga unttivia, em haf mm? "0 5 0 2030 40 5060 JO 8 992 Redugio pelo encrvaments, Fig. 101 — Influéncia do encruamento sobre as curvas tensBo-deformacao em aco de baixo carbono. 170 ACOS E FERROS FUNDIDOS € 0 principal fator de influéncia na dureza e na resisténcia mecanica do ago. Manten- do-se constante o teor de carbono, a resisténcia aumenta 4 medida que aumenta a fi- nura da disperséo de carbonetos, ao passo que a ductilidade e propriedades semelhan- tes diminuem. Para a mesma dureza, por outro lado, a dispersao do tipo esferoidal pos- sui maior tenacidade do que a estrutura lamelar. Em resumo, pequenas secgdes de aco-carbono podem de fato ser submetidas a tratamentos térmicos tais que possam produzir excelentes propriedades & temperatura ambiente. A Tabela 21°" ilustra bem esse fato. TABELA 21 Efeito do tipo de estrutur sobre as propriedades de tragdo do aco ‘Ago com 1% de carbono s Ferro comer- Temperado Propriedade ciaimente | Peritica | Coalescido e puro Revenido Limite de escoamento, kgf/mm? (MPa) | 18,2 (182) | 59,5 (586}~| 28,0 (280) = Limite de resisténcia & tragdo, kgf/mm? (MPa) 29,4 (284) | 105,0 (1030)| 54,6 (536) |182,0 (1785) Alongamento, % 40-44 10 31 33 Estricedo, % 70-75 1245 87 45 Dureza Brinell 80-85 300 156 540 Nota-se, pelo exame das duas primeiras colunas, que somente a presenca do car- bono jé € suficiente para dar ao aco, laminado por exemplo, maior resisténcia, com pre- juizo, entretanto, da ductilidade. A terceira coluna indica a restauracao de certa ductili- dade pela produgdo da estrutura esferoidita. A ultima coluna indica que uma estrutura intermediéria entre a dura martensita e a mais mole e mais grosseira esferoidal permite obter uma resisténcia muito elevada com razodvel ductilidade. Em resumo: A resisténcia a tragdo dos acos-carbono eleva-se com o teor de carbono até 0,7/0,8% de car- bono; 0 limite de escoamento mostra uma alteracdo menos acentuada e limita-se a 0,6/0,7%; © alongamento e a resisténcia ao choque decrescem acentuadamente. Pode-se dizer, de um modo geral, que a resistencia atinge valor maximo para cerca de 0,8% de carbono, para em seguida decrescer ligeiramente, 20 passo que a ductilidade decresce sempre e mais rapidamente para 08 teores mais altos de carbono. Como se viu, as propriedades mecénicas dos acos estéo intimamente relacionadas com os vé- rios constituintes estruturais, dos quais nao se conhece, na realidade, as verdadeiras caracteris- ticas, com a devida precisa De acordo com SAVEUR'™, as propriedades mecanicas dos vérios constituintes podem ser re- sumidas de acordo com 0 que mostra a Tabela 22. ‘TABELA 22 Propriedades mecanicas dos microconstituintes dos aos Limite de resis- i te Alongamento em. Dure: Poder endurecedor Constiuinte | téncia & trac3o fe 7 katimnen? (MPa) 2", % Brinett {com a témpera) Ferrita 35 (340) cerca de 40 90 nenhum Perlita 85 (830) cerca de 10 250/300 maximo Cementita 3 (30) 0 650 nenhum E precise lembrar, entretanto, que a8 propriedades da petite v de finura da sua estrutura. 7 yrandemente com o grau AGOS-CARBONO E AGOS LIGA m Ainda segundo SAVEUR, uma vez admitido que as propriedades dos constituintes do ago sejam aquelas, pode-se prever as propriedades de qualquer tipo de a¢o-carbono restriado normaimen- te, desde que se conhega a sua estrutura e admitindo ainda que essas propriedades dependam somente dsa quantidades relativas dos diversos constituintes. Assim, por exemplo, um aco que apresente 50% de ferrita e 50% de perlita deve ter propriedades que correspondem 4 média das propriedades daqueles dois constituintes. E evidente que os a¢os-carbono apresentam limitacgdes, sobretudo quando se de- sejam propriedades especiais de resisténcia a corrosdo, resisténcia ao calor, resisténcia a0 desgaste, caracteristicos elétricos ou magnéticos etc. Nesses casos, recorre-se aos agos-liga, cuja importancia cresce dia a di 5. Acos liga; efeitos dos elementos de liga; propriedades mecénicas — A introdu- go de outros elementos de liga nos acos-carbono é feita quando se deseja um ou di- versos dos seguintes efeitos: 4) aumentar a dureza e a resisténcia mecénica; b) conferir resisténcia uniforme através de toda a secgdo em pecas de grandes dimensdes; c} diminuir 0 peso (conseqiiéncia do aumento da resisténcia) de modo a reduzir a inércia de uma parte em movimento ou reduzir a carga-morta em um veiculo ou numa estrutul 4) conferir resisténcia & corrosao; e) aumentar @ resistencia a0 calor; ) aumentar a resisténcia a0 desgaste; g) aumentar 2 capacidade de corte; h} methorar as propriedades elétricas e magnéticas. Os trés primeiros requisitos séo alcangados porque os elementos de liga, como se viu, aumentam a resisténcia da ferrita e formam ainda outros carbonetos, além do FesC, contribuindo para a melhora da resisténcia do aco, sobretudo em sec¢ées que, se se tratasse de acos-carbono comum, dificilmente teriam a resisténcia alterada. Geralmente esse aumento da resisténcia é conseguido pela adi¢éo de um ou va- rios elementos de liga em teores relativamente baixos, nao ultrapassando sua soma o valor de 5%. Nessas condicées, os principios fundamentais dos tratamentos térmicos permanecem porque, ainda que a presenga de novos elementos de liga obrigue a um ajuste nas temperaturas dos tratamentos, a transformagdo da austenita e as estruturas resultantes so as mesmas que ocorrem nos acos-carbonos. A obtengao dos outros caracteristicos, de d a h, requer a introdugdo dos elemen- tos de liga em teores mais elevados, produzindo-se alteragdes mais profundas na ferri- ta, além de resultarem carbonetos mais complexos. Neste caso, os tratamentos térmi- cos também devem ser mudados, para facilitar muitas vezes a formagdo dos carbone- tos especiais. Esses agos de alto teor em liga séo mais dificeis de fabricar e tratar termicamente de modo que s&0 muito dispendiosos, mesmo porque alguns dos elementos de liga uti- lizados sao relativamente raros. De quantidade total de a¢os-liga produzida, cerca de 60% pertence a série 86XX, com trés elementos de liga (Ni, Cr e Mo} em baixos teores. 5.1, Tendéncia da distribuigao dos elementos de liga nos acos recozidos — Como se sabe, nos agos recozidos, os dois microconstituintes essenciais sao: — ferrita — isto 6, ferro alfa contendo elementos dissolvidos; — carboneto — essencialmente a cementita ou carboneto de ferro contendo elementos dissol- vidos ou carbonetos especiais contendo ferro @ elementos de liga. m AGOS E FERROS FUNDIDOS Os acos contém ainda pequenas quantidades de materiais no metdlicos, na for- ma de particulas diversas. Essas inclusGes, nos acos comerciais, so geralmente parti- culas de certas substancias mineralégicas, como éxidos complexos, sulfetos, nitretos, silicatos etc. Convém lembrar, por outro lado, que tais dispersdes finamente divididas servem para evitar excessivo crescimento de gréo. Um quarto tipo de constituinte, presente em certas circunsténcias, ¢ representa- do por compostos intermetdlicos especiais. Nos acos, entretanto, tais compostos sao muito raros. Finalmente, um quinto constituinte presente pode ser representado pelo proprio elemento de liga adicionado; por exemplo: cobre ou chumbo. Lembrados esses fatos, deve-se fazer referéncia a Tabela 2, apresentada no Capi- tulo Ill, a qual, numa primeira aproximacao, mostra a tendéncia geral de distribuigdo de varios elementos de liga nos agos esfriados lentamente. Os elementos indicados, com exce¢ao do cobre e do chumbo tendem, na ausén- cia do carbono, a se dissolver na ferrita, a ndo ser pequenas quantidades que podem aparecer como inclusées néo-metdlicas. Por outro lado, a tendéncia formadora de carbonetos desses elementos s6 se re- velaré na presenga de teores aprecidveis de carbono. Dos elementos que se consideram em definitivo como formadores de carbonetos, © manganés ¢ talvez, 0 mais fraco. A tendéncia geral nesse sentido se manifesta mais, ou menos na seguinte ordem de intensidade crescente: Mn, Cr, Mo, W, Ta, V, Nb e Ti. Os que apresentam menor tendéncia do que o ferro para combinar-se com o carbono formando carbonetos sdo: Si, Al, Cu, Ni, Coe talvez Zr. A posi¢do do Mo é considerada incerta. 5.2. Efeito dos elementos de liga sobre a ferrita — A figura 102°” mostra a aco relativa de diversos elementos de liga quando dissolvidos na ferrita, no sentido de au- mentar a sua dureza (e, portanto, a resisténcia mecénica) antes mesmo de qualquer tra- tamento térmico, Esse aumento de resisténcia nao é acompanhado por sensivel decrés- cimo da ductilidade, como acontece quando se verifica aumento de dureza ou resistén- cia devido a modificages estruturais. — Ffeito endurecedor dos elementos de liga na presenca de carbonetos ~ A figura 103" mostra comparativamente 0 efeito endurecedor na ferrita do manganés e do cromo em ligas isentas de carbono e com 0,1% deste elemento. As faixas para as ligas contendo 0,1% de carbono indi- cam que os dados experimentais que levaram & determinagéo das curvas do séo suficientes i &| = 2 o , lereca Brivelt szesTsT TRS oe e & o © @ 16 16 8 GO a2 26 Llemente oe liga, Xo Fig. 102 — Acdo relativa de alguns elementos de liga que se dissolvem na fertita, no sentido de aumentar sua dureza. AGOS-CARBONO E ACOS LIGA 173 0 200 TI ate ag| | xem ae] 0 } “0 | a Kec] § 120 100 Ga e | « Or BF 4 GF 6 F BF tet he Lemento de liga % Fig. 103 — Curvas mostrando 0 aumerito da dureza causado pela presenca de cromo e de manganés em ferro puro e em aco com 0.1% C'{faixa). Pela disposicao das linhas e das faixas, verifica-se que 0 efeito endurecedor do cromo e do manganés deve também ser atribuido & solugdo desses elementos na ferrita ‘nem t&o precisos quanto seria desejado. De qualquer modo, a figura confirma o efeito endure- cedor dos elementos indicados, devido a sua solucdo na ferrita, como ja foi explicado. 5.3. Efeito dos elementos de liga nos carbonetos — O segundo dos constituintes bésicos dos acos esfriados lentamente € 0 carboneto; é conhecida a influéncia sobre 88 propriedades dos acos da quantidade, assim como da forma e da finura da dispersdo dag.particulas de carboneto. ~4:° Por outro lado, sendo todos os carbonetos encontrados nos acos muito frageis “Prelativamente muito duros, sua influéncia sobre as propriedades de trago dos acos, obtidos normalmente, é idéntica, independentemente das suas composicées espectfi- ‘cas, desde, é claro, que suas particulas apresentem as mesmas condigées de disperso. Entretanto, propriedades especiais podem ser conferidas aos acos pela presenca de carbonetos especiais. De qualquer modo, sob 0 ponto de vista de propriedades mecanicas, sobretudo a8 relativas a tragdo, as mudangas de composicao dos carbonetos pouco interesse apre- sentam. A fase carboneto é pouco modificada pelo niquel, silicio ou aluminio, a nao ser ‘que a grafitizagdo seja acelerada pela sua presenca, desde que haja ou ndo pequena ‘Porcentagem de elementos formadores de carbonetos'"*”. ~ Dos elementos conhecidos como formadores de carbonetos, com exce¢ao do man- ‘Bénés, cuja tendéncia formadora de carbonetos é apenas ligeiamente superior a do fer- fo, somente uma pequena quantidade daqueles elementos citados 6 aceita pela cemen- tita ou pelos cristais de FesC, formando-se assim novos carbonetos, relativamente com- plexos, tais como (FeCr)sC, contendo até cerca de 15% de Cr, (CrFe};Cx, contendo um iminimo de 36% de Cr, (FeMolsC, (FeWisC, (VFelsC etc. Em resumo, de um modo geral, as particulas de carbonetos, quando sua disper- ‘so for semelhante, atuam no mesmo sentido, diferenciando-se apenas na resisténcia & tragBo, assim como nas propriedades especiais que podem conferir aos acos, depen- dendo da sua composi¢ao quimica. 5.4. Efeito dos elementos de liga na forma da inclusdes nao-metdlicas — Geral- inclusdes ndo-metilicas de grandes dimensées so indesejaveis, ao passo que ses muito finas podem ser benéficas ou prejudiciais. O nitreto de aluminio, por oe 174 AGOS E FERROS FUNDIDOS exemplo, exerce grande e importante controle sobre 0 crescimento da austenita. O maior interesse nas inclusées ndo-metélicas relaciona-se com o seu efeito no sentido de me- thorar a usinabilidade dos a¢os recozidos, como, por exemplo, através de criteriosa pre- senca do sulfeto de manganés na forma de pequenas tiras alongadas. A grafita & igualmente considerada uma forma de inclusdo néo-metélica nos acos'"”, as vezes desejada para conferir-certas e particulares propriedades em alguns tipos de ago de alto carbone. 5.5. Efeito dos elementos de liga na forma de compostos intermetdlicos — Consi- derando-se os nitretos como compostos intermetdlicos, eles constituirao 0 exemplo mais importante da formagdo de tais compostos. De fato, certs a¢os ao aluminio para nitre- tagdo apresentam a formagao de uma dispersao de particulas duras de grande finura, constituidas de AIN, levando a notével endurecimento do aco. 5.6. Efeito dos elementos de liga na forma de particulas metélicas dispersas — Os dois exemplos importantes referem-se ao cobre e a0 chumbo. O cobre, que é soltivel em apreciéveis propor¢ées no ferro gama, dissolve-se na ferrita, a 810°C, em porcenta- yem inferior a 2% e a 593°C sua solubilidade na ferrita é provavelmente inferior a 0,3%"", Assim sendo, 0 cobre dissolvido a altas temperaturas, 6 rejeitado na forma de particulas quase que inteiramente puras, a temperaturas inferiores, ocasionando, em agos com 1,5% a 1,75% de cobre, endurecimento por precipitacao. O chumbo, em acos com cerca de 0,25% desse elemento, produz 0 conhecido efeito de aumentar a sua usinabilidade, devido ao fato de diminuir a formacdo de cavacos alongados. 6. Efeito dos elementos de liga na formagao da austenita e na sua transformacéo — Até agora foram considerados os efeitos da adi¢ao dos elementos de liga nos carac- teristicos mecanicos dos agos néo-endurecidos, ou seja, no estado recozido ou norma- lizado, 8 temperatura ambiente. Antes de ser feita uma recapitulagao geral desses efei- tos, seré conveniente abordar ou, em alguns casos, recordar a ado de tais elementos na austenita, na formagao da martensita e no revenido. No que se refere & formacdo da austenita, o aquecimento dos acos a temperatura de austenitizagao retém em soluco na austenita todos os elementos de liga que esta- vam previamente dissolvidos na ferrita, como é ébvio, alterando as propriedades da aus- tenita muito pouco, a nao ser tornando-a um pouco mais dura ou resistente a deforma- go. Sua influéncia sobre o tamanho de grdos faz-se sentir principalmente no sentido de que elevam ligeiramente a temperatura de crescimento do gréa. O tamanho de gréo depende mais dos constituintes que no se dissolvem na austenita, como as inclusdes no-metélicas, as quais forcam acentuadamente a elevacdo da temperatura de cresci- mento de gréo da austenita, o que, em outras palavras, significa que tais inclusdes po- dem evitar 0 crescimento de grao. E 0 caso de inclusées de nitreto de aluminio que pre- vinem o crescimento de grao até temperaturas bem superiores a 925°C e, as vezes, da ordem de 1100°C, As inclusdes de elevado teor de silicio j4 ndo atuam da mes- ma maneira, pois dissolvem-se em parte na austenita. Os carbonetos, no caso de aco de composi¢do até médio teor de carbono, tam- bém se dissolvem totalmente na austenita. Entretanto, para acos de alto teor de carbo- No ou com elementos de liga que formam carbonetos, a solucdo destes ndo é total, sendo, em alguns casos, como nos acos répidos, impossivel. Nessas condi¢des, o efei- to mais importante 6 no sentido de impedir 0 crescimento de gro. De qualquer modo, as propriedades finais dos aos séo grandemente afetadas pela proporcdo da fase car- boneto na austenita. Finalmente, lembre-se as figuras 14 e 15 apresentadas no Capitulo |, relativas influéncia dos elementos de liga sobre o teor de carbono e a temperatura do eutetdide e sobre 0 campo austenitico. A figura 14 mostra que alguns elementos elevam a tem- peratura de formacdo da austenita e outra a abaixam; entretanto, nenhum elemento de liga passa a composicao do eutetdide a valores mais elevados. A figura 15 mostra os AQOS-CARBONO E ACOS.LIGA 175 efeitos do manganés, cromo, molibdénio e silicio sobre a faixa de existéncia de austeni- ta. Como o manganés, atuam o niquel e 0 cobalto; 0 cromo praticamente elimina 0 campo austenitico com teores da ordem de 20%; do mesmo modo atua 0 molibdénio, que aci- ma de cerca de 8,2% elimina o campo austenitico'””; 0 tungsténio igualmente, em teores de cerca de 12%, impede completa austenitizacdo. O silicio, apesar de ndo ser elemen- to formador de carboneto como o tungsténio e o molibdénio, também restringe o cam- po austenitico, até que acima de cerca de 8,5% nao ha possibilidade de ter-se austenita como tinico constituinte. Finalmente, 0 efeito do titanio no campo austenitico no senti- do de restringi-lo paulatinamente é ainda mais acentuado, a ponto de um teor de 1% desse elemento praticamente eliminar a fase austenitica. 7. Efeito dos elementos de liga na faixa de temperaturas de formagao da marten- sita — Esses efeitos podem ser considerados sob dois pontos de vista: — influéncia nas temperaturas de inicio e de fim de formacao da martensita; — influéncia sobre a dureza da martensita. Quanto ao primeiro efeito — sobre as temperaturas de inicio e de fim da forma- ¢80 da martensita — viu-se j4, no Capitulo Ill (figs. 31 e 32), como os elementos de lige manganés e cromo podem abaixar as temperaturas da rea¢do martensitica, a ponto de evitar sua formagao total. Lembre-se, de inicio, que dentre os elementos que podem ‘estar presentes nos acos, 0 carbono é 0 que apresenta a influéncia mais acentuada. Seguem-se, aparentemente, o manganés, o cromo, o niquel, o molibdénio, o tungsténio. O cobalto aumenta a temperatura de inicio de formagao da martensita. Os efeitos do vanddio e do titanio so discutiveis"™. Quanto a influéncia sobre a temperatura de fim de formagao da martensita, aparentemente é a mesma por parte dos varios elementos F de liga indicados. A distancia entre as temperaturas M; e M; varia desde cerca de 160°C ‘até cerca de 245°C, sendo a maior para os elementos de tendéncia mais forte no senti- do de diminuir a temperatura My, isto 6, manganés, cromo e niquel'™. A temperatura de fim de formagao da martensita é muito importante, pois repre- ® genta a eliminacdo total da austenita, de modo que se houver condigées para a mesma Ado ser atingida, ficara certa quantidade de austenita retida. Mesmo em acos-carbono, * om teor desse elemento acima de 0,55%, alguma austenita permanece retida, sobre- = tudo na presenca de niquel, manganés e cromo, podendo nestes casos 0 carbono ser Bt6 mesmo inferior‘'°”. No reaquecimento do aco a uma temperatura conveniente, essa ‘gustenita pode transformar-se, de acordo com a tendéncia de transformagao isotérmica do ago. Pode-se evitar a retencdo da austenita por um resfriamento sub-zero, o que, en- 4ratanto, exige conhecimento exato da temperatura M;, e pode causar tensées internas ‘muito severas, ou mesmo o aparecimento de fissuras. Geralmente, quando a quantida- #e.de austenita retida ¢ pequena, néo se verificam efeitos aprecidveis nas propriedades, gmbora aparentemente os limites de elasticidade e de escoamento sejam ligeiramente } diminuidos. Para quantidades maiores de austenita retida, 10% a 20%, a transfor- ‘ago subseqiente em bainita da faixa inferior, durante 0 revenido no produz modi qpgtes ou, em alguns.casos, melhora a resisténcia a ductilidade e a tenacidade. Entre- ‘tanto, 0 revenido a temperaturas mais elevadas, produzindo a bainita superior ou a perli- |, produz efeitos prejudiciais. segundo efeito mencionado — sobre a dureza da martensita — deve também mart levado em consideracao, pois, ao contrario do que se acredita geralmente, os ele- -ifgentos de liga — outros que o carbono — exercem uma influéncia endurecedora na ‘gpariansita, o que pode ser demonstrado por experiéncias realizadas por Vilella, Aborn, Price e Wyche, dos laboratérios de Pesquisas da United States Steel Corp."°, em ligas, fer com apenas 0,02% de carbono. Os resultados estado resumidos na figura 104. EO mesmo efeito endurecedor de elementos de liga foi observado em acos com 18.35% de carbono, com teores variéveis de cromo e de molibdénio\™ 176 ACOS E FERROS FUNDIDOS 400 a - Pel acne 3 8 3 Ourezo Brine! 3 3 60 or ers4s 6 789 DU % Cr Fig. 104 — Dureza martensitica numa série de ligas Fe-Cr com 0,02% de carbono, mostrando-se, para efeitos comparativos, a dureza no estado recozido. De qualquer modo, convém ndo esquecer que o carbono é 0 elemento fundamen- tal no que diz respeito as propriedades da martensita 8. Efeito dos elementos de liga no revenido — Um dos principais, sendo o princi- pal efeito, esté relacionado com a austenita retida ou residual nos acos sujeitos a esse fenémeno. H4 algum tempo, acreditava-se que a retencdo da austenita a sua subse- qiiente decomposicao durante 0 revenido eram a Unica causa do retardamento do amo- lecimento do aco ou do chamado “endurecimento secundédrio” ou “dureza secundaria”. De fato, uma grande proporcao de austenita retida pode causar um endurecimento do ago por ocasido do revenido, o que 6 ilustrado pela figura 105", relativa a um aco de carbono muito elevado (1,8%) e 6,4% de cromo, temperado de duas temperaturas. A témpera da temperatura mais elevada (1093°C) provocou retengao de grande quanti- dade de austenita (80% a 90%) e pelo revenido subseqliente, a temperaturas entre 500°C e 600°, originaram-se constituintes mais duros que a austenita. Atualmente, admite-se que o endurecimento secundario é causado também pela precipitago de uma dispersdo extremamente fina de carbonetos de elementos de liga. Essa precipitagao ocor- reria na faixa de temperaturas entre 480°C e 650°C'', e os carbonetos capazes de Produzir tal efeito seriam W2C, MozC e VC. Ao mesmo tempo, esses carbonetos precipi- tados provocariam uma melhora da resisténcia ao aco e altas temperaturas. Para qual- quer resisténcia ou dureza final, os acos temperados possuindo tais elementos de liga, devem ser aquecidos a temperaturas consideravelmente mais elevadas no revenido a esta circunsténcia presumivelmente permite uma maior eliminagao de tensées internas. 9. Recapitulacao dos efeitos dos elementos de liga nos acos — Recapitulando, os principais efeitos dos elementos de liga sobre as propriedades mecanicas, microes- trutura, tratamentos térmicos e outros caracteristicos dos acos sao: — aumentar a temperabilidade, pelo deslocamento para a direita das curvas de inicio e fim de transformagéo da austenita, no diagrama TTT; AGOS-CARBONO E AGOS LIGA. m7 : J Durexe Rockwell C & 7 100 #00300 400 3oe 600700 Temperatura de revenido C 105 — Efeito do reaquecimento a varias temperaturas sobre a dureza de ago de altos carbono e cromo, temperado. A témpera a partir de 900°C retém alguma austenita; a tempera a partir de 1093°C produz um estado quase que completamente austenitico: note-se 0 endurecimento pelo revenido. — ésse efeito, como se viu, torna possivel a tempera de secgdes mais grossas e a utiliza¢3o de meios de tempera mais brandos, por exemplo, leo ou mesmo ar, em vez de gua, garantin: do uma|estrutura temperada com maior quantidade de martensita — a0 mesmo tempo, diminuem-se os riscos de empenamento ou fissuragao; — outro efeito do aumento da temperabilidade relaciona-se com a temperatura de revenido, a ‘qual, nos a¢os ligados, é mais elevada que nos agos-carbono comuns, para os mesmos niveis de dureza®”; essa maior temperatura de revenido faci a remogao de tensdes internas. Do mesmo modo, para o mesmo nivel de dureza ou de endurecibilidade, os acos-liga apresentam maior tenacidade; — aumentar a dureza e a tesisténcia mecanica da fertita, quando se dissolvem nesse consti- tuinte, com conseqiiénte aumento de dureza @ résisténcia mecénica do ago, mesmo’ antes de qualquer tratamento térmico; — 6sse caracteristico 6 mais saliente em relacdo aos acos com elementos de liga que tém a tendéncia de formar carbonetos, como o cromo, o molibdénio, o vanadio e outros, os quais nao 6 elevam a temperatura de revenido como também provocam um retardamento no amcleci- mento do aco pelo tevenido, podendo-se verificar até mesmo o fenémeno de “endurecimento secundério” ou “dureza secundéria”; — aumentar a resisténcia & corroséo; os elementos mais atuantes nesse sentido so, como se verd, 0 cromo, 0 niquel, 0 cobre e o fésforo, os quais, mesmos em teores relativamente baixos, methoram muito a resisténcia & corrosdo atmosférica; o cromo, em teores elevados, torna 0 a¢o inoxidével: — aumentar a resisténcia ao desgaste; — modificar os caracteristicos elétricos e magnéticos. A Tabela 23, adaptada do “Metals Handbook” resume os principais efeitos dos elementos de liga nos agos. A figura 106 indica os efeitos do niquel, do cromo e do manganés sobre os valores obtidos no ensaio de tracdo em corpos de prova de peque- na sec¢ao de ago laminado com 0,2% de carbone. Verifica-se que 0 niquel que, como se sabe, se dissolve na ferrita, aumenta razoavelmente os limites de resisténcia tra¢do e de escoamento, sem afetar muito sensivelmente a ductilidade. O cromo, que além de se dissolver na ferrita forma carbonetos, possui efeito mais apreciével que 0 niquel no. que se refere ao limite de escoamento e a resisténcia a tragdo, provocando, entretanto, queda maior nos valores de alongamento e estric¢ao. O manganés, cujo efeito é anali- sado em trés tipos de aos, com teares baixo a médio de carbono, aumenta as proprie- dades de resisténcia mais ou menos na mesma propor¢do do que © cromo. 100 90 80 70 60 * 50 0 go byfam* 20 10) of @ 9 40 ¢ 2 90 f #@ 9 Jace riguel Kae cromo ide manganés Fig. 106 — Efeito do nique! e do cromo sobre propriedades mecénicas de aco laminado com 0,20% de carbono; efeito do manganés sobre acos de baixo e médio carbono, laminados Cabe, uma referéncia especial ao elemento boro, o qual, como se verificou jé hé cerca de vinte e cinco anos, em pequenas quantidades, exerce um efeito acentuado sobre a endurecibilidade dos agos™. Os agos de boro devem ser, primeiro, cuidadosa- mente desoxidados, e 0 seu teor de nitrogénio deve ser baixo, pois, do contrério, o boro feagiré com 0 oxigénio e com o nitrogénio, deixando de contribuir para melhorar a tem- perabilidade. A porcentagem de boro a adicionar para os efeitos que se desejam é extrema- mente pequena, ficando entre 0,0008% e 0,003%, dependendo do tipo de ago!” En- tretanto, se sua quantidade ultrapassar de certos limites, poder provocar a falta de duc- tilidade a quente. O limite 6 de cerca de 0,008% para acos de baixo carbono e de cerca de 0,005% para acos de alto carbono. A atuacdo do boro nao ¢ propriamente como elemento de liga. Contudo, seu efei- to sobre certos caracteristicos dos aos, como temperabilidade, é aprecidvel, fazendo- se sentir da seguinte maneira‘'™: ~ desloca para a direita a curva de inicio de transtormacSo do diagrama TTT; ~ destoca também para a direita a curva de fim de transformaco, porém relativamente pouco; — de qualquer modo, @ consegiiéncia imediata ¢ 0 aumento da temperabilidade dos acos. Admite-se™ que a presenca de um composto submicroscépico de boro nos con- tornos dos grdos (BC, BN ou boretos) seria a causa do atraso na transformagdo da aus- tenita que, como se sabe, comeca nos contornos dos graos. A figura 107" mostra o efeito desse elemento sobre a temperabilidade de um aco com 0,63% de carbono. (*) “Hot-shortness”. 179 ACOS-CARBONO E AGOS LIGA euawesn joainpua e eluauiny — Z aquaw| apepionse(d e ower $08 siewuou s9108}| 49 © anb sous |-epesepou epepiiq} win znpar — eyuew seyust 14 @ ebuR|eqeRUCD — 1 |s0U euaNbad orNW| 94 0 anb Joe, | -loaNpUE e eruaWny | -epemiuese asaunpuZ] —_-%E wag ow ‘opinjos epnos equa ep oquewioainp epiigs ogdnjos -Sip operse ou epeps | ogdnjos sod eruauor sou, uo ojad aquenb ¢ ezainp @ nginuo; — | | 2jad ezeinp equaysng | 24 of eiueyowes |-Iq1aInpUE e muIWIg| -eapIsudD DeNPUG] —_%GL weg °9 (9 oye Woo) siseBsep o8 eisisey — y seumes -edway seye & ejourisise: 8 e10YIOW — ¢ ‘epepigioainpue e ewuawiny — Z ezeinp ap awew} —ogsou09 e eougl (0 %S'0 “opdepixo @ ogsmunuip g arsisay| mo anb souay |-epexepow apepiiq|-sisay e equawne :ar| —somumy —|wio> %02) 9 opsou09 @ Blousisisa: e eluaUNY — | eperepow | UW 0 enb Jory | -oanpuse auewny | -vowewo6)| e0npuz] wag %8'2 2 opdeen, -lu ied sode sou eB) op cwuawelg — € (sosadsip eyuasne eu soianiu no sopixg ap opdeuio} 2 opinjossio as aquew! 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Nesses a¢os, a temperatura de normalizacao para material forjado ou la- minado é de 870°C; a temperatura de austenitizagdo é de 843°C Bullens® cita o exemplo de um ago com 0,42% C, 1,60% Mn e 0,30% Si que, por tempera em dleo, endurece a 55 Rockwell C somente até diémetros de meia pole- gada, ao passo que com adigdo de apenas 0,001% a 0,002% de boro, podera adquirir a mesma dureza até diémetros de uma e meia polegada. Uma conseqiléncia importante da adigo do boro nos acos é que esse elemento, se no ultrapassar os teores mencionados, no altera os caracteristicos do aco de tra- balho a quente, nem de trabalho a frio ou de usinabilidade, visto que ndo altera a dure- za, a resisténcia mecénica e a plasticidade da cementita e da ferrita, ao contrario dos elementos de liga que ele substitui, como Mn, Ni, Cr, etc.“ Do mesmo modo, nos estados recozido ou normalizado, as propriedades de um ago ao boro sao praticamente idénticas as do mesmo aco sem boro. Tais caracteristicos, principalmente a inalterabili- dade das qualidades de trabalho mecanico ou de usinabilidade, constituem inegavelmente uma vantagem. Hé algum tempo, foi desenvolvido nos Estados Unidos um novo grupo de acos a0 boro‘, em substituicdo aos SAE ou AIS! comuns ao carbono simplesmente. Esses aos apresentam comparativamente menores teores de carbono, mas maiores teores de manganés e boro, combinacao essa que propiciou endurecibilidade crescente, per- mitindo redugdes nos niveis de carbono, sem diminuicao da resisténcia. Menor quanti- dade de carbono resulta em dureza mais baixa na condigao laminada, possibilitando fé- cil conformagao mecénica. Esses acos apresentam ainda © caracteristico de auto-revenido, devido ao baixo carbono, que eleva a temperatura de transformacgo M, a um ponto onde o revenido ocorre logo apés a transformagao. Tal caracteristico diminui as fissuras de tempera e as proba- lades de empenamento, causadoras daqueles inconvenientes. As aplicagées mais importantes dos acos ao boro situam-se no campo dos acos para cementagao, em substitui¢do aos acos com alto teor de niquel. Finalmente, estudos vém sendo desenvolvidos em relacao ao nitrogénio, aprovei- tando o seu efeito de endurecimento por precipitacao, em acos de médio teor de carbono. A idéia basica é adicionar esse elemento, em quantidade suficiente, durante a fu- siio do aco. spencers AGOS-CARBONO E AGOS LIGA 183 s 60 56 5046-H 043-050 _ O65 - 1,10 Mn © 40 0,13 - 0,43Cr = 30 32 3132 = 26 $s A253 ay a & 20 e > 60 Q43-09,50¢ s Re ‘a Q65-410Mn é 50 013-043 Cr co on 3 0,0005min B 34 | 50 30 32° 20 24 lee lay 26 24 8 12 16 20 24 28 32° Disténcia da Extremidade Resfriada, em |46" Fig. 108 — Faixas de endurecibilidade para aco SAE 5046 sem e com boro A figura 109 mostra a influéncia conjunta de carbono e nitrogénio no limite de resisténcia a tragéo de acos cuja composiggo se situa dentro das seguintes faixas: ° ( 0,19 a 0,53% 0,04 a 0,44% Mn — 0,26 2 0,95% Cr ~ 0,04 2 0,24% Al ~ 0,001 a 0,017% N = 010 2 017% 2 Como se vé, é um aco que pode ser considerado microligado e que, em virtude do efeito endurecedor do nitrogénio, poderia eventualmente substituir acos-liga de bai- xo teor em liga, os quais para atingir elevados valores de propriedades mecanicas, de- veriam ser tratados termicamente ou endurecidos superficialmente. ‘As vantagens desses a¢os para, por exemplo, aplicagdes automotivas, seriam, entre outras, reducao de custo e grande economia de energia, pela eliminagao das operacées de tratamento térmica. H4 dividas, contudo, que precisam ser elucidadas com maiores pesquisas, sobre o efeito na resisténcia a fadiga, caracteristico importante em empre- gos na industria automobilistica. Outro elemento de liga que esté sendo intensamente pesquisado e jé empregado 184 AGOS E FERROS FUNDIDOS 9, 20 A TRACK, Kot /mm? 70! LIMITE DE RESISTENCIA 20 = 30) oF oy cd oo 10 Nac, % Fig. 109 — Influéncia conjunta do nitrogénio e do carbono sobre a resistencia & tracdo. Nos agos ¢ 0 nidbio. Uma pequena quantidade de niébio (0,03%) em agos-carbono co- muns, aumenta de 20 a 30% sua resisténcia mecénica, levando esta a um valor corres- pondente ao que seria obtido com a adi¢éo de 1% de manganés"". Entre outras ra- z6es, admite-se que a habilidade do niébio fortalecer o ago resulta da separacdo de fa- ses dispersas de carbonitreto de nidbio — Nb(C.N) — formadas durante a decomposi- g80 da solucdo sélida supersaturada para uma solugao sélida em equilibrio e particulas dispersas. Os precipitados dispersos de carbonitreto de niébio so observados tanto nas condigdes de laminaggo a quente como normalizada"""”. As adigdes de nidbio produzem igualmente uma estrutura mais fina e conferem maior resisténcia ao crescimento do gréo austenitico a altas temperaturas. Nos agos inoxidaveis, 0 nidbio forma um carboneto de nidbio, removendo o car- bono que pode formar o carboneto de cromo, prejudicial em certos tipos de agos inoxi- daveis", Nos agos para ferramentas, esse elemento é considerado uma alternativa vidvel para substituir os elementos mais tradicionais, fortes formadores de carbonetos‘'", 10. Classificag&o dos agos-carbono e dos agos-liga — € muito dificil estabelecer- se uma classificago precisa e completa para todos os tipos de agos. Mesmo no caso dos ago-carbono comuns, os sistemas usuais de classificagdo ~ ABNT, SAE, AISI etc. — como se viu no inicio deste Capitulo, cobrem apenas os agos até carbono médio equivalente a 1,00%. No caso de agos-liga, a elaboragao de sistemas de classificagao ¢ mais dificil, de- vido ao constante acréscimo de novos tipos, ndo s6 com modificagées nos teores de elementos de liga, em relaciio aos tipos jé existentes, mas igualmente com a presenca de novos elementos de liga. Ainda assim, para os tipos mais comuns e teores relativa- mente baixos de alimentos de liga, tanto a SAE, a AISI e outras associagées técnicas, como a ABNT no Brasil, elaboraram sistemas de classificagdo que atendem satisfato- AGOS-CARBONO E AGOS LIGA 185 riamente as necessidades do meio. Do mesmo modo, ja se estabeleceram sistemas de classificacéio para alguns tipos de acos especiais — acos-ferramenta, a¢os inoxidaveis, ag0s resistentes ao calor, etc. — como se veré por ocasiio da sua descricdo. Essas clas- sificag6es especificam principalmente as composi¢des quimicas dos acos, subdivididos em inumeros grupos, abrangendo dezenas de anélises quimicas diferentes. Para os fins do presente estudo, poder-se-ia classificar os aos de trés modos di- ferentes: = de acordo com a composicéo quimica; = de acordo com a estrutura; — de acordo com a aplicagao: 10.1. Classificagdo de acordo com a composigao quimica — Considerada a com- posigdo quimica dos acos como base de classifica¢do, poderiam ser considerados os seguintes subgrupos: — a¢os-carbono, ou seja aqueles em que esto presentes 0 carbono e os elementos residusis, manganés, silicio, fésforo e enxofre, nos teores considerados normais: — agos-liga de baixo teor em liga, ou seja aqueles em que os elementos residuais estao presen. tes acima dos teores normais, ou onde ocorte a presenca de novos elementos de liga, cujo teor total nao ultrapassa um valor determinado (normalmente 3,0 a 3,5%). Nestes aos, a quantida- de total de elementos de liga nao ¢ suficiente para alterar profundamente as estruturas dos agos resultantes, assim como a natureza dos tratamentos térmicos a que devam ser submetidos; ~ acos-liga, de alto teor em liga, em que 0 teor total dos elementos de liga & no minimo, de 10 2 12%. Nessas condigées, néo sé a estrutura dos agos correspondentes pode ser profunda- mente alterada, como igualmente os tratamentos térmicos comerciais sofrem modificagées, exi- Gindo ainda técnica e cuidados especiais e, freqdentemente, operacées multiplas; — agos-liga, de médio teor em liga, que podetiam ser considerados como constituindo um gru- po intermediario entre os dois anteriores. 10.2. Classificagao de acordo com a estrutura — Tomada a estrutura como base para classificagao, os seguintes subgrupos poderiam ser considerados: = perliticos, sem elementos de liga ou com elementos de liga em teores relativamente baixos {até 0 maximo de 5%); suas propriedades mecdnicas, em fungdo do teor de carbono e de ele- mento de liga, podem ser consideravelmente melhoradas por tratamento térmico de témpera @ revenido; também em fungao do teor de carbono, sua usinabilidade pode ser considerada boa; — martensiticos, quando o teor de elemento de liga supera 5%; apresentam dureza muito ele- vada e baixa usinabilidade; — austeniticos, caracterizados por reterem a estrutura austenitica a temperatura ambiente, de- vido aos elevados teores de certos elementos de liga (Ni, Mn ou Co); os inoxiddveis, no mag- éticos e resistentes ao calor, por exemplo, pertencem a esse grupo; — ferriticos, iqualmente caracterizados por elevados teores de certos elementos de liga (Cr, W ou Si}, mas com baixo teor de carbono. No reagem & témpera; no estado recozido, caracteri- zam-se por apresentar estrutura predominante ferritica, com eventualmente pequenas quanti- dades de cementita; ~ carbidicos, caracterizados por apresentarem quantidades consideréveis de carbono e elementos formadores de carbonetos (Cr, W, Mn, Ti, Nb e Zr). Sua estrutura compée-se de carbonetos dispersos na matriz que pode ser do tipo sort ico ou austenitico, dependendo da composi¢o quimica, S40 acos usados especialmente em ferramentas de corte e em matrizes. 10.3. Classificagao de acordo com a aplicacao — Esta seré a classificago adota- da na presente obra. De acordo com a mesma, podem ser considerados os seguintes subgrupos: 186 ACOS E FERROS FUNDIDOS — acos para fundicéo, caracterizados por apresentarem boa combinacao de resisténcia, ductil dade é tenacidade; além disso, apresentam boa usinabilidade e adequada soldabilidade; muitos tipos so suscetiveis de tratamentos térmicos de tempera e revenido; — acos estruturais, ao catbono ou com pequenos teores de elementos de liga, com boas ducti- bilidade e soldabilidade e elevado valor de relacdo limite de resisténcia a tracdo para limite de escoamento; — a¢os para trihos, cujas condicées de servico exigem caracteristicos de boa resisténcia me- canica, boa resisténcia ao desgaste etc.; sdo, tipicamente, acos ao carbono; ~ acos para chapas, que devem apresentar excelente deformabilidade, boa soldabilidade, entre outras qualidades; ~ acos para tubos, com, em principio, as mesmas qualidades dos acos para chapas; como os anteriores, so normalmente ao carbono, embora, nestes Ultimos, algumas aplicagées podem exigir a presenca de elementos de liga; = acos para arames e fios, os qusis, conforme aplicacdes, podem apresentar caracteristicos de resistencia & trago realmente notaveis; — acos para molas, caracterizados por elevado limite eléstico; — acos de usinagem fécil, caracterizados pela sua elevada usinabilidade, teores acima dos nor- mais dos elementos enxofre e fésforo, principalmente o primeiro, ¢, eventualmente, a presenca de chumbo; — aros para cementaco, — normalmente de baixo carbono e baixos teores de elementos de liga, de modo a apresentarem os melhores caracteristicos para enriquecimento superficial de carbono, além de um nticleo tenaz, depois da cementagao e da tempera; — acos para nitretacao, simplesmente ao carbono ou com os elementos de liga cromo, molib- dénio e aluminio; — a¢os para ferramentas @ matrizes, caracterizados por alta dureza a temperatura ambiente, assim como, nos tipos mais sofisticados, alta dureza & temperatura elevada, satisfatéria te- nacidade e onde as propriedades comuns de resisténcia mecnica e principalmente de ductil dade, pouco significado apresentam. Os tipos mais sofisticados apresentam elementos de liga em teores muito elevados, sendo os mais importantes e famosos os “acos répidos”, com eleva- do teor de tungsténio, mais cromo e vanddio e, eventualmente, molibdénio, cobalto e outros elementos de liga. Apresentam alta capacidade de corte. Outros, alta capacidade de suporta- rem deformacées; — a¢os resistentes ao desgaste, entre os quais o mais importante é o que apresenta manganés em quantidade muito acima do normal (entre 10 @ 14%), além de alto carbone (entre 1,0 e 1,4%); — a¢os resistentes 4 corrosdo {também chamados “inoxidéveis"), com elevados teores de cro- ‘mo ou cromo-niquel; — agos resistentes ao calor (também chamados “refratérios"), caracterizados por apresenta- rem elevados teores de cromo e niquel € por possuirem elevada resisténcia & oxidago pelo ca- lor e por manterem as propriedades mecénicas a temperaturas acima da ambiente, as vezes, relativamente elevadas; — acos para fins elétricos, empregados na fabricacéo de motores, transformadores e outros tipos de maquinas e aparelhos elétricos, caracterizados por apresentarem silicio em teores aci- ma dos normais (até 4,75%), ou altos teores de cobalto (até 50%) ou altos teores de niquel; — a¢os para fins magnéticos, com alto teor de carbono, cromo médio, eventualmente tungsté- nio relativamente elevado, eventualmente molibdénio e (os melhores tipos) elevada quantidade de cobalto (até cerca de 40%); esses acos, quando temperados, apresentam o caracteristico de imantagSo permanente representado pelo produto (BH) max. bastante elevad — acos ultra-resistentes, desenvolvidos principalmente pela necessidade das aplicages da in- dustria aerondutica, mas cuja utilizacdo esté se estendendo a outros setores da engenharia; nesses aco procura-se uma elevada rela¢ao resisténcia/peso; alguns podem apresentar timites de es- ‘coamento superiores a 150 kgf/mm? (1470 MPa); as excepcionais propriedades mecdnicas so conseguidas mediante o emprego de tratamentos térmicos em composicées contendo diversos elementos de liga em teores geralmente baixos. Um tipo especial de aco ultra-resistente 6 0 ‘aco “maraging’, em que os elementos de liga presentes estéo em teores mais elevados (como niquel até 18% ou mais), além de possuirem cobalto, molibdénio, titénio e baixo carbono. Séo ‘obtidos por um tratamento de endurecimento por precipitacdo que permite atingir-se valores de resisténcia a tracdo da ordem de 280 kgfimm? (2745 MPa), além de excelente ductilidade. AGOS-CARBONO-E ACOS LIGA 187 — 2908 criogénicos, caracterizados por sua resisténcia ao efeito de baixas temperaturas. — aco sinterizados, produtos da metalurgia do pé, incluindo ferro praticamente isento de car- ‘bone, aos comuns € alguns acos especiais, de aplicagdo crescente na industria modeme,

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