Influenciado pelo humanismo renascentista, Camões coloca o homem
português no centro do mundo, ao atribuir-lhe características invulgares e geniais. Ao longo da epopeia “Os Lusíadas”, o homem luso é protagonista de vários acontecimentos, quer da História de Portugal, quer da viagem à Índia, que pela sua dimensão e grandeza, elevam-no a uma condição sobrenatural, atingida apenas por grandes heróis. O primeiro momento da construção do herói coincide com a Proposição, no qual o poeta apresenta o seu conceito de herói e a sua intenção em glorificá-lo – “As armas e os barões assinalados”; “Daqueles reis que foram dilatando/A Fé, o Império (…)”, “E aqueles que por obras valerosas/Se vão da lei da morte libertando” (Canto I – estância 1 e 2). A partir daí, Camões eleva o herói a um estatuto superior e imortal, que ultrapassa o dos heróis antigos (Canto I – estância 3). Paralelamente, a introdução do plano mitológico, com a intriga dos deuses, sublinha ainda mais a superioridade do homem, transmitindo-nos a ideia de que os portugueses estariam destinados para feitos gloriosos, ultrapassando os limites do Homem e ascendendo a uma dimensão divina. O episódio do Adamastor é também um dos momentos mais importantes na glorificação do herói, uma vez que o esconderijo do gigante, que até então nunca fora descoberto, vai ser desvendado pelos portugueses. Este episódio simboliza a coragem e a determinação dos nautas em ultrapassarem obstáculos e inúmeros perigos também no episódio da Tempestade (Canto VI) é notória a superação do medo face a tais fenómenos naturais, tornando os navegadores portugueses em verdadeiros heróis. Não esquecendo, porém, que, a dor dos que morreram pela pátria, quer na guerra, quer no mar, é mais um degrau na glorificação do herói. Por fim, quando os portugueses são recebidos como deuses na Ilha dos Amores, significa que ascenderam verdadeiramente à condição de heróis, vencendo os próprios deuses na coragem, na determinação e também no amor.