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saa pessoas no plano da humanidade, ¢ lugares na superficie da Tera; a 4 agrupa coisas com base em seus atributos intrinsecos, independenteme onde estejam. Nao ha nada absoluto, no entanto, acerca dessa divisdo tri relia coisas pss Pro Kyuton,nomes no 6 nme as 2a scer é semelhante a contar histérias. Os , Sear ee ‘empos distantes sobre a criagao do mundo, ou charada. Em cada 40, animal nao é lhe apor um rétulo, mas contar sua historia. Os animais nio: zara os Koyukon; 2 contitio, ele err, ea atividade vital do animal ‘a0 da sua histria sio manifestagbesalremativas da mesma ocorréncia, 12 Contra 0 espago: lugar, movimento, conhecimento Gostaria de argumentas, neste capitulo, contra a nogio de espago. De todos termos que usamos para descrever o mundo em que vivemos, trata-se do mais to, do mais vazio, do mais destacado das realidades da vida ¢ da experién- 1. Considere as alternativas. Os bidlogos dizem que os organismos vivos habi- im ambientes, no 0 espago, ¢ independentemente de qualquer outra coisa que sam ser, 08 seres humanos certamente sio organismos. Ao longo da hist6ria, leja como cacadores e coletores, agricultores ou pastores de gudo, as pessoas tem “jrado 0 sustento da terra, ¢ no do espago. Os agricultores plantam suas culturas “ju terra, nfo no espago, € as colhem dos campos, néo do espago. Seus animais pasta pasagens, io espago. Viajantes atravessam o pi no 0 espago, € quan tio andam ou fica em pg, eles plantam os pés no chao, nfo no espago. Pintores lirmam seus cavaletes na paisagem, no no espago. Quando estamos em casa, “estamos dentro de casa, 0 no espago, € quando vamos ao ar livre estamos a ef berto, nao no espago, Langando os olhos para cima, vemos 0 eft, n0 0 espago, ‘em um dia ventoso sentimos o as; nao o espago. O espago € nacla, ¢ porque ¢ nada no pode absoluramente realmente ser habitado. ‘Como foi que chegamos a um conceito tio abstrato ¢ rarefeito para descrever mando em que vivemas? Meu argumento ¢ 0 de que ele resulta da operagao do {que chamei de a légica da inverséo. Eu jf havia introdurido esta lbgica no ea {ulo 5 (p. 117). Em poueas palavras, a inversio transforma as vias ao longo das quis 2 vida € vivida em limites dentro dos quais est encerrada. A vida, de acordo tom esta Kégica, & reduzida a uma propriedade interna de coisas que deupans © mundo, mas, estritamente falando, nko o babitam, Um mundo que seja ocupado, tas nao habitado, que esti cheio de coisas existentes, em vez de tecido a partir dos fios do seu devie, é um mundo de espago. No que se segue demonstrarei ‘como a légica da inversio transforma a nossa compreensio, primeiramente, do lugar, depois, do movimento, ¢ finalmente, do conhecimento, Posigao se torna cenclausuramento, viagem se torna transporte, ¢ modos de conhecimento se tor tram cultura transmitida, Juntando tudo isso, somos levados aquela concepgio peculiarmente modular de ser que é uma caracteristica tio marcante da Moderni- dade, ¢ da qual o conceito de espago € 0 corolitio logico. Langa Nucl tenho contra a idcia de lugar. Penso, no entanto, que haja algo de ep rule com a nogio de que os lugares existem no expnga, O persistente habito dk Sombsbor espaso ¢ lugar, como reclama Doreen Massey, levi-nos a imaginar que a vida seja vivida na base de um vértice, do qual a tinica saida € levantarse iy chio da experiéncia real, para cima e para fora, em diregdo a niveis cada ver mais altos de abstragio (MASSEY, 2005: 183). Frequentemente os fildsofos nos tem Barantido que, como seres terrestres, s6 podemos viver, ¢ conhecer, em Ingares (®. &<, CASEY, 1996; 18). Eu nio vivo, no entanto, na sala de estar da minh 252, Qualquer dia comum me vé vagando entre a sala de estar, a sala de jantay, 4 Sozinha, 0 banbeiro, 0 quarto, o escrtério e assim por diante, inclusive o jardin Tampouco sou apegado a casa, uma vez que viajo diariamente para o mew local de trabalho, para as lojas e para outros locais de negécios, enquanto meus fila Wao ata a escola, A isso, fldsofos do lugar respondem que, obviamente, os hi Bares existem como bonecas russas em muitos niveis em uma série aninhada, ¢ he a qualquer nivel que possamios selecionar, um lugar éresponsével tanto por Conter um nimero de lugares de nivel inferior quanto de ser contido, a0 lado de Outros lugares nesse nivel, dentro de um nivel mais alto. Assim, a minha casa, Sane uns lugs, contém os lugares menores compostos pelos quartos ¢ pelo jar dlim, ¢ est contida dentro dos lugares maiores do meu bairro ¢ da minhs cidade fatal. Como J.B, Malpas escreve, “os lngares sempre se abrem para revelar outton Ingares dentro dees [..] enquanto de dentro de qualquer higar em particular po- dde-se sempre olhar para fora para encontrar-se dentro de alguma extensio muito mals (como se pode olhar da sala em que se estd sentado para a casa em que se vive)” (1999: 170-171), Somente um fildsofo pode olhar de sua sala de estar e ver toda a sua casa! Tals 0s seus moradores comuns, a casa ou apartamento é desvelada processio- iaimente, como uma série temporal de vistas, oclusGes transigdes que se des, dobram ao longo da miriade de caminhos que levam, de uma sala a otra ¢ para dentro € para fora, conforme executam suas tarefas diitias. Malpas, no entanto, Sareve sobre deixar o quarto para entrar no apartamento, o apartamento para entrar no edifico, e © edificio para entrar no bairro e na cidade em que vive, Saar Se cada paso ao longo do caminho fosse um movimento nao a0 longo, inas fara cima de um nivel ao outro, de lugares menores, mais exclusives, para malores, mais inclusivos. E quanto mais alto ele sobe, mais distante se sente do embasamento do lugar, ¢ mais atraido para um sentido abstrato de espago. Por Our lado, a viagem de volta para casa 0 leva em um movimento para baixe, através dos nfves, do espago de volta 20 lugar (p. 171). Cada nivel, aqui, éeome uma linha em um enderego que permite 0 carteio entregar a carta para o ree. Plente de nivel mais baixo no qual o destinatério supostamente esti abrigado, r nivel, da ‘Quando a carta cai na casa do fildsofo, é como se er ee See ce uc ea leva até a sala estar (em vez de, a tet ca uel sada nora, na realidad, a carta chegue 3 su ms . ter aa itida ao longo de um ntimero_ de caminhos que se eae a ‘iri ec caixa de ‘io, I ce em virion lugares 20 longo do percurso, fas rn ea ae ‘ departamento de classificagao e assim por diante, a sca morale a "ese? ale atravts de um reinamento progressive da eal espa 5 lugares vara sar. Os: vara m lugar, ou do espago para o lug: : : en a ae em sua sala de estar!, ele pode fazer uma_ pausa bas wr ore como os conecitos de “vida” e de “sala” vieram a ser conjuga pa Bocsinarso desta rea da sua casa. No verndculo inglés peas aes Bcc do edificio cercada - mente uma parte interior , Bee ae ae eas inn en iso €teto. E “vi as om en realizadas pelos ocupantes a aa ee ee a ‘ig apontou, quando os termos “vida” e “sala” si By prc oti one ire, ql jn de eran 2002: 2) Br ii, o significado de vida aproxima-se do que Martin Heidegger — Br oO eas fundamental do habitar: oe eae eat, oa 3 fc mesmo de habitar a Terra. A vida, i soar bee emer de etar comida dentro das ests do rmbt con (HEIDEGGER, 1971). Por conseguinte, também a a? de ern no é uma abertura que permite cres rent i " tem pode, spenat os horizons progesivarente revels we cm ea a Jongo de uma trilha; nenhum piso, apenas 0 chao sob os és; nenhum apenas o céu arqueando acima. . , aM ms on es divagar sobre o significado de sala € resolver um pi a : = Wo, ou o seu cognato rum nas linguas esc de tradugio. O rawm alemio, ou 0 seu a a = E hoje 0 equivalente aceito do conceito Eee aa entanto, suas conotagGes estio longe ee seem ices Em a sala” sh bastante distintos, com sala concebida cot x eee eee contendo vida dentro da totalidade ilimitada a = contudo, que em sua tadugio como “espago", rum ram nunc a inrcirzmente o sentido de eontengio ou clausura que ae aes ‘ vig sugere, que uma 3 “Talver seja por isso, como Ohvig 2 BOE iy eae eases intelectuais da Alemanha ¢ dos pafses né1 eae eres asyocia espagoe lugar. Pois,no conceito moderno de men nm parece que ee conotagées contraditérias de abertura € encerran jento, de ea Ht rf ea confinada” (OLWIG, 2002: 7), sio confundidos. Foi essa dup lutoe sala con 5 1.0 rermo inelés trachizido como sala de estar € living room, liveralmente “sala de vida” [NT Mesmo Heidegger, ele proprio em certa medida ciimplice desse emprect climento, pensou em raum como uma clareira para a vida, que era, entretanto, limitada?, Mas ele prontamente passou a explicar que este limite ndo era um fronteira, mas um borizonte, “no aquilo em que algo para, mas [..] aquilo a par- tir do que algo camera a presenciar” (HEIDEGGER, 1971: 154). Parece que na transigio do seu antigo sentido de uma clareira, abe-tura ou “‘caminho através" para 0 moderno oximoro de “espago e Ingar”, o conceito de sala foi chamado a desempenhar o truque da inversio, transformando as provisoes para habitar aber- famente ao longo de um caminho de movimento, em uma cdpsula fechada para vida suspensa no vazio. A ideia de que lugares estdo siruados no espago é o produto desta inversio, ¢ no é dada antes dela, Em outras palavras, longe de serem apli- cados a dois aspectos opostos, mas complementares a realidade, espago e liga, © conceito de sala esté centralmente envolvido na criacio da distingio entre cles, ‘Nao se trata de uma distingio imediatamente dada 4 nossa experiéncia, que, como dliscutirei agora, é elaborada a partir de vidas que nunca estio exclusivamente aqui ou ali vividas neste ou naquele lugar, mas sempre a caminho dle um higar 20 outro, Deixe-me apresentar 0 argumento por meio de um experimento simples. Pe- gue uma folha de papel comum € um lépis ¢ desenhe am circulo grosseiro. Pode parecer algo assim: ‘ Como devemos interpretar essa linha? Estritamente falando, trata-se do trago dcixado pelo gesto da sua mao quando, segurando o lipis, pousou no papel e dew tum volta antes de continua seu caminho para onde quer que fosse e o que quer que fizesse em seguida. No entanto, vendo a linha como um todo, desenhada 1a pagina, podemos estar inclinados a interpreté-la de maneira bastante diferen- fe = no como uma trajetéria de movimento, mas como um perimetro estitico, delineando a figura do circulo contra a superficie de um plano de outra maneira 2, Como observa Paul Harrison, o “ter lugar” da habitag, no persamento de Heidegger, pressu- Pe que um ser jf essa no haga, al que 0 evento de terlugar& ce mean fcado¢ ems THAR. ISON, 2007: 634, énfases origina). qu der, enti, pergunta Harrison retrcamente Uo ‘mundo € das palavras de Heidegger sobre abertura"? tp. 634° jo, Examen da mesna mania tenemos eft wesiion dos mo> tentos ambulat6rios circulares que trazem um lugar & existéncia como nis mae demarcam o lugar de seu espago circundante. Seja em papel ou no chiio, eaminhos ou trilhas ao longo das quais 0s movimentos prosseguem si0_ re : ra idos. Ambos os casos exemy limites dentro dos quais estio conti 0 : ogi da inversio em agio, transformando o “caminho através” da trilha na con tengio do lugar-no-espago. Isso ¢ ilustrado abaixo. Caminho Espago Or-@ i 4 a fo dentro de lugares, mas através, em finha objegao € que vidas s4o vividas nilo 3 Fc, ae eee de e para locais em outros lugares (conn yaaia 229), Eu uso o termo peregrinar para descrever a experiéncia copona dee movimento de pram. F como pein param, qu os nos habitam a terra (INGOLD, 2007a: 75-84). sy : A Petencia humana nio é fundamentalmente situada, como Chris stopher a z (2004: 25) o afirma, mas situante, Ela desdobra-se no em gare as 20 ong eri sminho, cada habitante deixa um: sminhos. Prosseguindo ao longo de um cam zi tithe, Onde habtantes se encontam thes sf0 cntlds,conforme a vi de cada um vincula-se & de outro. Cada entrelagamento an rt e, quant is ‘essas linhas vitais esto entrelagadas, maior é a densidade do né. Layares, entio, sio como nds, » enitio, sio como nds, € 0s fios a partir dos quais séo atados si line cle peverinagio. Uma casa, por exemplo, é um lugar onde vs linhos te fous residents estfofortemente atadas, Mas esta inhas nao esto contidas de tnt sa Fanto quanto fos nlo estio contidos em um n6. Ao eontrdro, ea tam para além dela, apenas part penderemse a ours nas em ail . os em outros nds. Ju mall Ga és. Juntos eles formam 0 que chamei de ext EME, 2 sum, so delineados pelo movimento, no pelos limite ‘arsrores o movimento, Na verdade, é apenas por ese motivo que esolhi me ait a Pessons que fequentam lugares como “habitants” ao inves de “morn Sor argue seria muito erado spor que tis pessoas extsjam coninada em tap derrminado lugar, ow que sua experitncia sea crcunscria pelos horizons estos de uma vida vivida apenas af INGOLD, 20073: 100-101), Habtonts Padlem realmente ser muito viajados, como David Anderson, por exemple des cobra zs & pesquisa de campo entre os pastores de renas Evenki ne Siders uando questionou seus anftries acerca da localizagao das ‘aor ginal, ele foi informado de que no passadi va Viera oven aco gin }© passado as pessoas viajavam ~ e viviam ~ nao om aun ees toes os lugares (ANDERSON, 2000: 133-135), Fate em todos os hugares”, no entanto, néo é “em lugar nenhum”. Pa i ado viviam anteriormente no espaso, em ver de "Ato de aus vivian G0, em ver de em um lugar A ilusio de que faa ra cas noses Pris convengdes cartogrficas que nos loa superficie da Terra dividida em um mosaieo de 4

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