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% json" 2 Ver DADES € MENTIRAS “fo CS . A " 2 ‘ Protecio ambiental — Apesar da garantia de protegdo ambiental, a comunidade cienttfica brasileira nao tem poupado criticas ao Projeto Ferro Carajas. Em artigo publicado na revista “Ciéneia Hoje”, Philip Fearnside, do Departamento de Ecologia, do Instituto Nacional de Pesquisas da Ama- zonia (Inpa), denuncia que “uma extensa rea de floresta nativa esta sendo derrubada e transformada em combustivel para os fornos” de industrias de ferro-gusa. A destruicao é feita sem que se cumpram ‘‘os grandiosos planos para a produgao de carvao” e sem o reflorestamento. “‘A historia do Programa Grande Carajas serve de ilustracéo para 0 pa- drao geral em vigor no planejamento da Amazénia. 0 PGC tem sido apre- sentado ao publico através de uma série evolutiva de baldes de ensaio, ou seja, dé relatérios “‘preliminares” e propostas orais. Dessa maneira, os porta-vozes do programa podem sempre responder as muitas criticas que 24 lhe sao dirigidas argumentando que o plano em questao nao é mais 0 atual, ainda que a forma basica permanega intacta”, acrescenta Philip Fearnside. A CVRD rebate as criticas assinalando que uma de suas maiores preocu- pagdes é com a manutengao dos ecossistemas em toda a sua extenso re- gional da operacdo industrial. Assinala em suas publicagdes que, tanto na mina quanto no porto de Sao Luts e ao longo da ferrovia de 890 quiléme- tros, foram tomadas precaugées “para minimizar o impacto da construgéo e da operacao sobre o meio ambiente”. Segundo a empresa, “o projeto ali- menta uma mentalidade conservacionista, segundo a qual criar riquezas ndo implica necessariamente em atividade predatéria, mas sim no desen- volvimento integrado entre e mineragao e a protegdo ao meio ambiente”. Entre as medidas adotadas, a empresa aponta a implantac4o do sistema de monitoramento de ar, 4gua e solo, com zoneamento ecolégico; progra- ma de educagao ambiental; estudo do impacto ambiental sobre as popula- des; criagdo de areas de conservac4o na Serra dos Carajés; estudos para erradicacao de varias doencas tropicais endémicas; pesquisas em convénio com 0 Museu Paraense Emilio Goeldi e criac&o de um parque zoobotanico, para estudos cientificos sobre a flora e fauna local. A atuacdo se estende também a protecaio da comunidade indigena, através de convénio com a Funai. Segundo o CVRD, a principal preocupacao é evitar que 0 processo de desenvolvimento regional desfigure ou marginalize cerca de 5 mil indios. Polonoroeste A necessidade de pavimentar a BR-364, construida na década de 60, co- mo a primeira via terrestre de acesso & regiéo Noroeste, levou 0 governo federal a criar, em 1981, o Programa de Desenvolvimento Integrado do Noroeste do Brasil (Polonoroeste). 0 Banco Mundial financiou o programa, que tem o custo total de 1 bilhao 182 milhées de délares. Previsto inicialmente para ser executado em cinco anos (e j4 no sétimo ano de atuagdo, sem estar ainda concluido), o Polonoroeste tem como obje- tivo proporcionar os investimentos necessdrios ao desenvolvimento sécio- econémico ordenado da drea influenciada pela BR-364 e a protecao do am- biente fisico e da populacdo indigena da regido. A atuacéo do Programa, segundo 0 seu projeto, evitaria 0 desenvolvimento regional desordenado que poderia ameagar as dreas que a pavimentacao da BR-364 contribuiria para desenvolver. Ao mesmo tempo, manteria “um razodvel equilfbrio so- cial e ambiental na regiao Noroeste”, atuando para dissuadir os migrantes de ocupar dreas ainda nao suficientemente estudadas (ou comprovadamen- te inadequadas), com medidas para atrair migrantes rurais para 4reas de comprovado potencial agricola ou florestal e para introduzir técnicas apro- priadas ao cultivo”. . . ‘A drea de atuacao do Polonoroeste possui aproximadamente 410 mil qui- lometros quadrados, incluindo todo o Estado de Rondénia e 14 municfpios do oeste de Mato Grosso. Essa 4rea, equivalente a trés quartos da superfi- cie da Franga, corresponde a pouco mais de 5 por cento do territorio brasi- 25 leiro. O objetivo do programa é a elevacdo da renda e dos padroes de vida dos pequenos produtores rurais, promocdo sustentavel do desenvolvimen- to agricola, melhoria dos servigos agricolas e sociais e fortalecimento da infra-estrutura fisica. Estao também como metas o controle da malaria e a melhoria dos servicos basicos de satide em Rondénia. Projetos — Sao cinco os contratos de financiamento assinados com 0 Banco Mundial: Projeto de Desenvolvimento Agricola e Protegao Ambien- tal (199,83 milhdes de délares), Projeto de Desenvolvimento Rural de Mato Grosso (76,3 milhées), Projeto de Satide em Rondénia (37,7 milhdes), Pro- jeto Rodoviario (687 milhdes) e Projeto de Novos Assentamentos (181,8 milhdes de délares). Executado sob a coordenagao do Ministério do Inte- rior, o Polonoroeste previa inicialmente beneficiar 35 mil familias de pe- quenos produtores em Rondénia e 18 mil em Mato Grosso. Mas a explosio do fluxo migratério para a regido superou em muito as expectativas, impe- dindo o cumprimento dos objetivos previstos, especia’snente em relagdo & promogao sustentavel do desenvolvimento agricola conjugado com o orde- namento da ocupagao espacial da regiao. A partir de 1987, o Polonoroeste passou a incluir também 0 Projeto de Preservacao do Pantanal Matogros- sense, com acdes na 4rea de fiscalizagado integrada, educacdo ambiental, monitoramento ambiental, pesquisa aplicada e plano diretor. Planafloro Apontado a partir da década de 70 como “novo Eldorado” ou “nova fron- teira agricola” do Brasil, o Estado de Rondénia chegou a receber mais de 300 mil migrantes. A ocupacao se processou basicamente através do eixo formado pela BR-364 e trouxe novos problemas e 0 agravamento de outros jé existentes. Para combater essa demanda desordenacs.e incontrolavel, 0 governo do Estado elaborou o Plano Agropecuério e Florestal de Rondénia (Planafloro). O programa, com 0 objetivo de desenvolver o Estado como um todo, dan- do respostas as necessidades de ajuste da produc4o agropecudria e de con- servacao do meio ambiente e dos recursos renovaveis, tera sua primeira fa- se aplicada até 1993. Mas 0 programa € de longo prazo e, em sua segunda etapa, representa um planejamento para os proximos 15 anos. O custo to- tal est4 orcado em 213,1 milhdes de délares, dos quais o governo estadual participard com 25 por cento. A linha basica deatuagao do Planafloro 6 no sentido de garantir a infra- estrutura fisica, de apoio & produgo agricola e proteeao ecol6gica, junta- mente com acées de cunho social, como escolas, hospitais, seguranga publi- ca ete. Inclui o zoneamento sdcio-econdmico-ecolégico de Rondénia, estabe- lecendo seis areas distintas. Para cada uma delas foi elaborado um plano de desenvolvimento zonal. O projeto tem basicamente duas linhas de atuagao: produtiva e conservacionista, interligadas em seus objetivos. Na area pro- dutiva o que se pretende é remover obstaculos a estabilizagao do pequeno agricultor com culturas perenes, rompendo o ciclo continuo do desmata- 26 mento da floresta. Na 4rea de conservagao, a meta é fortalecer as institui- ces relacionadas com o meio ambiente, exigir o cumprimento das leis de protegdo e ampliar o ntimero de reservas para cobrir ecossistemas em perigo. Segundo técnicos do governo federal, o objetivo principal ““é a melhoria da vida dos produtores rurais e suas famflias, fixando-os a terra através de uma ocupacdo ordenada e conciliadora do desenvolvimento racional da agropecuaria com a conservacao ambiental”. Entre as medidas previstas no Planaforo estao o fornecimento de crédito, a regularizacdo das terras e liberacao de recursos para pesquisa. Participacéo da Funai Projeto de Protecao do Meio Ambiente e das Comunidades Indige- nas (PMACI) — Criado para “prevenir e minimizar o impacto causado pe- la pavimentacao da rodovia BR-364, no trecho Porto Velho/Rio Branco, nas comunidades indigenas e no meio ambiente”. Atendeu a uma popula- ¢4o de 5.900 indios de varios grupos. Foram demarcadas sete dreas indige- nas, identificada uma e outras trés registradas, totalizando 1.096.202 hec- tares até 1987. Coordenado pela 5% Superintendéncia Executiva Regional da Funai, com sede em Manaus. Projeto de Apoio 4s Comunidades Indigenas da Area de Influéncia da BR-364 (Polonoroeste) — Seu objetivo é “‘melhorar o bem-estar de cer- ca de 10 mil indios, através de assisténcia médico-sanitaria, educagao, me- jhoria de infra-estrutura de satide, treinamento de pessoal, identificacao, demarcacio e regularizacdo fundiaria de dreas indigenas” Area de atua- cAo: trecho da rodovia BR-364, de Cuiaba/Porto Velho. Administrado na Funai pela 2# Superintendéncia Executiva Regional, com sede em Cuiaba, sua drea de abrangéncia atinge parte do ceste e noroeste do Estado do Ma- to Grosso e todo o Estado de Rondénia. Das 76 areas indigenas existentes, 34 foram demarcadas até 1987, equivalendo a 9.553.335 hectares. Projeto Calha Norte — Segundo a Funai, 0 objetivo fundamental des- se projeto é a “promogao da ocupagao racional e o desenvolvimento contro- lado” da regiao situada ao norte das calhas dos rios Solimées e Amazonas. ‘A populagao indfgena beneficiada chega a 60 mil fndios, em diferentes graus de contato com os brancos, incluindo grupos de indios isolados. A Funai nao esclarece exatamente qual é 0 seu papel diante do Calha Norte, jnformando que iniciou seus trabalhos em 1987, em “estreita articulagéo com os demais 6rgaos que atuam no projeto”’, e que foi implantada a Colé- nia Indigena de Pari Cachoeira, “com resultado positivo no encaminha- mento das comunidades consideradas”’. Projeto Ferro Carajés — Instituido para “beneficiar a: indigenas” localizadas na drea de influéncia do complex eC movido pela Companhia Vale do Rio Doce, destinado a exploragao, benefi- ciamento e exportacdo do minério existente na Serra dos Carajas. Sao abrangidas 24 areas indigenas, totalizando cerca de 18 mil indios. Foram demarcadas 21 areas, com 539.548 hectares, restando 584.300 hectares para demarcacao, A Funai informa que foram desenvolvidas rocas de sub- sisténcia no Maranhao e adquiridas cabecas de gado para ampliagao do re- banho bovino, para um grupo Kanela, do Maranhdo. Além disso, foi criada infra-estrutura (abastecimento de 4gua, acudes, pocos manuais, enferma- rias, escolas, ambulatorio, casas de farinha e uma casa para sede do Posto Indigena). Ibama enfrenta dificuldades Nem todas as boas intengées inseridas no Programa Nossa Natureza fo- ram capazes de colocar em pratica muitas das reivindicagdes do movimento ambientista do Pais. E que sem estrutura administrativa-funcional, o Insti- tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Iba- ma) nao terd condigées de gerir o programa de forma eficiente. O Tbama pos- suia, em julho deste ano, trabalhando em todos os estados, cerca de sete mil funciondrios, que permaneceram em greve durante mais de 40 dias, & espera de uma definicao para a situacao funcional do érgao, modificada com a extin- cdo da Sema, IBDF, Sudepe e Sudhevea, que deram origem ao Instituto. A eriagao do Ibama, como autarquia especial gestora da questao ambien- tal no Brasil, foi amplamente aplaudida pela sociedade, que ha muito tem- po exigia o fortalecimento do setor, mas o documento da estrutura administrativa-funcional foi exaustivamente discutido por técnicos da Se- cretaria de Planejamento (Seplan), da Presidéncia da Republica, sem qual- quer éxito. A resisténcia da Seplan em aprovar o documento foi atribufda 4 suposta prioridade dada pelo governo & contengao do deficit publico, ao que parece deixando 4 margem os prejuizos ambientais, que s6 em queimadas levaram o Brasil a perder cerca de 5 bilhdes de délares, durante 1988. Sem uma tabela propria de pessoal, o Ibama vive em um clima de desestt- mulo dos seus servidores, 0 que afeta, principalmente a continuidade de suas diferentes tarefas. Os diretores e servidores dos 6rgaos extintos rece- beram delegacao de competéncia da direcao geral do Ibama, de maneira in- formal. Por isso, muitas atividades referentes 4 parte orcamentaria e aos projetos iniciados por cada 6rgao, separadamente, tendem a ficar entorpe- cidos. A Campanha Nacional contra Incéndios Florestais é 0 principal exemplo de falta de continuidade. Pronta no Ibama desde abril deste ano, a campanha ficou aguardando a deciséo do Congresso Nacional, que sé em junho votou a liberagao de NCz§ 8 milhoes necessérios & sua implementa- ¢ao. Além disso, apesar da verba estar aprovada, o Instituto esperou muito pelo repasse do Tesouro Nacional, que adiou a transferéncia dos recursos. Finalmente, a campanha comegou a ser executada em agosto, perfodo em que as queimadas se intensificam. 28 Goyerno — Fernando César Mesquita, presidente do Ibama, rebate as criticas e afirma que “o Instituto atua de maneira muito rigorosa na fiscali- zacdo e a demora que ocorre na definigdo da sua estrutura administrativa tem como causa divergéncias existentes com a Secretaria de Planejamen- to”. Mesquita admite que, para realizar um trabalho razoavel de fiscaliza- cdo, entre outras atividades, sao necessdrias mais de 10 mil pessoas bem treinadas e capacitadas. JA o delegado do Ibama, em Manaus, José Amaury da Silva Maia, informa que “‘apesar da boa vontade”’ dos 197 fun- ciondrios que trabalham no Estado do Amazonas, eles sao insuficientes pa- ra que possa exercer um controle mais severo de fiscalizacdo de uma 4rea imensa como a que est4 sob sua responsabilidade. As multas aplicadas na regido variam de um até mil MVR (Maior Valor de Referéncia). Sem recursos disponiveis para viabilizar 0 Programa Nossa Natureza até 0 final do governo Sarney, 0 ministro do Interior, Jodo Alves, esteve nos Estados Unidos, onde foi buscar délares para o setor: ‘‘Consegui fechar um acordo com o Banco Mundial, o que representa 8 milhdes de délares para aplicacdo na preservacdo ambiental. Nao h4 como colocar a questao ecol6- gica fora das dificuldades econ6micas do pais e é preciso lembrar que o Norte é a regio que recebe a maior atencdo do Ministério do Interior, atualmente, e a AmazOnia nunca esteve no alvo das preocupagoes do go- verno federal como esta agora”. Ao mesmo tempo, Amaury Maia, respon- s4vel pelas agdes do Ibama no Amazonas, conclui: ‘Nao podemos pensar em fazer conservagao da natureza no pais sem a participagao dos estados e municipios, e sem um organismo federal devidamente organizado e estru- turado. Em sintese, diante da caréncia em termos de recursos financeiros e material humano, s6 nos resta esperar decisdes imediatas que favoregam a viabilizagdo dos projetos de preservacdo e conservacao de 4reas como a regido amazénica’”’. 1,2 — Rodovias Malha rodovi: é precaria A malha rodovidria que serve & Amazonia, apesar de extensa em termos de quilometragem em fungao da area que cobre, nao tem a densidade sufi- ciente para cobrir toda a regido. Sdo poucas as rodovias asfaltadas e que oferecem condicdes normais de trafego. Na maioria, nao passam de cami- nhos transitaveis apenas em determinadas épocas do ano, sem oferecer ga- rantias de atendimento e de servigos aos motoristas. Dentro do Plano Nacional de Estradas de Rodagens, elaborado pelo Mi- nistério dos Transportes, estao planejadas 17 novas rodovias. Mas, segun- do informagées de Mauro de Souza Barros, do 1°. Distrito Rodoviario do DNER, faltam recursos para a construcao das obras planejadas. Algumas dessas rodovias tém trechos implantados, mas a maioria esté ainda em fa- se de planejamento. Mesmo em alguns trechos ja utilizados as condigdes de trdfego nao sao boas j4 que, por falta de conservacao, voltaram a ser ocu- padas pela mata. 29 Entre as mais importantes rodovias da regido estao a Perimetral Norte e a Transamazénica. A primeira, denominada também BR-210, s6 tem 215 quilometros pavimentados, entre Macapé e a regido do rio Pedreira. De- pois desse trecho, partindo em diregao a Caracarai, em Roraima, e I¢ana, no Amazonas, alguns outros esto implantados e varios ainda em fase de planejamento. Mauro de Souza Barros alerta, no entanto, que os trechos abertos na diregao oeste praticamente nao existem mais, foram absorvidos pela selva, Também incorporadas A Perimetral Norte est4 a BR-307 (que nao saiu do papel), da divisa da Venezuela, passando por Sao Gabriel da Cachoeira, Benjamin Constant, no Estado do Amazonas, Cruzeiro do Sul e até Taumaturgo, ambas no Acre. Ja a Rodovia Transamazénica, implantada durante o governo Médici pa- ra garantir a ocupagao da regiao Norte, praticamente desapareceu. Ela foi planejada para, partindo da divisa com 0 Peru, em Benjamin Constant, no Amazonas, passar por Laébrea e Humaitd, prosseguindo por Jacareacanga, Itaituba e Altamira, no Paré até encontrar a BR-222, que se liga com Tucu- rui e o Nordeste. Segundo 0 1°. Distrito do DNER, apenas 608 quilome- tros da Transamazénica, de Humaita a fronteira do Par, oferecem condi- codes de trafego. Responsvel pela ocupacao de Rondénia, a BR-364 parte de Cuiabé, em Mato Grosso, liga, em 714 quilémetros, Porto Velho e Vilhena e, em outros 502 quilémetros, vai da capital a Rio Branco. Sua continuidade esté plane- jada para continuar até a divisa com o Peru, partindo de Rio Branco e pas- sando por Sena Madureira, Feijé e Cruzeiro do Sul. Segundo o DNER, as obras estao paralisadas por falta de recursos. ‘As rodovias pavimentadas da regiao Norte so as seguintes: BR-010, que se liga com a BR-316, partindo de Belém e atravessando o Estado do Ma- ranhao; da BR-319 que liga Manaus a Porto Velho, em 870 quilémetros, ea BR-401, com 170 quilémetros, desde Boa Vista a fronteira com a Guiana. Estao planejadas para a Amaz6nia a BR-174, de Vilhena, no Acre, pas- sando pelo norte de Mato Grosso e entrando pelo Amazonas e a BR-080, de Cachimbo, no Para, até Manaus. Em fase de planejamento estado outras seis rodovias, sendo trés no Para, e as outras trés no Acre, Rondénia e Roraima. Transfronteira O deputado Assis Canuto (PFL/RO) elaborou um projeto de lei a ser sub- metido em primeira instancia na Camara dos Deputados com 0 objetivo de construir uma rodovia que percorre toda a fronteira do Brasil com a Bolf- via, Peru, Colémbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Seu projeto, denominado Transfronteira, pretende que a rodovia se estenda de forma ininterrupta desde o territério do Amapé, ao norte, até Mato-Grosso do Sul, no sudoeste do Pais, atravessando cinco Estados e dois Territérios. Apesar de o projeto de lei prever que a rodovia iré contornar parques e Areas indigenas demarcadas, ela inevitavelmente passard por diversas co- munidades indfgenas com areas nao demarcadas e, atravessaré territérios 30 cuja preservacdo € recomendada. Como 0 projeto prevé o assentamento de agrovilas sobre toda a rodovia Transfronteira, a cada 100 quilometros, os ecologistas prevéem também o desmatamento indiscriminado e conflito dos colonos com as comunidades indigenas ali existentes. ‘Além disso, a rodovia Transfronteira é parte integrante de uma polémica ja instalada, Ela serviria para ligar aos outros pafses a controvertida rodo- Via Acre-Pacifico, acusada de procurar promover a aceleragao do desmata- mento das florestas, atendendo aos projetos da iniciativa privada, que vi- sam a exportacdo de madeira, principalmente para o Japao e Europa, atra- vés do Oceano Pacifico. 1.3 — Politica de meio ambiente Comissao Regional de Pesquisas ‘A constatacao de que a falta de pesquisa ou de sua aplicagao pratica tem contribuido para a exploragao predatéria dos recursos naturais renovdyveis ea necessidade de integrar a pesquisa na solugao dos problemas de meio ambiente, especialmente na Amazonia, motivaram a criagao da Comissio Coordenadora Regional de Pesquisas da Amazénia (Corpam), 0 projeto proposto pelo governo j4 foi aprovado pelo Congresso Nacional. A Comis- sAo vai assessorar a Secretaria Especial de Ciéncia e Tecnologia, da Presi- déncia da Republica, na definicéo de diretrizes, alocagéo de recursos e acompanhamento do Programa Tropico Umido. O objetivo basico da Corpam é promover maior articulacdo entre as insti-+ tuicdes de pesquisa da regiéo amazénica identificando oportunidades de cooperacao no desenvolvimento de projetos especificos de relevancia para o Programa Nossa Natureza. Para garantir a sua atuacdo, deveré captar recursos financeiros junto as agéncias de fomento, a ciéncia e tecnologia, além de outras fontes nacionais e internacionais. Participarao do Corpam um representante das seguintes instituicdes: Tbama, Secretaria Especial de Ciencia e Tecnologia, Sudam, Sudeco, Inpa, CNPq, Embrapa, Finep; trés representantes das universidades da Amaz6- nia Legal; trés pesquisadores com notérios conhecimentos sobre a Amaz6- nia, indicados pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciéncia (SBPC); dois representantes do conjunto das entidades conservacionistas da regio; e um dos Estados que compdem a Amaz6nia Legal, indicado pe- lo Instituto Superior de Estudos da Amaz6nia (Isea), que tem sua sede em Manaus. O governo espera que, com a criacéo da Corpam, sejam solucionadas as dificuldades na atuacao na Amazénia, como falta de pessoal qualificado nos centros de pesquisa e de pessoal técnico nos organismos de desenvolvimen- to: deficiéncia de orcamento, além da revitalizagao das instituigdes ja exis- tentes, como Inpa, Embrapa, Museu Paraense Emflio Goeldi e outras. 31 Fundo Nacional de Meio Ambiente Com a aprovagao pelo Congresso Nacional do projeto que cria 0 Fundo Nacional de Meio Ambiente, as atividades do Programa Nossa Natureza e de outros projetos destinados a promover “‘o uso racional e sustentavel de recursos naturais”’ passam a contar agora com uma fonte de recursos, que sero constituidos por dotacdes orgamentarias da Unido; dotagées, contri- buigdes em dinheiro, valores, bens méveis e iméveis, que venha a receber de pessoas fisicas e juridicas; e outros rendimentos, como remuneracao de aplicagdes do seu patriménio, As pessoas fisicas e juridicas que fizerem doagées terao direito aos beneficios da Lei Sarney que concede deducées no Imposto de Renda. O Fundo sera administrado pela Seplan e pelo Iba- ma, de acordo com diretrizes estabelecidas para a politica do meio ambiente. A lei que criou o Fundo Nacional de Meio Ambiente indica como priorita- rias as aplicagdes de recursos financeiros em projetos em areas de unida- des de conservago, pesquisa ¢ desenvolvimento tecnolégico, educacao am- biental, manejo e extensao florestal, controle ambiental, desenvolvimento institucional, aproveitamento econémico, racional e sustentavel da flora e da fauna. Estabelece, ainda, que sera dada prioridade aos projetos que te- nham sua area de atuagéo na Amazonia Legal. Na exposicao de motivos encaminhada ao Congresso, 0 Poder Executivo se compromete a destinar, ainda este ano, NCz§ 30 milhées para a area de meio ambiente. Segundo 0 texto, a criagéo do Fundo e abertura do crédito especial demonstram a “alta prioridade que ora se confere As agdes de pro- tegao ambiental”. No entanto, essa atuacdo deve exigir, a curto e médio prazo, recursos em volume vultoso, de viabilizagio improvavel ante a reali- dade orcamentéaria do pais. 1.4 — Politica internacional Disputas diplomaticas Desde a Conferéncia de Estocolmo, em 1972, o Brasil vem defendendo a tese de que os problemas ambientais constituem assunto exclusivamente de politica interna. Nenhum presidente brasileiro admitiu, até hoje, abrir mo da nogao de responsabilidade exclusiva, apesar de ocorrer no Brasil mudangas ambientais que podem afetar outros paises. A imprensa interna- ional, por sua vez, revela, com grande impacto na opiniao pablica, diver- sas perturbagdes no meio ambiente que resultam cada dia mais em dispu- tas diplomaticas. A chuva dcida, 0 avanco da desertificagao, a destruicao da camada de ozénio, 0 efeito estufa, 0 lixo atdmico, o desaparecimento de espécies de animais e florestas s4o todos fenomenos que exigem, de uma forma ou de outra, medidas de cooperacao internacional. A Organizagao das Nagdes Unidas (ONU) convocou a primeira Conferén- cia Internacional do Meio Ambiente em junho de 1972, em Estocolmo (Sué- 32 cia) que, apesar de timida, nao deixou de ser um marco, pois o tema “Uma. s6 Terra” serviu para inserir a preocupacdo com 0 meio ambiente no con- texto politico internacional. Assim, no meio uplomatico teve inicio a toma- da de consciéncia de que os ecossistemas do Planeta estéo sendo severa- mente atingidos pelo crescimento desenfreado do consumo. Nesse mesmo ano, 1972, foi criado o Programa das Nacdes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Durante muito tempo, os confrontos politicos entre as superpoténcias nao permitiram que a questao ambiental ocupasse uma posigdo de desta- que na agenda internacional mas, devido ao impulso promovido pela Con- feréncia de Estocolmo, houve alguns avancos nos tratados multilaterais, tais como a adogéo da Convencdo de Washington sobre o Comércio Inter- nacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extingao, em 1973, e o Tratado de Cooperacéo Amazénica, em 1978. Avancos — A situagao mudou, a partir dessa reuniao dos chanceleres dos paises amazénicos, em 1978, realizada para estabelecer um tratado de cooperacao, firmado entre as nagées cobertas pela floresta amaz6nica. O documento — assinado pela Bolivia, Colombia, Equador, Guiana, Peru, Su- riname, Venezuela e Brasil — registra a intengdo de preservar a floresta, mas ainda é dada énfase aos projetos de desenvolvimento e intereambio da exploracao econémica, de pesquisas tecnolégicas e cientificas. A imprensa internacional dedicou, durante este ano, um amplo espago 4 Amazénia. O desmatamento desenfreado paralelamente as freqiientes acu- sagdes de danos causados no equilibrio clim4tico do planeta, através do efeito estufa, acontecem justamente no perfodo em que emissoras-de tele- visdo mostram a um publico horrorizado cenas de inundagées com vitimas, em diversas partes do mundo, secas nos Estados Unidos, calor intenso na Europa, etc. Tudo isso fez mudar o tom e o contetido das conferéncias e tratados que envolvem os paises amazénicos. Antes disso, j4 no inicio dos anos 80, as perturbagdes no meio ambiente e © crescimento das frentes e partidos ecolégicos contribuiram para que os politicos levantassem a bandeira da preservagao ambiental e ela repercutiu na politica internacional. As organizagoes no governamentais de protecao ao meio ambiente cresceram e contam, atualmente, com milhdes de mem- bros e simpatizantes, em todo o mundo. A consciéncia internacional a res- peito da questéo ambiental cresceu, juntamente com as deniincias de agressdes 4 natureza. As entidades nao governamentais atuam e multiplicam-se as conferéncias, negociagées, discussées cienttficas e técni- cas sobre questées ambientais e a presenga do tema na imprensa interna- cional é cada vez mais constante. Dia 11 de marco deste ano, novamente os representantes dos paises membros das Nagées Unidas se reuniram para mais uma etapa de negocia- des sobre o meio ambiente. A Declaracao de Haia, resultado do encontro, conclamou os paises membros e suas organizagdes internacionais a ratifi- carem as convengées relacionadas com a protegao da natureza. O objetivo comum é proteger a atmosfera e lutar contra as mudangas climaticas, em 33 particular contra 0 aquecimento da Terra. O texto original da Declaragéo de Haia foi considerado inaceitavel pelo governo brasileiro, porque previa a criacao de entidades supranacionais e a adogdo de sangao, inclusive econé- mica. Durante a etapa final da Conferéncia, 0 presidente francés, Francois Mitterrand, declarou que “alguns pafses deveriam abrir mao de parte de sua soberania em favor dos interesses globais”. Politiea— Na América Latina, dois importantes encontros de eépula. resultaram na Declaracao da Amazénia, em maio deste ano. Um aconteceu no Equador, dia 7 de marco e resultou na Declaragao de Quito, com 0 obje- tivo de dar um novo impulso na chamada “coopera¢éo amazénica”. No mesmo més, dia 31, em Brasflia, foi aberta a VI Reunido Ministerial sobre Meio Ambiente dos Paises da América Latina e do Caribe. Em maio, os presidentes dos paises membros do Tratado de Cooperagéo Amazonica — firmado em 1978 — se reuniram em Manaus para, mais uma vez, refleti- rem sobre o desenvolvimento e a protegao da floresta amazénica. A conde- nagao de qualquer tipo de ingeréncia dos paises desenvolvidos nos assuntos internos, especialmente na politica ecolégica da regio, foi o tema principal debatido pelos presidentes dos paises participantes. A divida externa tam- bém esteve entre os assuntos debatidos, porque a concessdo de novos em- préstimos pelos agentes financeiros internacionais esta vinculada ou esbar- ra nos projetos de conservagéo da Amazénia. Internacionalizacao — A falta de definicdo clara sobre as condigdes de pagamento da divida externa e as propostas de conversdo da divida em re- cursos para aplicagéo em projetos ambientais, foi o ponto de partida para discussao das varias tentativas de internacionalizacao da Amazonia. O pre- sidente José Sarney lembrou, em seu discurso, durante a reuniao, a campa- nha de internacionalizacdo dos rios amazénicos, promovida no século XIX. Naquela 6poca, uma grande campanha mundial sobre a livre navegabilida- de envolveu varias organizagdes internacionais, mas o governo brasileiro reagiu ea idéia morreu nesse ponto. Entre os varios projetos tendo a Ama- z6nia como foco, estava um que previa a transferéncia do excedente popu- lacional da Asia para o Norte do Brasil. Na Conferéncia de Estocolmo, em 1972, 0 Brasil afirmou que os proble- mas ambientais eram exclusivos da politica interna. Hoje, o governo j4 ad- mite que as agressdes ao meio ambiente podem afetar outros patses e reco- nhece que alguns problemas revestem-se de cardter global. O discurso atual revela que a cooperagao internacional é bem-vinda, desde que nao im- plique na “‘perda da soberania nacional e no direito do Brasil explorar os Seus recursos naturais”’. Tratados internacionais Somente quatro anos ap6s ser aprovada a Convengao de Viena para a Protegdo da Camada de Ozénio e dois anos de existéncia do Protocolo de Montreal sobre Substancias que Destroem a Camada de Ozénio é que 0 go- 34 verno deu o primeiro passo para assinar os documentos, encaminhando seus textos para homologacao do Congresso Nacional. Até entao, o Brasil se negava a ratificar os dois tratados internacionais que estabelecem medi- das de protecao e controle da camada de oz6nio. As decisdes foram aprova- das em duas diferentes reunides promovidas pelo Programa das Nagdes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A Convengao de Viena foi realizada de 18 a 22 de margo de 1985 e 0 Pro- tocolo de Montreal foi assinado no dia 16 de setembro de 1987. 0 encami- nhamento dos documentos ao Congresso Nacional s6 ocorreu no dia 10 de fevereiro de 1989. A previsdo é de que a aprovacao pelos parlamentares, como exige a Constituicao, saia ainda este ano, quando entao o Brasil pode- ra aderir aos dois tratados internacionais. O pedido de participaeao do pais nas decisdes do PNUMA coincidiu com as pressoes e dentincias, inclusive no exterior, sobre queimadas na Amaz6- nia, que estariam contribuindo para a destruicao da camada de ozénio. Mas, na exposicao de motivos encaminhada ao Congresso, 0 governo alega que antes realizou consultas aos seus 6rgaos técnicos sobre a conveniéncia e interesse da adeséo aos documentos. Segundo o secretario-geral do Ita- maraty, Paulo de Tarso Flecha de Lima, a Convencao e o Protocolo sao “importantes instrumentos internacionais que tém por objetivo desacele- rar, € se possivel reverter, 0 processo de esgotamento da camada de oz6- nio, cuja manifestagdo mais clara é 0 chamado ‘buraco’ sobre a Antértida”’. Segundo estabelece a Convencao de Viena, os paises participantes devem tomar medidas adequadas para proteger a satide humana e o meio ambien- te contra “efeitos adversos que resultem, ou possam resultar, de ativida- des humanas que modifiquem, ou passam modificar, a camada de ozénio”’. Cria ainda mecanismos de cooperaciio de pesquisas, avaliacées cientificas e troca de informacées sobre processos fisicos e quimicos que afetam a cama- da de oz6nio. Ja o Protocolo de Montreal estabelece medidas de controle e consumo das substancias que destréem a camada de oz6nio, entre as quais os cloro- fluorcarbonos (CFCs). Determina que sejam controladas as emissées de CFCs, inclusive em aeross6is, “por todos os meios ao aleance” dos Estados participantes, “af incluidos controles sobre produgao ou uso, na extenséo méxima praticdvel”’. Brasil: foco da atencao mundial “O Brasil tem todas as condi¢des para liderar os paises do Terceiro Mun- do e exigir das nagdes desenvolvidas um maior controle sobre suas ativida- des industriais, principais causadoras dos transtornos verificados no equili- brio ambiental do Planeta, entre eles o buraco da camada de ozénio da at- mosfera e o efeito estufa”. Essa é a opiniao do deputado Fabio Feldman (PSDB/SP), membro da Comissio de Defesa do Consumidor e do Meio Ambiente da Camara dos Deputados, que, no entanto, condiciona a ascen- cdo do Brasil a essa posicao de lideranga a uma mudanga de postura do go- verno brasileiro em relacdo & questéo ambiental: “Até agora, a posicdo do 85

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