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Diversidade e Gestão 2(1): 17-25.

2018
e-ISSN: 2527-0044

CENSO FLORESTAL DE UM TRECHO DE MATA CILIAR URBANA DO RIO PARAÍBA


DO SUL, TRÊS RIOS, RJ1

Helder Marcos Nunes Candido2, 5, André Luiz Pereira3, Erika Cortines4 & Michaele Alvim
Milward-de-Azevedo4

Resumo: As matas ciliares são de extrema importância para o meio ambiente, pois regulam as cheias, abrigam grande
diversidade de fauna e flora e amenizam a temperatura. O trabalho teve como objetivo investigar a estrutura de um
trecho de 6,84 hectares da mata ciliar urbana do rio Paraíba do Sul no Parque Natural Municipal de Três Rios, na cidade
de Três Rios, Rio de Janeiro, Brasil. Foram amostrados todos os indivíduos arbóreos com diâmetro a altura do peito
(DAP) ≥ 5 cm. Foram inventariados 966 indivíduos pertencentes a 27 famílias e 75 espécies. A família mais
representativa foi a Fabaceae. As espécies espontâneas mais abundantes foram Croton urucurana Baill. e Leucaena
leucocephala (Lam) de Wit. A baixa diversidade (H’ = 3,39 nats.ind-1) sugere o alto grau de degradação. As médias de
altura das árvores (7,34 m) e DAP médio (14,43 cm) indicam um estágio sucessional de inicial para médio. Conclui-se
que a área necessita de ações de manejo que visem a ampliação da diversidade, o controle de espécies exóticas, e a
saúde do ecossistema.
Palavras-chave: vegetação ripária, fitossociologia, diversidade.

Abstract: The riparian forests are of extreme importance in the cities, since they regulate the floods, they host a great
diversity of fauna and flora and they mitigate the temperature. The aim of this work was to carry out the forest census
and to investigate the structure of a 6,84 hectare stretch of the urban riparian forest of the Paraíba do Sul River in the
Municipal Natural Park of Três Rios, in the urban area of Três Rios, Rio de Janeiro, Brazil. All tree individuals with
DBH greater than 5 cm were sampled. 966 individuals belonging to 75 species were inventoried. The most
representative family was Fabaceace. The most abundant species were Croton urucuranaBaill. andLeucaena
leucocephala (Lam) de Wit. A low diversity (H'= 3.39) suggests a high degree of degradation.Themean total height of
trees (7.34 m) and mean DBP (14.43 cm) indicate an initial successional stage for medium. Therefore, it is concluded
that the area needs management actions aimed at increasing diversity, control of exotic species, and ecosystem health.
Key-words: riparian vegetation, phytosociology, Paraíba do Sul river, biodiversity.

Introdução
A região de Três Rios, localizado na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, apresenta
situação ambiental crítica, com apenas 0,1% de cobertura florestal original e 8.636 ha de áreas com
vulnerabilidade à erosão (COPPETEC 2002). O levantamento da cobertura vegetal nas Unidades de
Conservação (UC's) do município indicou que as formações florestais secundárias recobrem 26,8%
do território das UC's, sendo a maioria menores que 1 ha e isolados entre si (Silvério Neto et al.
2015), fator este que altera as propriedades do habitat remanescente (Van Der Berg et al. 2001),
além de resultar em processos erosivos e assoreamento do rio.
O crescimento econômico atualmente, está cada vez mais atrelado à sustentabilidade
ambiental. Essa nova concepção se preocupa com o uso de tecnologias limpas, a minimização do
desperdício, a gestão sustentável dos recursos naturais, o entendimento e adequação às leis e metas
ambientais vigentes (Oliveira Filho 2004). Segundo a Lei Federal de Proteção da Vegetação Nativa
(Lei 12.651/2012) as matas ciliares são consideradas como Áreas de Preservação Permanente
(APP).
Neste sentido, estudos fitossociológicos das matas ciliares urbanas (MCU) são importantes
para o conhecimento das espécies e organização sócio-estrutural dessas comunidades (Prata et al.
2011), servindo de base para planejamento da recuperação e conservação ambiental de APP’s. Há

1
Parte da monografia do primeiro autor apresentada para o curso de Bacharelado em Gestão Ambiental, Instituto Três
Rios, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 2Laboratório de Ecologia e Evolução de Plantas, Departamento de
Biologia Vegetal, Universidade Federal de Viçosa, Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Viçosa, Minas Gerais, Brasil, CEP
36570-000. 3Laboratório de Ecologia Vegetal, Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. 4Departamento de Ciências
do Meio Ambiente, Instituto Três Rios, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Av. Prefeito Alberto da Silva
Lavinas 1847, Centro, Três Rios, RJ, CEP 25802-100. 5Autor de correspondência: heldernunes@outlook.com

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inúmeros serviços ecossistêmicos prestados por essas MCU’s, dentre os mais evidentes estão: a
preservação e a estabilidade do solo que, favorece a ciclagem de nutrientes e a diversidade
biológica, bem como o controle da erosão e o assoreamento do leito dos rios, além de auxiliar na
manutenção da qualidade e abastecimento das águas (Lucchese 2000, Oliveira 2013). Por serem
áreas sujeitas a distúrbios naturais periódicos, são eficientes armazéns de carbono atmosférico na
matriz urbana. Boa parte das espécies vegetais comuns a esses ambientes ripários são ornitocóricas,
o que faz desses locais, sítios preferenciais para visitação de pássaros e outros animais em buscar
alimento e abrigo. Neste sentido, conhecer a diversidade das MCU's é de fundamental importância
para a gestão do espaço natural e preservação dos serviços ecossistêmicos prestados.
O presente trabalho teve como objetivo investigar a estrutura de um trecho de MCU do Rio
Paraíba do Sul, na cidade de Três Rios, Rio de Janeiro, visando contribuir com futuras ações de
gestão/proteção da mata ciliar e serviços ambientais associados.

Material e Métodos
O município de Três Rios possui 326 km², está situado na mesorregião Centro-Sul
Fluminense (22°07’01”S e 43°12’32”W) (Figura 1) e localiza-se a 125 km da capital do Estado do
Rio de Janeiro (IBGE 2016).

Figura 1.Mapa de localização do município de Três Rios, Rio de Janeiro, Brasil. Área de estudo
(vermelho); área de reflorestamento (verde).

O clima é mesotérmico, sendo descrito como Cfa na classificação de Köppen, com


precipitação média anual de 1.300 mm e temperatura média variando de 14,2ºC a 37,4ºC, com as
maiores temperaturas e índices de precipitação no verão (Köppen, 1948; Gomes et al. 2013; Alvares
et al. 2014).
Nesse estudo foi analisada uma área de mata ciliar urbana (MCU) de 6,84 hectares
localizada na margem direita do rio Paraíba do Sul, no Parque Natural Municipal de Três Rios, em
área localizada na Avenida Araribóia, bairro Nova Três Rios, na cidade de Três Rios, Rio de

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Janeiro. A vegetação se enquadrada na fitofisionomia de Floresta Estacional Semidecidual. É


possível observar a ocorrência de distúrbios ambientais no local. Uma pequena parte da área foi
reflorestada.
As expedições de campo ocorreram mensalmente entre setembro de 2012 a maio de 2014.
As amostras foram herborizadas segundo as técnicas usuais (Vaz et al. 1992). A identificação do
material e confirmação dos nomes científicos foi feita com base em bibliografias especializadas e
consulta ao herbário virtual JABOT (JBRJ). O sistema de classificação utilizado foi APG IV
(2016). Os nomes científicos foram consultados e validados de acordo com a ferramenta The
Taxonomic Name Resolution Service (2003).
Foram inventariados todos os indivíduos arbóreos com DAP ≥ 5 cm. Além do DAP, a
altura total de cada indivíduo foi estimada visualmente. A estrutura da comunidade arbórea foi
determinada pelos parâmetros fitossociológicos como propostos por Müeller-Dombois & Ellenberg
(1974): IVC (índice de valor de cobertura); N (número de indivíduos); DA (densidade absoluta,
árv.ha-1); DR (densidade relativa, %); DoA (dominância absoluta, m².ha-1); DoR (dominância
relativa, %).
A diversidade foi calculada utilizando os índices de Shannon-Weaver, assim como o
Coeficiente de Mistura de Jentsch (QM) (Hosokawa 1981). O estágio sucessional predominante na
área foi classificado de acordo com a Resolução 6, de 1994, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) considerando-se apenas as espécies espontâneas, excluindo-se as espécies
do trecho reflorestado. Os parâmetros fitossociológicos, histogramas e medidas de diversidade
foram calculados por meio do software R v. 3.3.2 (R Core Team 2016).

Resultados e Discussão
Foram encontradas 75 espécies arbóreas, distribuídas em 27 famílias (Tabela 1), a densidade
foi de 141,22 árv.ha-1 e área basal de 3,56 m².ha-1. Do total de espécies, 14 fazem parte da área de
reflorestamento e, destas, apenas Eugenia brasiliensis Lam. e Cariniana legalis (Mart.) Kuntze são
endêmicas do bioma Mata Atlântica. Em relação à estrutura vertical da comunidade arbórea (Figura
2), pode-se afirmar que é composta por dois estratos definidos, sendo que a maioria dos indivíduos
(60,2%) apresentam alturas entre 3,0 m e 7,0 m (média de 7,34 m). Existem alguns indivíduos
emergentes, como por exemplo um indivíduo de Schizolobium parahyba (Vell.) S.F. Blake,
presente na área de reflorestamento, de altura estimada de 23 metros.

Tabela 1. Espécies arbóreas amostradas em um trecho da mata ripária urbana da margem direita do
rio Paraíba do Sul, Três Rios - RJ. Legenda: * espécies plantadas pelo projeto de reflorestamento da
Organização não governamental Três Rios, três vidas; # espécies nativas; ∆ espécies endêmicas.

Família (espécies) Nome popular


ANACARDIACEAE
Anacardium occidentale L. # cajueiro
Mangifera indica L. * mangueira
Schinus terebinthifolius Raddi *# aroeira-vermelha
Spondias dulcis Parkinson *   cajá manga
ANNONACEAE  
Annona mucosa Jacq. #   biribazeiro
BIGNONIACEAE
Handroanthus chrysotrichus (Mart. ex A. DC) Mattos # ipê-amarelo
Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos # ipê-rosa
Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos # ipê-roxo
ipê-rosa-de-folha-
Tabebuia heterophylla (DC.) Britton.
larga

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Família (espécies) Nome popular


Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith # ipê-branco
Tecoma stans (L.) Juss. exKunth ipê-de-jardim
BIXACEAE
Bixa orellana L. *# urucum
BORAGINACEAE
Cordia abyssinica R. Br. ex A. Rich. córdia
CHRYSOBALANACEAE
Licania tomentosa (Benth.) Fritsch #∆ oiti
COMBRETACEAE
Terminalia catappa L. amendoeira
EUPHORBIACEAE
Croton urucurana Baill. # capixingui
Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg. # seringueira
Joannesia princeps Vell. #∆ cutieira
Ricinus communis L. mamona
FABACEAE
Adenanthera pavonina L. tento-carolina
Albizia lebbeck (L.) Benth. albízia
Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkart # farinha-seca
Anadenanthera colubrina (L.) Speg. # angico
Bauhinia variegata L. pata-de-vaca
Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz #∆ pau-ferro
Centrolobium tomentosum Guillemin ex Benth. #∆ araribá
Clitoria fairchildiana R.A. Howard # sombreiro
Dalbergia nigra (Vell.) AllemãoexBenth. #∆ jacaranda-da-bahia
Delonix regia (BojerexHook.) Raf. flamboyant
Erythrina vernaVell. # mulungu
Erythrina speciosa Andrews #∆ eritrina
Hymenaea courbaril L. # jatobá
Inga edulis Mart. # ingá-cipó
Inga laurina (Sw.) Willd. # ingá-branco
Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit. leucena
Machaerium hirtum (Vell.) Stelfelld. # bico-de-pato
Mimosa pigra L. # mimosa
Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H. C. Lima & G. P. Lewis *# pau-brasil
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J. F. Macbr. # pau-jacaré
Poincianella pluviosa (DC.) L. P. Queiroz # sibipiruna
Samanea tubulosa (Benth.) Barneby& J. W. Grimes # sete-cascas
Schizolobium parahyba (Vell.) S.F. Blake *# guapuruvu
Senna siamea(Lam.) H. S. Irwin & R.C. Barneby senna
LAURACEAE
Persea americana Mill. * abacate
LECYTHIDACEAE
Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze *# jequitibá-branco
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze *#∆ jequitibá-rosa
Lecythis pisonis S. A. Mori #∆ sapucaia
LYTHRACEAE

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Família (espécies) Nome popular


Lagerstroemia speciosa (L.) Pers. resedá-gigante
MALPIGHIACEAE
Malpighia glabra L. acerola
MALVACEAE
Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna # paineira
Talipariti tiliaceum (L.) Fryxell algodoeiro-da-praia
Pachira aquatica Aubl. # munguba
castanha-do-
Pachira glabra Pasq.*
maranhão
Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Robyns #∆ embiruçu
MELIACEAE
carrapeta-
Guarea guidonia (L.) Sleumer
verdadeira
Melia azedarach L.* pára-raio
MORACEAE
Ficus maxima Muller # figueira
Ficus sp.
Morus nigra L. amoreira-preta
MYRTACEAE
Eugenia brasiliensis Lam.*# ∆ grumixama
Eugenia sp.
Psidium guajava L. # goiabeira
Syzygium cumini (L.) Skeels jamelão
OLEACEAE
Ligustrum lucidum W. T. Aiton ligustro
POLYGALACEAE
Triplaris americana L. *# pau-formiga
RHAMNACEAE
Hovenia dulcis Thunb.* uva-do-japão
ROSACEAE
Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. nespereira
RUTACEAE
Citrus aurantifolia Swingle limão-galego
SALICACEAE
Casearia sylvestris Sw. # carvalinho
Salix humboldtiana Andersson # salgueiro
SAPINDACEAE
Sapindus saponaria L. # saboneteira
SAPOTACEAE
Chrysophyllum cainito L. abiu-roxo
SOLANACEAE
Acnistus arborescens (L.) Schltdl. # marianeira
Cestrum intermedium Sendtn. # coerana
URTICACEAE
Cecropia hololeuca Miq. #∆ embaúba

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Figura 2.Número de indivíduos amostrados, classificados por altura média em um trecho da mata
ripária urbana da margem direita do rio Paraíba do Sul, Três Rios-RJ.

O diâmetro médio da comunidade arbórea foi 14,43 cm, o DAP máximo foi observado
para um indivíduo de Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos (Bignoniaceae) (62,07
cm),48,9% dos indivíduos apresentaram no máximo 10 cm de diâmetro. A população apresenta
distribuição diamétrica do tipo J invertido (Figura 3), em que ocorre maior frequência de indivíduos
nos menores valores de diâmetro e que, segundo Assunção & Felfili (2004), demonstra que a
comunidade em estudo é auto regenerativa, caso não ocorra perturbação. Em comunidades com esse
padrão diamétrico, pode-se inferir que a vegetação está em estágio inicial de sucessão secundária
(Pires & Prance 1977) embora outros parâmetrosdevam ser levados em consideração. Segundo
Prata et al. (2011), os processos de sucessão são mais lentos em ambientes suscetíveis ao
alagamento, além da velocidade de regeneração depender da conectividade dos fragmentos
florestais na paisagem, que podem atuar como fontes dispersoras de sementes e propágulos. Como
na área estudada não há muitos fragmentos florestais próximos, a regeneração autóctone deve
predominar, prejudicando a sustentabilidade da MCU em longo prazo.

Figura 3.Distribuição do diâmetro médio dos indivíduos amostrados em um trecho da mata ripária
urbana da margem direita do rio Paraíba do Sul, Três Rios-RJ.

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As cinco espécies de maior densidade na área foram Croton urucurana Baill. (154) e
Ricinus communis L. (68) (Euphorbiaceae), Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos
(38) (Bignoniaceae), e Leucena leucocephala (Lam.) de Wit. (127) e Inga edulis Mart.(47)
(Fabacaeae) (Tabela 2).
Croton urucurana é uma espécie nativa, pioneira, apresentando elevado potencial de
colonização em ambientes ribeirinhos perturbados (Rodrigues 1995, Prata et al. 2011). E
Leucaenaleucocephala é uma espéciemuito utilizada para fertilização do solo, alimentação de gado
e arborização urbana (Zárate 1987, Lorenzi et al.2001, 2002), se comportando como exótica
invasora agressiva, pois ocupa o nicho ecológico das nativas e compete por nutrientes (Lorenzi
2000, Mack et al. 2000).
A presença de espécies zoocóricas como Croton urucurana e Inga edulis entre as espécies
mais abundantes favorece a visitação pela fauna que se alimenta destes frutos. A interação entre
fauna e flora é essencial para manutenção da diversidade em áreas perturbadas.

Tabela 2. Espécies arbóreas mais abundantes em um trecho da mata ciliar urbana da margem direita
do rio Paraíba do Sul, Três Rios-RJ. Legenda: IVC - índice de valor de cobertura; N - número de
indivíduos; DA = densidade absoluta (árv.ha-1); DR= densidade relativa (%); DoA = dominância
absoluta (m².ha-1); DoR = dominância relativa (%).

Táxon IVC N DA DR DoA DoR


Croton urucurana 15,94 154 19,03 15,94 0,0981 0,0637
Leucaena leucocephala 13,41 127 15,69 13,14 0,3348 0,2636
Ricinus communis 7,10 68 8,40 7,03 0,4559 0,0670
Inga edulis 5,43 47 5,80 4,86 0,2700 0,5745
Samanea tubulosa 4,83 36 4,44 3,72 0,4004 1,1123
Handroanthus impetiginosus 4,42 38 4,69 3,93 0,1885 0,4962
Clitoria fairchildiana 4,41 34 4,20 3,51 0,3039 0,8940
Albizia lebbeck 3,14 26 3,21 2,69 0,1176 0,4526
Schizolobium parahyba 2,97 18 2,22 1,86 0,2008 1,1155
Anadenanthera colubrina 2,79 22 2,71 2,27 0,1131 0,5144
Mangifera indica 2,47 21 2,59 2,17 0,0627 0,2986
Salix humboldtiana 2,32 21 2,59 2,17 0,0311 0,1481
Delonix regia 2,16 12 1,48 1,24 0,1110 0,9251
Piptadenia gonoacantha 2,09 18 2,22 1,86 0,0422 0,2349
Licania tomentosa 2,06 17 2,10 1,75 0,0517 0,3042
Adenanthera pavonina 2,05 19 2,34 1,96 0,0158 0,0833
Inga laurina 2,00 18 2,22 1,86 0,0252 0,1404
Joannesia princeps 1,84 14 1,35 1,11 0,0558 0,3989
Sapindus saponaria 1,79 16 1,97 1,65 0,0221 0,1383
Psidium guajava 1,77 16 1,97 1,65 0,0190 0,1191

O índice de diversidade de Shannon-Weaver (H’) obtido foi de 3,39. De acordo com Knight
(1975), conforme estudos ocorridos em florestas tropicais, tal índice varia entre 3,83 e 5,85. O
Coeficiente de Mistura de Jentsch (QM) obtido foi de 0,068, ou 1:14, o que indica baixa

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diversidade, já que quanto mais próximo a 1, mais diversa é a comunidade. Já o valor 1:14, indica
que, para cada espécie, temos 14 indivíduos, número que indica maior homogeneidade no ambiente
do que o coeficiente (1:6) encontrado por Hosokawa (1981) em florestas tropicais. Tais índices
demonstram a baixa diversidade do local, em comparação com números obtidos para florestas
tropicais. Portanto, ao analisar os baixos resultados encontrados para os índices, pode-se inferir que
algum fator está afetando a diversidade local, que pode ser devido à distúrbios presentes no local
como, por exemplo, pisoteio de animais, queimadas, invasão de espécies exóticas e demais
distúrbios ocorridos na região.
De acordo com os parâmetros estruturais (dados fitossociológicos) sugeridos pela resolução
CONAMA nº 6, de 4 de maio de 1994, a vegetação da área de estudo encontra-se em estágio
intermediáriode sucessão secundária, com árvores com DAP médio entre 10-20 cm, altura média
variando entre 5 e 12 m, presença de serrapilheira, área basal média entre 10-28 m2.ha-1. Neste
estágio, segundo a resolução podem permanecer indivíduos do estágio inicial que para este estudo
foi representado pela presença de Croton urucurana, Anadenanthera colubrina e Cecropia
hololeuca. As espécies do reflorestamento não foram consideradas para fins de enquadramento da
área no estágio sucessional e dos parâmetros fitossociológicos por se tratar de espécies introduzidas.
Os baixos valores de riqueza encontrados para a área podem ser atribuídos à ocorrência de
processos de perturbação (pisoteio de animais, queimadas, plantio de espécies exóticas) e distúrbios
naturais ocasionados, principalmente, pelos eventos de inundação fluvial, pelo lançamento de lixo e
efluentes diretamente no rio sem nenhum tipo de tratamento

Conclusões
Na mata ciliar estudada na cidade de Três Rios foram encontrados baixos índices relativos à
diversidade de espécies. Além disso, é possível verificar a forte presença de algumas espécies
típicas de ambientes perturbados além da invasão de espécies exóticas, fator alarmante para a
manutenção dos serviços ecossistêmicos da área.A baixa diversidade observada na área de estudo
está relacionada a perturbações na área de estudo, com influência antrópica constante, devido às
atividades econômicas e a falta de uma política pública que proteja esta região. Indica-se como
manejo da área, o controle de espécies exóticas como a L. leucocephala, T. stans e H. dulcis e o
enriquecimento com espécies pioneiras, secundárias e climáxicas de múltiplos usos, que
aumentarão o índice de diversidade e a função ambiental da floresta no ambiente urbano.

Agradecimentos
O primeiro autor agradece à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro pela bolsa de apoio técnico-
acadêmico concedida no período da graduação.

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