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Linguística Aplicada Manhã

Professora: Graziela Borguignon Mota


Manuela Bassin Martins de Castro

RESENHA
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística
17. ed. - São Paulo: Contexto, 2010

CREDENCIAIS DO AUTOR
Tem graduação em Letras (Bacharelado em Língua
Portuguesa) pela Universidade Federal de Pernambuco (1991),
mestrado em Linguística pela Universidade Federal de
Pernambuco (1995) e doutorado em Filologia e Língua
Portuguesa pela Universidade de São Paulo (2000). É professor
Associado do Instituto de Letras da Universidade de Brasília
(UnB). É colaborador do Programa de Estudos da Linguagem da
Universidade Federal Fluminense (UFF). Tem experiência na
área de Linguística, com ênfase em Tradução, Sociolinguística e
ensino, atuando principalmente nos seguintes temas: prática de
tradução francês/português, ensino de português, sociologia da
linguagem, política linguística, gramática tradicional e
português brasileiro.

RESUMO DA OBRA

A obra sociolinguística de Marcos Bagno, publicada


originalmente em 1997, busca mostrar que o uso de outro tipo
de vocabulário nem sempre é considerado um "português
incorreto".
A forma incomum que algumas utilizam ao falar pode ser
descrita por muitos estudos, como a linguística, a história, a
sociologia e inclusive a psicologia.
Apesar de a prática educativa negar a existência do pluralismo
no mundo lusófono, e rejeitar que a norma padrão seja uma das
muitas variantes possíveis do uso do português, nosso idioma
está sempre sofrendo um processo de mudança, sobretudo
quando observamos os estrangeirismos, ou seja, palavras que
não fazem parte do português padrão.
A interferência de palavras oriundas de línguas estrangeiras se
deve principalmente as pessoas que imigram para nosso país,
que incluem lusitanos, norte-americanos, nipônicos, germânicos
e itálicos.
Integrante do acervo Caminhos da Linguística, esta obra conta a
história de três estudantes universitárias, que cursam psicologia,
literatura e pedagogia e escolhem passar férias com a tia de uma
delas, a professora aposentada Irene, em uma fazenda em
Atibaia, São Paulo.
Com o passar do tempo, as jovens se envolvem cada vez mais
com Irene em ambientes não acadêmicos, elaborando ideias e
pesquisas diferentes das aprendidas em sala de aula, com
chances de reconstruir vários conceitos em português com
padrões diferentes.
As moças confidenciam a Irene que acham o discurso de
Eulália, empregada e grande amiga da professora de muito
tempo, confuso, observando o uso de frases como "os fósfro" e
"as pranta", bem como o termo "os broco". No entanto, as
mulheres aprendem que essas pronúncias não são erradas ou
inadequadas. Em vez disso, elas são apenas diferentes do padrão
atual. Assim, chegam à conclusão de que pronúncias como “R
caipira”, “tamém” e “as tauba” não devem ser entendidos como
incorretos pelos educadores mas sim como uma língua diferente,
que tem sua coerência e coesão dentro da situação que vive o
falante.
Embora considerados "errados" por muitos, no português
padrão, que é considerado "correto", alguns verbos possuem
dois particípios passados, um dos quais tem uma forma mais
curta, como o verbo aceitar, que pode ser pronunciado aceitado
ou aceito; entregar, que pode ser conjugado para entregado ou
entregue; além do verbo pagar, também pode ser usado como
pagado ou pago.
A professora Irene, que também possui doutorado em
linguística, convocou as alunas a refletirem se a língua falada no
Brasil é realmente o português, uma vez que os brasileiros não
entendem português no século XII, nem entendem português
lusitano. Chegaram à conclusão de que o nosso “português” não
existe, em razão de ser uma língua composta por muitas outras
línguas e dialetos, completamente alterável e mutante.
O que realmente existe, explicou, é uma variante portuguesa. Os
sotaques e as características do português são muito específicos
em diferentes partes do país, mas a norma padrão com ortografia
oficial definida pela Academia Brasileira de Letras é a única que
é seguida em todo o país.
Este regulamento marca a diferença entre a língua falada, que
nem sempre segue os padrões estabelecidos por lei, e o
português padrão, também conhecido como norma “culta”.
Enquanto o Português Padrão é aprendido nas escolas e usado
como língua escrita, o Português Não Padrão é passado de
geração em geração através da oralidade.
As regras do português não padronizado são aprendidas quase
automaticamente por imitação. É uma linguagem mais prática,
que tenta eliminar regras desnecessárias. É também inovadora e
se deixa atrair pelo dinamismo da mudança.
Em contrapartida, o português padrão é muitas vezes excessivo
e requer muitas regras para explicar um fenômeno. É
tradicionalista, demorando muito para aceitar qualquer tipo de
novidade, permanecendo o mesmo por muito tempo.
A linguista ainda ressalta que, devido às normas cultas impostas
pela língua portuguesa, quando comparamos o português padrão
e o português não padrão, pode-se ver mais semelhanças do que
diferenças, especialmente perceptíveis em características
linguísticas, incluindo que os falantes letrados da região Sul
podem se comunicar com pessoas da região Norte que nunca
frequentaram uma sala de aula. Isso se deve à influência do
português padrão nos falantes de ambas as regiões.
Uma pessoa com nível educacional mínimo pode ter
dificuldades para compreender uma linguagem padronizada,
mas isso não significa que ele não tenha a capacidade de
aprendê-la, dependendo, de certa forma, da compreensão e do
método que seu professor usa para ensinar na escola que
frequenta.
O livro A Língua de Eulália mostra que, entre outras coisas, ao
comparar o português padrão e o não padrão, o principal
preconceito que se destaca não é exatamente o linguístico, mas o
social, mostrando que esses preconceitos estão profundamente
difundidos na nossa sociedade, assim como o étnico, o
socioeconômico e diversos outros.
O interesse do autor é, através desta obra, revelar a
sociolinguística de uma forma particular, afirmando que, por
mais estranhas que certas pronúncias possam parecer, por mais
discordantes que sejam do português padrão que nos foi
ensinado na escola, cada uma das palavras tem um significado
perfeito que pode ser explicado na história da língua portuguesa.
A Língua de Eulália leva o leitor numa autêntica “viagem à terra
da linguística” e ajuda a compreender, de maneira ilustrativa e
fluida, as variações da nossa língua portuguesa.

CONCLUSÃO
Apesar de longo, o texto não apresenta leitura cansativa,
sendo, de fato, fácil de se compreender, até para alguém que não
está familiarizado com o contexto. Também não apresenta
escrita muito sofisticada, o que facilita na compreensão do
conteúdo e o torna dinâmico com apresentações de esquemas
visuais. Algumas partes requerem uma maior atenção para que
possa se entender o real sentido daquela explicação mas nada
exageradamente detalhado.

INDICAÇÕES
A leitura deste texto é indicada para estudantes da
linguagem, de letras, professores, linguistas. O tema é tratado de
forma fluida e linguagem majoritariamente simples, com
imagens, facilitando a compreensão e o tornando aplicável em
tópicos de meio acadêmico mas também podendo ser facilmente
compreendido por leigos.

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