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Corpo-mulher

Compositora: Madú Marambá

Aprender-me a cada dia


Nossos ciclos, nossas luas
Sou as estações do ano
Feminina, nossa estrada

Ser mulher é se tornar


Uma deusa todo dia
De mãos dadas, vamos todas
Pra ganhar nossa alforria

Ampliar a consciência
Quebrar tabus antigos
De tempos proibidos
Ver-se além do outro sexo

Meu corpo, corpo meu

Ter coragem pra ser uma


Ir além do que se espera
Ainda que árdua seja vida
Feminina, nossa estrada

Reconhecer-se natureza
Definir-se por si mesma
Corpo, casa da alma
Mais que uma frágil beleza

Meu corpo, corpo meu


__

(Poema “Eu-mulher” recitado com consentimento e autorização da autora Conceição Evaristo)

Uma gota de leite

me escorre entre os seios.

Uma mancha de sangue

me enfeita entre as pernas.

Meia palavra mordida

me foge da boca.

Vagos desejos insinuam esperanças.

Eu-mulher em rios vermelhos

inauguro a vida.

Em baixa voz

violento os tímpanos do mundo.

Antevejo.

Antecipo.

Antes-vivo

Antes – agora – o que há de vir.

Eu fêmea-matriz.

Eu força-motriz.

Eu-mulher

abrigo da semente

moto-contínuo do mundo

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