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UNIVERSIDADE DE COIMBRA Boletim | da Faculdade de Direito VOL. LXXXVIII Tomo II COIMBRA 2012 AARBITRAGEM INTERNACIONAL NO NOVO DIREITO PORTUGUES DA ARBITRAGEM* Rut Manuet Moura Ramos Homenagen ae orge de Fiquuiredo Dias Prof Dowtor J 1. Em 14 de Margo de 2012 entrou em vigor na nossa ordem juridica ‘uma nova lei da arbitragem voluntéria!, fortemente inspirada pela Lei-Modelo da UNCITRAL sobre Arbitragem Comercial Internacional de 1985° * Por condicionalismos nao imps todavia superar, no nos foi possivel colaborar, como desejavamos, em al res § nossa vontade € que nio conseguimos guns dos Livms te Homenagem organizados a0 longo dos iltimos anos no seio da Faculdade a alguns dos seus (1oss0s) antigos professores. Tentando colmatar parcialmerte essa lacuna, € embora tardiamente, o presente estudo & dedicado a0 Professor Doutor Jorge de Figueiredo Dias Gf let n° 63/2011, de 14 de Dezembro, cujo artigo 1.°, n° 1, aprova a Lei dia Arbitragem Voluntiria publicada em anexo a essa lei e que dela faz parte integrante Para uma visio de conjunto desta lei, cf. Armindo Ribeiro Menpes e outros, Lei da Arbitrage Voluntdria Anotada, 2012, Almedina, Anténio Sampaio Caramtto, A reforms dda lei da arbitragem voluntitiae,2 Revista hntertacioual de Arbitmagem ¢ Conciliagio (2009), 1p. 7-56, os trabalhos preparatérios (+Anteprojecto da Lei de Arbitragem da Associagio Portuguesa de Arbitragem, 3 Revista Intemacioual de Arbitragem ¢ Concitiagie (2010), p- 167 230, ¢ Proposta de Lei n® 22/XII/1* (GOV), € Armindo Ribeiro MENDES, «A hrova lei da arbitragem voluntiria: evolugio ou continuidade?», 5 Revista hnternadowal de Abitragem e Concliagéo (2012), p. 7-35, > Este instrumento foi adoptado pela Comissio das Nagdes Unidas para 0 Direito do Comércio Internacional (UNCITRAL) na sua décima oitava sessio,a 21 de Junho de 1985, Para sim comentiio a este texto, veja-se, do ponto de vista da ordem jurfdica portuguesa, Maria Angela Bento Soares ~ Rui Manuel Moura Ramos, «Arbitragem BFD 88 (2013) 583-004 584 vouTRINA Esta lei revogou" com excepgéo de uma das suas disposigdes que se man- tem parcialmente em vigor’, a lei n.° 31/86°, de 29 de Agosto, em vigor desde 29 Novembro de 1986", que, tendo tido em consideracio o padrio constituido pela Lei-Modelo da UNCITRAL, dele se havia afastado ‘Comercial Internacional. Anilise da Lei-Modelo da CNUDCI de 1985», Documentagio ¢ Dinito Comparado, 21 (1985), p. 229-387. * Chi. o seu artigo 5.°,n.° | Revogam-se ainda outras disposigdes do Cédigo de Processo dos Tribunais Administrativos (o artigo 181.°,n.° 2, ¢ 0 artigo 186.") e do Cédigo de ?rocesso Civil (© artigo 1097.°) (eff. 0s n.%s 2 et 3 do citado artigo 5.”), ficando assim concentrado nesta lei o regime da arbitragem voluntéria + Com efeito, a disposicio citadla na nota anterior mantém em vigor o artigo 1.°, no 1, da lei n.* 31/86, para a arbitragem de litigios emergentes de ou relativos a con- tratos de trabalho, Prevé-se que a submissio a arbitragem de litigios emergentes de ow relativos a contratos de trabalho seja regulada por lei especial (artigo 4.°,n.* 4), determinando-se que, até entrada em vigor desta, se aplique 0 novo regime ora aprovado, ¢, com as devidas adaptagdes, 0 n.° 1 do artigo 1.° da Lei n.° 31/86. O que se tradaz em subme- ter os litig ios em matéria de relagdes de trabalho a um critério diferente, no que se refere 4 respectiva arbitrabilidade (0 carécter nio disponivel do direito em causa, que era 0 critério acolhido na lei n.° 31/86, enquanto que a nova lei se refére ao critério da natureza patrimonial dos interesses que se pretende submeter 4 arbitragem ~ eff. 0 numero 1 do artigo 1.° de ambas as leis). Mais radical € a solugio da lei espanhola que exclui as questdes de trabalho do Ambito material de aplicagio da lei da arbitragem (cf. ‘on.° 4 do artigo 1.° da lei 60/2003, de 23 de Dezembro). Sobre este iiltimo problema ~ a arbitrabilidade das relagdes de trabalho ~ cft. Moura Ramos, «A Convengio de Bruxelas sobre competéncia judiciéria ¢ execugio de decisdes : sua adequagio 4 reali- dade juslaboral actual», in Estudos de Direito Internacional Privado e Direito Processual Civil Internacional, Coimbra, 2002, Coimbra Editora, p. 41-73 (50-54). 5 Sobre esta lei, cfr. Marques dos Santos, «Nota sobre a nova lei portuguesa rela~ tiva 4 arbitragem voluntitiay, 1 Revista de la Corte Espaitola de Arbitraje (1987), p. 15-50, Moura Vicente, «L’évolution récente du droit de Varbitrage au Portugals, Reme de arbitrage, 1991, p. 419-445, € «Applicable law in voluntary arbitrations in Portugal», 4+ L.C.L.Q. (1995), p. 179-191, e Morais Lerrho / Moura Vicenre, «Portugale, International Handbook on Commewial Arbitration, suppl. 45, Janvary 2006, Kluwer Law International “ Anteriormente a esta data, o regime portugués da arbitragem interna estava contido no Decreto-Lei n.° 243/84, de 17 de Julho, que visou substituir a regulamen- tagio contida no Titulo I do Livro IV do Cédigo de Processo Civil, que todavia nio foi expressamente revogado. Para o respectivo contetido, cft. Maria Angela Bento Soa~ nes ~ Rui Manuel Moura Ramos, «Arbitragem Comercial Internacional, Andlise da. Lei-Modelo da CNUDCI de 1985» (cit. supra, nota 2). O Decreto-Lei n.° 243/84 € 0 BED 88 (2013) 383-604 |ARUITRAGEM INTERNACIONAL NO NOVO DIREITO PORTUGUES DA ARIITRAK cconscienteriente em aspectos importantes. Diversamente, 0 legislador de 2011 tomou a opsao oposta, alinhando-se expressamente por este tiltimo smodelo”. Tal como o diploma que vem substituir, a nova lei visa principal gnente a arbitragem interna, ocupando-se ao mesmo tempo da arbitragem qnternacional”. Limitar-nos-emos neste estudo a um breve comentario _—————_ Titulo Primeiro do Livro IV do Cédigo de Processo Civil apenas seriam revogados pelo artigo 39.°,n.°s 1 ¢ 3, da lei n.° 31/86 7 Tal alinhamento é visivel quer no que diz respeito ao texto inicial da Lei- “Modelo quer no que se refere is alteracdes de que este foi objecto em 2006 (cft.,a gate propésito, a resolugio 1.° 61/33 da Assembleia Geral das Nagdes Unidas de 3 de Dezembro de 2006,). 5 Excepedo feita a arbitragem no dominio das relagdes de trabalho, que seri bjecto de um regime especifico, Cf. 0 artigo 4%, n.° 4, da lei n.* 63/2011, € supra nota 4 * Esta cbordagem metodolégica nfo é a tinica possivel. Alguns sistemas ocupant- -se simplesmente da arbitragem sem distinguir entre a arbitragem interna e a interna~ ional, aplicando pois, em ambas as situagdes, 0 mesmio conjunto de regras,e nio tendo assim que definir arbitragem internacional ~é 0 caso, no Brasil, da lei 9307, de 23 de Novembro de 1996; eft. Joio Bosco Lte, sLe nouveau régime de larbitrage au Brésily Revue de arbitrage, 1997, p. 199-208, e p. 297-310, para o texto da lei, Carmen Tiwur- cio, «A arbitragem no dircito brasileiro», Revista Forense, volume 351, p. 49-63, & ‘Arnoldo Watp, «A evolucio da arbitragem no Brasil», in 1 Congresso do Centro de Arbinagem de Camara de Comécio ¢ Ludistria Portuguesa (Centro de Arbitiggent Comertial, Coimbra, 2011, Almedina, p. 187-210. Outros sistemas, como acontece com o Arbitia- rion Act inglés, chegam a idéntico resultado porque, tendo iniciakmente previsto dispo- sigdes especinis (0s artigos 85 a 87) para a arbitragem interna, tais regras cedo foram consideradas contritias ao direito da Uniio Enropeia, e, de seguida, revogadas (sobre esta lei, ef. cs analises de V.V. Veever, La nouvelle loi anglaise sur arbitrage de 1996: li naisance d'un magnifique éléphant, Lord Mustitt, #La nouvelle Joi anglaise sur Varbitrage de 1996: philosophic, inspiration, aspiration» et Claude Reymonp, ‘«L’Arhitration Act 1996. Convergence et originalité», na Revue de l'arbitmge, 1997, res- pectivamente a paginas 3-27, 29-43, e 45-68, assim como a tradugio francesa do texto da lei, ibiden, p.93-156; e 0 mesmo ocorre com a lei escocesa, que contém igualmente uma codificagio completa e integrada da arbitragem interna ¢ internacional (neste sentido, eff. Nathalie Meyer Fasne / Carla Baker Cutss, «La nouvelle loi écossaise sur arbitrage (Arhitnation (Scotland) Act 2010)», Revue de larbitrage, 2010, p. 801-811). Na maioria dos casos, contudo, as legislagdes dirigem-se a arbitragem interna, contendo porém disposigdes sobre a arbitragem internacional, O sistema alemao (lei de 22 de Dezembro de 1997, que reforma, na matéria, 0 Cédigo de Processo Civil para uma versio em ‘ingua francesa, off. a Revue de Varbitrage, 1997, p. 291-303) apresentase porém em termos diversos. Tendo em vista as arbitragens em que o ugar da arbitragem BED 88 (2013) 583-604 586 _DOUTRINA das suas disposigdes que se referem especificamente & arbitragem inter~ nacional’. 2. Antes de entrar no objecto da questio que nos propomos tratar, é necessério, contudo, considerar em primeiro lugar 0 campo de aplica~ gio no espaco da nova lei. Seguindo expressamente a Lei-Modelo da UNCITRAL (ver 0 artigo 1°, n.° 2 desta Lei), € adoptando a mesma solugio que jé tinha sido seguida pela lei n.° 31/86", a nova lei prevé (cal como a prépria lei o define) se localiza na Alemanha, prevé-se que certas das suas disposigdes (0s artigos 1032, 1033 1050, relativos as relagdes com os tribunais esta uais) sio igualmente aplicaveis is arbitragens cuja sede se encontra no estrangeiro. Ci. Peter Scntossex, «La nouvelle législation allemande sur l'arbitrager, Revue de Pavbitmae, 1997, p. 441-458, e «German arbitration law and the UNCITRAL Model Law», 3 Revista Internacional de Arbitrager ¢ Conciliagia (2010), p. 117-136. © Nao trataremos assim de uma questio que igualmente diz respeito 20 direito internacional privado:a do reconhecimento e da execugio das decisSes arbitra estran~ geiras, (© campo de aplicagio da nossa lei coincide assim com 0 da lei croata de 2001. Cir, a este propésito, Kresimir Sajko, New Croatian 2001 Arbitration Law ~ General Analysis and some open issuese, in Festschnfi fur Erik Jayme, Band 1, Munchen, 2004, Sellier, p. 793-804, p. 797. Para uma visio de conjunto da problemitica da cional, efi, entre nés, Lima Puusemo, Arbitragen Teansnacional. A determinacao do estauuto da arbitn- “gent, Coimbra, 2005, Almedina, e Manuel Pereira Barnocas, Manual de Arbitragen ‘Coimbra, 2010, Almedina, p. 545-746. "Cir o artigo 37.° desta lei. Esta referéncia a sede como critério de aplicacio no espaco das leis nacionais relativas § arbitragem tornou-se, para uma certa doutrina, indiscutivel (assim Andreas BucHER, Le nouvel arbitrage international en Suisse, Bile, 1988, Hetaine et LicHTENHAHN, p. 25), tendo obtido consagragio na maior parte das con vvengdes internacionais e das legislagdes naciomais. No que diz respeito, por exemplo,3 cordem juridica espanhola, cfr. a lei 60/2003, de 23 de Dezembro, no seu artigo 1+ ne 1. Sobre esta lei, oft. Ricardo YANEZ VELASCO, Comentarios sistematicos a la Ley 60/2003, de 23 de Diciembre, de Arbitraje, Valencia, 2004, tirant lo blanch, José Carlos FERNANDEZ RozAS, i José Carlos FERNANDEZ Rozas ~ Rafael Anenas Garcia ~ Pedro Alberto de Micuet Ascensto, Derecho de los Negocios Internacionales, 3* edigio, Madrid, 2011, ustel, p. 629-722, Fernando MANTILLA-SERRANO, «La nouvelle loi espagnole da 22 décembre 2003 sur Varbitrage>, Revue de Marbitrage, 2004, p. 225-251, oLa Ley Espaitola de Atbitraje», 3 Revista Internacional de Arbitragem € Cowciliago (2010), p. 27-43: em especial para as disposicdes que nela regulam a arbitragem internacional, cfr. Carlos Espiucues Mora, «Arbitration agreements in international arbitration. The new SP2 nish regulation», 10 Yearbook of Private Intemational Luv (2008), p. 93-111, ¢, para # BED 88 (2013) 583-004 i AARBITRAG! INTERNACIONAL NO NOVO DIREITO PORTUGUES DA ARBITRAGEM 587 expresssmente a sua aplicagio a todas as arbitragens que tenham lugar im territério portugués (artigo 61.°), acrescentando, e seguindo a este respeitc a opcio da Lei-Modelo e nio a da lei n.” 31/86, que se inclui também no seu objecto o reconhecimento € a execugo em Portugal de sentencas proferidas em arbitragens localizadas no estrangeiro””. O novo regime apresenta-se assim como uma regulamentagio com- pleta da matéria da arbitragem, abordando a arbitragem interna (entendida como 2 que nao apresenta elementos de estraneidade) ¢ a arbitragem internacional’, desde que quer num caso quer no outro o lugar da arbi- tragem se situe em tertitério portugués. Recorre-se aqui a0 critério da sede da arbitragem, que se impée naturalmente na arbitragem interna, mas que também é seguido na arbitragem internacional, tendo em conta a importincia dos tribunais estaduais no exercicio de certas fungdes de assisténcia € controlo no quadro da arbitragem'". A importancia desta precisio aparece, desde logo, se se tiver em consideragio a necessidade de resolver os conflitos de jurisdi¢es, designadamente os ce natureza posi- tiva, que se poderiam facilmente apresentar na determinacio da ordem jurisdicional que deveria exercer fungdes de controlo na arbitragem inter- reforma de que entretanto foi objecto, Juan FERNANDEZ-ARMESTO, «A arbitragem inter nacional na lei de atbitragem espanhola apés a reforma de 201 1», i IV” Congresso do Cont vie Avbitmgent da Camara de Comiércio e Indistria Portuguesa (Cento de Arbitrage Comercial) (it. supra, nota 9), p. 211-254, © Esta altima questio constituia objecto, em Portugal, do artigo 1097." do Cédigo de Processo Civil, hoje revogado (cfr. supra, nota 3) ¢ de certos instrumentos internacionais, de que o mais importante continua a ser (depois de 1994) a Convencio de Nova lorque, de 10 de Junho de 1958, sobre 0 reconhecimento ¢ a execucio das sentengas arbitrais estrangeiras. Sobre o regime do reconhecimente na nova lei, oft. Elsa Dias Ouivetra, «Reconhecimento de sentengas arbitrais estrangeiras», 5 Revista Interna~ ional de Arbitrage ¢ Couciliagéo (2012), p. 73-97. ° Como de resto aconeece em Espanta. Cl. « disposigio sitada supra, na nota 11, i five \ fi. 0 artigo 6 da Lei-Modelo da UNCITRAL, citado supra, ¢ Maria Angela Bento Soanes - Rui Manuel Moura Ramos, «Arbitragem Comercial Internacional. Anilise da Lei-Modelo da CNUDCI de 1983» (ct. supra, nota 2), p.255-257, ¢,no que se refers & aplicagao da presente lei, Pedro Metello de Navoues /Carla Géis Coruito, eA arbitragem e os tribunais estaduais ~ alguns aspectos praticosr, 5 Revista Internacional de Arbitragen ¢ Conciliagdo (2012), p. 195-219. Sobre a questio tratada neste niimero, cfr. Eduardo Santos JUNIOR, «Ambito espacial de regulagio e controlo estadual da arbitragem, 5 ibidem, p. 51-71, BED 88 (2013) 383-604 Sanaa 588 noureina | | nacional. No quadro de uma abordagem funcional da jurisdigao, em que esta exercida por um Estado sem atengio 4 proteccio dos seus interes- ses proprios ou a uma conexio de natureza territorial, a sede surge assim como 0 forum natural, o mais adequado, aquele onde devem ser concer tradas as acces de controlo da arbitragem internacional"’, A lei portuguesa limita-se a uma referéncia & sede, sem mais preci- s6es!", mas haveri de ter em conta, para a sua determinacio, 0 disposto no seu artigo 31.°, nos termas do qual as partes podem fixar livremente 9 lugar da arbitragem, competindo tal fixa¢io ao tribunal arbitral, tendo em conta as circunstincias do caso, incluindo a conveniéncia das partes, se elas nao se puserem de acordo a tal respeito. Pode assim pois conchuir- ~se que a nogio de sede permanece, como ocorre noutros sistemas juri dicos"”, um conceito juridico que consagra designadamente o primado da autonomia das partes a este propésito € que impede a aplicagio pura- mente mecinica de um critério geogrifico que excluiria o papel da vontade dos contraentes.Tal conceito supée assim um vinculo juridico, no apenas geogrifico, entre a arbitragem e uma dada ordem juridica, que nao é afastado pelo simples facto de as operagdes materiais em que se corporiza a arbitragem, incluindo a redacgio da sentenga, terem fisi- camente lugar noutro pais", 3. As arbitragens que, no sentido que acabamos de precisar, tém lugar em territério portugués, estio sujeitas 4 lei aprovada pela Lei '* Neste sentido, designadamente, Georgios Perrocetos, Procedural Law in Iuter- national Arbitration, Oxford, 2004, Oxford University Press, p. 65 Contrariamente ao que ocorte, por exemplo, com a lei federal suiga sobre 0 direito internacional privado, de 1987, cujo artigo 176, n.° 1, exige cumulativamente que pelo menos uma das partes nio tenha, no momento da conclusio da convengio de arbitragem, 0 domicilio ou a residéncia habitual na Suica " Clr.o Arbitration Aa inglés, de 1996 (ct snpra, nota 9), cuja terceira seccio define sa sede da arbitrage» como a sede juridica da arbitragem, que pode ser quer designada pelas partes na convengio de arbitragem, quer escolhida por um drbitro ou por uma outra pessoa ot instituic¢do a que as partes tenham dado poderes para o efeito, ou, na falta de uma cal designacio, pelo tribunal arbitral, desde que devidamente autorizado pelas partes, tendo em conta 0 acordo das partes ¢ todas as circunstincias pertinentes. ™ Neste mesmo sentido, Georgios Perrocuitos (lec. cit. nota 13), p. 68, 6, na doutrina portuguesa, Lima Prxiteino, Arbitrage Tiansuacioual. A determinasio do estatuto dda asbitmagem (cit. supra, nota 10), p. 244-266, que se pronuncia igualmente em favor do direito da sede convencional da arbitragem, [BED 8 (2013) 383-608 {uNITRAGEM INTERNACIONAL NO NOVO DIREITO PORTU 1.2 63/2011, independentemente do seu carécter interno ou internacio- wl Esta conclisio decorre do artigo 49.°, n.° 2 da lei, que, agora nos Fiesmos termos que a legislacio anteriormente em vigor entre n6s", prevé expressamente a aplicagio &arbitragem internacional, com as devi- ers adaptacdes, das disposicdes que estabelece para a arbitragem interna Importa asim definir 0 que se entende, para este efeito, por arbitra gem'“internacional”. A este respeito, 0 n.° 1 do mesmo artigo 49" con- Gera um conceito substantivo (ou econémico) de internacionalidade”, sfestando-se assim, do critério formal a que recorrem, por exemplo, quer + Lei-Modelo da UNCITRAL®, quer a lei federal suica sobre o direito jnternacional privado® quer a lei italiana de 1994", e que opera uma Cr. o artigo 32.° da lei n.° 31/86. Em particular sobre o regime da arbitragem_ internacional previsto nesta lei, cf. Isabel de Magalhies Cotaco, «arbitrage interna~ tional dans la récente loi sur l'arbitrage volontaire (loi n.° 31/86, du 29 aoiit 1986)», i Droit International et Droit Conmunautaire, Paris, 1991, Fondation Calouste Gulbenkian, p.55-66. > Entende-se por arbitragem internacional a que pde em jogo interesses do comércio internacional». 2! Seguindo designadamente a via aberta em 1981 (decreto n.° 81-500, de 12 de Maio) pelo artigo 1492 do novo Code de Procédure Civile francés. Esta disposigio trans~ pie para 0 direito da arbitragem 0 critério econdmico que tinha sido consagrado fomo elemento de definigéo do contrato internacional pela assim designada jurispru- déncia Matter (production, comme un mouvement de flus et de reflux au-dessus des frontiéres, des consequences juridiques dans un pays et dans laure”). Para uma defesa deste critério, eft, na doutrina francesa, Philippe FoucHaRD, Arbitrage Conumertial Inter- national, Paris, 1965, Dalloz; e para uma critica severa, Antoine Kassts, Le nouvean droit européen des contrts iuternationaux, Paris, 1993, L.G.D. J. p. 105-162. » Cfi.o artigo 1.°, n.° 3, desta lei ® Gir, supra, nota 16. Outros sistemas, como por exemplo a lei espanhola de 2003, fazem una aplicagio combinada dos dois critérios, no sentido de que o caricter inter- nacional da arbitragem pode resultar quer de elementos de localizagio (como 0 facto de as partes terem, no momento da conclusio da convencio de arbitragem, o respectivo domicilio em Estados diferentes, ou que quer 0 lngar da arbitragem, estipulado na con~ vengio de arbitngem ou determinado em virtude dela, quer o lugar de execugio de ‘uma parte substancial das obrigacdes decorrentes da relagio juridica na origem do dife- tendo, quer o lugar com o qual esta tiltima relagio apresenta um vinculo mais estreito se nio encontram no Estado em que as partes se encontram domiciliadas) quer do ele- mento material resultante do facto de a arbitrage pér em jogo interesses do comércio internacional. Cit as trés alineas do n.° 1 do artigo 3 desta lei (cit. supra, nota 11). Esta lei (lei n° 25, de 5 de Janeiro de 1994) contém novas disposigdes em matéria de arbitagem e regula a arbitragem internacional. Considera-se internacional BED 88 (2013) 583-604 Ee 590 _pouTRINS localizacdo da arbitragem. Esta noco baseia-se na afectacao, pela arbitra gem (ou pelo diferendo de que ela resulta) dos interesses do comércio internacional, Nao se deve, no entanto, exagerar o alcance das diferengas entre esses dois conceitos. Tanto num caso como noutro, a axbitragem pode muito bem nio apresentar qualquer ligacio com o territério onde ela se desenrola, estando claramente aberta aos interessados a possibilidade de afastar a competéncia de qualquer jurisdi¢ao na resolugao dos litigios em que sfo partes. E certo que 0 sistema consagrado na nossa lei pode jevar a uma maior imprecisio na sua aplicacio, mas tal imprecisio pode set compensada pelo facto de 0 critério adoptado se mostrar mais ade~ quado para englobar todas as situagdes de arbitragem que apresentam um cardcter de estraneidade®*. Endo ha que louvar as vantagens do critério formal (aparentemente mais restritivo) uma vez que ele permite, pelo menos na formulagio da Lei-Modelo, ter em conta, para o estabeleci- mento do carécter internacional de uma arbitragem, o simples facto de as partes terem acordado expressamente em que 0 objecto da conven¢io de arbitragem apresentava lagos com mais de um pais (ver a alinea c) do n.° 3 do artigo 1.°). 4, A qualificagio de uma arbitragem como internacional, na acep¢io que acabamos de referir, desencadeia assim a aplicagio de um conjunto de regras (previstas no capitulo IX da lei) que se nao aplicam em relacio 4 arbitragem interna. ‘A primeira dessas regras, o que representa uma inovagao em relagio 4 lei anterior, é a do artigo 50.°, que se nio reveste porém de um carac- ter geral, uma vez que esta disposicio apenas é aplicavel as arbitragens (internacionais) resultantes de uma convengio de arbitrage em que uma a arbitragem quando ao menos uma das partes na arbitragem tiver o seu domicilio (n° ‘caso de uma pessoa fisica) ou a sua sede (tratando-se de uma pessoa colectiva) 0 estrangeiro no momento da conclusio da convencio de arbitragem, ou se uma parte substancial das prestagdes decorrentes da relacio controvertida dever ser executada no estrangeiro (nova redacgio do artigo 832 do Cédigo de Processo Civil). Sobre esta lei cfz. Piero Bennanpint,oL arbitrage en Italie aprés la récente réforme», Revue de Parbitrags 1994, p. 479-498, e Giorgio Sacenbor}, «Arbitragem comercial internacional na Itilia = entre reforma ¢ 0 novo direito internacional privado», in Arbieragens. Lei brasileira ¢ praxe internacional (Paulo B. CaseLtA coordenador), 2 edigio revista ¢ ampliada, S. Paulo, 1999, Editora LTDA, p. 205-219. % ‘Neste sentido, Andreas Bucur (op.cit, nota 11, p. 24) BED 88 (2013) 583-004 A AIRBII RAGES INTERNACIONAL NO NOVO DIKEITO PORTU és pnanuiTRacem 591 das partes seja um Estado, uma organizagio controlada por um Estado ow uma sociedade dominada por este”. Em qualquer dessas hipéteses, nao é permitido a esta parte invocar o seu direito interno para contestar quer a arbitrabilidade do litigio quer a sua capacidade para ser parte na arbitragem ou para de qualquer modo se subtrair as obrigagdes que para ela decorrem daquela convengio. ‘A regra que acabamos de referir refere-se a0 que podemos chamar arbitrabilidade subjectiva’” e nio aparece na Lei-Modelo, mas encontra precedentes no artigo 177, n.° 2, da lei federal suiga de direito interna- cional privado™, e, ainda que com um alcance mais reduzido”, no artigo 2,n.° 2, dalei espanhola da arbitragem (lei 60/2003, de 23 de Dezembro)”. O facto de ela se dirigir aos Estados, e a0 que se pode chamar as suas emanaces, quer dizer, a entidades desprovidas de uma independéncia funcional suficiente para beneficiar de uma autonomia de facto e de direito em relago a um Estado e cujo patriménio se confunde assim com o deste", permite esclarecer facilmente o seu conteiido e 0 objectivo % Sobre esta disposicio, eft. Sérvulo Cornet, «Arbitragem internacional com Estados na nova lei de arbitragem voluntiriay, 5 Revista Internacional de Arbitragent ¢ Couciligao (2012), p. 99-119. Para alguns problemas suscitados pela participagio das entidades referidas em texto nos processos arbitrais, eft. José Carlos de MAGALHAES, Do Estado nia arbitrage privada, 1988, Max Limonap, e Bernardo CreMabés, «State participation in internatio~ nna arbitration», 4 Revista Internacional de Arbitragem ¢ Concligao (2011), p. 65-84. © Cfi Lima Puvneio, «Convengio de Arbitragem (Aspectos Internos ¢ interna~ ionais)», 64 Revista da Oxdem dos Advogados (2004), p. 125-200, especialmente p. 184- 191, € Arbitragem Tiausnacional. A determinasio do estatuto da arbitrage, (cit. supra, nota 10), p. 216-222, 2 Cf Andreas Bucter (cit, supra, nota 11), p. 4 2 Na medida em que af apenas estio em questio as obrigagdes resultantes da convengio de arbitragem © Sobre esta lei, cft. as obras citadas supm, na nota 11. Sobre esta nogio, de que o elemento essencial reside na assimilagio de uma centidade juridica independente do Estado a este, ft, na doutrina, e ainda que a um diferente propésito, Paul Lacagne, «Une notion ambivalente : I'xémanation» de IEtat nationalisant», in Eudes Cl. A. Collard, Paris, 1984, Pedone, p. 539-558, e, em relacio a jurisprudéncia, os comentarios de Mathias Auprr, +L'exécution de la sentence et la notion d’émanation de l'Etat défendeure, Revue de l'arbitrage, 2006, p, 214-224, de Laurence FraNc-Mencer, «La qualification d'une entité d'émanation de l'Etat: une solution rarement retenue par la Cour de Cassation», Revie de arbitrage, 2007, p. 483- | 497 [BRD 88 (2013) 583-604 ET 592__pOUTRINA por ela visado. Procura-se evitar que através de uma confusio entre 0 Estado, detentor do poder legislativo, ¢ a entidade parte numa convengio de arbitragem, aquele modifique as regras do jogo, petmitindo assim a uma parte numa convengio de arbitragem beneficiar de condiges que no seriam aquelas que se encontram a disposicio da sua contraparte. Deve sublinhar-se que se est perante 0 que se pode considerar um ver~ dadeiro principio geral de direito (no sentido do artigo 38 do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiga), formado na comunidade interna~ cional de Estados, e que constitui expressio do que se pode definir como uma ordem piiblica transnacional ou verdadeiramente internacional”. O facto de a pritica arbitral se ter referido a este propésito a diferentes ins- titutos (0 principio da boa ,a proibicio do «venire contra factum pro- prium», 0 estoppel, a proibi¢io do abuso do direito) apenas serve para confirmar 0 bem fundado e a larga aceitagio de que goza um tal prin cipio, que se diria que integra o direito internacional privado especifico da arbitragem internacional. A incorporagio deste principio na lei portuguesa, se z bem dizer nada acrescenta 4 sua forca obrigat6ria, constitui porém um esclareci- mento itil, € dispensa um tribunal arbitral com sede em Portugal de se referir aos principios do direito internacional para afastar as objeccdes que um Estado ou uma das suas emanagdes possam apresentar com o fim de por em causa, invocando o seu préprio direito, a validade dos com- promissos assumidos no quadro de um acordo arbitral. Ao reconhecer expressamente que se encontra vinculado a este principio, 0 direito por- tugués situa-se assim do lado das ordens juridicas que visam reforcar 0 papel da arbitragem nas relagdes internacionais. 5. No que diz respeito 4 validade substancial da convencio de arbi- tragem e a arbitrabilidade do litigio, a lei prevé uma disposicio especial aplicével 4 arbitragem internacional cujo objectivo é igualmente o for- © Neste sentido, por exemplo, Andreas BUCHER (cit. supra, nota 11), p. 103-109. Para uma tentativa de identificagdo do seu contetido, cft., por tilumo, Adeline CHONG, «Transnational Public Policy in civil and commercial matters», 128 The Law Quarterly Review (2012), p. 88-113, ¢, na doutrina portuguesa, Lima PINHEIRO, «Ordem piiblica internacional, ordem palica transnacional ¢ normas imperativas que reclamam aplica~ gio a0 mérito da causa», 5 Revista Internacional de Arbitragem © Conciliagdo (2012), p. 121-148, BPD 88 (2013) 4-614, A ARBITRAGEM INTERNACIONAL NO NOVO DIREITO PORT. talecimento do mecanismo arbitral. Na verdade, no contexto da arbitra~ gem internacional, estas matérias sio objecto de uma conexio miltipla lternativa no artigo 51.°,n.° 1 da lei, que considera a convengio subs- tancialmente valida e o litigio arbitravel, desde que se encontrem reuni~ das as condigdes para o efeito exigidas ou no direito escolhido pelas partes para reger a convengio de arbitragem, ou na ordem juridica apli- civel ao mérito da controvérsia ou no dircito portugués. Resulta claro a partir desta regra que o legislador se nao limitou a escolher a lei mais apropriada para reger as duas questdes juridicas em analise. Ele procurou indubitavelmente obter um determinado resultado material, no caso, procurou alargar o niimero de situagdes em que um litigio pode ser sujeito a arbitragem internacional ¢ favorecer a validade substancial das convengées de arbitragem. Isso decorre do facto de ele aceitar tal resultado (basicamente, o recurso a arbitragem numa dada hipétese particular), desde que tal seja possivel, quer face ao sistema juri dico escolhido para reger a convengio de arbitrage, quer com relagio 4 lei que disciplina o mérito da causa™, quer perante a lei portuguesa. A regra de conflitos criada a este propésito, claramente inspirada, como acabamos de ver, por uma ideia de favor, apresenta-se assim como uma regra de conflitos de conexio material", na medida em que visa clara~ mente a obtengio de um determinado resultado substancial — 0 desen- volvimento da arbitragem. ‘A preocupacao do legislador com a limitagio dos meios de inviabi- lizacao da arbitragem prolonga-se no n.° 2 do mesmo artigo 51.°. Prevé- -se ai que a doutrina consagrada no nimero anterior (¢ que acabamos de analisat) deve ser tomado em consideragio por qualquer tribunal esta ™ Recorde-se que se afigura dificil encontrar uma outra ordem juridica cuja competéncia na matéria possa ser considerada, © Para utilizar a terminologia de Patocchi, que distingue findadamente entre rigles de rattachement localisatrces e régles de rattachement & caraciére matériel. Cft. Paolo Michele Paroccm, Ragles de rattachement localisatrces et riles de rattachement a earactive ‘matériel. De quelques aspects récents de la diversification de a méthode confictuelle en Europe, Geneve, 1985, Librairie de Université. Sobre a presenga no direito portugués de regras dese tipo, eft. Moura RAMOS, «Aspects récents du droit international privé au Portugal», Rew crit. dr. internat. privé, 77 (1988), p. 473-496 (476-478) € Manuel Jorce, «Rattachements alternati& et principe de proximité. Les apports récents du droit inter- national privé portugaisy, in Droit International et Dwvit Comunautaire (cit. supra, nota 19), p.213-226, BPD 88 013) 583-604 594 poUTRINA dual ao qual haja sido pedida a anulagio de uma sentenga proferida em arbitragem internacional localizada em Portugal, com 0 fandamento pre- visto na alinea b) do n.° 3 do artigo 46.° da lei. © fundamento de anu- lacio previsto nesta disposigao é a verificagéo, pelo tribunal, da insuscep- tibilidade de sujei¢do 4 arbitragem do objecto do litigio, nos termos do direito portugués, ou a contrariedade do contetdo da sentenga com os principios de ordem publica internacional do Estado portugués. O alcance deste fundamento de anulagio é assim reduzido (ou pelo menos preci- sado) uma vez que se nao podera considerar insusceptivel de ser decidido por arbitragem (no quadro de uma arbitragem internacional a ter lugar em Portugal) um litigio que nio o seria 3 luz das duas outras leis men- cionadas no niimero 1°, mesmo que o seja com relagio a lei portuguesa, e, da mesma forma, nao se poderd considerar contrétio & ordem publica internacional do Estado portugués, para este efeito, um resultado que seja conforme a uma daquelas duas leis. conflito potencial entre, de um lado, as nogdes de ordem publica internacional e de arbitrabilidade, tal como elas resultam do direito por tugués, e, por outro, as disposic&es materiais dos sistemas juridicos em questio™ é assim resolvido, no contexto de eventuais procedimentos de anulacio, em favor destas tiltimas, nio podendo as acgdes de anulagao ser consideradas fundadas se a sentenga se basear, na matéria, nas regras de um destes dois sistemas. Em suma, a regra da 0 maximo efeito possivel 3 conexio material prevista no n.° 1, clarificando que nem a ordem pitblica internacional do Estado portugués nem a concepcio de arbitrabilidade presente no nosso direito podem afectar a sua aplicagio. 6. Contrariamente as duas disposigdes anteriores, onde a inspiragio da Lei-Modelo nio era visivel, no sucede 0 mesmo com as regras pre- vistas no artigo 52.° da nossa lei, que se fazem eco do previsto no artigo 28 daquele instrumento. Trata-se das regras aplicaveis a substincia da disputa, comegando © n° 1 por consagrar a faculdade, reconhecida as partes, de designar as regras de direito a aplicar pelos arbitros, se os nio tiverem autorizado % A lei escolhida pelas partes para reger a convengio de arbitragem ¢ a lei apli- civel a0 mérito da causa * Os citados na nota anterior. BFD 88 (2013) 583-6044 _AARBITRAGEM INTERNACIONAL NO NOVO DIRFITO PORT julgar segundo 2 equidade”” © texto segue o disposto na Lei-Modelo, Xembinando os niimeros 1 ¢ 3 do artigo 28, ¢ 0 alcance reconhecido a wontade das partes apresenta-se em toda a sua plenitude, nio restando Gualquer divvida sobre a possibilidade de uma referéncia a uma ordem juridica nfo estadual ou & lex meratoria’’.Apos esta ampla consagragi0 da Zatonomia das partes na escolha da lei aplicavel, precisa-se ainda no frimero 1 do artigo 52.°, uma vez mais seguindo a inspiragio da L “Modelo, que qualquer designagio da lei ou do sistema juridico de um determinado Estado & considerada, salvo estipulacio expressa em con- trério, como designando directamente o direito material deste Estado ¢ nao as suas normas de conflitos de leis. Trata-se de uma regra interpre- tativa do alcance da designagio da lei aplicdvel, que corresponde 20 sentido comum destas designagdes nesta matéria. A utilidade da pre- visio” esti assim no reforgo da seguranca juridica que ela propicia, na medida em que se torna claro que apenas no caso de existir uma esipu- lagio expliciza nesse sentido, é possivel incluir as regras de conflitos de © O texto corresponde ao n.® 1 do artigo 33.° da lei n.° 31/86, Cf igualmente o artigo 187 da lei federal suiga sobre o direito internacional privado, ¢ 0 artigo H4,n.° 2 da lei espanhola sobre a arbicragem. Para um comentario recente, veja-se Moura Vicente, «A determinagio do diteito aplicivel a0 mérito da causa na arbitragem inter- nacional 4 luz da nova lei portuguesa da arbitragem voluntiriay, § Revista Internacional de Arbitragem ¢ Conciliagdo (2012), p. 37-50 © Sobre este ponto, cfr. Ferter Correia, «O problema da lei aplicivel ao fundo cou mérito da causa na arbitragem comercial internacional, in Tenas de Dieito Comercial ¢ Dintito Internacional Privado, Coimbra, 1989, Almedina, p. 231-252, Pierre Lative, «Le droit applicable au fond par Varbitre international, in Droit Intemational et Droit Com- munautaie (it. supra, nota 19), p. 33-53,Verénica Ruiz Avou-Nicm, «The Lex Mercato- ria and its current relevance in international commercial arbitracion», in Liber Amicorunt en Homenaje al Profesor Dr. Didier Operti Badén, Montevideu, 2005, Fondacién de Cul- tura Universitiria, p. 469-499, e, com referéncia a0 direito anteriormente em vigor em Portugal, Dario Moura Vicewte, Arbitragem Comercial Internacional. Direito aplicvel ao inérto dz causa, Coimbra, 1990, Coimbra Editora, Lima Pinwetno, sDireito aplicivel 20 rmérito da causa na arbitragem transnacionale, 63 Revista da Ordan dos Advagados (2003), p.157-210, especialmente p. 176-180, Direito Intemaconal Privato v.11 ~ Direito de Con- fltos. Parte Especial, 3 edigao refundida, Coimbra, 2009, Almedina, p. 553-575, € Arbi- tragem Transnacional. A determinagao do estatute da arbitragen, (ct. supra, nota 10), p. 234- 262, em especial p. 244-249. » Que nio aparecia no direito anterior. BED B® (2013) 583-604 596 _DOUTRINA leis numa designacio, pelas partes, das regras de direito a aplicar pelos arbitros". Na falta de designacio pelas partes, o n.° 2 do artigo 52.° determina a aplicacio pelo tribunal arbitral do direito do Estado com 0 qual o objecto do litigio apresente uma conexio mais estreita, A formulacio dessa regra afasta-se quer da prevista na Lei-Modelo" quer da consagrada no direito anteriormente em vigor em Portugal". Pode concluir-se que a abordagem da nova lei apresenta um caracter marcadamente conflitual", wmas, contratiamente A Lei-Modelo que havia igualmente seguido este caminho, 0 legislador enuncia agora claramente qual é o elemento de conexio que o tribunal arbitral deve aplicar®, em lugar de deixar esta instincia livre em tal escolha'®, A diferenga torna-se porém maior em relagio as solucdes"” que se dirigem directamente a0 direito material mais 4 Esta preciso encontra-se com frequéncia nos textos relatives lei aplicivel aos contratos onde a inclusio de regras implicando a exclusio do reenvio € constante. Cf o artigo 19.°, n° 2, do Cédigo Civil portugués,e, por dltimo, o artigo 20 do Regul trento (CE) n.° 393/2008, do Parlamento Europeu ¢ do Conselho, de 17 de Junho de 208, sobre a lei aplicavel 3s obrigagdes contratuais (« Roma | ») ‘1 Em que se fazia referéncia & ale designada pela regra de conflitos de leis que le fo tribunal arbitral] considere aplicével a0 caso. ©°O artigo 33°, n2 2, da lei n.° 31/86 referia-se, com efeito, a0 edireito mais apropriado ao litigion. “> Como sucedia no diteito suigo (artigo 187, em que a referencia é, em tal hipo~ 2, dirigida as wrégles de droit avec lesquelles la cause présence les liens les plas 0 artigo 28, n.° 2, desta lei refere-se, com efeito, «lei designada pela regra de conflitos de leis que ele [o tribunal arbitral] julgue aplicavel na espécier, + O da ligagio mais estreita com o objecto do litigio. W Liberdade que de modo algum exclui a necessidade de fiandamentar ess escolha, Como as contidas na lei espanhola (artigo 34, n.° 2, segunda fiase) ¢ na leh portuguesa anterior (artigo 33.°, n° 2 da lei n.* 31/86), onde estava em questio * Gireito (ou a8 regeas de diteito, na primeira hip6tese) mais apropriadolas] 20 litigio® Para outros elementos de direita comparado, eft. Fetter Correta, «Da arbitragem comercial internacional», RDE 10/11 (1984/1985), p. 3-51, Gonzalo Panna~ARANGO? Cow sChoiee of hw’ applicable to the dispute in recent legislation on internation) Commercial arbitration, in Privare Law inthe International Arena. Liber anicont Kat ‘Sieh The Hague, 2000, TM.C. Asser Press, p. 557-568. Adam Samust, Arbitrage’? aasracal ineeenecionae, hr © now ita fntemacinal Estes em heen 4 En Jayme, Rio de Janeiro, 2005, Renovat, p. 357-402, Nikolay Naroy, «The autonomy of BED 88 (2013) 383-604 [AARITRAGEM INTERNACIONAL NO NOVO DIREITO PORTUGUES 18 AILUITRAGEM 597. apropriado, prescindindo da intervengio de critérios de natureza confli- tual. Finalmente, 0 mimero 3 do artigo 52.° vincula o tribunal arbitral a tomar em consideracio as estipulacdes contratuais das partes ¢ os usus comerciais relevantes, quer no caso em que a escocha das regras aplicéveis foi feita pelas partes quer naquele em que ela teve que ser feita pelo tri- bunal arbitral. Esta referéncia, que nao existia no direito portugués ante- rior, inspira-se directamente no artigo 28, n.° 4, da Lei-Modelo”, e cor- responde ao reconhecimento da importincia quer das estipulagdes contratuais entre os contratantes, que verdadeiramente n3o poderiam ser jgnoradas num sistema em que a autonomia das partes desempenha um papel fundamental, quer dos usos comerciais internacionais, cuja impor- tincia é hoje largamente reconhecida no direito do comércio interna cional®. arbitrators in determining the law applicable to the merits of a case», 2 Czech (& Cen- tnal European) Yearbook of Arbination (2012), p. 171-190, e Mateusz Piuic, Law appli- cable to the merits of the dispute submitted co arbitration in the absence of the choice of law by the parties (Remarks on Polish law), siden, p, 191-210. Em tal caso, margem de escolha reconhecida ao tribunal arbitral & verdadei~ ramente mais ampla; mas pode ver-se na posi¢io tomada pela nossa lei ¢ pelos outros sistemas que seguem idéntica orientacio a preocupacio de distinguir melhor a situagio em que a designagio do direito aplicivel é feita pelas partes (que, como acabamos de ver, gozam da mais ampla liberdade) daquela em que & a0 tribunal arbitral que incumbe a determinagio das regras de direito a aplicar a0 mérito ch causa (consagrando-se em tal caso uma menor liberdade). Sobre © ponto, cft, Lima PinHEino, «Direito aplicivel 20 mérito da causa na arbitragem transnacional, loc. cit. nota 38, especialmente p. 180~ 187, € Arbitrage Trausnacional. A determinagio do estatuto da arbitragem, lo. ct. nota 10, especialmente p. 249-256, ara uma visio mais geral, num quadro comparatistico, cft, Alexander J. BELOHLA- vex, «Law applicable to the merits of international arbitration and current develop~ iments in european private international law : Conflict-of law rules and the applicabi- lity of the Rome Convention, Rome I Regulation and other EU Law standards in international arbitration», 1 Czech Yearbook of Luternational Lane (2010), p. 25-46. © Cir igualmente o artigo 34, n.° 3, da lei espanhola 5 Cr a artign 9 da Convengio de Viena de 1980 sobre 0 contrato de compra € venda internacional de mercadorias (sobre esta convencio, cf. Maria Angela Bento Soares - Rui Manuel Moura Ramos, #Do contrato de compra € venda internacional. Anilise da Convengio de Viena de 1980 e das disposigdes pertinentes do direito por- tugués», 6 Docimentagdo ¢ Dircito Comparado (1981), p. 72-558, especialmente p. 104- =106). BFD 88 (2013) 583-604 598 pOUTRINA 7. Numa norma de direito internacional privado especifica da arbi- tragem internacional,a nova lei prevé, no artigo 53.°,a irrecorribilidade da sentenga do tribunal arbitral, «a menos que as partes tenham expres samente acordado a possibilidade de recurso para outro tribunal arbitral € regulado os seus termos». Esta orientagio inscreve-se também num amplo consenso que tende a limitar os recursos disponiveis contra as sentengas arbitrais®, particularmente no caso da arbitragem internacional, ainda que uma tal orientagio se possa apresentar em termos dife- rentes Nalguns casos, desde logo, 0 recurso é ainda possivel, mas prevé-se que seja objecto de uma rentincia em certas hipéteses. E 0 que acontece com a lei suica, onde 0 artigo 192 prevé que, se as partes nao vém domi- cilio ow residéncia habitual ou estabelecimento na Suica, eles podem quer excluir qualquer recurso contra as sentencas do tribunal arbitral quer limitar tal exclusdo™ a alguns casos®*. Uma outra possibilidade afasta qual- quer possibilidade de recurso contra a sentenga arbitral, salvo se as partes se tiverem posto de acordo a esse respeito ¢ definido os termos respec- tivos™. A orientacio seguida pelo direito portugués na actualidade cons- titui uma variante desta solugio, uma vez que segue este critério, espe- cificando que — porém (0 que se nos afigura algo excessive € desproporcionado) tal recurso s6 pode ter lugar para outro tribunal arbi- tral. Enfim, a Lei-Modelo so admite a possibilidade de recorrer de uma © © uso de regras deste tipo nesta matéria ocorria ji na lei n.° 31/86. Cf Moura RaMos, «Aspects récents du droit international privé au Portugal (cit spr nota 34), p. 482-483. 3 Sobre este ponto, eft Gerardo Brocco, «Le contrale des sentences abies internationales parle jge du sige et parle juge de Mexécutions, in Privare Law inthe International Arena, Liber amnicorum Kurt Siehr (ct. supra, nota 47), p. 95-111 5 Por uma declaragdo expressa numa convengio de arbitragem ow nun escrito ulterior. "Tal exclusio encontra-se prevista em relagio a qualquer um merados no artigo 190, 2. alinea, desta lei 55 Sobre este regime, cfr. Andreas BucHen, Le nouvel arb (cit. supra, nota 11), p. 130-134 ae pe que sz euconuava anteriormente previsto em Portugal. Cfo artigo 34 dalein® 31/860 Lima Promnino,drbimegem Transnaconal, A dteinaso de estat arbitragent (Ioc. it. wota 10), p. 281-282. m acordo dos motives ent jtrage international en Suis BED 88 (2013) 383-604 {OVO DIREITO PORTUGUES MA AKILKAGEM 599 [AARBITILAGEM INTERNACIONAL NO sentenca arbitral, sob a forma de um pedido de anulagio © com os fan- Jamentos previstos nessa mesma lei”. Pode assim concluir-se que a posi¢do da lei portuguesa a este respeito se encontra entre as daquelas que se caracterizam por wma defesa mais fisida do processo arbitral, limitando tanto quanto possivel a intromissio do poder do Estado em relagio a ele 8. A tiltima das disposigdes do capitulo IX da Lei, cuja epigrafe mnenciona a ordem pablica internacional, refere-se no entanto @ proble- initica do recurso de anulagio. De facto, prevé-se no artigo 54.° que «a entenga proferida em Portugal, numa sentenga em que haja sido aplicado direito nao portugués ao fundo da causa pode ser anulada com os fun- Gamentos previstos no artigo 46.° ¢ ainda, caso deva ser executada ou produzir outros efeitos em territério nacional, se tal conduzir a um resul- fado manifestamente incompativel com os principios da ordem péblica internacional». Este artigo procede assim a uma interpretagio sistemitica das dispo- sigdes que se referem 20 recurso de anulagio © & arbitragem internacio- nal para concluir que em matéria de arbitragem internacional as senten- gas arbitrais que tenham feito aplicago ao mérito da causa de um direito Giferente do portugués® podem ser objecto de um pedido de anulagao quer com base em fundamentos especificos 4 arbitragem (os previstos no artigo 46.°) quer, no caso de deverem ser executadas ou produzir efeitos tem tetritério portugués, em razio de uma incompatibilidade com os principios da orcem pablica internacional portuguesa Parece dever concluir-se que, em todos os casos em: que a sentenga arbitral nio deva produzir efeitos em territério portuguts, a anulagio s6 poder proceder com fundamento nos motivos enumerados no artigo 46.° (© que nos conduziré assim igualmente i conclusio de que os principios de ordem pablica internacional que podem fandamentar a anulagio das sentengas arbitrais que devam produzir efeitos em territério portugués sio efectivamente os principios de ordem pitblica internacional do Estado ¥ Cif.o artigo 34 da Lei-Modelo, ¢ Maria Angela Bento Soares -- Rui Manuel Moura Ramos, «Arbitragem Comercial Internacional. Anilise da Lei-Modelo da CNUDCI de 1985s, (it. supra, nota 2), p. 313-321 5% Nos casos em que o direito aplicével ¢ o direito portugués, © problema da violagio desses principios, por definigio, no se poe BRD 88 (2013) SA3- Chea alinea b), i), do artigo 55.° da lei. Sobre o ponto, eft. por tiltimo, Pierre Yves Gaurite, «La contariété i l'ordre public d'une décision étrangére, échee & sa reconnaissance ou son exequatute, in Vers de nouveaux: équilibres entre ordres juridignes. ‘anges en Phonneur d'HEéline Gaudere-Tllon (ct, suprt, nota 60), 437-445, Pieere Maver, «L'étendue du contréle, par le juge étatique, de Ia conformité des sentences arbitrales aux lois de police, ibidem, p. 459-477. BRD 8% (203) 583-605 602 _pOUTRINA por um tribunal estadual (portugués, tendo em conta a regra do artigo 61. e o que se disse supra, no n.° 2), diio-se a esse respeito directivas a este tribunal. Dispde-se ai a tal propésito que o tribunal deve ter em conta as qualificacSes exigidas pelo acordo das partes para 0 arbitro ou os arbitros a designar e tudo o que for relevante para garantir a nomeagio de um Arbitro independente imparcial. Mas acrescentou-se uma consideragio ‘mais, para 0s casos em que a arbitragem deva ser considerada internacio- nal, Em tais casos, a0 nomear um drbitro tinico ou um terceito arbitro, 0 tribunal deve ter também em consideracio a possivel conveniéncia da nomeagio de um arbitro de nacionalidade diferente da das partes. Em segundo lugar, ji dissemos que,na esteira da alteragio introduzida em 2006 4 Lei-Modelo, a nossa lei prevé igualmente um capitulo (0 quarto) sobre as providéncias cautelares e ordens preliminares™. Para além. de se referir as providéncias cautelares a decretar pelo tribunal arbitral, a © Artigos 20.° a 29." da Lei da Arbitragem Voluntiria, Estas disposig6es corres- pondem 20s artigos 17 a 17 J da Lei-Modelo, tal como esta foi modificada na trigésima nona sessio da UNCITRAL, em 2006. Antes desta data, ¢ na sua versio original, © artigo 17 contentava-se em prever a possibilidade de o tribunal arbitral, na falta de convengio das partes em contritio, poder ordenar a qualquer das partes que tomasse as medidas provisorias ou conservatérias por ele julgadas necessirias em relagio 20 objecto do litigio, podendo exigir a qualquer das partes que, em conexdo com esas medidas, prestasse uma garantia adequada. Cf, a este propésito, Maria Angela Bento Soares ~ Rui Manuel Moura Ramos, «Arbitragem Comercial Internacional. Anilise da Lei-Modelo da CNUDCI de 19850 (cit. supra, nota 2), p. 284-285, Ana Paula Matos Manrins, «A tutela cautelar 2a Lei-Modelo da CNUPCI e a tevisio da lei da arbitra~ gem voluntitia», 9 Thémis (2007), p. 61-94, Alfonso-Luis Calvo Canavaca, «Provisional and protective measures granted by State courts and international arbitration», i Est- dos em Menéria do Professor Doutor Anténio Marques dos Santos, v. 1, Coimbra, 2005, Almedina, p. 23-33, Jan KusINneisrerkame, «Medidas cautelares en el arbitraje, Una perspectiva comparatistay, in: Liber Amiconum en Homenaje al Profesor Dr. Didier Openti Badan (cit. supra, nota 38), p. 269-287, Matija Danyan, eArbitral Interim Measures and the Right co be heard», | Czech (& Central European) Yearbook of Arbitration (2011), p-71-86, José Miguel Jépics, «As providéncias cautelares e a arbitragem: em que esta ‘mos? in Estudes em Homengen ao Professor Doutor Carlos Ferreira de Almeida, Coimbra, 2011, Almedina, p. 657-679, e Marina Mendes Costa, «Os poderes do tribunal arbi- tral para decretar medidas cautelaress, ir IV Congresso do Centro de Arbitragem da Ciara de Comércio ¢ Indiistria Portuguesa (Centro de Arbitragem Comercial) (cit. supra, nota 9) p. 127-145, Sobre o alcance das medidas provisérias na nossa lei actual, cfr. Armindo Ribeiro Menpes, «As medidas cautelares e 0 processo arbitral (algumas notas)*? Revista Internacional de Arbitiagen ¢ Conciiagio (2009), p. 57-113. BED 88 (2013) 383-604 sangre INTERNACIONAL NO NOVO WIREITO FORTUGUE DA AKITIAGEM 603 ; regula no artigo 29° a possibilidade, reconhecida aos tribunais esta- Soais, de decretar também tais medidas, independentemente do lugar sii decorta 0 processo arbitral, nos mesmos fermos em aNe © podem fuer relativamente 40s processos que corram perante os tribunais esta foals (0.71; precisa que os tribunais estaduats exercem esse poder de fcordo com o regime processual que Thes € aplicdvel, tendo em conta as vreicularidades da arbitragem internacional (n.° 2). Nestas duas situagdes, em que de resto também segue as disposigoes da Lei-Modelo™, a nossa lei ordena ao tribunal competente® que tome fem consideracio as especificidades da arbitragem internacional” no exer- io de alguns dos poderes que ela The confere. Traia-se assim de casos fim que tal especificidade € considerada relevante, ¢ de natureza 8 justi- fear solugdes diferentes das consagradas para a atbitragem interna, Sim plesmente, em lugar de ser ele préprio a regulé-las, prevendo o diferente carveiido das solucdes que serd necessirio dar a tas situaces que devem

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