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NOTAS GERAIS SOBRE A RENASCENGA COMO INICIO DA MODERNIDADE Caracteristicas gerais da Renascenca 1. Nova visao de mundo: Antropocentrismo, que substitui o teocentrismo: 0 ser humano passa a ser critério de verdade, de bem e de beleza. Ele ¢ auténomo pela razo. A Terra nao é mais 0 centro do universo e assim as Igrejas nao estao no centro do universo. () O Mundo deixa de ser "vale de lagrimas’, para tomar-se lugar do ser humano, "senhor da natureza". O mundo deixa de ser lugar de passagem, para ser 0 lar do homem. Em suma, 0 mundo se humaniza. Direitos do homem esto no centro. Homem é o autor da historia. Unica autoridade é o ser humano (autoridade: autor de si= livre). O poder é sé humano. 2. Nova visio do homem: como centro do mundo. Ele se pée, ja ndo é posto. Autonomia nao heteronomia. O homem produz-se por suas forgas (0 ser humano reconhece que ele depende s6 de si). Por isto o trabalho passa a ser algo positivo, @ no atividade de escravos (Antigllidade) ou pagamento de uma pena do pecado cometido. 3. Nova viséo do conhecimento e da verdade: Aos poucos a verdade passa a ser vista como construgao humana (Galilei, Kant), ou seja, 0 fundamento da verdade 6 subjetivo. A verdade é humana, Ao mesmo tempo, o conhecimento é resultado da experiéncia humana e da experimentagao humana. A ciéncia 6 fruto do trabalho humano. O homem é quem pergunta, e obriga a natureza a responder as perguntas feitas (Kant). Por isso, conhecer é dominar a natureza e pé-la ao servico do homem (ciéncia e tecnologia). A pratica & critério de verdade. Verdade nao é contemplagao, mas controle sobre 0 que se conhece. "Conhecer é poder" (Bacon). Basta seguir 0 método, a logica da razo (cogito cartesiano). E razio € calcul: ‘calculo utiltario das consequéncias” (Hobbes). E a verdade é itil ao homem, sendo de nada serve, Ciéncia: nao interessa 0 "porqué", mas s6 0 "como" funciona 0 objeto conhecido. Depois chega-se a declarar que s6 existe (s6 ¢ real) o que pode ser mensurado (em Descartes ainda se afirma que ha "res extensa" e "res cogitans" - corpo e alma) 4, Nova visdo da Natureza: jd ndo é irma do ser humano, mas realidade externa go ser humano que cabe ao homem dominar, Natureza “escrita em linguagem matematica" (Galileu): reino da quantidade, ¢ nao da qualidade. Se antes a natureza fra vista como saturada pela mente, ordenada por e em si mesma, a partir da fenascenca a natureza passa a ser vista como maquina, incapaz de aulo- ordenamento. As leis da natureza foram postas de fora (Deus...), a inteligéncia ¢ exterior, Cabe ao homem, pelo conhecimento, conhecer e por a seu servigo a atureza (natureza 6 apropriada - propriedade privada...). Esta 6 “a astiicia do 2 homem": obrigar a natureza a funcionar, com suas leis intemas, de acordo com os interesses do ser humano. E 0 conhecimento da natureza dar-se-a os poucos: a partir da divisdo em partes do objeto (dividir para dominar melhor...), e do conhecimento das partes, somando-se 0 conhecimento das partes, chegar-se-d finalmente ao conhecimento do todo. Assim, Se antes (Aristételes), 0 todo é mais do que a soma das partes, agora 0 todo é apenas a soma das partes (da grande maquina). “A ciéncia moderna abateu barreiras que separaram 0 céu da terra, unificando 0 Universo. E isto é verdade. Mas realizou esta unificagao substituindo 0 nosso mundo das qualidades e das percepgées dos sentidos, o mundo que € 0 teatro da nossa vida, das nossas paixdes ¢ da nossa morte, por outro mundo, o mundo da quantidade, da geometria unificada, em que, embora haja lugar para todas as coisas, ndo ha lugar Para o homem. Assim, 0 mundo da ciéncia - 0 mundo real - tornou-se estranho, e diferenciou-se profundamente do mundo da vida.." (A. KOYRE, Estudos newtonianos), 5. Nova visdo da politica e da ética: antes o homem era naturalmente politico e ético (Aristételes), agora passa a sé-lo por iniciativa humana. Politica € resultado de um contrato entre os homens: cria-se o Estado, para que a sociedade seja uma criatura racional: "por a razdo no poder" (Robespierre)! A melhor politica ¢ aquela que se constréi a partir da razio (Maquiavel - ciéncia politica...). Separagdo entre politica e ética. A politica nao é instancia para se realizar 0 bem moral, mas apenas meio para se permitir que os individuos, na sua existéncia privada (fora da vida publica), o possam fazer. Por isso, a politica é um mal necessario para evitar um mal maior. 6. Nova visdo da religiao: ser humano nao deve mais servir a religiéo, mas servir-se da religido (parecer religioso, para ser bom politico, cf. Maquiavel; religio a servigo do Estado, para que 0 governante obtenha mais facimente a obediéncia dos sliditos, cf, Hobbes). Ou entdo a religiéo deve ser vivida no ambito privado (reforma protestante). A existéncia de Deus passa a depender da prova racional dos homens. Em suma, a modernidade substitui, em ultima insténcia, Deus pelo homem: o homem & deus de si mesmo (Hegel, Comte, Feuerbach, Marx...). O fundamentalism moderno por exceléncia é a sacralizacao do homem, da humanidade.

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