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17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano © autismo, a arte e o ensino regular: uma convivéncia possivel? Rosana Soares Mestranda do PPGAV-CEART, UDESC Orientadora Prof* Dra. Neli Klix Freitas RESUMO © presente trabalho € parte de uma pesquisa de mestrado que propée reflexdes acerca do entrelacamento entre a inclusdo dos portadores de necessidades especiais no ensino regular e a formacao do profissional de artes frente a essa postura inclusiva. Essa reflexéo tem como base um estudo de caso, referido neste trabalho, com o intuito de socializar as angustias, fracassos e sucessos da educacao pela arte de um portador de deficiéncia miltipla, diagnosticada como autismo, presente em uma escola pliblica municipal do estado de Santa Catarina. PALAVRAS-CHAVE: Curriculo, Arte-educagao, Autismo. ABSTRACT The present work is part of a research for Masters Graduation that proposes ideas about the links between the inclusion of individuals with special needs on regular education and the training of professionel of arts in front of this stance inclusive. This reflection is based on a case study, cited in this work in order to socialize the anxieties, failures and successes of education through art of an individual with multidisabilities, diagnosed as autism, in a public school in the state of Santa Catarina. KEY-WORDS: Curriculum, arts-education, Autism. Entre todas as diferengas sociais, culturais, de sexo e raga presentes na sala de aula, existe o aluno com necessidades especiais. Essa necessidade exige um professor qualificado, preparado para mais este desefio, o que nem sempre acontece. Sendo assim, frente as dificuldades, encontramos uma classe onde todos (docentes, educandos e muitas vezes toda a escola) tenham miltiplas necessidades, algumas muito especiais. Mais do que entender, respeitar e reconhecer as diferengas de cada aluno, o professor que atua no ensino regular e tem na sua classe, portadores de necessidades especiais precisam de formag&o complementar. Este 0 caso também do professor de arte que atua no ensino fundamental e médio. No estado de Santa Catarina, um projeto abre espago para o ensino da arte nas séries iniciais do ensino 1437 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano fundamental (1a a 4a séries). O ensino das séries iniciais tem um professor regente que passa um tempo maior com esses alunos. Ja as outras séries do ensino fundamental (Sa a 8a séries) esto acostumadas com a troca de professor por disciplina, fato que representa uma rotina diferente na educagao do aluno portador de necessidades especiais. Porém, diferentemente do professor regente e do professor de apoio que passam a maior parte do tempo de aula com esses alunos, o professor de artes que convive por 48 minutos com essas criangas duas vezes na semana (caso especifico deste relato de caso, porém acredito que nao seja Unico) enfrenta um desafio maior. Este desafio torna-se mais complexo na educagao da crianga autista. Contrario as mudangas, © mundo diario precisa ser apresentado ao autista, mas é necessério que este encontro seja da forma menos dolorosa possivel. Consciente da importaéncia da rotina pata essas criangas, a “invaséo” do professor de artes na sala de aula nem sempre ocorre de forma amigavel. E preciso planejar com cuidado cada aula e conhecer o aluno autista, seus limites, suas reagdes. Com isso, torna-se fundamental a formacao do professor para lidar com alunos com necessidades especiais. No histérico do ensino da arte com postura inclusiva, encontramos em 1948 a Escolinha de Arte do Brasil (EAB), no Rio de Janeiro. Seu papel social é consolidado quando recebe os portadores de necessidades especials e agrega com os demais alunos, buscando um ensino de arte significativo. Mesmo entendido como um espago informal de ensino, sua importéncia para uma inclusdo através da arte & louvavel. Vale registrar a seriedade de Noémia de Araujo Varela nesta caminhada através do MEA (Movimento Escolinhas de Arte) que fundamenta sua pratica com 0 apoio tedrico em Herbert Read e Viktor Lowenfeld, este Ultimo inicia sua carreira como arte-educador trabalhando com criangas e jovens cegos no Instituto de Cegos de Viena em 1922. Neste periodo, toda a discusséo em torno das necessidades e capacidades da pessoa até entéo considerada deficiente, foi de extrema importancia para 0 desenvolvimento de posturas inclusivas. As necessidades existem nas duas partes envolvidas: professor e aluno. Quando se ditige ao aluno com necessidades especiais na sala de aula, o professor de arte também se identifica no quesito necessidade. Ambos precisam completar-se, para o convivio social justo. Para que o profissional possa mediar 0 mundo também as pessoas portadoras de 1438 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano diferentes necessidades, toma-se necessdrio 0 conhecimento das necessidades especificas de cada um Inicialmente esta formagéo era complementar, ja que © curriculo néo contemplava esta modalidade. Esta formagéo complementar especifica do profissional de artes para o atendimento das criangas e pessoas com necessidades especiais tem seu registro no ano de 1953, no primeiro curso de formagao, ministrado por Noémia Varela, na EAB, com foco nos professores interessados na incluso através da educagao especial. Além de sua importancia na recuperagao da dignidade humana através da educagao, este ensino rompe com 0 tradicional e ganha aliados importantes vindo de outras areas de conhecimento, como a psicologia, a psiquiatria, a medicina, artistas, educadores em geral e intelectuais. Ha nestes profissionais a consciéncia da educagao e de seu papel social e politico. Essa consciéncia esta explicitada na incluso, presente nesta forma de pensar a educagdo dos portadores de nevessidades especiais. Levando em consideragéo a data dessa atitude inclusiva, assustador a falta de preparo hoje por parte de muitos educadores que tém sua formagao em arte, frente as necessidades da crianca especial Aponta-se a falha da universidade que nao prepara os graduandos para também receber em suas aulas 0 portador de necessidades especiais, mesmo que esta formacdo jé esteja contemplada por lel: Na_perspectiva a educagéo inclusiva, a resolugéo CNEICP n 1/2002, que estabelece as_Diretrizes curriculares Nacionais para a Formacao de Professores da Educacéo Basica, define que as instituigdes de ensino superior devem prever em sua organizagao curricular formagao docente voltada a diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades especiais (GRUPO DE TRABALHO DA POLITICA NACIONAL DE EDUCAGAO ESPECIAL, 2008). Devido @ jovialidade da lei que contempla a formacdo do professor para o atendimento dos portadores de necessidades especiais, a formacao continuada 6 imprescindivel para aquele professor jd formado ha algum tempo. Perante o cenario da incluso, a formacao dos professores de arte deve contemplar este conhecimento. Sendo assim, a incluso € objeto de estudo na pesquisa de 1430 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano mestrado iniciado em agosto de 2007 por essa autora. Um dos objetivos da dissertagao visa investigar quais das Universidades Comunitarias de Santa Catarina’ contemplam em seu curriculo, disciplinas de incluso social. Das IES referidas, apenas duas (02) oportuniza aos graduandos, através da grade curricular, a formago teérica e metodolégica para o ensino da educacéo especial. Compreender 0 universo miltiplo das deficiéncias exige formacao continuada, e @s vezes especifica de cada necessidade. O autismo como diagnéstico exige do profissional da educagao um preparo especifico que ira se adaptando a cada especificidade da crianga autista, sim, porque o sucesso ou avango na convivéncia de uma crianga autista com o professor visitante de arte, ndo necessariamente servira de cartiha para 0 convivio com um segundo ou terceiro educando autista. Eles tém diagnésticos plurais desafiando assim a educagao de cada um de maneira singular e, certamente, perante isso nasce a exigéncia de adaptacdo a cada caso por parte do profissional. Outro grande desafio no caso do aluno com diagnéstico de autismo & que quase tudo referente a afetividade e expressao, utilizada como base para a educaco de criancas com outras deficiéncias, mostra-se muitas vezes inutil. A incapacidade afetiva de alguns autistas exige do profissional de arte a busca de um outro caminho. Neste caso 0 mundo das imagens traz uma significativa contribuigéo na mediagdio autista com o mundo. A arte tem neste universo imagético um grande aliado. No uso da imagem como instrumentos mediadores do conhecimento, podemos observar resultados significativos na formago e na relagao social do deficiente mental (BUENO, 2002, p. 20) Porém é necessario um cuidado na manipulagdo destas imagens, que irao de encontro a um pensamento real e concreto do autista, que nao atinge a abstragao. Esses, entre outros conceitos importantes do autismo, devem ser conhecidos e levados em considerapao pelo professor de arte, que devera se debrugar com cuidado na abordagem deste aluno. Se ao apresentar uma imagem ou reprodugao de uma obra de arte aos alunos em sala, oferecemos a eles a oportunidade de adentrar em um universo simbdlico carregado de cultura © expresso, 0 contato do autista com essa imagem € ainda mais delicada. E como unir e respaldar uma convivéncia através das imagens com criangas t&o diferentes e outra ainda mais diferente? Que imagens mediam esse contato? Como promover 0 encontro de mundos tao diferentes: alunos e 1440 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano suas diferengas, a reprodugéo da obra com suas especificidades e 0 aluno autista? Talvez buscar temas cotidianos discutidos na obra de arte seja um possivel caminho, com o cuidado em mediar um saber que o educando precisa adquirir em sua vida ‘A educac&o da pessoa com deficiéncia mental ndo pode estar centrada na deficiéncia, na sua causa orgénica, nos seus limites, mas na busca de conhecer como é 0 desenvolvimento, quais suas dificuldades bem como as suas possibilidades, procurando a estruturagéo do desenvolvimento da pessoa com deficiéncia mental. As possibilidades sdo condi¢des humanas e estéo baseadas nas interagées socioculturais e que estabelecer&o o seu diferencial, pois é na exploracdo dessas possibilidades que se determinara sua transformagao (BUENO, 2002, p. 24), Um direito conquistado através da lei A escola como ambiente que recebe alunos que séo considerados normais e capazes de atingir os objetivos propostos pelo curriculo, por muito tempo nao foi considerada como ambiente possivel para receber os que nao se encaixavam nestas condigdes. E 0 atendimento das pessoas com necesidades especiais se concentrava em espacos alternativos, pois se entendia que assim seriam adequadamente amparadas. Os recentes estudos no campo da educagao modificam este pensar e entendem a escola do ensino regular como importante meio para a interagéo e 0 desenvolvimento social também dos portadores de necessidades especiais. Estes tém 0 direito a uma educacao oferecida no sistema geral de ensino em 1961, garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educagao Nacional, Lei n 4.024/61 Porém a Lei no. 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961 a0 definir “tratamento especial’ para os alunos com deficigncias fisicas, mentais, os que se encontram em atraso considerével a idade regular de matricula e superdotados ndo promove a organizagao de um sistema de ensino capaz de atender as _necessidades educacionais especiais (GRUPO DE TRABALHO DA POLITICA NACIONAL DE EDUCACAO ESPECIAL, 2008). 1444 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano Mesmo a Politica Nacional de Educagao Especial publicada em 1994 reforca esta forma de apreender 0 atendimento ao portador de necessidades especiais quando aponta como condigo de acesso escola regular aqueles que apresentarem condigdes de seguir as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais. Nota-se um carater excludente nesta forma de avaliar 0 aluno, apoiado em um unico olhar, com um curriculo abotoado. No entanto, neste mesmo ano, no campo da ago social, acontece a Declaragao de Salamanca’ estabelecendo que as escolas do ensino regular devam educar todos os alunos: com deficiéncias, as que vivem na tua, as que trabalham, as superdotadas, as que se encontram em desvantagem social, que possuem diferengas lingUisticas, étnicas ou culturais. O caminho vai sendo trilhado entre tentativas de acertos. Um avango significative acontece com a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educacéo Nacional - Lei n°, 9394/96, que no artigo 59 recomenda que os sistemas de ensino devam assegurar aos alunos curriculo, métodos, recursos e organizagao espectficos para atender as suas necessidades. Mais flexivel essa lei propde um olhar global sobre o aluno com necessidades especiais. A postura inclusiva como meta, tem apoio na convengao sobre os direitos das Pessoas com Deficiéncia, aprovada pela ONU em 2006, que ressalta o papel fundamental do Estado em assegurar um sistema de educagdo inclusiva para todos os niveis de ensino. Reforca este propésito, 0 Plano Nacional de Educagao em Direitos Humanos, langado pelo Ministério da Justiga e pela UNESCO. Os ajustes tedricos avangam e os problemas praticos relativos incluso nao sdo ignorados, mas repensados. O primeiro passo ja foi dado, buscando primeiramente através de lei, que 0 compromisso com a igualdade social, 0 respeito as diferencas, a interaco das caracteristicas individuais acontega em todos os niveis educacionais. Contrariando a concepe¢do sistémica da transversalidade da educacdo especial nos diferentes niveis, etapas e modalidades de ensino, a educagdo nao se estruturou na perspectiva da incluso e do atendimento as necessidades especiais limitando o cumprimento do principio constitucional que prevé a igualdade de Condigdes para 0 acesso e permanéncia na escola e a continuidade nos niveis mais elevados de ensino (Plano 1442 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano de Desenvolvimento da Educacao, 2007 p. 09. Citado por GRUPO DE TRABALHO DA POLITICA NACIONAL DE EDUCACAO ESPECIAL, 2008) Tem-se consciéncia dos desafios para atingir a meta da inclusdo do portador de necessidades especiais em um sistema de ensino pouco flexivel no. ensino regular. Como acontece realmente e plenamente a incluso? Penso que ela comega quando o aluno portador de necessidades especiais chega & escola. Ali, naquele momento de chegada ela comega. O desenvolvimento dos processos é multiplo, complexo e desafiador. Meu encontro com o aluno autista: a inclusdo através da arte. Completei minha graduagao em Artes Plasticas em 2003. Nao lembro de ter qualquer formagao no que se refere a incluséo dos portadores de necessidades especiais. Durante minha pratica de ensino, convivi com poucos alunos que apresentavam necessidades especiais. Lembro de um caso leve de sindrome de Down, uma crianga doce com quem realizei um trabalho bastante significativo; ela adorava desenhar e contar historias. Senti fortemente meu limite tedrico e pratico quando comecei a trabalhar em uma escola municipal que incluia alguns alunos com necessidades variadas, entre elas o autismo. Este relato de caso refere-se a um aluno que frequenta o 2° ano de uma escola municipal de ensino regular. O aluno referenciado em questao frequenta a escola ha dois anos, e foi diagnosticado por médicos que acompanham desde seu nascimento como autista. © paciente apresenta diagnéstico de Autismo. Ele foi acompanhado por mim desde os nove meses devido a um atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor sem causa aparente na historia gestacional e de parto Andou aos dois anos e desde o primeiro ano de vida manifesta comportamento isolacionista, néo procurava aconchego, nao estabelecia bom contato visual. Aos 2 anos nao falava nenhuma palavra, no dava beijo ou tchau, tinha comportamento de auto agressao mordia-se até ferir-se (relat6rio médico do aluno") 1443 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano Ele tem uma aparéncia linda, olhos claros e porte fisico compativel com a idade. Ao entrar na sala de aula, este aluno parece nao estar la. Enquanto os demais alunos movem-se euforicamente e buscam seus lugares entre conversas e risos, 0 aluno parece alheio a tudo. Eles experimentam uma necessidade de imutabilidade que se manifesta por uma resisténcia marcada @ minima mudanga no ambiente habitual do autista. A menor modificagao, 0 deslocamento de um mével, por exemplo, ‘ou a mudanga de uma rotina regularmente repetida no dia da crianga pode provocar reagées explosivas. Mas é dificil prever quais alteracées particulares do ambiente vao produzir tais reagdes (LEBOYER, 1995, p. 18). ‘Ao chegar ao seu espaco mesa e cadeira, parece um pouco mais a vontade. Segura fortemente entre as mos palitos, que merecem sua total atengao. © cumprimento inicial de bom dia dirigido a turma parece nao atingir 0 aluno autista, que néo me percebe de imediato em sala. Mas quando sente que algo diferente ali acontece, agita-se e solta gritos seguidos por gestos Violentos. Hoje sei que é sua maneira de expressar a mudanga de seu mundo, mas até ele conseguir entender ou adaptar-se ao que esta acontecendo, ainda estampo em meu rosto toda minha impoténcia perante a situagdo. Neste momento sou mais do que necessitada, sou também amparada pela professora regente e pela professora de apoio que tentam fazer desta modificagao no ambiente uma coisa quase natural. Cada aula de artes nesta sala é sem duivida um trabalho coletivo, onde participam escola, alunos, professores, pais. De inicio esta batalha acontecia duas vezes por semana. Uma forma de amenizar © choque do encontro entre nés e a mudanga desagradavel ao aluno autista com minha chegada, foi amenizada por imagens. Em uma tentativa de prepara- lo para a modificagao usamos uma foto minha com ele, tirada durante uma das aulas de arte. O pensamento do autista € fortemente organizado através de imagens, ele pensa por imagens. Antes de minha entrada em sala, a foto é apresentada a ele, “eles necessitam de previsibilidade” (relatorio médico). Aos poucos, aluno consegue fazer a ligaco que alguma coisa vai mudar na rotina da aula. Mas essa maneira de amenizar no funcionou automaticamente, foi preciso uma insisténcia para que o aluno conseguisse associer a foto com a minha chegada em sua sala trazendo as mudangas que tanto o incomodam. 1444 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano Os outros alunos estaréo mais agitados e conversarao mais alto, e tintas, desenhos e musica estarao presentes neste ambiente. Nao conseguem interpretar adequadamente nocdes temporais, raciocinio seqlencial de fatos e eventos. O que pode ser visto e gravado como imagens concretas no cérebro, tem funcéo para ele, o que necesita elaboracao, introspeccdo ou interpretacdo social é mais dificil (relatério médico), Se para a maioria dos alunos é um momento agradavel, para o aluno autista nem sempre € assim. E quando a atividade € ao ar livre, também & preciso um momento de preparo deste aluno autista para esse novo ambiente, j4 visitado, mas nem sempre reconhecido. O trabalho novamente acontece em grupo, professor de arte, professor de apoio e professor regente. Os demais alunos também participam quando 0 aluno autista permite a integragao, 0 que acontece poucas vezes. Uma das grandes dificuldades é entender a negacdo da afetividade do aluno autista. Explicar isso as demais criangas também. A palavra diferenca 6 exaustivamente usada em uma tentativa de aceitar e reconhecer como natural da crianga autista a negagao do toque, do olhar, da afetividade. Mais precisamente a crianga autista nao utiliza 0 contato visual para chamar a aten¢éo, além disso, ha auséncia, atraso ou cessagao do sorriso em resposta aos sorrisos dos outros. A crianga é indiferente aos outros, ela os ignora endo reage a afeicéo e ao contato fisico (LEBOYER, 1995, p. 15) Situa-lo no espago que passa a ser também de todos é um caminho ainda a ser tragado. No caso apresentado, a relaco € sempre delicada, pois ainda é premature. Dois anos é um tempo relativamente curto, onde o professor de arte e o aluno autista tentam conviver, ambos aprendendo a cada dia. O relatério médico orienta sua educagao inclusiva, destaca a importancia de buscar a atengao visual do aluno. Sugere que a intervengao pedagégica acontega através dos objetos escolhides por ele, de seu interesse. Ressalta a importancia para este aluno de alguém que Ihes fornega estruturas para que tenham um comportamento adequado ao contexto. Sugere como método de ensino 0 T.E.A.C.C. H.", trazido para o Brasil pela Associagéo de Amigos do 1445 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano Autismo (AMA), que nasceu de um grupo de pais e propde atendimento e troca de conhecimento sobre o autismo. © TEACCH néo pode ser reduzido a uma técnica, nem mesmo a um conjunto de técnicas, nem mesmo a um método. E um projeto completo de servicos para pessoas autistas que se vale do uso de varias técnicas, de varios métodos em combinacaio dependendo das necessidades individuais da pessoa e de suas capacidades emergentes (TREHIN, 2004). Os métodos utilizados na educago das pessoas com necessidades especiais geralmente sao somados, nao sendo utilizada uma Unica abordagem educacional. 0 TEACCH indicado pelo relatorio médico tem por base a premissa de que os autistas em geral aprendem melhor por visualizago, e a comunicagao acontece através de figuras. Essas informagdes foram muito importantes para 0 meu contato com o aluno autista. No momento posso dizer que os avangos e conquistas na educagao do aluno aqui referenciado sao minimos. Ele as vezes utiliza o lapis para pintura, as vezes parece ndo se incomodar com minha presenga em sua sala de aula. Esporadicamente parece apreciar a musica disponivel, mostra isso pulando e soltando sons agudos mais altos que 0 som da milsica. Ele nao me percebe no recreio ou em outro espaco que nao seja sua sala. Nao consigo avaliar ainda minha contribuigéo como educadora na vida deste aluno, mas posso assegurar sua importancia para minha vida profissional. Ele me instigou a avaliar cada passo dado em sua direg&o, desafiou meus saberes e a compreenséo do papel da arte em sua formagao para uma vida plena 1446 17 Encnto Nacional da Aside Nacional dePesquisadoresom Aes Plstices GTIPAP: _pinranada esq am hts Vana 19498 de onto de 208 Fano REFERENCIAS, Arte sem barreiras: educagdo, arte e incluséo. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2002. 20 v. CADERNO DE TEXTOS: educagéo, arte, incluso. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2002. Grupo de Trabalho da Politica Nacional de Educagdo Especial. Politica Nacional de Educacao Especial na Perspectiva da Educacao Inclusiva. Brasilia, 2008. LEBOYER, Marion. Autismo infantil: fatos ¢ modelos . 2a. ed. S40 Paulo: Papirus, 1995. 192 p. TREHIN, Paul. Método TEACCH onto por onto. Disponivel em http://www.ama.org.br/html/apre_arti.php?cod=11. Acesso em 26/04/2008. hitp:/www.ama.org.br/html/apre_arti,php?co www.google.com. br Curriculo Mestranda em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Santa Catarina — UDESC. Especialista no ensino da Arte pela Universidade Regional de Blumenau - FURB. Participa e desenvolve pesquisas junto ao Grupo Educégintans (cadastrado no CNPQ). Atua como professora no Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino de Blumenau — SC. Notas * a pesquisa referida contemplou sels Universidades Comunttarias Catarinenses que oferecem o curso de Artes Visuais — Licenciatura. " Deciaragdo de Salamanca 1994. Trata-se de uma resolugao das Nagdes Unidas adotada em Assembléia Geral, a qual apresenta os Procedimentos-Padrbes das Nagdes Unidas para a Equalizagao ‘de Oportunidades para Pessoas Portadoras de Deficiencias. " Relatorio médico enviado @ escola como apolo para a educagao do aluno autista ™ (Treatment and Education of Autistic and related Communication Handicapped CHildren) Método desenvolvido pela Divistio TEACCH da Universidade da Carolina do Norte (EUA). 1447

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