Você está na página 1de 12

UNIPAR

PSICOLOGIA

CAIO BRITO DE FARIAS


GABRIELA ROCHA ZANON
ISADORA CAROLINA MAZUTTI PIOVESAN
LARISSA DELFES

FICHAMENTO DO CAPÍTULO: RUMO A UMA EXPLICAÇÃO DA GÊNESE DA


DEPRESSÃO E DA BIPOLARIDADE

FRANCISCO BELTRÃO
2022
1

CAIO BRITO DE FARIAS


GABRIELA ROCHA ZANON
ISADORA CAROLINA MAZUTTI PIOVESAN
LARISSA DELFES

FICHAMENTO DO CAPÍTULO: RUMO A UMA EXPLICAÇÃO DA GÊNESE DA


DEPRESSÃO E DA BIPOLARIDADE

Trabalho acadêmico apresentado a UNIPAR como


parte das exigências para a nota bimestral do
componente curricular de Estágio Supervisionado
Básico II.

Orientador(a): Mayara Nunes Almeida

FRANCISCO BELTRÃO
2022
2

CAPÍTULO 6 – RUMO A UMA EXPLICAÇÃO DA GÊNESE DA DEPRESSÃO E DA


BIPOLARIDADE

“Ao observar cada história de vida em si mesma, há uma riqueza de detalhes,


fundamental para entender como as vivências em sua unidade afetivo-cognitiva [...]”
(ALMEIDA, 2018, p. 319).

6.1 PRINCÍPIOS GERAIS PARA UMA LEITURA HISTÓRICO-SOCIAL DA


DEPRESSÃO E DA BIPOLARIDADE

“[...] as necessidades humanas se diferenciam das dos animais porque o


objeto e o modo de satisfazê-las são resultado do desenvolvimento social. Em uma
sociedade de classes marcada pela exploração, a natureza das necessidades bem
como sua satisfação ficam sujeitas à lógica da dominação. Isto é, a humanidade, em
seu desenvolvimento histórico e social, produz novas necessidades, cuja satisfação
está condicionada pelas relações sociais, que sob o capitalismo são de
assalariamento e troca [...]. Do mesmo modo, no capitalismo, muitas necessidades
por nós incorporadas são produzidas artificialmente pelo capital como forma de se
auto reproduzir. Por exemplo, a necessidade de comprar objetos para tê-los e não
para fruílos enquanto valores de uso; a necessidade de status social como forma de
exercício de poder ou mesmo de ostentação, entre outras” (LEONTIEV 1961/2017
apud ALMEIDA, 2018, p. 322).

6.1.1 AS PESSOAS COM DEPRESSÃO OU BIPOLARIDADE SÃO SERES


HUMANOS EM SUA TOTALIDADE

“[...] entender as regularidades na constituição da personalidade de pessoas


diagnosticadas com transtornos do humor, bem como as especificidades da
depressão e da bipolaridade, a partir das trajetórias singulares de vida, que revelam
modos próprios de constituição do sofrimento” (ALMEIDA, 2018, p. 320).
“É preciso afirmar antes de tudo e reiteradamente que a pessoa em
sofrimento, com depressão ou bipolaridade, é um ser humano integral com todas as
suas necessidades” (ALMEIDA, 2018, p.320).
3

“[...] se a organização tutela os interesses de um grupo (uma classe) em


detrimento do outro, se a sobrevivência desse grupo se baseia no domínio do outro,
se a lógica de exploração da natureza se baseia na exploração do homem, não
existe limite humano, porque tudo se encaixa na desumanidade da organização [...]”
(BASAGLIA; BASAGLIA 1979/2005, p. 295-296 apud ALMEIDA, 2018, p. 320).
“[...] a psiquiatria nasce para cumprir o papel de responder de modo apenas
fragmentado às necessidades dessa pessoa considerada doente” (ALMEIDA, 2018,
p. 321)”.
“[...] para apreender o sofrimento psíquico de uma pessoa, é preciso ir ao
encontro do ser humano concreto em sua totalidade e não da doença abstrata”
(ALMEIDA, 2018, p. 321).
“Basaglia e Basaglia consideram que o sofrimento é resultado da repressão
da subjetividade e do corpo, da impossibilidade material e psicológica de o indivíduo
expressar seus desejos e necessidades” (BASAGLIA; BASAGLIA 1979/2005 apud
ALMEIDA, 2018, p. 322).
“[...] a humanidade, em seu desenvolvimento histórico e social, produz novas
necessidades, cuja satisfação está condicionada pelas relações sociais, que sob o
capitalismo são de assalariamento e troca” (LEONTIEV (1961/2017); ALMEIDA,
2018, p. 322).

6.1.2 A DEPRESSÃO E A BIPOLARIDADE COMO PROCESSO

“Com isso, ressaltamos que o aparato biológico, em que se inclui o próprio


funcionamento cerebral, se modifica sob influência do desenvolvimento cultural, o
que marca sua natureza processual” (ALMEIDA, 2018, p. 323).
“Assim, uma afecção em uma área do cérebro limitada não vai afetar apenas
uma função, mas todos os sistemas funcionais cuja realização envolve a área
afetada” (LURIA, 1979 apud ALMEIDA, 2018, p. 324).
“Ao afirmarmos a depressão e a bipolaridade como processos, buscamos
evidenciar que essas manifestações do sofrimento psíquico são produzidas na
história de vida das pessoas e que, portanto, passam também a constituí-las. As
vivências – o desgaste no trabalho, o assédio moral, a violência sexual, o
preconceito, as situações de humilhação, as agressões homofóbicas, o casamento
4

ou gravidez indesejados, por exemplo – que produziram essa dor de viver não
deixam de fazer parte da história de vida. Nem por isso, necessariamente, sempre
produzirão sofrimento, pois seu papel na dinâmica da personalidade pode também
se modificar” (ALMEIDA, 2018, p. 327).
"todo e qualquer sofrimento, como todo e qualquer processo afetivo-cognitivo,
não pode ser apenas 'de alguém', mas também 'com relação a dada realidade' – a
certas situações vitais pelas quais passa". Isso abre o caminho para o tema da
unidade afetivo-cognitiva” (ALMEIDA, 2018, p. 327).

6.1.3 A UNIDADE AFETIVO-COGNITIVA DA ATIVIDADE HUMANA

“[...] a maioria das referências em psiquiatria concordam que as alterações


mais importantes nos transtornos do humor seriam as afetivas" (ALMEIDA, 2018, p.
328).
”Por isso, é preciso buscar entender não apenas quais seriam os sintomas
mais importantes, mas entender os processos afetivos em seu sistema psicológico,
isto é, em suas interconexões funcionais com os outros processos psíquicos. Isso
porque o afeto não tem existência autônoma nas pessoas, mas está vinculado às
suas vivências, ao seu sistema de conceitos, à sua atividade” (ALMEIDA, 2018, p.
328).
“Vigotski critica a psicologia tradicional por separar a consciência em uma
parte intelectual e uma parte afetiva e volitiva, pois com isso transforma o
pensamento em uma corrente autônoma de pensamentos que pensam a si mesmos,
dissociado da plenitude dinâmica da vida, das motivações vivas, dos interesses, dos
envolvimentos do ser humano pensante” (VIGOTSKY, 1934/2001, p. 15-16 apud
ALMEIDA, 2018, p. 330).
“O conteúdo sensorial da consciência pode ser considerado como matriz
cognitivo-afetiva da atividade, posto que a realidade objetiva é captada
sensorialmente e dotada emocionalmente de conteúdo significativo pelo indivíduo
que mobiliza todas as suas funções psíquicas” (MONTEIRO, 2015 apud ALMEIDA,
2018, p. 331).
“Desse modo, ao analisar os transtornos do humor, devemos ter como
princípio a unidade afetivo-cognitiva na dinâmica da atividade e da personalidade, de
5

modo a não negligenciar nenhum dos pólos dessa relação e, mais, considerá-los em
sua unidade. A relação entre a atividade social e suas repercussões sobre a
personalidade como depressão ou bipolaridade é assunto do próximo tópico.”
(ALMEIDA, 2018, p. 332)

6.2.1 AS RELAÇÕES SOCIAIS CAPITALISTAS E A DEPRESSÃO E A


BIPOLARIDADE

“[a alienação se caracteriza] pela extensão universal da ‘vendabilidade’ (isto


é, a transformação de tudo em mercadoria); pela conversão dos seres humanos em
‘coisas’ [...] e pela fragmentação do corpo social em ‘indivíduos isolados’ [...]”
(MÉSZÁROS, 2006, p. 39 apud ALMEIDA, 2018. p. 334).
“[...] entendemos que o trabalho alienado afeta os indivíduos negativamente,
produzindo marcas subjetivas entre as quais temos o sofrimento psíquico. Estamos
entendendo, então, que o sofrimento psíquico surge da relação do indivíduo com a
realidade” (ALMEIDA, 2018. p. 335).
“Montero apresenta cinco formas de alienação que descrevem processos
psicológicos: 1) sentimento de falta de poder ou sentimento de impotência: em que o
indivíduo se vê incapaz de gerir a própria vida; 2) sentido do absurdo: em que as
situações vividas são tão complexas que sua compreensão passa pela simplificação
das informações, com baixa expectativa sobre a possibilidade de predizer os
resultados dos comportamentos; 3) isolamento: em que se expressa a
desesperança, com valoração negativa dos objetivos e valores sociais; 4) auto
estranhamento: em que o indivíduo depende de recompensas externas para a
realização de sua atividade; 5) ausência de normas: rompimento com os vínculos
sociais pelas circunstâncias de opressão” (ALMEIDA, 2018. p. 335).
“[...] a atividade de trabalho, alienada, destituída de sentido em si mesma,
pode trazer para o trabalhador um sentimento de sofrimento duradouro [...]”
(MALAGUTY, 2013 apud ALMEIDA, 2018. p. 334).
“De algum modo, aparece nestes autores uma concepção do adoecimento
como resistência à lógica opressora e violenta do capital, que institui regras,
interdições, tabus, proibições, repressões; divisões de classe, de raça, de gênero;
abusos de poder, injustiças e humilhações, violência organizada e permanente.
6

Nesse processo, de impossibilidade de objetivar suas necessidades, estas podem


se expressar de modo confuso “[...] para gritar a angústia, a fúria, a raiva, a cisão, a
fratura; ou para chorar a impotência” (BASAGLIA; BASAGLIA, 1979/2005, p. 296
apud ALMEIDA, 2018. p. 336). “Assim, parece-nos que o sofrimento psíquico pode
advir tanto de uma tentativa de adaptação quanto de uma resistência à adaptação a
uma norma que de algum modo entra em choque com as necessidades e motivos
do indivíduo” (ALMEIDA, 2018. p. 336).
“[...] os processos críticos da sociedade atual – sobretudo os destrutivos –
requerem altos níveis de disposição e energia biopsíquicas e que, diante da
impossibilidade e/ou incapacidade de atender a essas exigências, apresentam-se às
pessoas alguns cenários, dentre os quais, destacamos dois: 1) a renúncia ou
resistência em mobilizar a energia requerida, característica da depressão; 2) a
concessão estereotipada, desorganizada ou exagerada da energia requerida,
característica da mania. Tanto uma quanto outra não se apresentam
necessariamente de forma voluntária e consciente” (ALMEIDA, 2018. p. 339).
“Assim, na depressão há uma diminuição do nível de atividade em geral,
quase como uma paralisia diante da restauração impedida ou insuficiente para a
intensidade do desgaste” (ALMEIDA, 2018. p. 339).

6.2.2 AS ALTERAÇÕES NA DINÂMICA DA PERSONALIDADE NA DEPRESSÃO


E NA BIPOLARIDADE

“Falamos de alterações na personalidade quando, por influência da


enfermidade, se estreitam no paciente os interesses, diminuem as necessidades,
quando se torna indiferente àquilo que antes o inquietava, quando suas ações
perdem sua finalidade, quando seus atos se fazem ilógicos, quando o homem deixa
de regular sua própria conduta e não está em condições de avaliar adequadamente
suas possibilidades” (ZEIGARNIK, 1979, p. 109 apud ALMEIDA, 2018. p. 343).

ALTERAÇÃO NO PROCESSO DE MEDIAÇÃO E HIERARQUIA DOS MOTIVOS

“Com isso, queremos destacar que quando o que é mais central na hierarquia
de motivos da personalidade é afetado negativamente, há maior impacto no
7

processo de sofrimento. Além disso, dado que em nossa sociedade há um


estreitamento das atividades de acordo com sua posição de classe, há maior
dificuldade também em substituir as atividades ou vivências mais críticas que levam
ao desgaste intenso” (ALMEIDA, 2018. p. 347). Zeigarnik (1981 apud ALMEIDA,
2018. p. 347) explicíta “[...] na enfermidade psíquica, há também o desaparecimento
de motivos de longo prazo. Quando agregamos a isso o fato de que nossa
sociedade já suprime a possibilidade de planejamento de longo prazo a boa parte
das pessoas, vemos que em condições de alienação é frequente que muitas
pessoas sequer constituam esse tipo de motivos [...]”

ALTERAÇÃO NA FORMAÇÃO DE SENTIDOS PESSOAIS

“[...] as atividades não têm como estarem totalmente destituídas de sentido,


visto que na consciência da pessoa se estabelece alguma relação – ainda que
alienada – entre seus motivos e fins. Se as atividades são polimotivadas, para que
elas se realizem é necessário que algum dos motivos tenha uma função significativa
para que seja incitadora e conduza à formação de um sentido pessoal, por mais
estreito e específico que seja” (ALMEIDA, 2018. p. 352-353). Acrescenta-se “[...] é
possível que o motivo vá perdendo essa função significativa que leva à formação de
sentido, chegando, no limite, ou em uma ausência de atividade, nos casos mais
graves de depressão, ou em uma atividade desorganizada em relação aos motivos,
nos casos de mania, por exemplo” (ZEIGARNIK, 1981 apud ALMEIDA, 2018. p.
353).
Ratner (1995) evidencia que em diferentes sociedades a forma como
depressão ou a angústia é vivenciada varia em grupos distintos, com visões
particulares sobre o eu, o corpo, as relações sociais, o comportamento considerado
normal e a doença. Baseando-se em estudos de Draguns (1974) o autor compara
distintas sintomatologias: “norte-americanos e europeus, cujos valores protestantes
do individualismo, autocontrole, racionalismo, ativismo e introspecção são
prevalentes e de latinos católicos, que teriam herdado valores de vida em comum,
aceitação do inevitável e da autoridade superior. Entre os norte-americanos, por
exemplo, haveria um predomínio de distorção e elaboração ideacionais, além de
pensamentos obsessivos, intelectualização, culpa e autoreprovação, enquanto que
8

entre os latinos haveria uma supressão do esforço cognitivo, com preponderância de


queixas somáticas, falta de sono e obesidade” (apud ALMEIDA, 2018. p. 354-355).

ALTERAÇÃO NO AUTOCONTROLE DO COMPORTAMENTO

“Na busca de entender o papel das reações afetivas em situações de conflito,


Luria conclui que no comportamento cultural do adulto haveria uma barreira
funcional entre as duas fases da atividade – do sistema receptivo-conector e do
efetor – o que permite uma preparação para a atividade sem uma transferência
direta da excitação para a área motora” (TULESKI, 2011 apud ALMEIDA, 2018. p.
363).
“A natureza das barreiras funcionais, para Luria, não seria puramente
orgânica e natural, mas com origem no desenvolvimento cultural” (TULESKI, 2011
apud ALMEIDA, 2018. p. 364).
“A barreira funcional, nos termos enunciados por Luria, permite ao ser
humano o autocontrole da conduta. [...] Luria já atentava aqui para o papel ativo da
pessoa na tentativa de dominar e controlar seu comportamento diante das situações
de conflito que exigem reações emocionais, o que seria feito utilizando-se de meios
culturais. [...] Com base nessa reflexão, entendemos que nos transtornos do humor
haja uma regressão a estados emocionais mais primitivos, pela quebra da barreira
funcional. Suspeitamos ainda que possa haver um retrocesso a um temperamento
de base, próprio de estágios anteriores com menores níveis de autocontrole”
(ALMEIDA, 2018. p. 364).

ALTERAÇÃO NA AUTOVALORAÇÃO

Definem-se classes de autovaloração: 1) autovaloração estável, adequada; 2)


autovaloração inadequada, insuficiente: frequente na depressão, é caracterizada
pelo estabelecimentos de metas reduzidas, não correspondentes com o potencial, e
uma maior culpabilização pelos fracassos; 3) autovaloração inadequada,
supervaloração: presente na mania, a pessoa estabelece um alto nível de
aspirações exageradas, fantasiosas, as quais não se apresentam como possíveis de
ser trabalhadas, e diante do fracasso mostra afeto de inadequação, culpando os
9

outros ou se justificando; 4) autovaloração instável: podendo ser observado na


bipolaridade, se trata de uma incomum flutuação da autovaloração (ZEIGARNIK,
1981; ALVAREZ, 2003 apud ALMEIDA, 2018. p. 367).
“Falamos de alteração da autovaloração quando não há correspondência
entre o nível de aspiração e as realizações ou as possibilidades do sujeito para
alcançar os objetivos, ou quando não reage adequadamente ante o êxito e o
fracasso” (ALVAREZ, 2003, p. 19 apud ALMEIDA, 2018. p. 367).
“Malaguty (2013) especifica que, na sociedade capitalista, os trabalhadores
têm suas personalidades constituídas de forma parcial e alienada, pois está
fundamentada em relações de exploração” (apud ALMEIDA, 2018. p. 368).
Acrescenta-se que a consciência sobre si, a autoconsciência e os processos
envolvidos na autovaloração é fragmentado e obstruído pelas relações de
exploração - bem como desenvolvimento da personalidade, como a citação anterior
explicita (ALMEIDA, 2018. p. 368).

6.2.3 OS MOMENTOS CRÍTICOS COMO MARCOS NA ALTERAÇÃO DA


DINÂMICA DA PERSONALIDADE

Silva (2014, p. 129) Estima em seu trabalho o surgimento de neoformações


patológicas no decorrer do desenvolvimento humano, resultantes de processos de
desintegração e/ou formas alteradas de desenvolvimento, o que não pode ser visto
como natural ou fruto da maturação, nem como desagregação causada por um
colapso puramente biológico, mas como um processo regido por leis sócio-históricas
(ALMEIDA, 2018, p. 370).
Para Vygotski (1933/2006d), a essência de toda crise do desenvolvimento está
na reestruturação da vivência interior e radica na mudança de suas necessidades e
motivos. À criança passam a interessar coisas novas, surgem novas atividades e
sua consciência se reestrutura e assim abre espaço para o ‘’novo’’ (ALMEIDA,
2018, p. 371).
Vygotski (1932/2006c, p. 299) salienta ainda que “todas as idades críticas se
distinguem por um desenvolvimento impetuoso da vida afetiva e pela aparição do
afeto da personalidade própria”. A impetuosidade da vida afetiva parece-nos um
10

ponto em comum entre as crises de desenvolvimento e os momentos críticos dos


transtornos de humor (ALMEIDA, 2018, p. 371).
Amarante (2007) adverte que a crise é um processo social, entendida como o
resultado de uma série de fatores que envolvem o outro, sejam familiares, amigos,
vizinhos, – entre outros. "Um momento que pode ser resultado de uma diminuição
do limiar de solidariedade de uns para com outros, de uma situação de precariedade
de recursos para tratar a pessoa em sua residência, enfim, uma situação mais social
que puramente biológica ou psicológica" (AMARANTE, 2007, p. 81-82 apud
ALMEIDA, 2018, p. 371) .
Para Vigotski as idades críticas caracterizam-se por 1) uma indefinição dos
limites entre o começo e o final da crise e pela existência de um ponto culminante; 2)
conflitos mais ou menos agudos com as pessoas de seu entorno, com a
possibilidade de vivências dolorosas e conflitos íntimos; 3) um caráter negativo da
crise, isto é, pelo processo de extinção, decomposição e desintegração do que se
formou na idade anterior, com a perda de interesses do que antes orientavam a sua
atividade e ocupava o seu tempo e atenção, gerando uma espécie de esvaziamento
(VYGOTSKI, 1932/2006b, p. 256-257 apud ALMEIDA, 2018, p. 373).
“[...] as condições exteriores determinam o caráter concreto em que se
manifestam e transcorrem os períodos críticos” (VYGOTSKI, 1932/2006b, p. 256
apud ALMEIDA, 2018, p. 375).
11

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

RODRIGUES DE ALMEIDA, Melissa. A formação social dos transtornos do humor.


2018. 416 p. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) - Universidade Estadual Paulista
“Júlio De Mesquita Filho” Faculdade de Medicina, Botocatu, 2018.

Você também pode gostar