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EDIÇÃO DE SÁBADO: UMA

HISTÓRIA DA LIVRE
EXPRESSÃO

Foi por cinco anos que não se encontraram no mundo. James


Madison morreu em 1836. Oliver Wendell Homes Jr nasceu em
1841. Cinco anos que fizeram imensa diferença — Madison, o
quarto presidente americano, foi na medula um homem do
século 18. Holmes, tendo vivido boa parte da vida no século 19,
mas só ministro da Suprema Corte americana no 20, fez boa
parte do seu impacto nos tempos atuais. Nunca tendo se
conhecido, porém lidando com rigorosamente as mesmas poucas
palavras, na mesma ordem, com as mesmas vírgulas, inventaram
juntos uma maneira única e radical de compreender o direito à
livre expressão. Numa semana como esta que o Brasil viveu, em
que livre expressão ficou no cerne do debate, os dois americanos
e um inglês chamado John Stuart Mill, que sem tê-los conhecido
viveu ali entre ambos — 1806 a 1873 —, são fundamentais.
A invenção da democracia é fruto do Iluminismo e dos filósofos
que o imaginaram. Mas nenhum direito é visto com tanta
distinção nas duas pontas do Atlântico como o da Liberdade de
Expressão. Se não havia justificativa para a censura que o
Supremo tentou impor à revista Crusoé, que apenas publicou
uma informação de interesse público referente ao presidente do
STF, o caso do comediante Danilo Gentile é um quê mais
complexo. Foi condenado por ofender uma deputada federal e
esfregar nas partes os papéis de condenação. Nos EUA, o caso
provavelmente sequer seria apresentado a um juiz. Na Europa
talvez fosse diferente.
Naquele universo Washington, Jefferson, Adams e
Hamilton, James Madison é um tanto menos lembrado. No jovem
e já independente Estados Unidos, uma extensa batalha se deu
no Congresso entre os anos de 1787 e 88. A Constituição já
estava escrita, uma folha frente e verso, na qual regras para a
relação entre governo e sociedade, entre União e estados, se
descreviam. Mas um grupo importante de deputados se recusava
a ratifica-la: exigiam que fosse aprovada simultaneamente uma
lista de direitos do cidadão. Foi Madison quem se predispôs a
estudar o tema e assim rascunhou o que seriam os doze artigos
que se tornaram as doze primeiras emendas à Constituição dos
EUA. Foi ele quem decidiu, também, que a primeira da lista
fosse esta:
―O Congresso não publicará lei a respeito ou estabelecendo
religião, ou proibindo o livre exercício de uma; ou a respeito da
liberdade de expressão, ou da imprensa; ou direito do povo de
se reunir em paz, ou de peticionar o Governo a refletir sobre
questões.‖
Conhecida como Primeira Emenda, resumia na segunda frase
dois longos debates que se deram nos séculos anteriores, na
Inglaterra. Não havia TV, rádio, nada além de voz e texto
impresso — e era em voz e texto impresso que Madison pensava
quando escreveu.
‗Liberdade de imprensa‘, no século 18, era compreendida como
uma proibição de censura prévia. Ninguém poderia pré-aprovar
um texto antes de ser impresso ou distribuído. Isto não quer
dizer que, posteriormente, seu autor não poderia ser punido
pelo que pôs em circulação.
‗Liberdade de expressão‘, porém, a liberdade de dizer algo,
havia nascido de forma mais restrita. Era a liberdade que um
parlamentar tinha de poder, dentro do parlamento, dizer algo
sem ser punido. Após o século 16, começou a se compreender
que esta liberdade de debate sem ameaças do rei era
fundamental para garantir um bom governo. O conceito nasceu
como um direito político. Mas os debates do parlamento não
eram publicados — apenas o resultado do consenso, na forma de
leis. Argumentos radicais podiam ser levantados, mas não
chegavam à sociedade sem consenso.
Em pleno Iluminismo, profundamente influenciados pelo filósofo
John Locke, aqueles americanos que inventavam uma
democracia acreditavam na ideia de que todos temos ‗direitos
naturais‘. No momento em que se passou a compreender que
toda a sociedade participaria das decisões políticas, a liberdade
de expressão tinha de se tornar um direito de todo o cidadão.
Afinal, era o direito de poder manifestar ideias políticas, sem o
qual não seria possível participar de um debate para eleição de
parlamentares.
Sem muito percebê-lo, os homens que aceitaram, revisaram e
aprovaram o texto original de Madison permitiram, então, uma
discreta contradição na Primeira Emenda. Imaginavam para a
expressão de ideias pela voz uma grande latitude de liberdade.
Mas, para a liberdade tornar impressa uma ideia, só a garantia
de que não haveria censura prévia.
Fazia sentido para o século 18. A única forma de uma ideia ir
longe era sua impressão. Não havia grandes metrópoles com
mais de um milhão de habitantes. O dano possível de ser
causado por ideias ditas era mínimo — quantos poderiam ouvi-
las?
John Stuart Mill escreveu o grande argumento pela defesa de
uma liberdade de expressão radical – estendendo ao texto
impresso, portanto às ideias com potencial de alcançar muitos, a
mesma latitude já compreendia pelo que se falava em conversas
ou discursos. Mill já vivia, em meados do século 19, num mundo
com metrópoles industriais cujas populações se contavam aos
milhões.
Seu argumento era o daquilo que posteriormente passamos a
chamar de mercado de ideias. É preciso expor toda ideia ao
debate. Tendo vivido após as revoluções americana e francesa,
ele compreendia que ideias um dia radicais — como a de uma
democracia — poucos anos depois poderiam se tornar conceitos
quase unânimes. Então mesmo que algo dito ou impresso choque
inicialmente a sociedade, é importante que nenhuma ameaça de
censura ou pena, anterior ou posterior, seja imposta. É para
que, na sociedade, ninguém se autocensure. Num ambiente
onde todas as ideias vêm à luz, as melhores sobreviverão.
O limite, para Mill, estava no princípio do dano. Se causar algum
dano — seja material, seja físico — aí, sim, algo dito pode levar
a punição. Mas apenas neste caso.
Ofender uma parlamentar e esfregar uma decisão judicial nas
partes, pelo argumento de Mill, é absolutamente legítimo. Em
ambos os casos, usando o recurso de causar choque pela ofensa
e pelo gesto, o comediante direciona a atenção popular para
aquilo com que não concorda. Ele inicia um debate e, por isso,
não poderia ser punido.
Influenciado pela leitura de Mill, e ministro da Suprema Corte
americana, Oliver Wendell Homes Jr um dia discordou de seus
pares. O ano, 1919. Imediatamente após o fim da Primeira
Guerra, o governo americano processou e prendeu cinco homens
acusados de distribuir panfletos que questionavam a
participação do país no conflito e defendiam a ainda recente
Revolução Soviética. Foram processados por uma lei que proibia
discursos sediciosos ou qualquer percebida como traição.
Não era um debate trivial para Holmes. Ele havia servido como
soldado na Guerra Civil, décadas antes. Sabia o alto custo que
uma tentativa de sedição poderia impor. Mas também
compreendeu ali que aqueles homens não ofereciam qualquer
ameaça real ao governo e que puni-los por ter ideias diferentes,
mesmo que radicais, ameaçava o direito de todos os cidadãos
com base na Primeira Emenda.
Ou seja: caso o governo pudesse provar que o discurso dos réus
teria potencial de causar dano — sedição —, a punição caberia.
Sem, em suas palavras, ‗perigo claro e imediato‘, nada justifica
punir o que se diz ou publica. Na ausência de dano, punição era
intolerável, uma ofensa aos direitos do cidadão. Inicialmente
minoritária, esta visão teve pesada influência ao longo do século
e se tornou virtualmente unânime.
A Europa nunca chegou a uma visão tão radical da liberdade de
expressão e o principal motivo está naquilo que viveu, mas pelo
qual os EUA não passaram: o fascismo.
Nos EUA, só após os anos 1950 a leitura que radicaliza a Primeira
Emenda se consolidou. Na França, a liberdade de expressão se
sustenta pela Lei da Liberdade de Imprensa, de 1881, que se
aplica a toda comunicação com o intuito de ser pública. Dirigida
a toda sociedade. Ela restringe em muito qualquer tipo de
censura, prévia ou posterior. O discurso é plenamente livre em
ambientes como as Cortes e o Parlamento. Mas, na sociedade
geral, estabelece de saída o conceito de difamação. Aquilo que
não aparece na Primeira Emenda, na lei francesa é explícito.
Com base na ideia de que há discursos que têm potencial de
dano apenas por existirem, na França manifestações públicas de
racismo, antissemitismo ou justificativas para atos de terrorismo
são ilegais.
Em todos os países europeus há imposições similares.
Do ponto de vista de quem defende estas proibições está o que
veem como um buraco no raciocínio de John Stuart Mill. Se
ideias movem os ânimos apenas com base na lógica, não há o
que questionar em Mill. Mas, quando ele escreveu seu
argumento, já havia telégrafo, porém não rádio. E o que rádio,
cinema e depois TV potencializaram é a força do discurso oral. A
capacidade que ideias têm de mover não só pela lógica, mas
também pela emoção. É o que fizeram, num tempo de caos,
Hitler e Mussolini. No tom de voz, nos gestos do corpo, na
capacidade de mostrar-se convicto e forte, um demagogo tem a
capacidade de mobilizar multidões na direção do ódio a um
grupo.
Tendo vivido a experiência do fascismo, os europeus não
diluíram, como fizeram os americanos, a ideia de que ideias, por
si só, tenham potencial de dano.
Nenhum país é mais radical no combate ao discurso de ódio do
que a Alemanha. Não à toa. Tem, em seu passado recente, tanto
a experiência do nazismo quanto a do comunismo. Quem incita o
público ao ódio de qualquer espécie pode ser preso por até cinco
anos. Nos EUA, a Ku Klux Klan pode marchar numa rua com
cartazes racistas. O que não pode é ameaçar qualquer pessoa.
Na Alemanha, a KKK não teria o direito de existir.
Justamente por nazistas e comunistas, a Alemanha também tem
em seu passado as polícias secretas Gestapo e Stasi. E, por isso,
liberdade de expressão é um conceito fundamental de sua
democracia. Internet e o aumento de imigrantes muçulmanos
estão, juntas, tornando cada vez mais difícil conciliar os dois
ideais. A proibição do ódio e a liberdade de expressão.
Até a TV, o número de pessoas com capacidade de fazer um
discurso de impacto amplo era pequeno. Com as redes sociais, o
tweet de um alemão anônimo pode atingir toda a nação. E a
oposição à presença de imigrantes, que por vezes descamba
para o racismo, é muito presente na sociedade. Como se
equilibra o debate importante sobre a condução das políticas
públicas em relação a imigrantes com a coibição de racismo?
Onde está o corte? Quantas pessoas é razoável multar ou até
prender pelo que publicam online, quando gírias ou mesmo
ofensas racistas aparecem? Porque, às vezes, misturado a um
argumento importante está também uma ofensa.
Hoje, as redes sociais são obrigadas, pela legislação alemã, a
retirar qualquer conteúdo de ódio. O trabalho é cada vez maior
e não parece ser viável no futuro.
Como rádio, cinema e TV mudaram a compreensão do que é
liberdade de expressão e de imprensa, também a internet o
fará. Se na direção de mais ou menos liberdade, é um debate
aberto. Um debate que segue firme numa questão: qual o
potencial de dano?
Para ler com calma: Uma história de como nasceu a Primeira
Emenda, em PDF.

CEO do Twitter, Jack Dorsey deu uma entrevista na última terça


para Chris Anderson e Whitney Pennington Rodgers do TED
(vídeo). O que mais preocupa o executivo é a saúde das
conversas que ocorrem na plataforma.
Jack Dorsey: ―Nosso propósito é servir à discussão pública, e
temos visto ela ser atacada. Temos visto abuso, temos visto
assédio, temos visto manipulação, automação, coordenação
entre pessoas, desinformação. São dinâmicas que não
esperávamos quando criamos a empresa, 13 anos atrás, e hoje
vemos em larga escala. O que mais me preocupa é nossa
habilidade de lidar com isso de forma sistemática e que possa
ser escalável. Que exista um processo rigoroso sobre como
devemos agir de forma transparente e outro igualmente rigoroso
de apelação para quando errarmos, pois iremos errar. O que
estamos olhando de forma mais aprofundada são os incentivos
que a plataforma oferece. Hoje, a dinâmica do sistema facilita
muito para quem quer abusar ou assediar pessoas. A maior parte
do nosso processo funcionava com base em denúncias feitas
pelas vítimas, mas queremos tirar esse peso delas. Queremos ser
mais proativos, e no meio do ano passado começamos a aplicar
inteligência artificial para resolver esse problema. Fizemos
progresso recentemente, cerca 38% dos tweets que deletamos já
são identificados inicialmente por nossos algoritmos. Sempre
passam por uma revisão humana antes de serem deletados.
Enquanto por um lado estamos trabalhando na tecnologia, do
outro queremos olhar os incentivos. Hoje, o sistema incentiva a
indignação e o ataque em bando. As pessoas querem mais
curtidas, mais retweets, mais seguidores, elas vão testando e já
descobriram que o caminho mais fácil para isso passa por alguma
forma de comportamento provocador, obnóxio, e isso se
transforma num processo de indignação que se auto-alimenta.
Como que conseguimos cortar isso?‖
Dorsey explica então que a empresa trabalhou junto a
um laboratório do MIT para desenvolver um conjunto de 4
indicadores mensuráveis sobre o que é uma conversa
saudável: Atenção compartilhada mede quanto as pessoas estão
realmente atentas ao que se discute, independentemente do
alcance. Realidade compartilhada mede o quanto as pessoas
engajadas num diálogo compartilham dum mesmo conjunto de
fatos, não importa se verídicos. Receptividade, ou o quanto da
conversa é tranquila e respeitosa em oposição a quanto dela é
tóxica. E Variedade de perspectiva, se aquela discussão possui
variedade de opiniões ou é debate fechado em bolha, ou câmara
de ressonância. Definidos os indicadores, o próximo passo é
como medir cada um deles. Segundo Dorsey, a empresa já mede
bem a receptividade e toxicidade de cada conversa, o dilema é
como medir as outras para então acompanhar. O desafio é
encontrar o melhor equilíbrio entre os indicadores, pois é
provável que ao aumentar um deles, outro seja afetado para
baixo.

No dia 20 de abril de 1939, a cantora de jazz Billie Holiday


entrou em um estúdio com uma banda de oito integrantes para
gravar Strange Fruit. A música sobre os horrores do linchamento
não foi apenas o maior sucesso de Holiday. Ela se tornou uma
das canções de protesto contra a violência racial mais influentes
da História dos EUA. Em 1999, Strange Fruit foi nomeada
a canção do século pela revista Time.
A letra, originalmente um poema, foi uma resposta
ao linchamento de afro-americanos no Sul dos Estados Unidos.
―Escrevi porque detesto linchamentos, odeio injustiça e as
pessoas que a perpetuam‖, disse Abel Meeropol, escritor e
compositor americano mais conhecido por seu pseudônimo Lewis
Allan. Ele nunca testemunhou um, mas possivelmente escreveu a
letra após ter visto a fotografia de Lawrence Beitler do
linchamento de Thomas Shipp e Abram Smith em Marion, Indiana
(1930). Pendurados pelos pescoços em árvores, seus corpos,
quais frutos, provocavam horror.
William Dufty, co-autor da autobiografia Lady Sings the Blues,
disse certa vez: ―Holiday não canta canções; ela as transforma".
E foi assim que a cantora e seus músicos, Sonny White e Danny
Mendelsohn, trabalharam solidamente durante três semanas
antes de apresentarem Strange Fruit, pela primeira vez, no Café
Society.
No livro Strange Fruit: The Biography of a Song, o escritor David
Margolick diz que o clube, a primeira casa noturna integrada de
Nova York, era ―provavelmente o único lugar na América onde a
música poderia ter sido apreciada‖. E, para garantir isso,
Holiday e Josephson, dono do espaço, criaram condições
específicas. Seria a última música do set, haveria silêncio
absoluto, nenhum serviço de bar e as luzes seriam apagadas,
exceto por um único holofote no rosto de Holiday. Tudo para
que ‗as pessoas lembrassem da fruta estranha queimando
entranhas‘.

Notre Dame é mostra do que nós, humanos, podemos construir


quando esforço, trabalho, paciência e criatividade se unem.
O Meio separou três trechos do O Corcunda de Notre Dame,
todos vindos da abertura do livro Três do romance, logo após
encontrarmos Quasimodo, o corcunda, e Esmeralda, a dançarina.
Sem dúvida ainda hoje é um edifício sublime, a igreja de Notre
Dame de Paris. Porém, por mais bela que se conserve na
velhice, é difícil não suspirar, não se indignar diante das
degradações e inúmeras mutilações pelas quais
simultaneamente o tempo e os homens fizeram o venerando
monumento passar, sem respeitar Carlos Magno, que assentou a
primeira pedra, nem Filipe Augusto, que assentou a última. Na
face dessa velha rainha das nossas catedrais, ao lado de uma
ruga encontra-se sempre uma cicatriz. Tempus edax, homo
edacior. Sentença que gostaria de traduzir como: o tempo é
cego, o homem estúpido. Se tivéssemos o ensejo de examinar
com o leitor cada uma das diversas marcas de destruição
impressas na antiga igreja, veríamos que a interferência do
tempo foi bem menor que a dos homens. Sobretudo a dos
homens de arte. Devo sublinhar homens de arte, uma vez que
alguns dos causadores dos estragos, nos dois últimos séculos,
assumiam a função de arquiteto. Para começar — e citando
apenas alguns exemplos capitais —, poucas páginas arquiteturais
apresentam fachada mais bela do que essa em que, sucessiva e
simultaneamente, os três portais abertos em ogiva, a fieira
rendada e chanfrada de vinte e oito nichos, a imensa rosácea
central ladeada por duas janelas laterais como diácono e
subdiácono, a alta e frágil galeria de arcadas a trevo,
suportando uma pesada plataforma sobre finas colunetas e,
enfim, as duas negras e maciças torres com seus telheiros de
ardósia, partes harmoniosas de um conjunto magnífico,
superpostas em cinco andares gigantescos, desdobram-se diante
dos olhos, em profusão e sem discórdia, com seus inúmeros
detalhes de estatuária, de escultura e de cinzelamento, em
harmonia com a grandeza do conjunto. Vasta sinfonia de pedra,
por assim dizer, obra colossal de um homem e de um povo, ao
mesmo tempo una e complexa como as ilíadas e os romanceros
dos quais ela é irmã, resultado prodigioso da união de todas as
forças de uma época. Sobre cada pedra, de cem maneiras se vê
brotar a fantasia do artesão disciplinado pelo gênio do artista.
Resumindo, é uma criação humana poderosa e fecunda como a
criação divina, da qual parece ter copiado a dupla
característica: a variedade e a eternidade.
Notre Dame de Paris, em particular, é uma curiosa amostra
dessa variedade. Cada face, cada pedra do venerável
monumento é uma página não somente da história do país, mas
também da história da ciência e da arte. Por exemplo,
indicando apenas os principais detalhes, enquanto a pequena
porta Vermelha chega quase aos limites da delicadeza gótica do
século XV, as pilastras da nave, pelo volume e gravidade,
recuam até a abadia carlovingiana de Saint-Germain-des-Prés. É
como se seis séculos separassem a porta das pilastras. Nem
mesmo os herméticos deixam de encontrar, nos símbolos do
grande portal, um resumo satisfatório da ciência alquímica, da
qual Saint-Jacques-de-la-Boucherie era um completo hieróglifo.
Notre Dame é, entre as velhas igrejas de Paris, uma espécie de
quimera. Os grandes edifícios, como as grandes montanhas, são
obra dos séculos. Inúmeras vezes a arte se transforma enquanto
eles estão ainda em processo: pendente opera interrupta, e
tranquilamente a obra continua segundo a arte transformada. A
arte nova se apossa do monumento tal como ele se encontra,
incrusta-se nele, assimila-o, desenvolvendo-o à sua maneira
própria e o conclui, se possível for. A coisa se realiza sem
problema, sem esforço, sem reação, segundo uma lei natural e
tranquila. É um enxerto que acontece, a seiva que circula, a
vegetação que se recobra. Evidentemente, há nessa fusão
sucessiva de várias artes, em vários níveis, num mesmo
monumento, matéria para livros inteiros e, muitas vezes, temos
ali a história universal da humanidade. O homem, o artista e o
indivíduo se apagam nessas grandes construções sem nome de
autor; a inteligência humana nelas se resume e se totaliza. O
tempo é o arquiteto, o povo é o pedreiro.
Hugo, Victor. O corcunda de Notre Dame: Edição comentada
(Clássicos Zahar).

A HBO divulgou a tracklist de For The Throne, um álbum com


músicas inspiradas na adaptação de As Crônicas de Gelo e Fogo,
de George R.R. Martin. A faixa Power Is Power, de SZA, The
Weeknd & Travis Scott, já está disponível no Spotfy.
For The Throne será lançado em 26 de abril. É a primeira
vez que a HBO faz uma parceria com uma grande gravadora para
fazer a trilha sonora de uma série com músicas inéditas.
Por falar em Game of Thrones... um tributo fotográfico à série
pelas lentes do alemão Kilian Schönberger. As fotos foram
tiradas ao longo da fronteira entre a Alemanha e a República
Tcheca, nas paisagens rochosas do cânion da Suíça Saxônica e
dentro de uma caverna de gelo perto do Lago Königssee, na
Alemanha.
EDIÇÃO DE SÁBADO: QUEM
INVENTOU O POPULISMO
DIGITAL

Gianroberto Casaleggio não é lá um nome particularmente


conhecido. Mas foi ele quem inventou as técnicas políticas que
levaram o Reino Unido a deixar a União Europeia, alçaram
Donald Trump à Casa Branca e puseram Jair Bolsonaro no Palácio
do Planalto. É uma história importante de compreender pois não
se trata de um método complexo. Quando colocamos fake
news no centro do debate, porém, cria-se a ilusão de que a
tática de desmonte digital da democracia pode ser enfrentada
com a correção da informação falsa. Dá a impressão de que a
eleição dos populistas digitais nasce de um processo baseado na
falsificação, em mentiras. Mentiras fazem parte da palheta de
ferramentas, mas não estão no centro. O centro da estratégia é
duplo: um ataque simultâneo a políticos e à imprensa. E isto é
feito pela manipulação de diálogos em comunidades digitais para
formar — artificialmente — consensos.
Essa história começa no final dos anos 1990. Recém-chegado aos
40, milanês, cabelos compridos e emaranhados, Gianroberto
Casaleggio alcançara o ápice de sua carreira: era CEO da
Webegg, uma joint venture das italianas Olivetti e Finsiel. A
internet comercial era jovem e Casaleggio, que havia começado
como programador no momento em que a fábrica de máquinas
de escrever migrava para o digital mais de uma década antes,
era fascinado pela cultura do Vale do Silício. Buscava uma utopia
digital. Webegg era uma consultoria que pretendia ajudar seus
clientes no processo de digitalização. Naqueles tempos iniciais,
a Webegg dedicava-se principalmente a criar intranets. Redes
internas para grandes companhias. E foi a maneira como estas
intranets funcionavam que chamaram a atenção do CEO.
Na maioria das vezes, as redes eram em essência um repositório
de informações. Dados de seguro de saúde, comunicados
internos das empresas, ferramentas para que os empregados
pudessem se orientar na vida corporativa. Em alguns casos,
porém, estas redes também serviam a conversas. Os fóruns
online eram adotados pelas pessoas e movimentavam diálogos
por vezes emocionalmente carregados. E foi neles que
Casaleggio iniciou seu grande experimento social. Queria saber
se conseguiria construir consensos.
Desenvolveu um método simples. Um funcionário da Webegg
publicava um post, lançava um tema em debate. Outros
contribuíam para estimular que aquela conversa ganhasse
tração. Funcionava. Atraía gente, cada pessoa com sua opinião.
Quando o número de envolvidos já era grande o suficiente, a
equipe da Casaleggio punha o arremate final, o que batizaram
‗avalanche de consenso‘. Várias novas vozes, todas publicando
mensagens que apontavam para uma mesma conclusão. O
conjunto do fórum acompanhava em acordo. O engenheiro de
software com jeitão de roqueiro hippie da Califórnia havia
descoberto como manipular a formação de consensos no meio
digital. E como é internet, na verdade ele sequer precisava de
muita gente para construir estes consensos. Afinal, um mesmo
indivíduo com várias contas pode parecer muitas pessoas.
Como negócio, a Webegg era um desastre. Vendida para a
Telecom Italia em 2003, terminou quase imediatamente com a
demissão do CEO por má gestão. Um ano depois, acompanhado
de quatro dos executivos mais próximos a ele, Gianroberto
fundou uma empresa de marketing digital. A Casaleggio
Associati.
Entra Beppe Grillo
Mas esta não é uma história que possa ser contada sem Beppe
Grillo. Casaleggio nasceu em 1954. Grillo, um genovês
grandalhão, de cabelos fartos e barba, era seis anos mais velho
— de 1948. No final dos anos 1970, se tornou famoso como um
comediante ácido que misturava técnicas de stand-up com
música, sempre acompanhado dum violão. Já era uma estrela na
RAI, a TV estatal de maior audiência na Itália, quando foi
demitido na virada da década de 80 para 90. Seu humor tinha
cada vez mais, por alvo, os políticos no comando da Itália.
Estava ficando incisivo, monotemático. Num determinado
momento, a emissora não resistiu à pressão vinda de Roma.
Para Grillo, de certa forma, foi uma libertação. Tendo de ganhar
sustento sem o salário da TV, jogou-se no circuito das
apresentações ao vivo. Passou a intercalar comédia e música,
sempre mantendo a acidez que era sua marca, com indignação
voltada para a política, para o jornalismo e para o mundo dos
negócios. Ávido leitor até dos resultados financeiros de
companhias, entremeava suas piadas com críticas para todo
lado. E, pelas piadas, tornou-se um denunciador contumaz.
Denunciava quem estava no comando do país, esquemas de burla
de impostos, executivos de toda sorte de companhias —
Parmalat, Fiat, Fininvest. Denunciava o que considerava mau
jornalismo. Fora da televisão, Grillo se tornou ainda mais
conhecido. E admirado. Atraía contra si processos, o que só
reforçava a imagem de dom Quixote.
A Itália do início do século não era muito diferente do Brasil. O
Estado havia sido tomado por um corporativismo profundo no
qual todo cargo com algum comando, mesmo os mais baixos,
tornava-se moeda de troca em negociações políticas. A
corrupção era imensa e uma série de escândalos sucessivos, com
a Operação Mãos Limpas no centro, havia levado dezenas de
parlamentares à prisão. O sistema caíra em descrédito. E, desde
sempre, estava lá Beppe Grillo o denunciando.
Os dois, Grillo e Casaleggio, se conheceram no ano de 2004.
Blogs estavam explodindo na internet mundial e o executivo
tornado marqueteiro digital queria botar o comediante
online. Beppegrillo.it, seu blog, tornou-se rapidamente um dos
sites mais visitados do mundo.
Cinco Estrelas
Tendo ao seu lado o carisma de Grillo e contando com uma
profunda compreensão de Teoria das Redes, Casaleggio sabia o
que fazer. E fez. Uma rede não é uma estrutura hierárquica. É
formada, isto sim, por nós e conexões. Cada indivíduo é um nó
que se conecta a outros. Um nó pode ter poucas ou muitas
conexões a outros nós. Neste sentido, o blog de Grillo foi
construído para congregar o maior número possível de conexões.
Porque, desta forma, dispararia o chamado Efeito de Rede.
Quanto mais conexões um nó tem, mais novas conexões formará.
É por esta lógica que segue a economia de influenciadores
digitais. Quanto mais gente segue, mais gente seguirá.
Assim, o conteúdo do blog foi construído para fortalecer a
estratégia. Nos discursos em público de Grillo eram inseridas
frases de efeito, pílulas de ideias, que poderiam ser
transformadas em vídeos curtos de fácil viralização. O mesmo
conceito se deu na formação de slogans, pensados para serem
repetidos em série, distribuídos na forma daquilo que hoje
chamamos memes. Tinham de divertir e, ao mesmo tempo,
canalizar a indignação que pairava na sociedade. Casaleggio
identificou também outros influenciadores, embora na época
ainda não fossem chamados por esta palavra. Mas pessoas com
alguma relevância na web italiana que compartilhariam o
conteúdo de Grillo. Para quem vê de fora, a ilusão é de um
movimento popular. Indivíduos que vêm de baixo e falavam
verdades às elites. Era — e continua sendo — tudo construído
para ter este efeito.
Numa tese de mestrado apresentada para o Departamento de
Ciência Política da Universidade da Carolina do Norte em Chapel
Hill, Edward Harrison Leavy batizou este tipo de movimento de
tecnopopulismo (PDF). É uma palavra possível — ainda não há,
na literatura, um termo consensual.
Casaleggio e Grillo tinham o ambiente: um país que se tornara
descrente do sistema que o governava. A partir de 2008, uma
crise econômica violenta que catalisava as frustrações.
Rapidamente, eles centraram em dois alvos. A política e a
imprensa. Por corruptos, os políticos que existiam não serviam
mais aos italianos. Era preciso algo radicalmente novo. Mas
como também era necessário criar uma nova percepção de
realidade — uma nova narrativa que desse conta de explicar uma
visão do problema e sugerir uma solução que viesse de fora, era
fundamental desacreditar a imprensa. Porque era fundamental
desacreditar críticos.
O uso das ferramentas digitais para formar comunidades e se
comunicar era útil. Permitia um discurso no qual o novo
suplantava o velho. A velha democracia liberal em oposição a
uma nova democracia digital, na qual o povo manda. A velha
mídia perante a nova mídia, que realmente representa a voz do
povo.
Populismo, por definição, são movimentos políticos que se
alavancam no discurso de que há uma conspiração das elites
contra o povo. O líder populista é quem se ergue, tal qual
salvador, para enfrentar esta batalha em nome deste povo. Com
o surgimento das redes sociais, no final da primeira década do
século, o trabalho de construir estes nós fortes de uma rede se
tornou mais fácil para a equipe de Casaleggio. Permitiu, por
exemplo, o uso de robôs para facilitar a ‗avalanche de
consensos‘. E porque de fora é difícil perceber que os discursos
são construídos nas mesas de marqueteiros assim como na
política tradicional, a impressão geral é de que há um
movimento popular.
Fake news é uma das ferramentas para compor a narrativa. Mas
é o manipular da formação de consensos o truque real. Grillo se
tornou líder do Movimento Cinco Estrelas. Foi da cultura pop-
californiana de Casaleggio que o personagem Guy Fawkes lido
pelo quadrinista Alan Moore na graphic novel V de
Vingança entrou no léxico político contemporâneo. O ‗V‘ feito
com as mãos em discursos para praças cheias era de vingança
contra o sistema, mas também de vaffanculo. Dispensa
tradução. Em 2013, o M5S teve um quarto dos votos na eleição
nacional. Em 2018 passou dos 30% e se tornou o maior partido
italiano.
Casaleggio morreu de câncer no cérebro em 2016. Estava
rompido com Grillo. Mas seu método de fazer política
encontrou, no mundo, observadores atentos. No Reino Unido,
Nigel Farage, que promoveu o Brexit. Nos EUA, Steve Bannon,
que pensou a eleição de Donald Trump.
No Brasil, teve alguns observadores.
Vídeo: Em um 2008, Casaleggio apresentou sua visão de uma
nova política. E, sem muitos pudores, incluiu o monge radical
Girolamo Savonarola, que incensou a Florença renascentista, e
Benito Mussolini como seus antecessores. Assista.
Relatório: A Comissão Europeia encomendou um relatório de
estudo da eleição italiana de 2018 que detalha as técnicas do
novo populismo. Leia.

A desinformação era uma praga mesmo antes da Covid-19.


Agora é uma questão de vida e morte - e de persuasão política.
Tom Wainwright, editor da The Economist, aborda o assunto
nesse podcast.

É informação pra dar e vender. Verdadeira. Falsa. Para


segmentar interesses. Para eleger candidatos. Para difamar
pessoas. Para evitar acidentes. Mas existem algumas que muitos
preferem não saber. Um estudo apontou que 90% das pessoas
prefere não saber quando, nem como, seus parceiros morrerão.
Sobre a data de sua própria morte, 87% opta pelo desconhecido.
Um experimento de laboratório descobriu que indivíduos
classificados como menos atraentes estavam dispostos a pagar
para não descobrir sua classificação exata. Sobre os eventos
positivos da vida, a maioria também escolheu a ignorância. Mais
de 60% não quer saber o que vai ganhar de Natal. Pode ter a ver
com a possibilidade de decepção, mas o maior problema,
segundo esta pesquisa, é que as pessoas gostam do suspense. É a
tal mágica do talvez.
Pois é… o corpo geral de pesquisa sugere que a ignorância
deliberada, aquela consciente, é uma preferência. Para o bem e
para o mal, informação potencialmente desagradável, mas útil,
também é evitada principalmente no campo da saúde. Mesmo
com tratamentos que aliviam sintomas, possíveis portadores de
doenças crônicas preferem não saber sobre sua condição.
Pesquisadores da Northwestern University desenvolveram
recentemente uma escala para medir esse tipo de aversão. Eles
projetaram cenários em três domínios (saúde pessoal, finanças e
percepção dos outros sobre si). Os seriamente avessos à
informação eram minoria, embora substancial: em média, os
participantes relataram que definitivamente ou provavelmente
não gostariam de receber essas informações 32% do tempo.
Cerca de 45% evitariam descobrir quanto ganhariam escolhendo
um fundo de investimento mais lucrativo no passado. Entre os
que estavam mais abertos, havia pelo menos um domínio no qual
optavam permanecer desinformados. Mais sobre o teste aqui.
Criada há quase 20 anos, a Wikipédia se tornou símbolo do que
é a internet: um ambiente gratuito e compartilhado. É um dos
15 sites mais visitados no mundo, com 50 milhões de verbetes
escritos em 300 idiomas. Mas o perfil do wikipedista médio, ou
seja, aquele que edita os conteúdos, se mantêm formado por
um homem branco, jovem e heterossexual. As mulheres
representam de 15% a 20% dos contribuidores, segundo a
Wikimedia Foundation, responsável pela plataforma. Para o
usuário, isso significa ter acesso a quatro vezes mais conteúdos
sobre homens do que mulheres.
O resultado dessa falta de diversidade é explícito: o perfil de
Frida Kahlo, uma das grandes artistas do século XX, era definida
até 2005 como filha de Guillermo Kahlo e mulher de Diego
Rivera. Eleanor Roosevelt era a mulher de um presidente
americano, antes de escritora, ativista e defensora dos direitos
humanos. Essas mudanças só foram feitas por iniciativas das
próprias mulheres. Foram criadas em todo o mundo as Maratonas
de Edição realizadas por mulheres que se organizam para editar
um período histórico ou cultural, sob a perspectiva de gênero. A
edição em grupo é fundamental para atraí-las. Uma porque
muitas nem sabem que podem editar. E outra pelo trabalho de
encontrar as personagens femininas apagadas ao longo da
história ou contadas sobre o viés masculino.
A falta de mulheres na Wikipédia é reflexo de um problema
histórico. A Enciclopédia Britânica, referência do enciclopedismo
moderno, contava com mais de 100 editores e cerca de quatro
mil colaboradores. Mas era feita por e para homens. Isso
contribuiu para que as mulheres continuassem não sendo
reconhecidas em importantes acontecimentos históricos. Até
hoje, por exemplo, pouco se fala do movimento
protagonizado por mulheres que foi o estopim da Revolução
Russa de 1917. Ou mesmo a Declaração dos Direitos da Mulher e
da Cidadã escrita por Olympe de Gouges durante a Revolução
francesa.
Então… Um documentário sobre como as mulheres se tornaram
―invisíveis‖ ao longo da história. Assista.
E um livro (Amazon) sobre mais de 200 mulheres que foram
―apagadas‖ da história do Brasil.

O TikTok é hoje a nova moda no mundo das redes sociais. Com


vídeos curtos e virais, atraem gente com todo tipo de interesse
para a plataforma chinesa. Um dos grandes motivadores para
isso é a facilidade para produzir e editar vídeos de boa
qualidade. Mesmo crianças consegue usar o app, mas não é só. O
algoritmo de recomendação funciona de forma extremamente
eficiente, mesmo que você seja novo por lá, indicando vídeos
que mantém qualquer um grudado na tela.
Até recentemente, ninguém sabia bem como esse algoritmo
funcionava, levando muita gente a espalhar diversas ideias
e teorias das mais loucas sobre ele. Uma das coisas que chama a
atenção é que o app indica vídeos com muitos likes, mas outros
vídeos com poucos likes. Isso sempre intrigou os fãs. Essa
semana a empresa divulgou em seu blog um post que explica
como funciona o misterioso algoritmo.
Quando um vídeo novo é postado, ele imediatamente é exibido
para um grupo inicial de usuários. A partir daí, o algoritmo
acompanha uma série de sinais de como os usuários interagem
com o vídeo e, a partir daí, apresenta o conteúdo para outros
usuários com interesses similares. Um dos principais sinais que o
algoritmo analisa é se os usuários assistiram o vídeo até o final.
Likes e compartilhamento de vídeos são também considerados.
Já detalhes como a origem do país país de quem assiste são
considerados sinais fracos. Fazem efeito, mas menos que os
outros. A quantidade de seguidores de uma conta não é levada
em consideração, mas se você segue uma conta, isso é um sinal
para o algoritmo.
Quando um novo usuário entra na plataforma, ele dá, logo de
cara, com uma série de categorias de interesse que servem para
montar a primeira leva de vídeos que vai ser apresentada. Caso
o usuário não escolha nenhum interesse, o algoritmo escolhe
uma seleção diversa de vídeos populares, para a partir deles
acompanhar as interações e aprender sobre as preferências
daquele usuário. Por isso, a melhor forma de otimizar a
curadoria do que está aparecendo, é usar a plataforma: quanto
mais vídeos você assiste, compartilha, ou mesmo marca como
'não interessa', mais o algoritmo aprende.
Um dos desafios buscados é o da diversidade. Já é sabido que
algoritmos de recomendação tendem a produzir bolhas, em que
só o mesmo tipo de conteúdo é apresentado, de forma cada vez
mais radical. Para evitar isso, de tempos em tempos, o
algoritmo do TikTok apresenta de forma intencional um vídeo
que não seria recomendado para aquele usuário. É uma forma de
apresentar novas categorias de conteúdo e novos criadores. Ao
que parece, está funcionando bem.

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