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by herdeira e sucessora de Juarez Bahia, Copyright © ees Irene Bifone Bahia, 2009 Direitos desta edigio reservados &: MAUAD Editora Ltda. Rua Joaquim Silva, 98, 5° andar — Lapa Rio de Janeiro - RJ — CEP 20,241-110 Tel.: (21) 3479-7422 — Fax: (21) 3479-7400 www.mauad,com. br mauad@mauad.com.br Projeto Grdfico: Niicleo de Arte / Mauad Editora Capa: Paula Cavalcanti Cip-BraSIL. CATALOGACAO-NA-FONTE, ‘Sinpicato NACIONAL Dos Eprrores DE Livros, RJ. B135h 5.ed. Bahia, Benedito Juarez, 1930-1998 Histéria, jornal e técnica : historia da imprensa brasileira, volume 1 / Benedito Juarez Bahia. - 5.ed. - Rio de Janeiro : Mauad X, 2009. 2v. Contetido: v.1. Histéria da imprensa brasileira - v.2. As técnicas do jornalismo Inclui bibliografia ISBN 978-85-7478-304-8 1. Jornais brasileiros. 2. Imprensa - Brasil. 1. Titulo. 09-4182, CDD: 070 CDU: 07 Scanned with CamScanner FASE DE CONSOLIDACAO DA TIPOGRAFIA ARTESANAL A INDUSTRIAL A IMPRENSA DA ABOLIGAO E DA REPUBLICA A CARICATURA INTRODUZ A REPORTAGEM GRAFICA Ereiros DA I Guerra MuNDIAL O espfriTo DO CipaDE Do Rio O JORNALISMO ESPORTIVO E O PLACAR DE INFORMAGOES EM BUSCA DE UM PADRAO ETICO Os PRIMEIROS ANUNCIOS EM CORES REAPARELHAMENTO TECNICO DOS JORNAIS UMA REVISTA PARA VIRAR A PAGINA Da tipografia artesanal a industrial A segunda fase da imprensa brasileira comega em 1880, 72 anos passados da instalacao do pesado material de impressao da Gazeta do Rio de Janeiro. E um tempo de aventura industrial - mais investi- mentos, renovacao do parque grafico, maior consumo de papel - que abre ao jornal a dimensao de empresa. Depois de 1880, notadamente em fins do século XIX e come¢o do século XX, a imprensa esté preparada para o estégio empresarial como Ocorre em paises mais avangados. Nesse espa¢o, os novos jornais trazem, com seus titulos que se tornarao importantes, experiéncias € objetivos préprios das organizagées industriais. Historia pa Imprensa Brasiteira — IIL Scanned with CamScanner -_ ipografia verde o seu cardter ‘artesanal para situar-se Desde og ucexigeaparelhamentotécico emanipul numa on a Editores de jomnais percebem que, associando o titulo ioc pent grafico resulta daf uma empresa joralistca ° talent micamente rentével. jndustrialmente vidvel e econo! nev folhas efémeras de discutivel qualidade ow Pequenos jornais, | fieauan timitada penetracao desaparecem com mais irequéncia que na fase anterior. Oleitor é mais exigente com a edigao. O mercado dispoe de produtos cujo contedido e cuja aparéncia respondem anovas necessi- Eades. Hé mais rigor, sofisticacdo concorrendo pelo prestigio. Itens de escala técnica incorporam-se a uma tipografia que antes dependia exclusivamente da habilidade manual. Inovagdes mecénicas, aadivisdo do trabalho, a especializacdo, a racionalizacao de custos, a conquista de mercados, pouco a pouco, transformam a velha tipogra- fia, aposentam superados prelos, ampliam a indiistria gréfica. Na realidade, o jornalismo ainda luta contra o atraso tecnolégico que decorre da sua propria existéncia no pais. Editorialmente, em termos de contetido e producao, 0 jornal e a tipografia confrontam- se no Brasil com perdas técnicas que remontam a trés séculos e que s6 ndo sio irrepardveis porque se trata de um campo em constante evolugéo. Em 1533, 88 anos desde Gutenberg, a tipografia entra no México, Vice-reinado da Nova Espanha. $6 no curso de trés séculos alcanca todo o hemisfério. Do México as col6nias inglesas, 150 anos; € ao dominio de Portugal, 275 anos. _O primeiro incunébulo americano - Escala espiritual, de S. Joao Climaco - é obra do “emprimidor” Estevo Martin, espanhol que se twansfere de Madri para a Cidade do México, autorizado pot Carlos V, com uma oficina que ainda edita em 1537 a Doctrina, de frei Toribio Motolinia. : Gea do tipdgrafo espanhol é disputada por Joao Paoli, Brifico italiano ao servigo do mestre impressor alemdo residente em Sevilha, Joo Crombe it " i no dont eae Gtombes qe detinha 0 monopélio da imprensa Paoli edit . aa tage Hts em 1538, a Breve y mds compendiosa doctrina chrstana Y castellana que contiene las cosas mas necessarias de W12 — se oe conoumacho nuestra sancta fé catholica para aprovechamiento de estos indios naturales yy salvacién de sus dnimas. Para alguns historiadores, esse é 0 livro pioneiro da América. Em 1584, o Peru tem a sua tipografia, transferida do México pelo piemontés Antonio Ricciardi. Sob patrocinio da Real Audiéncia de Lima, ento o centro cultural mais importante da América do Sul, Ric- ciardi imprime a Pragmatica, obra sobre a mudanga do calendério. ‘Até 0 final do século XVIII, conforme anota Carlos Rizzini em O Jjornalismo antes da tipografia, a letra de forma estende-se & América Espanhola nesta cronologia: Puebla de Los Angeles, 1640; Guatemala, 1660; Paraguai, 1700; Oayaca, 1720; Havana, 1724; Ambato, 1754; Colémbia, 1738; Equador, 1760; Nova Valéncia, 1764; Cordoba, 1765; Cartagena dos indios e Nova Orleans, 1769; Chile, 1776; Argentina, 1780; S40 Domingos, 1782; Porto Espanha, 1786; Santiago de Cuba, 1791; Guadalajara, 1792; Vera Cruz, 1794. O Uruguai sé teve acesso ao prelo em 1807. Com base em José Torre Revello (El libro, la imprenta y el periodismo en América e Origines de la imprenta en Espafia y su desarrollo en América Espafola), Rizzini lembra que data de aproximadamente 1700 0 uso da tipografia nas dreas indigenas da margem esquerda do rio Parand, em territério brasileiro, entao ocupado por jesuitas espanhéis. As tentativas de instalacao da tipografia no Brasil, desde 1700 nas redugdes do Parand até as mais conhecidas, em 1706, no Recife, eem 1746, no Rio de Janeiro, nao prosperam. $6 com a Impressio Régia é que se pode falar em difusdo da letra de forma no pais. Da tipografia pernambucana, a meméria que resta é a de uma carta régia de 8 de junho daquele ano que ordena “sequestrar as letras impressas”, dando-se conhecimento ao proprietario e aos tipégrafos de que nao imprimam “livros ou papéis avulsos”. A tipografia de 1746 é de Anténio Isidoro da Fonseca, antigo impressor lisboeta. Sua inten¢do era a de explorar comercialmente a oficina e nao propriamente a de editar livros ou jornais. Sem demora, Lisboa expede a ordem régia de 10 de maio de 1747 que determina o sequestro e a remessa 20 Reino de todo o material tipografico, pois Hisrowta pa Tnpnessa Brasiteiza — 113s Scanned with CamScanner sl) se imprimam papéis no tempo as oe impressores trabalharem _ Reino, do qual nor te ao mares que TO ref aoe 8 GsPes yo mesmo tempo em que dele posemicimprssos 8 Tigo edo Conselho Ultramarino, sem Er cen ete oro imprime quatro trabalhos (excluido 0 Exame ipoym, obra de 444 paginas ¢ 22 gravuras, que ie nao no Rio): Relago da entrada e Em aplauso, io do Desterto; 11 epigtamas em latim e um so- «e Conclusses metafisicas, em latim, do estudante ofcina de isi rs inet, de Al tera said em Madi do bispo frei Ant6ni neto em portugues; Francisco Frage. [Na América Ingles, tipografia entra em 1638, por Massachu- setts, estendendo-se a todo o territ6rio norte-americano juntamente com o lvro eo jornal. ‘Uma imprensa mais sélida, nos anos da Aboligao e da Repiblica, esté geralmente associada a uma tipografia mais bem reaparelhada, renovada em relacdo aos anos pioneiros, gracas 4 importacio de tipos eprelos. As empresas tém menos de comum a improvisa¢ao, buscam fixar posigdes de mercado duradouras, mediante a organizacao. Esse processo de desenvolvimento do jomalismo, em cuja base se achaa tipografia,corresponde ao préprio desenvolvimento da economia. "Naprimeira metade do sécullo XIX, o passivo colonial, a crise financeira, © analfabetismo e a instabilidade politica bloqueiam toda a producio cultural brasileira e, de modo particular, toda a imprensa*, Jina segunda metade do século XIX, e de maneira mais efetiva hos anos que antecedem o século XX, os jomais e a tipografia, 2s- sim como o livro e outras manifestagbes do pensamento e das artes, beneficiam-se da eliminagao do trabalho escravo, do crescimento econémico que impSe melhores niveis de renda, do trabalho assala- Fiado e da descentralizagio republicana. desenvolvimento do jornalismo no perfodo que abrange o fim da primeira e 0 comeco da segunda fase absorve as profundas mu- cette ceca apsamante, massa to &conpatel a eirona Ale Pequena. Em 1857, apenas 10% das ciangas em idage escolar tm acess0 a= im Go Inpéroe comero da Repibica, essa taxa sobe para 14% fla. Not T14 — Fuse ve cossounscio eT dangas econ6micas que vive o pais na passagem do Império para a Repiiblica. A economia assinala, entdo, duas transigdes: uma, pata o trabalho assalariado, e outra, para um sistema industrial, Compreendem os editores de jornais e empresirios grificos que © ambito restrito de um jomalismo mais literdrio e mais politico jé nfo atende as exigéncias da sociedade, de um pais em transformacio, vido por incorporar 0s avangos das comunicagdes. Uns e outros partem na direcio da melhor qualidade de seus produtos, Uma consciéncia dominante entdo é de que a imprensa deve situar-se num plano de interesse piiblico, de identificacio com os sentimentos de valorizacao da ordem juridica, de aperfeigoamento das instituigdes e de conquistas sociais voltadas para o individuo, Predominam os ideais positivistas, 0 publicismo assume caréter pedagégico. No final do século XIX, editorialistas dos jornais de maior pres- tigio satidam na imprensa “o estaldo do progresso” e no jornalismo ‘o evangelho da democracia”, em contraposigdo ao livro, que deverd conservar “as tradicdes da nobreza”. A legenda preferida é “tudo pelo povo”, em lugar de epigrafes latinas ou camonianas®, Entre 1890 € 1910, esses veiculos aposentam “processos gros- seiros ¢ rudimentares” de composicdo e impressio e celebram equipamentos que permitem “a rapidez maravilhosa e a perfeicio ‘com que se imprimem os jornais modemnos, reduzindo-se o trabalho material ao minimo esforco, pois que as folhas até jé saem dobradas do prelo’ Esses vinte anos entre um século e outro marcam a ampliagdo do parque grafico, sobretudo no Rio e em Sio Paulo. A tipografia do jormal mantém uma seco de obras para encomendas de tercei- ros. As dependéncias da redacdo e da oficina abrangem setores de Sravura, desenho, zincografia, galvanoplastia. As caixas de tipo sio as francesas, Maquinas rotativas Marinoni dominam o sistema de impressao, ue conjuga o molde e o chumbo quente da estereotipia. Imprimem, Sortam e dobram os exemplares que saem aos milheiros. A distrib ——_ Como se faz 0 Jamst do Brasil, 1898, eco do Joma do Basi ‘Histonta pa Inpnensa Brasitema — TNS. Scanned with CamScanner SC josie sui da avulsa, | , reunindoassinantes e venda avulsa,letores compen err. Para isso hé uma expedicao, tormecionais ; locais, a sionalizagio aparece nao s6 como um fendmeng da A pro eonémica do pais. Na imprensa, ela é uma consequincig tans anova fungbes do joral, da ipograia, do lio, de tog nawcadorascalturais que se vio definindo nas pratcleras sh consumo de massa. Ojoral se divide, se setoriza, quer ser paladin das queixas populares. (Ojomalea tipegrafa como indistias,cada qual como do, precede a Repéblica, mas 6a partir da nova ordem instar) gue se afimam, se consoidam. Quato so a etapasfundamenen no desenvolvimento da tipografa: a méquina de papel, de es Rober (1798); @ prensa mecinica, de Frederico Koning (1813 pro, de Marinoni (1850), ea linotipo, de Mergent (1885)*. De 1808 a 1821 € a Impressdo Régia a nossa tinica grande tipo- srafia. Sua primeira obra € a Relapdo de despackos, um folheto de 2 paginas. Nos Anais da Imprensa Nacional, Vale Cabral indica que dos prelos oficiais safram, até 0 final de 1822, 1 154 trabalhos (opisculos, editais, papéis de expediente, sermdes, etc.), além de publicacées cientificas e literdrias, Algumas pequenas tipografias provinciais funcionam nesses 13 anos: em 1811, a de Manuel Anténio da Silva Serva, na Bahia; em 1817, a de Ricardo Rodrigues Catanho, no Recife; em 1821, ado Maranhio, levada pelo governador Bernardo da Silveira; no mesmo ano, a de Daniel Garcao de Melo, em Belém do Pard; ¢ as duas de Vila Rica, em Minas, a Patricia e a Provincial. Trés edigdes da Idade d’Ouro do Brasil sairam da oficina de Silva Serva. Uma segunda tipografia, desembarcada na Bahia em setem- brode 181le que teria sido despachada de Londres por Hipélito da Costa, foi proibida e apreendida. Igual destino teve a tipografiapet~ nambucana de 1817, conhecida por “oficina tipogrifica da — de Pernambuco”, editora do “Preciso”, manifesto antiabsolutista do tevolucionério José Luis de Mendonca. fo tomou-se Seu merca. enna? ‘Tem Apalavaescrt, Wilson Martins assinala, com propiadae, 0 proceso ee a tpograe artesana em nds giao os seus refexos no deser LG — Fase ve corsoumacio ee re a>" iii ..}2@&© ‘Até 1821 tipégrafos e impressores portugueses exelusivamente movimentam nossos estabelecimentos tipogréficos. De on diant,arifices braslerossejuntam aos mestres estrangeiros (@}ém de portuguese, alemies,francess,italianos). Duas novas tipogr fias instalam-se no Rio de Janeiro em 1821: a Nova Tipografia e a Tipografia de Moreira e Garcez. Em 1822, outras quatro, entre elas a de Silva Porto & Cia. Manuel Joaquim da Silva Porto é um livreiro, poeta, ex-adminis- trador da Impresséo Régia. Outro que procede da Impressao Régia € Zeferino Vito de Meireles, proprietério da tipografia do Didrio do Rio de Janeiro. Essas oficinas editam panfletos, avulsos politicos e jornais. Depois da Independéncia, a limitada geografia tipogréfica brasilei- a (a lmpressio Régia, as oficinas da Bahia, do Recife, do Maranhao e do Pard, as duas de Vila Rica e as seis do Rio de Janeiro, sé liberadas mediante o alvard do principe-regente, de 28 de agosto de 1821, que econhece a liberdade de imprensa) ganha terreno e se expande. Outras provincias ingressam na i ‘motivo prosperam nelas os Paraiba (1826), Rio Grand (1831), Santa Catarina (1832), Piaui (1835), Mato Grosso (1839), Amazonas (1851), Parand (1852). dade da tipografia, e por este jormais. Ceard (1824), Sdo Paulo (1824), le do Sul (1827), Goids (1830), Alagoas (1831), Sergipe (1832), Rio Grande do Norte Espirito Santo (1840), Scanned with CamScanner vidio, apesar de ter sido 0 traficg mia agra apoio produgio do agiicar, no Nordeste, ¢ extinto em pasicamente do trabalho escravo, sul, depen “panida em toda a América, mas no Bras ‘A coron espaniola 1 Oi areja Catélica permanece sob a tute- a coroa portuguesa IST" iedade dos cemitérios, o controle do lado Impéro, Poss Fo. O casamento civil nfo € permitide ensino primar * eito de culto, 08 N40-catdlicos sao obrigados 4 «era local de seu temp. someon corso das ideias movimenta-Se entre as imitasBes da Olimiace Glaera, Na Independéncia, as instituigSes inglesas Franca eds ingetdores. Em 1824, 0 parlamentarismo'¢ oon seduztm nent. No lmpéro, até 1865, a Franga inspira inovagbea serrifeaseraligiosas no s6 aos servidores do reino, mas a eve, pela Escola do Reif, ao aderr a flosoia materialistaalema e pele Spostolao Positsts, em 1881. econot oficialmente a do café, 0 i republicana, na qual se destaca A Reforma, érgio do Pardo Libera em cans pignas aparece © manifesto de 1869 ‘a reforma ou revolugio” ia dividida entre o papel moderador, conc liador, de D. Pedro Ie a pressio da sociedade, catalisada por liberals ¢ republicanos, que pregam o abolicionismo ¢ o federalismo. Mais tarde, na Constituigao de 1891, alguns deles introduziriam na Repi- blica 0 modelo federativo norte-americano. Jornais conservadores, no Rio e em Sao Paulo, ainda sugerem em 1869 o modelo da Camara dos Comuns, com um governo chefiado por pi caminho institucional para salvar o Império. ; Para.os conservadores é um progresso, pois seu ideal anterior 0 absolutismo. Os liberais simpatizam com a formula. Em 1860, eles Bratcament pensam como ox conservdores,revezam-e adel dos interesses das oligarquias rurais de Pemambuco, Bahia, Gerais, Sao Paulo e Rio de Janeiro. ~ Essa receita politica convém aos partidos, embora nem sempre®® imperador © processo de enfraquecimento de D. Pel eat gam a5 tenses da Guerra do Praguai (1865-1870). A seit hierdrquica, aparentemente estdvel, nao resiste as contradi¢ uma conciliagao que nao quer abrir mao da escravatura. TIS — Fase or corsouacio ae Como nao hi diferencas ideolégicas substanciais, Futuros conserva dores assumem posicées radicais - sio os republicanos abolicionistas ou revolucionatios de inspiracio francesa; liberais ¢ radicaisdividem-se entre o Império ¢ uma Repiiblica autoritaria. Querem o Exército na caga aos escravos fugidos, defendem o sistema familiar patriarcal, Na imprensa vé-se que liberais, inimigos do absolutismo, estdo solidérios com a rigida centralizagao do Império. E que proprictétios rurais ou emergentes industriais fliam-se a auconomia das regides, reclamam iniciativas de liberdade econémica, reform: nas forcas armadas, na administracao e na Igreja. 1as na educagio, © excesso de poder centralizador ¢ estimulo invisivel para a fe- deracio preconizada pelos democratas. O ideal de descentralizagéo dos negécios piiblicos tevitaliza o movimento autonomista, opde oligarquias provinciais ¢ mina a autoridade imperial, Publicistas notiveis desse periodo mostram como a imagem liberal de D. Pedro assume um foco retrégrado, Atéo final da Guerra do Paraguai, em 1870, as elites brasileiras — aristocratas rurais, comerciantes urbanos, intelectuais de pensamento curopets, poetas ¢ escritores da poesia indianista e do romantisme literario, politicos, ornalistas iberais, abolicionistas e republicans, mestres de artes ¢ oficios, religiosos - repensam a nacio.e articular instituicdes livres que resultardo no 15 de novembro de 1889", 0 Partido Liberal Radical (1868), o Partido Republicano (1870), o fim da guerra, as agitages culturaise 0 poder de fogo da imprensa te oposigéo provocam a rotura da politica moderadors de monarquia ¢ leva a0 colapso toda a ordem hierrquica herdada do perfodo Shlonial. Jornais cariocas e paulistas desses iiltimos anos de século XIX ¢ inicio do século XX sao os portadores da mudanga. Até 1908 circulam no Rio t0s0s, polé 0 Pandego, “cravidio, liderada por Joaquim Nabuco, O Abolicionista é ano. Nio deixa, porém, 1usa dos escravos, Preto no Branca Y, ae 53g aConacade no pensamento bras, de Thomas E.Skdmere Stealer guerato to daerde Peso ere ante ‘Histonta Da Inprensa Baasieiea — 11 Scanned with CamScanner — la comprometida , com excegdo daquela com Toda 3 imPien atuagao decisiva nos movimentos abolicionistg eee coWwe! ¢ amplia a atividade de propagandistas que pee! ceerem o pats em campana. Depois da abolicdo da escravatury: os Estados Unidos, em 1865, Brasil, Porto Rico e Cuba s80 05 nies que ainda a sustentam nas Américas. Pari, Cert, Ro Grande do Norte, Sergipe, Maranhio, Pays Paraiba inauguram jomais aboticionistas de curta duragdo, que esgotam na Repablica. Mas é em Pernambuco, Bahia, Minas, nee Grande do Sul e particularmente no Rio e Sio Paulo que ¢ jor. nalismo mais influi, com Bocaiuva, Rui, Patrocinio, Silva Jando Antonio Bento, Jélio Mesquita, André Reboucas, Nabuco, Joio Clapp e tantos outros. © Diario de Pernambuco (Recife), o Didrio da Bahia © o Didvio de Noticias (Salvador), A Plateia (So Paulo) e dezenas de pequencs Jornais do interior abragam o abolicionismo. O centro da agitags € 0 Rio, onde estio no s6 0 imperador e a Assembleia, com oe Principais partidos, mas igualmente os maiores Srgaos do jorne, lismo politico brasileiro: a Gazeta da Tarde (1880-1901), de José Ferreira de Menezes e na qual colabora, por algum tempo, José do Patrocinio; O Pats (1884-1930), jornal precursor republicano (edita 0 Almanaque d’o Pais) que, fundado pelo conde S. Salvador de Matozinhos e um dos primeiros a promover campanhas, tem | Quintino Bocaiuva como redator principal. E mais: 0 Didrio de Noticias (1885-1895) - resultado de fusio da Fobia Nova com 0 Brasil - que nao tem relacdo com 0 jornal do mesmo nome que circula no Rio de Janeiro em 18814 e que, editado por Carneiro, Senna & Cia., passa em 1889 & direcao de Rui Barbosa para se Por aos Ministérios Jogo Alfredo e Ouro Preto; e Cidade do Rio (1887-1902), de José do Patrocinio. = ° 1 Os ls de jomae revistas se repetem com fequénla som que haa qual veuiene ‘Si No Rio, 0 primeito Didrio de Noticias € de 186 vive quatro meses. O segundo ' oxxomnas {32 umbataaralcucoia pers otros inate 1 Nossa Oe Ipotarasees ce RuBarcea queda cee anon sO cejamace aba eT@eTa® e188 Nord ann ojala Goan, au eo 02 e002 294 cutvo de os ries do algo rel 1, eam S88 er init vez na sean eb para ssnares atts até 188,001, ca 6) Ct. Alvaro Cotrim e Nonnato Masson, ‘em Cademos de jomalismo e comunicagso. ja" 120 — Fase ve corsouacto er t—s rias esses jornais concentram suas bate! Provincia de S. Paulo. Nesse oa popaanda epublica #¢9:1014), de Rut Barbosa, c,em 1891, periodo, surgem A eprred ( Rodolfo Epifanio de Sousa Dantas, com Jornal do Brasil, func Ba ro Barros Pimentel ¢ José Verissimo. O pré- Joaquim Nabuce, 5 via a sero seu redator-chefe e proprietério. FE val ngso com a primeira ConstleisSo republicans. sO jaxnal ini éde9 de abril, a Carta Magna que se manteve sen igor até 1930 & de fevereiro de 1891. ; isto dese oral” —escreve, pouco depots da funda, Jo Nabuco ~ "6a de educar os nossos amos para a grande fung neutra e nacional que Ihes demos a 15 de novembro.’ Em carta a Nabuco, que se acha em Londres, datada de 18 de dezembro de 1890, o conselheiro Rodolfo Dantas comunica que se associara “a um grupo muito limitado”, no qual se incluem Eduardo Prado e o bardo do Rio Branco, constituido “com o capital de 500 con- t0s, podendo elevar-se a um mil, para fundar um grande jomnal”. Dantas e Nabuco jé haviam planejado a criagio de um didrio. Nessa cart, Dantas recorda a intenco e convida-o a unir-se aele, ja oma atribuigdo de “diregdo da nova imprensa”. Roga-Ihe que seja “o nosso correspondente” na Inglaterra enquanto permanecer fora do pais, “enviando-nos dat (afora tudo que Ihe parecer), cartas ne Bénero das que outrora dirigia para o Jornal do Commercio. Por esce encargo peco-lhe que, para comecar, aceite mensalmente £35", ete? 08 Jornais brasileiros dessa época procurem seguir 0 rreatae oT Times, de Londres, ou do Temps, de Patis, o eadaay al de competicio € 0 Jornal do Commercio, Concorrentes como A Prvitia de. Paul, O Pais e 0 Jornal do Brasil disputann fares politicas © econdmicas ao Jornal do Commerc, O jomal ainda nao tem nome. Dantas recruta j de Commerco. Deles, os mais conhecidos stole < Gusmio Lobo. Em outa carta a Nabuco, define como serd o novo ‘Bio: Estabelecida a Abolicao, nea no pats, fora de qualquer espitito de seita ne HISTORIA DA LvPRENSA Brasitsina — 121 essed with CamScanner ci jinagdo perfeita ao nosso ponto d “ic .déncia e subordi inacdo perfeit: pontode ise ado que isso ndo convria 2 interesse pablicg ng vs reir ea menos nfo me presttia Cu, ita. se inclui entre os fundadores. Dispoe-se a “escre. de 1891, Dantas informa a Nabuco o titulo: Jornal do Brazil. Neseg época, Brasil com z. Em 1893, Rui alteraré a grafia, substituings ¢ zpelos. Dantas esclarece que o formato serd igual ao do Temps, mas com cito colunas em vez de seis. Cada coluna tem seis centimetros, cada rargem, um centimetro e meio, Dé detalhes de localizacio, recursos editoraise pessoal. Os correspondentes no exterior s80 Paul Leroy Beaulieu, em Paris; Edmundo de Amicis, em Roma; Nabuco e bari do Rosério, em Londres; Oliveira Martins, Te6filo Braga e Fialho de Almeida, em Portugal. No final do século XIX, jornais brasileiros investem no servigo exclusivo de correspondentes, como é comum na Europa enos EUA, nao s6 por prestigio, mas para compensar o “insuficiente servico" de agéncias, como a Havas. Os do JB operam via Western and Brazilian Telegraph Company. © novo jornal é produto de uma empresa grafica e editorial que possui organizacéo administrativa, comercial e industrial to bem definida como o seu préprio programa. Eduardo Prado, o fazendeiro, exportador de café e intelectual paulista, 6 quem recomendaa Dantas a contratacio de Henrique de Villeneuve. O niimero sai com oito paginas, formato de 120 por 51 centime- tros, matérias compostas em corpo 10 na primeira pagina, titulos em corpo 24 e 36, por coluna, com subtitulos: “Uma tentativa de inovar os métodos tradicionais da nossa imprensa diéria”, segundo a diresio. Mas 0 seu desenho no ¢ 0 original, moderno, com que deveria estrear. © material tipogréfico e a impressora importados 2 Cast Marinoni, em Roma, néo chegam a tempo. O jornal roda na impres sora plana Alauzet-Express, composto a mao e com paginacio emergéncia. A edigdo & de cinco mil exemplares. Sob o cabecalho, corpo 96, estas indicagdes: 122 — Fase ve cossouioacko amr CO—™” i i Feira, 9 de abril renrique de Villeneuve & C., Rio de Janeiro. Quinta-feira, 9 ¢ HeOL, Publicagio disria. Ano 1, RedagZo e Administragdo, Rua oe Soncalves Dias, $6. Namero avulso, 40 RS, Assinatura, Capital {Semestre, 65000. Ano, 128000). Estados (Semestre, 85000. Ano, 168000). Estrangeiro, 40S por Ano. N. 1. No expediente, a direcio pede desculpas pelo atraso do material encomendado & Casa Marinoni. Abre a primeira pégina o artigo de fando sobre os objetivos do Jornal do Brasil: “E agora ou nunca” — diz “o momento de colocar os interesses superiores, permanentes ce essenciais de nossa sociedade acima de estreitezas do espirito de seita e de partido”. O editorial ressalva o fato de o jornal encontrar “fundadas no pafs instituigbes para as quais no contribuimos, mas em cuja consoli- dagdo supomos dever nosso de patriotismo cooperar”. O JB aparece com a Repiblica, é de tendéncia liberal e inclinaco conservadora, mas nao aceita vinculo partidario. Assume a condicio de jornal li- wre e independente que busca, como diria Nabuco, no balan¢o dos primeiros seis meses de circulagdo, ser “uma instituiggo nacional permanente”. Talvez por isso 0 conselheiro Dantas concorda com a sugestdo de Nabuco, transferindo duas vezes ~ de 2 e 5 para 9 de abril a edicao inaugural. “Para homenagear a data do Te Deum em ado de gracas. Pela aclamacio do Imperador Pedro Il.” Nesse dia, em 1891, faz 60 anos da missa na Capela Imperial. wg Amore de Pedro II leva 0 JB a dar uma edigdo especial sobre ‘© grande morto”. E uma forma de manifestar a sua simpatia pela ceguratia. Nabuco assina dois artigos - ‘As ilusdes republicanas © “Outras ilusdes republicanas” - que so andlises doutrindrias consideradas provocatérias, inadmissiveis. Numa delas, reconiza a pstauracdo da monarquia “se vir a possibilidade de um movimento de nontl Unanime e no qual o liberalismo republicano se penitenciar 1 suas traigdes a liberdade”, Bence dvergnca de nabuco com ma ete on ioe seu Paso Leal Pas Aleitura de Nabe rani ‘Histonia Da Inrnensa Brasiteima — 1235 ‘Scanned with CamScanner ae ——e—Ssh E oestopim. Na noite de 16 de dezembro de 1891, a req atacada a bala por invasores que gritam: “Mata, mata Nabucs*°é ofcinas sio depredadas. O ministro da Justica responde a no, que “o governo nao tem meios de garantir a vida dos jornalin’™ trabalham nos jornais monarquistas”. Para salvar ojornal, Dantas, Nabuco e Barros Pimentel ab, seus postos na empresa e na redacdo. José Verissimo es, “9 jacobinismo intolerante algou o colo fantasiando ume tentativa de restauragio mondrquica, fez arruagas, ameagon je (entre outros, o Jornal do Brasil) e até vidas”. E comunica a erin uma sociedade anénima, da qual faz parte, ao lado de Ulises, po ® e Constincio Alves. ses Viana “O programa da folha continua o mesmo” — observa Veriss; “conservador na Repiiblica e sustentando contra o jacobinisn > radicalismo os principios eternos de liberdade, de tolerance". iis > ‘ia e de Dois dias depois do primeiro aniversério, o nome Henri Villeneuve & C. éalterado no cabecalho por uma linha em que sete Sociedade Anénima Jornal do Brasil. Em nota, Villeneuve afrms auc 86 se mantivera na diregao a espera dos novos proprietétios. Agere o diretor e redator-chefe é Ulisses Viana. ies alistas que andonam, Creve que Em maio de 1893, a frente de uma sociedade comanditéria, Rui Barbosa assume a direcdo do Jornal do Brasil. No cabecalho, aparece — melatonh Oeestilo do jornal muda. Os fatos politicos tém lominancia sobre noticias policiais e citadi i Lacie Policiais e citadinas. A linguagem é R 7 oral é propriedade da empresa J. Liicio & Cia, Partiram de Red lolfo Dantas e Joaquim Nabuco estimulos a Rui para que adqui- ages do JB. Dantas é seu velho amigo. Rui confere a Constancio Alves o cargo de redator principal. est quer um jornalismo livre, independente e “dentro da lei”. Um 10 a0 que classifica de “ilegalidade” do poder discricionario de ithase ai Yelaa branaee os e808; de out, endossa-se 0 pensammento da elite Uber fort tarde, desoguere ne ne (322. 24m Bras gradualmente "mals branco”. Contradigao que, mas dllemas. asta ‘Flee ‘racial, nas racas “superiores” e “inferiores”, com concessées 08 ‘determi 'e Henry Thomas Buckle, Arthur de Gobineau e Louis Couty. 124 — Fase ve cossounacio i do almirante i imeira pagina a defesa e publica na prime ios do manifesto dos 19 $° 3 Revolta da Armada. altado e ocupado Peixoto. “4 \denkolk, w! § S18 it acusa ojB de incitar 2 - js ass «de outubro, 0 jornal é ade 1°. de on nglaterra. De Londres, escreve pata exila na Ing torrespondéncia é em favor do rr reaparece um ano e 45 dias Floriano Eduardo Wa nerais. Floriano Na madrugad iilitarmente- Rui se 7 BS ornal do Commercio, © @ Prim upitéo Dreyfus. O Jornal do Bras ; telamento. . ou nin “re 30, o Jornal do Brasil, entio legalista, € alvo de Na revo! . . ana. Em 1937, sofre cen- a xa de circular por uma seman2 i aan % Estado Novo. Em 1964, igualmente, apesar de sua Por fo movimento contra Jodo Goulart, E enfrenta, a seguis 38 ter apoi : ‘ joan Timitngdes a liberdade de imprensa editadas pelo regime militar e que aevnann no longo periodo de arbitrio sob o Ato Institucional n° 5. (0 JB encerraria o ciclo das propriedades sucessivas, miltiplas, para se tornar uma empresa familiar, consolidada, em 1918, com ua aquisigdo pelo conde Ernesto Pereira Carneiro, que j4 era um de seus acionistas. Para ele, “o Jornal do Brasil deve manter sempre a linguagem elevada, desapaixonada, sem ataques pessoais”. © conde permanece a frente do JB durante 36 anos. D. Marina Dunshee de Abranches Pereira Carneiro, sua vitiva, é quem o sucede ¢, em 1956, comanda inovages técnicas que transformam o jornal, influindo na fisionomia do jornalismo brasileiro contemporaneo. Essa data assinala a modernizacao do JB, ndo mais um jornal qasem " de pequenos antincios, como é novidade em 1906 na Ey rope imagem de La Prensa, de Buenos Aires, e do The Times, . A reforma associa os nomes de Odilo Costa, filho e de MF do Nascimento Brito, ® do N , que, com a morte da cont presidéncia da empresa”, essa oeupa a Saree, verae 2 empresa mais atc cathe ua naina doer ones erase tmoutes grandes congo Histon Da Impaensa Brasuina — [DIS ames canned with CamScanner ral do Brasil o ltimo dos grandes a ingressar no 7 pone ol eletr6nico, nos anos 80. iano fecharn iy: process blcanos de Deodoroe Floriano fecham virog Os governos rePtO' primeiro historicamente a sofrer violencia, jomaisem mie seo 889), do Rio de Janeiro, provoca intensg a Tuna Liber Ge urna nascente replica pouco tolerante coma repercussio © paracio com o Segundo Império. Outra vitime do inert oA Plata, de So Paulo (1891-1931). jor jomnais tém por habito, sobretudo no Rio, has. perms ichadas,A Raa, O Pi Folka Popular, A Tribuna, te artis Conti do Ri, © Bras Difrio do Brasil, Gazeta de Noticias, ci Te, Caza Mederma, Corio do Poo, Jornal do Povo, Jornal de can Dien do Comic, Didra de Nociase Didrio Oficial fazem semua ses pauls verdes, ararelos ou vermnélhen: uns para simbotizarrebeldia; outros, sua identificagéo com o regime, 0 formal do Brasil desfralds, em 1891, uma bandeira com o sey ttulo em letras pretas sobre um campo branco, para significar ney. tralidade™. Isto néo impede Floriano de investir contra o jomnal, acusando-o de tentar desestabilizar 0 governo. Esses anos iniciais da Republica, contudo, néo se esgotam nas barreiras a liberdade de imprensa e no confronto entre notiveis publicistas e militares que emergem como lideres do movimento republicano. O governo provisdrio decreta, ainda em 1889, a natu. ralizagdo e, no ano seguinte, a liberdade de culto. Lideres republicanos, como Rui Barbosa, se vem vitoriosos com as novas iniciativas: a Igreja & separada do Estado, o registro civil é regulamentado, faz-se a reforma bancéria. Um programa de muden- a Rae Sonranusiataaiennaes meazematemtnaccan Sa guna accom emcanas Fron narrates ima Feat ‘desentendimento ¢ a negociagao de um empréstimo de US$25 milhdes do Citibank com ‘a ‘monial livre de partiha. Mas os irm&os e, por fim, os seus pais voltaram atrés, ae cecigbes 4 ar asinaar a sua lderanga ecto em um dectnio de vide, JB sai com dss dliias, de 1900.2 1904, 126 — rase ve cossouvacio gas que se identifica com 0 idedrio republicano defendido em plena vigéncia do Império por jornais como A Provincia de S. Paulo, ‘O Brasil abandona o lastro ouro, aemi: de apélices do governo, 0 crédito é regul das sociedades anénimas. Hé reacoes As. por Rui e alguns Estados ameacam co atribuir a bancos privados o poder de Ssdo de moeda tem agarantia lamentado, altera-se o regime ‘medidas financeiras inspiradas 1M O separatismo. A férmula de emitir desagrada, O pais quer acelerar sua industrializa colhe geram uma crise econdmica que os jomais caracterisan con, o encilhamento: especulacio desenfreada nas bolsas, aumento da custo de ida, queda do valor da moeda. Em 1891, caem Rute omen membros do primeiro ministério republicano, No més seguinte g Congresso promulga a Constituigao, Actise politica que sucede a crise econémica n: tituigdo, mas dissolve o Congresso por ato de Deo: G40, mas os meios que es- do derroga a Cons- «oro. Revoltas eclo- no Rio Grande do Sul. O mesmo acontece com em Sao Paulo. No Pard, Lauro Sodré se opde 20 governo. No Rio, 0 almirante Custédio de Melo comanda a revolta. Neste dia, 23 de novembro de 1891, Deodoto entrega o poder a Floriano. Osjornais observam ter sido menos pacificaapassagem, aparente- mente legal, de poder do presidente parao seu vice do que do Império Para a Repiiblica. Generais protestam em manifestos, a economia se desorganiza, grandes comerciantes e fazendeiros pressionamn por seus interesses, populares agitam as ruas, marechal Floriano reforma oficiais, Barbosa tenta em favor dos presos, ise ae o pais republicano vive esténa primeira pagina daimprensa, “Se 08 juizes do Tribunal” ~ adverte Flotiano ~ “concederem haben; GorPus 208 Politicos, no sei quem, por sua vez, thes dard o habeas corpus de que, por sua vez, necessitarao.” Esse tipo de ofensa a Justica, aos direitos do cidadio e8 liberdade de imprensa, heranca colonial e imperial, atravessa a Repiiblica em ‘odasas suas fases, da primeira as demais, s6falecendo noc espasmos democraticos. Uma citcunsténcia que, de resto, nao é exclusiva do Brasil na América Latina. prende os revoltosos. Rui em vao, 0 habeas corpus. A grande ‘Histowa ba Inpnensa Brasitema — 1277 —— Scanned with CamScanner i jovimento de jornais ¢ revista beta enc oon ea ra Rio Seo paimeito ano, 42; em 81, 95; em 82, 64; em 93 {ico ao Pf 37; em 85, 44; em 86, 37; em 87, 23; em 88, 45; em 89, $e. em90, 29: em 91, 25; em 92, 24; em 93, 26; em 94,21; em 95 46, em 96, 30; em 97, 29; em 98, 30; em 99, 17. Em 1901 (data qe fondagio do Corea da Manki), 25; em 1902 (quando surge a revise itustrada O Malho), 26; em 1903, 21; em 1904 (ano da Revista ae ‘ibunais), 28; em 1905, 17; em 1906, 19; em 1907 (ano de Diagn jornal de Calixto, e Fon-Fon, a revista ilustrada), 20; em 1908 (ang de A Careta), 42. Em proporsio relativa, a edigdo de jomnais e revistas no interior do pais é semelhante 20s indices observados no Rio de Janeiro. arg 1908 aparecem: o Dirio Popular (1884), de José Maria Lisboa, em Sag Paulo; A Tribuna (1894), de Olimpio Lima, em Santos, SP; 0 Commis do Povo (1895), de Caldas inior, em Porto Alegre; e A Gazeta (1909, de Adolfo Araijo, em Sao Paulo. A caricatura introduz a reportagem grafica Da tiltima década do século XIX a primeira do século XX, a carica- tura dé um passo decisivo e assegura o seu lugar nobre no espago do jommalismo. Nesses anos, o conceito de reportagem grifica projeta-se da dimensdo que alcanga o desenho, seja como charge politica, seja como ilustragio a antecipar a fotografia. Oficialmente, a primeira caricatura brasileira é a publicada nojomaldo Commerco, do Rio de Janeiro, do dia 14 de dezembro de 1837, de autoria de Manuel de Araiijo Porto Alegre, o discipulo predileto de Debret*. Temo titulo de ‘A Campainha e o Cujo” e critica um antincio do Coneio Oficial para a contratacao de um redator por trés contos 600 réis. =—— ‘Gondin da Fonseca, op. et "Ct Herman Lima, A histra de carcstura no Brasil 128 — ruse ve cossounacko cece _—_—_——-——— ¢ redator é Justiniano José da Rocha, dai o cardter de critica ese ye a caricatura assume. Sabe-se, porém, que em 1564 fret ce Salvador usa palavras para censurar a sociedade de sua siete que periédicos ilustrados, desde O Putriota (1813-1814), cportitam formas incipientes de caricatura. Rugendas e Debret, passageitos de misses estrangeiras, con- tribuem significativamente para o ensino da arte de desenhar e da prépriailustragao no Brasil. Em 1818 e em 1845, a lmpressio Régia a tipografia de Heaton & Rensberg ilustram 0 Oficio, A moreninha e ‘O Rio de Janeiro pitoresco com estampas litogréficas. P (Os primeiros bonecos em jornais e revistas do Rio so encontrados na Lanterna Magica, de 184, assinados por Rafael Bordalo Pinheiro. Jépor volta de 1831, raros desenhos de critica a Bernardo Pereira de Vasconcelos saem da Litografia Briggs ~ 0 gravador que, com Aratijo Porto Alegre, os artistas Sisson e Moreau, precede Angelo Agostit € sua Revista Ilustrada (sucessora da Semana Ilustrada). Entre 1860 e 1864, Henrique Fleiuss e Angelo Agostini editam a Semana Ilustrada e O Diabo Coxo. Eles e todos os de sua geracéo dese- ham diretamente na pedra. Esse processo permite a reproducao de estampas de figurinos coloridos importados da Franca por revistas como 0 Correio das Modas, Marmota e Jornal das Familias, que circulam no Rio de 1839 a 1879, Agostini, um dos pais da charge politica, edita a sua Revista Ilus- trada de 1876 a 1898. Séo 22 anos de intimidade com a vida social brasileira, documentada, comentada, analisada e interpretada por esse grande ilustrador. Fora 0 tempo que dedica a outras publicacées, jomais e revistas politicos, humoristicos, de costumes. Na auséncia da fotografia, Possivel as mudangas que ocor ‘cana. Mas também acrescer malidade e 0 deboche. Benero abrange os séci a ilustragio registra o mais fielmente rem na sociedade imperial e republi- ta a essa visdo a sétira, a ironia, a infor- A fase de fastigio das publicacées ilustradas do los XIX e XX ¢ deve aos primeiros chargistas ‘uma contribuigdo certamente pioneira e principalmente normativa, [1 noticia de ensaios de ilustrago (nao de caricatura) em 1825 (Hercules Florence) e em 1831 (trabalhos da Litografia Steinman), ‘ence atua em Sao Paulo, associa seu nome a pesquisas de foro. Histonta Da Ioprensa Baasitsraa — 129) Scanned with CamScanner = . lisografia para 0 editor catioca Pen ja produzido uma rafia e ceria Pr gr ncher. , , Handi primeiro carcaurista, com trabalhos regulares nog oy, Bordalo Pinhei pis do Re tien Auguste Sason ee et de nascimento. Depois dele, RO Bras luserado, de 1855. | ; Portugueses, franceses, alemdes, italianos, mexicanos, brasileiro formam a estipe de noss0s primeiros caticaturstas, justamente gs fundadores da reportagem gréfica, como Rafael, Fleiuss, Agostin, Sisson, Figueroa, Pinheiro Guimaraes, Aurélio de Figueiredo, edn, Américo J Arts Belmiro, K.Lixto,J. Carlos, Alfredo Seelinge, aan Pederneiras, Crispim do Amaral, Mendez, Alvarus. Duas geragées de caricaturisas, ilustradores, decalcadores, ax. tistas do trago, que so também pioneiros da charge, do can da histia em quadrinhos. Inovadores néo s6 em conteido, pel, qualidade de criacéo, mas igualmente em atividades editoriaig, Pois amaioriadeles, assim como as geracSes que os sucederiam associam suas ilustragSes a jomnais e revistas, desenhos animadst ¢ caricatura eletrOnica, uma verdadeira indtistria especializada en humor. Modernamente, no jornal, na revista, no rédio, na TY, as formas visuais que emergem da caricatur. audiéncia e seu prestigio a uma arte de ilustracao intensa, vesit, qualificada. Que se mantém assim desde os primeiros peribdicos a existit no pats. Como O Cabrido, Vida Fluminense, Mosquito, Re vista Ilustrada, D. Quixote, Revista da Semana, Fidu, 7 Horas, Ea Se Tudo, O Malho, Bazar Volante, O Mequetrefe, Diabo da Meia Note, 9 Bindculo, O Mefisto, Fon-Fon, A Comédia, A Manha, O Jacobno, Zigue-Zague, O Mundo da Lua, O Tico-Tico, Careta, A Pena Caricata, O Brasil Ilustrado, etc, no cinema e a devem sua ,No comero do século XX, a caricatura jé compe o formato ecitorial obrigatSrio de jornais e revistas. Os de motor expresso reproduzem, na primeira e nas paginas internas mais importantes, Aili Charges e desenhos que opinam, noticiam, documenta. A ilustrasao populariza a i a o inform; ome cen stato rma¢ao, que toma o nome de rept 130 — rise or, CONsoLIDACKO > © sac 1895, 4 os da impressao. Em tem relagéo com os avanc: ‘ ; Ee ere ‘ocesso de zincografia, permite a reproducéo como se fora fotografia. Festas populares, principalmente fatos ‘cliché, que resulta do pr jhos documentais, policiais mobilizam bons ilustradores e gravadores. 4 e ‘A distribuicao dos diarios, que atingem até 50 the en res, para a venda avulsa nos quiosques, is, don losjs nat estagdesferovidras, para assinantes locais e do interior feita em carrogas, puxadas 2 cavalo, eventualmente por jornaleiros montados. E o estégio que antecede a circulacdo mecanizada, nos anos de 1920. | O cliché € uma inovacdo como a luz elétrica fornecida por mé- quinas a vapor ou o servico telefénico interurbano que funciona a partir de 1893. A pauta dos jornais é mais rica que hé dez anos; 0 folhetim ainda desperta interesse, mas os leitores consomem mais noticias politicas, policiais, internacionais, esportivas e sociais. Bons repérteres cultivam o furo. Em 1895, no Rio, a competicdo pela primazia da noticia opde 0 Jornal do Commercio ao Jornal do Brasil. Em Sao Paulo, O Estado de S. Paulo consolida o prestigio que vem de A Provincia. Repérteres inves- tigam assuntos, descobrem despachos cifrados cuja publicacao leva, Por exemplo, o Brasil a definir a soberania da Ilha da Trindade numa pendéncia diplomatica com a Inglaterra e Portugal. No Rio € em Sao Paulo, os jornais encartam revistas semanais ilustradas, anudrios ilustrados e preparam-se para imprimir antincios €m cores. A veiculacéo de antincios classificados ganha a primeira Pagina em 1904. Os maiores jornais incorporam cada vez mais nomes destacados da literatura, seja para editoriais, segdes permanentes ou simples colaborasio, como também para assinar correspondéncias do exterior. Nesse mercado em que a concorréncia é ditada pela qualidade, (aricaturistas, chargistas,ilustradores desempenham funedes relevane tes, que vio dos redatores artisticos aos repérteres grificos, Assinam espasos valorizados nos didrios e nas revistas, preferides que sio Por leitores que privilegiam o humor, a opiniae politica ilustrada, 0 desenho que facilita a compreensao dos fatos. . HESTON Da IMPRENsa Brasiusima — 183]. Scanned with CamScanner amas primeiras oficinas tipogréticas en 8 € 1900, SUTBCN ntratam, para operé-las, fotdgrafos ase paulistas QC udo, ainda predominard por Tonge nas. A iluStER ica. Com o desenvolvimento da rep m0 informacio 6 to, a sua tendéncia sera a esPecializacig tae foros ao na historia em quadrinhos*, na caricature, na charge, pe srtes valorizacio grafica das edicSes atrai, sobretudy Aa Spo Paulo caricaturstaseilustradores estrangeiros, Elevinge ioe So remeencias com os brasileiros e, juntos, constreen, esse earn ede nanacocolepatitbllhd aatllaydherremmatiat (Gono futuro, marcat a identidade de geragoes de artistas Em 1900, a expansio da caricatura esté na razao direta de my. danas edtorias de incitivas grficas pioneiras, como aed da tarde que o Jornal do Brasil inaugura em abril £0 tempo de plementosilustrados, revstas semanais ilustradas, almanayus guiasilustados que aparecem como encartes Folhetins, eportyen, historias séo ilustrados. Nesse ano, 0 corpo de caricaturistas do JB recebe o reforyo do Portugués Celso Herminio, discipulo de Rafael Bordalo Pinhere 0 jomal informa, entéo, uma tiragem dc 50 mil exemplares ddtiose, em 1901, de 62 mil exemplares, ultrapassando La Prensa, de Buess Aires, considerado o mais importante da América do Sul. A cletricidade, 0 telefone, os transportes e os correios, coms servigos de cartas e telegramas, melhoram seus padrées e failitamos Programas de expansao dos jornais. Novas agéncias de informaes atendem mais clientes. O primeiro carto ingressa no pais sob a direcdo de um jomalista, José do Patrocinio, e logo a segdo Automéveis do JB registra op meiro acidente no Rio, gracas 4 impericia de um poeta, Olavo Bilas, Prometendo “noticiar, dia a dia, as proezas dessa mquina infer! €m nossa cidade”, Em 1903, rotativas clétrica, Redatores, rep, Mor que imprimem as edigdes movidas po Srteres, revisores e grificos dispoem yas ire Paulslas apresentam como “mais uma nove ima extenso do espago editorial reservado ist Em 190% jornais cariocas setadas ru ‘guadrinhos" € u 132 — race oe CoNsoLIDAGko, _ A elétrica em seu trabalho. Afinal, as primeiras fotografias chegam aos leitores com flagrantes da vida real. Menos de quatro anos depois, unidades impressoras Walter Scott, mais velozes, mais modernas, substituem as Marinoni. Titu- los, antincios saem em cores. Linotipos que sé funcionavam a gas se movem a energia elétrica. Fotos internacionais so publicadas na primeira pagina. Os grandes jornais brasileiros da primeira década do século XX remodelam formatos editoriais e tanto podem apresentar os quadri- nhos de Raul Pederneiras sobre o “ctime da Rua da Carioca”, como editar o Album alegre, com 300 paginas in oitavo, capa em cores e 200 desenhos, uma colegio de charges e caricaturas, paginas humoristicas ede atualidades®, A caricatura, que se define como reportagem grafica —do tragode humor ao desenho que documenta um fato -, langa jornais ¢ revistas Agostini, Fleiuss, B Machado, A; ordalo, maro Amaral, J. Artur, Seus nomes ligados aa XX, Isasi, Bambino, Pederneiras, Julizo Alvarus e muitos S Politicos dos sé. Luis Peixoto, contecimento: Scanned with CamScanner Ivaro Cotrim, o Alvarus, relata que foi Placido Isasi®, carica- Turista espanhol do JB no final dos anos Oitocentos e comego dos Novecentos, que deu inicio a reportagem gréfica, “tracandoa bicode pena os fatos mais sensacionais, suicidios, incéndios, enchentes' E de Isasi um flagrante da cena do assassinato do marechal Bit- tencourt, no local onde hoje esta o Museu Histérico, no Rio, crime praticado pelo cabo Mané Bispo, em 1897. Os jornais desse ano dio detalhes visuais da guerra de Canudos, dos desastres da Central do Brasil e da mudanga da sede do Governo para o Palécio do Catete com desenhos de seus redatores graficos. 0 Jornal do Brasil oferece, em antincio, “desenhos e gravuras de qualquer espécie... com presteza e perfei¢o” nas suas “bem mon- tadas oficinas de zincografia”. Sao “retratos, caricaturas, antincios ilustrados, cartazes, rétulos etc, etc.” Jomais do interior interessados em comprar “gravuras de todo sgénero (as histérias em quadrinhos ainda nao sio comercializadas em tiras) e até mesmo de atualidades politicas” devem fazer suas encomendas no escrit6rio do JB. Jomais e revistas tendem a se consolidar como empresas, diver- sificando atividades e introduzindo ininterruptamente alteracées de qualidade. Isso ocorre nas décadas de 1920, 30, 40, mas é na de 50 que importantes reformas que abrangem formato, composicio, impressao, papel e contetido vao dar respostas préticas as exigéncias da sociedade. Nesses anos, o cinema, 0 rédio e 0 disco, assim como 0 livro ea TV, criardo novas necessidades no pafs e impordo & midia impressa alternativas limitadas. A fotografia reduz o espaco do desenho, po- rém nao afeta a caricatura, que se define nas prioridades da charge, do cartum, etc, Um processo seletivo natural concilia as técnicas visuais absorvidas pelo jornalismo impresso. O bico de pena, por exemplo, desaparece como expressio grifica do jornal e da revista, mas se homizia no livro € em outros usos. Jé os comics universalizam seu mercado e de uma perspectiva de imobilidade, na sua origem, saltam para a animacio. —— '"00 ancs de notice’ Jorma do Bras, de @ de abr de 1971 134 — ruse or corsounscio { { | ‘A caricatura, ora como charge, ora como cartum, ora como trago de humor ou sétira, nfo perde o seu lugar nas paginas principais e até se incorpora, nos grandes jornais em todo o mundo, a linha edi- torial. Valorizada como parte da opinido, assume uma caracteristica prépria, de iniludivel peso politico, ideol6gico. No curso do tempo em que passa de uma aco ornamental para uma ago substantiva, a caricatura acentuaa sua influéncia e aumenta a sua carga informativa, Nao perde, é claro, o humor, mas a comuni: cago que exerce no processo de aperfeicoamento a que se submete reserva ao caricaturista uma presenca cada vez mais de vanguarda. No Brasil, a tradi¢do de veiculos de humor nao assume as pro- porcées de Punch, uma instituiggo do way of life britanico, ou de Le Canard Enchainé, um protétipo francés e latino da ironia anticlerical, anticapitalista e humanista. Mas, entre 0s valores conhecidos da nossa imprensa de humor, desde 0 século XIX, jornais como Pasquim e Planeta Diério, que retinem as geracdes intermediarias e as mais novas de caricaturistas, chargistas, cartunistas e escritores satiricos, se destacam pela qualidade, Numa linha em que pontificaram O Malho, Fon-Fon, A Manha* e O Tico-Tico. A mensagem de humorismo que emerge do traco e se estende, além dos meios impressos, a todas as formas visuais de expressdo, concentra ainda no jornal, no livro e na revista os seus veiculos de maior impacto. A aricatura obtém grande impacto nas formas visuais de comuni- cacdo, como na TV, por exemplo; mas, impressa, ela se dilui menos, Pode ser vista e revista, mobiliza energias e sobrevive as comparacées. A impressao lhe dé uma orca prépria, primitiva. Hisrona Da Inonensa Baasueiea — 1B ws canned with CamScanner Canais duradouros de expresso, como os impressos ou os do cinema, com o desenho animado, favorecem mais a caricatura do que canais passageiros como o radio e a TV, embora na televisao os comics obtenham efeitos semelhantes aos obtidos no cinema. Contudo, éna imprensa, de modo geral, que o desenho de humor envolve mais 0 seu consumidor e forja horizontes histéricos, tenha ‘ou nao carga politica. Os meios impressos adquirem para a caricatura um contetido préprio, natural e, obviamente, original. A dualidade que o humor reflete—nem tudo que é ridiculo é sério, mas quase tudo que é sério tem seu lado ridiculo, ou uma coisa 0 que envolve o homem e outra 6 0 que o homem observa — parece ter mais energia quando se exprime no jornal, na revista ou no livro. Isso independe da natureza dos recursos gréficos usados. Assim, a charge sem legenda nio altera o efeito da comunicagio direta que se pretende. Se o cartunista quer ser mais irreverente ou irdnico, 0 jogo de palavras é secundario, Personagens que nada tém a dizer, atmosferas absurdas ou fan- tdsticas que nao precisam de legendas podem comunicar fortemente com base em seus préprios recursos gréficos, Nesse caso, as palavras. integram a imagem e perdem a fungdo de explicar ou informar, Efeitos da I Guerra Mundial O século XX se abre para o jomnalismo brasileiro com a consciéncia de que é a noticia a sua prioridade. Essa descoberta procede de novo impulso editorial na cobertura dos fatos do dia desde os tiltimos cinco anos do Oitocentos. Uma objetiva reviséo de conceitos leva editores a reavaliagdo das utilidades do espaco. __ Ainformacio didria se populariza com a divulgagio do sorteio dos bichos, a publicacao de folhetins, o destaque aos eventos policiais € esportivos; porém hi algo mais que os leitores esperam, como o relato Politico menos engajado, a visio ampla do que acontece no exterior & Sobretudo, a incorporacio & pauta das ocorréncias locais. 136 — rseoecomsounacho Pe (0 timido registro de um acontecimento, manipulado pela restrigao de opiniio ou pelo rigor do critério de importancia, dé lugar a proce- dimentos flexiveis, ageis, dinamicos, que transformam ocorréncias em reportagens e simples registros em detalhados relatos. Pouco a pouco, as redagdes acolhem repérteres, noticiaristas, setoristas. Depois de Floriano, da Revolta Federalista no Sul, da Revolta da ‘Armada no Rio, o pais volta a respirar uma atmosfera livre. Termina a epopeia de Canudos. As sucessdes na Presidéncia da Reptiblica se fazem pacificamente. As cidades maiores, como Rio e Sao Paulo, reno- vam-se com obras ¢ saneamento que anunciam a metropolizacao. Mas é no curso da I Guerra Mundial que a imprensa assimila os efeitos de profundas mudancas na sociedade e nas relagdes dos povos com o sistema de comunicagdo de massa. De 1910 a 1920, sdo mais visveis 0s sinais de evolucao no contetido e na produgao dos jornais e das revistas. Um estgio que ird se aperfeigoar. A noticia viaja de bonde, de trem e de navio, os meios de trans- porte de que se valem repdrteres em missdes de maior mobilidade. O jornal é menos literdrio e mais noticioso. Nem por isso deixa de atrair escritores e publicistas consagrados. Nas oficinas, a linotipo despede o motor a gis e passa a utilizar 0 motor elétrico. A bandeira de um jornal é hasteada duas ou mais vezes para anunciar o numero de edigSes do dia. Rotativas versdteis imprimem em cores cabecalhos, ornamentos, antincios, suplementos. Torna-se comum 0 habito de clichés - segundo, terceiro, etc,, por edigao, para informagées de tltima hora. Os veiculos competem por tiragens maiores, com edicées extras. Apartir de 1910, grandes jornais do Rio e de Sao Paulo instalam ouam- pliam escritérios para os seus correspondentes em Londres, Paris, Roma, Lisboa, Nova York, Buenos Aires, Montevidéu e Santiago do Chile, Neles operam servigos fotograficos que so despachados por via ‘maritima para. edicio de fotogravuras. Essas representacOes atendem a assinantes e anunciantes estrangeiros e também divulgam o pais. __ A expansio no exterior coincide com o funcionamento de agén- las locais de classificados - ento, chamados de pequenos antincios domésticos - que concentram outras atividades editoriais, como assinaturas, promosGes, livros, etc, Hisronta Da Inpnensa Brasnistea — 1377 Scanned with CamScanner elo menos até o final da de origem francesa, caricatura. Eca de Queiroz, cortespondéncias do exteri autores fanceses ey dO exctusivos, & rome be . as buzinas inspiram o titulo da Os primeiros — sagem etadina. ‘Mas ndo perturbam a ae reponeres e redatores que escrevem & mo em ttas de papel aE noticias que os leitores aguardam com ansiedade. 0 formato mais apreciado dos jornais €o de 56x 42.cm. O pregoé de 200 ris. Em 1912, ingressam nas redagdes maquinas de escrever que comecam a substitu as canetas com pena bico-de-pato. Tesoura e gilete sobreviverio por longo tempo, a0 lado da cola. © furo de reportagem seduz principalmente repérteres de policia, {que muitas vezes se tornam investigadores e se antecipam as autori- dades na solugio de crimes. Os jornais tém o gosto das campanhas, sejam para limpar as favelas dos maus elementos, sejam para preser- var 0s bons costumes ameacados por pioneiros filmes pornogréficos exibidos nos cinemat6grafos. Apesar do alto indice de analfabetismo, a imprensa conquista leitores novos. A urbanizaco atrai, para as metrépoles que se for- ‘mam, contingentes de mao-de-obra; o desenvolvimento econdmicoe social estende a participacao crescente de camadas de trabalhadores classe média as decisées politicas. O jomal A Noite (1911-1964) lidera o mercado de vespertinos, que se mantém vigoroso no s6 no Rio como em Sao Paulo, Nesse Periodo de cinquenta anos, alids, os matutinos terdo de repartir com 08 vefculos da tarde as preferéncias dos consumidores. A primeira pigina, quando nao é ocupada por antincios domésticos ou de varejo ~ como é praxe também em The Times ou La Prensa -, di Preferéncia ao noticiério internacional. Os acontecimentos locais € nacionais ocupam as paginas internas. Além da Havas, opera outra agéncia, a Americana, © livro ainda influi poderosamente no estilo do jornal e da revista, guerra. O folhetim e o romance-folhetim, 8eram tanto interesse como, por exemplo, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco assinam ior ou textos locaist®. O frralsmo re iapegiatsu uma stida tracedo mera, desde a leiura @ remissto d? [a2 Brimeia fase, até 0 advento de corespondentes especial ‘Ar0. como Lopes Trovdo etanios autos. Epa manda corespondénci pal 138 — Fsseor CONSOLIDAGKO A guerra comega em 28 de julho de 1914, mas é s6 na sua etapa final que se torna mais dramética para o Brasil, ocupando maior atengdo dos jornais. Em abril de 1917, a Alemanha torpedeia 0 va- por Parand e, mais tarde, afunda o Macau. O pais reage, aderindo as nagdes aliadas. Os jornais divide a cobertura do conflito mundial e de suas con- sequéncias nas relagdes internacionais com temas que antecedem ou se desdobram a ele: o congracamento politico para curar as feridas do impasse civil, o reatamento das relag6es diplomédticas com Portugal, a guerra de Canudos, 0 programa Murtinho de recuperacio financeira, a campanha civilista, o motim dos marinheiros de Joao Candido. Os balangos dos maiores jornais do Rio e de Sao Paulo, relativos a 1914 e 1915, indicam quedas da receita Ifquida em consequéncia do aumento nos precos do papel. Antes da guerra, um jornal como O Estado de S. Paulo desembolsa 1 conto de réis por dia com papel. Depois, 1 conto e 500. A diferenca se aplica, igualmente, ao material grdfico®. Esse impacto financeiro no lucro lfquido anual da imprensa coinci- de, em 1914, como acordo entre jornais e agentes de publicidade, pelo qual as agéncias e os agenciadores individuais aceitos pelas empresas Passam a receber comissao pelos amincios de corretagem, incluindo Publicacdes oficiais. $6 de 1915 em diante, com o fim da retragio do mercado, é que os jornais voltardo a equilibrar suas finangas. Em 1915, a campanha germanéfila contra O Estado de S. Paulo chega a um ponto crucial. Nessa época, o nlimero ea influéncia das empresas comerciais, industriais e financeiras alemas eram maiores do que, por exemplo, na II Guerra. O jornal sofre prejuizos em pu- blicidade e assinaturas, mas nao em prestigio. © Dirio Alemao, porta-voz dos poderosos interesses da colonia, acusa o jornal de estar nas maos dos ingleses, chamando-o de The State of S. Paulo. Porém O Estado nao se intimida com 0 bloqueio dos alemaes. Apesar da aguda crise de papel, amplia a cobertura da guerra com despachos de trés agéncias telegrificas e comentérios semanais Gazeta de Noticias, Jomal do Brasil e jamais port rene em lives, como Cartas de Inglaterra, ry Os nimeros de O Estado indicam: 1913, heros de 602 contos de is; 1914, 178 contos. Um: ‘iminuigdo de 302 contes 6 rs na publcidade, eee Cone: s9UeSeS, 20 mesmo tempo Que mals tarde a Histonta Da Inpnensa Brasiteina — 139. ae Scanned with CamScanner ainda, a edicio da noite, conhecida coma de Jolio Mesquita. Lan Osta ca que 0 Estado de S. Polo m0 tem mé vontade Mesquita oP ve que “simpatiza com 0s aliados, ndo porque ant. contra os alert os, mas porque diverge visceralmente da politica paize com os aireta que desviou a Alemanha da sua luminosa auton josgdo ancimilcarista do jornal ndo deixa de aludir& mnissfo". situagao brasileira. ; #0 nosso pensamento ¢ 0 nosso sentimento” ~ prossegue ~ “re. voltam.se contra o militarismo aleméo como se revoltaram contra 0 militarismo brasileiro.” E conclui: Na Europa, ou na América do Sul, num poderoso império ou numa modesta repéblica, o militarismo & sempre o monstro repugnante contra o qual toda a civilizacdo deve erguer-se e lutar até 0 seu final aniquilamento.” O vigor e a coragem de jornalistas como Mesquita nao impedem, porém, a entroniza¢ao do marechal Hermes da Fonseca na Presidéncia da Repiblica. O civilismo perde, mas nao se sente derrotado. Para tentar soldar o abismo entre civis e militares, é langada em 1915 a campanha civica em favor do servigo militar obrigatorio, liderada por Olavo Bilac. Com o titulo de principe dos poetas, Bilac percorre o pais cla- mando contra “a mingua de ideal que nos abate, a onda desmorali- zadora de desénimo que avassala todas as almas”. Formam-se nos Estados correntes de agitacao patriética, umas nacionalistas, outras conservadoras. Em 1916, 0 entusiasmo juvenil entra nos quartéis por via campanha vitoriosa do servico obrigatério, oito anos depois a que o criara. Nao sem que Miguel Pereira proteste com veemént contra o ufanismo de Bilac, inspirado numa falsa “patria gigantes@ — & "7A palica Dao Romto x O Estado de S. Pav 36 tina em 1918 2m © Seg, rocesso criminal movido pelo jomal de Jalio Mesquita, que leva a dois meses d@ PX sings ‘do porta-voz da cola. Artes, para conestar a dendncia de que recebia“SUPventees ue formulada pelo Digro Alamo, Mesauita abriu os ivros da empresa aos perios. Pro. gas 2 mao: font de renda de O Estaco eram as fimas alemas. Ao cancelat S808 20s rovocaram perdas financeiras registradas no balango do jornal. Nese a", 0) uma tragem dia de 45 mi exemplares. VA0 — Face ne roseremict, erica”. Pereira impressiona ao dizer que “vivemos tristemente num pais triste” e que, sem verbas, pesquisadores e higienistas como ele proprio s6 podem dizer que “o Brasil é ainda um imenso hospital”. ‘A frase de Pereira ganha as manchetes dos jornais e vira refrao. ‘A agenda ainda hé de ter lugar para a questo das fronteiras, a Conferéncia da Paz - Rui deixa de ir a Versailles, chefiando a de- legacdo brasileira, por presséo dos EUA -, as rebelides militares, 2 eleigdo e 0 governo de Bernardes, a revisdo da Constituicéo de 1891, 0 programa de estabilizacdo econémica, com Washington Luis. Um horizonte que reserva a imprensa da Primeira Repiblica a singular tarefa de ajudar a consolidar o regime sem negligenciar a propria consolidagéo. “Jd se observa de tudo no Rio, até mulheres furmando”, anota um jormal carioca. No final da segunda década de Novecentos, as maio- res cidades brasileiras constroem os seus primeiros arranha-céus para escritrios e apartamentos residenciais. A porta dos jornais, mostrudrios com porta de vidro expdem as fotografias que estZo na edigio do dia. Alguns dos maiores veiculos batem recordes de ediglo, tiragem e clichés entre 1917 e 1918, no curso dos acontecimentos da guerra. Estimulados por recursos de impressio e distribuigao, publicam, num mesmo dia, 0 segundo, o terceiro e, nao raro, 0 quinto e sexto clichés de sua edigao normal. Em 1920, nos quiosques - como ainda s4o chamadas as bancas de jornais - de Paris, Lisboa ou Nova York e Buenos Aires, podem ser comprados exemplares de jornais brasileiros. E nesse ano que uma terceira agéncia noticiosa, a United Press, comega a fornecer a clientes brasileiros o servico telegréfico internacional. O sistema de impressio praticamente completa a substituigao das antigas maquinas de retiragdo Alauzet pelas rotativas Marinoni. A li- notipo e sua variacéo mais conhecida, a monotipo, elétricas, projetama tipografia na era moderna, Meio século se passard até que a composi a frio estabelega um novo avanco, associado a eletrénica. Em 1916, os mais importantes didrios do Rio e de Séo Paulo Possuem parques grificos considerados os maiores da América do Sul, com 12 linotipos, trés monotipos (também conhecidas como HisTonia DA Imenensa Brasnema — 140 Scanned with CamScanner capacidade pouco acima de 70 mil exem. tieuladoras) ¢rotativa com COP plares/nore iro, atiragem média do jornal de maior circulacgo No Rio de Jane la em torno dos 60 mil exemplares. Essa taxa ber i ta sor atribuida a jornais Iideres de vendas e assing, ecircu se faras também em Sa0 Paulo. a O Jornal do Brasil, com suas duas edigdes diarias, nesse periodo dei sade ads segundas ira para dar folga ao seu pessoal no domingo, F aivalga, entio, uma tiragem maxima de 72 mil exemplares, 'A populagio brasileira, em 1920, 6 de 30 milhSes de habitantes «, aproximadamente, 300 mil operarios em atividade. O aumente demogrifico (em 1900, 17 milhdes), o crescimento urbano, o sun gimento de um parque industrial, a modificasdo nas relagses de trabalho e um maior poder aquisitivo dos consumidores justifcan {ndices altos de vendas. Hi outros fatores que concorrem para a expansio das empresas jomalisticas. As lutas politicas que se travam nos Estados entre os sovernadores, detentores do poder, e as parcelas da sociedade que no se submetem as oligarquias abrem canais de ascensio para 2 classe média, __ As transformagdes que se processam no pafs sé diminuiriam de impacto nos anos criticos da guerra mundial; de 1918 em diante, condisdes novas e decisivas, envolvendo, como é dbvio, a participa sao da imprensa, Trrompem as primeiras grandes greves, a classe operiria ocupaa ren Posisio, o surto industrial é fato consumado, a concentracdo de renda gera reacdes violentas nas cidades, ican quadro dinamico e fértil abriga motins, rebelides e movimen- 5 esnlaes « civis, Provocando 0 enfraquecimento das oligarquias lecendo mudangas até 4 revolugao de 30. A bobina de papel - 0 papel sem fim - assinala nesses anos de coma fees euee um notavel desenvolvimento da industria gréfica, Tesma de papel das grandes tiragens. E que encerra o estégio d2 ; © pay do Veiculo, Esse passo ¢, pel em folhas soltas, cortadas no formato 0 & decisivo para a torial, abrangendo todos os ramps imp Para a producio editorial, a 142 — ho CONSOLIDACKO Por volta de 1905, Vitalino Rotellini, proprietario de Fanfulla, traz da Itdlia para S40 Paulo as primeiras linotipos. Eram as mquinas que “trabalhavam com eletricidade, fundiam o chumbo com chama de gas e compunham, mecanicamente, linhas inteiras”®*. Orgaos cariocas, como 0 Jornal do Commercio, 4 conheciam a composicao mecanica. Nao s6 a edigdo de jornais e revistas se beneficia com as inovagdes tecnolégicas impulsionadas pela guerra mundial. O pais vive, nos anos 20, uma euforia industrial que resulta do crescimento do merca- do interno e de bons negécios com o exterior. No entanto, a economia se mantém debilitada, afetada por perdas na cafeicultura. Olivro ea gréfica (principalmente as casas de obras - para impres- sos avulsos, papelaria, livros em branco, pautacao, etc.) se fortalecem € se organizam em sdlidas empresas editoras. Um novo veiculo - 0 radio ~ se associa em 1924 ao que denota ser um complexo de comu- nicagSes que, no entanto, ainda é profissionalmente incipiente. A propaganda ensaia a estrutura que s6 anos mais tarde viria a definir. O formato varidvel, quase sempre improvisado, dos jornais didrios evolui para um padrdo comum. O jornalismo faz tentativas de se definir como categoria, mas ainda esbarra em obices dificeis de transpor, como a improvisa¢éo ou o amadorismo. Procedimentos anteriores a organizacao empresarial permanecem embaracando a ética da profissio. Ministros de Estado acumulam Postos de direo no jornalismo, da mesma forma como embaixadores ou funcionérios menores das embaixadas cultivam gratificagoes dos jomais como correspondentes no exterior. Antes de ser profissio, o jornalismo é um bico, um sul bemprego que Procura compensar o baixo salério com o prestigio da letra de forma. Porém essa situagdo é menos grave nesses anos 20 do que Ro Passado. No fastigio dos folhetins, o autor de romances policiais Benjamin Costallat estreia na imy i prensa carioca, em 24, com o saléri mensal de 500 mil réis, : malista brasileiro. A rigor, nenhum outro escritor, nem mesmo nomes como Machado, Alencar, WCngquenta aos Goy Cincwenta anos de inctpia, Folha da Manha, 1° jut 1955 HISTORIA DA IMPRENSA Brasiucina — 143 | Scanned with CamScanner i Verissimo, Lima Barreto, Medeiros ¢ Albuquerque, Vitiato Corréa, obtém na imprensa remuneragao igual a de Costallat. [As melhores redacdes cariocas e paulistanas concorrem na re- portagem e também no folhetim. O perfil predominante em nossa imprensa é 0 do jornal europeu. Sé no final da década de 20 alguns dos grandes jornais conhecem melhor 0 processo mais dinamico e mais objetivo do jornalismo norte-americano. Na economia, por exemplo, essa descoberta é antecipada pela acelerada substituicao de capitais ingleses, holandeses e alemaes no Brasil por capitais americanos. Do final da I Guerra Mundial até a crise de 29, os interesses comerciais e industriais europeus si0 rapidamente substituidos por interesses dos EUA. Os grandes jornais acompanham essa alteraco, mas nao opinama tespeito, com excegao de pequenos veiculos partidétios, de tendéncia socialista, ou criticos como Lima Barreto, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e poucos mais, ligados ou nao & Semana de Arte Moderna, que advertem para “o novo imperialismo do pés-guerra”. s capitais americanos dominam, desde entio, a comercializagdo do café e comecam a penetrar na produgio, através dos financia- mentos, sendo jd absolutos na distribuicdo. Os bancos sio agéncias de especulacio financeira, controlando a exportacio uma vez que retém a massa de cambiais. Instalados no interior, 0s ca ‘trangeiros voltam-se agora para novas matérias-primas ~ observa Nelson Wemneck Sodré, em Formagio histrica do Brasil. Essas primeiras décadas do século encontram o pais em lenta © gradual transicao para o capitalismo. E confrontam a socieda- de mais rural do que urbana com Progressos das ciéncias e das técnicas, os mais avancados dos quais expdem o nosso atraso. As diferengas que isso causa impdem profundas repercussdes politicas e sociai O armisticio que os beligerantes assinam em Compigge, a 11 de novembro de 1918, ndo assegura a paz ao mundo. Os laboratorios liberam para uma nova era de incertezas méquinas que passaram Por duros testes nos campos de batalha. Os povos tém pressa em ‘mudar. A revolucao soviética de 1917 insere-se nesse contexto dé grandes transformagées, 44 — Fase ox consouacto (© Brasil se acha distante, mais que o tempo cronolégico, do te- lefone de Bell (1876), do fondgrafo (1877) e da luz elétrica (1879) de Edison. Ou do filme fotogréfico com seu suporte de rolo (1884) de Eastman, do aparelho cinematografico (1889) de Edison, da ra- diotelegrafia (1898) de Marconi. | ‘Vagarosamente, o pafs vai se familiarizando com essas mquinas que jd sfo fntimas para outras nagdes. E comega a absorver outros instrumentos de bem-estar social e desenvolvimento econémico. Do automével ao avido. Essas invenges nos serdo titeis para derrubar nossas oligarquias como os tipos méveis, no século XV, para fazer 0 Renascimento e a Reforma. No século XIX, o telégrafo, as estradas de ferro, os motores a gis e as rotativas também deram a sua contribuigao para impedir © dominio do aparelho do Estado pelos oligarcas e para evidenciar uma politica de massas, de acesso popular as decisdes do poder. Os povos mais beneficiados por essa revolugdo nos transmitiram seus exemplos. Nos anos 20, o Brasil luta por uma nova ordem politica que s6 vai contemplar nos anos 30. As crises da Repiblica, que sao politicas, ‘econdmicas e sociais, agravam as contradicées existentes nas relagSes da sociedade ~ principalmente da classe média, dos trabalhadores dos pobres ~ com o Estado. © levante de Copacabana, no dia 5 de julho de 1922, esbosa © outro pais pelo qual anseia 0 povo. A rebelido dos 18 do Forte dispara o movimento tenentista que se irradia com a intervencao do presidente Artur Bernardes no Estado do Rio, a revolta do Rio Grande do Sul, em 1923, ¢ o Pacto de Pedras Altas. O segundo 5 de julho (1924), com o movimento armado de Isidoro Dias Lopes ¢ o levante do encouragado Sao Paulo. A Coluna Prestes —a marcha de 25 mil quilémetros, a pé e a cavalo, de Sul a Norte ¢ de Leste a Oeste, até sua internacéo na Bolivia © completa o ciclo histérico do tenentismo. Os anos 20 ainda marcara 4 Semana de Arte Modetna e a fundagdo do Partido Comunista, na ‘tumultuada etapa em busca de novos rumos, . O final da I Guerra faz aflorar contradig&es que se agucamea ‘0 pais de predominio oligérquico as insatisfacéo popular que se expressa HisTORIA Da Innensa Brastuzina — 14.95 —w———Scanned with CamScanner claramente. Depois do florianismo, a revolta de Canudos toma as colunas dos jornais e as pginas da historia, nas asas das reportagens de Euclides da Cunha para O Estado de S. Paulo®. fanatismo religioso & um aspecto de Canudos, mas na mani- festagdo violenta e heroica dos seus figurantes est4 a indignaco de camadas paupérrimas da populagio que se sentem deserdadas, es- quecidas. Como no Contestado, o protesto dos sem-terra, em atos de desespero e banditismo, em oposi¢ao a uma atmosfera degradante. A Coluna Prestes desenharia com realismo o mapa que inspira 40s tenentes liberais uma agao ideolégica, revoluciondria, contra os agentes da marginalidade social, politica e cultural da maioria dos brasileiros. Uma “deplorével desordem que nos avilta e aniquila. uma opressio mesquinha... que nos envergonha a consciéncia de homens livres", como escreve Juarez Tavora, em 1926, de sua cela no presidio da Ilha das Cobras. Como recorda Hélio Silva®, “quem quiser conhecer os fatos e as figuras que dirigiram o Brasil teré de ler os jornalistas”. Na cobertura dos trepidantes e nem por isso menos formais anos 20, 0 Correio da ‘Mankd (1901-1974) 6, talvez, o jornal mais bem-informado sobre Os acontecimentos politicos que envolvem a prematura velhice da Primeita Republica. ge onal tem um furo que é uma bomba. Mas publica-o nas duas ltimas colunas da segunda pégina, Nem assim a edigdo de 9 de outubro de 1921 deixa de se esgotar. Trata-se da carta atribuida 20 Presidente de Minas, Artur Bernardes, e que 0 Correio transcreve acompanhada de um artigo de fundo, “Ultraje ao Exército”. 7s reas cis de Cant uae ats Cte chao ts gas 0 Esa de. Pau, qu tavaelo cae nauurao a sua Mannan loners ro Sa ea £8 de margo, a tragem do jormalatinge 18 day cerns 20, Sul no comepo de 1867. No fetes bans non ataues masocnnog sate Antone Conseera’ or io ‘um grupo de primitives digides por um fanateo ro Mesquita propée a Eucides da Cunha valar 146 — rs oe cosounscto Se { eee——~_—‘Sé—~— ———_ Esse documento sera desmentido pelo autor, onfirmado e des- mentido por uma pericia. © que conta, no entanto, é a crise que de- ssencadeia. Os jornais do Rio e de Sao Paulo debatem a autenticidade da carta. As duas casas do Congreso também. Bernardes denuncia o fac-s{mile do Correio como uma das cinco cartas forjadas contra ele, jé denunciadas pelo Jornal do Commercio como parte de uma chantagem politica. Pede ao lider da maioria, na Camara, “o obséquio de afirmar que tal documento é absolutamente apécrifo”. No segundo 5 de julho, a revolucio de Isidoro, o jornal que mais perto esté do palco é 0 Estado de S. Paulo. “As granadas caiam a esmo, ora aqui, ora acolé, como se o s6 objetivo da artilharia governista fosse atirar sobre a cidade em geral, sem ponto certo”, relata 0 re- porter Paulo Duarte, na matéria sobre 0 bombardeio de Sao Paulo, em 1924, Bernardes é o presidente da Reptiblica, e a ele se dirige uma comissio de paulistas pedindo sua “intervengao caridosa” para cessar o bombardeamento. Logo depois, a cidade era abandonada pelos revolucionérios. A censura policial é rigorosa nos jornais favoriveis aos revolu- cionérios. Algumas vezes, 0 noticidrio da Gazeta de Noticias, ligada ao bernardismo, é mais detalhado. Mas veiculos como 0 Correio da Manhd, no Rio, O Estado de S, Paulo e A Federagéo, este no Rio Grande do Sul, aproximam os leitores da histéria do movimento tenentista mais que quaisquer outros. © Correio interrompe a publicacdo de agosto de 24 a maio de 25. E volta com a mesma chama do editorial do primeiro niimero, de 15 de junho de 1901, escrito por seu fundador, Edmundo Bittencourt, que afirma: “A imprensa nao tem 0 direito de ficar calada, quando Para ela o direito e a liberdade valem alguma coisa”. A inquietacao civil e militar dos anos 20 prepara a revolugao de 30. Em outubro, ela desembarca na sede do poder, com Getilio Var- 825 na cabeca, No Rio, os revoltosos incendeiam O Pais e invader 0 Jornal do Brasil, como fariam com outros jornais nos Estados. 0 JB, sem garantias, deixa de circular por uma semana. Hesronia ba Lernensa Brass — 147 Scanned with CamScanner Em busca de um padrao ético no come¢o do século XX, nao é ainda uma ativi- oO jornalismo, leis de mercado. S6 dade profissional, regulamentada e sujeita as depois da I Guerra Mundial é que comega a se desfazer dos lagos do ublicismo — militancia opinativa, que na imprensa da monarquia e da Primeira Republica se conjuga com a politica. Nossos mais importantes jornalistas dessa época sao também os mais destacados publicistas, com funcdo dupla no jornal ena tribuna parlamentar, no governo ou nos partidos. Entao, diretores, redatores e gerentes de jornal acumulam fungdes de ministros, diplomatas, fancionarios graduados e nao se sentem tolhidos por qualquer in- compatibilidade ética. D. Jodo VI preferia que seus ministros falassem por ele nos jornais e panfletos da primeira fase, mas tanto D. Pedro I como D. Pedro us pendores literArios com escritos que, II gostavam de exercitar se muitas vezes, ultrapassavam OS limites da doutrina para enveredar pelo corpo a corpo com panfletarios e pela troca de insultos, agres- soes, em verdadeiros tiroteios verbais. Um testemunho® sobre a imprensa de 1918 anota a plenitude — e 5 ama Martins Alonso, ‘em “80 anos de noticia’, Jornal do Brasil, 9 abr. 1971. Do alto de seus 35 os como secretario de redagao, Alonso conta como cobriu, em 1922, para o JB, a visita dos HIsTORIA DA IMPRENSA BRASILEIRA —— 161 Scanned with CamScanner a i émio e de lingu; 5 orter romantico, boémi gua- jornalismo heroico, do rep’ do “jornalismo org um periodo importante no desenvolvimento dog gem rebuscat la’ oticia ainda viaja de bonde e, para chegar ao conhe. jomals mas ecem de atravessar etapas geograficas Nos espagos cent do tor tao lentas como as carrogas de tracéo animal que inte a venda avulsa e assinantes, transportam os exemplares par ‘As dificuldades de um pais que se organiza como na¢ao retard, mas ao impedem, 0 avanco do jornalismo. E nem o desviam da busca de um padrao ético. A expansdo da empresa, que arid no futuro préximo, o caminho para a profissionalizacao, estimula definicdes e regras para procedimentos que deverdo se tornar regulares nag relacdes da imprensa com a sociedade e o poder. Programas, bandeiras e propésitos enunciados em prolixos artigos de fundo j ndo sao suficientes para garantir a invulnerabilidade dos jornais a press6es, envolvimentos e ataques que visam controlar a opinigo. A imprensa liberta-se dos partidos, porém nao se isola do partidarismo que suborna para silenciar verdades, comprar consci- éncias, distorcer fatos. Nos primeiros anos da Republica, a crise entre a imprensa eo poder chega ao auge com Floriano Peixoto. Os efeitos da reacio do autoritarismo, acalentado por um processo militarista de natureza concéntrica e de cardter violento, a ponto de se desdobrar em restri- $6es ao Legislativo e ao Judiciério, permanecerao por largo tempo, A ordem civil ou 0 reinado do café afasta os militares do poder e Feconquista posicdes perdidas. E a Segunda Repiiblica, que s6 se apa- garé em outubro de 1930. Floriano consolida o regime em nome de vvagos anseios da classe média, Enfrenta as oligarquias, sem as vencer, porém. Nas asas da exportac4o e da concentragao de renda, elas voltam com sélido apoio da imprensa e dominam o aparelho do Estado. O governo civil que sucede Floriano atribui ao Exército um papel moderador, concilia os Proprietarios rurais, retine politicos do velho € do novo sistema, Privilegia produtores e exportadores de café, vesperins ea, 22 Re 0s renters no podiam ener no Paldco Guavabara, Forge ut dia da rece via feito criticas a0 mau ‘osto das instalagdes nos aposentos reais. Para entrar no foto entrevistas, saltel os Portbes de ferro e entrei no Palacio. Participei da recep $20 20s rei, entrevistel um monte aa Teceb| 20 mi is de prone C8 98 © fi minha eportagem. A matéra oUt be 162 — rs 02 cossounicio Ee atrai para o circulo do poder homens de negécio ~ presidentes de companhias, diretores de bancos, prepostos de grupos econdmicos e financeiros do exterior. A eles vinculam-se alguns dos mais impor- tantes empresdrios da nascente industria jornalistica. Em 1901 (junho, 15), Edmundo Bittencourt escreve no editorial do primeiro mimero do Correio da Manka: “Ainda que o particular atemorizado se cale diante da violéncia feita ao seu direito, a im- prensa no tem o direito de ficar calada, quando para ela o direito ¢ a liberdade valem alguma coisa”. Bittencourt lamenta, entdo, a posicao de “um dos 6rgaos outrora independentes, e ainda hoje o mais poderoso desta terra” (uma alusio indireta ao Jornal do Commercio), que debita “misterioso e estranho suicidio” a “consequéncias da crise econdmica efinanceira”, mas logo informa tratar-se de uma “crise que o governo solicito debelou”. O editorial do Correio assinado por seu fundador afirma: Ainda hd poucos dias se soube que um cidadto estivera quatro anos no fundo de um cércere sem ter culpa formada. Em qualquer outro pais do mundo, a consciéncia juridica de toda uma populaco estremeceria, indignada. Bittencourt expde a sua inquietacdo pela “ocultagio da verdade” nas paginas da imprensa, E resume o programa do seu jomal: “Dizer a verdade”. Companheiro de escritério de Rui Barbosa e seu colaborador em A Imprensa, Edmundo Bittencourt leva para 0 Correio Medeiros e Albuquer- que, Carlos de Laet, José Verissimo, Alberto de Oliveira, Ledo Veloso, Afonso Celso, Coelho Neto, Evaristo de Morais, Artur Azevedo®, © Correio surge num momento em que o estado do jornalismo carioca “é lastimavel”, acusado de estar, quase todo, a servigo do Boverno, sem independéncia e sem voz. Frequentes dentincias de suborno, além de uma subvengao regular, amplamente paga com o dinheiro piblico, afetam e comprometem grandes jornais. =e. § ‘Agaleria das personalidades mais conhecidas do jornalismo , de modo geral, a mesma das Bersonalidades mais conhecidas da poltica eda literatura, Repbteres como Eucides da Cunha ‘880 mais raros que intelectuais nas. redagbes do Rio ¢ de So Paulo, onde atuamAmadeu Ama- Piinio Barreto, Afonso Schmit, Guiherme de Almeida, Sérgio Mile, Luis Gama, Vicente ce Carvaino, Montero Lobato, Maro de Andrade Histnia Da Imprensa Brasiema — 163 *=—— Scanned with CamScanner _ lagdo entre o poder e a imprensa do final dg século XIX a0 comeco do século XX gera um dos mais escandalosos casos de corrupcao da hist6ria republicana. Comprovadas subvengdes oficiais expoem a opiniao de aluguel de importantes jornais e jornalis. tas, abalam conceitos e derrubam imagens cercadas de notoriedade, Entre os beneficiérios do suborno governamental, esto érgios do maior prestigio no Rio e em Sio Paulo. As confissdes e revelacées de um homem publico como Campos Sales” destroem o ornamento moral de posigdes politicas construidas desde a monarquia e que agora nao resistem ao confronto com as provas tornadas puiblicas, Jilio Mesquita, em O Estado de S. Paulo, utiliza os editoriais de “Notas e informagdes”, no final de 1915, para exorcizar suspeitas de participagao do maior jornal paulista em créditos subvencionados pelo governo estadual. A defesa propria que faz, as explicacdes ¢ 0s argumentos que oferece aos leitores demonstram uma nova concep- Gao de jornalismo. ‘Tomando por base elementos teéricos e praticos, a partir da filo- sofia de conduta que impée ao seu jornal, Mesquita, de editorial em Um novo tipo de rel =— re yo, Bontunds @ Pec, Campos Sales fa ter sbvercoata 0 atest eter 0 S64 govern (1896-1902). O presidente, repubiano histo paula, ‘Joaquim Murine *ponsavel pela politica dos governadores, adota com seu ministro de Finangas, jLanum Murino, una gesio economia efnancia igual & co Impno com sso paraiso Replat indusiral do pals, dando mas espago a0 café, ao mesmo tempo que associa 38 esrosas olgaruisspausia © mine. Campos Sales jstiica-sealegando que, a Toa peat @bralsas foam subvenconados. Campos Sales sequia precedente repudiea® ta coterie Hora, cuo minsvoda Fazenda dbl verbas a oma joalsias las maces escent, como a Gazeta de Noiias, sob a drepso de Ferrera de Aaie. por tna Conn sina Ge celesa ofa eam pagas pelo Tesouro a0 prego ce 1 mir68 Binprenss ese G2 Su fl conscientemente que tomou a inca de subvencorst enero 8 mprar a rblemes plicos diane das cteas de oposiao, Conta que nao ded erbvt HESe os Eads ou jamais do exter que atu do Tesouro 0 parejas Tago Conpos Saleen oe Moras também gestou menos com mais dos Estades. NO P= por series de meres swine $4 Bro testemunhe, 0 Banco da Repabica pagou chases ro, Em 1012, coca Um Wal de t mio de contos de és ou 260 mi conos ce r&8P* artes, Campos Sees seen? 282890 Bor alguns dos jomais que subvencionara dz 208 ‘utro lado, Gondin da Foneece gered, do que chama de ingratiddo dos seus amigos Pe Bras comprare Fonseca sustenta que “pelo menos desde 1838 (..) todos os governs O Joma’ valendo-se de ctagdo de Joaquim Nabuco acerca de seu pal. 'N8S entes miisténos a que Nabuco pertenceu (1858, 57 8 quem o governo auxliava" Lembra que em 5 de 29080 Contas das veroas secretas d 08 der 59, 85-66) hérecibos de jomnalistas a 164 — ras corsoumacio el editorial”, sedimenta os principios de uma ética profissional que (ai se tornar padrdo no ambito da atividade jornalistica. Pragmatico, tle erige, com a antecipagao de um pioneiro, a dimenséo moral do exercicio da informagio. ‘As reflexes de Jiilio Mesquita partem da sua constatagao de que circulam histérias sobre favores financeiros a 0 Estado. Para destrui- Jas, o militante liberal recorre a tinica municao de que dispoe~a pena, atinta eo papel. E responde a acusacio, propalada em rumores, de que a empresa teria recebido de secretirios dissidentes do governo paulista gorda subvengo. E entdo que Mesquita expde o seu pensamento clara e concisa- mente, fixando, em cada reflexdo, a orienta¢ao para um jornalismo objetivo, idéneo e responsavel, numa sociedade livre e democritica. O estilo é o da entrevista, em que ele se faz as perguntas ¢ dé as. respostas, tipo “isto é verdade ou ndo?”, “o que acha disto?”, “qual a sua opiniao?”, “o que tem a dizer? “Isto & redondamente falso”, afirma Mesquita. “O Estado nunca recebeu de governo algum um real de subvencdo.” Lembra que 0 atual diretor do Tesouro é de outra corrente politica. “Se faltamos & verdade, ele que nos desminta. A isso o autorizamos.” E pontifica: “A nossa independéncia nao tem pre¢o”. “Os governos, quer os que apoiamos, quer os que combatemos, pagam” pelos antincios, editais, reprodugdes. Mesquita esclarece: “Nao hé nenhuma consideragao de ordem moral que nos obrigue, ou simplesmente nos aconselhe, a fornecer aos governos publicidade gratuita”. E ainda: “Os governos que apoiamos ndo pagam mais do que os que combatemos e ambos pagam como o piiblico, nem mais nem menos. Isto basta para tranquilidade da nossa consciéncia”. Até entdo inédito na imprensa brasileira, o procedimento de Mes- quita equivale a uma prestacdo de contas to minuciosa que expoe a contabilidade da empresa, num perfodo de 43 meses da administrasao Rodrigues Alves, ao exame de qualquer pessoa. Ele da valores, deta- Ihes das faturas, para que possam ser conferidos mediante simples consulta as colegées. = \V. "Notas @ informagtes", 0 Estado de S. Paulo, de 21 a 31 de dezembro de 1915. Hisronta ba Inpnensa Baasiisies — 165 Scanned with CamScanner _— i }» Jilio Mesquita estabelece a diferenga basica que um jornal deve cem que costuma rezar 6 0 de Rui Barbosa, a cujo magistério Jilio praticar entre noticia e publicidade, de modo a que nao seja outro Mesquita reserva o espaco nobre de O Estado. Jornalista e politico, o entendimento que dela devem ter os leitores € os anunciantes, 9 Mesquita abre duas dissidéncias, em 1901 e em 1915, no Partido Estado, lembra ele, possui a maior circulagao e o maior faturamento em Sio Paulo, nfo tendo por que aceitar subvengao ou suborno, direto ou indireto, & opinio do jornal. Nas suas paginas, aponta Mesquita, nio existe “uma s6 palavra” da redacdo que seja remunerada, “O aritério pelo qual julgamos os atos da nossa politica e da nossa administracgo € absolutamente independente da preferéncia que nos deem ou deixem de ar, paraas suas publicagSes”, escreve Jilio Mesquita Para situar conduta ética ainda desconhecida da maioria da imprensade seu tempo, negligenciada por jornalistas, politicos e governantes, mas ue jé se inscreve como norma do jornalismo idéneo, confiével. Republicano Paulista. No ano da sta morte (1927), incentiva a cria¢do do Partido Democritico, numa iiltima tentativa para impor suas crenas em instituigdes livres, democraticas e reformistas. Desde 1882, quando estreia nas campanhas republicanas e na militancia profissional como advogado e jornalista (na Gazeta de Campinas), Mesquita aspira a um regime civilista, sem fraudes eleitorais, politica dos governadores dominada pelas oligarquias ou violag6es constitucionais, como as intervengdes nos Estados. ‘ Mesquita é um adversério intransigente do militarismo politico Mesquita revela que, em Sio Paulo, o governo do Estado gasta com que navega sob o impulso dos desvios republicanos. O seu compro- Subvensdo e suborno, em um ano, mais do que o total de 1 milhéo misso, adotado também pelo jornal que dirige, é com a repiiblica civil. de contos de réis doados no quatriénio de Campos Sales. E assim que a campanha civilista de Rui, em 1909-1910, se insere em 0 Estado de S. Paulo, mais que em qualquer outro jornal brasileiro, como num contexto natural. O papel de Juilio Mesquita nessa ocasio Subvencionamos jornais que, a bem dizer, nao existem, s : Porque ndo

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