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Docéncia na educagao infantil: entrelagamentos entre a formagao inicial e a pratica pedagégica Resumor O presente artigo discute a docéneia na Edueagao Infantil (BI) & busca evidenciar, numa perspectiva critica, as interfaces ¢ os dilemas entre a formacao inicial ¢ a pratica pedagdgica com criangas de zero a scis anos de idade no cotidiano de escolas de Educagao Infantil. Tomou-se os estudos de Rosemberg (1999), Kishimoto (1999; 2002), Kramer (2002; 2005), Gatti (2010) Gatti, Barreto c André (2011), Santos (2017), Tardif (2002; 2005), ‘Tar dos ¢ Szanto-Feder (2011), Rinaldi (2016), Martins Filho ¢ Delgado (2016) ¢ as narrativas de cinco professoras da rede pifblica ¢ privada de Salvador que exercem a docéncia na El para analisar entrelacamentos entre a formagao © a pratica pedagégica. Do ponto de vista tedrico-metodoldgico, parte-se de uma abordagem qualitativa de cunho exploratério, com a utilizagao de isa bibliografica ¢ entrevista. Entre os achados da pesquisa, de: -se a formagio como uma das estratégias para a consolidaco da qualidade da Educacao Infantil, a compreensao da crianga como aguela que nutre os sentidos do ser professor e a demanda de uma didatica da Educacio Infantil que coloque a crianga no centro do planejamento curricular e a considere como um sujeito de direitos, competente, rico de iniciativas e de curiosida- des. Conchui-se que a docéneia na Educacio Infantil ainda é experienciada pelos professores ¢ pelas criancas em contextos desafiantes, tanto do ponto de vista da intencionalidade e do alcance das politicas publicas de formagao de professores como das complexidades da pritica pedag Palavras-chave: Docéncia. Educagio Infantil. Formagio Inicial. Pratica Pedagégica, Professora-crianga. Introdugao As discusses sobre a docéncia e a formacao de professores cts: da Educacao Infantil no Brasil fundamentam-se tanto em asp legais' como em conhecimentos resultantes de estudos e pesquisas realizadas na area da formagao de profissionais da educacao. (KISHIMOTO, 1999; 2002; KRAMER, 2002; 2005; MARTINS FILHO; DELGADO, 2016; ROCHA, 1999; SILVA, 2013) Esse é um tema complexo e multifacetado, que envolve tensionamentos oriundos de diferentes campos: pessoal, escolar-académico, social, politico ¢ cultural Do ponto de vista do ordenamento legal, a Lei de Diretri Bases da Educagiio Nacional (LDBEN) n* 9394/96, art. 62, afirma que: e Movlene Oliveira dos Santos Una ace Federal a Bata ura) ossartos uta@gralcom ‘Nano Helena Rebougas Franco Universidade Foderal da Bata \uFBA) Daniela Nascimento Verancias LUnversace do Exag0 ca Garin atic ‘a@graiicom 1) Pete pam formes fe prtenase (SL. 10) rot lnceadores da quaidace ra caso fail GRAS, 2008, re PhinoNasona do E&a¢0 vigenie BRASIL, 24), ro Pacer EREIC 2, 09. ro ce 2015 (BRASIL 20169) ca ease NEI r2, 001 shod 2018 (BRASIL, 20180 Parca GAEIGI 3 21 ver esol CHEICP 4, 15 do ‘rao de 2000, BRASIL 200%) revista entreldeias, Salvador v8, n. 2, p. 111-134, maiojago. 2019) itt (2) Neste too, comideroet & fexa ea aa Eavcee%o ent fe cade pos tomos Reslugso ‘0220 do Cansei Neeiora {ie Edveagan (ONEYCmern de Esueagan Basic (228) que sino a Ovetaes Opersconais onpomoriaes pars a raticua inl orange ra Eetnacso Inert ero exeo Funsamenta fespectuamente a 4 (use) aoe 6 (20m) aos do dace (erASL.2018) A formagio de docentes para aiuar na educagao basica far-se~a em nivel superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formacao minima pata o exercicio do magistério na educacio infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, oferecida em nivel médio, na modalidade normal, (BRASIL, 1996, p. 25) © antincio da formaco do professor da Educacao Infantil em nivel superior, em curso de licenciatura plena, é um passo importante para a profissionalizacao, a valorizagao e a carreira dos professores que trabalham com criangas de zero a seis anos de idade,’ mas essa conquista no campo da legislac3o ainda nao 6 uma garantia efetiva para que todos os interessados ingressem & finalizem um curso de graduagao plena. A presenga de docentes leigos, sem a formacdo exigida pela Lei e com formagao inadequada trabalhando em creches e pré-escola ainda é uma realidade presente nos sistemas de ensino brasileiros, Para exercicio da docéncia na Educagao Infantil, 0 curso de licenciatura plena que habilita o professor para essa atividade profissional 6 0 de Pedagogia. E esse curso requer um projeto aberto © promotor de didlogos entre 0 marco legal, o cotidiano das escolas e os conhecimentos produzides sobre a educacao das criancas. Um caminho que pode favorecer a atualizagao do projeto pedagégico e curricular dos cursos de Licenciatura em Pedagogia, com vistas ao atendimento das especificidades da Educacao Infantil, ¢ a escuta das narrativas de professoras egressas do referido curso e das criancas que sdo afetadas pelas ressonancias da qualidade da formagao experienciada pelas suas professoras ¢ pelo descompromisso do estado para com a sua educagao escolar, Diante do exposto, esse artigo se propde a analisar entrelaca- mentos entre a formagao inicial e a pratica pedagogica de professores da Educagio Infantil. Do ponto de vista te6rico-metodolégico, 0 texto esta sustentado em uma abordagem qualitativa que, segundo Bogdan e Biklen (1994, p. 16),‘[...] privilegia, essencialmente, a compreensao dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigagao [..]’, se constituindo como um estudo de cunho exploratério.De acordo com Selltiz (1967 apud GIL, 2002, p.4l, grifo do autor), esse tipo de pesquii tem: [..| como objetivo proporcionar maior familiaridade com 0 problema, com vistas a tornaJo mais explicito [..J. Na maioria 112 dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliografico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiénoias praticas com o problema pesauisado; ¢ (c) andlise de exemplos que ‘estimulem a compreensio”. (grifo do autor) Nesse estudo, realizamos, inicialmente, uma pesquisa bibliografica para conhecer a literatura produzida sobre a tematica. Em seguida, fizemos entrevistas com cinco professoras da Educagao Infantil, da rede ptiblica e privada de Salvador, que se dispuseram a participar da investigacdo, lemos as narrativas para interpreta- las, considerando 0 objetivo central do texto, e procedemos a andlise do contetido contido em cada uma das narrativas, buscando compreender as relacdes existentes entre a formagao inicial de professores ¢ a pratica pedagégica. A atividade docente é majoritariamente feminina no Brasil © esse dado se torna ainda mais evidente na Educagao Infantil. Rosemberg (1999, p. 11) afirma: A educagao infantil - tanto na vertente creche quanto na vertente pré-escola - ¢ uma atividade historicamente vinculada a «produgao humanar ¢ considerada de género feminino, tendo, além disso, sido sempre exereida por mulheres, Giferentemente de outros niveis educacionais, que podem estar mais ou menos associados a produgao da vida e de riquezas. Isto €, diferentemente de outras formas de ensino, que etam ocupagies masculinas ¢ se feminizaram, as atividades do jardim-da-infancia e de assisténcia social voltadas a infancia pobre iniciaram-se como vocagées feminin: culo XIX, tendo ideais diferentes das ocupagoes masculinas que evoluiam no mesmo periodo, Considerando o indicador género, ter cinco docentes mulheres na Educagao Infantil esta dentro do espectro histérico desse segmento da EducacZo Basica. As professoras tém uma idade média de 36,2 anos, quatro delas nasceram em Salvador ¢ apenas uma no interior do estado. Ja no que diz respeito a religiao, duas sio catélicas, uma agnéstica, uma crista evangélica ¢ uma sem opcao religiosa, o que indica a multiplicidade de religidio das docentes. Com base na categoria cor/raga estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE, 2012), as professoras se autodeclaram pretas (3) e pardas (2). Esse dado é coerente com © perfil da populagao de Salvador- aproximadamente 80% de revista entreideias, Salvador v 8,2, p. 111-134, maiojago. 2019 113 populagao negra. Sobre o estado civil, trés docentes informaram que so casadas e duas so solteiras, A renda familiar média das professoras é de RS 6,294,00, sendo que a maior renda é de RS 11.000,0 ¢ a menor de R$ 3.000. ‘Todas as professoras cursaram Pedagogia em universidades ptiblicas, na modalidade presencial, e tem pelo menos uma pos- graduagao. No que diz respeito ao tempo médio de formadas, as docentes tém oito anos e seis meses, sendo que o tempo maximo de egressas do curso de Licenciatura em Pedagogia é de 17 ¢ o minimo € de quatro anos, O tempo médio de docéncia ¢ de dez anos ¢ dois meses ¢ de sete anos e dois meses de docéncia na El Enfim, as professoras sio mulheres, negras (pretas e pardas), de religides distintas, com graduaciio em Pedagogia e pés-graduagiio em diferentes areas, além de terem uma experiéncia significativa na Area de educacao e, em especifico, na Educacao Infantil. A partir dessa compreensio, a discussio teérica sera centrada em trés topicos articulados com as narrativas das professoras, a saber: formagao inicial e docéncia, culturas da docéncia na Educacao Infantil e caminhos para uma didatica na Edueagdo Infantil. Formagao inicial e docéncia A formagao inicial de professores é uma das condigées politico- pedagégicas para a consolidacao da qualidade da Educagao Infantil. Ela vem sendo estudada em pesquisas no campo da formagao de profissionais da educa¢ao (CERISARA, 2002; COCO, 2010; COCO; GALDINO; VIEIRA, 2017; LEITE, 2002; OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2002) e pautada em orientagdes e marcos legais da educacao brasileira, como a Resolugao CNE/CP n’ 02, de 01 de junho de 2015, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formacao inicial em nivel superior (cursos de licenciatura, cursos de formagio pedagégica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formacao continuada. (BRASIL, 2015a) Assim como nos resultados das pesquisas, as entrevistadas foram undnimes em afirmar que a formagao inicial é fundamental para o exercicio da docéncia na Educacao Infantil. A professora C. (2018) narra que os dois componentes curriculares especificos da Educacao Infantil presentes na matriz. curricular do curso Pedagogia foram essenciais para a sua ago docente: “esses componentes convergiam diretamente com o que escutava, observava ¢ aprendia na escola, e muitas vezes, 14 08 textos € os trabathos produzidos eram norteadores para a minha praxis pedagégica." B, diz mais: *gostaria de ter tido a maturidade que tenho hoje para compreender e vivenciar com mais inteireza cada componente curricular" (Professora C., 2018). ‘As professoras também falam das lacunas desse processo formative inicial que foram sendo identificados apés terem iniciado a docéncia. A Professora M. P. (2018) concluiu 0 curso de Pedagogia em 2001 e afirma que faltou "...] disciplina no curriculo de Pedagogia da FACED/ UEBA que tratasse da Educagéio Infantil.” Em 2009, 0 projeto pedagégico curricular do curso supracitado foi reformulado e a Educacao Infantil passou a ter dois componentes curriculares obrigatorios: Educagao Infantil e Praticas Educativas na Educago Infantil. (UNIVERSIDADE, FEDERAL DA BAHIA, 2009) Aparecem outras queixas referentes ao curriculo e aos processos formativos vividos pelas docentes, como: dissociacio entre teoria-pritica; curriculo disciplinar com a consequente falta de articulaco entre os componentes curriculares; auséncia de discussdes mais consistentes sobre a Educacao Especial na perspectiva inclusiva; necessidade de um componente curricular que colaborasse para o “cuidar de si’, para 0 cuidado com o que acontece durante 0 trabalho (Professora J., 2018). Cuidar da professora e da pessoa da professora como politica ptiblica é uma discussio necessiria nesse cendrio de precarizacao do trabalho docente, que tem trazido como saldo 0 adoecimento dos profissionais da educagao. O processo de adoecimento do professor vem sendo nomeado por alguns autores de “mal-estar docente', Nas palavras de Esteve (1995, p. 98, grifos do autor), A expressiio mat estar docente (mataiscenseignant, teacherburnout) ‘emprega-se para descrever os efeitos permanentes, de carater negativo, que afectam a personalidade do professor como resultado das condigdes psicolégicas ¢ sociais em que exerce a docéncia, devido 4 mudanca social acelerada. Para o referido autor, as principais consequéncias do maLestar docente sao: - Sentimentos de desajustamento ¢ insatisfagio perante os problemas reais da pratica do ensino, em aberta contradi com a imagem ideal do professor. - Pedidos de transferéncia, como forma de fugir a situagdes conilituosas. revista entreideias, Salvador v8, n.2, p. 111-134 maiolago. 2019115) - Desenvolvimento de esquemas de inibicao, como forma de cortar a implicagio pe - Desejo manifesto de abandonar a docéncia (realizado ou nao) = Absentismo labora, como mecanismo para cortar a te oal com o trabalho que realiza. acumulada. mulada - Esgotamento, como consequéncia da tensio + Stress. - Ansiedade, - Depressao do eu, Autoculpabilizagao perante a incapacidade de ter sucesso no ensino. - Reagdes neursticas. - Depressoes. ~ Ansiedade, como ado permanente associado em termos de causa-efeitoa diagnésticos de doenca metal. (ESTEVE, 1995, p. 113) O tema do mat-estar docente precisa ser pauta das politicas ptblicas, bem como ser, cada vez mais, objeto de estudo ¢ de debate nos curriculos e diretrizes para a formagao inicial e continuada de professores. Recentemente, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formagao inicial em nivel superior e para formagao continuada - Resolugdo CNE/CP n’ 2, de 01 de julho de 2015a - foram atualizadas pelo Conselho Nacional de Educagéo, em um cenario de muito debate com especialistas e profissionais da educagao, mas o tema do mal-estar docente foi pouco evidenciado. Esse documento trata de concepgées, principios, perfil profissiografico dos estudantes, estrutura e organizagao do curriculo para a formagao dos professores da Educagao Basica As diretrizes supracitadas abrem possibilidade para a criagio de cursos de Licenciatura em Pedagogia especificos para a Educagao Infantil. Ter um curso com essas caracteristicas é 0 que se almeja para a formacao de estudantes que desejam exercer a docéncia com criangas de zero a seis anos de idade e para aqueles professores que ja sao docentes de criangas e experienciam a sua formagao inicial, simultaneamente. Como a existéncia de cursos de Licenciatura em Pedagogia para a Educagao Infantil ainda 6 rara no Brasil, o que temos acompanhado 6 uma ampliacao “timida" do mimero de componentes curriculares, especificos para esse segmento na matriz curricular dos cursos, como vimos no caso da Universidade Federal da Bahia, (2009) Sem ditvida, essa é uma iniciativa importante, mas ela nao da conta de trabalhar com as especificidades da Educagao Infantil Sao alteragdes pontuais e de cunho disciplinar, pois a Educagao 116 Infantil continua sendo invisibilizada na maioria dos componentes que integram a matriz curricular dos cursos de Licenciatura em Pedagogia. Estuda-se, por exemplo, politicas ptiblicas, curriculo didatica, mas nao se aborda a Educagao Infantil Gatti (2010, p. 1.368), desde a primeira década do século atual, vem mostrando em seus estudos essa invisibilidade da Educacao Infantil nos cursos de Licenciatura em Pedagogia. Da anilise feita por ela dos curriculos de 71 cursos de Licenciatura presencial no Brasil, apenas 5,3% do conjunto sao disciplinas relativas a Educagao Infantil. Ela ainda complementa dizendo que: © estudo das ementas das disciplinas revela, antes de tudo, maior preocupagao com o oferecimento de teorias politicas, sociologicas e psicol6gicas para a contextualizacao dos desafios, dot importante para o trabalho consciente do professor, mas nao suficiente para suas atividades de ensino ibalho nesse nivel € nessas modalidades de ensino. Isto é Ento, a pergunta que precisa ser feita hoje é: quem esta formando, na pratica, 0 professor da Educagao Infantil? Ess dos questionamentos que tem nos mobilizado e, por essa razao, trouxemos essa provocagao para que ecoe ¢ alcance diferentes instancias ¢ setores da sociedade brasileira que debatem e estudam a formacio inicial de professores As mairizes curriculares dos cursos de Licenciatura em Pedagogia tem como 0 foco a docéncia, a pesquisa e a gestao- Art. 10 da Resolugie CNE/CP n° 2, de 01 de julho de 2015a. & uma proposta de formacao inicial de professores ampla e de carater generalista, pois mesmo que a docéncia tenha centralidade no processo formative, em 3.200 horas (minimo) as especificidades de cada etapa da Educagao Basica e modalidades da educacao permanecerao nas bordas do desenho dos curriculos e das praticas pedagégicas experienciadas na graduagao, E preciso trazer a Educagao Infantil e a crianga com suas infancias mais para dentro do curso de Licenciatura em Pedagogia, como mencionaram Barbosa e Richter (2015), em suas reflexes sobre o curriculo da Educagao Infantil no Brasil, ao discutirem as indicagdes nacionais italianas para 0 curriculo da escola da infancia de 2012 2éum Talvez uma das grandes contribuigdes do documento italiano de 2012 seja justamente a de permitir pe um documento curricular para as criancas, uma relevante ar, antes de revista entreideias, Salvador v8, n.2, p. 111-134, maiolago. 2019 117 referencia para a formacao docente, pois 0 mesmo aponta para a discussfio da relaglo da escola com a cultura, com a sociedade, as relacdes com as familias e a comunidade, didatica, planejamento, as reflexées sobre organizagio curricular e os campos de experiéncias. Temas que sao fundamentais para a exigéncia de formagiio do professor de educaglo infantil, (BARBOSA; RICHTER, 2015, p. 196) Assim como Barbosa e Richter (2015), a Professora M.P. (2018) faz referéncia a essa tematica ao tratar da especificidade da docéncia na EI: A docéncia em educagao infantil requer conhecimento da infioncia & suas especificidades. Para ser docente da educagdo infantil é preciso ter clareza da esperificidade do seu trabatho, do seu pidlico, queé diferente dos outros niveis da educagdo. O docente precisa ter a compreenstio da crianga como sujeito de direitos, que precisa ser respeitado & considerado em sua fase de vida que tem importdncia singular A formacao inicial especifica para professores da Educacao Infantil é um projeto urgente, que requer negociagses de diferentes naturezas entre diversos segmentos educacionai tempo, um desvio das recomendat que tém influenciado a formulagao, a execugao e a avaliagao das politicas piblicas educacionais brasileiras no campo da formagao, valorizacao, profissionalizagao e carreira dos professores. Os cortes, dos recursos financeiros para educacao, a pressio pela substituic e, ao mesmo .s de organismos internacionais da formagao presencial pela formacao a distancia, a precarizacao do trabalho docente, a burocratizagao dos processos pedagogicos, as avaliagdes do desempenho profissional do professor, o adoecimento fisico e psiquico dos prof (historica) que nao foi devidamente atendida durante décadas no Brasil em relacdo a formacao inicial de professores. ores sao sinais de uma urgéncia Culturas da docéncia na educagao infantil A cultura da docéncia (SANTOS, 2017) caracteriza-se por uma teia de fios que pode ter sua tessitura iniciada na infancia, nas brincadeiras de faz de conta - brincadeiras de ser professora, brincadeiras de escola~ e/ou, na adole de ser professora se manifesta em at pessoas com dificuldades para aprender algum contetido, como ncia, quando o brincar lades de apoio escolar para 118 narrou a professora C. (2018) que wabalha na Educacao Infantil na rede privada de Salvador: Lembro de mim, ainda adolescente ¢ das minhas amigas ¢ vizinhos me solicitando para auxilic-los em aulas de reforco, para screm aprovados nas provas de recuperacao do ano letivo, Para les, ‘eu explicava de wna maneira que favorecia o entendimento dos assiunios ¢ conteiidas’ Ser uma facilitadora no percurso das aprendizagens dessus pessoas, ser sensivel com suas inquictagdes, dhividas dificuldades e poder ver os seus sucessos diante desses fis, despertou o desejo para a docéncia. |.) So esses e outros fios produzidos pelas experiéncias pessoais, escolares-académicas, profissionais, sociais, politicas e culturais que vdo constituindo uma espécie de matriz referéncia aberta € disponivel em cada pessoa, que servird de inspiragao para © seu exercicio profissional, quando adulto, Santos (2017), em seus estudos, diz que cada professor tem um DNA da docéncia © que este foi sendo arquitetado ao longo da vida com suas experiéncias internas e externas. Para ela, os genes desse DNA sio marcas impressas naquilo que ha de mais profundo e intimo de cada sujeito, passando pelas dimensdes corporais, cognitivas, psiquicas, relacionais e sociais. ‘As marcas (genes) [da docéncia] sao sentimentos, afetos, elogios, siléncios, olhares, gestos, expressbes, incentivos resultantes das experiéncias do professor que foram impressos na constituicdo de seu eu ao longo da vida". (SANTOS, 2017, p. 163, grifo nosso) As mareas que constituem 0 DNA da docéneia de cada professor nao desaparecem de um dia para 0 outro, tampouco com a virada de um ano letivo para 0 outro, com a mudanga de uma escola para outra, com a filiagao a um novo modelo pedagégico, com a migragao para um novo um grupo de criangas da creche ou da pré-escola, Elas acompanham o professor, podendo ser atualizadas, ressignificadas, abandonadas temporariamente, mas nao se apagam de sua matriz referéncia. A Professora M. P, (2018) atesta como essas marcas estdo impressas em sua histéria de vida: Acho que jd nasci professora, gosto da docéneia. A vinda para a Educagio Infantil acontecen com a mudenea da oferta do ensino fundamental na unidade escolar onde trabalhava, transformando escola somente de El. Desta forma fui ficando ¢ me apaixonando, revista entreideias, Salvador v8, n.2, p. 111-134 maiolago. 2019 119) A cultura da docéncia, portanto, é tecida nos percursos de vida, com as experiéncias pessoais-profissionais ¢ saberes dos professores, com as imagens de crianga que cada um tem, com os conhecimentos construidos na trajetéria escolar-académica, com referenci is tedricos escolhidos conscientemente ou impostos por meio de normativas dos sistemas de ensino ou de outras fontes, com as condigdes de trabalho e de funcionamento da escola, Corroborando com essa ideia, Tardif (2002, p. 136) afirma que ‘...] 0s professores utilizam, em suas atividades cotidianas, conhecimentos praticos provenientes do mundo vivido, dos saberes do senso comum, das competéncias sociais’. Cada professor tem o seu saber-fazer e sdo esses diferentes modos de saber-fazer na Educagao Infantil que matizam as culturas da docéncia, que entrelagam singularidades e semelhancas no trato com 0 conhecimento, com as criangas e com as didaticas vividas no cotidiano. A cultura da docéneia na Educagao Infantil ainda é fortemente influenciada por concep¢des oriundas dos referenciais de Ensino Fundamental que se tem no Brasil e por um projeto de educagao financiado por setores da sociedade que compreendem a escola como o lugar de formacao de mao de obra, sem a reflexao, a criticidade e a autonomia, elementos fundantes do ato educativo ¢ de uma educagao democratica.(SANTOS, 2017) Essa é uma cultura que esta enraizada tanto nas praticas pedagégicas na Educagao Infantil como nas politicas publicas, projetos ¢ agdes que insistem em ver a crianga apenas como niimero estatistico, como um “estudante” que esta na escola para aprender o que Ihe 6 ensinado, de forma diretiva e descontextualizada. As rotinas rigidas, © controle excessivo das atividades das criangas, © tempo escasso para o brincar, a organizacao das experiéncias das criancas por areas de conhecimentos sao sinais de como esse projeto de educacao vem sendo tecido no cotidiano da escola, produzindo curriculos adultocéntricos, marcados pelo que Freire (1987) chamou de educacao bancaria e focados nos resultados do desempenho escolar € profissional, das criancas e dos professores, respectivamente. Mesmo com os avancos no Brasil na formulacio de politicas puiblicas para a Educagao Infantil, traduzidas em orientacées, diretrizes e agées, até o impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016, diferentes concepgdes de escola continuam em disputa na sociedade brasileira, Essa 6 uma arena politica complexa que requer, cotidianamente, a defesa de uma educagao para as criancas 120 pautada em principios éticos, politicos e estéticos, que considere a crianga como um sujeito histOrico ¢ de direitos, rica de iniciativas, potente e competente, que tenha o professor como o profissional responsavel pelo trabalho pedagégico, que a educacao tenha a finalidade de garantir o desenvolvimento integral da cri: valorizando suas experiéneias ¢ linguagens na tessitura do curriculo eda docéncia na Edueagao Infantil Nas tiltimas décadas, temos observado, no Brasil ¢ no mundo, um movimento, ainda inicial, mas potente, de incorporacao de novos fios na tessitura das culturas da docéncia na Educagao Infantil, Um deles é 0 de reconhecimento da crianga como um sujeito capaz de aprender, de se comunicar, de intervir no mundo, produzindo culturas e coisas surpreendentes, que nos encanta e nos encoraja para continuar esse movimento de escutar cada vez mais as criancas ¢ 0 que elas tém a nos dizer. Para Tardos e Szanto- Feder (2011, p. 41), “Ha cada vez mais lugares onde a crianca é percebida de outra maneira: ativa por si prépria e competente desde o nascimento, rica de iniciativas e de interesses espontancos pelo que a rodeia” Outro fio tambem vem sendo evidenciado ¢ o da escuta da crianga no cotidiano da escola. Para Carlina Rinaldi (2016, p. 237), “Escutar significa estar aberto a diividas ¢ a incertezas. Essa escuta significa estar aberto ao inesperado, ¢ muitas vezes a entrar em crise, a aceitar frustracao”, E quem exerce a docéncia com crianga sabe que as respostas “prontas” ndo dio conta de responder o que clas querem saber. Escutar uma crianga é nao ter respostas para as todas suas indagac6es e aprender junto com ela, é permitir que ela pergunte mais e mais, porque os seus “por qués" sao infinitos, porque a curiosidade, a criatividade e a inventividade sao ferramentas que todas as criangas tém para conhecer, aprender, pai nga, ipar, expressar-se e relacionar-se. A maioria das professoras pesquisadas fala sobre a escuta das criangas enquanto sujeitos de direitos, competentes e cheios de curiosidade, bem como sobre as aprendizagens construidas coletivamente. A professora C. (2018) nos diz: © percurso experienciado com as eriangas so embasados peta escuta, pelo respeito as suas singularidades ¢ pela participagio aativa delas nesse processo de muitas aprendizagens, Descentralizar minha atuagdo € APRENDER com as criangas é a chave para uma praxis pedagdgica democrética ¢ respeitosa, comigo ¢ com o revista entreideias, Salvador, v.8,n.2, p. 111-134, malolago. 2019 121 outro. A escola na qual trabatho, ha seis anos, se faz um espaco especial justamente por conwergir com a vez € a voz das criange: onde cada passo pedagdgico, é direcionado pela escua ¢ observacdo global dos pequenos. Ja professora M.P (2018) narra que em seu contexto de trabalho “a omganizacdio do trabalho pedagdgico é coletiva, se pensa na inféincia, mas ainda néo tem uma escuta da crianga muito atenta, embora valorize as suas necessidades em diagndsticos feitos pelos docentes” A construcao da escuta sensivel entre 0 professor ¢ as criancas fortalece os vinculos e as relacdes de afetividade entre eles, 0 que colabora para um processo formative sensivel, democratico, pautado na alteridade, no respeito e no reconhecimento da crianga como um sujeito historico, que se expressa através de multiplas linguagens. Cerqueira e Sousa (2011, p. 17) também sinalizam a importancia da escuta sensivel, afirmando que: Esse tipo de escuta acontece entre a crianga que fala eo adulto que ouve, possibilitando uma maior aproximagao entre eles. ‘Também propicia o desenvolvimento integral do sujeito através, de uma relacdo reefproca, isto é, 0 reconhecimento do outro a partir de s Em um sentido diferente do que tratamos acima, a Professora M. (2018) narra: “trabalho em uma escola piiblica ¢ tenho que seguir algumas determinacoes gerais, mas consigo organizar um trabalho voliado para as necessidades da turma ede cada aluno. Isso é feito sempre que possivel”. No contexto dessa escola, fica evidente, pela narrativa da professora, que a escuta senstvel ainda no ocupa uma centralidade na pratica pedagégica e que as determinagées dos drgaos executives responsaveis pela educagao interferem tanto na organizagao do trabalho pedagégico como na qualidade das experiéncias vividas pelas criangas e professoras no dia a dia da De acordo com Rinaldi (2016, p. 237), "[...] escutar das atitudes mais importantes para a identidade do ser humano, comegando no momento do nascimento”, Escutar a crianca, portanto, ndo pode ser uma agao restrita ao professor no contexto da escola, Aqueles que esto fora da escola (parlamentares, prefeitos, gestores ptiblicos, conselheiros da educacdo, dentre outros) podem e devem cambiar suas atitudes em relagao a escuta das criancas, principalmente, quando estado legislando e tomando cola. uma 122 decisdes relacionadas a esses seres humanos de pouca idade ¢ aos profissionais que trabalham com eles Escutar a crianga passa também pela atualizacao do papel do professor e pelas filiagdes tedrico-metodolégicas que ele se inspira para organizacao do trabalho pedagdgico no cotidiano da escola. Quando o professor esté aberto para escutar, esta aberto as diividas © as incertezas, como mencionou Rinaldi (2016), ele diminui o uso do ‘controle remoto” que tem nas maos para dirigir as criancas seguindo as atividades contidas na rotina e passa a usar mais uma “lupa” para observar 0 que elas estao fazendo, dizendo, criando, inventando em um contexto planejado intencionalmente, por ele, com diferentes objetos, brinquedas, artefatos, aderecos, fantasias, materiais estruturados ¢ ndo-estruturados para que a crianga escolha, em alguns momentos do turno e/ou dia, com o que brincar ¢.com quem fazer suas exploragées, enquanto aprendem e ampliam seus conhecimentos. Para a Professora R. (2018), a escuta e o olhar constituem especificidades da docéncia na El: Escutac olhar atentos trabathando o tempo todo em uma observacao continua em cada situagio do cotidiano da crianca, disposigao para estar de fato no chao da escola com as eriangas, capactdade para construciio de vinculo afetive, flexibilidade total deniro das agaes delineadas, recomhecer a crianga como sujcito altamente capes de conducir as suas aprendizagens, respettar os interesses das criangas, dialogar com as criancas com palavras, gestos ¢ olhares todo 0 tempo, conhecer 0 mdximo possivel coma se dd. o desenvolvimento infantil , inclusive na faiza etdria em que esteja trabathando Esses novos fios que esto movimentando as culturas da docéncia na Educacao Infantil abrem novas oportunidades de reflexdo sobre 0 que significa ser professor de crianga. A docéncia pressupde relacao einteracdo entre seres humanos, como mencionam Tardif e Lessard (2005, p. 33): "[...] trabalho sobre e com os seres humanos leva antes de tudo as relagdes entre as pessoas, com todas as sutilezas que caracterizam as relagdes humanas’, Martins Filho e Delgado (2016, p. 9) também compartilham dessa compreensao sobre docéncia, quando afirmam que "[...] 0 exercicio da docéneia envolve nao somente as professoras, mas os bebés, as criangas bem pequenas e suas culturas constituidas em pratica sociais.” As culturas da docéncia na Educagdo Infantil podem ter suas origens nas brincadeiras de faz de conta do professor, mas sfo as revista entreideias, Salvador v 8,2, p. 111-134, maiolago. 2019 123 criangas, com as quais ele exerce 0 seu oficio profissional, que mais nutrem os sentidos do ser professor € as reflexdes sobre a Educagao Infantil. A compreensao de que professores aprendem a ser professor no encontro com as criangas 6 uma descoberia recente em nossa literatura e carece de mais estudos para propagar essa ideia e quica produzir ecos também nos cursos de Licenciatura em Pedagogia Outro fio presente nas culturas da docéncia e nas narrativas das professoras 6 0 dos desafios da docéncia, So muitos ¢ os mais citados pelas entrevistadas foram a formagao inicial, a profissionalizacao, 0 salario, a carreira e a necessidade de valorizagao da Educagao Infantil ede seus profissionais. A professora J. (2018) em sua fala diz que os maiores desafios sao 0 “saldrio ¢ a ualorizagao do fazer pedagdgico” No Brasil, segundo Jacomini, Alves e Camargo (2005, p 21), quando comparada a média salarial de profissionais com nivel superior, os professores recebem salarios inferiores aos profissionais do setor privado e bastante inferiores aos demais servidores ptiblicos. Além disso, os mesmos autores, levando em consideracao os dados da Organizagao para a Cooperacdo e Desenvolvimento (OCDE) de 32 paises, afirmam que ‘Os salarios dos professores que trabalham com criancas pequenas si0, em geral, menores que os salarios de professores que trabalham com adolescentes ou jovens e ainda menores em relagao aos saldrios dos demais trabalhadores”. (JACOMINI; ALVES; CAMARGO, 2005, p.7) E, cabe destacar que a média salarial dos professores brasileiros vem seguindo a tendéncia da maioria dos paises da OCDE, conforme dito pelos referidos autores. A Professora M. (2018) coloca: “[...] Percebo a necessidade de wna formagdo que possibilite ao educador compreender como 0 aluno aprende, ou como cada aluno pode aprender [...]. As vezes, me pego fazendo coisas que ndo sei bem se € 0 certo. Isso é falta de formacao consistente”, JA a Professora M.P. (2018) nos diz 0 desafio ¢ colocar em prética os conhecimentos frente as grandes dificuldades enfrentadas cotidianamente como: falta de infraestrutura adequadia, de bibliotecas, além de tempo para estudo ¢ preparagao de materiais pedagdgicos como suporte. Na escola fala muita coisa, inclusive espago para a crianga brincay, correr, movimentay-se.como deveria,viver esta reatidade & um grande desafio. As duas professoras destacam a auséncia de investimento na formagao dos profissionais que atuam na EI como um dos desafios. 128 Alem disso, pontuam também a necessidade de espago fisico e de infraestrutura adequados para esse segmento, bem como de materiais didatico-pedagogicos ¢ outras questdes pertinentes ao trabalho pedagégico. Seguindo nessa mesma direcao, a professora R. (2018) diz que 0s desafios da docéncia se localizam na [J valorizagao da Et pelos governantes, pela sociedade, pelas instituicdes de ensino, pelas familias ¢ pelos profissiona's de educagiio que trabalham ou nao com a primeira infineia, na producto de pesquisas nesse campo de atwagdo, que precisa crescer bastante, no investimento para a formagio continuada dos profissionais, na infraestrutura dos ambientes que atendem a Educagéo Infantil, nos materiais disponibilizados para desenvolvimento dos trabalhos, E necessario também que os professores que atwem na primeira infiincia o fagam por voniade prépria, por conhecer e gostar de estar ‘atuando nessa modalidade e néo por motivos outros que no sejam 0 suficiente estimuiladores para uma dedicagtio indispenscivel eessencial A falta de valorizagao dos profissionais da EI é uma espécie de mantra repetido pelas professoras entrevistadas, uma vez que vivem na sociedade e em seu contexto de trabalho o dissabor de nao terem o seu trabalho reconhecido e respeitado, Além disso, algumas delas trabalham em escolas com infraestrutura inadequada ¢ com falta e/ou insuficiéncia de materiais para as experiéncias ¢ exploragées das criancas, tornando o trabalho pedagégico e as aprendizagens frageis. A Professora C. (2018) reitera os elementos ja mencionados pelas outras professoras para tratar da precarizacdo docente e em especifico dos profissionais da BI. Ela afirma que o maior desafio mesmo é ser educadora e ter trabalhos extraclasse para o final de semana, o que impacta diretamente na sua qualidade de vida Escother ser educador dentro do nosso sistema de ensino & um grande desafio, Voltar esse olhar para a infiencia é encontrar muitos percaleos frente a um governo que ndo enxerga 0 profissional de educagito, evidenciando muitas desvatorizagdes, principalmente or oferecer saldrios que nao condlizem com nossa atwagdo. Na minha caminhada, um grande desafio vivido é a minha tuta pela naturalizagdo que se formou diante da ocupagdio do professor da educagéio infantil também nos fins de semana |.) revista entreideias, Salvador v8, n.2, p. 111-134 maiolago. 2019125) Diante do cendrio evidenciado sobre os fios das culturas da docéneia na Educacao Infantil, num movimento complexo de entrelacamento entre a formagao inicial e as praticas pedagégicas, urgente e necessdrio apontar caminhos para uma didatica propria Caminhos para uma didatica da educagao infantil No exercicio da docéneia com as criancas de zero a seis anos de idade, as especificidades do trabalho pedagégico se constituem também pelo modus operandi das praticas pedagégicas. Cada faixa etaria exige uma agao pedagogica voltada para as singularidades ¢ potencialidades das criangas ¢ isto requer didaticas proprias que possibilitem o desenvolvimento da identidade, da autonomia ¢ das miiltiplas linguagens de cada uma delas. Na visdo de Libaneo (1992, p. 28), “[...] a didatica se caracteriza como mediagao entre as bases teorico-cientificas da educagao escolar ¢ a pratica docente. Ela opera como que uma ponte entre 0 'o que’ ¢ 0 ‘como’ do processo pedagégico escolar”. No campo da Educagao Infantil, nomeamos de didatica os diferentes modos como criangas e professores, em relacdo entre si € com as coisas que est3o no mundo, aprendem e tecem seu: percursos formativos no cotidiano da escola, bem como o repertério de ferramentas e estratégias que o professor e a crianga langam mao para fazer suas exploragGes, investigagdes € construir seus conhecimentos. Isso implica (re)pensar concepgdes (educacao, curriculo, infancia, crianga, desenvolvimento infantil, cultura, avaliagao...), principios tedrico-metodologicos, estratégias e oportunidades de aprendizagens. Uma didatica da Educagao Infantil que considere a crianca como um sujeito competente, rico de ini pressupée ciativas e de curiosidades a) Escuta da crianga; 1b) Reconhecimento das poténcias ¢ necessidades da crianga; ©) Participactio da crianga na organizacdo do trabalho pedagdgico € dos espacos-ambientes ¢ tempos; 4d) Alianga entre as familias das criangas, os professores, os gestores a comunidade para a potencializagao das experiéncias da €) Atividade iniciada pela ctianga ¢ atividade proposta/mediada pelo professor; 126 £) Criangas planejando, fazendo e revendo suas brineadeiras & outros projetos; g) Observacao, planejamento/projetacao, investigacao, problematizagio, contextualizacao, sistematizagio das vividas no cotidiano da escola, tanto das eriangas experién ‘como dos docentes; h) Reconhecimento das experiéncias das criancas como fontes de gem e de desenvolvimento, incluindo aquelas que nio ‘stas no plano diario do professor; acao de diferentes materiais, fantasias, aderecos, brinquedos, objetos, instrumentos musicais, livros de literatura outros géneros textuais, suportes textuais...; J) Vivéncia de atividades por meio de projetos de trabalho (curto, longo, prazo), sequéncias didaticas e atividades integradas envolvendo os campos de experiéncias ¢ outras linguagen 1k) Realizagao de atividades: = noespago interno ¢ externo (sala de re = mais calmas; mais movimentadas; ~ mediadas pelo professor; iniciadas pelas criangas; com criancas de diferentes idades/grupos; da mesma idade/erupo; ~ em pequenos grupos; em grupos maiores; - comdiferentes materiais (manufaturados/ naturais/ ncia/escola/cidade); artesanais; estruturado/ndo estruturado); ~ com as criangas em diferentes posighes corporais (deitadas em pé; sentadas; em movimento). ~ Eisses sao principios te6rico-metodolégicos de uma didatica da Educacdo Infantil claborados com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educagao Infantil (BRASIL, 2009) e nos estudos de Falk (2016) e Rinaldi (2016), que reconhecem que a centralidade do planejamento curricular éa crianga em relacdo com as pessoas. com as coisas do mundo. Consideracoes finais Neste artigo, apresentamos discussdes sobre a docéncia na Educagao Infantil buscando evidenciar, numa perspectiva critica, as interfaces e os dilemas entre a formacao inicial e a pratica pedagégica com criangas de zero a seis anos de idade. A partir das narrativas das cinco professoras, encontramos dilemas e desafios que se situam, principalmente, na relacao entre a formacio inicial e io da docéncia. A pesquisa mostrou que quando a formacao inicial deixa lacunas no que tange a construgao de conhecimentos fundamentais para o trabalho pedagogico em creches e pré-escolas, revista entreideias, Salvador v8, n.2, p. 111-134, maiolago. 2019 127 as dificuldades ¢ os desafios se apresentam de forma mais potentes no cotidiano da escola. A formagao inicial, certamente, nao dara conta de alcangar todas as complexidades que envolvem o ato de sidades do sujeito para a sua atuacao profissional, mas ndo podemos abrir mao de um curriculo que traga mais para dentro da universidade e dos processos formativos a Educagao Infantil, as criancas e suas infancias. Nas narrativas das professoras, apareceram desafios educar e as nec relacionados a precarizacao do trabalho docente, aos baixos salarios, a desvalorizagao dos profissionais da educacao, em especial da El. A pesquisa evidenciou também que os sentidos de ser professora vém sendo mais nutridos pela relagao estabelecida com as criangas, através das trocas de experiéncias no cotidiano escolar, do que pela aco do Estado em si como ente responsavel pela formacao e pela garantia das condigGes de trabalho para a construcao de uma educagao de qualidade As relagoes entre a docéncia ¢ a formagao de professores podem ser vistas nas concepgdes das politicas publicas educacionais € das Diretrizes Curriculares Nacionais para a formacdo inicial ¢ continuada de professores, nos projetos pedagégicos e desenhos curriculares dos cursos de Licenciatura em Pedagogia e nas praticas pedagégicas narradas pelas professoras egressas do referido curso, que apontam fragilidades do curriculo no que diz respeito a construgao de conhecimentos, numa perspectiva tedrico-pratica curricular, a presenca da Educagao Infantil na matri Mesmo que sinais de mudaneas ja tenham sido vistos nos curriculos dos cursos de Licenciatura em Pedagogia, com a sobre a ampliago do niimero de componentes curriculare: Educagio Infantil, esta etapa da Educacio Basica ainda carece de maior visibilidade na formagao inicial de professores ¢ de uma atencdo voltada para as especificidades que o trabalho pedagdgico com criangas exige, uma vez. que a formacao se coloca como uma das estratégias para a consolidagao da qualidade da Educagao Infantil. Os dados colhidos revelaram ainda a necessidade de uma discussdo mais aprofundada e consistente na formacao inicial sobre Educacao Especial na perspectiva inclusiva e da criagio de um componente curricular que tenha como foco o “cuidar de si’, ou seja, 0 cuidar do professor e da pessoa do professor, Profissional que precisa ser mais bem cuidado para enfrentar os desafios sociais, 128 econdmicos, politicos e educacionais da atual conjuntura do pais presentes na escola ¢ em sua vida. No que tange as culturas da docéncia na Edueagao Infantil, velhos ¢ novos fios esto sendo usados para a tessitura da pratica pedagégica. Visualizamos professoras tecendo suas praticas pedagogicas com fios do curriculo do Ensino Fundamental, mas também com novos fios do curriculo da Educacao Infantil, os do reconhecimento das poténcias ¢ da escuta da crianga. Buscando dar visibilidade e fortalecer e docéncia, apontamos caminhos para a construgao de uma didatica da Educacao Infantil fundamentada em principios teérico- metodolégicos que colocam a crianga, sujeito hist6rico e de direitos, no centro do planejamento curricular. Para finalizar, concluimos que a docéncia na Edueagao Infantil € experienciada pelos professores e pelas criancas em contextos desafiantes, tanto do ponto de vista da intencionalidade e do alcance das politicas piiblicas de formacao de professores como da compreensao das complexidades da pratica pedagégica. s novos fios das culturas da Docencia en la educacién infantil: entrelecciones entre la formaci6n inicial y la practica pedagégica Resumen: Bl presente articulo discute la docencia em la Educacion Infantil (ED) y busca evidenciar, desde una perspectiva critica, las interfaces y los dilemas entre la formacién inicial y la practica pedagdgica com nifios de 0a 6aiios de edad em el cotidiano de escuelas de enseianza Educacion Infan- til. Se tomaron los estudios de Rosemberg (1998), Kishimoto (1999; 2002), Kramer (2002; 2005), Gatti (2010; 2011), Santos (2017), Tardif (2002; 2005), ‘Tardos ¢ Szanto-Feder (2011), Rinaldi (2016), Martins Filho ¢ Delgado (2016) y las narrativas de cinco profesoras de la red piiblica y privada de Salvador que ejercen la docencia em la El para analizar entrelazamientos entre la formacion inicial y la practica pedagégica. Desde el punto de vista teérico- -metodologico, se parte de um abordaje cualitativo de cuio exploratorio, com la utilizacion de investigacién bibliografica y entrevista. Entre los hallazgos de Ia investigacion destacan la formacién como una de las estrategias para laconsolidacién de lacalidad de laEdueacién Infantil, la comprensién del nino como aquella que nutre los sentidos del ser profesor y la demanda de una didctica de la Fducacién infantil que coloque al nifio em el centro de la planificacion curricular y la considere como um sujeto de derechos, compe- tente, rico de iniciativas y de curiosidades. Se concluye que la docencia em la Educacién Infantil todavia es experimentada por los profesores y los nifios en contextos desafiantes, tanto desde el punto de vista de la intencionalidad y del alcance de las politicas piblicas de formacién de profesores como de Jas complejidades de la practica pedagégica Palabraselave: Docencia. Edueacién Infantil. Formacién Tn Pedagogica. Profesor-nino 1. Practica revista entreideias, Salvador, v.8,n.2, p. 111-134, malolago. 2019 129) Teaching in early childhood: the interfaces between the initial formation and the pedagogical practice Abstract: This article discusse steaching in Early Childhood Education, seeking to uncover, in a critical perspective, the interfaces and dilemmas between the initial formation and the pedagogical practice with children from 0 to 6 yearsof age in the daily life of preschools. The studies of Ro- semberg (1999), Kishimoto (1999; 2002), Kramer (2002; 2005), Gatti (2010; 2011), Santos (2017), Tardif (2002; 2005), Tardos and Szanto-Feder (2011), Rinaldi (2016), Martins Filho and Delgado (2016) andthenarrativesoffivetea chersfromSalvador’spublicandprivateschool network whoteach in the Early Childhood Education were taken into consideration in order to analyze the interweaving between initial formation and pedagogical practice. From a theoretical-methodological point ofview, this study is based on a qualitative exploratory approach, with the use of bibliographical research and interviews. Among the research findings, training shows up as one of th estrategies for consolidating the quality of Early Childhood Fducation, the need to look at children as those who nurture the senses of teachers and the demand for an educational didactics that places the children in the center of curricular planning and that considers them as a subject of rights, competent, rich in initiatives and curiosities. ‘The conclusion points out that teaching in Barly Childhood Education is still experienced by teachers and children in challenging contexts, both from the public policies for teacher's formation intentionality and scope as from pedagogical practice complexities. Keywords: Teaching. Child Education. Initial Formation. Pedagogical Prac- tice. Teacher-child Referéncias BARBOSA, M. C.; RICHTER, S. 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