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Copyright © da Editora CRV Lida, Editor-chefe: Railson Moura Diagramagio e Capa; Diagramadores e Designers da Editora CRV Mustragao de Capa; Carolina Cristina dos Santos Nobrega Revisio: Analistas de Escrita e Artes da Editora CRV DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAGAO NA PUBLICAGAO (CIP) CATALOGAGAO NA FONTE Bibliotcciria responsivel: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506 Liss Linguagens na educagio fisica escolar: diferentes formar de ler o mundo ~ Volume 44 / Daniel Teixeira Maldonado, Uiré de Siquera Faris, Valilene Aline Nogucia (organizadores) — Curitiba: CRY, 2021, 2 p. (Fducagdo Fisica: Formac para 0 cotidiano escolar; organizagio Daniel Carrera Filho) Bibliogratia ISBN Colegdo 978-85-444-0490-4 ISBN Volume Digital 978-65-5868-506-7 ISBN Volume Fisico 978-65-5868-504-3 DOI 10.24824/97865S868504.3, 1. Edueagdo 2. Educagio fisia escolar I. Maldonado, Daniel Teixeira, org, I. Farias, Und 4d Siqueira. org Il, Nogueira Valdilene Aline. org. IV. Tito V. Série, cou 31.214 cpp 371.12 796.017 Indice para catélogo sistematico 1. Edueagofisia 371.12 ESTA OBRA TAMBEM ENCONTRA-SE DISPONIVEL EM FORMATO DIGITAL. CONHECA E BAIXE NOSSO APLICATIVO! ‘BSPONVEL NO Google Play 2021 Foi feito 0 depésito legal conf, Lei 10.994 de 14. Proibida a teprodugdo parcial ou total desta obra sem autorizaglo da Editora CRV ‘Toads 0s direitos desta edigGo reservados pela: Fditora CRV Tel. 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T. Documentos de identidade: uma introdugio as teorias do Belo Horizonte: Auténtica, 1999. SOARES, C. L. Edueagao fisica escolar: conhecimento e especificidade. Revista Paulista de Educagio Fisica, /S. /.),n. supl. , p. 6-12, 1996. SOARES, C. L. er al. Metodologia do Ensino de Educasio Fisica, So Paulo: Cortez, 1992. SOUSA SANTOS, B. Pelas Mios de Alice: 0 social e o politico na pés-modernidade, Porto: Afrontamento, 1995, WILLIAMS, J. Pés-estruturalismo, Petrépolis-RJ: Vozes, 2012, NAS DOBRAS DO MUNDO: linguagem e ceducagao fisica em didlogo com Paulo Freire Elaine Prodécimo Gabriel da Costa Spolaor Arnaldo Sifuentes Pinheiro Leitdéo as dobras “o gingar do corpo das gentes andando nas ruas, sew sorriso disponivel {d vida; os tambores soando no fiundo das noites; 0s corpos bailando ao fazé-la, “desenhando 0 mundo” (FREIRE, 1978, p.9) No didlogo com esta epigrafe! escrita por Paulo Freire, presente em uma de vas sobre as experigncias pedagégicas no continente africano, tomamos ‘ntate © nos encantamos com a sua letura de mundo produzida na relago com 0 ‘vontex:o. No modo postico de organizar as palavras, de entrelagé-las com a reflexio «ly situago vivenciada, o autor demonstra sensibilidade ao perceber 0s corpos, suas ‘presides e os sentids desses atos brincantes no que chama de “desenhar o mundo” Nesta imagem, compreendemos que esses corpos que dangam, que gingam ao som dios tambores, que andam pelas ruas, nas singularidades de suas existéncias acentuam |. poténeia do ato expressivo compartilhado, pois & no encontro ¢ no dilogo com 0 ‘outro que temos as possibilidades de desdobrar outros modos de vida. Paulo Freire (1921-1997) foi um dos educadores mais influentes no Brasil eno ‘nundo, seus livros foram traduzidos em mais de 14 idiomas. A extensa obra freireana jem como base 0 didlogo, a problematizagio, a conscientizagio, a humanizagio como Jase do processo educacional, e, com isso, a busca da superacio da opresstio que foi construida histériea e socialmente. Paulo Freire prope, em sua pedagogia, e em suas ‘niltiplas denominagdes: do oprimido, da libertagao, da transformagio, da autonomia, «la esperanga, da pergunta; que a leitura do mundo precede a leitura da palavra, que Jinguagem e realidade se prendem dinamicamente e s6 podem ser compreendidas na ‘clagZo com o contexto singular do agir existencial (FREIRE*, 2011). ‘Em momento de ampliagio das discusses sobre a Educagao Fisica escolar como ‘componente curricular da frea de linguagens, agradecemos o convite para compor cste livro que se apresenta como uma proficua oportunidade de encontro, partilha dd olhares e aprofundamento de compreensies entre professores/as-pesquisadores! as intelectuais transformadores/as das suas priticas (BOSSLE, 2018). Em nossa escrita optamos por partir da sensibilidade do olhar presente na pedagogia de Paulo Freire, Parece-nos que tal escotha cria importantes possibilidades de abertura de + Cartas a Guin Bissau, Roglvos de uma experéncia em processo primera pubcago, 1977 2 importinca do ato de lr primeira pubicaao, 1968. novos horizontes de dislogo em uma perspectiva ética, eritiea ¢ progressista de agit, sentir e refletir sobre a praxis pedagézica que, a cada dia, se fortalece mais em nossa rea. Discutir esse tema na atualidade, apesar de desafiador, parece-nos fundamental para refletir sobre algumas questies: que sujeitos nossas aulas esto constituindo? Que leituras, eseritas e desenhos de mundo estamos ajudando a criar? Que mundo estamos a transformar? "Nese sentido, ressaltamos que este texto apresenta um esforgo coletivo de compreensio da questao da linguagem, a partir das leituras, discussdes e reflexdes de obras de Paulo Freire, construidas ao longo do tempo em nossas experiéncias pedagégicas ¢ também em nossos encontros no Grupo Escola da Faculdade de Educagiio Fisica da UNICAMP". Acreditamos que, a0 caminharmos em didlogo com as ideias do autor, como uma base interpretativa e reflexiva possivel do que realiza- 'mos em nossa atuagao na escola, ampliamos os caminhos de debate e compreensio da praxis pedagégica, comprometida com a justiga e transformagio social, como poténcia sensivel e ética de desdobramento do mundo, Levando em consideragao que os modos de existéncia carecem de constante atualizagio em busca da humanizagio, compreendemos que os desdobramentos io momentos de atualizacao do existir, uma ontologia do possivel, de criagio de inéditos-vidveis. Dai, implicamos a relagdo com os “temas dobradiga” que, segundo a pedagogia freireana, prope a inseredo de temas pelos/as educadores/as, que, em conjunto com aqueles levantados por parte dos/as educandos/as, como temas gera- dores, articulam dois ou mais assuntos,facilitando a ampliagio das compreensdes do coletivo. Estes “temas dobradiga” constituem, desta forma, mais uma contribuigio dola educador/a-coordenador/a no cfrculo de cultura, que ao introduzir esses outros assuntos auxiliam e enriquecem a leitura da realidade. Sao temas que surgem nas dindmicas de investigagao dos temas geradores e que so acrescentados pelos/as educadores/as. ‘Como tas [esses temas dobradiga), ora facilitam a compreensio entre dois temas ‘no conjunto da unidade programatica, preenchendo um possivel vazi entre ambos, fra contém, em si, as relagdes a serem percebidas entre 0 conteido geral da pro- gramagio e a visio do mundo que esteja tendo o povo (FREIRE*, 1987, p. 116) Com esse texto (que no pretend esgotar o tema), esperangamos contribuir para a complexa discussao a respeito da linguagem, a partir do compartilhamento de alguns elementos das compreensdes que temos construido ao refletir sobre as pos- sibilidades de aproximacao da préxis pedagégica critica da Educagao Fisica escolar ‘com a pedagogia dialégica freireana, com énfase na linguagem. A linguagem, nessa 3 Onome do Escola, criado em 2013,fo pens como um gto rca em lap nossa postra no content escolar Ao enxergarmos @Educaro cor pica dnmica,pensmos 0 Escala, no sentido de verbo, pois escola ugar de apo. Posicinamo-nos come auoesias dln cotdano, rovocando um eto erento do sor professor edo se rlaionar com aslo educandaslose clagas de ral no inter a escola, Um mode outro de consul e transforma a Educagdo Fisica escola 4 Petagogia do Oprimid, prea pubicaao em 1988 porspectiva, nos parece conter as possibilidades de compreensdo € modificagio da realidad, da constituigio e atualizagio dos sentidos da existéncia, na eriagao de ‘neditos-vidveis que buscamos em nosso agir pedagogico junto aos/as educandos/as. Da nossa constituigao dialégica {Ao iniciarmos nossa investigagio sobre a questo da linguagem nas obras de Paulo Freire, nosso primeiro aprendizado foi o de que o autor nao foi um tebrico do tema, apesar de ser um dos principais representantes do campo da comunicagdo como slailogo, eomo afirma Lima (2011), Sua grande contribuigdo reside, justamente, no cesforgo intelectual de estabelecer didlogo com autores de diferentes campos epi \cmoligicos como 0 existencialismo, a fenomenologia, o marxismo, a linguistica, 1 semtica, a comunicagio entre tantos outros e iralém, construindo uma sintese sempre inacabada, em processo de atualizagio (a cada obra), que estabelece signi cago na relago com sua vida. Tal sintese constitu os prinefpios de sua pedagogia dialogica e problematizadora, Ao lermos as diversas obras do autor conseguimos jperecber tragos e marcas desses diferentes campos, que, a partir da leitura sensivel © singular de Paulo Freire, ganham novas compreensdes e sentidos ao serem articuladas \lialogicamente na elaboragdo de sua prixis pedagégica. ‘A agio docente refictida, investigada e narrada em seus textos, demandou do ‘utor um esforgo intelectual de busca, articulagdo e aprofundamento dos referencias cpistemolégicos no didlogo com as situagdes vividas. Tal movimento, alargou as ‘compreensdes sobre o que era realizado nas suas experiéncias pedagogicas com os! ss edueandos/as ¢ ampliou os horizontes de ages futuras, por isso, seu acabamento ipe provisorio, Nesse sentido, acreditamos que, ao buscar compreensio do tema «a linguagem presente na pedagogia freireana, ndo poderiamos reduzir nossa inves- ligagao curiosa A tentativa de classificagao e categorizagdo desses referenciais episte- moldgicos, uma vez que, em diversos momentos, na medida que o autor interpretou luis conceit, nocies eestabeleceu relagdes com sua Vida, acabou por produzir outros, sentidos, outras significagdes materializadas em sua propria pedagogia dialogica. ‘Buscamos nos aproximar, tateartais compreensdes encontradas nas entrelinhas dle seus textos ¢ desvelar algumas das possiveis contribuigdes para o campo da Edu- cagiio Fisica escolar. Assim, nos posicionamos como aprendizes que, em ato de ler, refletre compreender com curiosidade epistemoligica o tema, se percebem também tem processo de constituigdo inacabada, assim como o autor em sua trajetria, Para Freire 1987) nos humanizamos nas relagdes que estabelecemos com outros seres humanos, assim como, com o mundo. Na medida que aprendemos a reconhecer as mares singulares da exsteiahistrica ns outros, nos objetos nas ‘gem, na cultura, tomamo-nos tam 'Na percepeiio sensivel do autor, linguagem e realidade se prendem dinamica- mente (FREIRE, 2011), ¢“[..] 0 homem, como um ser de relagdes, desafiado pela natureza, a transforma com seu trabalho; 0 resultado desta transformagao, se separa do homem, constitui seu mundo, O mundo da cultura que se prolonga no mundo da historia” (FREIRE*, 1982, p. 65). Ao paso que o mundo da cultura é transformad nna dinamica da existéncia, este retorna apresentando-se de maneira outra aos seres humanos, transformando-os também. O agir humano (entendido aqui na sua signi ficagdo mais ampla) acontece, assim, na dindmica sensivel de percepgao, leitura, interpretagao, sobretudo, criago de novos sentidos, intengdes e significagdes atual zadas do contexto (tempo € espaco) ¢ da realidade, Nessa perspectiva, a constitui¢a0 humana se apresenta sempre de maneira dialogica e historica, produzida na tessitura da linguagem, dos sentidos que a cada ato entrelagam o ser que age na relagao com 05 outros no e com 0 mundo. Faltam go “movimento” dos outros animais no suporte a linzuagem conceitual, a inteligibilidade do proprio suporte de que resultaria inevitavelmente @ com. nicabilidade do inteligido,o espanto diante da vida mesma, do que hi nela de rmistéro.[..] A invengio da existéncia envolve, repita-se, necessariamente, a linguagem,a cultura, a comunicaco em niveis mais profundos e complexos [_-] CFREIRE®, 2018, p 50-51). Todo esse processo de desenhar 0 mundo e a nés mesmos como sujeitos da historia, envolve a criagio de linguagem e cultura que nos possibilita ler e interpretar ‘9 mundo, tomar consciéncia sobre essa capacidade humana de agir etecer significado & nossa propria existéncia Existr ltapassa viver porque & mais do que estar no mundo, Festa nele com ele. E€ essa capacidade ou possibilidade de ligagio eomunicativa do existente «como mundo objetivo, contd na prdpria etimologa da pala, que incorpora 30 existro sentido deeiticidade que no ino simples viver. Transcender, discern dialogar (comuniare partcipar si exclusividades do exist. O exis € indivi dual, contudos6 se realiza em relagio com outros exisires(FREIRE", 1967p. 40). Como seres humanos que estamos sendo, necessitamos aprender esses modos de agir e, sobretudo, reconhecer as marcas dessas experiéncias em nossa constituigo dialogica, Em um de seus textos, Paulo Freire (2011) constroi uma bela narrativa reflexiva que intenciona rele, recriar, reviver os percursos do seu aprendizado do ato de ler. No ato de narrar o autor explicita compreensao do entrelagamento permanente «de seu corpo com o tempo. O entreeruzamento entre presente, passado e futuro na sin- gularidade do ato de narrar, permite o reconhecimento da sua constituigao inacabada, sempre em processo de criagio de novos sentidos sobre seu existir humano, Nesse escrito o autor nos provoca a reflexio de que o ato de ler o mundo precede a leitura 5 Extensdo Gomunicaglo, publica pea primeira vez em 1969, sob o tl: Extencin o Comunicain, eo Instuto de Capactacn e Ivesigacn em Reforma Agi, Chie Peto da Autonoma, prima publicacdo em 1986, 7 Ettucagdo como prtca de lberdade, ximera publcacdo en 1967, «la palavra, Assim, antes da compreensio da palavra, ele sensivelmente afirma que & ‘0 corpo que estamos sendo, em seu agir perceptivo e dialbgico com 0 contexto, que produ. as primeiras leituras de mundo, Desde os nossos primeiros passos, pergun- amos ¢ buscamos respostas para a nossa existéncia, Aquilo que no sabemos tem 1 potencialidade de mobilizagio do agir, expresso em cada ato de curiosidade pela vida, Nesse processo, a linguagem e a cultura s2o incorporadas dialogicamente no ‘nosso agit cotidiano, nos possibilitando as primeiras leituras e escritas do mundo ao jpasso que nos constituimos como corpo que estamos sendo. 'A velha casa, seus quarts, seu corredor,scu si, seu terrago ~ sitio das avencas ‘de minha mie —o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu primeiro ‘mundo. Nele engatinhei,balbuciei, me pus de pé, andei flei. Na verdade, aquele ‘mundo especial se dava a mim como © mundo da minha atividade perceptiva, poor isso mesmo como o mundo das minhas primeiras Ieituras, Os “textos”, as, “palavras”, as “letras” daquele contexto ~ em cuja percepedo me experimentava «, quanto mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber ~ se encamavam, numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensio eu ia aprendendo ‘no meu trato com eles nas minhas relagdes com meus irmdos mais velhios ¢ com, ‘meus pais (FREIRE, 2011, p21) Esse corpo que pergunta ¢ investiga, ao passo que Ié, que sente, que interpreta e ‘vompreende os sons, os tragos, as formas, os gestos, as palavras presentes no contexto ‘o.eorpo que age no mundo e com mundo, que produz.respostas e conhecimentos ‘onstituindo-8e na relagio com as maneiras de existir de outros seres humanos com {quem convive, mas também, das suas proprias descobertas como sujeito da sua histéria singular, ‘Apedagogia freireana ao entrelagar esse conjunto de atividades e expe porceptivas do corpo na leitura do mundo amplia a compreensio de linguagem, no apenas nas modulagdes © modelizagdes do verbal, do oral ¢ escrito. Tal perspectiva, reconhece o corpo na sua pluralidade de modos de expressio como constitutive « constituido na sua relagao dialégica com o outro, Assim, acreditamos que esse catendimento contribui para a desestabilizacao da compreensao reducionista que atravessa muitos momentos do cotidiano escolar e que tenta aprisionar a palavra como ‘lemento distante do corpo. O ato de ler, escrever, compreender e sighificar pode ser realizado de diferentes modos, a partir de diferentes modulagdes € modelizagdes da linguagem, mas sempre, como um ato corporal ‘Sabemos que a linguagem ¢ de natureza gestual, corporal, é uma linguagem de ‘movimento de olhos, de movimentagdo de coragao. A primeira linguagem € a linguagem do corpo &, na medida em que essa linguagem & uma linguagem de ‘perguntas e na medida em que limitamos essas perguntas eno ouvimos ou valori- ‘zamos senio 0 que € oral ou escrito, estamos eliminando grande parte da linguagem ‘humana. Creio ser fundamental que o professor valorize em toda sua dimensio 0 ‘que constitu alinguagem, ou as linguagens, queso linguagens de perguntas antes ‘de serem linguagens de respostas (FREIRE; FAUNDEZ", 1985, p. 26). Perum pedagogia da pergunla, pia pubcarao em 1985, Desvelamos assim, que é no entrelagamento entre sujeito/ato, linguagem ¢ existéncia, que o corpo se coloca em comunicagao e se express, ns processos que ‘nos constituem e nos vinculam na relagao com 0 mundo, Nesse interim, os desenhos dda nossa coexisténcia se multiplicam. Este olhar se diferencia dos reducionismos empiristas¢ ideatistas, que ora obje- tificam 0 corpo e apagam 0 sujeito, ora colocam énfase no sujeito pensante separado do contexto social, Nesse entendimento, o corpo escapa das fragmentagdes e redu- cionismos ao se entrelagar na polissemia de gestos, vozes, palavras, imagens, afetos, expressdes, se reconhecendo como autor da sua propria existéncia, como sujeito que age no e com o mundo e descobre em comunhio com os outros, as possibilidades de transformagdo historica da realidade compo, nessa perspectiva, compreende um didlogo entre a facticidade da nossa cxisténcia e a subjetividade, que se caracteriza como um dilogo expressivo consti- ‘ido na relago do corpo com o mundo; expresso de um corpo humanizado, que nas partilhas sensiveis se comunica com o mundo. Este processo de inacabamento revela a provisoriedade da existéncia, que em ato presente, atualiza os sentidos do passado em processo de criagdo de horizontes possfveis. Nas palavras de Freire (2018, p. 50)"..]0 inacabamento do ser ou sua inconclusdo é proprio da experiéneia vital. Onde hi vida, hi inacabamento, Mas s6 entre mulheres ¢ homens o inacabamento se tomou consciente”. E, mais ainda, o pensamento de Paulo Freire também nos possibilita entender que esse processo dialégico e comunicativo entre corpo e mundo se apresenta como possibilidades de produgo de novos conhecimentos e compreensdes. Tema que vamos tratara seguir. Linguagem, comunicacio e ago existéncia e apontam que é preciso compreender a di da finguagem, pos trata-se de uma producdo socal ehistrica (FREIRE®, 2012) Na obra Pedagogia do Oprimido (1987) Paulo Freire coloca que, diante da forca pragmatica do contexto existencial, precisamos redescobrir as pessoas como sujeitos de seus processos de constituigao histérica. Para tanto, o processo de codi- ficacio ¢ descodificacio", utilizado em sua proposta pedagégica, permite que os 9 Sabre @Eduapto primera pubcagto em 1982. 40 Asombva desta manguea, pela publcaro er 196, 11 ‘A‘codiicado" ea ‘descodiicaéo" permitom ao allabetizando ntgrar a significa das respecvas palawrasgeraoras em seu contetaeitenal ele aredescobre rum mundo expressado em seu com ortament”(FREIRE, 1987, . 12), ujeitos compreendam os condicionamentos ¢ aleancem uma compreensio critica 1a sua situagio de opressio, No entanto, no basta somente uma descodificagio dos jsmos que oprimem, € preciso mais um passo, da composigao e recomposigaio ule novas maneiras de agir no mundo. «Jesvelar © mundo busca-se uma superagio das condigdes concretas de opressio, {que se dio nos processos de conseientizagio, fundamentais no pensamento de Paulo Freire, e que tem como base a concepgiio de linguagem como processo. A linguagem © condigio de possibilidade de desvelamentos das situagdes-limites. A linguagem possibilitao dialogismo, entendido como movimento consttutivo «Jo humano, Didlogo entendido como relagao com 0 outro, elagdo de alteridade, pois «10 oxo nh toca, mediagGes, comunicago. Contudo, cabe aqui um alerta para essa questo, O uso do termo tem estado, talvez, um tanto desgastado nos diferentes contextos pedagdgicos. Na perspectiva frireana: (© dislogo fenomeniza e historiciza a essencial intersubjetividade humana; ele & relacional e; nele, ninguém tem iniciativa absoluta. Os dialogantes “admiram” um ‘mesmo mundo; afastam-se dele e com ele coincidem, nele poem-se ¢ opdem-se. ‘Vimos que, assim, a consciéneia se existencia c busca perfazer-se. O didlogo nao & ‘um produto histérico, 6a propria historicizaco, Ele, pois, o movimento constitutivo ‘da conscigncia que, abrindo-se para a infinitade, venceintencionalmente as fronteiras ‘a fnitude e, incessantemente, busca reencontrar-sealém de si mesma. Consciéncia ‘do mundo, busca-se ela asi mesma num mundo que € omum; porque € comum esse ‘mundo, buscar-se a si mesma € comunicar-se com o outro (FREIRE, 1987, p. 16), 1 seja, didlogo verdadeiro é aquele em que hi comunicagao, troca, partilha, consttuigo de conscigncias, profundidade, horizontalidade, muito diferente de alguns supostes “didlogos” que presenciamos (e talvez até fagamos), de um script pronto, ‘em que, normalmente, o/a professor/a pergunta algo, cuja resposta ja sabe, © cabe ‘90/4 edacando/a data resposta aguardada pelo docente. Apedagogia proposta por Paulo Freire prescinde do outro, pois entende 0 edu- ccar-se como processo que se constrdi com o outro, na alteridade. Envolve comuni- cago, que, conforme diz o'proprio Paulo Freite, & diferente de “fazer comunicados” (FREIRE, 1987), pritica também comum em nossos contextos pedagégicos, em que cexplica-se muito e dialoga-se pouco. Para o autor, “...J somente na comunicagao tem sentido a vida humana’ (FREIRE, 1987, p. 64). Arealizagio desse didlogo, no sentido freireano do termo, possibilita uma ‘ampliago da consciéncia, da intransitividade para a criticidade, e, nesse contexto {da experiéncia democritica de pronunciamento da existéncia, possibilita o ser no mundo, Na obra Educagio como pritica de liberdade (1967) no capitulo “Sociedade Jechada e inexperiéncia democrética” Paulo Freire levanta uma discussdo sobre 0s processos de imersio que a sociedade brasileira esta condicionada, e que salta aos ‘olhos a “inexperiéncia democritica” de nosso pats. Inersio e emersio sio dois conceitos que referem-se aos estados de consciéncia propostos por Freire. A imersio caracteriza-se por umn estado intransitive, de estar sem saber-se parte do mundo efetivamente, hi mais acomodagio que integragao no mundo, jé ‘a emerstio caracteriza-se por um maior conhecimento do mundo, por uma capacidade de didlogo mais ampla. Essa emersio nio ocorre de uma vez e, como seres inacabados cuja ‘vocagdo ontolégica é 0 SER MAIS, estamos em constante movimento de emersio, de distanciamento e aproximagio do mundo, na busca de melhor compreendé-oe agir em sua transformagio. Esse caminho para assuneiio da conscigncia critica, passa pelo estado da consciéncia ingénua, em que as relagdes se ampliam, ha maior consciéneia de mundo, porém, se nfo trabalhada de maneira educativa no sentido de promogio da criticidade, corre o risco de levar massificagao e & mitificago, em que nao hii compromisso com a existéncia ética, podendo mesmo chegar ao que Paulo Freire denomina de transi vvidade fanatica, resultante de uma distorgao do poder de captar a realidade e de uma preponderdncia de irracionalidade, situago mais perigosa que a propria intransitividade. Em oposigdo a esse movimento libertador, que se d por meio da linguagem, no didlogo, na comunicagao, Freire analisa uma “cultura do silencio”, que se instala desde o Brasil coldnia e atravessa a estrutura da nossa vida didria. A sociedade bra- sileira e, por conseguinte, a escola, restringem os espacos de didlogo, Este silenciamento das capacidades de agir, criticas e dialégicas, envolve aspectos estruturais ¢ culturais. Estruturais, no sentido que existe uma dominagio ‘econ6mica que impoe um comportamento submisso. Cultural, porque persiste uma consciéncia ingénua como um fendmeno relacional, que envolve as diferentes formas de ser, pensar ¢ sentir interseccionadas por uma estrutura social de dominagao, Freire reconhece aqui que nenhuma educagio € neutra, que a educagao em suas priticas pedagégicas pode reitetar as estruturas desumanizadoras e destruir as eapacidades comunicativas ¢ expressivas que estio contribuindo para o silenciamento dos opri- midos. Basta analisarmos os silenciamentos presentes e propostos nas nossas escalas para verificarmos a permanéncia e continuidade do apontado por Freire. Silencia- ‘mento nas maitiplas inguagens: gestual, oral, escrita.. constituindo o ser tanto pelas possibilidades de pronunciamento da palavra, mas tamibém de seu silenciamento, Nesse sentido, o conceito de cultura assume um papel central nas obras de Paulo Freire (1967), pois assim como a linguagem, tem relagio com a produg3o da cexisténcia humana, da prxis humana, ou seja, para existir ndo basta estar no mundo, ‘mas, sobretudo, estar com o mundo. Estamos imersos em uma pluralidade de situagies existenciais que nao se esgotam nas padronizages, 0 tornar-se pessoa assume um carater reflexivo ¢ intencional, na relagio de alteridade e dialogismo com o mundo, ‘A linguagem, como constitutiva do ser no mundo, também possibilita sua aber- tura ao mundo, de uma existéncia que reconhece o conhecimento sensivel e ético como possibilidade de compreender e transformar as maneitas de vive. Nas dobras da linguagem e seus desdobramentos na educacio fisica Na sua proposta de uma pedagogia que visa a libertacdo, Paulo Freire trata, como colocamos anteriormente, da linguagem nas suas relages com a historicidade dos processos culturais A historia tomna-se dialética na obra de Paulo Freire porque & usada para distin- {gui o presente enquanto dado e o presente enquanto portador de possibilidade {de emaneipagao, Além disso, Paulo Freire demonstra mais uma vez que nio & apenas homem do presente; ¢ também homem do futuro, Sua fala, agBes, calor Visio representam win modo de reconhecer¢ critiear um mundo que vive perigo- samente a eira da destruigio, Em certo sentido, a obra e presenga de Paulo Freire esto ai ndo apenas para nos lembrar 0 que somos, mas também para sugerir no ‘que podemos nos transformar (GIROUX, 1997, p. 156). ‘A pedagogia com Freire ¢ uma aventura desveladora, que, no encontro com 0 ‘outro, basea a desacultagdo dos condicionamentos sociais ¢ historicos, ser condicio- iw mas nao ser determinado. As pessoas so condicionadas pelos contexts sociais cm que vivem, so os chamados condicionantes sociais, mas nfo so determinadas a ‘iver nessas situagdes e sob esses condicionantes. O futuro deve ser problematizado (PREIRE, 2018), (O processo de “conscientizagao” envolve uma percepgao sensivel das tramas ‘existenciais vividas pelo outro, o ensinar e aprender é coparticipativo. Em um dislogo uherto em que todos so aprendizes, a aprendizagem é o processo de conscientizaga0 «dos condicionamentos, mas também de outras alternativas, da construgao de mundos possiveis (FREIRE”, 1992), ‘A Educagao Fisica como componente curricular responsivel pela praxis peda- :oaica 20 trato da cultura corporal, inclufda como parte da area das linguagens na ducagio, pode ser considerada como a firea relacionada com as experiéncias ges- \uais, experiéneia entendida no sentido do com, que busca na experiéncia perceptiva viva as percepgdes de mundo, do ser no mundo, como pronincia da humanidade na horizontalidade das relagdes. [.-] atuar pedagogicamente no campo da Linguagem Corporal, permite que, n0 ‘processo de investigagdo dos temas geradores, o/as educandos/as interpretem Sua incidéncia e dinamica e assumam a responsabilidade por intervie e transformar, de forma ética, tanto as situagDes-Limites Uy Se-Movimentar, quanto 0s diseursos « significados que governam os regimes de poder das Prticas Corporais (PRO- DOCIMO; SPOL AOR; SO, 2019, p. 71. [As diferentes experigncias pedagégicas na Educagio Fisica nio esto desvin- culadas de um contexto sociale cultural. Sao condicionadas a partir de necessidades cou interesses de diferentes grupos em diferentes momentos socio histéricos. So snanifestagdes culturais que revelam, como toda cultura, aspectos do grupo em que so criadas e que as mantém vivas, Cada proposta politica-pedag6gica carrega valores, significado, discursos e modos de agir singularmente que vio reverberar nas condu- tas emaula, Cabe entdo, a Educagao Fisica tratar nas suas priticas pedagogicas das ‘anifestagdes expressivas nlo de maneira mecénica, teproduivista, mas aprofundar, problematizar, e, no didlogo, possibilitar a visio critica, consciente de sua presenga rho mundo. Como afirma Paulo Freire: 12 Pedagogia da Esperanga, primeira pubicardo em 2003. (0s alunos nfo tinham que memorizar mecanicamente a descrigo do objeto, apreender a sua sigificagdo profunda. S6 apreendendova seriam eapazes de saber, por isso, de memoriza-la, de fixi-la. A memorizagio mecinica da descrigio do clo ni se consttui em conhecimento do objeto. Por isso, ¢ que letura de um texto, ‘tomado como pura descrigdo de um objeto € feta no sentido de memorizé-la, nem & ‘eal leitura, nem dela portant resulta 0 conhecimento do objeto de que o texto fala (FREIRE, 1987, p. 12). Essa visio critica da pritica pedagégica é o que consideramos como o objetivo fundamental de uma Educagdo Fisica comprometida com a justiga etransformagio social ‘A pedagogia freiteana, ao tratar da alfabetizacao, parte do universo vocabular dos/as ceducandos/as que é problematizado e ampliado por meio do diflogo. No caso da Edu- cagaio Fisica, as priticas corporais ao serem tratadas pedagogicamente também partem do universo de significagao dos/as educandos/as e sio problematizadas dialogicamente. A pattir desse universo so elencados os temas geradores, que sio temas significativos pata o grupo e que apresentam situagdes-limite a serem tratadas. Situagdes-limite, por sua ve7, so aquelas que impedem o sujeito de SER MAIS, que constrangem seu agi. Nesse contexto, cabe alertar que problematizar determinada conduta corporal no significa teorizar sobre ela em detrimento de vivencié-la. A ago pedagogica se dda num processo de praxis, ou seja, de ado e reflexio, pois, uma pritica sem base tedrica, sem reflexdo torna-se ativismo, no sentido do fazer pelo fazer, da mesma forma que a teoria sem a pritica tomna-se um “bléblébla”, uma fala vazia, como afirma Paulo Freire (2018). Entendemos, entdo, que nosso trabalho nao se ocupa s6 do fazer, mas do refietir sobre 0 que se faz, porque se faz, como se faz, de maneira constante. Para Paulo Freire, “o que faz ser tebrico um contexto nao & seu espaco € sim a postura da mente, Dai que possamos converter um momento do contexto concreto em momento teérico” (FREIRE, 2012, p. 127). Ser capaz de sentir, perce- ber, interpretar, compreender, analisar, agi, entender as subjetivagies dos gestos do samba, do basquete, do jiu-jtsu, por meio da vivéncia perceptiva e dialégica com a cultura e a linguagem seria uma forma de problematizar esses temas Essa visio é propiciada pela “desocultago” das verdades dos objetos de conhe- cimento, no sua mera deseri¢gao, nao um mero saber sobre o corpo ¢ as priticas corporais. Mais do que trabalhar os gestos téenicos, codificados em determinadas culturas, como as regras do basquete ou do jiusjitsu, ou os movimentos ritmados do samba, cabe aov’ educador/a da drea desvelar as “verdades ocultas” em sua presenga nos diferentes grupos sociais e momentos histoticos. A pura descrigao dos objetos, para Paulo Freire, tende a manter 0 estado de alienagdo, nao liberta, nfo ocasiona a emersio da realidade. Os objetos a serem aprendidos se apresentam de forma codi- ficada e precisam ser descodificados. Como apontado anteriormente, “a codificagio de uma situagdo existencial é a representagdo desta, com alguns de seus elementos constitutivos, em interago” (FREIRE, 1987, p. 97). Enquanto a descodificagao: A descodificagao € anise e consequente teconstituigdo da situacdo vivida:reflexo, reflexio e abertura de possibilidades concretas de ultrapassagem. Mediada pela ‘objetivagio, a imediatez da experiéncia lucdifica-se,intriormente, em reflexo de siimesmae critica animadora de novos projetos existenciais, © que antes era fecha owen a pouco se va abrindo, a consciéneia passa a escutar 0s apelos que a n sempre mais alm de seus limites: faz-se critica (FREIRE, 1987, p. 11). Uisse processo exige rigorosidade metédica, fruto da curiosidade epistemol6- a, que € instigada, também, pelo/a educadot/a. A curiosidade epistemologica se \lletencia da curiosidade ingénua pela forma de abordagem do conhecimento, que se «lie forma rigorosa, metédica, por meio do afastamento epistemoldgico, ou sea, da ‘bjetivagio, do eonhecimento profundo, para realizacao do “cerco epistemoligico™, 1 operagio de busca do deciframento de algumas das razies de ser do objeto «le vonhicimento (FREIRE, 2012, p. 121). (O/Aceducador/a age por meio de perguntas, caracterizando a educagio da per- junta, em contraste com a educagdo da resposta que, infelizmente, encontramos ‘om certa frequéncia na escola atual, que da respostas para perguntas que nao foram proporcionando o didlogo na concepcao freireana. Essa forma de agit jpedagogicamente por meio das perguntas, parte do concreto (senso comum) para 0 lebrico, abstrato, Problematizar, nesse contexto, compreende desvelar a realidade, desmitficar as {alsas consciéneias de mundo, superar as explicagies magicas,libertar-se das formas ‘de autoritarismo, dominagio ¢ opressio. QuestBes como: por qué? Como? Para qué? (0 qué? 0 que acham disso? Fazem parte do processo e possibilitam construgao & tollexio coletiva entre educandos/as e educadores/as Para que esse agir pedagégico aconte¢a, o/a proprio/a educador/a deve ter esse olhar corsciente ¢ critico sobre seu objeto de estudo. Para tanto, exercicio da praxis, «la ago e reflexao, se faz imprescindivel. Nesse processo, o/a professoria educador/a \iua como unva mediatizador/a do conhecimento, configurando assim, 0 proceso jpedagog.eo como fenémeno comunicacional. Sua agao se da pelo didlogo, possibili- tundo ao‘ educando/a, mas também a si mesmo/a, o aprendizado, pois quem ensina tumbém aprende ao ensinar. A ago do/a educador/a deve levar em conta o conheci mento do/a educando/a, sempre levando em conta que: “O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relacao pedaz6gica, nlo significa dever ‘ajuda do educador anular a sua eriatividade c a sua responsabilidade na construgio dle sua linguagem escrita e a leitura desta linguagem” (FREIRE, 2012, p. 13). Para Paulo Freire (2018, p. 86) feitas (© bom professor é © que consegue, enquanto fala, trazero aluno até itimidade do ‘movimento do seu pensamento, Sua aula € assim um desafio e ndo uma ‘eantiga de ninar’, Seus alunos cansam, no dormem. Cansam porque aeompanham as idas © -vndas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas divides, suas incetezas. © olhar possibilitado nessa pritica possivel também na Educagao Fisica na escola, ¢um olhar outro, modificado e que ndo se restringe a dado contciido, mas & um olhar novo, consciente, tanto da parte do/a educador/a quanto do/a educando/a, pois amos sdo seres inacabados. Olhar construido na relagio com 0 outro, no didlogo, ‘na comunicagao, na linguagem. Desdobramentos transitivos do esperangar Diante disso, entendemos que as ideias de Paulo Freire podem contribuir pati uum deslocamento da compreensio de linguagem na Educagao Fisica, desse componente curricular na area de linguagens, no sentido de reconhecer que 0 debates epistemoldgicos precisam avangar para as dinfmicas existenciais que articulam dialogicamente o corpo no e com 0 mundo vivido. (Os objetos de conhecimento e o tratamento pedagégico da cultura corporal nas aulas de Educagio Fisica podem ser desdobrados no imbricamento com as lutas com prometidas com justiga social. No entanto, esse didlogo com a concepeio freireana no pode encerrar as delimitagdes e diferengas epistemolégicas em meras descri esta operagio de descodificagaio dos objetos de conhecimento deve encontrar as razies REFERENCIAS HONSL-E, Fabiano, Nosso “Inédito Viivel” professor de Educagdo Fisica intelec- i] Gansformador, Jn: MALDONADO, Daniel Teixeira; NOGUEIRA, Valdilene Aline, PARIAS, Uira de Siqueira (org,). Os professores como intelectuais: novas porspectivas diddtico-pedagogicas na Educagdo Fisica escolar brasileira, Curitiba: CRY, v My p. 19-34, 2018, HLL, Paulo, A importineia do ato de ler. Sao Paulo: Autores Associados: Cor- fon, 2011 J/WLIRE, Paulo. A sombra desta mangueira. 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