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CAMPOS, Supereu, Das Origens Aos Seus Destinos
CAMPOS, Supereu, Das Origens Aos Seus Destinos
UEREPUS
das origens
aos seus destinos
Sérgio tto Cnrr1po!;
SUPEREU I UEREPUS
Das origens aos seus destinos
1 ª reimpressão
CAPITULO 1
A ClÍNICA DA NEUROSE OBSESSIVA E AS ORIGENS DO SUPEREU......... 23
Cons1.d eraçõ es .1n1c1a1s
· · · .............................................. n ................................................ . . . . . . . . 2s
O tratamento de ensalo.................................................................................................... 26
Sobre o início do tratamento., ......................................................................................... 27
Sobre a sexualidade infantil .............................................................................................27
Alguns elementos do caso...............................................................................................29
O supereu no Homem dos Ratos..................................................................................29
A transferência negativa ..................................................................................................35
O pai na neurose obsessiva ............................................................................................36
O supereu e as ideias obsessivas ..................................................................................43
A mulher como o Outro..................................................................................................46
CAPÍTULO Ili
O SUPEREU PRECOCE DE MELANIE KLEIN ..........................................................1I5
Notas ................................................................................................................................. 13i
CAPÍTULO IV
O ESTOICISMO, KANT, SADE E LACAN .................................................................. I33
lntrodução............................................................................................................................ 1,5
O estoicismo........................................................................................................................ 155
Emmanuel Kant..................................................................................................................139
A crítica da razão prática ................................................................................................ 14 I
A lei moral ...........................................................................................................................143
Freud debate com Kant. ................................................................................................. ldS
Kant entre o bem e o mal. .............................................................................................1J9
Kant e Sade..................................~ .....................................................................................150
Conclusão.......................................................................................................................... 15 7
Notas...................................................................................................................................158
CAPITULO V
LACAN E O SU PEREU.................................................................................................... 159
lntrodução ...........................................................................................................................16 I
O supereu como derivado do isso.............................................................................. l G1
O supereu se inscreve como a lei incompreendida ............................................... lGG
"Tu és aquele que deves"................................................................................................ 170
O supereu na relação com o objeto ............................................................................. 17~
O supereu, a realidade e o ideal do eu....................................................................... 17-l
O desejo na neurose obsessiva ..................................................................................... 175
A demanda do obsessivo................................................................................................176
As estratégias do obsessivo para com o Outro..................................................... ..171
• - 1
!:, :..J :,3 ti3'= O C·C:S.:SS ;', '0 2 _ êCê 1 ·······-·-····- ·-· .. -············ ......................... .............. .180
CAPÍTULO VI
O SUPEREU FEMININO.................................................................................................. 201
CAPÍTULO VII
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O SUPEREU................................................. 209
A topologia e o supereu ................................................................................................... 211
Mais além do supereu ...................................................................................................... 212
O destino do supereu no final de análise ..................................................................215
Os finais de análises ..........................................................................................................215
O supereu no final da análise .......................................................................................... 216
Elisa Alvarenga
Partenaire-sfntoma / Partenaire-superyó .................................................................219
Fabian Abraham Naparsterk
Prefácio
LEI INSENSATA
Do Supereu ao Uerepus
O tribunal obsessivo
Imagine-se um tribunal com tudo o que é preciso para que haja
um tribunal: un1 crime, um acusado, um advogado, um promotor,
J
Digitaliu1do c em C?mSc~ne<"
alguns jurados e um juíz. A Jé-m de uma ~ala chda dt: curi<>Y.>S qu,:, a
cada barulho mais forte que faze m, o juiz amca.ça t>'/<12i:1r.
Uma diferença entre esse trihuna) e o; crutrcr; i: qtl'.: rn::k tndas
essas funções são desempenhada~ por uma ún ica pe:.·soa. O acu)a.do
é acusador de si mesmo, que ao mesmo t<..~po ,,e dL-fcnck e j ulga,
enquanto produz a sentença que trará ~ímu)taneamtnv.: compaí;,-..ão
e castigo. Nunca perdão. Dessa forma, o críme - ou a fantasia do
crime, mais precisamente, que tem no horizonte, ~egundo Freud, o
L
parricídio e o incesto - é reforçado pe1a própria ímpo:sibí]ída.c:k de
cometê-lo, numa sequência que pode não ter fim .
Esse é o tribunal do obsessivo, em sessão permanente. AD con-
trário do que afirma uma interpretação jurídica ideal e que a própria
neurose obsessiva contesta, nenhuma sentença vale o crime, da mesma
forma que uma vingança, por mais sofrimento que consiga infligir,
não corresponde nunca ao gozo que se supõe na pessoa que é objeto
da vingança.
Uma frase de Ernst Lanzer, o Homem dos Ratos freudiano,
citada por Sérgio de Campos, expressa bem essa montagem de uma
justiça impossível: "[...] um estranho sentimento, como se algo de-
vesse acontecer se eu pensasse em tais coisas, e como se devesse fazer
todo o tipo de coisa para evitá-lo. Como, por exemplo, que meu pai
1
'
deveria morrer". 1
Essa frase descreve uma cena com três atores num só: o senti-
mento, ou pensamento ''em tais . - ,,
c01sas . .
, pertence ao sujeito; . -
a mJunçao-
de evitá-los vem de uma instância cuja origem é externa - e que Freud
terminou chamando de supereu, depois de constatar a insuficiência
da consciência moral e dos ideais; e as consequências da passagem do
1
pensamento ao ato recaem sobre um terceiro.
No caso do Homem dos Ratos, recaem sobre o pai ou sobre a
mulher objeto do seu desejo. O crime, que nenhum código penal
poderia sancionar, é justamente o "estranho sentimento", bem mais
do que o ato que o sentimento precede, anuncia e, no final das contas,
evita. Ou adia, multiplicando- o em uma série potencialmente infinita
de ações cujo único sentido é estar em série.
Como escreveu Sérgio de Campos, "[...] há um imperativo
de que a dívida seja saldada, de modo que o pai e a dama sejam
1
Uiglt olltodo oom ComS~Onn«
20 SUPEREU I UEREPUS· D,\S ORIGENS AOS SEUS DE S TINOS
Diyitt1li,l:IU<J\-'U1J1Ci!1rtSct1m1t'1
PREFÁCIO 21
Notas
1 FREUD, (192~) 1996, p. 47.
2 LACAN, (1956-1957) 1995.
3
LACAN, (1956- 1957) 1995.
.
. ,· A- cl ínica
1
. - ·d,a~neurose obsessiva
..., r.-: i=' ! · · _- - - e as-'e t;ig~s.do supereu
•,
. :
. '
.... 1' -
..
25
[FAFICH ! Uí-MG;:êiDUOIECA)
Considerações iniciais
O tratamento de ensaio
.. • ,t
Oigl:alizado com Ca,nScanoer
indaga a ele por que tl!rÜ dado ~nfase ,1 su.1 vida se.'-'.u,1Jj.i na primcirJ
sessào. Parece que Freud corre$pondt' JS t'..Xpt.'-Cr-.1tiv.1~ do s\ücitt . A
prin1eira sessão é profícua, ~ Freud n.."t:'olht' sei~ itt.·n~ rdt•v,mtt'S ~ h~
a ,ida. se:\.-ual de seu diente: (1) houYe mdhor.1 do qu.tdro clinico ~,pôs
1nanter relações se..'\.-uais rt'"gubres: P) sentia repuk.'l por pro~titut:ls: (J)
a sua vida se.."\..-ual tinha sido obstruída; (4) a ma....rurb.1çio dest:1npcnhar.1
apenas um pequeno papel naju,·entude; (5) su.1 por-ênci,1 era no rmal:
e (6) a prin1eira relação se:\.-ual foi aos vinte e seis :mos.
ia expresso através do
aflitivo, decorrente de um duplo pccac1o, ser · . . .
· 0 que levan a o SUJe1to a
medo de uma retaliação por parte d o pai ,
adotar toda a sorte de medidas de proteção.
, vada pelo fato de que o
Toda essa montagem estrutura l e agra
. l pensamentos, porque, de
sujeito terne que seus pais con ,eçam seus
voz alta sem, no entanto,
acordo com Freud, "(...) ele os expressa em '
. , . e. ,.. l "~ (F EUD (1909) 1990, p. 168).
escutar a si propno taze- o R
• , t, ente um conteudo ,
es-
Freud comenta que algo mais eS ª pres ' " .
. h pensamento: Com efeito,
tranho de que seus pais con ecem seu .
. , · ma espécie de delírio com
alguma coisa mais esta presente, ou seJa, u _
o estranho conteúdo de que seus pais conheciam seus pensamentos,
utar a si próprio fazê-lo"
porque ele os expressava em voz a1ta, sem eSc
(FREUD, [1909) 1990, p. 168). _
- Essa passagem denota que houve a introjeção da autondade
paterna como supereu na medida em que o sujeito tinha a impres-
são de que seus pais escutavam seus pensamentos. Essa impressão se
justificava porque seus pais já se encontravam introjetados no seu in-
consciente como instância superegoica. O interessante é que, já nessa
época, Freud soube detectar as impressões vocais como condição para
a presença do supereu. Sendo assim, Freud ((1909) 1990, p. 168) nos
revela no fragmento - "[...) ele os expressava em voz alta, sem escutar
a si próprio fazê-lo" - a voz do supereu.
Essa enunciação não é nada mais do que a manifestação da
voz grossa do supereu que Freud, a essa altura, desconhecia. Freud
é muito perspicaz e atento en1 sua escuta ao assinalar que "algo n1ais
está presente". Em sua frase, Freud afirn1a que a voz era alta, sem, no
entanto, ser escutada pelo sujeito. Era, sem dúvida, urna voz alta que
habitava o inconsciente do sujeito; no entanto, voz n1uda e silenciada
pelo recalque como voz da consciência. No que tange ao conhecimen-
to de seus pensamentos pelos pais, considera-se tal evento a introjeçào
da autoridade paterna sob a n1odalidade do supereu.
Mais adiante, Freud tenta ex plicar " esse obscuro assunto" com
0 seguinte comentário:
A transferência negativa
1 h .•
Diyitt1li,l:IU<J \-'U1J1Ci!1rtSct1m1t'1
É nlli que notório, no relato de Freud· qu"'-- 0 n.Nnem
r_r d 1s R ,, '5 tetn
unu relação ambi\·aJente
. . com seu pai. Como sun - · u1 acro
. p.1r-erno e seu
uplente, o sujeito toma o capitão cruel como um sub·~nrun\·o
- · p.ir-:-r-
no. Segundo o relato de Freud , sabe-se que , apo',.~ contar J h.1sron.1
· ·
do suplício com os ratos, o capitão comentou qu~'- a encornend.1 de
eu pi11ce-11ez teria• chegado pdo correio• Com dU
~c"'·t o. o cap1c-.
· -:10 crue l
cometera um equivoco ao solicitar-lhe que reembol'~asse" o tenente A .
uma vez que de, suposta.mente, teria pagado as de ·pesas do correio
pela encomenda.
Aqui cabe indar,ar por qut:. mt>smo abendo de Jntem.io do
engano do capitão c rud , elL· firm ar:i um jur.imemo com bJse ne ·se
equívoco. Tc:mando n: po nJL·r a e .:i que r:i o. a ~i1ub-se que todJ ,1
dinâmica trágici do ob t: i\·o e.· cj L"llrL"JaJ.1 1u sJh·J._·:io do pJi. Pro-
jetado 11:1 figur:i p:ita1u, o uj l.'HO tc lltJ .1 lnr o c.1picjo do ridículo
de ter se: c:quivo ciJo, .h \ Ílll ( 01110 1 rocurJ uml i·m ,.tlnr J honn do
p:ti. M:1,, Jo tc:11t.1r ,.al\'.lr .1 ho11r.1 du 1 .11 . o rnJ l.'.Hô , c..·111 ·uJ fanu · i:1. o
,ubmc:cc: .10 ,upl kio do, r.1t m .
1~ i111pon.1111c..· .1,,i11.1l.1r que-. .lll l,1 11 ~0 de..- u111.1 nc..-uro ~e. ·urgem
m ~im11l.1cro, do p.1i. (.) (uo llc..· ·,1nw1H 1r que o o pic.io '>é étJUi\'oc.1r.1
era p.1r.1 de: um t.11tll) in,upn rt .Í\'c·I. 1) n , c 111odo, pJr.1 c..·11cobrir .1 falt:i
do CJpit.io - ou do p.1i - . úll do Out ro. o , uj l·ito rc..·corrc..· J um jurJ-
mento suporudo 1wlo ,111 l'fl."ll. Adt:mJÍ ~. J i11dJ ,obré J trJn fc:n:nci.1
lll'gati\'.l, \'t·riticJ- ,L' quL" d.1 ~- propo rcionJI ~ con t:it:iç:io, por plrte
do sujeito, tk que: o p.1i e.· seu. imubcro njo Jbêm o que fazem, ou
seja, quL· o Omro ~- b.1rndo.
Sendo as~im. rinh:1 e: pennp de que um m~dico lhe forne-
asse um certific:ido dizc:ndo que, p:ira recobrar a s::iúde mental, sc:ri:1
nL"ce shio que a esrratt:gia com rebç:io ao tenente A fosse cumprida
conforme O planej:ido. A po sibilidJde de o tenente A aceitar o pa-
gamento ia ao encontro da e tr:ltt'gia do sujeito para'preencher a falta
no Outro - capitão. A sim, a farsa da dívida impossível de ser quitada
evita o confronto do sujeito com a falta no Outro.
Agora, faz- e nt>ce sário refazer a indagação de como pode um
sujeito de bem tomar aquele capitão sádico, tão cruel, como substituto
pltt'rno. se ele nutri:1 pelo seu p:ii - afetuoso, cordial e cheio de hu-
mor - um grande amor e respeito, e guardava boas recordações dde?
--
. n2. n""urose Oll~"'~ . _ b dimens~10 imaginaria.
t...-.>,,.~·1\...., q.J.nc~ !-O ,1
O ru o.. - ~ -
.1. • u '- _ . • . . _ ue encanum a hgur~ 1 do
- -- .3-d - .- QU.rJ'- llllagmana!- q
:Ka reahU.!l. e. remo. n;::, · ...._ Elt- aparece sob as mais
- - . -d -- ·rd d . ' má,ca.ras do s.upereu. .
oai l êffil o, "e a eir,L - . J üpotente crrmd10s0
" - d . ideahzaoo, or ' ;:, '
discintas tumr2.s.· ora coloGJ. 0 con1o b,
t ' :::i • • ~rfid cruel. 1nas t,1m em gra n-
· .,. ·e!nlldor P'-- o,
e sagrad o, ora como p. . rs ::,, ' tanto ariscara o fracasso, a
dioso. Há um e:s:ce:50 de pai que, no cu ' '~
intolerável para o sujeito é que a cada vez ele busca O seu desejo com
os recursos que o pai lhe legou, ele se depara com um pai que cedeu
ao seu desejo. Então, como se mirar no pai para ir além dele, ao en-
contro do seu desejo? Assim, é possível assegurar que todo impasse
do Homem dos Ratos gira em torno de um pai imaginário, que não
cede passagem para um pai real que deseja.
O Homem dos Ratos, assim como o pai, se forja como um deve-
dor. Ao tornar presente a dívida·pa~erna do ponto de vista simbólico,
testemunho vivo da dívida do pai, o sujeito deseja ter a chance de
saldá-la. No entanto, o supereu entra em ação por uma dupla via:
há um imperativo que a dívida seja saldada, de modo que o pai e a
dama sejam supliciados, e há um imperativo que coloca a dívida como
impossível de ser quitada, salvando o pai e a dama.
Como na neurose obsessiva, o desejo se coloca - em decorrên-
cia da incidência do supereu - como impossível de ser realizado. O
sujeito não se sente autorizado a realizar o seu desejo, 1:1ma vez que o
sujeito se encontra um tanto carente do pai real, que possui a função
de unificar o desejo à lei.
No entanto, o pai que está em questão na neurose obsessiva é
o pai imaginário, aquele que se opõe ao desejo e à lei. Ou o sttjeito
está dentro da lei e fora do desejo, ou o sujeito está fora da lei e dentro
do desejo. Dentro da lei e fora do desejo, o sujeito se vê submetido
a uma lei moral que inibe, proíbe e anula seu desejo, deixando-o
embaraçado com O falo. Dentro do desejo e fora da lei, o sujeito só
8
acessa o seu desejo mediante contrabando.
A estratégia do sujeito em se precaver de se encontrar com a
falta no Outro é rompida com O relato da tortura dos ratos feita pelo
capitão cruel. o relato de tortura revela uma satisfação obscura, até
►
Utg1tal zado com ~mSc.rner
então velada. O significante rato se torna causa de goz,,. Seu f:11-it:1,>1 1,:,
s{1dico realiza uma articulação entre o significante rato, o g<>%<> a11:d t
os diversos equivalentes simbMícos de rato: djnheíro, crían,,:a, ft %i;•;
. . '
pênis. Mais tarde, o significante causa de gozo e vaJ surgJr sob CJUtr:1,1
modalidades: spielratte - rato de jogo, raten - prestações, ratten - r::it.c>,
"tantos florins, tantos ratos" - dinheiro, rato - bebé, rato - péní'l
(FREUD, [1909] 1990, p. 215).
Diante desse significante causa de gozo, o sujeito busca a ajuda
de Freud. Mas, à medida que a análise avança e o sofrimento intole-
rável aos poucos é amenizado, Freud é tomado em transferência pela
figura paterna numa transferência negativa, já que o gozo se protege
de ser esvaziado. Então, a transferência negativa é uma medida de
proteção do gozo.
Lacan observa que o obsessivo nunca está onde deveria estar.
Essa é uma tese que será demonstrada a partir das análises do texto
Notas sobre um caso de neurose obsessiva, sobretudo no que tange à
emergência do real. Freud comenta que o sujeito contou-lhe, com
detalhes, a história da morte de seu pai. Seu pai morrera havia nove
anos de enfisema. Certa noite indagou, ao n1édico, quando o perigo
poderia ser considerado acabado. "Na noite depois de amanhã" foi
a resposta do médico. Com efeito, sem saber, o sujeito estava per-
guntando a data da morte do pai, deixando enunciar o seu desejo
inconsciente (FREUD, [1909] 1990, p. 178).
Na noite advertida pelo médico, às onze e meia, deitara-se uma
hora para descansar e quando despertara, soubera que seu pai havia
morrido. O sujeito censurou- se por não ter estado ao lado de seu pai
nos momentos finais, sobretudo ao saber que ele o chamou nos seus
momentos derradeiros. Com isso, pode-se pelo menos aventar a hi-
pótese de quanto o sujeito sentira raiva de seu pai por ele ter morrido
sem avisá-lo. Essa raiva, com certeza, transformou- se em sentimento
de culpa. Assim, a estratégia de anular tanto a raiva quanto a culpa foi
resgatar seu pai da morte, pelo menos no plano imaginário (FREUD,
[1909] 1990, p. 178).
Diante do real da perda do pai, o sujeito construiu uma ideia
imaginária de que seu pai iria chegar a qualquer momento, ou que era
preciso contar a boa piada que teria escutado recentemente, malgrado
J·amais ter se esquecido.. de. que seu pai tinha falecido . gum meses A]
mais tarde, em decorrenc1a de sua negligência, , passou
, , . a se cons1·d erar
um criminoso. A partir da morte de uma tia, houve agravamento das
obsessões, deixando-o inapto para o trabalho.
A questão da morte do pai se coloca como ponto pivô de toda
a história, sobretudo no gue tange à sua escolha amorosa. De saída,
0 sujeito expõe todo o seu litígio. De um modo ou de outro, sem
(1909] 19~0, P·_ 185). F d ([1909] 1990 p. 189) assinala que a morte
Mais adiante, reu '
., d d . c. te da doença visto que "O eu encarava seu
do pai e a ver a eira 10n ' . .
. d O pai como fonte principal da intensidade da
sentimento pe1a morte _
. que seu sentimento encontrara uma expressao
sua d oenca. D igamos .
, · '
pato1ogica em su a doença" . Com efeito , o sujeito resgata. seu , após
pai .
sua morte, sob O viés imaginário, mantendo- se submetido a cond1-
cão de sujeito dividido numa encruzilhada: se, por um lado, escolhe
~eguir os passos do pai, casando- se por conveniência, vê-se forçado a
abandonar sua amada, por outro lado, se escolhe casar com sua amada
desprovida de recursos, acaba denunciando um pai de honra duvidosa,
que cede em seu desejo.
Assim, o pai assumira uma oposição à sua vida erótica. Certa
vez, quando expeo::imentou pela primeira vez o orgasn10 numa re-
lação sexual, pensou: "[...) por uma coisa assin1, alguén1 é capaz de
matar o pai". A partir das anotações de Freud, o pai faz oposição a sua
vida erótica desde sua passagem pelo Édipo. Na realidade, não se trata
do pai biológico, mas do supereu. Como o declínio do Édipo não se
fez de todo, existe um pai que não autoriza, nem concilia o amor e o
desejo. O que surge, no seu dizer, é um ódio dirigido ao pai, a ponto de
expressar seu desejo pelo aniquilamento. (FREUD, [1909] 1990, p. 204).
No que concerne à vida erótica e à n1orte do pai, 0 C'l.trioso é
que o sujeito, mesmo depois de não ter se masturbado na infância,
retoma esse háb~to aos vinte e um anos, pouco depois da morte do
pai (FREUD, [1909] 1990, p. 206). De acordo com Freud, o sujeito
se sentia impelido a se masturbar quando duas ocasiões tinham algo
em comum: uma proibição e um desafio a uma ordem. Nesse ponto,
coincidem as duas faces do supereu: a do imperativo categórico e a
do imperativo do gozo, visto que, quando a proibição é excessiva,
CAPÍTULO 1- A ClÍNICA DA NEUROSE OBSESSIVA E AS
ORIGENS DO SUPEREU 43
-entendido: "Ao despedir-se dela, antes das férias de verão, ela dissera
algo que ele interpretou como um desejo, da parte dela, de rejeitá-lo
pelo resto de sua presença; e isso o deixou muito triste". Durante as
férias de verão, sua namorada teve a oportunidade de esclarecer a
situação, coisa que o deixou muito feliz. A partir de então, 0 sujeito
se repetia: "Você jamais deverá interpretar mal de novo a quem quer
que seja, se é que você deseja escapar a uma desnecessária aflição"
(FREUD, [1909] 1990, p. 193).
Então, deduz-se que, em decorrência do mal-entendido , o su-
jeito passa a ter sebtimentos vingativos com relação à sua namorada,
pois pensa que ela o rejeita. De acordo com Freud, a raiva dirigida à
sua dama e a dúvida com relação a saber se ele havia escutado cor-
retamente o que tinham lhe falado era a expressão da dúvida se ela
o amava, pois a namorada havia recusado sua primeira proposta, dez
anos atrás.
É importante assinalar que a dificuldade apresentada por
ele quanto à compreensão daquilo que lhe era falado pode ser
entendida, de acordo com Lacan (1973), como decorrência de
não haver relação sexual. Argumenta-se que o sujeito, de modo
inconsciente, responsabiliza a namorada e o pai pela inexistência
da relação sexuafl. Na realidade, o caso clínico pode ser lido como
uma novela de amor cortês, visto que esse tipo de amor p~eocupa-se
em justificar os desencontros amorosos decorrentes da inexistência
da relação sexual.
Lacan, em 20 de fevereiro de 1973, assinala que"[...] de sobre-
modo refinado o amor cortês finge um obstáculo para a inexistência da
relação sexual". A expressão lacaniana de que "não há relação sexual"
pode ser compreendida como não há refações plenas de sentido, entre
0 significante e o sign~ficado.
len
0.gl1ehi edo com CemScenner
48 SUPEREU I UEREPUS: DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
►
Dlgh-1llu do com Cal'ISeim~r
ulher pode ser trabalhoso para
A.mar urna m .
" é oferecer a fa1 ra. d inclu51ve com vontade de fu!tir
tem , .J • , -lo esgota o, . . . " ::i ,
um homem e pode ue1-u . tudo em virtude das mcidencias
. fáceIS de amar, -
de buscar outras mais _ aI Talvez, seja a razao pela qual as
. , . .J_ elacao se1\.7.l · .
da ínex1stenoa LI.a r , . rn ma1s o desencontro no amor
, . oes1as cancare
letras das musicas e as P __
do que a felicidade da um.ao. , iso estar disposto e ser capaz de
mulher e prec . .
Para amar uma ante acão, pms o mascubno ama
do e em consr ,
manter o amor ocupa . . a O amor. Para amar uma mulher
• · o feID.lll1Il O am
o parceiro-sintoma e ndo a}o-uém ama uma mulher
. m visco que qua ~ '
é preC1so ter corage ' h 61-~a Pode-se amar uma mulher
. O aI ue ne1a a L •
ama Justamente re _ q . ndo O real cmno impossível, o que
de duas maneiras: a primeira, ama d
• e. , · s e desesperos; e a segun a, amando
acarreta toda sorte de rniorcumo ·
. 0 qu
e ocasiona rodas as fontes de alegn;i.s,
0 real como contrngence, , . . -
.
entus1asmos e surpresas. ar IJ a amar o real é necessano abnr
,, . mao
, do
· e d a compreensao.
senndo - "Amar · sem comprt!cnder f01 a perola . de
e. ·
a1onsma gu e ev..... rraí de meu pacur o d~ a n ál ise. Enfim, cre10 que o
novo amor não é c:nconrnr um 11 vo objêtO de an1or, mas uma nova
maneira de am;1r.
No amor, a mulher se entrega ao homem não-toda. Ela entrega
o seu amor de maneira ilimitada ao Outro muito 1nais além de seu
parceiro. Esse gozo feminino endereçado ao Outro - e não ao seu
homem - é um gozo suplementar ao gozo fálico que, por sua vez, a
mulher também o detém. Para o homem , elogiar o amor é uma arte
que se constitui como uma obra. A arre não está em dizer o amor, mas
em fazer o amor, pois fazer o amor significa dizê-lo. Assim, o elogio
do amor dispensa o talento do poeta e se abre de maneira contingente
a possibilidade para qualquer homem que deseje uma mulher. No
fim da análise, o não-todo como contraste torna-se um atrativo e seu
mistério serve de estímulo para que se queira penetrá- lo, de maneira
que ª e scranheza e a diversidade que deveriam distanciar o sujeito e
fazê-lo fugir, hoje crava no objeto a, o aguilhão do desejo.
Oigll.1'.izado com C a m ~
---
- • :;
1
'l I - -% Q.l" :o ~ NEUROSE OBSESSIVA E AS ORIGENS DO SUPEREU 51
. . amnésia. embora
C·olhida pela • . parc1·a1• M as a causa une
· d.1ata ou aquela
que preapira a doença e retida na rnemória. Assim, o trauma, em
,ez de ser esquecido, é destituído de afeto, de maneira que o sujeito
racionaliza o fàto e o considera sem importância.
Inicialmente Freud comenta que, com O casamento, 0 pai
do Homem dos Ratos teria alcançado uma posição confortável. No
entanto, o paciente soube que, pouco antes do casamento, seu pai
estiYera envolvido com uma jovem de poucos recursos, 0 que confere
à história do sujeito um caráter de repetição. Após a morte de seu pai,
conánua Freud, a mãe contou-lhe que em seguida à conclusão de
seus estudos, estava preparando-lhe um casamento de interesse junto
à prima rica, a qual poderia lhe oferecer brilhantes perspectivas no
campo profissional.
Esse plano familiar lhe desencadeou o conflito. Ou bem o
sujeito seguiria os passos de seu pai e casaria com uma linda e rica
mulher a quem estava predestinado, ou bem declinava dessa proposta
e continuava fiel à sua amada. Então, o sujeito adoeceu, resolvendo,
desse modo, o problema entre o seu amor e a influência de seu pai.
Numa solução de compromisso, ao ficar doente, o sujeito tornou-
se incapacitado para o trabalho e para o estudo, permitindo adiar a
conclusão de seus estudos e de seu possível casamento de conveniência
(FREUD, [1909] 1990, p. 201).
Então, conclui Freud, o que parece consequência, na realidade
é a causa ou o motivo de ficar doente. O que parece ser a consequ-
ência (o fato de o sujeito ficar incapacitado para o trabalho e para o
estudo em decorrência de uma doença mental), na verdade, é a causa
da doença. Para resolver o conflito em que se encontrava, o sujeito
adoeceu. Como o sujeito se encontrava dividido entre o amor pela sua
dama e a demanda de sua mãe de seguir os passos por onde seu pai
determinou O próprio destino, ele achou por bem adoecer. A doença
poupou-lhe de decidir, eni curto prazo, por um ou por outro, uma
vez que a doença faz simulacro de consequência. Como resultado
desse simulacro de consequência, 0 sujeito poderia adiar sua decisão
(FREUD, [1909] 1990, p. 202).
A princípio, 0 sujeito não aceitou tal colocação, mas com o au-
xílio di: uma fantasia de transferência, ele reviveu o episódio passado
Íllllii.,__
52 SUPEREU I UEREPUS: DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
A solução do caso
rd
localidade onde se encontrava a agência era, na ~e ªde_, um desejo
oculto pela jovem dama (rica) do correio e pela Jovem nca, filha do
O
dono da hospedaria. Sendo assitn, a hesitação que SUjeito tinha
entre os dois oficiais, tenente A e tenente B, nada inais era que um
substituto da hesitação que sentia entre as duas jovens por quem ele
estava inclinado.
Por outro lado, a elucidação dos efeitos que ª hiS tÓria do rato
produziu se faz de modo mais complexo. A história do castigo com
os ratos, sem sombra de dúvida, incitou seu erotismo anal, que de-
sempenhara papel ativo na infância e se mantivera constante devido
a uma irritação sentida por vermes. A palavra rato evocou uma série
de recordações, assim como uma série de significados simbólicos.
Rato adquiriu o significado de dinheiro, uma espécie de moeda-rato '
"tantos florins, tantos ratos", assim como prestações [raten]. O sujeito
construiu, em sua língua, um complexo monetário de juros em torno
do legado de seu pai. Enfim, todas as suas ideias se correlacionavam por
intermédio de "uma ponte verbal": "raten-ratten". O que Freud propõe
como "ponte verbal", poderia ser traduzido para significante-mestre,
em torno do qual o sujeito articula toda uma trama de significantes.
Ess_a ponte verbal abre-se para uma significação monetária como rato
de Jogo [spilratte], que reconduz à dívida contraída por seu pai (FREUD
[1909] 1990, p. 215-216). '
O significante rato també m assume uma conotação en1inen-
temente sexual, uma vez que o rato assim co " . .
transmissor d 'fil' N fi ' mo penis, poderia ser
e si I is. o undo tod0 .
ocultar todas as , . d ,'. esse receio de doenças era para
espec1es e duvidas acer d O . .
pai levava no serviç .. ca tipo de vida que seu
o mi1itar. O rato ta b , d .
um verme (morment ,. . m em po ena ser considerado
e um penis de u ·
as grandes lombrigas . ma cnança), mais precisamente,
. que transitavam e " ,. .
O Jogo "tantos ratos t fl . m seu anus em sua infanc1a.
~ , antos onns" E . 1 ~ , . . -
profissao que ele abom· azia- he alusao a prostitu1çao,
inava.
O significante rato vem .
que a história do capiC t
em subS ituição ao pênis, de modo
. . ao resulta nu . ~
SUJeito, particularmente r ma situaçao de coito anal para o
evo1tante 1·á
em questão eram seu p • ' que os personagens que estavam
't ~ ai e sua amada E
si uaçao descrita, outro si .fi · m contrapartida a toda essa
gn1 1cado que aparece com o significante
. , . do cas t'1go
A. 111stona • · cont::tda pdo. c:ipit:;íq , .·1
. os• r·1tus
C(>111
• , • • 1 ·l . b seu aspecto lascivo
prmc1p10, ter-lhe-ia apenas e 10cac o so · . . , ,
• <.: t't, •1
t .
· ~ •0111 ,1 ccn:1, or1ginaria de ,11 ,
Contudo, verificou-se urna conexao e • . ~ . . , 1.1
. ,. . ~ .· ·dido alguém. O cap1tao - SL1Jc1to que
mfanc1a, na qua 1 eue tena mor • . ~ . .. . . .
. d .e. d .· , t'po de puniçao - tornou-se o substitut<i
passive1mente e1en ena esse 1 , . . . .
. . ., , a todo O seu o od10, antes <lmgido a
do pai. E, por consegmnte, atrair, . , . ,. .
. d .d -ia que lhe ve10 a conscienc1a sobre 0
seu cruel pai. A natureza a 1 e , . . . .
, . . d · · ruma realização do desejo d1r1g1dci ao
suphc10 de seu pai se tra uz1na po .
. ~ ", . lh .e. ma mesma coisa!" O desejo era dfrígjd0
cap1tao: e preoso que e 1aça , .
· , · ém através dele, por ultimo, a seu pai,
a quem narrou a l11stona, por ,
Quando o capitão solicitou-lhe que ree~bolsasse o te~ente A,
· · Ja
o SUJe1to ·, sab'1a d e antemão que seu cruel superior estava eqmvocado _ .
, ·
e que a umca pes soa a quem devia algo era a dama do correm.
. ,.. _ Assim ,
facilmente poderia ter pensado em alguma resposta uon1ca para dar
;:>" " .
ao capitão, como "Você acha que eu vou mesmo pagar. , pago, c01sa
nenhuma!", "Claro! Pode deixar que eu vou pagar a ele!"
Segundo Freud, essas respostas não estariam sujeitas a nenhuma
força compulsiva. Pode-se considerar que esse seria o tipo de resposta
que o sujeito daria se antes tivesse concluído sua análise. Observe-se
que as soluções propostas por Freud como resposta ao Outro são, na
verdade, uma condição cínica frente ao Outro. Essa condição cínica,
encontrada no final de uma análise, faz com que o sujeito se aproprie
de um humor que faz esvaziar toda a dimensão insuportável do Outro.
Contudo, em vez de proceder dessa maneira, o sujeito cedeu às
influências do complexo paterno, à cena originária de sua infância e
à esterilidade de sua amada, de sorte que uma resposta formulou-se
em seu inconsciente, como: "Reembolsarei O tenente A assim que
~ meu ~ai e a dama tiverem filhos". Em síntese, 0 sujeito cedeu ao
1mperat1vo do gozo jocoso do supereu ligado a uma absurda condição,
que jamais se satisfaria.
Freud as_sinala que esse absurdo significa a zombaria na lingua-
gem supereg01ca a que o obsessivo está sujeito. Pode-se considerar
que o supereu zombeteia de sua preocupaçao ~ com a esten·lid ade de
sua amada, assim como debocha do respeito que nutre pelo seu pai.
Como fora
. cometido, · 1tar as duas pessoas que lhe
o pecado d e msu
eram mais caras, so restara ao suieito
:i
subme t er-se a, pumçao.
· -
Conclusão do tratamento
Após um período não inuito longo, onze tneses, para "uin caso
sério", o sttjeito se curou. Em 1910, Ernst torn~t~-se un~ desabonado
do inconsciente, concluindo o seu final de análise. Assm1 , o sttjeito
conseauiu dar outro destino à sua vida amorosa, não repetindo a
~ d ~
história de seu pai. Ernst desvencilhou-se as pressoes do Outro
e casou-se com sua escolhida Gizela - a n1 oça pobre, que tanto
amava. Ainda co1110 fruto de sua análise, em 1913, concluiu o seu
curso de advocacia.
Infelizmente, Ernst, assim como outros tantos jovens de sua época,
foi convocado a lutar pelo seu país, na Primeira Grande Guerra Mundial.
Ernst teve o mesmo destino que milhões de jovens que perderam a vida
na mais sangrenta das guerras. Os críticos de Freud argumentam que
Ernst não fora pai e que morrera muito cedo, antes da doença reincidir.
Diante das críticas, observa-se que Freud nunca se iludiu, pelo contrário,
desde cedo relatava os muitos limites da psicanálise.
Notas
1
O agente psíquico especial foi abordado a partir do texto Narcisismo: Uma
introdução.
2
A estrutura: podemos dizer que, embora Freud tenha conhecimento do
conceito de est rutura, esse conceito não tinha a dimensão encontrada em
Lacan. Entretanto, consideramos que não se trata de um uso aleatório do
conceito, pois Freud retorna com o termo "estrutura" por diversas vezes, por
exemplo: (a) "algumas características gerais das estruturas obsessivas"· (b) "As
lembranças reativadas e as t ~ ' d
uma .. _ . ª~ ocensuras sao estruturas que têm a natureza e
[ ~oncibaçao entre as ideias reprimidas e as ideias repressoras" (FREUD,
1909 1990
, _P· 223); (c) "Acho que estruturas como estas (referindo-se ao
i;:oar obsessivo) ,r:1erecem ser denominadas de delírios" (FREUD, [1909]
-
' P- 22. 4); (d) Nem todas as O bsessoes - d , ·
o paciente se constitmam assim
tao complicadas nas suas t - · , d
·d · d es ruturas e tao d1ficeis de resolver como a gran e
i eia o rato" (FREUD '
estrutural co . . ' [1909] 1990, p. 227); e, (e)"[...] de certa semelhança
3 • ma ideia do rato" (FREUD, [1909] 1990, p. 229).
f mperativo categórico· "A d
possa val · ge de tal modo que a m áxima de tua vonta e
er-te sempre como . , . ·o
pura é por si , . principio de uma lei universal." Então, a raza
mesma pratica fac 1t d I ue
denominamos d 1 . ' °
u an ao homem uma lei universa q
e e1 moral (KANT, 2000, p. 41).
'. 1
•·
li'
.. , 'I •
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. -:').
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.... ..
63
Do eu ideal ao ideal do eu
-
64 SUPEREU I UEREPUS: DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
.com a finalidade
. de assegurar
" a satisfaça~o narcisica
, · provemente· do
ideal. A finalidade
~ desse .agente especial" e' averiguar
· a rea1 me d'd1 a
do eu em relaçao ao seu ideal. Como sabemos, em decorrenc1a " · da
~ 1u,I ~ c:omCamseanner
numa identificação desse tipo. Por con~equ~nci , . . . 1 . t· •
, . • . . • • ,b H1t•11t1 1c.1rocs
consideradas secundanas e filiais reforcam 3 . .
· · · pn 1111.'t r.1 id1.•11ti tic ,l(.\u
matriz (FREUD, [1923] 1980. p. 45).
A identificação prirnária se d.í de nnn ., 1 d. .
• _ . • t: í.l treta e 11.10 ~eguc
0 processo de mttoduçao ao objeto perdido p 0 1
, . . _ . , . ., · r outro 1aoo. qu:rndo
ha uma 1dennficaçao secundana,Ja ocorreu O iníc·10 d J d··1,1 1t:~ tlC,l · , e d'1-
piana,. de sorte
.
que as assinlilacões
,
e substitui·ço·es d·.1 1·1. ·d d b'
101 o e o ~cto
pemutem instaurar um modelo de imagem semelhante 30 modelo
sexual do pai ou da n1àe e são sustentadas por insígnias tãlicas.
Por conseguinte, Freud assinala:
;
,
do objeto e a identificação são indistinguíveis uma da outra, de tal
forma que os investimentos do objeto, que procedem do isso, sentem
as tendências eróticas como necessidades. Esses investimentos libidinais
não se submetem ao processo de recalque, fazendo com que o eu se
identifique com aquilo que ele devora. Nessa fase, o eu ainda é frágil
e, diante desses investimentos do objeto, tributários do isso, só lhe
resta submeter-se ou recalcá- los. A substituição da escolha do objeto
pela identificação pode ser encontrada em casos de povos primitivos
que pensam incorporar as qualidades dos animais quando os comem.
Essa crença constitui as raízes do canibalismo e encontra-se na base
do banquete totêmico, assim como pode ser identificada nos ritos da
religião católica (FREUD, [1923] 1980, P· 43).
Freud comenta que a introjeção do objeto, sob o viés de uma
regressão à fase oral torna mais fácil ao eu abandoná-lo. Talvez,
continua Freud, a id:ntificação ao objeto perdido seja a úni~a forma
possível e eficaz encontrada pelo isso para abrir mão do objeto. As-
sim, a libido de objeto se recolhe e se transforma em libido narcísica,
A duplicidade do supereu
Freud ([1923] 1980, p. 49) assegura que ~•~---1 o supereu, c~nt~-
e s1mp1esmente um resíduo das primitivas
~ , ·
do, nao ~ . escolhas
, . objetais
·
do isso; e1e tamb emr
, ' epresenta uma formaçao reativa energ1ca contra
essas escolhas".
Com efeito, pode-se deduzir que, quando Freud afirma essa
proposição, ele quer dizer que o supereu também é originário das
escolhas objetais do isso. Esse dado nos parece de suma importância
para a origem do supereu, uma vez que se encontra nos primór-
dios, isto é, ele é anterior à "formação reativa das escolhas do isso".
Destarte, verifica-se que as escolhas objetais do isso expressam um
supereu arcaico, ao passo que .a formação reativa contra essas esco-
lhas expressa um supereu desenvolvido, resultado do declínio do
complexo de Édipo.
Portanto, a partir de uma identificação matricial, surge um.
supereu arcaico derivado das escolhas objetais do isso, que se expressa
por um imperativo do gozo: "você ·deve .ser assim" (como seu pai). ,
A enunciação "como seu.pai" é silenciosa e subentendida, não apa-
recendo no pensamento, de sorte que a frase aparece modalizada por
uma meia censura. Com efeito, possivelmente, a frase integral seria:
"você deve gozar assim, como seu pai". Em contraparüda, o supereu
tamb ' ' O r: · d
em e eie1to essa frase, uma vez que surge a partir de urna
~ormação reativa contra as escolhas objetais do isso e se expressa pelo
~~npe~at~vo categórico. Então, a consequência da primeira frase será:
voce nao pode ser assim" (como seu pai). Ou seja, a frase: "você não
•·
Dl9ltallzado com Camscarmer
r , 1 r ~ usDES"I iHOt;
. '-. IJ/1'~ cJfllGLI~ ., AOJ J
72 li\11'1:Hl:\I I lll:IH .i'll 1. '
. 1 1
• •• o c; ar{,tcr LO 1J,,11 morto, tornando-se
l . •
t ri e.hei<.: paterna, cio ensm 0
Portanto, os'U\)él'Cll íl( q1111 ,c í\io da au O ~ ..
,. , COIII O ,lllX 1 , . .'o e c.lJp1an o.
poderoso e scv 'o, e, . .:- n:c:1ka o oc.:seJ . , .
csco\:\1,. l1·,I lC·itura e tLI rcligi,w,
.
. . f;}r O complexo ele Ed1po e
1)l'liS intenso l , .
,E t-'ivel que qua11to ' · rn·d s severa sera sua dom1-
tH.l • ' ~ ·1 > supcrcu' L • •
.. .' d
lll:llS l ap L.
·i for sua dissolu~:no pc < • .;-
' 'rll vocaç,LO
para ditador, pois, quanto
. :- sobn.: 0 cu. O
iuç,10 . .
supcrcu
.1 ·latesua aç,10:- e·ficaz d.e recalcar as pulsõe~, ~
. • . , sel\tC cnva1dccH. o pc 'ft' cios ao eu. O supereu nao
t • • •
m.us se . • , -•xJgtr sacrJ • . .
•. s•· sente
mais . . ., . confortavel para e
. e desaprov • a seus interesses ed1p1anos,
é mn beneplácito para com o cu 1 (FREUD [1923] 1980, p. 49).
· ., to de cu pa ' .
Provocando-lhe o sentimen a bem d·a ver ,. dade é O resultado de dois
' .
A origem do supereu, . / . a e outro de natureza h1s-
de natureza b101og1c
fatores relevantes, um · d m tempo prolongado em
. . f: , decorrente e u
tórica. O primeiro ator e na dependência. O segundo
. tra no desamparo e ,
que a cnança se encon 1 d Édipo causar um penodo de
. , d. 1 ção do comp exo e
é devido a isso u . . . . em duas etapas. De acordo
,. . d te que a vida sexua1se 1mc1a
latenc1a, e sor ,. . onstitui uma herança cultural
com Freud esse fenomeno s1ngu1ar c
necessária~ decorrente da era glacial. Com efeito, Freu~ afirma que
a diferenciação do eu e do supereu não é mera qu~stao de acaso,
visto que, por causa da expressão da influência dos ~a1~, ~la perpetua
a existência, desde uma época primitiva, tanto no 1nd1v1duo quanto
na espécie humana.
Freud (1923) toma o ideal do eu e o supereu como sinônimos.
Assim, quando o ideal do eu se forma, ele apresenta vínculos com a
aquisição filogenética, ou seja, com a herança arcaica de cada indiví-
duo. Entretanto, não falamos de herança arcaica advinda do eu, mas
apenas do isso. Então, o que existe de mais baixo em escala de valo-
res do isso é colhido como núcleo formador do ideal. E esse núcleo
se transforma posteriormente no que há de mais elevado na mente
humana. A dialética do inconsciente, analisada à luz da psicanálise,
se evidencia pelos paradoxos, visto que a instância mais elementar,
mais primitiva e de mais baixo valor moral é O nascedouro da mais
elevada, mais acabada e mais idealizada instância da mente. Sendo
assim, o supereu originário das profundezas do isso ascende sobre o eu.
O ideal do eu, em primeiro lugar, representa os anseios do pai,
que responde como modelo pelo que há de mais alto na natureza do
. Existem
~
determinados fatos l' .
c 1n2cos a p · , ·
exp11caçao, que ilustram b ~ ' nnc1p10, estranhos e sem
. em a relaçao ent O
clientes não toleram p b re supereu e o eu. Alguns
erce er que o a l'1st
com o seu caso promisso D . na ª encontra-se satisfeito
d r. e modo I .,
escontentes, e seu estad nvanavel, eles se demonstram
~ o se agrava
nao suportam manifestaçõe d novamente. Pessoas desse tipo
d . . s e apreço o 1 .
e maneira Inversa quand u ena tec1n1ento e reagem
, . o reconhece O , .
A intervenção do a . m propos1to do tratamento.
na11sta, qu . .
constante, os pacientes r d e visa a melhora de maneira
F d espon em
reu denominou esse fe . . coin a piora de sua doença.
nomeno de re ~
açao terapêutica negativa e
.
'
Di!jililli,;odocom Ci1111St:111111t1
SO SUPEREU I UEREPUS. DAS Ol~IGENS!\O· SEUS f)ESTIN05
Não só encontraremos e
mente aragem para supor que existe real-
na mente uma comp l ~ ,
ao p · , • d ' u sao a repetição, que sobrepuja
nnc1p10 0 praze
a rela · ' r, como também ficaremos inclinados
, c10nar com essa con
, •
1~
ipu sao os sonhos que ocorrem nas
11 euroses traumat1cas e oi 1 . . .
(FREUD, [19 ] mpu soque leva as crianças a bnncar
20 198 O, p. 37).
Restrições à agressividade
DÍ!,lil!tli.1:«k! CU111C..11Sc:•■lll'f
jP"
trata do pai biológico, mas de uma fun~:ão paterna, como pai m,ntc,.
Mas a culpa traz outra conotação, já que o culpado é um devedor. A
palavra Sc/11,1/d, em alemão, design a, ao mesmo tempo, culpa e dívida.
Então, pode-se traduzir o sentimento de culpa para um scntimcntc,
de dívida para com o pai, pois cada ser humano tem um sentímtnto
de dívida impagável para com seus país. . .
Então, diante desse panorama freudiano, JU 5t1 fica-se O uso do
termo sentimento de culpa inconsciente. Inicialm.ente observa-se
que a culpa é um afeto que já teve uma representação acoplada a ela.
Cabe salientar que a culpa é sempre de algo que foi cometido. O su-
jeito é sempre culpado por ter rea~izado algo em ato ou pensamento.
No entanto o ato considerado mau, de modo algum, não é um ato
'
prejudicial ou perigoso, mas pode ser algo desejável e prazeroso para
o eu (FREUD, [1930] 1980, p. 145).
A culpa pode também surgir em decorrência de uma represen-
tação, seja consciente, seja inconsciente. Então, pode-se concluir que a
culpa é um afeto que se encontra sempre ligado a uma representação.
Se essa representação foi recalcada, a culpa pode seguir três caminhos:
primeiro, pode perm;necer como culpa, mesmo após o conteúdo
ideativo ter sido recalcado; em segundo, pode transformar-se em
outro afeto, sendo o caso mais frequente, decompõe-se em angústia;
e por último, pode declinar-se pouco a pouco.
Neste momento cabe uma indagação: afinal, qual seria a repre-
~entaçã~ recalcada que, antes, estava acoplada ao sentimento de culpa
inconsciente? A partir dos apon t amentos fireud.1anos, verifica-se
· que
resta apenas uma resposta · A 1·d eia
· reca1cad a, que antes poderia estar
acoplada
. , . ao sentimento de culpa, é a ide1·a do P arnc1. 'd·10. A 1.deia
. do
. . seria, em última. análise , o da no sofin.do por outrem. As-
parnc1d10
.
s1m, a idena do parricídio recalcada desd . ~
• . d e. . e o assentimento da castraçao
prop1c1a, e 6.0rma direta, o sentimento de 1 . .
cu pa 1nconsc1ente.
A lei de Talião
0lgit11liz11docom CamSc~
C.APII ULO li • /\ CONSTnUCAO DO CONCnro DE ~UP"" n[.
., " " U CM F°AEUD 95
~
· <jll''-. ,..., º., u t on•c1ade nao
s..,. sentem segur:ts par:t praticar algo mau • desde
saiba e que nJo possam ser descobertas (Fui:ut>, ll'JJOI l'JHO, p. HH).
O remorso
.
o sentimento de cu IPa como cimento da civilização
A consciência moral
st
A e ruturação do supereu é decorrente da divisão do eu conrra
si mesmo, e _su~s exigências. A exigência de castigo se expressa como
uma angustia ligada ao objeto, que se manifesta como reprovações da
· (1909) na passa.:-n•m
nas Notas sobl'e ,m, caso de neurose obsesswa ' · b - · em qu~
n O
o pai do paciente em questão, desaprova clo ro~a~.ce, interfc-re e-rn
· f: - , · com a J·ovem pobre, [,,.] Uma s;it 1·cca
1 -
sua sat1s açao erot1ca para . - , ; Ça()
1
erótica exige uma agressividade contra a pessoa que nterferiu na
satisfação, e que essa própria agressividade, por sua vez, tem guc \er
recalcada" (FREUD, [1930] 1980, P· 163).
Assim, diante do amor que nutria pelo pai, ao sujeito nã()
restou alternativa senão recalcar a sua agressividade. Desse modo, a
agressividade é transformada em sentimento de culpa, v isto que foi
transmitida ao supereu. Considera-se que essa passagem, entre outras,
explica o fato de o Homem dos Ratos ter um supereu tão rigoroso e
agressivo. "Na literatura analítica mais recente, mostra-se predileção
pela ideia de que qualquer tipo de frustração, qualquer satisfação
instintiva frustrada, pode resultar numa elevação do sentimento de
culpa" (FREUD, [1930] 1980, p. 162).
Os sintomas, de acordo com Freud, são satisfações substitutivas
para ~s desejos sexuais não realizados. Assim, quando uma pulsão
expenmenta um recalque, seus elementos libidinais se transformam
em ~intomas e, em contrapartida, seus elementos agressivos se tornam
sentimentos de culpa. Então, cabe considerar que a neurose utiliza
uma quota de sentimento de culpa e uma quota do sintoma fazendo
uso deles co~o ~unição (FREUD, [1930] 1980, p. 163). ,
sint Ademais,
,. e necessário clarear esse fenô meno, uma vez que os
ornas tem um equivalente de t.15f: ~ ~
sexual recalcad C . ~a açao e sao substitutos da pulsão
a. orno toda pulsao sex 1
ta de agressividad ua carrega consigo uma quo-
e, ao ser recalcada 1 d ., -
Esse caráter agressi d _ ' e ª per e seu carater agressivo.
vo esmembrado d 1·
em sentimento de ª sexua idade é transformado
. cu1pa que, por sua v . .
substituto da pulsão N lí . ez, retorna cativo ao sintoma,
sujeitos agarrados de t
. a e nica
d
a·
' por iversas vezes, encontram-se
.
tentativa de libertá-lo
ª1mo o a seus sintomas
· .
que, diante de qualquer
s, emerge um fl agrante sentimento de culpa.
O supereu social
. Freud
. , comenta que a vi-d a orgâni 0 , .0
do md1v1duo e sobretud ca, desenvolvimento ps1qu1c
o o processo d e cu1tura foram desenvolvidos
Conclusão
A violência e o poder
. ,. . d . são máscaras do supereu que 11v:de:: 5('1,
A v10lenc1a e o po er . ,.
. .tO de violência é an1plo, diverso. ~ e5t..a ~ "::::-·
bre a soe1edade. 0 concei . • . . , ':
. . espeito Ademais, o conceito de , ·1 .e::..::.;
de existir um consenso a r · , .
itos de caos de transgressao, de d ~-s rue: 1.
se confiunde com os Conce· '
· ·d d de coerção • Portanto , é preciso circufücr~,-c-, ,~
d e agress1v1 a e e
minimamente. A violência não se encontra na natureza, porunm ~
um produto da ·civilização, da linguagem e do huniano. Unu t d .l
que rola e esmaga uma casa habitada ou um tigre que deYor~t br,\ \
de um menino não são atos violentos. Esses fatos são consid~.t\Kk.~
acidentes, mas não violência. Portanto, a violência é u1n ato inttr-
pessoal, sobretudo calcado nas relações sociais.
Cabe assinalar que a violência é mn ten1a an1plo e ~,br~ µ~u-.\
diversas discussões, como a de violência evitável e inevitável, impli-
cita e explícita, justificável e injustificável, construtiva e destnltt\':t
violência como defesa pessoal e con10 ataque ao outro. Num dd);\té
mais amplo, temos graduações e classes de violência: viol~nÓ;\ mor;\L
psíquica, sexual, econômica, ideológica, entre outras.
No assassinato do pai primevo, nessa violência fm1d;,dor;\, t'Sd
contido O primeiro ato que institui a hun1anidade (l::rrnun, ll9 UI
1980). Porta~to, no princípio era o ato. Desse n1odo, ~ viol~m:ia}
1
--~ 1J.~~t~ u~s!~d2~Lsk1J?-»tn~.2ffi.~4.~ É digno de nota o papel tfa vio-
lenc1a
. ·~
nos mitos e nas r e1·igioes. A B'1blia
• esta, repleta de ~Xt'tnj)11s t·
violentos:
. · tO d e Ab el por Cauu
desde o assassina . até a crucit· ·1c:1~··,tt
'1
de Cnsto. Nos gregos ' d e acord o com Platão, a violência . e, u<.:VH
J • 11
l
a um erro revelado pelo
, , mun
d d
°
a doxa. O 1nais justo dos houtcll ,
, 5•
Socrates, e condenado à t · • d LJJ t··io
. ,. . mor e II1:Justan1ente e a resposta e :1 '
para a v10lenc1a do Est d0 , 1·
. . ª e a 1nguage111 da verdade, do idea 1e d·1 '
sabedoria. Na idade m 0 d o
erna, com Thomas Hobbes, se inst:iuríl
CAPÍTULO li - A CONSTRUCAO DO CON
CEITO DE SUPEREU EM FREUD 107
. · ....._anciuea em c e11ue.• ~
de notoriedade, mesmo que s.eJa llli ' •
Notas
---
'--
,...
lllh-..
Dlgltollzcóo co-n C;;imScanrocr
117
, . fl
Lacan e 111 uenc1a o
- d de maneira substancial.por .
Klein em se
us
(1946) e A agressividade na psica ,1.
~extos A psiquiatria inglesa e aguerra _ . . na ise
, imeiros psicanalistas a apre
(1948). Aliás, Lacan esta entre os pr_ , . sentar
T.{" . de maneira sistematica e elaborada. Lacan en,
os resu1ta d os d e .r J.1elll . , . •u
1948 situa Klein como pioneira no ensino que abor~a o mais aquézn
. . d . ·ustamente ali onde o Isso nao fala. Ademais
do Imute a 1mguagem, J ,
" ta'di·o do espelho como formador do eu" está
Lacan ressa1~a que o es
conexo com o supereu precoce kieiniano ~LAUR:NT, 1984, p. 64).
·ar que "o inconsciente e estruturado como
Lacan, ao enu ncl
.
1mguagem ", re t oma seus comentários sobre a ação kleiniana. no caso
Dick, publicado em 1930. Lacan assinala que Klein promove uma
verdadeira ação do simbólico na criança (o grande trem papá, 0
pequeno trem Dick e a estação mama). Lacan assinala que com ~uas
intervenções Klein resgata a criança do real, forja o seu eu, estrutura
o Édipo e coloca em j ogo a significação fáhca (LAURENT, 1984, p. 64).
Klein operava com o simbólico para produzir o imaginário. Como
assinalado acima que "o inconsciente é estruturado como fantasia"
para Klein, todo esse esforço de reduzir as formações do inconsciente
ao fantasma tem consequências maiores na prática da interpretação. A
interpretação kleiniana promove a significação fálica e se articula com
o Outro da Hnguagem. Contudo, a saída da alienação para Melanie
Klein não é a separação, mas a reparação (LAURENT, 1984, p. 70).
Levando em conta a advertência, particularmente no que Mnge
à imaginarização do simbólico, tentarei percorrer os principais textos
de Klein, isolando e circunscrevendo os elementos decisivos de sua
elaboração do conceito do supereu, que de certa forma contribuíram
para a construção posterior do conceito do supereu em Lacan. Pro-
curemos analisar o conceito do supereu em Melanie Klein, contudo
usando a lupa lacaniana.
De saída, podemos dizer que Mdanie Klein propunha uma
técnica diferente, e não novos conceitos, tampouco princípios. Aliás, a
autora orientava seguir o método psicanaHtico proposto por Freud no
~ceante aos conceitos de pulsões, resistênc~as, transfe~ências, compulsão
a repetição ' além d a poss1·b·1·d d ' · de
1 1 a e de se descobrir a cena primaria
aco rd o co~ 0 texto História de uma neurose infantil (FREUD, 1919 [19lS]
1980). Klem asseo-ura
e
, · do brmcar,
va que a tecmca · proposta como mei·o
~
• do cotn PIcxo de castraçao.
contribuindo, .assin1, para a. construção
Podemos considerar, a partir de Klein que a ina~ ,_. na f::isc d a ere1n1n1-
, < ... ,
• .
a=.J:11arlJll lt l!".49 _ __ _
·'
Dlqltallz:.doCO'II C)ffl$c:.Jll1Cf
n:z dentro do corpo d:i criança. fazem com que ...~Ia, suspen d a to d ~1
inYesr.igaçiio
~ • ••• ,a 1·111·b·tçao
a sc-u respeito. contribuindo pa..,,. - mte
· 1ectua
1
(KLEIN. (1931] 1996. p. 277).
_ E1n de_cor~ê1~cia da d_eYastaçào itnagin:hia causada pelo supe-
reu teroz e- fantasttco. a criança se torna incapaz de conhecer seus
processos 1nentais e os conteúdos de seu corpo próprio. Dess:i form:i.
a criança não consegue utilizar o pênis em seu aspecto regulador e
e_,ecutor do eu. Pensan1os que, nesse n1omento, quando Melanie Klein
comenta de 1naneira in1aginária sobre a função reguladora do pênis
do pai, ela intui que o pênis paterno possui uma função simbólica e
uma significação fálica, que mais tarde Lacan vai precisar como falo.
Na medida em que a criança não consegue receber a dita função
reguladora do pênis do pai, as funções do eu sofrem inibições de toda
ordem. Desse modo, o supereu exerce um forte domínio sobre o eu,
de sorte que, numa tentativa de controle, fecha para o eu as influências
do mundo externo. Sendo assim, o supereu priva o eu de todas as
fontes de estímulos, que formariam seu alicerce nos interesses e nas
realizações do mundo externo. Surgem, então, graves inibições em
torno do aprendizado e da resistência à educação, que se ~ombinam
com uma intratabilidade, uma liebeldia e uma independência dos
objetos externos (KLEIN, [1931] 1996, p. 279).
A inibição intelectual, claramente predominante de caráter
neurótico-obsessivo, é ;companhada de uma angústia de absorver
indistintamente tudo daquilo que é útil e daquilo que não serve para
nada. Dessa experiência é que surgem os impulsos de colecionar e
acumular objetos, em correspondência de oferecer tudo indiscrimi-
nadamente ao Outro (KLEIN, [1931] 1996, p. 281).
Melanie Klein trabalha a ideia de que há, desde o início, um fato
detectado na experiência de análises com crianças pequenas, a qu_al
diz respeito a uma disjunção entre o supereu e as figuras parenta1s.
A autora considera que a crueldade do supereu s~1~era e. exce_de a
severidade dos pais. Sua tese era que as imagos ed1p1anas mtroJeta-
das erain distorcidas pelos impulsos sádicos, transformando-se em
figuras aterrorizantes (KLEIN, [1933] 1996, p. 283). Essa ~un~ão, que
coaduna a crueldade do supereu com a severidade dos pais, ~ ~ncon-
trada no 1n1c10 . 1n1·ci'almente• O su1eito
· , · d e ana, 11se. ~
se sente v1t1ma de
un1 pai imagin ário . entreta nto isso n iio se su 5t e nta n o decorrer de
un1 processo de análi e. um:1 vez qu e. at ravés d:.ts e nunc iações, es~a
disjunção se prcsentifica.
Em 1933, Klein elabora um te xto denominado O dcse11uo/11i111w -
to i11icial d,1 co11srib1ci<1 11<1 crÍrlfl(<l , no qu al che g,l a a lguma, conclu Õn,
importantes: (a) o supercu rigoroso e cruel n ão correspo nde à scverr-
dade dos pais, mas de imagos parentais introje tad as e disto rc idac; pelo
sadismo infantil; (b) a angústia fóbica de objetos rea js está ca lcada no
medo que a criança tem de seu supe reu e, num prism a fantástico. que
a criança percebe os objetos reais sob a influê nóa do supercu. Klêin
tenta responder sobre a indagação do motivo pelo qual as crianças têm
uma ideia fantástica dos pais tão afastada da realidade com o núcleo
da formação do supereu (KLEIN, [1933] 1996, p . 287).
Para entendermos a constituição do supereu como um a estru-
tura sádica, se faz necessário recorrer a dois textos cruciais da o bra de
Freud. Em Além do princípio do prazer, Freud (1920) comenta que há
algo mais primitivo, elementar e pulsional, anterior ao princípio do
prazer, destinado a urna compulsão de repetição, ou uma compulsão
de destino que se reduz a um núcleo masoquista, essência da pulsão de
morte. Nesse texto, Freud apresentou a teoria de que a pulsão de morre
é combatida e presa pela pulsão de vida (FREUD, (1920] 1980, p. 33).
Em 1924, no texto O problema econômico do masoq11ís1110, Freud
retoma esse assunto ao dizer que a libido enfrenta a pulsão de morte
com a missão de torná-la inócua, desviando-a, em grande parte, para
o mundo externo. Então, a pulsão de morte, expressa no masoquismo
primordial, revertida em seu par oposto - sadismo - é desv iada parj
fora pela libido, originando a pulsão destrutiva e a vontade de podcr.
Entretanto, grande parte dessa pulsão n ão co1npartilha dessa transpo-
sição. A prin1eira parte, que resta conectada à libido, vai ser colorad.t
a serviço da futura função sexual. A outra parte, que resta da puls:io
de morte, permanece como masoquismo primordial. Por fim, Frc·ud
([1924j 1980, p. 205) afirma que "[.. .] desprezando uma peque1u falta
de exatidão, pode-se dizer que a pulsão de morte, operando na vid:l
menta] como sadismo primário, é idêntica ao masoquismo".
Segundo a interpretação de Freud por Klein, do resultado entre
ª fusão da pulsão de morte e a libido ocorre o sadismo. Para evitar ser
,'~
01i.1111llt ad:o com Cam5c•"""
130 SUP-EP.EIJ I UEREPUS: DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
Notas
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135
Introdução
O estoicismo
Miro o melhor e.faço o pior.
SÊNECA
Emmanuel Kant
,,
140 SUPEREU I UEREPUS: DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
- ,
A ranoeumpnoc1 · 'pi·o da ação de 111n dever ser,
. que todo ser
bri<Tação de se realizar.
. . ,De acordo
h umano, como agente, t em a O ;:,
, e. sob os auspi'ci·os do estoicismo, o sujeito e um ser da
com o filosoto,
_ . d. . t . re e tem que se realizar de maneira in-
razao, 1ncon ic10na1men e 11v . .
. . . . d a<Tir racionalmente ou arb1tranamente,
cond1c10na1. 0 sujeito po e ;:, ~ , . . .
_ escapa d o d om1n10
mas nao , . d a razão , pois a razao pratica aplica a lei
.
1ncon d.1c10na
. 1d a 11.b erd ad e. Segundo Kant , a moral se constitui como
lei da liberdade e tem o dever de se realizar. Então, 0 que impede
essa 1e1. e, o que cerceia . a lºberdade
1 , e O que impede a liberdade é o
·
1mora 1. o suJeI
· ·to nao
~ t m escolha Na verdade, ele é condenado à
e - , . . .
O
liberdade de maneira incondicional, pois o homem e sujeito da lei
moral e um fim em si mesmo. Sintetizando: a razão teórica é tudo o
que diz respeito ao conhecimento; a razão prática é tudo o que diz
respeito à liberdade e à lei moral. Só assim haverá uma síntese numa
razão de pura prática.
Kant cria um paradoxo ao falar de determinismo articulado
com a liberdade. Segundo o filósofo, é só no determánismo que
o homem encontra sua natureza reflexiva, pois ele se distancia
do todo da natureza à medida que se torna autoireflexivo e se
coloca como objeto de conhecimento. Kant considera os deter-
minismos de dois tipos: os do inconsciente, históricos, e os da
natureza, necessários. Por conseguinte, ao conhecer seus próprios
determinismos, o sujeito se torna autárquico e autônomo. Então,
o primeiro passo da liberdade é o sujeito escolher, sabendo de
si e assumindo compromissos, riscos e responsabilidades, já que
toda decisão tem seus determinismos, seus desdobramentos e suas
consequências imanentes.
Para Kant, toda ação moral deve ser determinada pelo dever
ser, e não pela sensibilidade. Uma ação só será moral se for universal
e se detiver o poder de ser aplicada para todos. A partir do universal,
Kant propõe o critério moral por excelência: 0 imperativo categó-
rico. Assim, o sujeito atinge o bem através da virtude moral como
condição de dignidade. Para se avançar un1 pouco mais no dever ser,
na consciência moral e no imperativo categórico, será importante
considerar a Crítica da razão prática (1788).
1
;\
l -~SJ .:1- ,_1. ?· -r . .. .
~ r. ::esse .1 omcnro. argumenta sobre a felicidade e a capac1da-
, . ~ ho I11..'- n1 - O filósofo afirma que a lei moral ordena o
1
- •- - -
CT L.i: ~1llif2Q O 00
=-
JJY~ µ i1lirU2!, ~ OS ct1n1primemos , e ,ua
- satisfacào
, está no cumprimento
do m~ndam caregórico da moral. Entretanto, o preceito empírico da
felicidade não é dado, por isso é possível satisfazê-la raran1ente, mes-
mo que haja forças e potencialidades físicas para alcançar realmente
um objeto desejado. Kant interroga por que, ao buscar sua felicidade,
n inguém se ordena a fazer aquilo que deseja (KANT, [1788] 2000, p.
46). O que se torna interes ante nesse ponto é que Kant intuía algo
paradoxal no próprio homem , que joga contra si 1nesmo e não se
permite buscar a felicidade a favor de seu bem-estar.
Numa leitura mais atenta, percebe-se a existência de enun-
ciados que dizem respeito à lei que impede que o homem busque
ma felicidade e que, ao mesmo tempo, quando tenta ultrapassar esse
impedimento, é penalizado com o castigo. O filósofo assinala que a
autoridade da lei moral e o conhecimento da obrigação antecedem a
busca da felicidade por ser a priori e universal, pois qu ando o sujeito
transgride a lei moral, ele se abre para a possibilidade do castigo. Kant
enuncia algo da essência freudiana do supereu na medida em que
a lei moral pode ocasionar depreciação, fazendo com que o sujeito
se perceba indigno e desaprovado, em virtude de sentir a amarga
imputação de sua infração. Ora o sujeito se castiga inquietando seu
ânimo, ora dirige o castigo para O objeto de seu d esejo, justificando
su.1 existência como um mal, de modo que O castigado deve convir
que sua sorte se coaduna com o seu modo de proceder. Antes, porém,
cm todo castigo deve haver justiça. Para aquele que mereceu a pen a,
o castigo deve ser justo. Após o cumprimento da pe na, 0 sujt:ito n5o
►
l AI '11111 l l IV lJ 1 '' li llr I' ,1~11, l'.AI li , ',AI J/ 1 I A!_AII 1,1~
t. 'l\\ ,, l\\t'\\\H' l\hltt\)c) dt' l'Ullt :11· t:Olll il 1>01111 ·111" ,,,,,· .,
, ~, ., 1>ot1cn;1
' parecer
\\\\\,\ ,~\'\H\\pt'l\:;,, (RAN'l', l 17HHI 2000, p. 47). Surprcc11dc11tcrnc11tc
\\ ,:;_~\ l'·'~"·'~l'<.'Hl, R.,nt enuiiéia uma IL'i lllor:11 <:01110 tllJl:t ínstfincia viva
'l\lt' p1..)\.k ~t' \'ült,,r t'c..mtt".l o sujeito, 111uito sc111clli:mtc às rnrnnças <lo
supêt~n. St'm düvkb, parcc:cm-110s cu11sidcraçôes prcc:íosas que Freud
pt'\)\~,n ~hnentê c:olht'u para elaborar o conceito do supereu.
A lei moral
Kant assinala un1 efeito negativo e a priori sobre as inclinações,
seja para o prazer, seja para a dor. A lei moral acarreta prejuízos às
inclinações, con10 o egoísmo [solipsismus], uma benevolência excessiva
para consigo n1esn10 [philautia], a satisfação de si mesmo [arrogantía], o
a.mor por si n1esn10 [eigen.liebe] e a presunção [eigendünkel]. A lei moral
infere prejuízos ao amor próprio porque lhe concede os limites estri-
tamente justos, apenas no âmbito do amor próprio racional, de sorte
que a lei moral aniquifa a presunção. Assim, com a humilhação das
inclinações, a lei moral se torna objeto de respeito. A lei moral fomenta
um sentimento que causa influxo na vontade. Esse sentimento tem o
nome de sentimento moral, constituindo o sentimento de moralidade
e respeito para com a lei moral. Sendo assim, esse sentimento moral
é o motor para o desenvolvimento de um sentimento de autoridade
para com a lei (KANT, [1788] 2000, p . 78).
Afirma Kant:
homem pode ter posição e tudo o que o destaca dos demais sem, no
entanto, despertar respeito. Assinala Kant: "Ante um grão Senhor
eu me inclino - diz Fontenelle - ; mas, o meu espírito, esse, não se
indina".
Por conseguinte, Kant realiza un1a adução:
•
0 qual nenhum mandamento sena necessano.
, · Para Kant o homem e
' ' , .
. .d d d· t lei divina Numa analise
uma criatura subalterna à auton a e ª san ª ·
. •
rnais acurada, percebe-se Kant comei m o,
·d· d em parte, com Freud
.
" D s sobre todas as coisas e ao
ao comentar o mandamento Ama a eu
146 SUPEREU I UEREPUS: DAS ORIGEI\JS /\OS SEUS DE STINOS
OigiUlb:adocom C-SC:4nner
150 SUPEREU I UEREPUS: DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
Kant e Sade
......11111
1ncdfor:i das luzes, esse período é apanag10
: , de um e 1to • -
momento reivindica um status para o1t . . u ª razao. Esse
, . ' . seus JU1gamcntos
ele e realizado a luz da racionaHdadc O h , ·' uma vez que
, ornem e educado pel
a razão, e tem como meio a divulgação u , d ª e para
" . mversa1 o conhecimento
para alcançar, enfirn, sua libertação. A razã , d . .
. o e etermmada interna-
mente como escopo umversal e autorregu]ad or, e rea fi1rma a umdade
.
do homem como atributo ú]timo, É nesse ethos que a c1enaa
., · moderna
se
. instala. Dois. séculos
. . _ se passaram ' e a razão não mais
· respon de aos
1myas_ses _d~ _c1v1~1zaçao, sobretudo os impasses éticos causados pela
propna c1v1hzaçao que nos prometia soluções.
A ideia do texto de Lacan Kant com Sade ([1963] 1998), retoma
a proposta de que a psicanálise é tributária do declínio da ilustracão
, ,
onde a razão não assinala para uma saída harmônica. Por conseguin-
te, o mal surge na cultura como possibilidade de felicidade e de
subst~ncia. Em Além do princípio do prazer, Freud (1920) contradiz a
concepção de que a bondade é natural e harmônica ao homem, e
põe em cheque a ideia de que tudo pode ser curado pelo otimismo
da ciência. O otimista é um sujeito ingênuo e mal-informado, pois
Freud enunda uma fantasia oculta e demoníaca dentro do próprio
homem, que trabalha contra ele próprio, impedindo-o de construir
um final feliz.
Ao descobrir o inconsciente e ao inventar a psicanálise, Freud
depara com algo estranho que se repete em todos os casos que analisa:
a fantasia. Uma fantasia estática que opera no inconsciente. Freud
elabora uma construção teórica acerca da fantasia, primeiramente
no seu texto As fantasia histéricas da bissexualidade (1908). Mais tarde,
o paradigma que Freud usa para repensar a fantasia é o text~ Bate-se
numa criança (1919). Lacan, por sua vez, não elabora a partir d: sua
clínica, mas toma emprestado da literatura o texto do Mar~ues de
Sade (1795), Filosofia de uma alcova para teorizar sobre a ~a~tas1a. "
O texto de Lacan Kant com Sade ([1963] 1998) se _d1v1de em tres
, 1· d fórmula kantiana; segundo,
pontos capitais: primeiro, uma ana ise ª .
. d . t.1vo sadeano; terceiro, uma
111ma introdução ao paralelo o impera
, . a Lacan subverte Kant ao
analise da fantasia sadeana e o seu esquem ·
iguala aos lugares sacros-
SUstentar a teoria de que a alcova sa d eana se
, 2s Nos dois lugares, trata-se
santos do berço da filosofia, como O Stoa.
eh, cnunci:'1ção
. ...
kantiana"[...] possa valer-te sempre
, ,, ·
. , . d
como pnnc1p10 e
um:i lcgtslaçao unwersal coaduna com a segunda p t d . -
" . ar e a enunc1açao
sadcana Pode ...dizer •quen1 quer
. , • .
que seia"
J ,
seia
J
eu o sujeito,
• • seja . eu o
obJcto
•
dessa açao no•
1111perat1vo
•
de Kant , seia
J O eu goza d or, seja
• eu o
objeto gozado no 1mperat1vo de Sade. Lacan comenta que Sade serve
de instrumento de den1onstração do objeto oculto na enunciação de
Kant. No caso, o objeto a, em Kant ou em Sade, aponta para a mesma
direção (LACAN, [1963] 1998, p. 780).
Aden1a~s, Lacan relata que em Sade o verdugo se encontra
como objeto a na encarnação do verdadeiro da vontade de gozo,
con10 desejo in1perativo de reduzir sua vítima à condição de puro
sujeito. Se, por um lado, o desejo, na neurose, se constitui a partir de
uma pergunta, por outro lado, o desejo do peryerso, como vontade
de gozo, é un1a resposta, pois o perverso está convencido de saber a
verdade sobre o objeto oculto.
Nun1 processo de análise, há uma redução da diversidade dos
personagens participantes na fantasia, mas a sua base permanece a
mesma, pois a fantasia fundamentaj é est~tica. Não é possível mobi-
lizá-la, entretanto, pode-se atravessá-la. O ~mportante é não se deixar
tapear pela fantasia. Lacan comenta que Sade não se deixa enganar
pela sua fantasia, uma vez que ultrapassou seus limites na fantasia,
colocando-a a seu favor, como literatura, pelo viés da sublimação
(LACAN, [1963] 1998, p. 786).
Conclusão
Enfim, pode-se concluir que os estoicos e Kant formam a fonte
da qual Freud bebeu para elaborar o conceito do supereu. Assim, Freud
assinala, com embasamento em Kant, que o imperativo categórico é o
herdeiro do complexo de Édipo. De outro modo, podemos asseg:irar
que, en1 Kant, já havia algo do supereu, visto que Freud propoe o
iniperativo
· categonco
, . como s1nommo
· ... · do supereu · Por outro. lado,
Lacan tambem , soube tirar
. prove~•to d e Kant ao isolar
. ... .o conceito. do
iinperativo
· categórico em suas d1mensoe
' - s de ex1genc1as, como 1m-
' I de cumprir e como 1mpossive
Poss1ve · ' 1 de suportar. Ademais, . Lacan
.
soube ir além, ao propo~ uma junção e l]ma disjunção, no hm1te do
r
Notas
25 Segunda navegação: Platão no seu diálogo Fédon propõe dois tipos de
solução para os problemas do mundo. Essas soluções são extraídas de uma
passagem da Odisseia, quando Eustáquio explica a teoria da navegação.
Platão propõe uma primeira navegação feita com velas içadas ao vento. Ela
é dispensada aos processos de caráter fisico do mundo sensível. De acordo
com os naturalistas pré-socráticos, são as respostas encontradas na natureza
1
1
sensível que explicam o fenômeno. Por outro lado, a segunda navegação é
aquela que se emprega quando o vell!tO se torna ineficaz. Navega-se com
1
! os remos. A segunda navegação corresponde a um novo método com uma
nova lógica. Espera-se com esse esforço que o conhecimento alcance o nível
metafisico e suprassensível, alcançando o que está por detrás das evidências
do fenômeno.
:!.6 Kant vai desenvolver, mais tarde, o núcleo dessa ideia na Crítica da razão
prJtica (1781).
n As inclinações são as paixões. Segundo Zênon, as pai'Xões são a dor, o medo,
a concupiscência e o prazer. A dor é uma contração irracional da alma;
suas espécies são: a compaixão, a inYeja, o ciúme, a rivalidade, a aflicão, a
mdancolia, a inquietação, a angústia e o desYario. O medo é a e:\.-pectatiYa
do mal. Existem algumas espécies de medo: o terror, a excitação, a vergonha,
a consternação, o pànico e a inquietação. A concupiscencia é um apeàte
irracional, e a da subordinam-se as seguintes espécies: a necessidade, o
ódio. a .unbiç.io. .i in. o amor, a cóler.i e o ressentimento. O prazer é uma
exalr.1çào irnciona.l diante daquilo que se considera digno de ser escolhido.
A el~ se subordinam o encantamento, o gozo maléYolo, o deleite e a efusão
(L-\ERTIUS, 1988. p. 206).
~ Scóa: significa pórtico. Filósofos do póràco, esroiru,n0 _
L
• . . -,
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-,- ---- -~ -7 "
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Dlgltollzcóo co-n C;;imScanrocr
,
p
161
Introdução
....
a não ser como 'tu_ deves"...,Esse "tu deves" h . .
. - c ega ao SUJe1to corno
uma palavra d esprov1da de todos os sentido 0
/ . • . s. supereu se apresenta
como um untco s1gmficante, na verdade sob a fi . .
. ' orrna mais reduzida da
]ínguagem - mm tas vezes apenas um significante_ •• d
. , prop1c1an o todo
um automatism.o perturbador. Lacan denomina O d
. ~P.~~~ _e E.ª1avra
~rPduz1da
--;:..;...-- _.a seu caroço, de palavra reduzida a seu no' , de paIavra no da
1
e também de tnedula da ~alavra (LACAN, [1953-1954] 1979, p. í 2S).
Interessante e preciso a expressão "medula da palavra" para
designar o supereu, que parece alcançar sua justa representação. Assi-
nala-se, em outra consideração, que a representação do supereu corno
"a pa Iavra re d uz1'da ao seu caroço " ou "a palavra nodal" está presente
na concepção do supereu em Melanie Klein. Uma concepção que
abriga a ideia de uma superestrutura que contém, no seu interior, o
elemento sádico e, no seu ex~erior, o aspecto do ideal.
A partir da ideia de caroço, de Lacan, e da ideia de supe-
restrutura, de Klein, que aparentemente se opõem, propõe-se
uma figura de linguagem em que oj ~_e r~~) ucaico, o supereu
do declínio do complexo .,.. de Édipo e o ideal do eu possam ser vi-
sualizados em cdjijunto, no seu aspecto topológico, representado
por um{fruta) Primeiramente, ao se descrever uma fruta, existe
---
a casca como aquilo que está em contato com o mundo exterior,
recebendo toda a sorte de estímulos e influências externas, que
representam ctffü!arao '-. -
·e-u ·) Em seguida, pode-se dizer que é(•põlpa_
- • __-::,, -
; I
da fruta, como ~egião nobre, representa o suE_~[~l!..Q~,,.declínio do :>
c.Q.rppJ~~o ..de Édieo, cuja parte diferenciada separa a casca externa
de seu caroço interno. Por fim, encontra-se o sup·ereu arcaico visu-
alizado como(éar~ço _d~uro))Ó ~le~ento mais e~Set?,Ci,~l e pri_~i~i_v~,
que carrega consigo o Freud designou de elemento "filo_genet1co .
Portanto, o caroço abriga, em seu conteúdo, a potencia nuclear,
ª herança filogenétíca. .
Com o nos record a Freu d (1923) , 0 supereu carrega 1mpres-
.
sões filog , . d heranças experiências arcaicas
. enet1cas preserva as por ' . , .
Perdidas para a h 'duo de existência de mcontave1s eus. E
erança, res1 . d .
Freud t belece a parhr o isso,
acrescenta que quando o supereu se es ª
Pode-se estar revivendo
' formas ressuscita
· d as do eu · Lacan concorda
cotn Freud b d . da herança a partir de seu aspecto
so o ponto e vista .
0lgit11liz11docom CamSc~
CAPÍTULO V - LI\CAN ( O SUPER U 165
- Dlgitalliado c om CamSc:ervier-
fJ - LACAN é; O SUPEREU 169
o
romrlexo de Édipo vem
__ - _
· d
mais tar e superpor essa estrutu-
oçio prinn~ confenndo motivos no sentido mais ornamental do
refillO- Por ~ns~te, 0
pai e ª mãe surgem como personagens de
CII1 rolD2Il.C~ ramdJar, desempenham os papéis de alvo de identificação
e alro da escolha do objeto, enredando toda uma trama trágica de
aronrecimencos (LACc\...'-, [1953] 1992, p. 316). Aqui, pela primeira vez,
Lacan introduz a ideia de um supereu primitivo, originário do regis-
rro matemo. Por outro lado, ele já esboça a ideia de que O complexo
de Édipo é om~ental e confere motivos à estruturação primiti~a,
de sorre que o Edipo é introduzido de maneira muito atual, como a
ideia de um semblante que possa oferecer coruistência de sentido nos
planos simbólico e imaginário.
Ao extrair a ideia da peça O anfitrião, de Moliere, Lacan descreve
o supereu como um homem sem nome, uma espécie de encarnação
de um personagem interior, que acredita que o objeto de seu desejo
e a paz de seu gozo dependem de seus méritos. Trata-se do homem
do supereu, aquele que quer se elevar sempre à dignidade dos ideais
do pai, do amo e do senhor, e que projeta, no registro imaginário,
o alcance de seus ideais de acordo com seus méritos (LACAN, [1955]
1992, p. 333). Por outro lado, Lacan também se refere ao supereu
como uma espécie de sombra, de grande general, de rival, de amo,
de senhor e às vezes, também de escravo, já que propõe o supereu
como aquele que separa o sujeito de tudo o que deseja alcançar e o
despoja de tudo, ele reconhece como o seu desejo.
É importante observar como o supereu se expressa nas palavras
de Moliere: 29
L
CAPITULO V - LACAN E O SUPEREU 173
.......
Oiyiti.litl:IOO 00111 Cti111S<.am1,...
CAPITULO V - LACAN E O SUPEREU 175
A demanda do obsessivo
0lgit11liz11docom CamSc~
CAPÍTULO V - LACAN E O SUPEREU 179
O reino do comando
--
C:•WIIUl( V - IAC/\MI 1,•,IJl 1ll~l·II Hf1
Dlgrt.?l:udoccm ~ -
188 SUPEREU I UEREPUS: DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
Um amor de supereu
d
Olgl11Utado com C.mSCaMer
roasoquista,,, uma ,ez que ele deYe ~unnr d •d
• • • • eprec-ia o, de sorte que 0
- b'L&
supereu 1ndic.a essa parncufaridade do objeto.
Lacan re~ca seu ensino quando a;1-m
. . -· ª1a que tod os conhecem
os vínculos do estagio oral e o obieto
J
,·oz• N~ •__ ...1 encontram-
".,se penvuo,
se as.manipulações_ p rimárias do supereu · N essas
. m ampu
· laçoes
- surge
a endente conexa.o
. entre o supereu e a voz . Lacan comenta que o
supereu manifesta um amor pelo sujeito. N o entanto, trata-se de um
amor masoquista que impulsiona o sujeito para o fracasso, colocando-o
numa posição masoquista.
....
Ul',lllitl1"t1<.ll/ com Ctlll \&:tlJllll'I
-' 1 1) \· t)Plcil N·i 1\ t)•, ·,11 h IJI ', IIN< J'_i
l:)-l . ii't"t~t 111 1111; 11 t " , ' '
... ,~,·c'thl d •llni11 11 ~1 St'~t111dn tt>piCí1 t omo o Ít/ga/ d(j ct, IJL/ CJ
(Jlk
supc:rc'tl s:1<) pard ais, ist<-> 6, frrtJlle!IH€llleli Cg ,lpgnwi dtio Yomentc
11111 :1 vis;io l:u~r:1lb:;1d:1 do qu~ ~ H,~g11i.;folt.tJc1Hc a rcfoçâo <:um
n ~r;tndc Outrn (LACAN, / 1904/ 1993, p. 125).
As atipias do supereu
Lacan também é b;1stante eco11ômko com refação ao supereu no
seminário Os problemas cruciais da psicanálise. Assim,, apenas na lição de
13 de janeiro de 1965, Lacan ded ic;1 rapklamente algumas palavras ao
supereu. A teoria sobre o supcreu é fragmentada. ao longo de seu ensíno,
com tiras mais curtas em sua maioria e, vez por outra, tiras mais longas.
.Ele comenta que o supcreu se 1nanífesta sob formas atípicas
e anômalas, e surge com cJucubrações e distorções ao redor do eu,
sobretudo nos tropeços e nas experiências egoícas. O ideal do eu é
um suporte válido, que se encontra com o supereu nas mais grosseiras
imagens, verdadeiros pontos nodais da identificação.
Lacan avança um pouco 111ais quando comenta que tudo gira ern
torno do gozo fálico. O gozo fálico é aquele que define a posição da
mulher con10 não-toda, não-toda fálica. Prossegue Lacan, afirmando
que o gozo fálico é o obstáculo pelo qual O homem não chega a gozar
do corpo da n1ulher, uma vez que ele só goza do próprio órgão.
Nesse m01nento Lacan ([1972-1973] 1985, P· 16) nos surpreende
'
concluindo: "É por isto que o supereu, tal como apontei há pouco,
com o goza! É correlato da castração, que é o signo com que se pa-
ramenta a confissão de que o gozo do Outro, do corpo do Outro, só
se promove pela infinitude".
Essa enunciação nos parece um tanto enigmática. No entanto,
na tentativa de decifrá-la pode-se pensar que o supereu é correlato da
castração, pois ele é herdeiro do complexo de Édipo. Sendo correlato
da castração, o supereu se expressa como gozo fálico. Lacan propõe que
a castração é um signo, e não um significante. A castração é um signo
que adorna, que ornamenta a declaração de que o gozo do Outro, do
corpo do Outro, só se impulsiona pela infinitude, pela incompletude.
qualquer um deles.
.,11
----
"Não insista"
No segundo
....
nível, acontece uma dialética quando o sujeito diz
"não". O sujeito responde: "Não, você não é ben1-vindo". O segun-
do nível do supcreu surge através da reton1ada do grito de revolta
contra o censor: "Abaixo o censor". Trata-se da n1esma palavra. No
entanto, já não é a 111es111a palavra, pois ela se situa numa posição
topológica diferente. Essa segunda palavra vai de encontro ao que
o censor tinha programado.
Essa segunda palavra co2oca em cheque a vocação do censor e
sua função. Na rnedida en1 que há uma transgressão do mandamento,
o censor tenta responder: "Não insista" e, assim, diante de um pai
severo "pere se11cr", surge a possibilidade de persever, da perseveran-
ça. Se o sttjeito insiste, o censor se torna siderado, o cara a cara se
declina, e surge uma súbita vacância no poder. De acordo com as
memórias de Michelet - segundo informações colhidas na lição do
dia 8 de maio de 1979 - durante a revolução francesa, os an1otinados
experimentara111 por algmnas horas uma sensação de vazio ao se in-
teirarem de que o décimo sexto censor tinha fugido para Varem,es.
Paris, naquela manhã, acordou se1n voz con1 a vacância do poder,
devido à queda brusca da consistência do Outro que sustentava uma
relação persecutória.
O vazio se instala, de sorte que o sttjeito se torna desabitado pefa
censura. O sujeito se surpreende ao receber un1 contragolpe, poisª
censura se encontra agora siderada. Se antes o sttjeito podia se queixar
de um perseguidor íntimo, que ocupava a cena principal, e culp;i-lo
pelas suas mazelas, agora que esse supereu, cttja função tampão de se~
buraco se desalinhou, só resta ao sujeito o objeto da angústia, que e
fazer frente a seu cai,11111 fundamental. Agora o vazio deixado, devido
ao enodamento da censura, vai propiciar un1 can1.po extremamente
novo, asson1broso
. e surpreendente
. • que é escri'to sob a fcorma do gra fco
do desejo na voz magtssante do Cite vuoi?
Notas
2Y Moliere citado por Lacan ([1954-1955] 1992, p. 334.
Jo Cf. Antigo Testamento, Êxodo III, vers. 14.
. psicanalista e filho do correspondente de Freud, teria publicado
-' 1 Rob ert Fl1ess, • . , . , .
· no J. ornai internacional de ps1canahse, sob o titulo Phylogenet,c
um artigo , . . , .
,•crslls Ot1toget1etíc Experience, para o numero comemorativo do centenano
de Freud. Nesse artigo, Fliess comenta que, quando o pai de Hans zanga
[.gr(>ndcr] com o seu filho, o supereu está em statu nascendi.
J~ o Sábado Santo é o dia de luto máximo para a Igreja Católica que, junto do
sepulcro de Cristo, medita-lhe a morte. É no Sábado Santo, durante a Vigília
Pascal, que se canta o Precônio Pascal - hino de glória a Cristo redivivo que
conta os mistérios da redenção: "Oh! Pecado de Adão, necessário, sem dúvida,
que o Cristo destruiu com sua morte! Oh! Cu~pa feliz, que mereceu tão grande
e excelso Redentor! Oh! Noite verdadeiramente ditosa conhecedora única
do momento preciso em que o Cristo ressurgiu do sepulcro". (Pe. Gramalia,
I. 1\fissal romano cotidiano, latim-português. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 1963.)
33 C( Levítico XVIII, versículos 6 a 23. Levítico é livro do Pentateuco, que
enfei..-..,:a o Código de Leis. Os levitas são os guardiões das leis, e Levi significa
lei.
~ Para defender essa tese, Lacan cita um artigo de Roger Money-Kyrle,
psicanalista ligado a Paula Heimann, do círculo kleiniano.
35
Josef Freud (1825-1897), tio de Freud. Em fevereiro de 1866, o jornal Neue
Freie Press noticiou um processo contraJosefFreud por tráfico de dinheiro falso.
Joseffoi condenado a dez anos de prisão. Na Interpretação dos sonhos, Freud evocou
a figura do tio malfeitor, malgrado para Jacob, o pai de Freud, seu irmão não
fosse uma má pessoa, e sim um imbecil (ROUDINESCO, 1998, p. 262).
I "1,,, --.·
; :> - e:;;:;,,-
; -:.;' ~
·- - <::'
C. . ' ·- , -
~.. CAPITUb:O VI
.A
Ul',lllitl1"t1<.ll/ com Ctlll \&:tlJllll'I
203
seguinte maneira: eu (uma filha) não o amo (um pai), mas a amo (uma
mãe); amor que retorna do lado da mãe sob a modalidade da devastação.
Portanto, certamente, se mais tarde essa filha como mulher en-
contrar um homem a quem endereçará sua erotomania, ele se tornará
o pivô de uma lógica paranoica, na qual ele virá desempenhar O papel
substituto da mãe como agente devastador. Enfim, a devastação ocorre
quando supereu ama, com seu amor paradoxal, com seu amor louco.
Então, deixo em aberto a questão, se a devastação não seria
a pura representação da ação do supereu encarnado no Outro. Ao
contrário do que poderíamos supor que a mulher teria um supereu
frágil ou ausente, como um dia se chegou a cogitar, pode-se dizer
que o supereu está presente de forma bem consistente, mas que ele
se expressa de maneira diferente no homem.
Como a mulher é não-toda, acrescento não-toda fálica, pode-se
dizer que, de um lado, ela tem uma porção conexa à significação fálica,
ao mundo dos semblantes, ao simbólico e ao imaginário e, de outro,
está unida ao real, a falta de representação e a falta de significação
fálica. Por essa razão, e porque elas estão fora do conjunto fálico, não
se pode compreendê-las tampouco agrupá-las, designá-las, pois se
situam apenas em parte, fora da lei, fora do escopo do Nome-do-Pai,
de tal sorte que recusam os semblantes e são amigas do real.
Se, por um lado, o homem se endereça à mulher através do
semblante, que ele julga bem munido pelos atributos fálicos, ele vai
encontrar o real. por outro lado, a mulher se dirige ao homem no
semblante a partir do real (MILLER, 2002, p. 173). Aliás, essa estraté-
gia pode responder ao enigma: Por que o homem serve de conector
para a mulher acessar o mundo dos semblantes? Por que o homem
provido de seus dispositivos e recursos do mundo dos semblantes não
consegue compreender, tampouco acessar a mulher? Essa seria urna
das explicações do axioma lacaniano, "não há relação sexual"· .
~ d pode surgir
Assim, a mulher, com seu segmento nao-to a, .~
. d le a cond1çao
para um homem sob a ótica do real, assum1n o para e
homem se
de supereu (A mulher] através do dizer. Nesses casos, 0 d
. 1 denotan °
queixa de que o dizer de sua mulher o atinge no ª vo, lo
. . do quepe
que o imperativo é veiculado mais pela voz fceminma a
. • 1 trata de ucn
comportamento da parceira. Lacan vai assina ar que se
muf ~res, e não ho mens ( FPECD. (i916J 19 fJ, p. 356). Ewrª _corno
, - • . • l ~tafüo. em
rrtua~ de uma clupb vra.,, o paradigma da exceção, a partir eh ló .
: .. . d d . sLa
uo na0-todo, po e op~rar uma evasr.aç20 que se or1giaa também la
-vertente de u ma decenrãor--, materna do nascimento de uma ,filh • 1.a~ e
não de um füho, como o esperado. E nrretanto, é necessirio fazer urrrJ
rdeitu ra de Freud ~ sobre a decepção de que '"a menina não s,eja um
men íno\ ~oba lente de Lacan para considerar que a decepção deva lCT
tnduzída com o um efeito de um caroço do reaL resto da partilha sexual,
ím possívd de ser recoberto seja pelo simbólico, seja pelo imaginário.
Enfim, os modos de apresentação do empuxo ao gozo do ru-
pereu são diversos, seja pela vertente do imperatívo do gozo. seja
pelo 1mperatívo categórico. Portanto, o supereu goza mediante virias
modalidades, sob todos os tipos de expressão da pulsão de morre.
Então, a devastação se incluí junto com a reação terapêutica ne~àn.
a culpa, a autopuníção, os tipos arruinados pelo êxito e a dor moral
como ex pressão pura do supereu.
Então, esta pesquisa busca investigar como lidar com o supereu
e seus avatares, particularmente, quando o supereu pode brotar do
campo feminino. Para um homem, é bem mais operoso desembara-
çar-se do imperativo vindo da mulher do que exige sua coruciencia
moral (MILLER, 1997, p. 119).
Em primeiro lugar, para se desvencilhar do supereu feminino, 0
homem crê na mulher, e não no supereu feminino. Com efeiro, parJ
st'
que uma mulher possa funcionar numa parceira amorosa como A,
torna necessário assentir que A mulher não existe, porque está barrad:1.
Portanto, cada mulher é uma exceção: não faz conjunto e se
conta uma a uma, na medida em que se aloJa ' . e:lo não-rodo
. na l og1ca ' ,
. d' e (l'io h:1
fálico, se colocando como única. Logo, resta-nos 1zer qu ·
uma soluçao ~ -
padrao para unu mulher esqmvar . do supereti no campo d
. ereu guan o
da devastação, tampouco para o homem lidar com o sup
ele emerge do feminino. . . . os
. d eutr.11izar
Afinal cada um vai ter que inventar um me10 e n ' , •a
' l ropri,
efeitos do •supereu feminino ' seia'J
para uma a mulher com e ª Pui her.
assentindo ao A, seja para a condição de um homem amar uma rn
.J --
\ . ..
.--. . .'~ \
_-
.....
---_,.,.,- --
..
, - . .
J ·,:.
lllliii,... _
211
A topologia e o supereu
Dlglt■J11:ac1ocom c,rn.sc..,..
11111"''' ..
$ a
Os finais de análise
Elisa Alvarenga
. . . - d . d. ~ ozo· a prescnçao
mais uma mJunçao o que uma inter 1çao ao g · a
. . p . . . 1 ,f apelo ao gozo puro,
supereu se ongma nesse ai angina m1 1co, tá na
, . , 1d f1sfazer que es
não castração. Goza! E a ordem impossive e sa ' 166)-
1971] 2009. P·
origem da consciência moral, paradoxal (LACAN, ( . eio que
.. 1 . Miller, cr
A luz dos últimos cursos de Jacques-A ain do encontro
5
podemos aproximar essa injunção de gozo do upereud uill fur0 ,
, .
traumat1co . . fi cante com o corpo ' que pro uz
d o s1gni Orn 0r1g . inal
utro Esse
por um lado, e um excesso de gozo, por O ·
f
218 SUPEREU I UEREPUS: DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
pARTENAIRE-SÍNTOMA / PARTENAIRE-SUPERYÓ
Fabian Abraham Naparsterk
\r .....
Oiglto!ltodo com CornS~on~
210 surE REU I UEREPUS. DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
Oigit11lizado c em Ca-n5ean,er
assi111 que :is somhr:1s i1 ~rngi11:1ri:is acabam por encarnar um Outro
1:,:
eh história dl! u111 sujeito. Miller completa essa referência ao supereu
imagi11;1rio, dcftninclo -o pcln cotT1édja dell'arte como um Arlequim,
para dizê-lo ridículo. 'Talvez encontremos cm uma passagem do
Balâfo, de Jean Genct, texto larga1nente comentado por Lacan em
seu serninário sobre Asjormações do inconsciente (1957-1958), onde 0
ridículo da autoridade do chefe de polícia acaba no palco, transvestído
en1 grande pênis con1 as cores da bandeira nacional. Esse é o resultado
da confusão de 111uitos que se fazem identificar imaginariamente com
a autoridade do Outro.
Ton1ando a questão pela vertente do simbólico, vamos verificar,
com Miller, que Lacan lhe designou grande importância, principal-
mente no momento de seu ensino em que estabelecia a supremacia do
Simbólico sobre o imaginário. Lacan nessa ocasião tratou de localizar
o simbólico como o sustentáculo mesmo do supereu, enquanto lei
pacificadora, socializante. "Lei enquanto significante unário S1, cuja
significação desconhecemos, pois para conhecê-la seria necessário um
segundo significante, a partir do qual, retroativamente, o primeiro
toma sentido." Sendo único, o supereu acaba por parecer insensato.
Por isso, Miller propõe localizar o supereu em S(A), o que "[...] supõe
que a suposta lei total do Outro pode ser percebida em sua falha". É,
portanto, quando essa lei falha que se pode escutar a voz insensata do
Outro. Lembremos que essa referência ao grafo do desejo abre uma
possibilidade para se pensar a~gumas coisas, por exemplo, que a voz está
colocada por Lacan, em seu grafo, como aquilo que permanece depois
que o grito sofre a ação do Outro, desnaturalizando a necessidade e
transformando- a em demanda. Portanto, há uma articulação entre
0 A que se encontra no andar inferior como código, como Outro da
LA SUBLIMACIÓN ANAUTICA:
EL PASAJE DE LA CONSISTENCIA
OEL SUPERYÓ A LA DEL PARTENAIRE..SÍNTOMA
Guillermo Belaga
lntroducción
La recepción dej. Lacan cn la Argcntína ticnc razoncs prcds;rn
dadas por la coyuntura política y cultural de las décadas dei 1') 60- 1970.
A su vez, la recepción que hice dei mismo - adem ás ele las referencias
a Marx - se explica por el conocido pasajc de Nuestros antecedentes:
"Reside en e1 rastro de Clérambault [...] su automatismo mental [...]
nos parece en su manera de abordar el texto subjetivo, más cercano
a lo que puede construirse por un análisis estructural gue ningún
esfuerzo clínico en la psiquiatría [...]".
Clérambault conocía bien la tradición francesa, pero era
Kraepelin quien lo había formado, en quien el genio de la clínica
era llevado a lo n1ás alto.
Singularmente, pero necesariamente " [...) nos vimos conducidos
a Freud. Pues la fidelidad a la envoltura formal del síntoma, que es
la verdadera huella clínica a la que tomábamos gusto, nos llevó a ese
45
límite en que se invierte en efectos de creación".
Desde la actual perspectiva del pase, este trayecto ilustra el aná-
lisis como "clínica de la formación",46 y también permite reflexionar
sobre la diferencia que se desprende de su lectura entre psicoterapia
Y psicoanálisis.
conclusión
SUPEREU BREVE
Bernardino Horne
-
. . .-.
· ·· :..~
234 SUPEREU I UEREPUS: DAS ORIGENS AOS SEUS DESTINOS
INDOCILIDAD
Gustavo Stiglitz
Dos referencias
Lêda Guimarães
Marina Recalde
TRAZOS
Beatriz Udenio
Jésus Santiago
A gula da sedução
Postulo, então, que a tradução mais precisa dessa forma da gul.~
do supereu é O que nela se inscreve por meio dos ideais da que_ dcsig:n:t
no meu prüneiro testen1unho, 59 con10 a 111ãe cio p,idrc, ou st:P, ª ntac-
que visa no filho o sacrifício do interesse erótico por outra mu lhc•r
em prol de Deus Os efeitos dos ideais se explicain pelo fato de- que"
a gula d · • d a · ·ntens·\ quanto 1nais sacrifióo
o supereu torna-se a1n a n1 15 1 ·' . ,
se interp~ . h d • •to Observo que essa d1n1t>nsao do
oe no cam1n o o suJel • .
sacrifíc1·0 d ·ngular do supereu na n11nha expc"-
." , que enota a presença 51 . . . ,, .
nencia de , . , d do aparecem as prm1e1ras corn,trnço~~
ana11se, e capta a quan
}54 'J JPl:17[1J I IJER[PIJS· DAS ORIGENS AOS SEl.)S DESTINOS
A culpabilidade da fantasia
Sérgio de Campos·
►
humor tem :ligo libcrr:1dor colllo os cklll:lis, <.:ntretanto tem tarnbém
.1.lgü de dev:Hio. digno <.! nobre. l)e acordo com o comentário de
Freud. c."ss:1 gr:1ndcz:1 reside 11:1 i11vulncrabilidacle do eu e no triunfo do
narcisismo. Com o humor, o eu niio admite provocações da realidade
e n:10 permite que Sé:j:1 compelido ;1 sofrer. O humor é não resignado,
1ua s rebclde, pois :1ssegura ;10 eu o princípio do prazer contra a cruel
reaJidade e a tendência inexorável do alé111 do princípio do prazer
(FREUD, [1927] 1980, p. 190).
O humor se aproxü11a dos processos reativos ou regressivos
pela característica de possibilidade de desvio da compulsão para so-
frer, assegurando a vitória do eu sobre a realidade. O sujeito que usa
o hun1or se c01nporta com superioridade para com o semelhante
con10 u1n adulto, até 1nes1no como o pai que sorri da criança pefas
suas preocupações e sofrin1entos triviais (FREUD, [1927] 1990, p. 191).
Freud con1enta que o ponto primordial é o fato de o sujeito se
colocar como objeto de seu próprio hu1nor, de modo que o adulto
trata a si mesmo con10 criança. É uma estratégia do eu para com o
supereu, e nisso reside uma brilhante estratégia de tratamento do
supereu. Uma vez que o sujeito faz uma pilhéria sobre si próprio, ele
retira a ênfase psíquica do eu e provoca um deslocamento de uma
grande quantidade de energia psíquica para o supereu. Com essa re-
distribuição de energia, o supereu se torna inflado, desinteressado e até
condescendente para com um eu tão medíocre, a ponto de deixá-lo,
provisoriamente, em paz (FREUD, [1927] 1980, p. 192).
O humor tem como localização psíquica O supereu; sua econo-
mia libidinal é o sentimento; o raciocínio se dá de maneira indutiva, e
o humor completa seu curso dentro de um.a única pessoa, a participa-
ção de outra nada lhe acrescenta (FREUD, [1927] 1990, p. 257). Freud
comenta que o mecanismo de humor pode se dar numa só pessoa,
entretanto ele nunca se faz de modo solitário. De acordo com nossa
leitura, há um sujeito que exerce o papel de intermediador na relação
~ual entre o eu e o supereu. O sujeito, com sua pilhéria, coloca em
Jogo O eu como objeto de escárnio, dispensando-lhe humor, enquanto
0
supereu permanece passivo na assistência, penalizado com O eu.
Esse ~~mor deve ter um tom negro, sarcástico e jocoso, de sorte
a pos1c1onar o eu como objeto gozado para a morte, despertando
comiseração
. .
no supcrcu. Ev,c típo c,pccíal d. h
. e umor tem como agente
0 sujeito, ~o cu, como objeto c,tratéuico
n ,
e a fi 1'J r. ., , • ,
. in;i 1 :wc u 1tJma e uma
intcrvenç::io sobre o supcrcu.
Nesse momento C;'lbc uma c<m'iíckr;]ç;;<> , ,. · J e IM e 1ani·e
. . p.ut1r
,1
Klein. A autora defende a í<lcía <lc <-1uc é p ci•'>,.. 'ivcl co Ihcr o humor como
resultado do afastamento da criança de 'leu supcrcu. A mesma afirm a
que 'l ..) já escutou criançac; muito pequenas fazendo pí:ida\ sobre 0
fato de que algum tempo antes elas realmente queriam comer a mãe
ou cortá-la em pedaços" (KLEIN, [1926) 19'J 6, p. 163).
O humor pode ser tomado pelo sujeito como uma saída no final
da análise, numa amável crueldade de ír além do pai idealizado, poí
o humor é livre de culpa, vergonha e censura, e ultrapassa o sentido,
na medida em que o sujeito ri de si mesmo frente ao vazio do sem-
sentido da vida. Disso resulta uma redistribuição de energia que facu lta
uma posição de descanso e emancipação do eu, na medida em que
ele surge diminuto, como objeto rebotalho, e esmerado pela pulsão
de morte frente a um supereu neutralizado e bene\·olente.
De fato, o humor assume fundamental importância ao sinalizar
para a possibilidade de manejo com o supereu. Entretanto, fica a per-
gunta: O humor é um instrumento de um possh·el desalinhamento
do supereu ou é um efeito desse desalinhamento, quando o eu se
regozija ao safar-se da influência superegoica? Ao que tudo indica,
diferentemente de Freud, no meu caso, o humor não foi causa, ins-
trumento, mas consequência do desalinhamento e da distensão entre
o eu e o supereu.
Porém, como nada é sem gozo, ao me desapegar do sentido
foi possível remodelar O gozo, reduzi-lo, condensá-lo, deslocá- lo em
metonímia, aplicá-lo, efetuando uma nova aliança com d e, com a
finalidade de aproximá- lo da invenção de um novo amor ao reco-
nhecer que não há relação sexual. Colocar a energia do suprt'rcu a
serviço da pulsão, eis O grande desafio. É nisto que se re t~mt• o ~udô
de Lacan: "usar a força malévob do adversário supaegoico a tavor
de seu próprio bem". _ . .
No final da análise resultado da contingência, surgm a poss1b1-
lidade de um novo amor, 'livre das injunções superegoicas, no qual não
se apo1a
· mais
• na compreensao,- tampou co num novo obieto J
de amor'
Notas
36 O amor e o ódio surgem nas pontas da curva de Gauss, porqut' os afi:'tos.
como quase tudo no mundo, podem ser ordenados numa c.:ttr\";\ ck Gauss
(MILLER, 1998, p. 13).
37 A curva de Gauss, no seu domínio positivo, pode ser visualizada na medida
em que divide a curva ao meio no seu sentido vertical.
38 Tomei a curva de Gauss porque todos os fonôn1enos conht·cidos pod~m ser
colocados nela (LAURENT, 2000, p. 63).
39 LACAN, (1953) 1980.
40 FREUD, (1924) 197(>, p. 201, 205, 208-209.
41 LACAN, (1974-1975) clasc dei 22/01/1975. Inédito.
42 LACAN, (1.974-1975) dase dd 22/01/1975. ln(-dito.
43 LACAN, (1974-1975) cbsc dd 22/01/1975. ln(·lfüo.
44 LACAN, (1974-1975) clasc tkl 11/03/75. Inédito.
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de Ja • (Obras completas e e ame
neiro: Imago, 1996. p . 214 - 227·
Klein, 1).
ÍlÍIJilAIÍ1'11<klr.(IITl(';,imSr.,inno11r
~ -
1
Participações especiais de Ana Lucia Lutterbalch, Beatriz Udênio,
Bernardino Horne, Celso Rennó Lima, Elisa AlvarJnga, Fabian Napars-
terk, Guillermo Belaga, Gustavo Stiglitz, Jésus Sahtiago, Leda Guima-
rães, Luiz Fernando Carríjo, Luis Tudanca, Marcus /André Vieira, Marina
Recalde, R~m Avraham Mandil, Romildo do Rê~o Barros e Rômulo
Ferreira da Silva.
1
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