2017 SHI, W.; KAUFMAN, S.; SPINOLA, D. Netflix. Harvard Business School. 2009.
Em janeiro de 2007, Reed Hastings, fundador e CEO da Netflix, pioneira na
locação de DVDs online, encerrava uma reunião com sua equipe de gestores, para determinar a entrada da empresa no mercado de vídeos online. Reed Hastings apostava todas as suas fichas em sua equipe, pois todos eram apaixonados por cinema, como era possível perceber pelos nomes das salas de cada um deles, todas com nomes de filmes. Isso lhe dava a certeza de que todos continuariam comprometidos em manter a liderança da empresa no mercado, principalmente quando a empresa se preparava para lançar um novo projeto. Apesar de acreditar no atual produto de sua empresa, Hastings sentia-se obrigado a inovar, para sobreviver no mercado de aluguel de filmes. A Netflix iniciou sua trajetória, em 1997, como uma locadora de vídeos comum. Todavia, quando Hastings encontrou um Dvd que havia esquecido de devolver a locadora, pagando US$ 40,00 de multa, teve a ideia de oferecer seus títulos pela internet, entregando até três filmes aos assinantes, diretamente em suas casas, por uma semana, ao preço de US$ 17,99. À época, a Blockbuster liderava o mercado de aluguel de filmes, apostando na abertura de novas lojas em locais estratégicos, pois eles entendiam que o cliente decidia assistir filmes por impulso, principalmente lançamentos. Dizia-se que sempre havia uma Blockbuster a 10 minutos de qualquer lugar, nos EUA. As demais empresas eram pequenos varejistas. As receitas da Blockbuster eram originadas dos alugueis de filmes, mas também das taxas de devolução em atraso, que representavam 10% de sua receita total, embora não fosse boa política, pois impedia o acesso de novos clientes para os filmes ainda não devolvidos. E, quando a Netflix abriu o seu capital, em 2002, a Blockbuster tinha o reconhecimento de quase 100% do público de aluguel de filmes. Entre 1997 e 1998, a Netflix iniciou uma nova estratégia, diferente de suas concorrentes, oferecendo o serviço de entrega de Dvds em domicílio. Para tanto, iniciou uma parceria com os grandes fabricantes de Dvds e aparelhos de Dvds. Assim, quando um cliente adquiria um aparelho de Dvd era informado da existência do serviço da Netflix, tendo acesso a preços promocionais. O site da Netflix facilitava a vida de seus consumidores, permitindo a pesquisa por ator, título, gênero, etc. E a entrega dos filmes era facilitada pelos bons serviços dos correios. A estratégia de prazos e recebimentos era a mesma das locadoras comuns, ou seja, a pessoa tinha que devolver no prazo acordado ou pagaria multa por dias de atraso. Hastings e sua equipe começaram a adaptar modelos com base clientes de valor, com o eBay. Mas, Neil Hunt, diretor de produtos da Netflix, pensava em uma nova estratégia que permitisse trabalhar sem taxas por atraso de devolução, pois haviam muitos gargalos, como o atraso no transporte de retorno dos filmes. Disposto a se arriscar no sistema de assinaturas, Hastings iniciou esse sistema, permitindo aos consumidores ficar de posse de até quatro filmes, a cada vez. Mas, em pouco tempo ele resolver arriscar mais e criou o plano ilimitado, que de início saiu muito dispendioso, visto que tinham que sempre adquirir filmes novos. A estratégia utilizada foi a de promover os títulos mais antigos e que saíam pouco, além de oferecer sinopses e comentários das pessoas que os assistiram. Também criaram uma pesquisa de satisfação, para poderem melhorar onde, de fato, fosse necessário. A estratégia inicial de merchandising da Netflix era tradicional, destacando alguns filmes na página inicial do site, mudando semanalmente. Pouco tempo depois, entretanto, tiveram que mudar a estratégia, oferecendo uma curta pesquisa ao cliente onde ele indicaria suas preferências, além de avaliar alguns títulos. Isso fez com o software utilizado passasse a formar um perfil de usuário mais fidedigno. E, o filtro que bloqueava a indicação de filmes fora de estoque fez com que os filmes antigos fossem os mais procurados, diminuindo o investimento em novos. Para Hastings o sucesso viria em ofertar online o que a concorrência off line não ofertava. Um dos primeiros diferenciais foi a oferta da maior classificação de filmes do mundo, que fazia com que os clientes preferissem a Netflix. Para resolver problemas relacionados aos seus conteúdos, a Netflix contratou Ted Sarandos, em maio de 2000 e ajudou a Netflix estabelecendo parcerias com grandes estúdios cinematográficos. Essa parceria atendia à Netflix, aos clientes e aos estúdios, que conseguiam dar vazão aos seus estoques de filmes mais antigos. A Netflix perdia muitos clientes por cancelamento de assinaturas, cerca de 3,6% ao mês, chegando a 6,3% em 2002. Para resolver este gargalo, a empresa decidiu facilitar o cancelamento da assinatura, bastando, ao cliente, preencher uma pesquisa informando o motivo do cancelamento. Mas, mesmo tendo cancelado, o perfil do cliente permanecia, tornando mais fácil o seu retorno. À época a Blockbuster dissera que este sistema seria um fracasso, embora, pouco tempo depois utilizasse uma estratégia arriscada e bastante agressiva lançou, em 2004, o Blockbuster Online, com preços mais baixos que os da Netflix e com mais títulos à disposição. No entanto a Blockbuster passou a ter prejuízos operacionais significativos para tentar alcançar a Netflix. Com o advento do VOD online, em 2007, o mercado muda completamente e os filmes poderiam ser “alugados” e assistidos online. A Blockbuster inicia negociações para entrar neste mercado. A perspectiva de oferecer um número ilimitado de filmes via online resolvia uma série de problemas de logística da Netflix, inclusive dando a possibilidade de praticar os mesmos preços de alugueis de Dvds. Uma das vantagens de Hastings, segundo ele, era de possuir direitos autorais sobre várias produções, o que poderia repercutir em longas negociações para suas liberações no mercado. Empresas como a Lionsgate, Microsoft, Cisco, Walt Disney, Intel, e a própria Blockbuster já anunciavam sua entrada no mercado VOD. Todavia, o sistema possuía muitas limitações, como o conversor de sinal para aparelhos de tv, pois os clientes não se interessavam em ver filmes nas telinhas de seus computadores, quando já existiam televisores de alta definição. Além disso, os conteúdos eram limitadíssimos e o preço bastante alto para uma única visualização. Hastings, mesmo ciente de todos estes problemas, começou a investir em parcerias da oferta de streaming de vídeos – sem sucesso - e se preparando, por vários anos, para quando os problemas de conectividade entre computador e tvs estivessem plenamente resolvidos, para entrar no mercado com força total. Como a marca Netflix já estava bastante consolidada e forte, era possível investir em recursos de streaming de vídeos online, oferecendo-os sem ter que realizar implantações de estratégias muito onerosas, aproveitando e ampliando o mercado em que já estava solidamente firmado. Depois de muitas idas e vindas, Hastings, em 2007, resolveu implantar um negócio de vídeos online, como estavam fazendo as outras empresas do mercado. Embora não levasse fé que este mercado floresceria rapidamente, não enquanto as questões de conteúdo e conectividade fossem resolvidas, ele tinha certeza de que isso aconteceria e que a Netflix estaria preparada para este momento. Pouco tempo depois anunciou a entrada da Netflix no novo mercado.