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História do Brasil – Aula 16: Conceitos da República Velha

Prof. Pedro
Conceitos Caudilhismo
Divisão de poderes entre as lideranças locais e
Coronelismo possuíam, normalmente, origem militar
Sistema de poder baseado nos poderes locais dos Eram dotados do que Weber nomeava como
latifundiários, na troca de favores e na presença liderança carismática e adotavam posturas
dos “currais eleitorais” que garantiam os votos de paternalistas e autoritárias, mas sem conteúdo
cabresto ideológico definido
Há a imposição de um sistema de deveres e
obrigações que provoca a indistinção entre o Política dos Governadores
público e o privado, alimentando a apropriação Criada pelo presidente Campos Salles, em 1898,
privada da esfera pública, uma ação corruptiva e era um esquema de colaboração e fidelidade
corruptora por si só entre os poderes Executivo e Legislativo garantido
Além disso, cria-se uma rede de agregados pelos coronéis e por seus currais eleitorais, numa
protegidos e sustentados em troca de obediência perpetuação dos grupos políticos no poder
e fidelidade Relato de João Pinheiro, presidente de Minas
Gerais, a um senador de seu Estado, que
Questão curiosa coordenava uma bancada conhecida como
O coronel exercia um poder que era mercantil, Carneirada, tamanha a sua obediência ao
produzia para o mercado, e patriarcal, pois era o governador.
chefe da sua clientela e formava uma teia de Não há nenhuma dificuldade, diga sempre que é
relações de dependência e de reciprocidade que solidário ao governo. Tudo se reduz a obedecer.
sustentava seu poder político Obedeça e terá politicamente acertado. Do
Por exemplo, o coronel “emprestava” terras em contrário, o senhor sabe, estou aqui com o facão
troca de favores, da fidelidade incondicional e na mão, para chamar à ordem aqueles que se
votos insurgirem. A minha missão é essa, manobrar o
facão, ou em cima, quando se trata da política
Patrimonialismo nacional, ou em baixo, quando se trata da política
As riquezas e os bens são distribuídos como forma estadual. O nosso meio de orientação é esse.
de apropriação de várias estruturas até mesmo do Portanto, olho no facão, não esqueça e boa
Estado viagem.

É aqui que o público e o privado se confundem Para impedir a posse da oposição foi criada a
Comissão Verificadora de Poderes e Votos
No Brasil, isso começa com as capitanias Ela deveria averiguar as fraudes e declarar os
hereditárias e o poder centrado nos grandes deputados eleitos ou praticar a “degola”, o não
proprietários rurais reconhecimento da vitória
O curioso é que própria comissão era o principal
Alguns autores defendem que essa forma de foco das fraudes eleitorais
desenvolvimento histórico promoveu o Características gerais da República Velha
desenvolvimento de um capitalismo centrado em Suas principais características são o coronelismo, o
formas autoritárias de dominação política voto de cabresto, a política dos governadores e a
política de valorização do café
Este período republicano de poder absoluto das
oligarquias rurais, principalmente paulista e

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mineira, só irá ter fim com o movimento Estas divergências são frutos da postura ideológica
tenentista de 1922 que norteava a orientação política dos militares
desde antes da Proclamação da República
Voto direto, mas não secreto, masculino, para O ideário positivista obrigava a criação de um
maiores de 21 anos governo centralizador e forte que seria
Estão excluídos: mulheres, menores, responsável pela "salvação nacional"
padres, soldados e analfabetos No entanto, este não era o desejo da oligarquia
cafeeira que queria um regime federativo para
A política de valorização do café manobrar mais eficientemente a economia de
A burguesia cafeeira controlava o aparato estatal acordo com seus interesses
e transferia para a população os custos e os
efeitos da crise Política do Café com Leite
Conseguiam empréstimos para comprar e estocar A política do café com leite é a expressão da
o café regulando assim a oferta e a procura, vitória das oligarquias rurais frente ao Exército
enquanto o restante era vendido para o mercado quanto a forma de organização política e
internacional a preços lucrativos para a burguesia administrativa que seria adotada pelo Brasil
cafeeira Este passo foi dado principalmente após a
fundação do Partido Republicano Federal, em
Mudanças nas esferas do poder 1893, e que se tornou o principal instrumento
A república marca a ascensão da oligarquia político da oligarquia cafeeira paulista. Como os
cafeeira ao poder de forma mais direta, o que Estados mais poderosos eram São Paulo e Minas
significou reorganizar o Estado segundo seus Gerais, estes se alternavam no poder para garantir
interesses. Isto significou criar toda uma estrutura seus interesses
político-administrativa que se substitui as A hegemonia da nova oligarquia paulista, desde a
organizações imperiais. metade do século XIX, garantida pela introdução
O primeiro elemento a mudar foi o Exército, do trabalho assalariado e pela abolição da
organizado nacionalmente; tal fato expressou-se escravidão, mais as dissidências entre os militares
no fato dos dois primeiros governos republicanos permitiram o controle total do poder por parte
serem governos militares, impedindo a divisão do dos cafeicultores
Brasil em pequenas repúblicas autônomas.
Forças Armadas e o Café
Floriano Peixoto e o Café As Forças Armadas trocaram sua participação
O governo de Floriano Peixoto foi apoiado pela política direta por uma posição de destaque nesta
burguesia que vinha aí a possibilidade de deter o nova estrutura sociopolítica, servindo, agora, de
movimento monarquista. No entanto, este apoio sustentáculo ao novo regime.
não foi total e irrestrito. A Constituição de 1891, que determinava a forma
Floriano se notabilizou por procurar promover o federativa com ampla autonomia estatal e a
desenvolvimento urbano e a industrialização; para representação proporcional de representantes na
tanto, facilitou a importação de maquinarias, Câmara dos Deputados, o que assegurava um
matérias-primas e insumos que pudessem maior número de representantes aos Estados mais
promover tal desenvolvimento. populosos, garantiu a manutenção da hegemonia
Esta postura ia contra os interesses dos política burguesa cafeicultora de exportação
cafeicultores, oposição que aumenta quando Mais do que isto, permitiu a orientação de toda a
aliados de Floriano procuram barrar o acesso dos economia cafeeira para a produção e valorização
representantes da oligarquia cafeeira a postos de do café
destaque no aparelho estatal.

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Descontentamento e o Café empréstimos que o governo federal fazia para
No entanto, o descontentamento gerado por comprar e estocar o excedente do café garantindo
quem perdia o poder era enorme, levando estas o equilíbrio entre a oferta e a procura do café no
pessoas a fazerem oposição ao governo federal mercado externo. Ou seja, o produtor de café
que se via sobre constante instabilidade política. tinha sua venda assegurada por um ônus que toda
Para tentar acabar com a oposição Campos Sales sociedade brasileira tinha que arcar
criou, em 1900, um artifício chamado de política
dos governadores
Este consistia em uma aliança irrestrita entre
aqueles que governassem os Estados e o governo
federal, que garantia a vitória dos deputados da
situação através da chamada Comissão
Verificadora de Poderes, que era constituída por
membros da Câmara dos Deputados ou das
Assembleias Estaduais, que deveria apurar fraudes
eleitorais e "declarar" os deputados eleitos
Os honestos eram os que apoiavam o governo e os
outros sofriam a "degola", ou seja, o não-
reconhecimento da vitória. A fraude eleitoral
passou a ser, portanto, um instrumento de
administração estatal
Tal política equilibrou a situação entre as
oligarquias estaduais e o governo federal

Dois novos elementos


Nesta conjuntura política surgem dois elementos
característicos da República Velha, o coronelismo
e o voto de cabresto
O título coronel passou a ser utilizado no Brasil a
partir da criação da Guarda Nacional, pelo padre
Diogo Feijó em 1831. A raiz do coronelismo está
no Império, mas sua forma final é fruto do
entrelaçamento de instituições modernas como o
voto universal e a autonomia estadual com os
interesses dos grandes proprietários rurais
O voto se torna uma barganha pois era aberto,
permitindo que um coronel controlasse o voto
daqueles que viviam sob sua proteção, criando
currais eleitorais e o voto de cabresto, tirando do
voto qualquer possibilidade de transformação
social; o que é difícil de se imaginar em qualquer
ponto de história do Brasil
A valorização do café nada mais foi do que a
transferência das crises do café para outros
setores da sociedade que arcavam com o ônus
destas crises. Isto era feito através de

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Exercícios: Discussão Conceitual. Dados, Rio de Janeiro, v. 40,
n. 2, 1997.)
1. (UEL) O coronelismo, fenômeno social e político No texto acima, o historiador José Murilo de
típico da República Velha, embora suas Carvalho está reivindicando um maior cuidado
raízes se encontrem no Império, foi decorrente da: com o uso do termo “coronelismo” para analisar a
história política brasileira, insistindo em não
a) promulgação da Constituição Republicana que confundir clientelismo com coronelismo.
institui a centralização administrativa, Acompanhando o raciocínio de José Murilo de
favorecendo nos Estados as fraudes eleitorais. Carvalho, o coronelismo pode ser identificado
b) supremacia política dos Estados da região sul - como uma política praticada:
possuidores de maior poder econômico - cuja
força advinha da maior participação popular nas a) tipicamente no Sudeste do Brasil, em estados
eleições. como São Paulo e Rio de Janeiro, a partir da
c) montagem de modernas instituições - década de 1970.
autonomia estadual, voto universal - sobre b) majoritariamente nos grandes centros urbanos,
estruturas arcaicas, baseadas na grande a partir dos anos 2000.
propriedade rural e nos interesses particulares. c) tipicamente no período colonial pelos
d) instituição da Comissão Verificadora de Poderes presidentes das províncias.
que possuía autonomia para determinar quem d) tipicamente nas regiões do interior do Brasil,
deveria ser diplomado deputado - reconhecendo com predominância agrária, na época da
os vitoriosos nas eleições. República Velha, na virada do século XIX para o XX.
e) predominância do poder federal sobre o e) tipicamente no período imperial por políticos
estadual, que possibilitava ao governo manipular a que queriam romper com o poder central do
população local e garantir à oligarquia a império, sem se estender à República.
elaboração das leis.
3. O fenômeno político do coronelismo no Brasil
esteve associado a um modo de política que
2. Leia o trecho a seguir: “Os autores que veem caracterizou a República, a partir de 1894, como:
coronelismo no meio urbano e em fases recentes
da história do país estão falando simplesmente de a) República dos oligarcas
clientelismo. As relações clientelísticas, nesse b) República dos generais
caso, dispensam a presença do coronel, pois ela se c) República da espada
dá entre o governo, ou políticos, e setores pobres d) República parlamentar
da população. Deputados trocam votos por e) República imperial
empregos e serviços públicos que conseguem
graças à sua capacidade de influir sobre o Poder 4. “O coronelismo representou uma variante de
Executivo. Nesse sentido, é possível mesmo dizer uma relação sociopolítica mais geral — o
que o clientelismo se ampliou com o fim do clientelismo —, existente tanto no campo como
coronelismo e que ele aumenta com o decréscimo nas cidades. Essa relação resultava da
do mandonismo. À medida que os chefes políticos desigualdade social, da impossibilidade de os
locais perdem a capacidade de controlar os votos cidadãos efetivarem seus direitos, da
da população, eles deixam de ser parceiros precariedade ou inexistência de serviços
interessantes para o governo, que passa a tratar assistenciais do Estado, da inexistência de uma
com os eleitores, transferindo para estes a relação carreira no serviço público. Do ponto de vista
clientelística.” (CARVALHO, José Murilo de. eleitoral, o coronel controlava os votantes em sua
Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma área de influência. Trocava votos em candidatos

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por ele indicados por favores tão variados como e) aos grandes proprietários de terras e ao voto
um par de sapatos, uma vaga no hospital ou um censitário.
emprego de professora.”
(FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo:
Edusp, 1998. p. 263.) Gabarito:
Com base no texto, é possível afirmar que o “voto
de cabresto” 1. Alternativa C. As novidades republicanas foram
construídas sobre as bases políticas das elites do
a) não interferia no resultado das eleições, pois os Império brasileiro, em especial, o poder das
eleitores tinham liberdade para escolher seus grandes elites latifundiárias.
candidatos.
b) foi a forma encontrada pelos “coronéis” para 2. Alternativa D. Os coronéis são figuras típicas das
auxiliar os eleitores mais pobres, o que fortalecia o regiões interioranas mais livres das influências das
processo democrático. novidades dos centros urbanos onde o poder local
c) foi uma prática que contribuiu para diminuir as é mais presente, cintando ainda com a presença
desigualdades sociais e fortalecer o censo de da Igreja Católica que reforçava o poder dos
cidadania dos brasileiros. coronéis.
d) esteve ligado a um contexto social de
desigualdades e levava os eleitores a trocar votos 3. Alternativa A. A República dos Coronéis é
por benefícios a curto prazo. conhecida como República dos Oligarcas e, ainda,
e) evidenciava o controle do Estado sobre o como República do Café.
sistema eleitoral, graças à utilização de militares
para evitar as fraudes eleitorais. 4. Alternativa D. A troca de favores através do
voto explora as necessidades urgentes das
5. “O período da história política brasileira que vai camadas menos favorecidas que necessita de
de 1889 a 1930 costuma ser designado pelos elementos urgentes para a sua sobrevivência.
historiadores de diferentes modos: República
Oligárquica, República do ‘Café-com-Leite’, 5. Alternativa D. O voto aberto garantia o poder
República Velha ou Primeira República. Neste de coerção dos coronéis sobre os eleitores que
período, em troca de ‘favores’, os coronéis votavam segundo as ordens e as ameaças desse
exigiam que os eleitores votassem nos candidatos mesmo coronel.
por eles indicados. Tal prática ficou conhecida
como ‘voto de cabresto’”. (COTRIM, 2009,
modificado)
As duas expressões grifadas (“coronéis” e “voto de
cabresto”) referem-se, respectivamente,

a) aos grandes proprietários de terras e ao voto


secreto.
b) aos oficiais de carreira que exerciam cargos
políticos e ao voto censitário.
c) à influência de oficiais do Exército na tomada de
decisões políticas e ao voto censitário.
d) aos grandes proprietários de terras e ao voto
aberto dado sob pressão.

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