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DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS

DE CONCRETO PROTENDIDO

UNIDADE I
CONCEITOS BÁSICOS E MATERIAIS
Elaboração
Mateus Arlindo da Cruz

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................4

UNIDADE I
CONCEITOS BÁSICOS E MATERIAIS.................................................................................................................................................7

CAPÍTULO 1
CONCEITO FUNDAMENTAL DE CONCRETO PROTENDIDO E HISTÓRICO................................................................ 7

CAPÍTULO 2
CONCEITOS DE PÓS E DE PRÉ-TRAÇÃO.............................................................................................................................. 13

CAPÍTULO 3
EQUIPAMENTOS DE PROTENSÃO......................................................................................................................................... 17

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................32
INTRODUÇÃO

Esta apostila tem por objetivo dar suporte à disciplina de Dimensionamento de


Estruturas de Concreto Protendido. Ela foi elaborada com base em estudos e
vivências profissionais ao longo dos anos (VERÍSSIMO, 1998; BASTOS, 2019) e
contribui para a formação do profissional que desejar estar apto a dimensionar
estruturas de concreto protendido.

Ao longo dos anos, o concreto armado foi tratado com certo misticismo, sendo um
material à parte. Esse fato é notado principalmente em bibliografias especificas
para cada um dos temas.

O uso do concreto protendido no Brasil se destacou na última década, principalmente


por fazer uso de novas técnicas construtivas. Isso pode ser comprovado pelo
grande número de obras civis realizadas com o uso desse material.

Cada vez mais se destacam os profissionais que entendem e dominam o


dimensionamento de concreto protendido, sendo extremamente disputados no
mercado de trabalho.

O concreto protendido é um material complexo com inúmeros fatores


correlacionados que ditam as propriedades deste material.

Na apostila, são apresentados alguns dos procedimentos de dimensionamentos


de estruturas de concreto protendido, bem como são abordados os principais
conceitos sobre o assunto e as diferenças entre sistemas de protensão e de
dimensionamento de estruturas, com exemplos práticos para melhor compreensão
por parte dos alunos.

Os principais objetivos da disciplina são elencados a seguir. Ao término da


disciplina, espera-se que o profissional tenha entendimento do assunto e domínio
do conteúdo, estando apto a trabalhar esse material com excelência.

Por fim, desejo boa leitura a todos e que façam um excelente curso! E lembrem-se:
o profissional de destaque é aquele que busca mais, que vai atrás do conteúdo
extra e se atualiza. Que vocês deem grande passo neste sentido.

Bom aprendizado a todos!


Objetivos
» Apresentar os diferentes tipos de protensão.

» Capacitar o aluno a dimensionar estruturas de concreto protendido.

» Apresentar as diferenças de pós e de pré-tração e processos construtivos.

» Apresentar o roteiro de cálculo para dimensionamento de vigas de concreto


protendido.

» Apresentar o roteiro de cálculo para dimensionamento de lajes de concreto


protendido.
CONCEITOS BÁSICOS E
MATERIAIS
UNIDADE I

CAPÍTULO 1
CONCEITO FUNDAMENTAL DE CONCRETO PROTENDIDO E
HISTÓRICO

No decorrer dos últimos anos, é notado uma exponencial evolução das estruturas
civis utilizadas na engenharia, tanto no que diz respeito a estruturas metálicas
como a estruturas de concreto. Essa evolução tecnológica tem como pilares três
principais áreas: a área dos materiais utilizados nas estruturas; a do processo de
cálculo e projetos desenvolvidos; e a dos métodos e procedimentos de execução.

O concreto e o aço são os principais representantes da área de materiais utilizados


em estruturas de concreto protendido. Esses dois materiais têm características
especiais no que tange aos aspectos de performance e resistência.

Com o avanço das tecnologias, foi possível o desenvolvimentos de aditivos


(adições), que, quando incorporados ao concreto, atribuem ganhos de qualidade,
durabilidade e resistência ao material. Nos dias atuais, a resistência de 50MPa
de um concreto é facilmente superada com o incremento dessas adições.

Logo surgiram novos concretos, os de alto desempenho (CAD) e os concretos


autoadensáveis (CAA), entre outros que a indústria da construção civil utiliza
para a confecção das estruturas. O uso desses novos concretos nas estruturas
de uma edificação tem produzido aumento na durabilidade e na segurança dos
prédios.

Quando falamos em aço – considerado um dos materiais mais versáteis e mais


importantes entre as ligas metálicas –, o avanço das indústrias possibilitou o
desenvolvimento dos aços-carbono, que é aplicado em estruturas metálicas,
concreto armado e concreto protendido. Nas novas estruturas, o uso de cordoalhas
engraxadas tornou-se comum, o que popularizou a aplicação de protensão,
principalmente nos casos de lajes e pré-moldados.

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

Em meados de 1960, os processos de cálculo para dimensionamento de estruturas


e projetos sofreu grande avanço, possível graças à utilização da técnica de
probabilização das variações estruturais e ao método dos estados-limites.
O uso desse conjunto de técnicas possibilitou ao engenheiro responsável o
desenvolvimento de cálculos e dimensionamentos de estruturas mais claros
e de entendimento fácil para a verificação da segurança e do desempenho da
edificação.

Mais tarde, com a chegada do uso de computadores e softwares de alta capacidade,


a análise estrutural teve mais um grande avanço, tornando possível utilizar
modelos sofisticados e de processamento rápido e confiável. Entre os avanços
podemos citar as simulações lineares ou não lineares com respostas estáticas
ou dinâmicas.

Os responsáveis pelo desenvolvimento dos projetos estruturais possuem programas


integrados de cálculo e desenho para aumentar a produtividade e a qualidade
no detalhamento dos elementos estruturais. O uso desses programas promoveu
integração de multiáreas no desenvolvimento de projetos e troca de arquivos
via online.

No Brasil, o uso de estruturas protendidas se consolidou na última década como


uma técnica construtiva viável. Isso pode ser comprovado pelo alto número de
obras civis realizadas utilizando esse sistema construtivo, como silos, tanques,
viadutos, entre outros. Destaca-se que, no Brasil, existem obras de protensão
com mais de 40 anos de execução.

A palavra protensão pode ser entendida como o processo pelo qual se aplicam
tensões prévias no concreto, porém esse conceito é bem mais amplo. A ideia é
a instalação de um estado prévio de carregamento de tensão em alguma coisa.
No âmbito da engenharia, a protensão é aplicada em peças estruturais e em
materiais de construção.

O progresso do concreto armado e protendido iniciou-se com a criação do


cimento Portland, na Inglaterra, em 1824. No século 19, o reforço de peças de
concretos com o uso de armaduras de aço foi disseminado em todo o mundo.
Nesse período, as construções de concreto armado eram elaboradas em bases
empíricas, sendo desconhecida a real função da armadura de aço nas peças
estruturais (BASTOS, 2019).

Foi somente em 1877 que o americano Hyatt descobriu o efeito de aderência


entre o concreto e a armadura de aço, após um completo estudo em edificações

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Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

de concreto. A partir desse ano, começou-se a colocar as armaduras apenas nos


lados tracionados das peças estruturais.

A primeira proposição sobre pré-tensionar um elemento de concreto foi


anunciado em 1886. No mesmo ano, na Alemanha, surgia o primeiro método
de dimensionamento empírico para construções de concreto armado. Ainda no
século 19, surgiram inúmeros métodos e patentes para protensão e ensaios em
peças de concreto, porém todas sem êxito.

No século 20, surgia o primeiro estudo e método de dimensionamento de protensão


em concreto, com base em inúmeros estudos e ensaios. Em 1912, foi reconhecido
que, com o tempo, o efeito de uma protensão era perdido, principalmente em
virtude da retração e da deformação lenta do concreto.

Em 1919, na Alemanha começava a fabricação de painéis de concreto com uso


de cordas de piano para o efeito de protensão. A partir de 1949, se acelerou o
desenvolvimento do concreto protendido; e no ano seguinte, na França, era
realizada a primeira conferência sobre o tema.

Na mesma época, surgiram as cordoalhas de fios, o método de se colocar os


cabos de protensão dentro de bainhas, no interior do concreto, com a finalidade
de se aplicar a protensão nos cabos com apoio do próprio concreto endurecido.
Posteriormente, a aderência por meio de uma injeção de argamassa especial se
espalhou por todo o mundo. Esse sistema possibilitou o uso de grandes vãos
com essas estruturas.

A Ponte do Galeão, no Rio de Janeiro, construída em 1948, foi a primeira obra no


Brasil a utilizar concreto protendido. Todo o material foi importado da França,
desde o aço, as ancoragens, os equipamentos e até mesmo o projeto.

Em 1952, a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira começou a fabricação de aço


para protensão no Brasil. Mais tarde, a segunda obra utilizando o sistema de
protensão no país foi a Ponte de Juazeiro, já com aço brasileiro. Pode-se concluir
que o conceito de protensão em concretos se desenvolveu nos últimos 100 anos.

A maneira mais comum de se utilizar protensão no Brasil é em peças pré-moldadas


de concreto. A necessidade de concreto de melhor qualidade e durabilidade
bem como o uso de diversos equipamentos e o processo construtivo motivam a
elaboração das peças em canteiros de obras apropriados.

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

Nesses canteiros, é possível a execução da protensão e o processo de cura


adequado em condições favoráveis. Além de tudo, o controle tecnológico é bem
maior hoje em dia.

Nas pistas de protensão, a protensão com aderência inicial é a mais utilizada


nos elementos pré-fabricados, nos quais utilizam-se fios ou cordoalhas de aço
estirados com auxílio de macacos hidráulicos ao ar livre, que se apoiam em
blocos de concretos na cabeceira da pista de protensão.

Os elementos estruturais são concretados e, após atingirem a resistência adequada,


os fios ou cordoalhas são liberados, ficando assim em contato com o concreto,
no qual estão aderidos pela força de atrito.

Inúmeras indústrias brasileiras de concreto dominam a tecnologia de execução


de elementos protendidos. Elas produzem postes, pilares, painéis, vigas,
reservatórios, silos, entre outros elementos.

A aplicação de elementos de concreto protendido é infinita, uma vez que sempre


surgem novas aplicações para se utilizar essa tecnologia. Neste aspecto, vale
a pena citar grandes estruturas protendidas, como plataformas marítimas de
exploração de petróleo e gás natural, pontes estaiadas e invólucros de proteção
de centrais atômicas.

Outra forma de protensão é a utilização de tirantes de ancoragem protendidos em


obras de terra, como as cortinas atirantadas, estruturas de contenção, barragens
etc. O sistema de protensão é utilizado também em lajes e pisos de edificações,
principalmente nos casos em que se faz o uso de grandes vãos livres. Nesses
casos, o sistema de laje-cogumelo protendida se faz uma opção interessante.

Um conceito fundamental sobre o concreto é que ele possui boa resistência à


compressão e pequena resistência à tração, sendo esta segunda estimada em
cerca de 10% da capacidade da primeira. Em situações nas quais o concreto não é
bem executado, a retração do material pode causar fissuras na região tracionada
da peça, assim eliminando a resistência de tração do elemento. Para fins de
dimensionamento de estruturas, muitos projetistas desprezam a resistência de
tração do concreto.

O aço resiste bem tanto à compressão quanto à tração, isto se deve principalmente
a sua alta resistência com seções das barras reduzidas. Nos casos em que as
barras são muito esbeltas, ocorre o processo de flambagem, por isso as barras
de aço são utilizadas principalmente para resistirem a tração.

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Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

A utilização desses dois materiais permite que o concreto resista aos esforços de
tração e compressão. O artifício da protensão consiste basicamente em introduzir
esforços prévios na peça de concreto para que eles anulem as tensões de tração
provocadas pelas solicitações em serviço.

Em uma breve analogia, em uma mesma seção de concreto armado e de concreto


protendido, é possível dobrar o momento resistente do concreto quando utilizado
o sistema de protensão. Assim, pode-se dizer que empregando um concreto
protendido com resistência f ck igual ao dobro dos valores do concreto armado,
obtêm-se seções protendidas capazes de resistir a momentos fletores em serviço
quatro vezes maiores que as do concreto armado.

Ao analisar o ponto econômico, o aumento percentual do preço pode ser inferior


ao acréscimo de resistência obtido com o uso da protensão. Para melhor entender
os demais capítulos, estipularemos algumas definições.

» Armadura de protensão: é composta por fios ou barras, feixes ou cordões que


se destinam à produção das forças de protensão. A armadura de protensão
pode ser chamada também de armadura ativa.

» Armadura passiva: é qualquer armadura não utilizada para produzir forças


de protensão.

» Concreto protendido com aderência inicial: é o concreto no qual o estiramento


da armadura de protensão é realizado com apoios independentes da peça,
antes da ocorrência do lançamento do concreto, e, após a cura do concreto,
as ligações dos apoios são retirados.

» Concreto protendido com aderência posterior: é o concreto no qual o


estiramento da armadura de protensão se dá após a cura do concreto, no
qual se utiliza como apoio a própria peça.

» Concreto protendido sem aderência: é o concreto igual o item anterior,


porém, após o estiramento das armaduras de protensão, não é criada
aderência com o concreto.

» Protensão sem aderência: a armadura ativa é tracionada após a execução da


peça de concreto, e a inexistência de aderência se dá apenas na armadura
ativa, devendo a armadura passiva estar sempre aderida com o concreto. Nas
maiorias dos casos, a armadura ativa é colocada dentro de cabos plásticos

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

ou metálicos, que, após a aplicação da protensão, se injeta graxa com a


finalidade de se proteger a armadura da corrosão.

» Protensão com aderência inicial: o elemento é concretado com a armadura


previamente ancorada com dispositivos externos, sendo a força de protensão
transferida ao concreto pela aderência.

» Protensão com aderência posterior: é aplicada sobre o elemento de concreto


já curado, sendo a aderência processada posteriormente, que, na maioria
das vezes, essa aderência é provocada pela injeção de uma nata de cimento
no interior das baias.

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CAPÍTULO 2
CONCEITOS DE PÓS E DE PRÉ-TRAÇÃO

A pré-tensão, ou também denominada pela ABNT-NBR 6118 como pré-tração,


é aplicada nas peças pré-moldadas, em pistas de protensão, e o estiramento
da armadura se dá antes da ocorrência da concretagem. A pista de protensão
é composta por uma base plana e reta, que, em sua maioria, tem centenas de
metros, sobre a qual são fabricadas as estruturas de forma sequencial.

Nas extremidades das pistas de protensão, existem componentes próprios para


ancoragem das armaduras ativas. Na sua maior parte, esses componentes são
constituídos de aço e concreto, fixados no solo por meio de um elemento de
fundação.

As cordoalhas ou os fios de protensão são colocados ao longo da pista de protensão,


no mesmo processo de execução de lajes alveolares. Posteriormente, são passados
por dentro das peças a ser concretadas e fixados nas duas pontas, uma chamada
de ancoragem ativa e outra chamada de ancoragem passiva.

Depois da ancoragem, é realizado o processo de estiramento dos fios, realizado


de forma individual para cada fio ou cordoalha. A realização desse processo
ocorre com a ajuda de um cilindro hidráulico que fica apoiado sobre a estrutura
de reação. A tensão de tração que esse cilindro aplica sobre o aço é sempre menor
que a tensão-limite do regime elástico do aço.

Com o processo de estiramento dos cabos concluído, começa-se o processo de


lançamento do concreto nas formas já preparadas. O concreto adere e envolve
o aço de protensão, e, após um determinado tempo para que o concreto atinja a
resistência adequada, os cabos são soltos (relaxados) da ancoragem.

No instante em que os cabos são soltos, ocorre a transferência da protensão dos


cabos para a estrutura, visto que os cabos tendem a voltar ao seu estado inicial
sem deformações, porém são impedidos pela ação do concreto, gerando uma força
de compressão em toda a seção da estrutura. Logo, em virtude de a protensão
ser transferida ao concreto pela ação do atrito entre os dois materiais, tem-se
então a pré-tensão ou pré-tração com aderência inicial.

Depois dos processos citados anteriormente, os cabos são cortados, com o intuito
de se desmoldar as formas e de transferir as estruturas para um local adequado
de armazenagem, para que seja iniciado um novo ciclo de produção.

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2003, p. 4), no seu item 3.1.7, o concreto com
armadura ativa pré-tracionada é “concreto protendido em que o pré-alongamento
da armadura ativa é feito utilizando-se apoios independentes do elemento
estrutural, antes do lançamento do concreto, sendo a ligação da armadura de
protensão com os referidos apoios desfeita após o endurecimento do concreto;
a ancoragem no concreto realiza-se só por aderência”.

Em cada fio ou cordoalha utilizada no processo de protensão há um conjunto


de cunha e porta-cunha acoplado, e ficam apoiados em travessas metálicas nas
estruturas da reação. Após o fio ou a cordoalha sofrer o processo de relaxamento,
ele movimenta-se um pouco no sentido contrário do seu alongamento, o que
provoca a penetração da cunha no interior do furo do porta-cunha até sua fixação
completa.

O cilindro mecânico é adicionado pela pressão de uma bomba de óleo, e a tensão


de tração aplicada é verificada por meio de um manômetro, verificando-se o
alongamento dos fios e das cordoalhas. O alongamento dos fios e cordoalhas
depende do comprimento da pista de protensão; o mais comum é que este
alongamento chegue a 1000mm.

Os cilindros hidráulicos também podem ser utilizados nas ancoragens passivas,


com a finalidade de se fazer o relaxamento ou a soltura dos cabos de forma
menos brusca, evitando assim choques e perda da aderência entre o concreto e a
cordoalha. Durante todo o processo de cura do concreto, os cilindros hidráulicos
não são utilizados, pois as vigas metálicas ficam apoiadas em chapas metálicas,
também chamadas de maletas.

Os cilindros hidráulicos voltam a ser acionados apenas quando, no processo


de transferência da protensão para a estrutura, apoiam-se os cilindros na viga
metálica, causando um deslocamento pequeno para que as maletas possam ser
retiradas. Logo, os cilindros têm sua força diminuída de forma gradativa e lenta,
permitindo o relaxamento das cordoalhas e dos fios e soltando-os das ancoragens.

Logo, concluímos que, em um sistema de protensão realizado em fábricas, o


estiramento dos cabos e fios ocorre na ancoragem ativa; e a soltura, na ancoragem
passiva. Em elementos pré-moldados, o sistema de pré-tração é extremamente
utilizado, pois possibilita maior controle na qualidade de todo o processo de
produção e ganho de rendimento.

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Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

A cura dos elementos pode ser realizada tanto de forma natural como térmica, com
vapor aquecido nas primeiras 24 horas de cura. Como já citado anteriormente, a
transferência de protensão ocorre pela aderência entre o concreto e a armadura
ativa; assim, a armadura de protensão e o concreto trabalham juntos e de forma
integrada.

Caso venha a ocorrer o rompimento de um fio na estrutura de protensão, a


perda da protensão será localizada, visto que a aderência permite ao fio que se
mantenha protendido no restante do comprimento da estrutura.

As deformações por encurtamento elástico do concreto, seguido por retração


e fluência, podem atingir valores elevados, devido à baixa idade e resistência
do concreto no momento de transferência da protensão. Essas deformações de
valores elevados causam grande perda na força de protensão da estrutura.

Em sistemas de protensão que utilizam o processo de pós-tensão, ou pós-tração,


a armadura ativa é alongada depois do processo de concretagem e cura da peça, e
a ancoragem se dá na extremidade do concreto da peça. A pós-tensão é utilizada
em processos produtivos de baixa complexidade e em pequenas peças.

A pós-tensão vem sendo muito utilizada em peças moldadas no canteiro de


obra e para aplicação de projetos de viadutos, pontes e vãos pequenos e médios
(aproximadamente 40 metros), bem como em lajes e pisos estruturais. No
processo de execução, são colocadas bainhas em formato de dutos, dispostas ao
longo do comprimento da estrutura. Em seguida, o concreto é lançado na fôrma,
envolvendo armaduras passivas, insertos, placas de aço e bainhas.

Depois do processo de cura do concreto, as armaduras ativas (cordoalhas e fios)


são colocadas dentro das bainhas, atravessando a estrutura de uma extremidade
a outra. No momento em que o concreto atinge a resistência requerida de
projeto, a armadura ativa é fixada em uma extremidade do concreto (ancoragem
passiva), sendo estirada pelo cilindro hidráulico que está apoiado e fixado na
outra extremidade da peça (ancoragem ativa), assim ocorrendo o processo de
tracionamento dos cabos.

Com o fim do processo de estiramento dos cabos, o cilindro tem sua força de
aplicação relaxada; logo, a armadura estirada tende a voltar ao seu estado
inicial, movimentando-se alguns milímetros contra o sentido de estiramento.
Esse processo acaba por fixar na placa de aço o sistema de ancoragem com o
uso das cunhas.

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

Concluímos pelo citado que o concreto na estrutura sofre compressão durante o


processo de estiramento dos cabos, e a protensão é mantida pela força transferida
pela armadura, de forma concentrada na placa de aço que está apoiada no concreto.
A armadura ativa aplica força transversal na peça, caso a armadura seja curva.

Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), o concreto com armadura ativa pós-tracionada
é definida pelo alongamento da armadura ativa realizada após o processo de
cura do concreto, utilizando-se como apoios parte da própria peça estrutural,
criada após a aderência com o concreto por meio de injeções de nata de cimento
nas bainhas.

Assim como na pré-tensão, a forma mais comum de fixação de uma cordoalha


ou de um fio é com a cunha de aço. No entanto, a diferença é que na pós-tensão
não é utilizado o dispositivo porta-cunha, pois a cunha é inserida diretamente
dentro de um furo cônico existente na placa de aço, o que configura um sistema
altamente eficiente e de baixo custo. Assim, a armadura, fixada nas extremidades
da peça, aplica a força de protensão, que comprime o concreto de parte ou de
toda a seção transversal. Portanto, nesse caso, a aplicação da força de protensão
ocorre de forma concentrada, por meio de placas de aço embutidas no concreto
nas superfícies extremas das vigas.

Os sistemas de protensão podem ser tracionados de formas diferentes,


proporcionando ganho de força de protensão no elemento estrutural quando
necessário. Depois do tracionamento dos cabos, as bainhas costumam ser
preenchidas com uma calda, também chamada de nata, de cimento sob pressão.

A utilização da injeção de nata de cimento é para proteger os cabos de corrosão


e proporcionar melhor aderência do sistema de protensão ao concreto da peça.
Quando se utiliza essa técnica, ocorre pós-tensão com aderência; em casos em
que não é utilizada a injeção de cimento, ocorre a pós-tensão sem aderência.

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CAPÍTULO 3
EQUIPAMENTOS DE PROTENSÃO

O processo de protensão, de forma genérica, seja ele qual for, envolve a introdução
de uma força de magnitude controlada dentro de um elemento de concreto. Para
que essas forças sejam introduzidas no elemento de concreto, se faz necessário o
uso de inúmeros equipamentos especiais, com a finalidade de se obter o mínimo
possível de perdas.

Entre os equipamentos de protensão, podemos citar os macacos hidráulicos,


peças para ancoragem dos cabos, bombas de injeção, compressores e outros. Nos
próximos parágrafos deste capítulo, serão apresentados alguns dos equipamentos
utilizados para a operação da protensão.

As forças de protensão são aplicadas aos cabos de protensão, ou ainda nos blocos
de concreto, através do uso de macacos hidráulicos. Esses equipamentos são
especiais, fabricados com a mais alta tecnologia. Essa tecnologia foi desenvolvida
no final da Segunda Guerra Mundial com o intuito de acionar trens de aterrissagem
dos aviões.

Como no princípio da protensão os cabos precisam ser tensionados até se atingir


uma tensão elevada na armadura ativa, é faz necessário o uso de forças de
protensão muito grandes. A maneira mais fácil de fazer isso é usando macacos
hidráulicos.

Os macacos hidráulicos utilizados para a protensão são ligados a bombas especiais,


que produzem uma pressão que pode chegar à grandeza de 50 kN/cm², o que
corresponde a uma coluna de água de 5km de altura. A pressão e as forças
envolvidas no processo de protensão são elevadas; por isso, é imprescindível
que o engenheiro responsável conheça o funcionamento desses equipamentos.

Os macacos hidráulicos utilizados para a protensão são compostos basicamente


de um cilindro e de um pistão de seção cheia ou em coroa circular. O espaço que
fica entre o cilindro e o pistão é lacrado com o uso de uma borracha especial e
com ótimas propriedades de vedação.

No instante em que é aplicada a força de protensão, e os cabos estão presos ao


macaco, a bomba de alta pressão injeta óleo diluído pressurizado no corpo do
cilindro. A pressão ocasionada pela bomba provoca um deslocamento relativo
entre o pistão e o cilindro; consequentemente, isso provoca o alongamento de
protensão nos cabos ligados ao macaco hidráulico.

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

Existe uma válvula de segurança na extremidade do curso admissível do pistão,


com o intuito de impedir que o pistão se desloque indefinidamente e escape do
cilindro. Para a ligação da bomba ao macaco, são utilizadas mangueiras flexíveis
de alta pressão.

Em macacos hidráulicos grandes, podem se utilizar tubulações de alta pressão,


que são compostas por tubos sem costura de aço ou cobre com justas e válvulas
de alta pressão para a ligação da bomba ao macaco.

Ressalta-se que qualquer vazamento nas tubulações de alta pressão pode causar
ferimentos graves; por isso, deve-se, antes do uso e com frequência, checar o
estado das tubulações e as mangueiras, mantendo-se sempre todo o sistema de
alta pressão limpo e em boas condições de segurança.

A força que o macaco aplica aos cabos é medida por um manômetro de escala
milimétrica. Em equipamentos mais modernos, é possível aplicar a força de
proteção e, em seguida, fazer a cravação das cunhas de ancoragem.

Para a garantia da segurança das operações de protensão, é fundamental


manutenção cuidadosa e correta utilização do equipamento. De acordo com
a carga atuante, o rompimento de uma cordoalha pode resultar no disparo de
parte da cordoalha ou peça de ancoragem com velocidade igual ou superior ao
de um projétil, podendo causar sérios danos ou até mesmo matar alguém.

Os artifícios ou dispositivos que são utilizados para a fixação dos cabos de


protensão que estão sendo tensionados e que têm como função manter a carga
aplicada pelo macaco hidráulico e impedir que os cabos voltem, recebem o nome
de ancoragem.

As ancoragens podem ser divididas em quatro grupos:

» ancoragens por aderência;

» ancoragens por meio de cunhas,

» ancoragens por meio de rosca e porca e

» ancoragens por meio de cabeçotes apoiados em calços de aço ou em argamassa


injetada.

Na protensão com aderência inicial, em sua maior parte, é utilizado o sistema


de ancoragem por aderência. Nesse sistema, a força de protensão a ser ancorada
é de 3 a 4 vezes superior à ancoragem de barras nervuradas na execução de
concreto armado com uma mesma seção transversal.

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Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

Em virtude da grande magnitude das forças atuantes, a ancoragem por aderência


somente é efetiva se for desenvolvida a aderência mecânica por meio das nervuras
da armadura ativa e do concreto. Em casos de utilização de cordoalhas de 7 fios,
o escorregamento delas é impedido com o uso de saca-rolhas.

Antigamente, no começo, no processo de execução da protensão com aderência


inicial, eram utilizados fios extremamente finos. Esse uso de fios com diâmetros
pequenos possibilitou a observação da ocorrência do efeito de ancoragem. Na
extremidade sem tensão do fio, ocorre sua a deformação transversal. No momento
em que se faz o aumento do diâmetro, ele se encunha no concreto.

Com o intuito de melhorar a aderência de fios lisos ao concreto, utiliza-se o


procedimento de banhá-los em ácido, para deixá-los com a superfície mais
áspera. Uma boa ancoragem por aderência somente é possível através de uma
ancoragem mecânica.

Em estruturas de pós-tensão, a tensão produzida na armadura ativada pela


protensão deve ser absorvida nas extremidades dos fios. Para que isso ocorra, os
fios e as nervuras devem estar apoiados no concreto. Assim, a força de proteção
fica difusa no concreto, originando solicitações de tração em torno da armadura
de proteção e em todas as direções.

Nesse contexto, as ancoragens só se mantêm estáveis se o concreto não se romper


devido às forças de fendilhamento. Para evitar esse rompimento do concreto por
essas forças, se faz o uso de armaduras transversais para suportar essas forças,
as quais, em sua maior parte, têm formato espiral e ficam situadas na região de
ancoragem.

As ancoragens por meio de cunha são realizadas com o uso de duas peças especiais:
o cone macho; e o cone fêmea. Este tipo de ancoragem ainda pode ser subdividido
em duas categorias: ancoragem com cunha deslizante; e ancoragem com cunha
cravada.

Na ancoragem com cunha deslizante, ao ser tensionada, a armadura de protensão


se movimenta entre as cunhas, visto que as mesmas estão soltas e são introduzidas
lentamente com o auxílio de um martelo ou com a mão, mesmo antes da liberação
dos cabos. No momento em que os cabos são liberados, eles puxam as cunhas
para dentro do cone fêmea por meio da força de compressão transversal gerada.

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

Esse deslizamento das cunhas é chamado de encunhamento, e sua velocidade


e sua força dependem da inclinação das faces das cunhas e da profundidade
das ranhuras. As cunhas possuem dentes que “mordem” os cabos de protensão,
impedindo que eles escorreguem. Caso aconteça o escorregamento dos cabos,
a força de protensão tem seu valor diminuído. Se considerarmos um sistema
de protensão com cabos e alongamentos curtos, o fator de encunhamento é de
suma importância.

Em sistemas com ancoragem com cunha cravada, o macaco hidráulico protende


os fios de protensão até se atingir o valor determinado; logo em seguida, um
dispositivo especial aciona esforço na cunha sobre uma peça fixa. No momento
em que os fios são liberados pelo macaco hidráulico, eles tendem a voltar ao seu
comprimento normal, porém são impedidos pelas cunhas. O esforço resultante
é absorvido pelo sistema de ancoragem definitiva.

A cunha é cravada pelo macaco hidráulico, mas, ao receber a força dos cabos
de proteção que tentam voltar ao seu estado inicial, a cunha penetra no cone
fêmea da peça fixa. Esse processo provoca perda de protensão e alongamento
dos fios. Essa perda de proteção ocorre em sistemas de protensão por cunhas e
é chamado de perda por encunhamento.

Em resumo, existem dois tipos de cunha: em um tipo, os fios e as cordoalhas


passam entre os cones macho e fêmea; e no outro, o cone macho é dividido em
duas partes iguais, e os fios ou as cordoalhas passam por dentro delas, funcionando
de forma análoga ao mandril que prende uma broca de furadeira.

No Brasil, as cunhas são fabricadas por algumas indústrias, dentre as quais


destacam-se: Freyssint, Losinger e Rudloff.

O sistema de ancoragem por meio de rosca e porca é utilizado em fios e cordoalhas


ou em barras maciças de aço de protensão. Esses sistemas são conhecidos
comercialmente como Macalloy e Dywidag. As barras Dywidag são laminadas com
roscas, com a finalidade de as porcas prenderem a barra em qualquer ponto dela.

Em casos que se utiliza o sistema de ancoragem com rosca e porca e os cabos de


protensão são contínuos, formados por fios e cordoalhas, se faz o uso da ligação
entre os fios com o parafuso e a outra peça com rosca. Funciona da seguinte
forma: o macaco de protensão está ligado ao parafuso ou à barra rosqueada

20
Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

através de uma peça especial que estica o cabo de protensão. No momento em


que se atinge o alongamento e os esforços previstos no projeto, aperta-se a porca
na placa de apoio.

Existem casos, em que, por razões econômicas e técnicas, se faz a protensão do


cabo apenas em uma extremidade, colocando na outra extremidade do bloco de
concreto uma ancoragem “morta”, também chamada de ancoragem passiva.

As ancoragens podem ser executadas por atrito e aderência das extremidades


dos fios em contato direto com o concreto, por meio de laços ou alças colocados
no interior da peça de concreto, através de ancoragens normais com as cunhas
pré-cravadas ou ainda com o uso de dispositivos mecânicos especiais.

1. Materiais utilizados
Em estruturas de concreto protendido, o controle de qualidade do concreto
deve ser rigoroso. Devem ser exigidos: realização de ensaios prévios; controle
do cimento e dos agregados a serem utilizados; fiscalizações constantes durante
o período de confecção.

Nas peças de concreto protendido, a resistência do concreto costuma ser superior


às peças de concreto armado. O código modelo CEB-78 (CEB, 1990) especifica e
recomenda resistência f CK igual ou superior a 25MPa. Existem inúmeros autores
que justificam o uso de concretos de alta resistência nessas peças.

Concretos com altas resistência, juntamente com o fato de toda a peça trabalhar
resistindo aos esforços gerados, trazem redução às dimensões das peças quando
comparadas com o concreto armado. Em análise lógica, as peças têm redução
no peso próprio. Isso possibilita a execução de estruturas com grandes vãos.

Em concretos armados, a faixa de resistência usual normalmente gira em torno


de 15 a 20Mpa; no concreto protendido, essa faixa gira em torno de 30 a 40 MPa.
Dentre os fatores de justificativa a elevadas resistências no concreto protendido,
podemos destacar:

» A protensão nas peças de concreto pode causar solicitações prévias de


valores elevados; em muitos casos, essas solicitações são maiores do que
a situação de serviço da peça.

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

» O uso de concretos e aço com elevada resistência faz com que as dimensões
das peças sejam menores; por consequência, seu peso próprio é menor.

» Os concretos de alta resistência, de uma forma genérica, possuem o módulo


de deformação mais alto, que, por consequência, tem as suas deformações
imediatas reduzidas. Esse efeito causa a diminuição das perdas de protensão
oriundas de retração e fluência do concreto.

Embora seja de suma importância a resistência à compressão do concreto, ele


também deve possuir boas características de compacidade e baixa permeabilidade,
para que o aço não sofra com os efeitos de corrosão. Conforme pesquisas apontam,
quando o aço é submetido a elevadas tensões, ele tende a ser mais frágil ao
ataque da corrosão.

Recomenda-se a adoção de algumas práticas para que o concreto tenha boa


duração nas estruturas de concreto protendido:

» Observar as recomendações e prescrições do fabricante do concreto.

» Observar os tipos mais adequados de cimento conforme a obra (Portland,


ARI, AF etc.).

» Utilizar agregados adequados quanto a granulometria e mineralogia.

» Dosar de forma correta o concreto.

» Utilizar aditivos e adições que não prejudiquem as armaduras.

» Executar de forma correta a cura do concreto.

A cura a vapor ou cura térmica é frequentemente utilizada em fábricas de


pré-moldados, visto que ela acelera o processo de maturação do concreto. Alguns
estudos apontam que, com a cura a vapor em cimentos ARI, é possível atingir
70% da resistência em apenas 20 horas, em vez de em 28 dias de cura. É por
esse motivo que as fábricas de pré-moldados conseguem trabalhar com ciclos
de 24 horas.

Os aços que são utilizados nos concretos protendidos têm como principais
características a elevada resistência e a ausência do patamar de escoamento.
Quando comparados aos aços utilizados no concreto armado, são sensivelmente
mais econômicos, visto que sua resistência pode chegar a ser três vezes superior
ao do concreto armado.

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Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

Outra vantagem dos aços para concreto protendido é que eles podem ser
fornecidos com diferentes comprimentos, evitando assim problemas de emendas
de armaduras em situações que necessitem de peças com grandes vãos. Ressalta-
se que, no concreto armado, o uso de aço de alta resistência é proibitivo, em
razão dos excessivos alongamentos que produzem fissuras muito abertas; já no
concreto protendido, esse problema é solucionado devido ao aço já ser alongado
previamente.

No Brasil, existem duas NBRs que regulam as características e propriedades


dos aços de protensão:

» NBR 7482 – Fios de aço para concreto protendido (ABNT, 2020);

» NBR 7483 – Cordoalhas de aço para concreto protendido (ABNT, 2020).

Podem-se encontrar os aços de protensão da seguinte forma:

» fios de aço carbono trefilados, com diâmetros variando de 3 a 8mm, entregues


em rolos ou bobinas;

» cordoalhas em forma de fios enrolados de dois, três ou sete fios em forma


de hélice;

» barra de alta resistência de aço-liga, – são laminadas a quente, com diâmetro


superior a 12mm e de comprimento ilimitado.

Ainda os aços podem ser de aço aliviado, também chamado de aço de relaxação
normal (RN), retificados por tratamento térmico que causa alívio das tensões
internas de trefilação. Outra modalidade de tratamento do aço pode ser o de
relaxação baixa (RB), também chamados de aços estabilizados, nos quais o
tratamento ocorre por termomecânica, que causa melhora nas características
elásticas e reduz as perdas por relaxação do aço.

Ressalte-se que os tipos de aço disponíveis no mercado variam com o passar do


tempo, principalmente pelas atualizações de normativas nacionais e internacionais.
Além disso, as indústrias podem produzir um tipo de aço específico que não existe
em seu catálogo de produtos, desde que seja feita uma encomenda substancial.

Como mencionado na Unidade I, a fabricação de aços para a protensão se iniciou


no Brasil em 1952 pela Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. Nesta época, a
produção se concentrava apenas em fios de aço com diâmetro de 5mm. Dez anos
depois, começou-se a fabricar cordoalhas de 2, 3 e 7 fios, substituindo assim os
fios de 5, 7 e 8 mm.

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

Em países desenvolvidos, onde o sistema de protensão é utilizado a mais tempo, o


uso de fios foi praticamente abolido, pois as cordoalhas são mais economicamente
viáveis. No Brasil, ainda é empregado o uso de fios na protensão, principalmente
em sistemas que utilizam a pré-tração.

Em sistemas de pós-tração se adota quase que exclusivamente o uso de cordoalhas


com sete fios de 12,7mm de diâmetro. A cordoalha com diâmetro de fios 15,2mm
embora apresente grandes vantagens no que diz respeito ao alongamento dos
cabos, não é muito utilizada.

Em 1974, no Brasil, começou-se a fabricação de aços estabilizados (RB). A partir


de então permitiu-se reduzir de forma significante as perdas de protensão.
Atualmente, no país são produzidos aços RN e RB (o mais usado).

As nomenclaturas dos aços seguem uma lógica como a do exemplo seguinte:

» CP-175 (RN) = aço para execução de concreto protendido com resistência


mínima a ruptura por tração de 175kN/cm² (1750 MPa) e de relaxação
normal.

A resistência a ruptura é expressa como efetiva quando aplicada em fios e


convencional para cordoalhas, visto que nas cordoalhas a distribuição de tensão
não ocorre de forma uniforme.

Um fator de fundamental importância no dimensionamento de estruturas de


protensão é a corrosão. Esse fator deve ser verificado em virtude de os fios de
protensão terem diâmetros extremamente pequenos e, quando submetidos a
elevadas tensões, tornam-se mais suscetíveis a corrosão.

Em uma analogia, um determinado grau de corrosão que em concretos armados


não causaria sérios danos à estrutura, no concreto protendido pode levar ao
colapso da estrutura. A stress corrosion, também chamada de corrosão catódica
sob tensão, é mais perigosas que as corrosões ordinárias.

Em virtude da alta fragilidade dos aços de protensão à corrosão, eles devem sofrer
tratamento contra esse desgaste ainda na fábrica. Os cuidados se estendem do
armazenamento até o uso final, na obra, devendo ficar armazenados em locais
protegidos e sem contato com meios agressivos. Outro importante trabalho é o de
evitar que os aços entrem em contato com o solo, pois ele contém ácido húmico.

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Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

Os tubos no qual a armadura ativa é colocada para deslizar sem a ação do atrito
são chamadas de bainhas. As bainhas são utilizadas em casos de protensão com
aderência posterior. De forma geral, as bainhas são produzidas com chapas de
aço laminadas a frio em espessuras que variam de 0,1 a 0,35mm.

Durante o processo de fabricação das bainhas, elas são costuradas em forma de


hélice e com ondulações transversais. Essas ondulações são postas para conferir
maior rigidez às bainhas sem que ocorra a diminuição da flexibilidade longitudinal,
permitindo que ocorram curvaturas com maiores raios. Outra vantagem das
ondulações nas bainhas é que elas facilitam o uso de luvas rosqueadas nas
emendas e melhoram a aderência entre o concreto e a nata de injeção.

Com o intuito de se facilitar a entrada na injeção de calda de cimento dentro


das bainhas, são postos tubos de entrada de ar em pontos estratégicos, também
chamados de respiros.

Essa nata de cimento tem como principal função proporcionar a correta aderência
da armadura ativa da protensão com o concreto e a proteção da armadura ativa
contra a corrosão. A calda de cimento é um aliado fundamental na execução de
sistemas de protensão com aderência posterior.

Dentre as propriedades que esta nata ou calda de cimento deve ter, destacam-se
as seguintes exigências:

» A contração volumétrica deve ser inferior a 2%.

» Deve ter boa característica de fluidez, mantendo-se assim até a conclusão


do procedimento de injeção da nata.

» Resistência a compressão aos sete dias de 20MPa e aos 28 dias de 30Mpa.

» No caso de congelamento, a calda não deve sofrer variação volumétrica.

É permitido o uso de aditivos para a garantia da boa fluidez da nata no processo


de injeção, desde que observadas as exigências em norma, expostas mais adiante
neste mesmo capítulo. Como a corrosão deve ser evitada, nem o cimento, nem
os aditivos devem conter cloro.

Devem ser usados aproximadamente 36 a 44kg de água para cada 100kg de


cimento, o que resulta em valores de a/c de 0,36 a 0,44. Para critérios de
cobrimento de armadura, os conceitos do concreto armado valem também para
o concreto protendido.

25
UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

No concreto protendo, a armadura de protensão deve seguir todas as recomendações


em norma. Ela deve ser armazenada de forma correta, com o intuito de se prevenir
a ocorrência de corrosão.

Armadura passiva, concreto, agregado e água devem seguir o exposto na NBR


6118 (ABNT, 2014). O uso de aditivos deve ser usado somente para a melhora
da trabalhabilidade, para reduzir a relação de água/cimento, ou ainda para
aumentar a compacidade de impermeabilidade do concreto.

O cobrimento da armadura de protensão é demonstrado no quadro 1. Nos casos


de uso de bainhas, este valor refere-se ao cobrimento das bainhas.

Quadro 1. Cobrimento mínimo da armadura de proteção.

Ambiente não agressivo 3cm


Valores básicos para peças estruturais no geral Ambiente pouco agressivo 4cm
Ambiente muito agressivo 5cm
Lajes e cascas 0,5cm
Reduções permitidas em relação aos valores
Concreto com fck maior 30MPa 0,5cm
básicos
Pré-fabricação em usina 0,5cm
Agregado com dg menor que 3,2cm dg
Agregado com dg maior que 3,2cm dg + 0,5cm
Casos de pós-tração com Φext menor que 4cm Φext
Valores mínimos absolutos
Casos de pós-tração com Φext maior que 4cm 4cm

Casos de pré-tração
2 cm
Fonte: Veríssimo, 1998.

2. Propriedades reológicas do concreto (fluência e


retração)
As deformações em concretos são ocasionadas principalmente pela ação da fluência
e retração do material; assim, é de fundamental importância o seu estudo no
concreto protendido. A retração em concreto é configurada pela diminuição do
seu volume, e sua causa principal é a perda da água pelo processo de evaporação
durante o período de cura.

A fluência é a deformação do concreto durante a vida útil, causada pelas tensões


de compressão mantidas ao longo do tempo. A retração juntamente com a
fluência causam aumento das deformações axiais e da curvatura dos elementos
de concreto protendido e armado. Esses aumentos causam os deslocamentos
significativos das flechas e perda da força de protensão.

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Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

A deformação inicial é causada pela retração, que tem seu processo iniciado
logo após o lançamento do concreto nas formas, e essa deformação continua a
aumentar com o passar do tempo a uma taxa decrescente. No momento em que a
tensão de compressão é aplicada no concreto, ocorrem as chamadas deformações
imediatas, seguidas pelo seu aumento gradual em virtude da fluência.

As deformações podem ser consideradas de forma independente e determinadas de


formas separadas, o que não é correto, mas aceitável, e quando combinadas, podem
se obter as deformações totais. As deformações ocasionadas pela temperatura,
no processo de determinação das deformações totais é considerada constante.

Para a determinação das deformações totais do concreto não fissurado e carregado


axialmente, são somadas as deformações ocasionadas por retração, fluência e
temperatura. Ressalta-se que o comportamento da estrutura de concreto quanto
às deformações depende do tempo, da história e de como as tensões foram
aplicadas. Também devem-se considerar materiais, propriedades e métodos
construtivos.

A fluência e a retração são impedidas pelos apoios e pelas armaduras existentes


nas peças de concreto. Logo, as armaduras e apoios modificam a história das
tensões aplicadas. Sabemos que se as tensões iniciais forem cessadas em curto
período de tempo, a deformação elástica imediata é recuperada de forma rápida.

Em deformações ocasionadas pela fluência no momento em que o carregamento é


cessado por um período de tempo, uma parte é gradualmente recuperada, sendo
outra parte não recuperável. A fluência é cessada com o passar dos anos, sendo
expressa como fluência no infinito após um período 30 anos, ou no tempo de
vida útil da estrutura.

As deformações imediatas, como já citado, dependem da intensidade da tensão


de compressão aplicada, da taxa de aplicação, da idade do concreto e da relação
tensão versus deformação imediata do concreto. Em estruturas de concreto, a
tensão de compressão causada pelo carregamento atuante nas estruturas em
serviço, em geral, não excedem metade da resistência à compressão do concreto.

Em projetos comuns, nas tensões de tração, embora as deformações imediatas


ocorram antes das fissuras se iniciarem, o comportamento do concreto é

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UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

considerado de forma elástica e frágil. Já para tensões de tração menores que


a resistência do concreto, a relação entre a deformação imediata e a tensão de
tração podem ser assumidas como lineares.

Comumente, se assume que o módulo de elasticidade do concreto submetido a


tração é igual ao modulo para a compressão, e a pré-fissuração à deformação
imediata à tração pode ser também determinada pela tensão de tração dividida
pelo módulo de elasticidade.

Como já mencionado nos parágrafos anteriores, a retração é uma deformação


que ocorre de forma natural nos concretos, mesmo sem a aplicação de tensões
externas. A fluência, por sua vez, é uma deformação que ocorre em virtude da
aplicação de tensões externas.

A ocorrência da fluência depende de vários fatores além do tempo, como, por


exemplo: umidade relativa do ar, traço, tipo dos agregados, dimensões e formas
das estruturas, idade do concreto na aplicação da carga, entre outros. Como a
retração, a fluência pode ser amenizada com o uso de armadura complementar.

A fluência é definida como o aumento da deformação de encurtamento do


concreto ao longo dos anos, quando ele é submetido às tensões de compressão
de maneira constante e permanente. É imprescindível, no concreto protendido,
o estudo das flechas, pois a protensão aplica tensões de compressão no concreto,
as quais acabam ocasionando fluência e redução do alongamento das armaduras
ativas, logo, perda da força de protensão.

A soma da deformação imediata (εci) com a deformação por fluência (εcc)


causada pela tensão σco, mantida constante e aplicada inicialmente na idade
t o, é dada por:

ε ci
(t) + ε cc
(t; to) = (σ co / (E c(t o)[1+ ϕ(t; to)] = s co / E c,ef(t; to

(Equação 1)

Onde Ec,ef (t;to) é o módulo de elasticidade efetivo do concreto, dado por:

(Equação 2)

Se a tensão σ co , durante um certo tempo, for aplicada de forma gradual, a


deformação por fluência tende a reduzir, visto que o concreto envelhece durante
esse tempo, e isso requer um ajuste no coeficiente de fluência (ϕ), de modo

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Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

que, para um incremento de tensão Δσ c(t) aplicada ao concreto gradualmente,


iniciado no tempo t o, a deformação dependente da carga pode ser determinada:

ε ci
(t) + ε cc
(t; to) = (� σc (t) / E C (t 0)) [1 + χ(t; to) ϕ(t; to)] =∆σc (t) / ε c,ef
(t;to)

(Equação 3)

O módulo de elasticidade efetivo do concreto, ajustando à idade é:

E c,ef
(t; to) = Ec (t o) / 1 + χ(t; to) ϕ(t; to)

(Equação 4)

O χ(t;t o) é o coeficiente de envelhecimento e varia conforme a taxa de aplicação


da tensão é aplicada de forma gradual e a idade de cura da primeira aplicação
da força de protensão varia de 0,4 a 1,0. Em estruturas que estão expostas a
cargas constantes no decorrer de sua vida útil, ocorrem mudanças de tensões
aplicadas no concreto, ocasionadas pela restrição que as armaduras aderentes ao
concreto impõem à retração e à fluência; o coeficiente de envelhecimento pode ser
aproximado para χ(t k;t o) = 0,65, quando o tempo t k excede 100 dias, de modo que
vale também para o tempo t = ∞. E em situações em que a deformação é mantida
constante e a tensão no concreto é relaxada, o coeficiente de envelhecimento
final pode ser tomado como χ(t ∞;t o) = 0,80.

As deformações de volume do concreto ocasionadas por carregamento e por


forças de natureza geram fissuras no concreto. Conforme o estado da fissura e o
ambiente a que a peça de concreto estará exposta, essas fissuras poderão prejudicar
a durabilidade e a estética da estrutura. As principais causas de deformações em
concreto é retração, fluência e adicionais causados pelos esforços solicitantes.

A retração é definida como a diminuição do volume do concreto com o passar


do tempo. As causas da retração podem ser variadas, sendo a principal causa a
retração por secagem.

Para que os concretos apresentem a trabalhabilidade requerida, é necessária uma


boa quantidade de água em sua composição. A retração por secagem acontece
quando a água que utilizada na hidratação do cimento evapora com o passar
do tempo, ocasionando a diminuição do volume da estrutura. Ressalta-se que
a retração ocorre mesmo sem a presença de cargas atuantes, ou seja, é um
fenômeno natural do material.

29
UNIDADE I | Conceitos básicos e materiais

No momento em que a estrutura se encurta pelo processo de retração, a armadura


ativa sofre o mesmo efeito, que isso acaba ocasionando a perda de protensão.
A retração é influenciada por alguns fatores, como relação de água-cimento,
umidade, temperatura do ambiente, traço, tipo dos agregados e do cimento,
dimensões e forma das peças estruturais.

A retração pode ser diminuída com uma cura cuidadosa e rigorosa, pelo menos
nos sete primeiros dias de idade, pós a concretagem da estrutura. A armadura
de pele é uma aliada no processo de diminuição da retração.

Em estruturas menores e de espessura menor, o processo de retração do concreto


é considerado concluído nos primeiros quatro anos de idade. Quando utilizado
o processo de cura úmida, metade da retração ocorre nos primeiros meses, e
90% no primeiro ano.

A deformação por retração máxima (ou última) assume valores médios de 8x10-
4 para cura úmida e 7,3x10-4 para cura térmica a vapor, com umidade relativa
de 40% (U). Alguns autores sugerem nesses tipos de cura, respectivamente, os
valores de 6x10-4 e 4x10-4 para os concretos comumente aplicados nas peças
protendidas.

Em algumas peças de concreto armado, ocorre o carregamento dinâmico durante


toda a vida útil da estrutura. Em virtude disso, ocorre a fadiga do material. A
ocorrência da fadiga dos materiais é definida como a consequência de ciclos de
cargas repetitivos.

Nas peças protendidas pré-moldadas, em sua maioria se utiliza para a moldagem


das estruturas o cimento CP V ARI (alta resistência inicial). Essa escolha visa
possibilitar a aplicação da força de protensão na peça em menor período de
tempo após a concretagem, pois, segundo algumas pesquisas, o cimento ARI
proporciona em 24 horas a resistência em torno de 50% daquela normalmente
adquirida em 28 dias de cura, e cerca de 80% em três dias de idade. Por causa
disso, a cura térmica a vapor é um processo de cura muito utilizado na fabricação
dos pré-moldados, para a produção de maior quantidade de peças.

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Conceitos básicos e materiais | UNIDADE I

O concreto autoadensável vem se destacando cada vez mais, e é muito aplicado nas
fábricas de pré-moldados, por causa das várias vantagens que proporciona, como
maior rapidez na confecção da peça (o concreto se adensa de forma mais prática,
preenchendo toda a forma), diminuição da mão de obra e melhor qualidade.

Em peças de concreto protendido pré-moldadas, o processo de cura do concreto


deve ser extremamente cuidadoso. Isso resulta na garantia da qualidade dos
concretos, visto que o sistema de protensão requer resistência superior.

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REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118 – Projeto de estruturas de


concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7482 – Fios de aço para estruturas
de concreto protendido. Rio de Janeiro: ABNT, 2020.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7483 – Cordoalhas de aço para
estruturas de concreto protendido. Rio de Janeiro: ABNT, 2020.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8681 – Ações e segurança nas estruturas
– Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.

BASTOS, P. S. S. Flexão Normal Simples: Vigas. São Paulo, 2019.

CEB-FIP. Código Modelo do CEB/FIP. Título original CEB-FIP Model Code 1990. [Londres]:
[s.n], 1990.

CHOLFE, L. Concreto protendido: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2018.

EMERICK, A. A. Projeto e execução de lajes protendidas. Brasília, 2002.

KOERICH, R. B. Estudo de estruturas protendidas hiperestáticas com a representação


da protensão por carregamentos equivalentes. Florianópolis, 2004.

VERISSÍMO, G. S. Concreto protendido – fundamentos básicos. Viçosa, 1998.

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