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Artigo original / Original Artice

Condição de envio dos modelos de trabalho e comunicação entre


Cirurgiões-Dentistas e Técnicos em Prótese Dentária do
município de Aracaju-Sergipe na confecção de prótese fixa
metalocerâmica.
Transportation Conditions of Work Models and
communication between Surgeon-Dentists and Techni-
cians in Dental Prothesis of the city of Aracaju-Sergipe in
the making of metallo-ceramics fixed prosthesis.
Rosemília Milet Passos Machado1, José Rogério Vieira De Almeida2, Fábio Martins3, Cyntia Ferreira Ribeiro1, Herika Kris Tirzah
Cruz Lima4
1
Professora do Curso de Especialização em Prótese Dentária da FUNORTE/SE;
2
Professor Adjunto da Disciplina – Prótese Fixa – Departamento de Prótese Dentária Universidade Federal de Sergipe – SE/Brasil
3
Professor Adjunto da Disciplina – Prótese Parcial Removível – Departamento de Prótese Dentária Universidade Federal de
Sergipe – SE/Brasil;
4
Acadêmica do curso de Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Sergipe.

DESCRITORES: RESUMO

Laboratório; Prótese Parcial Fixa; Comuni- O presente trabalho objetivou avaliar a condição de envio dos modelos de trabalho e a comunicação
cação; Relações Interprofissionais. entre Cirurgiões-Dentistas e Técnicos em Prótese Dentária na confecção de prótese fixa metaloce-
râmica no município de Aracaju/SE. Para tal, foi realizada uma pesquisa de campo por meio de um
questionário com os Técnicos em Prótese Dentária cadastrados no Conselho Regional de Odontolo-
gia - Secção Sergipe, atuantes no município de Aracaju. Responderam a este 12 técnicos que realizam
prótese metalocerâmica rotineiramente, em seus laboratórios. Com base nos dados coletados, 75%
dos entrevistados afirmaram receber os trabalhos protéticos já em modelos, sendo 100% desses mo-
delos vazados com gesso tipo especial. Metade dos entrevistados respondeu receber menos de 50%
dos modelos articulados, e 84% responderam receber menos de 10% dos trabalhos com os dentes
pilares troquelizados. Entretanto, em relação à comunicação escrita entre o Cirurgião-Dentista e o
Técnico em Prótese Dentária, observou-se que a maioria das prescrições enviadas ao laboratório não
obtinham informações necessárias para a realização da prótese, necessitando frequentemente o Téc-
nico de contatar com o Cirurgião-Dentista. Observou-se que as condições dos modelos de trabalho 257
e a comunicação entre Cirurgiões-Dentistas e o Técnico em Prótese Dentária ainda se encontram
deficientes.
Keywords: Abstract

laboratory; denture partial fixed; communi- The current work has the goal of assessing the condition of the work models’ transportation and the com-
cation; interprofessional relationship munication between Surgeon-Dentists and Technicians in Dental Prosthesis, in the making of metallo-ce-
ramics fixed prosthesis in Aracaju-SE. A field research was performed through a questionnaire with the Te-
chnicians in Dental Prosthesis registered at the Dentrist Regional Council – Secction Sergipe, operating in
Aracaju city. Twelve technicians who used to perform metallo-ceramics in their laboratories answered to
this questionnaire. Based on collected data base, 75% of the interviewed ones affirmed that are receiving
prosthesis works already in models, being 100% of theses models casted with this special kind of gypsum.
Half of the interviewed ones answered that are receiving less of 50% of the articulated models and 84%
answered that are receiving less than 10% of the works with troquelized pillar teeth. As far as the written
communication is concerned between the Surgeon-Dentist and the Technician in Dental Prosthesis, it was
observed that most of the prescriptions sent to the laboratory did not have the necessary information for
doing the prosthesis. Therefore, the technician often needed to contact the Surgeon-Dentist. However, it
was observed that the conditions of the work models and the communication between Surgeon-Dentists
and the Technician in Dental Prosthesis are somehow deficient.

Endereço para correspondência


Rosemilia Milet Passos Machado
Rua Cedro 82 /1201 - São José - Arcaju - SE - CEP: 49015-150
Fone: (79) 9134-1774 / 3271-7386
Email: milet1@hotmail.com

INTRODUÇÃO rá ser estreita e harmônica, para que se obtenha sucesso


A comunicação eficiente é o segredo do sucesso no trabalho final3,4 .
do trabalho em equipe1,2. No caso da prótese dentária, Com a evolução das técnicas e dos materiais odon-
a qualidade final do trabalho protético está diretamente tológicos, a substituição de dentes ausentes tem se
relacionada à fase clínica, de responsabilidade do Cirur- tornado cada vez mais fácil, e, com isso, as reabilitações
gião-Dentista (CD), e à fase laboratorial, desenvolvida orais por meio de próteses estão mais acessíveis à po-
pelo Técnico em Prótese Dentária (TPD). Com isso, a co- pulação5.
municação existente entre esses dois profissionais deve- Devido à conveniência e às vantagens psicológicas

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e sociais, os indivíduos estão preferindo próteses fixas a promovendo-se algumas modificações devido à dificul-
removíveis, e o sucesso ou fracasso desse tipo de reabi- dade em encontrar questionários com perguntas que se
litação é fortemente influenciado por fatores biológicos adequasse à confecção de prótese fixa metalocerâmica.
e técnicos que devem ser considerados ainda no plane- Compunha-se de 03 partes, sendo elas: dados referentes
jamento1. Apesar do grau de aprimoramento das ligas ao laboratório; forma de comunicação para a realização
metálicas e das cerâmicas, a longevidade dos trabalhos dos trabalhos de prótese fixa metalocerâmica e forma de
protéticos ainda é motivo de grande preocupação tanto recebimento dos modelos (Protocolo de pesquisa).
por parte do CD quanto do indivíduo6,7,8. Para seleção dos participantes da pesquisa, foi ana-
Entretanto, a longevidade das próteses fixas de- lisada a lista15 dos TPD inscritos no CRO-SE (n=50). Após
pende de muitos fatores que vão desde a sua confecção análise, verificou-se que 06 TPD residiam no interior, e
até o cuidado com que o indivíduo a preserva, tais como: isso não era o alvo da pesquisa; 03 encontravam-se can-
correto planejamento da infraestrutura metálica; quali- celados; 02 falecidos; 02 transferidos para outro estado;
dade da liga metálica utilizada; compatibilidade entre a 07 mudaram de endereço e não foram encontrados;
cerâmica e a liga metálica escolhida; integridade estru- 02 não responderam o questionário; 16 não trabalham
tural; estado biológico dos dentes pilares e tecidos pe- confeccionando prótese fixa metalocerâmica. Respon-
riodontais; grau de carga funcional e/ou parafuncional deram ao questionário 12 TPD que realizam trabalhos
exercida sobre as restaurações; manutenção apropriada; protéticos metalocerâmicos rotineiramente, em seus la-
controle de biofilme realizado pelo indivíduo bem como boratórios. O nome de cada entrevistado bem como do
a precisão com a qual o TPD e o CD executam todas as laboratório foi omitido para preservação da identidade.
fases de sua confecção9,10. Convém salientar que, para participar do estudo, todos
O conhecimento a respeito de complicações clíni- os participantes da pesquisa assinaram um Termo de
cas que podem ocorrer em próteses fixas aprimora o CD Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo II) sobre o es-
para elaborar um correto diagnóstico, desenvolver um tudo, que previamente foi submetido ao Comitê de Ética
plano de tratamento mais adequado e oferecer expecta- em Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe sob re-
tivas reais aos indivíduos11, fornecendo um prognóstico gistro N° CAAE – 00016.0.107.000-09.
satisfatório para tais elementos dentários. Para isso, o CD Apenas um entrevistador coletou e fez a análise dos
deve criar mecanismo de boa comunicação tanto com dados. Como a amostra foi composta por 12 TPD, optou-
o indivíduo quanto com o TPD, pois a responsabilidade -se por uma análise com valores percentuais, visto que
sobre o trabalho executado sempre recai sobre o CD, e é não teria nenhum fundamento estatístico a realização
a este que o indivíduo irá reclamar eventuais reparos12. de uma análise por amostragem em função do número
Além disso, o conhecimento das causas que levam reduzido da amostra, sendo, desse modo, desnecessária
ao fracasso das próteses fixas ajudaria o CD a dispor de a realização de qualquer teste estatístico.
meios mais eficazes de tratamento e a prognosticar com
maior segurança. O CD deve ainda estar ciente da lon- Protocolo de pesquisa
gevidade média dos vários tipos de próteses e dos ma- CONDIÇÃO DE ENVIO DOS MODELOS DE TRABALHO E
258 teriais mais indicados para a construção e cimentação COMUNICAÇÃO ENTRE CIRURGIÕES-DENTISTAS E TÉCNICOS EM
PRÓTESE DENTÁRIA DO MUNICÍPIO DE ARACAJU/SERGIPE NA
destas13.
CONFECÇÃO DE PRÓTESE FIXA METALOCERÂMICA
A confecção criteriosa de modelos de trabalho bem
como uma correta delimitação do término do preparo LABORATÓRIO Nº ___
pelos CD é outro fator determinante para a correta adap- PARTE 01 – LABORATÓRIO
tação da futura prótese. Aliado a isso, deve existir entre o 1 - TEMPO DE EXPERIÊNCIA:
CD e o TPD um bom relacionamento, boa comunicação, ( ) MENOS DE 1 ANO ( ) ENTRE 1 E 5 ANOS
organização e métodos auxiliares, como: modelos de ( ) ENTRE 5 E 10 ANOS ( ) MAIS DE 10 ANOS
gesso bem confeccionados e demarcados, fichas (con- 2 – NÚMERO DE CIRURGIÕES-DENTISTAS COM QUE TRA-
tendo materiais, ligas, cores dos dentes, observações BALHA:
( ) MENOS DE 15 ( ) ENTRE 16 E 30
clínicas), desenhos, o acompanhamento do clínico nas
( ) ENTRE 31 E 45 ( ) MAIS DE 45
etapas laboratoriais e vice-versa para que o trabalho re- 3 – VÍNCULO COM ENTIDADE DE ENSINO:
abilitador com prótese fixa metalocerâmica possua lon- ( ) SIM ( ) NÃO
gevidade clínica13,14. 4 – NÚMERO DE PEÇAS PROTÉTICAS PRODUZIDAS MEN-
O objetivo desta pesquisa foi o de avaliar, por meio SALMENTE:
de um questionário, a condição de envio dos modelos ( ) MENOS DE 20 ( ) ENTRE 21 E 40
de trabalho e a comunicação entre CD e TPD do muni- ( ) ENTRE 41 E 60 ( ) MAIS DE 60
cípio de Aracaju/Sergipe para confecção de prótese fixa 5 ¬– NÚMERO DE PRÓTESES FIXAS METALOCERÂMICAS
metalocerâmica. PRODUZIDAS MENSALMENTE:
( ) MENOS DE 15 ( ) ENTRE 16 E 30
( ) ENTRE 31 E 45 ( ) MAIS DE 45
METODOLOGIA 6- TEMPO DE CONFECÇÃO DE UMA PRÓTESE FIXA META-
Para a realização deste estudo, inicialmente, fez- LOCERÂMICA A PARTIR DO MODELO DE TRABALHO:
-se uma revisão de literatura acerca da importância da ( ) MENOS DE 5 DIAS ( ) DE 5 A 8 DIAS ( ) MAIS DE 8
comunicação entre CD e TPD. Em seguida, foi feita uma DIAS
pesquisa de campo por meio da aplicação de um ques-
PARTE 02 – FORMA DE COMUNICAÇÃO
tionário composto por perguntas de múltipla escolha, 1 – COMO RECEBE A SOLICITAÇÃO DO TRABALHO? (EM
com os TPD cadastrados no Conselho Regional de Odon- PORCENTAGEM/NÚMEROS APROXIMADOS)
tologia - Secção Sergipe (CRO-SE), atuantes no município ( ) AINDA EM MOLDE ( ) MODELO
de Aracaju. 2 – SE AINDA EM MOLDE, QUAL O MATERIAL?
Esse questionário foi formulado a partir de uma 3- E, EM QUANTO TEMPO APÓS CHEGAR AO LABORATÓ-
pesquisa nos centros de dados da Bireme e PubMed, RIO, É REALIZADO O VAZAMENTO DO MODELO?

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4 – SE MODELO, QUAL TIPO DE GESSO? (EM PORCENTA- trevistados responderam recusar alguns modelos. Os
GEM/NÚMEROS APROXIMADOS) principais motivos da recusa se referiam a problemas na
( ) COMUM/PARIS ( ) PEDRA ( ) ESPECIAL nitidez do preparo (58%) e modelos apresentando bo-
5 – VEM COM ANTAGONISTA? (EM PORCENTAGEM/NÚME- lhas (42%).
ROS APROXIMADOS)
Ao analisar a forma de recebimento dos modelos,
( ) SIM ( ) NÃO
6 – RECUSA ALGUM MODELO? somente 8.5% dos entrevistados responderam sempre
( ) SIM ( ) NÃO MOTIVO: receber os modelos articulados, sendo estes montados
7 – FAZ DESINFECÇÃO DOS MODELOS? em articulador semiajustável (86%). Quando foi avaliado,
( ) SIM, SEMPRE ( ) SIM, ALGUNS CASOS ( ) NUNCA se estes modelos estavam montados em moldeira espe-
8 – CASO AFIRMATIVO, QUAL SUBSTÂNCIA UTILIZA? cial para troquelização, foi observado que 72% dos TPD
( ) HIPOCLORITO DE SÓDIO ( ) ÁLCOOL 70% recebem menos de 50% dos seus trabalhos montados
( ) ÁLCOOL 96% ( ) CLOREXIDINA ( ) GLUTARAL- em tais moldeiras (Gráfico 1).
DEÍDO
( ) OUTROS Gráfico 1
9- QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE AS PRESCRIÇÕES DE PRÓ-
Recebe modelos em moldeira especial para troquelização
TESE FIXA METALOCERÂMICA ENVIADAS PELOS CIRURGIÕES-
-DENTISTAS AO SEU LABORATÓRIO?
100
( ) COMPLETAS PARA PROPORCIONAREM INFORMA- 90 72
80
ÇÕES PARA VOCÊ REALIZAR O MELHOR SERVIÇO. 70
60
( ) CONTÊM SOMENTE UM MÍNIMO DE INFORMAÇÕES 50

Porcentagem (%)
28
PARA A REALIZAÇÃO DO TRABALHO. 40
30
( ) FREQUENTEMENTE VOCÊ TEM DE CONTATAR O CIRUR- 20 0 0
10
GIÃO-DENTISTA A FIM DE OBTER AS INFORMAÇÕES NECESSÁ- 0

RIAS PARA A REALIZAÇÃO DA PRÓTESE.


( ) NÃO SÃO ENVIADAS DE FORMA APROPRIADA.
( ) OUTRAS

PARTE 03 – FORMA DE RECEBIMENTO DOS MODELOS Durante a avaliação dos dentes pilares nos mode-
1 – RECEBE OS MODELOS ARTICULADOS? (EM PORCENTA- los, somente 25% dos entrevistados responderam que
GEM/NÚMERO APROXIMADO) observavam em mais de 50% dos trabalhos recebidos
( ) SEMPRE ( ) MAIS DE 50% ( ) MENOS DE 50% cópia inadequada do término (Gráfico 2); 84% dos entre-
( ) NUNCA vistados afirmaram receber menos de 10% dos trabalhos
2 – SE AFIRMATIVO, QUAL TIPO DE ARTICULADOR? com os dentes pilares troquelizados (Gráfico 3), e 67%
( ) NÃO AJUSTÁVEL ( ) SEMIAJUSTÁVEL ( ) TOTALMEN-
nunca receberam o troquel com o super bonder aplica-
TE AJUSTÁVEL
3 – SE AFIRMATIVO, RECEBE O MODELO MONTADO EM do no dente preparado (Gráfico 4).
MOLDEIRA ESPECIAL PARA TROQUELIZAÇÃO? Gráfico 2
( ) SEMPRE ( ) MAIS DE 50% ( ) MENOS DE 50%
( ) NUNCA
Términos não copiados adequadamente
259
4 – DOS MODELOS QUE VOCÊ RECEBE PARA A CONFEC- 100
90
ÇÃO DA ESTRUTURA METÁLICA DA PRÓTESE FIXA METALOCERÂ-
80 67
MICA, QUAL A PORCENTAGEM DE CASOS QUE APRESENTAM OS 70
DENTES PILARES TROQUELIZADOS? 60
Porcentagem (%)

50
( ) MENOS DO QUE 10%
40 25
( ) DE 10 A 24% 30
8
( ) DE 25 A 49% 20
0
10
( ) DE 50 A 74% 0
( ) DE 75 A 100%
5 – O CIRURGIÃO-DENTISTA ENVIA O TROQUEL COM O
SUPER-BOND APLICADO NO DENTE PREPARADO?
Gráfico 3
( ) SIM, SEMPRE ( ) SIM, ALGUNS CASOS ( ) NUNCA
Porcentagem de dentes pilares troquelizados
6 – OBSERVA QUE ALGUNS TÉRMINOS NÃO FORAM COPIA-
DOS ADEQUADAMENTE?
100 84
( ) SEMPRE ( ) MAIS DE 50% ( ) MENOS DE 50%
80
( ) NUNCA
7– DAS INFRAESTRUTURAS METÁLICAS PARA PRÓTESE 60
Porcentagem (%)

FIXA METALOCERÂMICA QUE VOCÊ CONFECCIONA, QUAL A 40


PORCENTAGEM QUE DEVE SER REFEITA, PORQUE O CIRURGIÃO- 20
8 8
0 0
-DENTISTA RELATA QUE A ESTRUTURA NÃO ADAPTA BEM?
0
( ) MENOS DE 5% ( ) DE 5 A 10% ( ) DE 11 A 20% Menos De 10 a De 25 a De 50 a De 75 a
( ) MAIS DE 20% de 10 % 24% 49% 74% 100%

RESULTADOS Gráfico 4
Após a aplicação do questionário, os dados foram Recebe o troquel com super bonder
organizados e avaliados por meio de análise descritiva
bem como representados em gráficos.
100
Com base nos dados coletados, 75% dos TPD afir- 90 67
Porcentagem (%)

80
maram receber os trabalhos protéticos já em modelos, 70
60 33
sendo 100% desses modelos vazados com gesso pedra 50
40
tipo especial e todos acompanhados com seus respecti- 30 0
20
vos antagonistas. 10
0
Com relação à recusa dos modelos, todos os en- Sim, sempre Sim, alguns casos Nunca

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Quando foi questionado a respeito da comunica- sucesso no tratamento protético.


ção escrita entre o CD e o TPD, observou-se que a maioria O primeiro fator a ser observado de acordo com Lo-
das prescrições (59%) enviadas pelos CD ao laboratório pes et al.19, Pegoraro20, Rodríguez et al.21 e Rosenstiel et
não obtinha informações necessárias para a realização al.22 é o preparo dentário. Este deve obedecer aos princí-
da prótese, necessitando frequentemente o laboratório pios mecânicos, biológicos e estéticos e apresentar uma
contatar com o CD para obter melhores informações, en- linha de terminação nítida, uniforme e contínua. Como
quanto que somente 8% recebiam todas as informações se pôde perceber, 25% dos entrevistados desta pesquisa
necessárias para a confecção da prótese fixa metalocerâ- afirmaram observar que alguns términos não foram co-
mica (Gráfico 5). piados adequadamente em mais de 50% dos trabalhos
Já com relação à repetição da infraestrutura metá- que adentraram em seus laboratórios. Isso faz com que
lica solicitada pelo CD devido à não adaptação correta as etapas subsequentes não possam ser realizadas de
da estrutura, 59% dos TPD responderam que só repetem forma adequada.
menos de 5% dos seus trabalhos (Gráfico 6). Além disso, segundo Neto e Matson23 e Jenkins et
al.24, o material de moldagem e o gesso utilizado é outro
Gráfico 5
fator importante durante a confecção de restaurações
Prescrições de próteses fixas enviadas pelos CD protéticas. Foi encontrado na referida pesquisa que os
CD do município de Aracaju utilizam o gesso pedra es-
100 pecial no vazamento de seus moldes, pois o questioná-
90
Porcentagem (%)

80 59
70 rio revelou que os TPD recebem 100% dos modelos em
60
50 25 gesso pedra especial para confeccionar as próteses fixas
40
30 8 8 metalocerâmicas.
20
10 A confecção criteriosa de modelos de trabalho bem
0
Completas Mínimo de Contactar Não enviadas como uma correta delimitação dos términos pelos CD é
informação com o CD um fator determinante para o sucesso do tratamento
protético. Aliado a isso, Gouvêa et al.3, Jenkins et al.24, Ri-
Gráfico 6
beiro et al.25 e Rosenstiel et al.22 afirmaram existir uma
Porcentagem de infra-estrutura refeita pelos TPD
boa comunicação entre o CD e o TPD, para que o traba-
100
lho reabilitador com prótese fixa metalocerâmica possua
90 longevidade clínica.
80
70 59 Em relação aos modelos de trabalho, Rodríguez et
60 al.21 relatam ser comum os laboratórios de prótese rece-
Porcentagem (%)

50 34
40
ber dos CD apenas o molde do preparo protético, para
30 que os modelos sejam vazados, e as próteses, planejadas
20 7
10 0 pelos próprios TPD. Contudo na referida pesquisa, 25%
0 dos entrevistados responderam receber os trabalhos ain-
260 Menos de 5% De 5 a 10% De 11 a 20% Mais de 20%
da em molde.
Se os dentes estiverem adequadamente prepara-
dos, e a moldagem for precisa, as margens do preparo
devem estar nítidas, o que torna o procedimento de
DISCUSSÃO troquelização mais fácil para o CD. Esse tipo de procedi-
Para que uma prótese fixa de boa qualidade seja
mento deve ser realizado sempre pelo CD, contudo 84%
confeccionada, todos os membros da equipe odonto-
dos entrevistados responderam que menos de 10% dos
lógica devem compreender o que precisam esperar uns
trabalhos vem troquelizados. Isso confirma os achados
dos outros. Geralmente ambos trabalham separadamen-
do trabalho de Jenkins et al.24 em que afirmam que o CD
te, quando deveriam estar estreitamente ligados, como
ainda delega essa etapa do procedimento ao TPD.
afirma Lynch et al16.
De acordo com o trabalho de Lopes et al.19, o uso
Uma pesquisa realizada por Aquilino e Taylor17 so-
do cianocrilato (super bonder) sobre o troquel de gesso
bre os laboratórios de prótese fixa revelou que os dentis-
tem a função de alívio, além de aumentar a resistência
tas delegam uma porção significativa desta responsabi-
do gesso, prevenindo a abrasão da superfície do gesso
lidade aos TPD. Isso foi confirmado também no presente
durante as manobras de enceramento e ajuste da infra-
estudo em que 59% dos TPD tinham que contatar com
estrutura metálica ou ainda a fratura dele. No presente
o profissional para obter informações necessárias à rea-
estudo, verificou-se que 67% dos técnicos nunca rece-
lização da prótese. Os resultados deste estudo também
biam os modelos com super bonder aplicado após fina-
foram de encontro com o trabalho referido anteriormen-
lização do troquel.
te no qual os TPD entrevistados geralmente mostravam
Quanto ao uso de articuladores, a precisão da mon-
insatisfação com a qualidade dos trabalhos recebidos. As
tagem é de inteira responsabilidade do CD. Grande parte
queixas incluíam problemas na nitidez do término (58%)
dos CD não realizam montagem dos modelos em articu-
e gesso apresentando bolhas (42%).
lador (Matos et al.6) . Esses achados estão de acordo com
Vários fatores devem ser observados durante a
os resultados encontrados nesta pesquisa. Isso, segundo
confecção das coroas metalocerâmicas. São eles: saú-
Ferencz9 e Murphy4 e Lovadino26, compromete muito o
de gengival, preparo do dente, seleção do material de
trabalho, pois podem ocorrer implicações na execução
moldagem, correto vazamento do gesso para evitar
laboratorial e interferências no número e tipos de ajustes
aparecimento de bolhas, montagem destes em articula-
clínicos e na qualidade final das restaurações elaboradas.
dor semiajustável, confecção do troquel, delimitação da
O papel desempenhado pelo TPD é de fundamen-
margem cervical, dentre outros. Seguindo devidamente
tal importância para o bom êxito do tratamento reabili-
todos os passos, Ramos e Miranda18 afirmam que será fá-
tador. Para Matos et al.6 e Zavanelli et al.13, é imprescin-
cil obter um correto modelo de trabalho bem como um
dível que o CD envie todas as informações necessárias

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ao laboratório, para que assim o TPD possa realizar o ments: A new paradigm in laboratory and specialist com-
trabalho seguindo sempre os dados clínicos emitidos munication and patient care. J Am Dent Assoc. 2006; 137:
pelo profissional. Dessa forma, é evidente que o bom 1164-1167.
relacionamento entre ambas as partes influencia dema- 5. Pineli LAP, Mara J, Fais LMG, Silva RHBT, Guaglianoni
siadamente a qualidade do trabalho protético (Rodrí- DG. Análise da condição de higiene oral de pacientes
guez et al.21). Na presente pesquisa, foi observado que usuários de prótese parcial fixa. Robrac. 2007; 16 (42):
somente 8% dos CD enviam as informações completas, 01-06.
proporcionando, assim, a melhor realização do trabalho. 6. Matos RL, Pagnano VO, Ribeiro RF, Mattos MGC. Avalia-
A maioria (59%) dos entrevistados relata que necessitam ção da interação cirurgião-dentista/técnico no processo
contatar frequentemente com o profissional para obter de confecção de prótese parcial removível. RPG. 2002;
as informações necessárias. Isso também está de acordo 9(1): 63-69.
com o trabalho de Aquilino e Taylor17. Em outros estudos 7. Rhoads B. Dental Laboratory owner’s perspectives:
e opiniões sobre a interação entre estes dois profissio- factors in selection and termination of business rela-
nais, independentemente de serem escritos por TPD ou tionships. Gen Dent. 1994; 42(1): 24-29.
CD, autores, como Lopes et al.19 e Rodríguez et al.21, cha- 8. Schwartz NL, Whitsett LD, Berry TG, Stewart JL Unservi-
mam a atenção, declarando que os melhores resultados ceable crowns and fixed partial dentures: life- and causes
são obtidos apenas quando a comunicação é enfatizada. for loss of serviceability. J. Amer. dent. Ass 1970; 81(6):
Contudo, para Drago27, Jenkins et al.24 e Rhoads7, essa 1395-401.
comunicação evolui, se o CD e o TPD discutem juntos 9. Ferencz JL. Maintaining and enhancing gingival archi-
cada caso em particular, ao invés de se comunicarem por tecture in fixed prosthodontics. J Prosthet Dent. 1991;
meio de uma frase escrita no formulário de autorização 65(5): 650-7.
do trabalho. 10. Preston J. Fouth simposyum on dental ceramics, Chi-
A comunicação entre o laboratório e o profissional cago: Quintessence Co., 1988.
deve ser a melhor pos-sível, de acordo com Chiche28 e 11. Goodacre CJ, Bernal G, Rungcharassaeng K. Clinical
Hochman29 e Walton et al.30 ,visando à melhoria do traba- complications in fixed prosthodontics. J. Prosthet. Dent.
lho final e a um menor desgaste da relação e diminuição 2003; 90(1): 31-41.
de ajustes e repetições. No presente estudo, 59% dos en- 12. Santos CN, Kato MT, Conti PCR. Avaliação das con-
trevistados responderam repetir menos de 5% dos seus dutas adotadas por profissionais na utilização de coroas
trabalhos. metalo-cerâmicas. J Appl Oral Sci. 2003; 11(4).
Diante dos dados encontrados, torna-se imprescin- 13. Zavanelli RA, Hatmann R, Queiroz KV. Verificação do
dível que o conhecimento mútuo de limitações indivi- elo existente entre profissional e laboratório de prótese
duais seja essencial e que o CD que não compreende e dental na confecção de próteses parciais removíveis na
aprecia os desafios enfrentados pelo TPD esteja em séria cidade de Goiânia- GO. PCL. 2004; 6(30): 167-173.
desvantagem, quando prescreve e delega procedimen- 14. Mendelson MR. Effective laboratory communica-
tos ao laboratório e que, com respeito mútuo e esforço tion...it's a two-way street. Dent Today. 2006; 25(7): 96-98.
261
coordenado, cada qual contribui para o tratamento do 15. Disponível em URL: http://www.crose.com.br/consul-
indivíduo e, ao mesmo tempo, mantém a possibilidade taprofissional.asp. Acesso em: 29 04 2009.
mínima de fracasso do tratamento. 16. Lynch CD; McConnell RJ; Allen PF. Trends in indirect
dentistry: 7. Communicating design features for fixed
CONCLUSÃO and removable prostheses. Dent Update. 2005. 32(9):
Por meio deste estudo pode-se concluir que as 502-4, 506, 508-10.
condições dos modelos de trabalho e a comunicação en- 17. Aquilino SA, Taylor TD. Prosthodontic laboratory and
tre Cirurgiões-Dentistas e o Técnico em Prótese Dentária curriculum survey. Part III: fixed prosthodontic laboratory
do município de Aracaju estão deficientes. Dessa forma, survey. J Prosthet Dent. 1984; 52(6): 879-85.
estas questões devem ser discutidas cautelosamente, 18. Ramos JR L, Miranda ME. A importância da saúde
gengival na prótese fixa. http://www.aboe.com.br/traba-
entre ambos, analisando-se os pontos positivos e os ne-
gativos melhorando, assim, o resultado final das próteses lhos/importancia-da-saude.doc.
19. Lopes LAZ, Mezzomo E, Nieckele FAN, Russomanno
fixas metalocerâmicas.
RP. Avaliação da adaptação cervical de casquetes metáli-
cos em função da presença ou não de alívio nos troqueis
AGRADECIMENTOS de gesso. PCL. 2006. 8(40): 186-191.
Agradecemos ao Prof. Samuel de Oliveira Ribeiro 20. Pegoraro LF. Prótese Fixa. 3ª. ed. São Paulo: Artes Mé-
pela colaboração durante a análise dos dados. dicas; 2004.
21. Rodríguez JEC, Yoshida H, Contin I, Mori M, Campos
TN. Precauções na confecção do troquel de gesso pós-
REFERÊNCIAS moldagem com silicone: posicionamento do pino metá-
1. Gleghorn T. Improving communication with the labo- lico. Rev Odont Univ São Paulo. 2006; 18(3): 239-243.
ratory when fabricating porcelain veneers. J Am Dent 22. Rosenstiel SF, Land MF, Fujimoto J. Prótese Fixa Con-
Assoc. 1997; 128(11): 1571-2. temporânea. São Paulo: Editora Santos; 2002.
2. Small BW. Laboratory communication for esthetic suc- 23. Neto AR, Matson E. Contribuição para o estudo da
cess. Gen Dent. 1998; 46(6): 566-74. alteração dimensional de alguns gessos especiais para
3. Gouvêa CVD, Faria MA, Paula LD. Avaliação da relação troquel. Odonto. 1999; 7(16): 35-41.
profissional entre o cirurgião-dentista e o técnico em 24. Jenkins SJ, Lynch CD, Sloan AJ, Gilmour ASM. Quality
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se. Clín-Científ. 2006; 5(3): 215-221. general dental practitioners in Wales. J Oral Rehab. 2009.
4. Murphy MT. Collaborative interdisciplinary agree- 36: 150–156.

Odontol. Clín.-Cient., Recife, 9 (3) 257-262, jul./set., 2010


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CD x TPD: Comunicação e envio dos Modelos
Machado RMP et al.

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Formas e características da infraestrutura metálica das
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nical and radiographic evaluation of fixed partial dentu-
res (FPDs) prepared by dental school students: a retros-
pective study. J Oral Rehabil. 2003; 30(2): 165-70.
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wn and fixed partial denture failures: length of servi-
ce and reasons for replacement. J Prosthet Dent. 1986;
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Recebido para publicação: 26/05/10


Aceito para publicação: 15/07/10

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