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Processamento Auditivo Central: Abordagem Passo a Passo Liliane Desgualdo Pereira A avaliagao do processamento auditivo central deve ser feita apés a avaliacéo audiolégica convencional. Esta avaliagao inicial forneceré informagdes sobre as condigdes de deteccao dos sons pela audiometria tonal liminar, condi- ges de mobilidade do sistema timpano- ossicular com as medidas de imitancia actisti- ca (timpanometria) ¢ verificagdo da presenga do reflexo actistico e em que niveis de intensi- dade — medidas em decibel nivel de audigao (BNA) — este reflexo esta ocorrendo, o que fomece informagées sobre as vias auditivas centrais em relagao ao tronco cerebral. A pes- quisa dos indices percentuais de reconheci- mento de fala (IPRF), realizada com estimulos verbais de alta fidelidade, fornece-nos informa- ges principalmente sobre funcionamento da céclea e do nervo auditivo, ambos estruturas pertencentes ao sistema auditivo perifético. Antes de iniciar a aplicagao dos testes . especiais para avaliagéo do processamento auditivo central, deve-se realizar anamnese composta de perguntas que informem especifi- camente sobre as posssibilidades comporta- mentais de ouvir e compreender a linguagem em ambientes favordveis & comunicagao, sem barulho e sem reverberagao e em ambientes desfavoraveis a comunicagdo, ambientes ba- rulhentos ¢ com reverberago como os encon- trados em um restaurante, recreio escolar, tele- fones instalados em locais piiblicos, entre ou- tros. Além disso, buscamos informagdes sobre a histéria pessoal, desenvolvimento e formas de aprendizagem dos processos de falar, ler, escrever; historia de satide: doengas, como por exemplo otites na infancia, medicamentos utili- Zados. No anexo 1, sao mostradas as pergun- tas utilizadas no Ambulatério da Disciplina dos Distirbios da Audigao da Universidade Fede- ral de Sao Paulo. A sesstio de avaliagao do processamen- to auditivo central deve incluir os testes especi- ais que avaliam as habilidades auditivas de lo- calizagao e de meméria seqiiencial para sons verbais e nao-verbais, conforme descritos em PEREIRA, 1993. E importante registrar 0 nimero de acertos nos itens que compaem essas pro- vas e também observar como a crianga realiza @ prova, se ela teve dificuldade em compreen- der as solicitagdes, se apresentou movimenta- ges excessivas, se pede reforgo do examina- dor como, por exemplo: se a crianca pergunta se acertou ou se olha para o examinador pro- curando um sinal de reforgo. Criangas com esse tipo de comportamento durante 0 exame sdo consideradas como de risco para desordem do processamento auditivo central. Durante todos os testes especiais realizados, devemos anotar a presenga destes achados, que fazer Parte da avaliagdo qualitativa da audigéio. Ou- tros cuidados devem ser tomados ao se reali- Zar os procedimentos que foram descritos como triagem do processamento auditivo cen- tral. No teste de memoria seqtiencial com sons nao-verbai: + verificar se os estimulos apresentados por objetos sonoros tém especiros actisticos diferentes entre sie, ainda, se esto sendo apresentados apenas os sons calibrados preestabelecidos, ou seja, evitar fazer cu- tros baruihos como, por exemplo, o baru- tho de colocar 0 objeto sonoro sobre uma mesa. 50 PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL: manual de avafiaga No teste de localizagao sonora em cinco GiregGes: + uillzar estimulos de espectro de freqdéncia aguda e com nivel de intensidade forte; evi- tar realizar o teste em ambientes barulhen- tos; ao posicionar a fonte sonora considerar se 0 angulo 0° grau azimuth (2 frente) o do 180° graus azimuth (atrés) foram evitados, uma vez que nestas condigées 0 individuo com audi¢ao biaural normal podera respon- der que a fonte sonora esta localizada aci ma de sua cabega, 0 que devera ser consi- derado resposta correta. Quando ocorrer uma resposta indicando que a fonte sonora estava localizada acima da cabeca para as posigées a frente ou atrés, reposicionar a fonte sonora levemente desviada deste eixo, mais ou menos 10°. Lembrar que provavel- mente este individuo tenha uma boa inte- gragao da audig&o e esteja atento as pistas de diferengas de tempo e de fase de chega- da do som, téo importantes na localizagao de sons. Comportamentos como desatengao, di- ficuldade de compreender as solicitagdes, verborréia excessiva podem ser sugestivos de prejuizo das habilidades auditivas de um indi- viduo (MUSIEK, 1989; PEREIRA, 1996). A folha de registro destes testes espe- ciais, localizago sonora em cinco direcdes, me- méria seqiiencial com sons verbais e n&o-ver- bais esta apresentada no anexo 2. Tem-se experiéncia clinica na utilizacdo dos testes especiais ‘predominantemente em sujeitos com acuidade auditiva normal, no en- tanto, 6 possivel realizar estes testes especiais em perdas auditivas neurossensoriais ou con- dutivas desde que: > ograu da perda auditiva varie até modera- do, limiares aéreos tonais de até 40-dBNA; haja uma simetria de acuidade entre as ore- Ihas; e que os indices de reconhecimento de fala obtidos com monossilabos (sem dis- torgéio) sejam de no minimo 70% de acer- tos em cada orelha, ¢ a diferenca entre os resultados para as orelhas direita e esquer- da destes indices ndo sejam superiores a 20%. Os testes especiais descritos neste ma- nual podem ser utilizados em individuos‘a par- tirde 8 anos e meio a 4 anos em diante. Existe uma variagao de falxa etaria inicial para cada teste, de modo geral, a partir de seis anos pode ser feito qualquer um dos testes descritos. Apre- senta-se como sugestéo os seguintes testes para serem selecionados por faixa-etaria: + anos e meio a 4 anos e meio (e também para criangas dificeis de serem avaliadas) — 0 conjunto de testes especiais recomen- dados 6: localizago sonora em cinco dire- 6es, meméria seqiiencial verbal e ndo-ver- bal (utilizando trés objetos barulhentos), re- conhecimento de monossilabos e de frases com figuras (PS!), apresentados em campo livre por meio de alto falante. Utilizar a relagao sinal/ruido + 5 dB (5 dB positivo, ou seja, fala mais forte que 0 ruido branco) para a apresentagdo das palavras e de -10 dB (10 dB negativos, ou seja, fala mais fraca que a mensagem competitiva) para a apresentagao de frases. Na experién- cia clinica adquirida nestes ultimos seis anos, as provas de localizagao e de memé- ria seqiencial apresentaram uma sensibili- dade de 80%, ou seja, comparando os re- sultados destas provas com os de testes es- peciais mais sofisticados (como o PSI), pode- ‘se identificar 80% das criancas de 4 a 6 anos de idade com desordem do processamento auditivo central (DPAC). + 4anosa7 anos de idade—incluir os testes especiais de localizagéo e de meméria se- qlencial verbal e nao-verbal. A partir de seis anos de idade, utilizar quatro objetos sono- TOS (TONIOLO, ROSSI, BORGES & PEREIRA, 1994) para o teste de meméria seqiiencial ndo-ver- bal. Além desses, incluir os testes espetiais: PSI em portugués, utilizando as palavras € as frases em tarefa monética, com mensa- gem competitiva ipsilateral (relagdo.sinal/ru- ido de -10 dB e de -15 dB) e também as frases com mensagem competitiva contra- lateral (relacdo sinal/ruido de—40 dB). Acres- centar uma avaliagao utilizando as palavras deste teste (PSI), agora apresentadas em ta- refa monética, com ruido branco na relagéo sinal/ruido de mais 5 dB. Caso as criancas de5 a6 anos de idade estejam colaborantes, pode-se acrescentar a este conjunto de tes- tes 0 teste dicdtico de dissitabos alternados - SSW, diminuindo a realizacao deste para apenas vinte itens. * 8 anos de idade em diante — sugere-se, conforme é realizado no Ambulatério dos Di tUrbios da Audigao da UNIFESP/EPM, a utili- zagio dos seguintes testes especiais: teste de localizagao sonora e de meméria seqiien- cial verbal ndo-verbal, com quatro objetos (PEREIRA, 1993; TONIOLO, ROSSI, BORGES & PE- REIRA, 1994): teste SSI em portugués, testes de escuta monética ou fala com ruido bran- co ou fala filtrada e testes de escuta dicética PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL: ABORDAGEM PASSO.A PASSO 51 com silabas (consoante/vogal), dissilabas (SSW) e com sons.ndo-verbais. Pode-se es- colher um conjunto de testes que permita avaliar figura-fundo para silabas, palavras e também que possibilite avaliar 0 desempe- nho om escuta direcionada para a orelha direita e esquerda tanto com sons verbais como ndo-verbaii oe Da Localizacdo Sonora e da Meméria Seqiencial Ostesies especiais de localizago sonorae de memé- ‘ia sealiencial, testes didticos e faceis de serem feitos, ‘no nevessitam de equipamentos sofisticados © por- tanto, sao os indicados para serem utizados como ‘riagem do processamento auditive central (PEREIRA, 1999). Este procedimento foi analisado quanto a sua sensibilidade em 150 protocolos de sujeitos do sexo Masculina e feminino, da 6 a 35 anos deidade, atendi- dos no ambulatério dos distiirbios da audigzio da UNIFESP/EPM, no perioda de 1994.a 1995. Os resulta dos destes testes foram comparados com 0 de ou- ‘tos testes especiais utilizados na avaliagao do pro- cessamento ausitive central Uma porcentagem de concordiincia de 52%, ou seja, em 77 sujaitos dos 150 avaliados ocorrou uma concordancia entre normalida- de ov alteragao na triagem e nos outros testes espoci- ais para avaliat oprocessamento auditive central. Por isto, a utilizagio destes procedimentos: localizacdo ‘sonora e meinéria seqiencial para suns verbal ¢ nao- \verbais deve sempre ser feita em sujeitos de qualquer faixa etiria, acima de trés anos de idade. Quanto as espostas corretas esperddias para esses procedimen- 105 temos que: 1) localizacao sonora: acertar pelo me- ‘nos quatro das cinco diregées apresentadas. O erro esperado esti om uma das diregdes, ou a frente, ou acima ou atrés da cabeca partirde trés anos de idado, ‘2}meméria seqiiencial verbal: acertar pelo menos duas ‘sogiiéncias de trés silabas em trés tentativas, a patlit de trés anos de idade. 3) memoria seqiencial nao-ver- bal: compreender a solicitagao e acertar pelo menos uma seqiiéncie de trés sons em trés tentativas aos 3 ‘anos de-idade; acertar pelo menos duas sequiéncias de {rés sons enntrés tentativas, dos 4 a0s 6 anos de idade: acertarduas seqiénoiasde quatro sons em ties tenta~ tivas a partir dos seis anos de idade até adultos. Nessa selegao de testes por idade pro- curamos respeitar as etapas de desenvolvimen- toe a maturagdo do sistema auditivo, que é de consenso ocorrer da periferia para 0 cérebro, Primeiro sistema auditivo periférico, depois vias auditivas do tronco cerebral e finalmente cértex. Quanto ao desenvolvimento, hoje conhece-se as preferéncias do bebé humano, ao nascimen- to, para a voz da mae, enquanto prosédia. Sabe- se como as respostas a eventos sonoros vao se tornando cada vez mais elaboradas (AzEve- DO, VILANOVA & VIEIRA, 1995) de modo que ao longo dos primeiras anos de vida pode-se ob- . genéticas (GHEOINI, FENIMAN, PEF Servar que a crianga vai demonstrando um de- sempenho cada vez mais eficiente ao detectar sons :cada vez menores e ao localizar sons no espaco em diferentes diregdes © cada vez mais distantes de si mesmo, ao mesmo tempo que sua habilidade auditiva vai se tornando cada vez mais eficiente, econdmica e especifica. Aprende a reconhecer sons e também a com. Preender, ou seja, depreender o significado deles. O papel do profissional que lida com a” avaliagaio da audigéo muito importante des- de a avaliagao de quanto o individuo escuta, de como o seu sistema ossicular esta funcio- nando para transmitir a energia recebida sem perdas até a parte mais intema (céciea) do sis- tema auditivo periférico, apesar das mudangas de meios: aéreo a liquido. Porém, este Profis- sional também tem um desempenho fundamen- tal na avaliagéio do processamento auditivo Central, além de orientar pais e professores para Criarem melhores condigdes de treinamento das habilidades auditivas que eventualmente possam estar interferindo no desempenho em comunicagao humana de uma crianga tanto social como também educacional e psiquico. O conjunto de testes descritos neste ma- nual possibilita identificar alteragdes nas habi- lidades auditivas de um individuo e orientar uma atuagao terapéutica adequada. So candidatos a realizagéio destes pro- cedimentos de avaliagéo, todos aqueles indivi duos cujas historias de vida sugerem uma difi- culdade em ouvir ou compreender consideran- do uma situagao de grupo de colegas ou.de lugar barulhento ou reverberante. Aléin disso, dificuldades em localizar sons, ou seja, identifi- car 0 local de origem de um som, dificuldades de meméria, disiragao siio sinais sugestivos de prejuizo das habilidades auditivas e ne- Cessitarao desta avaliagao. Lembrar daqueles casos de insucesso em terapia fonoaudiolégi- ca que também deverao ser investigados do ponto de vista de suas habilidades percep- tuais auditivas. Sao fatores de risco para DPAC: por- das auditivas nos primeiros anos de vida, de- correntes de les6es cocleares/nervo auditivo ou de alteragdes do componente condutivo do sistema auditivo (orelha externa/orelha média), mesmo as de grau leve que ocorrem nos primeiros anos de vida (KATZ @ wine, 1989); alteragSes neurolégicas (AZEveg, == REIRA, VILANOVA & GOULART, 1995), alteracSes, AA, SPELLS RICHIERI-COSTA, 1995) @ privacZo sensorial de- vido a alteragées organicas ou mestie a um 52__ PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL: manual de meio ambiente pobre quanto a estimulagao - auditiva do individuo (katz & wiLDE, 1989). O diagnéstico de desordem do proces- samento auditivo central caracteriza uma culdade que envolve prejuizo de habilidades auditivas, isto 6, 0 que 0 individuo faz com os eventos sonoros que Ihe sao transmitidos. Esta desordem do processamento auditivo central deve ser considerada um Distiirbio da Audig&o. diagnéstico de DPAC possibilita modificagées no processo de reabilitacdo que quando nao é levado em conta pode justificar fracassos em reabilitagao fonoaudiolégica. DIAGNOSTICO DA DESORDEM DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL Quando ocorrer uma alteraco quantitativa se- gundo os valores obtidos em grupos de indivi duos sem evidéncias de alteragées funcionais do sistema auditivo, confirmados em outros equipamentos por calibragGes biolégicas, para cada um dos testes especiais considera-se como prejuizo de habilidade auditiva (aquela que o teste permite analisar). Deve-se elencar as habilidades auditivas que se apresentaram prejudicadas no conjunto de testes seleciona- dos; verificar se ocorreu dominancia hemis- férica esquerda para criancas a partir de oito anos de idade; a seguir descreve-se um possi- vel topodiagnéstico e finalmente pode-se reali- zar uma classificago quanto ao grau de se- veridade da desordem do processamento au- ditivo central e uma categorizagao quanto ao tipo de desordem do processamento auditivo central. GRAU DE SEVERIDADE Quanto ao grau, a classificagdo das desordens auditivas so feitas considerando-se 0 niimero de acertos, em valores percentuais, obtidos nos indices percentuais de reconhecimento de fala distorcida (IPFD), registrados em alguns dos tes- tes especiais: que associam a modalidade sen- sorial auditiva e a produgao fonoarticulatoria, avaliagao como 0 teste especial de fala com ruido branco (FRB), na relagao sinal/rufdo de +5 dB, ou o de fala filtrada (FF). Estes testes se utilizam de mo- nossilabos, cujos valores considerados normais estdo em tomo de 70%.“Utilizam, também, os valores em porcentagem de acertos para as condigées direita competitiva e esquerda com- petitiva do teste SSW em portugues, que tem como valores normais por condigao do teste mais de 90% de acertos. A classificacao pro- posta considerando os valores dos indices percentual de reconhecimento de fala distorci- da (IPFD), em porcentagem de acerios e os tes- tes mondticos de baixa redundancia (fala com ruido ou fala filtrada) ou 0 teste dicético de dis- silabos (SSW) conforme tabela 5.1 Sendo assim, lembrando GoETzINGER (1978), que referira graus de dificuldade em acompanhar a conversagao baseados em va- ~ lores percentuais de reconhecimento de fala - IPRF, poder-se-ia classificar a desordem do pro- cessamento auditivo central (DPAC) e inferir graus de dificuldade dos individuos para com- preenso de linguagem em situagdes de re- dundancia do estimulo verbal diminuida. As- simjacredita-se que quando a classificagao da‘ DPAC for leve, haveria uma ligeira dificuldade do individuo em acompanhar a conversagao em ambientes com condigSes desfavoraveis; quando a DPAC for moderada, haveria uma di- ficuldade moderada em acompanhar a conver- sag&o em condigdes ambientais desfavoraveis @ quando a classificagdo da DPAC for severa, haveria uma dificuldade acentuada ou uma pro- vavel incapacidade de acompanhar_uma con- versdo em condigées desfavoraveis (redugdo de redundéncias préprias ao estimulo verbal ou ambiente barulhento ou com reverberagiio). Quando na presenga de alteragao quantitativa de grau moderado a severo, diz-se que a dis- fungo auditiva central provavelmente justifica as alteragdes de comunicagao encontradas como manifestagao no individuo. Na presenga de alteragao quantitativa de grau leve, comen- ta-se que a disfuneao auditiva central prova- velmente é secundaria a uma outra alteragdio afetiva/emocional e/ou organica do individuo avaliado. -Tabela 5.1 — Classificagao do grau de severidade de DPAC. Grau de severidade Testes monéticos: FF OU FRB ssw IPFD IPED Normal > 71% > 90% Leve 56 a 71% 80 a 90% Moderado 41. 55% 60.2 80% Severo 0a 40% 0a 59% PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL: ABORDAGEM PASSO.A PASSO 53 TIPO DE DESORDEM DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL A Idéia de propor uma classificagio quanto a0 tipo de DPAG surgiu na tentativa de asso- ciar os diferentes resultados dos diversos tes- tes especiais entre si, buscando fatores em comum. Além disto, teve como referéncia a Proposta de kaTz (1992) que ja realizara uma Classificaco por tipos de alteragao encontra- das no teste SSW por ele proposto. Sendo assim, propde-se a identificagao de trés cate- gorias quanto ao tipo de prejuizo envolvido nas DPAC que sdo: . * Decodificagao ou gnosia acustica, ou seja, Prejuizo dos processos envolvides na aqui sigéo de conhecimentos pela habilidade de integrar auditivamente, do ponto de vis- ta actistico, eventos sonoros. Acredita-se que este tipo esteja relacionado com os Processos de transformacao dos inputs numa forma de meméria sensorial e trans- feréncia de alguma parte para a meméria Primaria, conforme o modelo de reconhe- cimento de fala proposto em 1990 por HUMES apud scHocHar (1996). E ainda pode estar relacionado ao modelo de reconhe- cimento da palavra descrito por PHILLIPS (1995) quando ele refere a primeira deci- sao realizada na analise auditiva quanto a0 input fonoldgico: “O sinal actistico rece- bido é uma palavra ou nai * Codificagao ou-gnosia auditiva integrativa, Isto €, prejuizo dos pracessos envolvidos ha aquisigao de conhecimentos adquiridos Pela habilidade de integragao de informa- g6es sensoriais auditivas e das auditivas com outras informagSes sensoriais ndo-audi- tivas, como as visuais, por exemplo. Este tipo Provavelmente tem relacao com os processos de lransformagio das informages que aces- sam a memOria secundaria, que contém co- nhecimento sobre fonologia, sintaxe, seman- tica ete. para a meméria primaria conforme HUMES apud scHocHaT (1996) ou, ainda, 4 se- Gunda decisdo do modelo de PHILLIPS (1995) Quanto a andlise seméntica e léxica procuran- do decidir: “Qual o significado desta palavra?” * Organizagao ou gnosia auditiva seqiiencial temporal, ou seja, prejuizo dos processos en- volvidos na aquisi¢éo de conhecimentos ad- quirides com a habilidade de seqiencializar eventos sonoros no tempo. Acredita-se que este tipo esteja relacionado com a alteragao da meméria audioverbal, processo declarado Por LURIA,1974, relativo A organizagao dos sons de fala em uma seqiiéncia particular de- terminada pelas regras de uma dada lingua. TESTES ESPECIAIS ALTERADOS SEGUNDO OTIPO DE DESORDEM A descrig&io que se segue foi feita baseando-se €m 102 protocolos de avaliacéio do processamen- to auditivo central de individuos do sexo mascu- lino € feminino com distirbios da comunicagao humana, cuja faixa etaria variou de 4 a 35 anos de idade atendidos no ambulatério dos distir- bios da audigao em 1995. Destes individuos ava- liados, 94, correspondendo a 92,6%, apresenta- ram desordem do processamento auditivo cen- tral (Tabela 5.2). Nestes sujeitos com DPAC, foi Possivel realizar uma classificagao quanto ao tipo da desordem (Tabela 5.3). Tabela 5.2— Sujeitos com distirbios da comunicagao humana 6 desordem do processamento auditivo central. Faixa etéria n? de sujeitos PAC normai DPAG 4a 6anos 16° 4 14 7 anos : 7 1 16 8 anos 19 2 17 9 anos i 1 10 | 40 anos 14 1 13 11 anos 40 1 9 12. 35 anos 16 1 15 Total 102 (100%) 8 (7,84%) 94 (92,16%) | 54 _PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL: manual de -avaliagao Tabela 5.3 — Categorizagao quanto ao tipo de desordem do processamento audilivo central em 94 sujeitos com disturbios da comunicaego humana. Tipo DPAC - rede sujeitos % —_ Decouificagao 18 19,15% Codificagao 18 19,15% Organizagao 7 7.45% 2 ou + categorias 51 54.25% Total — 94 100% Em 45,75% dos sujeitos avaliados foi pos- sivel categorizar um s6 tipo de DPAC e, em 54,25% dos sujeitos, a categorizacdo foi feita em dois ou trés tipos (Tabela 5.3). Os resulta- dos, segundo cada tipo de classificagao pro- posta, estéo resumidamente apresentados no anexo 3, destacando-se habilidades auditivas alteradas e problemas associados descritos na anamnese, reunidos segundo as dificuldades nos processos de aprendizagem da fala, leitu- ra, escrita e de comportamento. Ha que se res- ‘saltar que.cada teste especial utiliza-se de mo- dalidade sensorial auditiva associada a produ- gdo fonoarticulatéria (sujeito repete em voz alta © que ele escutou) ou a modalidade visual (0 sujeito aponta uma figura correspondendo ao som que ele escutou).'No quadro 5.1 apresen- ta-se os testes segundo as modalidades auditi- vas sensoriais envolvidas e a classificagéo da DPAC. Desta forma, na categoria de decodifi- cagéo predominam as alteragdes nos testes cuja tarefa envolve a modalidade sensorial au- ditiva associada & producdo fonoarticulatoria na categoria de codificacZo predominam as al- teragdes nos testes que associam a modalida- de auditiva e visual. A seguir, descreve-se quais os testes especiais do conjunto de testes mostra- vam alteragies para cada tipo de classificagao. * Decodificagao — quanto aos testes especi- ais, vimos que o teste dicético consoante/ vogal,, ¢ 0 teste SSW em portugués apresen- tam baixos indices de reconhecimento cor reto (IPFD). Além disto, 0 teste SSW apre- sentava um efeito de ordem baixo/alto ou efeito auditivo alto/baixo O teste de localiza- go sonora apresentava-se alterado. Prima- riamente ocorre uma dificuldade em lidar com os sons dentro da palavra (consciéncia fo- nolégica), sintese fonolégica. Codificagao — quanto aos testes especiais, observamos que os testes de: escuta mond- tica com palavras (teste de fala com ruido) e © de escuta monética e dicotica com frases (PSI ou SS!) encontram-se alterados. O teste dicético de dissilabos altemados (SSW) apre- sentava alteragdo qualitativa do tipo perda gradual de meméria e/ou integragao auditi- vo-visual. O teste dicdtico consoante/vogal. apresenta muitas inversdes principalmente € orelha direita, isto 6, dificuldade de dire- cionar a atencdo a orelha direita. Organizagao— quanto acs testes especiais alterados, notamos que: o teste dicotico con- soante/vogal apresentava inversées a direi- tae a esquerda, ou seja, dificuldade de diri- gir a atengao para a orelha direita e/ou es- querda. Os testes de fala filtrada, meméria seqiiencial verbal e/ou néo-verbal encontra- vam-se alterados. O teste SSW em portugués apresentava invers6es significantes dos es- timulos verbais. Ao realizar-se o relatério da avaliagéio do. processamento auditivo central deve-se forne- cer ao paciente uma ficha mostrando os resul- tados obtidos e, além disso, decrever como este determinado individuo avaliado foi capaz de processar as informagées auditivo-verbais, isto 6, se ele apresentou ou no uma disfungao au- ditiva central; se esta é priméria, ou soja, pro- vavelmente a origem das suas manifestagdes comportamentais em relacéo & comunicagao oral e/ou escrita ou se esta disfuncao auditiva central 6 secundaria a um outro problema (afetivo-emocional e/ou organico). Além disso, pode-se acrescentar os achados da literatura especializada quanto ao topodiagnéstico que as alteragdes encontradas puderam sugerir quais fungées associadas a linguagem pode- . rao estar comprometidas. Para finalizar, no re- latério deve-se incluir a necessidade de tera- pia fonoaudiolégica, quando esia existir, € quais itens deverdio ser enfaticamente traba- Ihados. Este capitulo apresenta uma sugestéo de ficha-resumo para realizagdo do relatorio fi- nal no anexo 4. PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL: ABORDAGEM PASSO A Passo 55 des 3. Qu ‘sordem do processamento auditivo central. A: DEconiFicacAo ou processo gnésico actistico « Testes com tarefa envolvendo modalidade auditiva e a produgao motora da fala: 1. Localizagao sonora em cinco diregdes: 2. Testes monéticos de baixa redundancia: 3. Testes dicéticos: consoante/vogal de escuta direcionada e com dissilabos - SSW com eros do tipo decodificagao; 4. Testes de integragao biaural: teste de fusdio biaural. i CODIFICAGAO OU processo gnésico auditivo Testes com tarefa.envolvendo as habilidades auditva e visual de apontar figuras ou 1. Testes monéticos utilizando, monossilabos ou frases com figuras/ PSI e SSI sons ambientais com escuta direcionada. 2. Testes dicéticos com figuras: Testes com tarefa envolvendo modalidade ou integragao auditiva-visual; 4. Teste monético com monossilabos: fala com ruido branco. ORGANIZACAO au processo gnésico seqiiencial auditivo Teste envolvendo a modalidade auditiva e 1, Teste de meméria seqiiencial néo-verbal; Testes com tarefa envolvendo a modalidade auditiva e de produ¢ao motora da fala: 2. Teste de memoria seqiiencial verbal 3. Teste de fala filtrada; 4. Teste dicético de dissilabos - SSW com erros do tipo inversdes. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS AZEVEDO, MF; PEREIRA, LD; VILANOVA, LOP.& GOULART, ALL. —Avaliagao do processamento audi vo central: identitcagdo de criangas de rsco para ate racio de linguagem ¢ do aprendizado durante primeira ano de vida. In: MARCHESAN, |, OLAFFI, C.; GO- MES, .C.0 & ZOR2I,.iL. (Org.)— Tépicos em fonoau. diologia. S80 Paulo, Lovise, 1995. AZEVEDO, MF; VIEIRA, R.M.; VILANOVA, L.C.P—Da- senvolvimenio auditvo de criancas normais o de allo fisco. Séo Paulo, Plexus, 1995. GHEDINI, S.; GIACHETI, C.M.; FENIMAN. 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