Você está na página 1de 6
~~ Copyright da radu, nowas © posficio (© 2006 by Paulo Césae Lima de Souza ‘Titlo origina Gatzen-Dammerung oder We man mit ‘dem Hammer philsepbiert (1838) Capa Joao Baprista da Costa Aguiar Preparacio Marcia Copola {odie remissivo: Daniel Ade André Revisto oxactio Nunes Isabel jorge Cury os ca na (20061 “Todos os diets desta ediedo reservados ‘ua Bandeira Paulista, 702,632 (0532-002 —Sao Palos Telefone:(11) 3707-3500 Faxc (1) 37073501 ‘wove companhiadasletras com br INDICE Prdlogo... 1. Maximas e flechas 1.0 problema de Sécrates.. mm. A“razio* na filosofia.. 1. Como 0 “mundo verdadeiro” se tornow finalmente fabula, v. Moral como antinatureza .. Vi. Os quatro grandes erros. — vil. Os “melhoradores” da humanidade..., ‘itl O que falta aos alemaes. Ix. Incursdes de um extemporaneo .. x, O que devo aos antigos. Fala o martelo... Notas. aa ie Apéndice: Cartas sobre Crepuisculo dos idolos. Posfiicio. indice remissivo... Nos, imoralista, pelo contrrio, abrimos nosso cora Nos nao negamos facilmente, buscamos nossa distingao em sermos afirmadores. Cada vez mais nossos olhos atentarcm para essa economia que necessitae sabe aproveitar tude 0 ue € reeitado pelo santo desatino do sacerdote, a doerte razio do sacerdote, para essa economia que hina eida vea, ‘que mesmo das repugnantes espécies do santarrio, do sacer. dlote, dovirtuoso tira sua vantagem — qual vantagem?—Nas ’nds mesmos, imoralsts, somos aqui a resposta we OS QUATRO GRANDES ERROS 1 Erro da confusio de causa e conseqiléncia. — Nao ha erro mais perigoso do que confundir a conseqiiéncia e a causa: eu 0 denomino a verdadeira ruina da razao. Porém, esse erro esti entre os mais antigos ¢ mais novos habitos da hhumanidade: ele € até santificado entre nés, leva o nome de “religito”, “moral”. Cada tese formulada pela religito e pela moral 0 contém; sacerdotes ¢ legisladores da moral sio os autores dessa corrupcio da raza0. — Bis um exemplo: todos conhecem 0 livro do famoso Cornaro,"* em que ele reco- ‘menda sua exigua dieta como receita para uma vida longa & feliz — e também virtuosa. Poucas obras foram t2o lidas, ainda agora milhares de exemplares s2o impressos anvial- mente nia Inglaterra. Duvido que algum livro (excetuando- se, naturalmente, a Biblia) tenha causado tanto mal, tenha ‘abreviado tantas vidas, como esse bem-intencionado curio- suemcoisa curiosal. Razao para isso: a confusio entre oefeito 4 causa. O bom italiano via em sua dieta a causa de sua Jonga vida: a0 passo que a precondicao para uma longa vida, extraordinria lenticio do metabolismo, o baixo consumo, cera a causa de sua exigua dieta. Fle nao tinha a liberdade de ‘comer pouco ou muito, sua fugalidade do era um “livre- arbitrio": ele ficava doente quando comia mais, Mas quem nao € uma carpa’” nao s6 faz bem em comer propriamente, ‘mas disso tem necessidade. Um erudito de nassaépoca, com B91 eREPUscULO DOs IDoLOs seu ripido consumo de energia nervosa, se destruiria com regime de Cormato, Crede experto Creia no peritol a AA formula geral que se encontra na base de toda moral e religito é: “Faca isso e aqullo, no faa isso €aquilo— assim seri feliz! Caso contriri...”. Toda moral, toda religito éesse imperativo — eu 0 denomino o grande pecado original da 14230, a desrazdo imortal. Em minha boca essa formula se converte no seu oposto — primeiro exemplo de minha ‘resvaloragao de todos os valores": um ser que vingou, um “feli2", tem de realizar certas agoes e receia instintivamente Outras, ele carrega a ordem que representa fisiologicamente Para suas relagdes com as pessoas e as coisas. Numa for. ‘mula: sua virtude € 0 eftto de sua felicidade... Vida longa, role abundante, isso ndo é recompensa da virtude; a vir, tude mesma é, isto sim, essa desaceleragio do metabolismo ue, entre outras coisas, tem por conseqiléncia uma vida longa, uma prole abundante, em suma, 0 comarismo,— A Tareja ¢a moral dizem: “o vicio ¢ o luxo levam uma estirpe ul um povo 3 ruina’. Minha razio restaurada diz: se um Povo seamuina, degenerafisiologicamente, seguem-sedai o Vicio © 0 luxo (ou seja, a necessidade dle estimulos cada ver mais fortes e mais freqiientes, como sabe toda natureza esgotada). Um homem jovem fica prematuramente pilido ‘Mmurcho, Seus amigos dizem:tal ou tal doenca é responsivel Por isso, Eu digo: 0 fato de ele adoecer, de nio resist 4 doenga, j fol consequencia de uma vida debilitada, de um €sgotamento hereditirio.Oleitor de jornais diz: esse partic se arruina cometendo tal erro. Minha politica mais elevada liz: um partido que comete tais erros esta no fim —jé nao fem sua seguranga de instinto. Cada erro, em todo sentido, € conseqiiéncia da degeneragao do instinto, da desagrege. {20 da vontade: com isso praticamente se define o rim Tudo bom é instinto —e, portanto, leve, necessirio, livre. O esforco € uma objecio, o deus se diferencia tipicamente do 140) Os QUATRO GRANDES ERROS hherdi (na minha linguagem: pés ligeirossao o primeiro atr- buto da divindade) eS Erro de uma falsa causalidade, —Em todos os tempos as pessoas acreditaram saber o que & uma causa: mas de onde tiramos nosso saber, ou, mais precisamente, a erenga de sabermos? Do Ambito dos famosos “fatos interiores”, dos uais nenhum, até hoje, demonstrou ser real. Acreditivamos ser nds mesmos causais no ato da vontade; af pensivamos, 20 menos, flagrar no ato causalidade. Tampouco se duvi dava que todos os antecedentia de uma ac2o, suas causas, deviam ser buscados na consciéncia ¢ nela se achariam, novamente, ao serem buscados — como “motivos": de outro ‘modo nao se teria sido live para fazé-la, responsivel porela Afinal, quem discutiria que um pensamento é causado? Que © Eu causa o pensamento?... Desses trés “fatos interiores”, com que parecia estar garantida a causalidade. © primeiro € ‘mais convincente é 0 da vontade como causa, a concepgio de uma consciéncia ‘espitito") como causa e, mais tarde, a do Bu (*sujeito") como causa nasceram posteriormente, depois que a causalidade da vontade se firmou como dado, ‘como algo empirico... Nesse meio-tempo refletimos melhor, Hoje nao acreditamos em mais nenhuma palavra disso, O “mundo interior” é cheio de miragens e fogos-fituos: a von- tade é um.deles. A vontade nao move mais nada; portanto, também nao explica mais nada — ela apenas acompanha eventos, também pode estar ausente. O que chamam de “motivo”: outro erro. Apenas um fendmeno superficial da consciéncia, um acess6rio do ato, que antes encobre os antecedentia de um ato do que os representa, E quanto 20 Eu! Tomnou-se uma fabula, uma fico, um jogo de palavras essou inteiramente de pensar, de sentir e de querer... Que resulta disso? Nao ha causas mentais absolutamente! Toda a sua suposta evidéncia empirica foi para o diabo! Fis 0 que resulta disso! — E haviamos cometido um belo abuso com €Reroscuro neaitpor0s essa “evidncia empirica’, com base nela haviamos criadoo mundo como um mundo de causas, um mundo de vontade, tum mundo de espirtos. A mais antiga e mais duradoura pst cologia estava atuando aqui, no fazia outra coisa: para ele, todo acontecer é um agi, todo agir € conseqiiéncia de uma vontade, o mundo tomou-se-lhe uma multiplicidade de agentes, um agente (um “sujeito") introduziu-se por tris de todo acontecer. O homem projetou fora de si os seus trés nogio de ser da nogao, ‘como existentes sua imagem, con- forme sua nocio do Eu como causa. E de admirar que depois, encontrasse, nas coisas, apenas o que havia nelas colocado? —Acoisa mesma, repetindo, a nocio de coisa, [apenas um reflexo da crenca no Eu como causa... Eaté mesm00 seu ito- ‘mo, meus caros mecanicistas e fisicos, quanto erto, quanta Psicologia rudimentar permanece ainda em seu atomo! — Para nao falar da “coisa em si", do horrendum pudendum thorrivel parte pudenda] dos metafisicos! O erro do espitito ‘como causa confundido com a realidade! E tornado medida da realidade! E denominado Deus — 4. Erro das causas imagindrias. — Partindo do sonho: a uma determinada sensacio, devida a um longinquo tiro de canhao, por exemplo, éattibuida posteriormente uma causa

Você também pode gostar