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Te eS OPASSADO Salah aN rave 78% \ | eis O passado sempre presente Quando Paul Klee desenhou a gravura Angelus Novus, rabiscou a sua arte num anjo de olhos arrega- lados, asas ¢ boca abertas, que parecia afastar-se daquilo tava olhando. Benjamin viu naquele anjo a nagao da hist6ria contemplando no passado uma catastrofe unica e continua. As asas imobilizadas o impedem de se deter para ressuscitar os mortos ou reorganizar os vencidos. O vento da tempestade, que sopra do paraiso, empurra-o para o futuro ao qual da as costas. O anjo benjaminiano tinha uma missao: fazer ex- plodir © continuum do passado de forma a “colocar 0 presente numa situagio critica”, unica forma, segundo © filésofo alem4o, de 0 pensamento escapar a tirania da “eterna repetigio do mesmo”, de sacudir o enqua- dramento da vida, de perceber nao apenas 0 movimento das idéias, mas também a sua imobilizagdo. Na leitura apaixonada que Leandro Konder faz do marxismo melancdlico de Benjamin (Campus, 1988), a mensagem € muito clara: é preciso acertar contas com o passado! © passado que nunca se entrega a nds, mas que nos envia sinais cifrados do seu misterioso desejo de re- dengio, Cabe a cada geragdo, na luta silenciosa com © contra outras geragdes, desnudar esse desejo, liberar a8 energias humanas dolorosamente encarceradas no passado © engrossar a corrente da luta contra 0 perigo constante de ceder & opressio, Nio podemos deixar, diria Maiakovsky, que pisem nossas flores, matem. nosso cho, roubem-nos a lua e arranquem a voz da nossa garganta, A tensio entre geragbes, expressa na relagdo pa: 6 de por Mae: que sado/presente, apontada por Benjamin, lo, que € o seu objeto. Curiosamente, © 0 passado, o historiador seu objeto ¢ 0 passado 0 nos sugere Michel de Certeau, cI (6ria (1982). m levantou 0 pro- ido”, na mencionada m divida apontando época, mas no s6 dela, Essa ndimento da func%o social do pasado ento de busca que, no confronto le/passado, permite pensar a ambos como ex- sempre a um \ ites © passado abado, pois o futuro 0 utiliza de lravés das geragdes que reescrevem. ei escrever In ‘Siphon ta ae ae de contas com Langlois ¢ , m do en {0% aluno, mas de quem discor- a presstio = e que sobre ele recaia, uae historiador, no sentido de dar sua contribuigio focnntamento contemporaine }. ave ante delas? i a tat esata ae cago nao deixa de ser Jevam a hist6ria (mas ndo s6 ela) a ser encarada como disciplina sem “utilidade”, em fungdo de um imedia- tismo que desvaloriza nao s6 0 saber escolar, mas também o saber académico. Por trés da pressfio que essa questio e enfrentam o paradoxo sinalizado por Ester Buffa quando refletiu sobre 0 papel da Historia da Educagio na clucidagaio dos problemas pedagégicos da atualidade, como a democratizagio do ensino, a formagao de professores, a alfabetizagio, para citar alguns exemplos (Em Aberto, 47, 1990). Diante dessas quest6es, a tinica coisa que 0 pesquisador pode afirmar € a sua historia. E justamente a necessidade de com- preensio dos problemas que leva o historiador a cons- truir a informagao histérica que os tomnard pensdveis. A leitura que 0 historiador faz do presente dirige a sua Ieitura do passado, ambas organizadas em fungio de problematicas impostas por certas situagdes. Volte- quest6es sufocadas? E os limites que € posto como pensdvel e impensavel em. €poca? Quando © historiador elege as questées as quais trabalha est realizando um exercicio cujos limites sio dados, entre outros lugar social de onde escreve © pelas cionais nas quais est4 mergulhado.

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