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Discussões

sobre o fim dos tempos muitas vezes caem em impasse a respeito do


que fazer com as peças individuais do quebra-cabeça. Jeff Johnson nos ajuda a
dar um passo atrás e ver o panorama geral da Bíblia sobre o plano de Deus para
a história humana. Como resultado, podemos ver claramente que Deus cumpre
as suas promessas a Abraão, Israel e Davi em suas bênçãos a Jesus Cristo e ao
povo que está unido a ele — judeus ou gentios, agora e para sempre. Isso é o que
o amilenismo ensina. E quando você vê o panorama geral, é muito mais fácil
encaixar cada peça em seu lugar.
— Dr. Joel R. Beeke,
Presidente do Puritan Reformed Theological Seminary,
Grand Rapids, Michigan
Em uma cultura eclesiástica onde a série Deixados para Trás ainda é quem dita a
visão predominante acerca da escatologia, Jeffrey Johnson nos presenteou com
uma excelente introdução à escatologia bíblica. Os 5 Pontos do Amilenismo é
uma exposição bíblico-teológica sólida acerca dos principais temas da
escatologia. Pessoalmente, eu usarei esse livro, cuja leitura é muito agradável,
como uma ferramenta para introduzir as pessoas a uma escatologia bíblica que
exalta o Rei ressuscitado e que reina, Jesus Cristo.
— Dr. Brian Borgman,
Pastor, Grace Community Church,
Minden, Nevada

Uma das razões pelas quais os crentes discordam sobre a escatologia é porque
essa doutrina envolve muitos textos e questões hermenêuticas complexos. Neste
livro excelente e breve, Jeff Johnson esclarece cinco das questões mais difíceis
de serem resolvidas. Ele escreve com graça e facilidade, mas o leitor notará que
a sua clareza está embasada em um pensamento profundo sobre algumas das
passagens mais difíceis da Escritura. Estamos vendo um interesse crescente pela
teologia amilenista em nosso tempo, e este livro ajudará a saciar uma sede tão
evidente por clareza, rigor e profundidade de pensamento.
— Dr. Owen Strachan,
Professor associado de teologia cristã, Midwestern Seminary;
autor de Reenchanting Humanity: A Theology of Mankind
Jeffrey Johnson entrega o que promete: uma introdução de fácil leitura sobre o
cerne do amilenismo sem que mil coisas o distraiam! Seu olhar pastoral aguçado
penetrou profundamente na alma de nossa comunidade cristã. Com uma mente
teologicamente perspicaz, ele enfatizou cinco princípios-chave que servem para
nos guiar claramente através do labirinto confuso sobre o fim dos tempos no
qual muitos estão presos. Esta obra é permeada por ilustrações familiares e
testemunhos calorosos, o que faz com que o leitor se sinta em casa. O resumo
encontrado no final do livro merece ser lido antes de começar o todo, se
levarmos em conta aquela máxima de ler cada livro de trás para frente. Embora
seja uma obra breve, este livro fez com que Jeffrey Johnson se tornasse
memorável!
— Dr. Duncan Rankin,
Professor adjunto de teologia sistemática,
Reformed Theological Seminary
Com os acontecimentos de nosso mundo em constante mudança, parece que
cada vez mais pessoas estão fazendo perguntas sobre o fim dos tempos. Isso é
bom. Como cristãos, precisamos ter respostas. Contudo, infelizmente, às vezes
não temos as respostas de que precisamos. Com frequência, nós mesmos ficamos
confusos sobre esse assunto vital. Leia este novo livro de Jeffrey Johnson, Os 5
Pontos do Amilenismo. Aqui temos uma apresentação simples, sucinta e bíblica
que esclarece muitas noções falsas sobre o fim dos tempos e ancora com
segurança um crente à rocha sólida das verdades bíblicas. A leitura deste livro
me encorajou muito. Recomendo-o a vocês com entusiasmo.
— Rob Ventura,
Pastor, Grace Community Baptist Church,
Providence, Rhode Island
— Don Whitney
Título Original
The Five Points of Amillennialism
Por Jeffrey D. Johnson


Copyright © 2020 Jeffrey D. Johnson. Todos os direitos reservados.


Published by Free Grace Press
1076 Harkrider
Conway, AR 72032. United States.


Copyright © 2021 Editora O Estandarte de Cristo
Francisco Morato, SP, Brasil


1ª edição em português: 2020.


Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora O Estandarte de Cristo. Proibida a
reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.


Salvo indicação em contrário e leves modificações, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão
Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do
Brasil.


Tradução e Revisão: Camila Rebeca e William Teixeira
Revisão ortográfica: Fernando Angelim
Capa: Scott Schaller
Adaptação da capa e diagramação: William Teixeira


Visite: oestandartedecristo.com

Dedicado ao meu amigo


Joel Tiegreen
Agradecemos de coração ao querido pastor Jeffrey Johnson por
ceder gentilmente os direitos de publicação de sua obra em
português.







Sumário Introdução

1
A Hermenêutica Histórico-Redentiva
Hermenêutica Histórico-Redentiva
Autoria Divina
A História da Redenção
A Natureza Progressiva da Revelação
A Analogia da Fé
Teologia Pactual
Conclusão

2
Os Crentes são os Filhos de Abraão
Não foi a Ismael e aos Ismaelitas
Não foi a Isaque e aos Israelitas
Não a Posse Exterior da Lei
Não a Circuncisão Externa
Não o Nascimento Físico
Cristo é o Descendente de Abraão
A Igreja Não Substitui Israel
Conclusão

3
A Igreja é o Reino Davídico
O Reino Prometido no Pacto Abraâmico
O Reino Prometido no Pacto Davídico
O Reino de Deus Estabelecido na Nova Aliança
Conclusão
4
A Nova Terra é a Terra Prometida
Realização Parcial
Já, mas Ainda Não
A Realização em Dois Estágios (Espiritual e Físico) do Reino de Deus
Duas Vindas de Cristo
A Vinda de Cristo Seria um Dia de Julgamento
A Vinda de Cristo seria um Dia de Misericórdia
Um Dia de Ira e um Dia de Misericórdia
Não Uma, mas Duas Vindas
Duas Eras
A Presente Era Maligna
A Era Vindoura
Escatologia Inaugurada
Eras que se Sobrepõem
Dois Reinos (Jurisdições)
Os Dois Reinos são Incompatíveis
O Estado Não tem Jurisdição sobre a Igreja
A Igreja não tem Jurisdição sobre o Estado
A União da Terra (Física) e do Céu (Espiritual)
Isso Não é Espiritualizar Promessas Literais
Conclusão

5
A Finalidade da Segunda Vinda
Uma Segunda Vinda Catastrófica
A Ressurreição Geral
A Destruição do Mundo
O Dia do Julgamento
O Estado Eterno
Não Haverá Nenhum Reinado de Mil Anos Literais
Apocalipse 20:1-3

Conclusão
Introdução

Não é difícil entender o amilenismo. Você não precisa de um gráfico para


orientá-lo através de um complexo labirinto de textos-prova. Para compreender o
amilenismo, tudo o que você precisa saber são cinco pontos simples.
Como os cinco pontos do calvinismo, os cinco pontos do amilenismo estão
interligados. Eles permanecem de pé ou caem juntos. O que você acredita sobre
qualquer um dos cinco pontos influenciará fortemente o que você acredita sobre
os outros quatro.
Embora eu tenha buscado organizar os cinco pontos em sua sequência
lógica, eles podem ser facilmente reposicionados em qualquer ordem.
Determinar qual ponto vem em primeiro lugar não é tão importante quanto
entender que todos os pontos estão conectados. Eles se sobrepõem. Eles
funcionam como um círculo no qual um ponto leva naturalmente ao ponto
seguinte e depois ao próximo até que voltemos ao ponto inicial.
Meu objetivo nesta breve introdução é trazer clareza ao amilenismo. Não
desejo responder a todas as perguntas possíveis ou refutar todas as objeções que
alguém possa fazer. De modo proposital, este livro não aborda o tempo e a
identidade do anticristo ou fornece comentários sobre as setenta semanas de
Daniel, Mateus 24 ou Romanos 11 porque os amilenistas podem diferir sobre
essas questões periféricas. Este livro também não foi concebido para ser uma
refutação das outras posições escatológicas, como o pré e o pós-milenismo. O
objetivo deste livro não é ser um recurso abrangente sobre escatologia, mas
simplesmente uma introdução ao amilenismo.
É claro que buscarei ser convincente, mas percebo que provavelmente será
necessária uma obra mais minuciosa para persuadir aqueles que iniciam a leitura
deste livro com reservas. Para aqueles que estão interessados em aprender mais
sobre o amilenismo, apontarei outros recursos muito bons ao longo do caminho.
Eu amaria que este livro servisse como uma ponte que ligasse os cristãos que
estão duvidosos a obras mais acadêmicas sobre o assunto. Para aprender mais
sobre esses outros recursos, preste muita atenção às notas de rodapé.
Para meus propósitos, ficarei contente se conseguir lhe fazer pensar. Se eu
puder gerar um pouco mais de consciência e interesse pelo amilenismo, ficarei
satisfeito. Terei cumprido meu objetivo se este livro proporcionar ao leitor uma
compreensão básica do amilenismo.
Minha oração é que o Rei dos reis seja glorificado e exaltado em cada
página. Mesmo que não concordemos em cada detalhe sobre o tempo, natureza e
composição do reino de Deus, que todos concordemos que Cristo, o Rei da
glória, é digno de governar e reinar para sempre sobre todas as coisas no céu e
na terra.
1
A Hermenêutica Histórico-Redentiva

Há dois grandes sistemas de interpretação bíblica no evangelicalismo


conservador: o método histórico-gramatical e o método histórico-redentivo.
Essas duas abordagens têm muito em comum. Ambas estão comprometidas com
o significado literal, intencional, gramatical e histórico do texto. Ambas as
abordagens se apegam à inspiração e autoridade da Escritura, e ambas se
blindam corretamente contra o relativismo e o subjetivismo. Os dois métodos
procuram entender o que os autores originais — seja Moisés ou o apóstolo Paulo
— queriam dizer ao estudar o contexto gramatical e histórico da passagem. E
“contexto, contexto, contexto” é a regra de ouro para a interpretação das duas
abordagens.
O método histórico-gramatical procura encontrar o significado pretendido
pelo autor através do estudo do contexto histórico e gramatical do texto. Três
elementos são vitais para esse método de interpretação da Escritura: (1) o
significado pretendido pelos autores, (2) a gramática da língua original e (3) o
cenário histórico em que o autor viveu.

Hermenêutica Histórico-Redentiva
A abordagem histórico-redentiva afirma os três compromissos centrais do
método histórico-gramatical. Em primeiro lugar, devemos evitar a leitura no
texto a partir de nossas próprias experiências e ideias, mas antes procurar
determinar o significado pretendido pelos autores — o que deve ser o objetivo
de todos os intérpretes da Escritura. Em segundo lugar, porque as palavras só
têm significado se forem compreendidas em sintonia com o seu contexto, logo a
compreensão da gramática das línguas originais da Escritura é crucial. Em
terceiro lugar, porque a Bíblia é um documento histórico, a cultura e os costumes
bíblicos desempenham um papel fundamental para o nosso entendimento do
significado da Escritura.
Embora ambas as abordagens tenham esses três compromissos em comum,
uma diferença fundamental permanece entre elas — uma distinção importante
que faz toda a diferença. Embora ambos os lados concordem plenamente com o
significado original pretendido, gramático e histórico, um princípio
hermenêutico adicional guia o método histórico-redentivo: a escatologia.
Embora isso pareça intrigante, permita-me explicar o que quero dizer com
escatologia. A palavra escatologia é derivada da palavra grega éschaton, que
significa “último” ou “fim”. A escatologia não se preocupa apenas com os
eventos do final dos tempos; de modo mais significativo, se preocupa com o fim
e o propósito divino de todos os eventos históricos. Não se trata apenas de
investigar o que acontece no fim do mundo, mas também porque Deus criou o
mundo em primeiro lugar. Quando o Catecismo de Westminster pergunta: “Qual
é o fim principal (éschaton) do homem?”, ele está perguntando qual é o principal
propósito ou objetivo da vida do homem. Para que fim ou propósito o homem foi
criado? Da mesma forma, a escatologia não é simplesmente perguntar o que
acontece no final, mas por que as coisas aconteceram. Em outras palavras, qual é
o fim, o propósito e o objetivo por trás dos acontecimentos históricos da
Escritura? Qual é o objetivo final de todas as coisas?
Ao tentar determinar o propósito divino da história, devemos lembrar que a
Bíblia não é escrita como um livro moderno com um índice contendo um
glossário de termos e definições. Deus não comunicou a doutrina de modo
sistemático, com cada assunto principal (como Deus, o homem, o pecado e a
salvação) organizado em sua ordem lógica. Antes, a Bíblia é uma história — é a
história de Deus. A Bíblia começa com os eventos históricos de uma criação em
sete dias, depois passa a incluir a queda do homem e, finalmente, avança para
revelar os diferentes passos que Deus deu para reconciliar o homem consigo
mesmo. A Bíblia é um relato da interação divina de Deus com o homem. Como
qualquer história, ela tem um começo e tem um fim.
Como outras histórias, a Bíblia começa com alguns personagens-chave
(Adão, Eva, Satanás e um filho) e logo estabelece um enredo que é desenvolvido
em sua complexidade até que todas as pontas soltas sejam amarradas para um
propósito único e unificador.
Ao contrário da ficção, o relato bíblico é histórico. Ele descreve lugares
reais, eventos reais e pessoas reais. O início da história foi registrado no livro de
Gênesis, e o fim da história foi predito em todos os livros da Bíblia. O
fundamento da história é encontrado nos três primeiros capítulos de Gênesis, e a
conclusão é encontrada nos três últimos capítulos do livro de Apocalipse. Entre
esses eventos está o relato da história da redenção.
Mais importante ainda, há um grande propósito por trás da criação e da
queda. Aprendemos que nada acontece por acaso. Não há personagens
irrelevantes. Há um propósito para tudo e para todos. Nós aprendemos que existe
um propósito por trás das histórias e profecias do Antigo Testamento.
Aprendemos, mais significativamente, que existe um propósito por trás do filho
prometido a Adão e Eva. Aprendemos que existe um propósito por trás dos
pactos abraâmico e mosaico bem como um propósito para Israel. Aprendemos
que existe um propósito para a vida e a obra do Messias. Aprendemos que existe
um propósito por trás da igreja. Aprendemos que tudo coopera para um único
propósito.
E por essas razões, o final da história nos revela muito sobre o início dela.
Se quisermos compreender o início de todas as coisas, é útil termos uma
compreensão do fim de todas elas, o que torna a escatologia uma parte vital da
nossa hermenêutica.
Em outras palavras, a escatologia auxilia a nossa hermenêutica porque nos
auxilia a entender a conclusão da história. A compreensão da conclusão nos
ajuda a compreender o propósito geral da história — o panorama geral. E
compreender o panorama geral nos ajuda a compreender as partes individuais da
história. Em qualquer bom enredo, o início sempre faz mais sentido depois que
terminamos de ler o último capítulo. Da mesma forma, ler o Novo Testamento
nos ajuda a compreender o significado original e pretendido do Antigo
Testamento.
A Bíblia não nos foi entregue em um único momento, mas
progressivamente, pouco a pouco, por 40 autores ao longo de 1.600 anos. Ela
começou com os escritos de Moisés e continuou a ser revelada até os dias de
Cristo e dos apóstolos. O cânon foi concluído no fim do primeiro século com o
livro do Apocalipse.
A compreensão da natureza progressiva da revelação bíblica é essencial
porque à medida que uma nova revelação vinha, ela não apenas desenvolvia a
linha da história, mas trazia maior clareza e discernimento sobre as partes
anteriores da história. Por exemplo, aprendemos mais sobre a promessa que
Deus fez a Adão e Eva em Gênesis 3:15 a respeito da descendência da mulher
quando lemos sobre Cristo morrendo na cruz. Ler sobre a morte de Cristo nos
Evangelhos não muda o significado original da promessa em Gênesis;
simplesmente acrescenta clareza ao Evangelho que foi originalmente prometido
à primeira geração de pecadores.
Com isso em mente, vamos considerar várias razões pelas quais devemos
usar essa última revelação para entender o significado original e pretendido da
revelação anterior — especialmente usando o Novo Testamento para entender o
Antigo Testamento: 1. Porque toda Escritura é inspirada por Deus e tem um
único Autor.
2. Porque há uma única linha da história, ou metanarrativa, que se
concentra em torno do Evangelho de Jesus Cristo — conhecida como a história
da redenção.
3. Porque a história da redenção é progressiva.
4. Por causa da analogia da fé, que é o princípio bíblico que diz que a
Escritura deve interpretar a Escritura.
5. Porque a nossa compreensão das alianças (e sua relação entre si) molda
nossa compreensão da Escritura.
Autoria Divina
Se a Bíblia (como uma coleção de livros que foi escrita por quase quarenta
autores diferentes ao longo de milhares de anos) não fosse inspirada, não
deveríamos esperar uma mensagem unificada. Se fosse apenas o produto de
homens falíveis trabalhando sob a luz obscura de seus próprios contextos
culturais e históricos, então naturalmente esperaríamos que os vários livros
estivessem cheios de contradições. Para entender o significado de qualquer autor
não inspirado, precisamos resistir a filtrar o que esse autor disse através das
lentes de outros autores. Se não houvesse um autor divino, os escritos do
apóstolo Paulo, por exemplo, só deveriam ser entendidos à luz do corpus
paulino.
Além disso, sem inspiração divina, o modo como Paulo entendia Moisés
não deveria influenciar tanto a nossa compreensão sobre Moisés. Sem
inspiração, não poderíamos ter certeza de que Paulo entendeu Moisés
corretamente. Como seria ingênuo interpretar A Odisseia, escrita em grego
antigo, através dos escritos de Shakespeare, escritos em inglês elizabetano, assim
também seria impróprio usar o Novo Testamento para entender o Antigo
Testamento.
Isso seria verdade se a Bíblia não tivesse um único Autor, a saber, Deus.
Mas a Bíblia não é como qualquer outra coleção de livros. Cada livro da Bíblia
foi inspirado por Deus (2 Timóteo 3:16). Assim, devemos abordar a Bíblia com a
convicção de que ela, do início ao fim, é a Palavra de Deus — que toda a
Escritura está livre de erro ou contradição.
Nós rejeitamos a noção de que o livro de Isaías deve ter sido escrito por
dois autores distintos em dois momentos diferentes, devido à suposta
impossibilidade de Isaías conhecer o nome e as atividades de Ciro, rei da Pérsia,
cento e cinquenta anos antes do nascimento dele (Isaías 44:28-45:1). Não temos
nenhum problema em aceitar as profecias e milagres da Bíblia porque cremos
que a Bíblia é a Palavra de Deus. Assim, por causa da inspiração, não temos
nenhum problema em compreender as profecias do Antigo Testamento à luz de
suas explicações e cumprimentos no Novo Testamento.
Como a Bíblia tem um único Autor divino, naturalmente esperamos uma
mensagem unificada do início ao fim. Porque Deus não pode mentir (Tito 1:2),
temos certeza que a Bíblia não pode contradizer a si mesma. Esse pressuposto da
autoria divina — que é testemunhado e afirmado pelas próprias Escrituras —
confere forma ao método hermenêutico histórico-redentivo.
A História da Redenção
Ele é chamado de método histórico-redentivo porque utiliza a história da
redenção, a metanarrativa essencial das Escrituras, como lentes através das quais
podemos entender as diversas passagens dela. Jesus disse: “Examinais as
Escrituras [do Antigo Testamento] porque… são elas que de mim testificam”
(João 5:39). O Senhor sabia que o tema da Escritura era ele mesmo (Lucas
24:27). Assim, devemos esperar que a pessoa de Cristo e a mensagem do
Evangelho — o tema do Novo Testamento — sejam o tema do Antigo
Testamento.
Vemos o Evangelho introduzido na narrativa bíblica imediatamente após o
pecado ter entrado no mundo pela primeira vez. Imediatamente após Adão e Eva
trazerem a morte e o juízo ao mundo, Deus trouxe as boas novas do Evangelho.
Embora o mundo tivesse acabado de cair na escuridão, a luz do Evangelho veio
dissipando as trevas. Aprendemos sobre o Evangelho assim que aprendemos
sobre o pecado e o juízo. Logo no início da história, em Gênesis 3, Deus
prometeu que o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gênesis
3:15).
Parece que Adão e Eva creram nessa mensagem evangélica, pois após ouvir
a boa nova acerca da descendência prometida, Adão chamou sua esposa de Eva,
que significa “a mãe de todos os viventes”. Ao invés de culpá-la, como fez antes,
parece que Adão, pela fé, a via como a progenitora do Messias que viria. Eva
seria a mãe do filho que traria vida e cura para o mundo. E foi depois que Eva
recebeu o seu nome que Deus cobriu graciosamente a nudez e a vergonha de
Adão e Eva com as peles de um animal inocente sacrificado.
Esse Evangelho primitivo era suficientemente claro para salvar todos
aqueles que, como Adão e Eva, exerceram fé na promessa de Deus. Tornou-se
evidente, logo no início da história, que a esperança da humanidade descansava
em um filho prometido. Era evidente que o homem não podia salvar a si mesmo
e que não há perdão dos pecados sem o derramamento de sangue inocente
(Hebreus 9:22).

A partir desta semente prometida em Gênesis 3:15, o Evangelho seria mais


claramente articulado e revelado à medida que Deus continuava a intervir ao
longo da história. A promessa de uma semente, o filho prometido, foi dada
novamente ao descendente de Eva, Abraão.
Deus prometeu um filho a Abraão quando ele tinha cem anos de idade e não
possuía nenhum herdeiro (Gênesis 15:4). A essência dessa promessa pactual,
como aprendemos no Novo Testamento, era o Evangelho: “Ora, tendo a
Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou
primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti”
(Gálatas 3:8). E fica registrado que Abraão, depois de ouvir o Evangelho, “creu
em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Gênesis 15:6; Romanos 4:3;
Gálatas 3:6; Tiago 2:23). Assim, aprendemos que foi somente pela fé em Cristo
que Abraão se tornou um filho de Deus.
O pacto estabelecido com Abraão foi pessoalmente renovado por Deus com
o filho de Abraão, Isaque, e um pouco mais tarde com seu neto, Jacó (Gênesis
26; 28). O nome de Jacó foi mudado por Deus para Israel. Embora os doze filhos
de Jacó tenham se tornado os pais fundadores das doze tribos de Israel, foi seu
quarto filho em particular, Judá, que Deus escolheu para ser o progenitor do
Messias (Gênesis 49). Eventualmente, o pai da descendência prometida foi
restrito à linhagem do rei Davi.
Os descendentes físicos de Abraão eram especiais porque eram a família
escolhida que carregava a semente do Evangelho ao longo da história do Antigo
Testamento. E foi essa promessa — do descendente vindouro — que impediu
Deus de destruir os israelitas incrédulos ao longo da história do Antigo
Testamento (Isaías 1:9).
Quando chegamos ao Novo Testamento, aprendemos que o herdeiro
prometido de Abraão não incluía todos os filhos físicos de Abraão, mas apenas
um filho em particular: Jesus. Jesus é a descendência prometida de Eva, Abraão,
Isaque, Jacó, Judá e Davi. Paulo disse: “As promessas foram feitas a Abraão e à
sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas
como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” (Gálatas 3:16). Cristo é
aquela descendência prometida — aquela semente prometida. Os israelitas
incrédulos, descritos como aqueles que possuíam o coração de pedra e a cerviz
dura, assassinaram sistematicamente os profetas que Deus enviou a eles. Por
causa de sua incredulidade e pecado, Israel não era o filho que Deus tinha em
mente quando prometeu um herdeiro a Abraão. Há apenas um descendente justo
— apenas um descendente que traz bênção para as nações do mundo —, e esse
descendente é Jesus Cristo.
Há um personagem principal e herói na narrativa bíblica, a história da
redenção: Jesus Cristo, o descendente da mulher. Aprendemos que a salvação
sempre foi somente pela fé em Cristo. Um verdadeiro filho de Deus não nasce
por nascimento natural ou por circuncisão ou por obras, mas pela fé. Todas as
Escrituras apontam para uma única pessoa. Toda Escritura se concentra em torno
de Jesus Cristo.
Como a Bíblia tem uma linha histórica central, o método histórico-
redentivo de hermenêutica procura interpretar as várias passagens da Escritura
através das lentes da mensagem unificadora do Evangelho. Não importa o
quanto a Antiga Aliança enfatizava a lei e os filhos físicos de Abraão, sabemos
que o Antigo Testamento (especialmente visto à luz do Novo Testamento) não
ensinou a salvação por obras ou por ser um filho físico de Abraão. O Antigo
Testamento torna evidente que a maioria dos filhos físicos de Abraão eram
incrédulos. É claro que todos os que foram salvos no Antigo Testamento foram
salvos da mesma forma que Abraão — somente pela fé.
Portanto, como explicou Michael Horton: Quando lemos a Bíblia à luz de
seu enredo, as coisas começam a fazer sentido. Por trás de cada história, porção
de sabedoria, hino, exortação e profecia está o desdobramento do mistério de
Cristo e de sua obra redentiva. [1]

Cada passagem da Escritura deve ser entendida à luz de sua relação com a
linha geral da história bíblica. Essa é uma parte vital do método de interpretação
histórico-redentivo.
A Natureza Progressiva da Revelação
A narrativa bíblica foi revelada progressivamente. Embora o fundamento da
história da redenção tenha sido estabelecido nos primeiros capítulos de Gênesis,
o desenvolvimento completo da história foi sendo revelado pouco a pouco ao
longo dos milhares de anos seguintes.
Ao olharmos cronologicamente através de cada livro da Bíblia, a linha do
enredo fica mais densa e aprendemos algo mais sobre a história da redenção. À
medida que passamos pela narrativa bíblica, aprendemos mais sobre a serpente e
a descendência da mulher. Aprendemos mais sobre a natureza de Deus e sobre o
que ele requer do homem. Vemos até que ponto o homem caiu em Adão e que
desesperança existe no mundo. Aprendemos cada vez mais sobre a beleza do
Evangelho até recebermos a palavra final de Deus na pessoa e na vida do seu
Filho (Hebreus 1:2). É apenas até vermos a Cristo no Novo Testamento que
vemos a plena revelação de Deus.
Por essa razão, o Senhor disse: “Porque em verdade vos digo que muitos
profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós
ouvis, e não o ouviram” (Mateus 13:17). João Batista foi o maior dos profetas da
Antiga Aliança, não porque ele era fisicamente mais forte ou mais inteligente do
que os demais profetas. Ele era o maior simplesmente porque era o último deles.
Isso o tornou o maior porque o fez mais conhecedor do que todos os outros
profetas da Antiga Aliança. João Batista conseguiu ver algo que nenhum dos
outros profetas que vieram antes dele conseguiu: a vida e o ministério do
Messias.
Esse conhecimento imediato de Cristo superou de longe o conhecimento de
todos os outros profetas da Antiga Aliança. No entanto, como disse Jesus Cristo,
o menor santo do Novo Testamento tem ainda maior clareza e compreensão da
verdade do que João Batista (Lucas 7:28). Segundo Pedro, até mesmo os
profetas do Antigo Testamento sabiam que suas profecias teriam maior benefício
para os santos do Novo Testamento: “Aos quais foi revelado que, não para si
mesmos, mas para nós, eles ministravam…” (1 Pedro 1:12).
Por consequência, devido à natureza progressiva da revelação divina, é
essencial que busquemos entender a revelação anterior à luz da revelação
posterior. E, mais importante, porque o Novo Testamento é a palavra final de
Deus, é importante compreender o Antigo Testamento à luz do Novo
Testamento. Como Agostinho afirmou de modo célebre: “O Novo Testamento
está no Antigo Testamento velado; o Antigo está no Novo revelado”.
Mas isso não significa que o Novo Testamento reinterpreta o significado
original, gramatical e histórico do Antigo Testamento. Ao contrário, o Novo
Testamento oferece uma visão divina do significado original e pretendido pelos
autores do Antigo Testamento. Quando o apóstolo Paulo diz, por exemplo, que o
descendente prometido de Abraão é Cristo, podemos saber com certeza que esse
era quem Deus sempre teve em mente quando prometeu a Abraão um
descendente em Gênesis 17. E quando o autor de Hebreus nos diz que Abraão
buscava uma cidade celestial cujo artífice e construtor era Deus (Hebreus 11:10),
podemos saber com certeza que uma cidade celestial era o que Deus tinha em
mente quando chamou Abraão de sua própria terra para caminhar todos os seus
dias como peregrino e estrangeiro neste mundo. [2]

Em outras palavras, o Novo Testamento é o próprio comentário de Deus


sobre o Antigo Testamento. Há aproximadamente 353 citações diretas do Antigo
Testamento no Novo, o que compõe cerca de 5% do Novo Testamento. Além
disso, milhares de alusões ao Antigo Testamento estão no Novo, o que constitui
cerca de um terço dele. Portanto, o Novo Testamento não é construído apenas
sobre o Antigo Testamento, ele explica, interpreta e aplica o Antigo Testamento.
Conquanto o Novo Testamento não reinterprete o significado original do
Antigo Testamento, ele acrescenta luz e clareza. Os sacrifícios, o templo, a nação
de Israel, e outras coisas do gênero, recebem seu significado mais completo e
tipológico no Novo Testamento.
Assim, interpretar o Antigo Testamento inteiramente por regras históricas e
gramaticais independentes da luz do Novo Testamento é ignorar a visão e a
inspiração dos autores neotestamentários. Por essa razão, seria insensato para
nós, agora que temos acesso ao Novo Testamento, procurar compreender
plenamente o Antigo Testamento sem lê-lo através das lentes do Novo
Testamento.
A Analogia da Fé
Como toda Escritura é inspirada por um Deus que não pode se contradizer,
ela é harmoniosa. E por ser harmoniosa, a Escritura deve ser interpretada pela
Escritura. Esse princípio hermenêutico é conhecido como a analogia da fé.
Patrick Fairbairn explicou que “uma parte da Escritura não deve ser isolada
e explicada sem que se tenha em devida consideração a relação que ela tem com
outras partes”. Isso porque nem toda a Escritura é igualmente clara. Portanto, é
[3]

imperativo que utilizemos as passagens mais claras e mais diretas da Escritura


para guiar a nossa compreensão das passagens menos claras.
Por exemplo, porque o livro de Apocalipse, com sua linguagem
apocalíptica e simbólica, não é tão fácil de entender como a linguagem didática e
literal das epístolas de Pedro, precisamos ter certeza de que nossa compreensão
do livro do Apocalipse não contradiz o ensino mais claro de 2 Pedro 3, que nos
fornece uma das explicações mais explícitas dos eventos em torno da segunda
vinda de Cristo. Podemos estar certos de que o significado pretendido de
qualquer passagem difícil da Escritura nunca estará em contraposição a
passagens mais diretas dela.
Teologia Pactual
Outro motivo para buscarmos entender as diversas passagens da Escritura à
luz da história da redenção é porque ela foi revelada de modo progressivo na
Escritura através de pactos. Um pacto divino é uma relação jurídica
soberanamente estabelecida por Deus com o homem, baseada em amor e justiça
perfeitos. Em outras palavras, um pacto divino estabelece os termos para o
homem estar em um relacionamento com Deus.
Deus fez o homem à sua própria imagem para estar em um relacionamento
pactual com ele. Esse relacionamento foi estabelecido no jardim em perfeita
justiça. Depois que o homem pecou, esse relacionamento chegou ao fim. A
humanidade morreu para Deus em Adão e, nele, ela foi expulsa da presença
divina. Por Deus ter expulsado a humanidade de sua presença, se ele mesmo não
a tivesse buscado, não haveria esperança para ela. Mas Deus expulsou os
homens enquanto, simultaneamente, os buscava. Ele prometeu o Evangelho
enquanto prometia juízo sobre a serpente. Depois que a humanidade quebrou o
primeiro pacto, Deus prometeu fazer um novo pacto com eles — uma aliança
melhor, não baseada em obras, mas fundamentada na graça e na fé. Essa Nova
Aliança traria perdão do pecado, justiça e reconciliação pelas obras e pela morte
do descendente da mulher. A Nova Aliança ainda seria baseada em uma justiça
perfeita, mas seria a justiça de outro, a saber, de Cristo.
Além da Nova Aliança, que foi estabelecida pelo próprio sangue de Cristo,
outros pactos divinos foram revelados no Antigo Testamento: os pactos noético,
abraâmico, mosaico, levítico e o davídico. A natureza desses pactos e como eles
se relacionam entre si é vital para entender a linha histórica da Bíblia. Na
verdade, a Bíblia está dividida em duas partes — o Antigo Testamento/Antiga
Aliança e o Novo Testamento/Nova Aliança. Como a Antiga e a Nova Aliança
se relacionam entre si? Quais são as principais diferenças entre as duas alianças
fundamentais da história da redenção? Quanta continuidade e descontinuidade
existe entre os dois Testamentos? Como alguém responde a essas perguntas
moldará inevitavelmente a sua compreensão dos vários textos da Escritura.
Ninguém está isento disso. Portanto, é importante estudar os vários pactos da
Bíblia e entender as suas relações uns com os outros. [4]

Conclusão
O primeiro ponto do amilenismo é o método de hermenêutica histórico-
redentivo. Assim como a abordagem histórica-gramatical, a abordagem
histórica-redentiva procura compreender o significado pretendido do texto pelo
contexto gramatical e histórico relacionado a ele. Porém, além disso, o método
histórico-redentivo busca entender os vários textos da Escritura à luz de toda a
linha da história da redenção. Ele pretende entender o início da história à luz do
fim da história.
Para nossos propósitos, a fim de compreender a natureza e o tempo do reino
de Deus, é vital entendermos o propósito escatológico desse reino. O fim nos
ajuda a compreender o início. Isso é evidente porque a Bíblia tem um único
Autor e uma grande metanarrativa (linha histórica) centrada no Evangelho de
Jesus Cristo. Essa história da redenção tem sido progressivamente revelada no
tempo, levando a Escritura a interpretar a Escritura, o que molda a nossa
compreensão dos pactos bíblicos e sua relação de uns para com os outros. Em
tudo isso, a escatologia é uma parte vital da hermenêutica bíblica.
2
Os Crentes são os Filhos de Abraão

Quem Deus tinha em mente quando prometeu um herdeiro a Abraão? Tratava-se


de Ismael ou dos ismaelitas? Era Isaque? Os israelitas? Era Jesus Cristo? Ou
eram os crentes?
Ismael foi o primogênito de Abraão, então faria sentido que ele fosse o seu
herdeiro. A esposa de Abraão, Sara, sugeriu que Abraão tivesse um filho com
sua serva, Agar, para garantir um herdeiro para ele. O plano funcionou. Abraão,
em sua velhice, teve um filho com a mulher escrava, o que manteve viva a
linhagem de Abraão. Isso evitaria que toda a riqueza dele fosse dispersa entre
seus servos. E de Ismael vieram os ismaelitas, uma nação grande e poderosa
(Gênesis 21:18).
O segundo filho de Abraão foi Isaque. Ele era o filho de Sara, sua esposa.
Isaque se tornaria o pai de Jacó e o avô dos doze patriarcas de Israel. Como os
ismaelitas, os israelitas se tornariam uma grande nação.
Jesus também é um descendente de Abraão. E embora Jesus não tenha tido
filhos físicos, ele deu — através de sua vida, morte e ressurreição — vida para
todos os filhos espirituais de Abraão. E conquanto esses filhos espirituais não
pertençam a nenhuma nação geopolítica ou étnica, eles constituem os cidadãos
do reino de Deus.
Qual dos três — Ismael, Isaque ou Jesus — Deus tinha em mente quando
prometeu um descendente a Abraão? De qual dos três se pode dizer
corretamente: “Darei à tua descendência todas estas terras; e por meio dela serão
benditas todas as nações da terra” (Gênesis 26:4)? A quem Deus prometeu
conceder uma herança eterna?
1. A Ismael e aos ismaelitas
2. A Isaque e aos israelitas
3. A Jesus e aos crentes
Não foi a Ismael e aos Ismaelitas
Ao considerarmos a primeira opção, fica claro que Ismael e seus
descendentes físicos, os ismaelitas, não são os herdeiros das bênçãos prometidas.
Foi num ato de incredulidade, não de fé, que Abraão buscou suscitar um
herdeiro com a serva de sua esposa, Agar. A promessa que Deus fez a Abraão
deveria ser recebida pela fé, não pelas obras. Assim, Ismael não era o filho que
Deus tinha em mente quando prometeu a Abraão um herdeiro. Isso se torna
evidente quando Deus disse a Abraão para ouvir sua esposa, Sara, e expulsar
Agar e seu filho, Ismael, para o deserto: “E disse a Abraão: Ponha fora esta serva
e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com Isaque, meu filho”
(Gênesis 21:10). Abraão ouviu a Sara e expulsou Ismael, pois Deus disse que
seria através de Isaque que a descendência de Abraão seria nomeada (v. 12).
Não foi a Isaque e aos Israelitas
Se não foi a Ismael e aos ismaelitas, talvez tenha sido Isaque e os israelitas.
Deus não disse que seria através de Isaque que a descendência de Abraão seria
nomeada?
Os israelitas, pelo menos, pareciam pensar que eram os filhos prometidos
do pacto feito com Abraão. Eles não só podiam rastrear sua linhagem até seu pai
Abraão, mas receberam uma marca especial de identificação que os distinguia de
outros grupos étnicos no mundo: a circuncisão. Seu lugar especial no mundo foi
ainda mais demarcado quando Deus os escolheu dentre todas as nações do
mundo para que recebessem a sua lei (Êxodo 20). Por causa dessas três bênçãos
exteriores (sua lei, sua circuncisão e sua etnia), os judeus estavam confiantes de
que eles eram o povo de Deus.

Mas tais bênçãos exteriores não significam necessariamente que os judeus


eram o cumprimento do pacto abraâmico. Paulo deixou claro, em sua epístola
aos Romanos, que a posse exterior da lei, a circuncisão externa ou o nascimento
físico na família de Abraão não fazia de ninguém um herdeiro de Abraão.
Não a Posse Exterior da Lei
Em primeiro lugar, Paulo repreendeu os judeus por sua confiança na lei
(Romanos 2:12-24). É verdade que, de todas as nações do mundo, Deus escolheu
dar a sua lei, os Dez Mandamentos, a Israel (Êxodo 20). Embora Israel tenha
violado a lei imediatamente após recebê-la e embora continuassem a ser
marcados pela desobediência, eles se vangloriavam de ter a posse da lei: Eis que
tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e sabes
a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; e confias
que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instruidor dos néscios,
mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; tu, pois, que
ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve
furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que
abominas os ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que te glorias na lei, desonras a
Deus pela transgressão da lei? Porque, como está escrito, o nome de Deus é
blasfemado entre os gentios por causa de vós. (Romanos 2:17-24) Em outras
palavras, embora Israel tenha recebido a lei, eles não eram cumpridores da lei.
Muito pelo contrário. Desde a geração que foi trazida do Egito até a geração
destruída pelos romanos no cerco de Jerusalém em 70 d.C., os israelitas foram
caraterizados por pecado, rebelião, idolatria e incredulidade (Atos 7:1-52).
Embora tivessem a lei, eles não tinham obediência. Portanto, em vez de a
lei ser um motivo de orgulho, deveria ter sido um motivo para chorar e lamentar.
A lei não disse aos judeus que eles eram bons, mas revelou que eles estavam
mortos em suas ofensas e pecados. A lei mostrou que eles estavam debaixo da
ira de Deus, não sob o seu favor. A lei não foi dada a Israel para aumentar a sua
confiança em si mesmo, mas para destruí-lo. A lei deveria tê-los levado ao
arrependimento, não à autoconfiança.
A lei dizia: “Faça e viva”. Mas também dizia: “Maldito aquele que não
confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo” (Deuteronômio 27:26).
Ezequiel advertiu a Israel que Deus os mataria se não permanecessem em
obediência: Quando eu disser ao justo que certamente viverá, e ele, confiando na
sua justiça, praticar a iniquidade, não virão à memória todas as suas justiças, mas
na sua iniquidade, que pratica, ele morrerá (Ezequiel 33:13).
Porque Deus sabia que a lei não podia operar obediência naqueles que
estavam escravizados ao pecado. Ele não deu a lei aos judeus para que eles
tentassem obter obras de justiça (Romanos 3:20). Deus sabia que isso era uma
impossibilidade. Em vez disso, Deus deu a lei a Israel para lhes tirar a jactância e
colocá-los de joelhos (Romanos 3:19). Como os gentios, os judeus nasceram
escravizados ao pecado. Eles eram pecadores. Paulo deixou claro que “não há
um justo, nem um sequer” (v. 10). Dar a Israel a lei, escrita em pedra, não
mudaria seus corações de pedra.
Ao contrário, a lei foi dada a Israel para ser um aio. Deveria ser um
professor que os apontaria para longe de si mesmos para ver a sua necessidade
do filho prometido: Jesus Cristo (Gálatas 3:24).
Israel era tão orgulhoso que abusou da lei. Eles tomaram exatamente aquilo
que foi destinado a humilhá-los e o transformaram em um meio de justiça
própria e orgulho. Os judeus usaram exatamente aquilo que lhes dizia que não
eram melhores que os gentios para se sentirem superiores aos gentios. “Ao
contrário dos gentios sem lei, nós temos a lei” — foi assim que eles pensaram
sobre si mesmos.
Paulo não apenas repreendeu os judeus por seu mau uso da lei, mas os
repreendeu por seu orgulho em pensar que eram os únicos que possuíam a lei.
De acordo com os judeus, os gentios não tinham lei porque estavam sem lei. Os
gentios não conheciam nada melhor. Por outro lado, porque os judeus eram
filhos do pacto mosaico, eles não eram como os gentios ignorantes. Eles, pelo
menos, conheciam a diferença entre o certo e o errado.
Porém, este orgulho era infundado. Os judeus não tinham motivos para se
sentirem especiais. Mesmo os gentios conhecem a diferença entre o certo e o
errado, pois Paulo disse que Deus escreveu a sua lei na consciência deles
(Romanos 2:14-15). Assim, segundo Paulo, Israel não tinha motivos para pensar
que era melhor do que as nações pagãs. Ambos eram pecadores. Ambos estavam
destituídos da glória de Deus. Ambos estavam sob a ira de Deus. E ambos
haviam sido instruídos na lei de Deus. Tal jactância, portanto, era infundada.
Não a Circuncisão Externa
A segunda bênção da qual os filhos físicos de Abraão se vangloriaram era a
sua circuncisão. Não havia nada que identificasse o judaísmo de um judeu mais
do que a circuncisão — o sinal ou emblema de ser um filho de Abraão. Para os
judeus, a circuncisão era vital. Ela os distinguia como o povo pactual de Deus. A
circuncisão os separava e os diferenciava de todas as outras nações e grupos de
pessoas do mundo. Era tão importante para os judeus que aqueles que se
recusavam a ser circuncidados eram excluídos da comunidade da aliança
(Gênesis 17:14). No entanto, segundo Paulo, isso também não tinha nenhum
significado duradouro para identificar quem é o verdadeiro povo de Deus:
“Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu
és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão” (Romanos
2:25).
Isso não é apenas uma reinterpretação neotestamentária do significado da
circuncisão. Não, o Antigo Testamento deixa claro que a circuncisão não
transformava um filho físico de Abraão em um filho espiritual de Abraão.
Segundo Moisés, era necessário mais do que a circuncisão física para que um
filho físico de Abraão se tornasse um membro do povo de Deus. Na verdade,
Moisés ordenou aos israelitas que circuncidassem os seus corações
(Deuteronômio 10:16). A circuncisão espiritual, que é uma circuncisão do
coração, é necessária para que alguém seja justo diante de Deus.
Moisés sabia que tal ordem era impossível de ser cumprida. A circuncisão
interior do coração é algo que somente o Espírito Santo pode realizar
(Deuteronômio 30:6). É impossível para aqueles que são nascidos da carne bem
como para os que vivem na carne agradar a Deus (Romanos 8:8). Assim como é
impossível ser a causa do seu próprio nascimento natural, é impossível
circuncidar o seu próprio coração e ser a causa do seu próprio nascimento
espiritual.
Porque os nascidos da carne, mesmo os nascidos da carne de Abraão, não
podem agradar a Deus; e porque são membros da raça caída de Adão, eles
nascem sob a ira de Deus (Efésios 2:3). E até que os judeus circuncidassem os
seus corações, eles também não teriam esperança de escapar da ira de Deus
(Jeremias 4:4). Assim, Jeremias advertiu sobre o julgamento que certamente
viria sobre Israel: “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que castigarei a todo o
circuncidado [na carne]… [mas] incircunciso de coração” (Jeremias 9:25-26).
Então, que valor a circuncisão física tem para os judeus? Se a circuncisão
física não garantia a participação na herança de Abraão, que mérito ela tinha?
Como a lei, a circuncisão teria sido de grande valor se ela fosse usada
corretamente. Ao invés de a circuncisão ser um meio de autoconfiança, ela
deveria ter sido usada como motivo para rejeitar toda a confiança na carne. O
que Israel precisava, como evidenciado pela circuncisão física, era da
circuncisão interior do coração — uma circuncisão que eles não podiam realizar.
Eles deveriam saber por sua circuncisão física que não podiam agradar a Deus
em sua carne. A circuncisão deveria ter mostrado a sua necessidade do Espírito e
do Messias.
Confiar na circuncisão física, de acordo com Paulo, era o mesmo que
confiar na lei. Como os judeus deveriam saber que não podiam cumprir a lei,
eles também deveriam saber que não podiam se vangloriar em sua circuncisão.
Paulo disse: “Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a
lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão”
(Romanos 2:25). De acordo com Paulo, os judeus não poderiam afirmar
apropriadamente ser um verdadeiro judeu — um verdadeiro filho de Abraão —
só porque foram circuncidados na carne: “Porque não é judeu o que o é
exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne” (v. 28).
Então, quem é um judeu? Quem é o verdadeiro herdeiro de Abraão? Paulo
continuou a responder: “Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é
do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas
de Deus” (v. 29). É por isso que Paulo diz aos crentes, tanto judeus como
gentios: Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no
despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido
sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes
ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.
E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela
incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos
os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que
constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente,
encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades,
publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz (Colossenses 2:11-
15, ARA).
Essa é a circuncisão interior da qual Moisés falou. Essa é a circuncisão do
coração que só pode vir pela regeneração espiritual. Essa é a circuncisão interior
que vem somente pela graça de Deus e que remove qualquer confiança na carne.
“Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos
gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Filipenses 3:3).
Como é somente a fé que torna alguém um filho de Abraão, não há espaço
para a vanglória. A jactância dos judeus também abre a porta para que os gentios
incircuncisos possam ser introduzidos nas bênçãos pactuais de Abraão: Onde
está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da
fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei. É
porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também
dos gentios, certamente, visto que Deus é um só, que justifica pela fé a
circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão. Anulamos, pois, a lei pela fé? De
maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei (Romanos 3:27-31).
E se alguém argumentar que a circuncisão de Abraão foi um sinal e selo de
uma justiça imputada através da fé, tal pessoa deve se lembrar que Abraão teve
fé e foi justificado antes (não depois) de ter sido circuncidado. A ordem
cronológica da fé e da circuncisão de Abraão é um detalhe crucial para o
apóstolo Paulo, pois essa ordem indica que Abraão é o pai de todos os que creem
(tanto judeus como gentios) e são justificados mesmo sem a circuncisão: Vem,
pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a
incircuncisão? Porque dizemos que a fé foi imputada como justiça a Abraão.
Como lhe foi, pois, imputada? Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não
na circuncisão, mas na incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da
justiça da fé quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que
creem, estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes
seja imputada; e fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da
circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai
Abraão, que tivera na incircuncisão (Romanos 4:9-12).
Assim, o fato de Abraão ser justificado pela fé, sem circuncisão, mostra
como ele pode ser o pai de todos aqueles que são justificados pela fé (com ou
sem circuncisão).
Não o Nascimento Físico
Alguns podem objetar dizendo que a circuncisão não faz de um gentio um
verdadeiro judeu, assim como o batismo nas águas não faz de um pecador um
verdadeiro cristão nascido de novo. Um verdadeiro judeu é aquele que nasce
judeu. Um verdadeiro filho de Abraão não é um prosélito gentio que se identifica
com o povo judeu através da circuncisão, mas um filho natural que pode traçar a
sua linhagem biológica até Abraão. Esse é o verdadeiro judeu.
Esse não foi o caso apenas de Esaú; aparentemente não foi o caso da
maioria dos filhos físicos de Abraão. Embora muitos judeus possam rastrear a
sua linhagem familiar até Abraão, eles foram cortados da herança de Abraão por
causa da incredulidade, enquanto muitos gentios foram enxertados na herança
dele por causa da fé. Jesus disse: E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse
aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei
tanta fé. Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-
se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; e os filhos do
reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes
(Mateus 8:10-12).
Sabendo disso, o Senhor advertiu os judeus a não confiarem na linhagem
familiar. Só porque os judeus podiam rastrear a sua herança até seu pai Abraão
não significava que eles fossem herdeiros de Abraão. “E não presumais, de vós
mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo
destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mateus 3:9).
Para os judeus que confiavam em sua própria justiça, era difícil receber esse
ensino. A maioria dos judeus odiou a Cristo por causa disso. A sua rica herança,
sua posse da lei, sua circuncisão e até mesmo sua linhagem familiar, era
valorizada demais para que muitos deles as rejeitassem. Já é difícil o suficiente
que alguém se converta dos próprios pecados, porém é ainda mais difícil que
alguém se converta da justiça própria que imagina ter. Para os judeus, rejeitar o
seu próprio judaísmo, exatamente aquilo em que eles confiavam, e vê-lo como
lixo, como fez o apóstolo Paulo (Filipenses 3:8), era impossível. No entanto,
uma rejeição total de si mesmo é a exigência do Evangelho.
Os judeus tiveram ainda mais dificuldade em aceitar que os gentios
incircuncisos pudessem entrar na herança prometida sem nenhum merecimento.
Era difícil para os judeus conceberem que cães imundos pudessem receber a
herança de Abraão — e ainda mais difícil conceber que esses cães imundos não
tivessem que se submeter à circuncisão. De acordo com o filho mais velho,
simplesmente não é justo que o indigno filho pródigo receba a festa e o bezerro
cevado (Lucas 15:11-32).
Para um judeu natural se tornar um judeu espiritual, ele ou ela deveria
rejeitar seu direito de nascimento e suplicar por misericórdia em fé. Os gentios
indignos não têm que se tornar como os judeus indignos; os judeus indignos têm
que se tornar como os gentios indignos. Foi o indigno e arrependido cobrador de
impostos que deixou o templo justificado, de acordo com Cristo, e não o fariseu
arrogante (Lucas 18:9-14). A única maneira de se tornar um filho de Abraão,
segundo Paulo, era se tornar como os gentios imundos: Tornar-se um pecador
necessitado de perdão: Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do
mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da
fé. Porque, se os que são da lei são herdeiros, logo a fé é vã e a promessa é
aniquilada. Porque a lei opera a ira. Porque onde não há lei também não há
transgressão.
Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa
seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à
que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós, (como está escrito:
Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber,
Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já
fossem. O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele
tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a
tua descendência (Romanos 4:13-18).
Em resumo, da mesma forma que a circuncisão física não assegura a
circuncisão espiritual, o fato de nascer um judeu físico não faz de alguém um
judeu espiritual. Os verdadeiros filhos de Abraão são aqueles, e somente aqueles,
que têm a mesma fé que Abraão. Os verdadeiros filhos de Abraão são aqueles
que são nascidos do Espírito e não da carne. Os verdadeiros filhos de Abraão são
aqueles que não só têm a fé de Abraão, mas as boas obras de Abraão:
Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis
filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-me, a
mim, homem que vos tem dito a verdade que de Deus tem ouvido; Abraão não
fez isto (João 8:39-40).
A fé por si só não deixa de fora a maioria de Israel? Ao longo de sua
história, Israel foi caracterizado pela incredulidade e pela desobediência. A
incredulidade deles torna Deus infiel em sua promessa a Abraão? Deus é
obrigado a abençoar a nação de Israel por causa de sua promessa pactual aos
filhos de Israel? Paulo responde que não: Não que a palavra de Deus haja
faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem
descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua
descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os
filhos da promessa são contados como descendência” (Romanos 9:6-8).
Em outras palavras, Esaú é a evidência de que a promessa de Deus a
Abraão não o obriga a salvar cada um dos filhos físicos de Abraão. Esaú tinha
todas as qualificações para ser herdeiro de Abraão, ainda mais do que seu irmão
mais novo, Jacó. Mas, não, a herança não foi dada a Esaú, assim como não foi
dada a Ismael. Esaú, embora fosse um filho circuncidado de Abraão, não era o
herdeiro de Abraão. E isso deveria ter sido um alerta para todos os judeus.
Por consequência, segundo Paulo:
Não que a palavra de Deus haja faltado, pois nem todos os que são de Israel
são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos;
mas: Em Isaque será chamada a tua descendência” (Romanos 9:6-7).
Mas o fato de que “nem todos os que são de Israel são israelitas” não
significa que Deus seja infiel à sua promessa a Abraão. Isso porque os filhos da
promessa não foram escolhidos por direito de nascimento físico, mas por eleição
divina.
Assim, como os ismaelitas não eram o cumprimento pretendido da aliança
com Abraão, os israelitas incrédulos não eram os verdadeiros filhos de Deus.
Cristo é o Descendente de Abraão
Se os judeus incrédulos (e eles eram a maioria) não eram os filhos
prometidos a Abraão, então quem são os verdadeiros filhos de Abraão? Mais
importante ainda, como é possível que os não judeus se tornem os herdeiros
legítimos de Abraão?
A resposta não se encontra em uma reinterpretação do Novo Testamento ou
na espiritualização do pacto abraâmico, mas na redação original do pacto feito
com Abraão. Paulo volta a Gênesis 17 e examina as letras miúdas. Ele quer
interpretar cada palavra do pacto de forma precisa e literal. E o que Paulo aponta
sobre o pacto abraâmico é que Deus só tinha um filho em particular em mente
quando Deus prometeu um descendente a Abraão: “Ora, as promessas foram
feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando
de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” (Gálatas
3:16).
O que significa que Deus só tinha um filho em particular em mente quando
prometeu a Abraão um herdeiro? E ainda mais importante, quem é esse único
descendente de Abraão? Obviamente, não era Ismael ou Esaú. Mas também não
deve ter sido Isaque ou Jacó. Na verdade, não poderia ter sido Isaque ou Jacó
porque Deus prometeu tanto a Isaque (Gênesis 26:1-5) quanto a Jacó (Gênesis
35:9-15) que eles seriam o pai da descendência prometida. Se algum deles fosse
a descendência escolhida, então Deus não teria prometido que eles, como
Abraão, seriam o pai, o progenitor, do descendente prometido. Em outras
palavras, você não pode ser o filho prometido se você for o pai do filho
prometido.
Então, se o filho prometido não era Ismael, Isaque, Esaú ou Jacó, então
quem era? Quem era o filho prometido que Deus tinha em mente quando
prometeu um filho a Abraão, Isaque e Jacó? De acordo com Paulo, o
cumprimento do pacto abraâmico é Jesus Cristo: “Não diz: E às descendências,
como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é
Cristo” (Gálatas 3:16).
E como Isaque era o único herdeiro dos bens físicos de Abraão, Jesus é o
único herdeiro dos bens espirituais de Abraão. Isso é importante. Isaque não
recebeu nenhuma das heranças que Deus prometeu dar à descendência de
Abraão. Isso porque Abraão não teve que passá-la para Isaque. Pois é relatado
que Abraão peregrinou em uma terra estranha sem receber nenhuma das
heranças prometidas: “Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as
promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que
eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hebreus 11:13).
Abraão sabia que a herança prometida era algo muito maior do que a
riqueza temporária: “Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o
artífice e construtor é Deus” (Hebreus 11:10). Abraão sabia que a herança era
algo eterno. E porque essa herança celestial e eterna ainda não havia sido
recebida por Abraão, ele não tinha como passá-la para Isaque. Tudo o que
Abraão teve que dar a Isaque foram os bens temporais acumulados ao longo de
sua vida — posses que há muito já pereceram. É certo que não sobrou nada dos
pertences pessoais de Abraão para que Jesus herdasse.
Além disso, Israel, depois de sair do Egito, pode ter tomado posse da terra
de Canaã, mas ela também não era a cidade celestial que Deus tinha em mente,
porque a cidade celestial foi prometida a um único filho de Abraão: Jesus Cristo.
Embora os bens físicos de Abraão tenham sido transmitidos e divididos
entre seus filhos físicos, somente o Senhor Jesus, o descendente prometido a
Abraão, recebeu a plena herança espiritual dele. Como a descendência de
Abraão, Cristo foi constituído “herdeiro de tudo” (Hebreus 1:2). Desde as nações
do mundo até os confins da terra, tudo foi dado a Cristo como uma possessão
eterna (Salmos 2:8).
Mas como o fato de Cristo ser o único herdeiro traz bênçãos às nações do
mundo? Trazer bênçãos a todas as nações do mundo não era a promessa do pacto
abraâmico?
Embora Cristo não tivesse filhos biológicos, ele obteve justiça, vida e
ressurreição para todos aqueles que creem nele. Ele trouxe vida espiritual e
eterna para aqueles que Deus lhe havia dado, mesmo quando eles estavam
mortos em suas ofensas e pecados. A vida que Cristo proporciona é sobrenatural
— é uma vida que opera um novo nascimento mais miraculoso do que o
nascimento de Isaque. Embora Isaque tenha nascido quando Sara era velha e
estéril, os crentes nascem de novo quando estão mortos em seus pecados. O
nascimento de Isaque pode ter sido milagroso, mas ainda assim foi um
nascimento natural. O nascimento dos crentes é totalmente sobrenatural. Embora
a morte certamente alcance todos os filhos físicos de Abraão, todos seus filhos
espirituais “jamais morrerão” (João 11:26).
Somente por meio da fé, os crentes são unidos à própria justiça,
ressurreição e vida de Cristo. A vida de Cristo se torna a vida deles. A cidade
celestial e eterna prometida a Abraão foi assegurada pelo filho de Abraão (João
14:3). E por sua vida, morte e ressurreição, Cristo traz “muitos filhos à glória”
(Hebreus 2:10).
O interessante é que Cristo não toma a sua herança e a reparte até que se
acabe. Uma vez que Cristo ressuscitou dentre os mortos, ele não pode morrer
uma segunda vez. Assim, ele não deixa a sua herança a nenhum sucessor. Além
disso, Cristo não deixa de ser dono de tudo, pois ele concede tudo o que tem aos
seus seguidores.
Mas como Cristo pode manter o que ele concede? E como cada crente pode
receber não uma parte, mas a herança completa? Como cada crente pode receber
igualmente tudo o que pertence a Cristo?
A resposta a essas perguntas difíceis se encontra na natureza da salvação e
em como a fé une os crentes a Cristo. Quando os crentes são unidos a Cristo pela
fé, eles são unidos a tudo o que está em Cristo. Os crentes não recebem apenas
uma parte da vida e da justiça de Cristo; eles recebem a plena vida e justiça dele.
Ao serem unidos a Cristo, os crentes se tornam coerdeiros com Cristo. Tudo o
que pertence a Cristo pertence àqueles que estão em Cristo (1 Coríntios 3:21).
Dessa forma, Cristo mantém tudo o que ele dá aos seus seguidores.
E se Cristo é o único herdeiro de Abraão, então todos aqueles que estão
unidos a Cristo pela fé, tanto judeus crentes como gentios crentes, estão unidos à
herança plena de Abraão. “E, se sois de Cristo, então sois descendência de
Abraão, e herdeiros conforme a promessa” (Gálatas 3:29). Como Sam Storms
escreve: Como a igreja é o corpo de Cristo, do qual ele mesmo é o Cabeça, o que
Deus intencionou para ele, também intencionou para ela. O que é verdade a
respeito dele é verdade a respeito dela. Tanto Jesus como seu corpo, a igreja,
constituem o verdadeiro Israel em e para quem todas as promessas do Antigo
Testamento encontram seu cumprimento. [5]

Por essa razão, em Cristo não há diferença entre judeu e gentio (Gálatas
3:28). A herança prometida a Abraão é recebida pelos herdeiros de Abraão da
mesma forma que foi recebida pelo próprio Abraão. Mesmo Abraão se tornou
herdeiro da promessa não por etnia, obras da lei ou circuncisão: Vem, pois, esta
bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a incircuncisão?
Porque dizemos que a fé foi imputada como justiça a Abraão. Como lhe foi,
pois, imputada? Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não na circuncisão,
mas na incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé
quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que creem,
estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes seja
imputada; e fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da
circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai
Abraão, que tivera na incircuncisão (Romanos 4:9-12).
Assim, a herança não é por lei, circuncisão, genética ou direito de
nascimento, mas por promessa, e a promessa só pode ser recebida pela fé, tanto
por judeus quanto por gentios: Mas digo isto: Que tendo sido a aliança
anteriormente confirmada por Deus em Cristo, a lei, que veio quatrocentos e
trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a promessa. Porque, se a
herança provém da lei, já não provém da promessa; mas Deus pela promessa a
deu gratuitamente a Abraão (Gálatas 3:17-18).
E dessa forma, tanto judeus e gentios crentes (sem a lei, circuncisão e
genética) tornam-se os herdeiros e filhos de Abraão: Sabei, pois, que os que são
da fé são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de
justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo:
Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos
com o crente Abraão (Gálatas 3:7-9).
A Igreja Não Substitui Israel
Paulo queria deixar claro que os crentes não estavam tomando o lugar de
Israel. Isso não é uma teologia que “troca seis por meia dúzia”. Não é como se o
Novo Testamento encontrasse uma nova forma de compreender o significado
original do pacto abraâmico. Ao contrário, para explicar o significado original
do pacto abraâmico, Paulo compara o Israel físico com Ismael e os crentes com
Isaque: Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro
da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da
livre, por promessa. O que se entende por alegoria; porque estas são as duas
alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora,
esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora
existe, pois é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a
qual é mãe de todos nós. Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à
luz;
esforça-te e clama, tu que não estás de parto;
porque os filhos da solitária são mais
do que os da que tem marido.
Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque. Mas, como então
aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o
Espírito, assim é também agora. Mas que diz a Escritura? Lança fora a
escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o
filho da livre. De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da
livre (Gálatas 4:22-31).
Nesse texto, aprendemos que os israelitas físicos (sem fé) não são mais
filhos da promessa do que Ismael. Assim como Ismael, os israelitas físicos (1)
são filhos da escrava, (2) nascem escravos, (3) nasceram de um nascimento
natural, (4) não são filhos da promessa e (5) seriam “lançados fora”, pois “de
modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre”.
Além disso, a futura inclusão dos gentios no povo da aliança de Deus foi
profetizada no Antigo Testamento: Canta alegremente, ó estéril, que não deste à
luz;
rompe em cântico, e exclama com alegria,
tu que não tiveste dores de parto;
porque mais são os filhos da mulher solitária,
do que os filhos da casada, diz o SENHOR.
Amplia o lugar da tua tenda,
e estendam-se as cortinas das tuas habitações;
não o impeças; alonga as tuas cordas,
e fixa bem as tuas estacas.
Porque transbordarás para a direita e para a esquerda;
e a tua descendência possuirá os gentios
e fará que sejam habitadas as cidades assoladas. (Isaías 54:1-3) E essa profecia,
segundo Paulo, falava dos gentios que se tornariam os filhos de Abraão pela fé
(Gálatas 4:27). E em outro lugar, Paulo afirmou que Oséias profetizou o
acréscimo dos gentios. Em sua carta aos romanos, onde fala sobre Deus tendo
piedade daqueles que ele escolheu, Paulo inclui: Os quais somos nós, a quem
também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como
também diz em Oséias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada
à que não era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois
meu povo; aí serão chamados filhos do Deus vivo (Romanos 9:24-26).
E no concílio de Jerusalém, Tiago argumentou a partir das Escrituras do
Antigo Testamento em favor de que os gentios fossem aceitos. De acordo com
Tiago, os gentios não deveriam ser aceitos apenas na comunidade da aliança de
Deus, a circuncisão também não deveria ser exigida deles. Tiago disse: E com
isto concordam as palavras dos profetas como está escrito: Depois disto voltarei,
e reedificarei o tabernáculo de Davi, que está caído, levantá-lo-ei das suas
ruínas, e tornarei a edificá-lo. Para que o restante dos homens busque ao Senhor,
e todos os gentios, sobre os quais o meu nome é invocado, diz o Senhor, que faz
todas estas coisas, conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as
suas obras (Atos 15:15–18).
“Tiago declara”, segundo W. J. Grier, “que essa reedificação do tabernáculo
de Davi está ocorrendo agora na visitação de Deus aos gentios para suscitar
dentre eles um povo para o seu nome”. [6]

Assim, o Antigo Testamento ensinou que nem todo Israel é o verdadeiro


Israel. Também ensinou que os filhos de Abraão incluiriam os gentios
incircuncisos. Isso não é teologia de substituição, nem a igreja (judeus e gentios
crentes) recebeu uma comissão que nunca havia sido destinada a ela. Não, esse é
o cumprimento real, literal e intencional do pacto abraâmico.
A promessa era que na descendência de Abraão — Jesus Cristo — todas as
nações da terra seriam abençoadas (Atos 3:25). A promessa era que Deus faria
de Abraão o pai de muitas nações (Gênesis 17:5). A herança prometida não era
algo temporal, mas eterno. Assim, a igreja, como constituída por aqueles que
têm fé em Cristo, é o verdadeiro Israel de Deus como ensinado pelo Antigo e
pelo Novo Testamento.
Conclusão
O primeiro ponto do amilenismo é a hermenêutica histórico-redentiva, que
afirma que o fim da história nos ajuda a entender o início dela. E ver o
cumprimento no Novo Testamento do pacto abraâmico nos ajuda a entender o
segundo ponto do amilenismo — que nem todo Israel físico é o Israel espiritual.
Os crentes que estão unidos a Cristo — a igreja, que consiste tanto de judeus
como de gentios — são os verdadeiros filhos de Abraão. Ser um filho físico de
Abraão não é o que importa. Não é a lei ou a circuncisão que faz de uma pessoa
um filho de Abraão, mas a fé em Cristo. As promessas são recebidas somente
pela fé. E essas promessas não são meramente para judeus crentes, mas se
estendem aos gentios crentes. Através de Cristo, todos os crentes, tanto judeus
quanto gentios, são filhos de Abraão e herdeiros das promessas.
3
A Igreja é o Reino Davídico

No primeiro ponto do amilenismo, aprendemos que o significado histórico e


gramatical de um texto será consistente com a linha geral da história da
redenção. Por essa razão, no segundo ponto do amilenismo, entendemos que os
filhos que foram prometidos a Abraão são aqueles, e somente aqueles, que estão
unidos a Cristo em fé. Agora, neste capítulo, ao olharmos para o terceiro ponto
do amilenismo, veremos que o reino prometido a Abraão, e novamente
prometido a Davi, é (no presente) um reino espiritual.
E isso está realmente no cerne do amilenismo, sendo o que o separa do pré-
milenismo e do pós-milenismo. Os amilenistas veem o reino de Deus como
consistindo apenas de crentes nascidos de novo sem nenhum governo terreno,
soldados militares ou armamento. Somente aqueles que voluntariamente se
prostraram em submissão ao senhorio do Rei Jesus estão no reino dos céus e
desfrutam da verdadeira unidade e da paz com Deus e uns com os outros. E
porque o reino dos céus consiste apenas de crentes, é um reino eterno que não
tem fim. Todas as outras nações cairão, mas o reino de Deus, que não foi
estabelecido por mãos humanas, durará por toda a eternidade. E um dia, com a
vinda dos novos céus e da nova terra, a glória de Deus cobrirá o mundo como as
águas cobrem o mar.
Para compreender a natureza espiritual do reino de Deus em seu estado
atual, precisamos examinar os pactos abraâmico e davídico e depois ver como o
reino prometido a eles foi estabelecido por Cristo, o filho de Abraão e o filho de
Davi, na Nova Aliança.
O Reino Prometido no Pacto Abraâmico
Deus chamou Abraão de seu país de origem e prometeu transformá-lo em
uma grande nação (Gênesis 12:2). Deus também prometeu dar a Abraão um
povo e um território (Gênesis 17:1-8).
Após serem trazidos do Egito, os filhos físicos de Abraão se tornaram uma
nação (Êxodo 19—20). No entanto, eles não só provaram ser caracterizados pela
incredulidade, rebelião e idolatria, como também experimentaram somente
pequenos períodos de relativa paz. A guerra com outras nações e as lutas internas
entre si marcaram a história de Israel. A nação de Israel até mesmo se dividiu
após o reinado de Salomão, e cada parte (Israel e Judá) acabou sendo levada ao
cativeiro estrangeiro, e jamais foram totalmente restauradas.
Certamente esse não foi o reino prometido a Abraão. No mínimo, Abraão
esperava algo mais glorioso e celestial. Pela fé, Abraão “esperava a cidade que
tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus” (Hebreus 11:10).
Abraão desejava “uma pátria melhor, isto é, a celestial” (v. 16).
O Reino Prometido no Pacto Davídico
O reino celestial prometido ao filho de Abraão é o mesmo reino prometido
ao filho de Davi. Depois de edificar para si mesmo uma casa magnífica, o rei
Davi sentiu-se culpado por Deus habitar em uma tenda. Por que o rei deveria
morar em uma casa mais gloriosa do que a de Deus? Assim, Davi determinou
construir uma casa — um templo, uma morada — para Deus.
Mas o interessante é que Deus disse a Davi que não. Ao invés de Davi
edificar uma casa para Deus, Deus é quem prometeu edificar uma casa para
Davi: E fui contigo, por onde quer que foste, e destruí a teus inimigos diante de
ti; e fiz grande o teu nome, como o nome dos grandes que há na terra. E
prepararei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei, para que habite no
seu lugar, e não mais seja removido, e nunca mais os filhos da perversidade o
aflijam, como dantes, e desde o dia em que mandei que houvesse juízes sobre o
meu povo Israel; a ti, porém, te dei descanso de todos os teus inimigos; também
o Senhor te faz saber que te fará casa (2 Samuel 7:9-11).
Essa não era apenas uma casa para Davi, mas um lugar de habitação para
todo o povo de Deus. Onde quer que estivesse localizado, esse seria um lugar de
segurança, paz e descanso para o povo de Deus.
A casa de Davi não apenas incluía um lugar seguro de habitação para o
povo de Deus, mas também um futuro filho. Deus também prometeu dar ao filho
de Davi um reino. Esse reino abrigaria a casa e o lugar de habitação de Deus:
Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei
levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas
entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e
confirmarei o trono do seu reino para sempre (2 Samuel 7:12-13).
Em outras palavras, a casa que abriga a habitação de Deus seria uma
morada, um reino, onde Deus e o povo de Deus habitariam juntos em perfeita
paz. Ou seja, com Deus construindo uma casa para Davi (um lugar para Davi e o
povo de Deus habitarem em paz) e com o filho de Davi construindo uma casa
para Deus (um lugar onde Deus habitará com o seu povo) a aliança davídica
prometia ser um reino onde Deus e o homem habitariam juntos em perfeita paz.
Assim, essa casa (onde Deus e o homem habitariam juntos) seria construída por
Deus e pelo filho de Davi — o Deus-homem.
Embora Davi quisesse construir uma casa para Deus em seu reino, Deus
prometeu construir uma casa para Davi, dando a seu filho um reino que seria
uma habitação tanto para Deus quanto para o seu povo. Esse reino futuro seria
um reino eterno de paz, onde Deus e seu povo viveriam harmoniosamente juntos
para sempre.
Ora, isso realmente soa como o céu na terra — onde Deus habita com o seu
povo por toda a eternidade. De qualquer forma, esse reino ultrapassa muito os
reinos deste mundo, pois possui uma habitação melhor, um rei melhor, uma paz
melhor e um templo melhor. Daniel profetizou sobre a glória e a eternidade
desse reino vindouro em sua interpretação do sonho de Nabucodonosor: Mas,
nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais
destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos
esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre, da maneira que viste que do
monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o
bronze, o barro, a prata e o ouro; o grande Deus fez saber ao rei o que há de ser
depois disto. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação (Daniel 2:44-45).
Assim, vemos que o reino de Deus seria diferente de todos os outros reinos
do mundo. Ele seria estabelecido por Deus. Seria um reino eterno e um reino de
descanso. Seria um reino, uma cidade e uma casa feitas sem auxílio de mãos
humanas. Seria um reino onde Deus habitaria para sempre com o seu povo em
perfeita paz.
O Reino de Deus Estabelecido na Nova Aliança
Geração após geração de descendentes de Abraão passaria sem que nenhum
reino celestial fosse estabelecido. Embora a nação de Israel tenha experimentado
breves e eventuais períodos de descanso, eles também foram atormentados por
várias guerras ao longo de sua história. Eles guerrearam continuamente. Eles
pelejaram não apenas com outras nações, mas também entre si. A breve paz que
desfrutaram durante o reinado de Salomão logo foi dilacerada pela divisão do
reino. Eventualmente, ambas as partes, por causa de sua incredulidade, foram
totalmente derrotadas e levadas ao cativeiro estrangeiro.
É certo que qualquer medida de paz que Israel possa ter experimentado não
era a paz prometida a Davi. Certamente a casa que Deus prometeu construir a
Davi não era a casa que caiu diante dos babilônios. E certamente a nação de
Israel não era o reino eterno que Deus havia prometido dar ao filho de Davi.
De toda forma, na época em que Cristo nasceu, a nação de Israel havia
perdido há muito tempo qualquer soberania e liberdade nacional. Embora Israel
tenha provado que não era o reino eterno, Deus não esqueceu a sua promessa a
Abraão e a Davi. Lembrando-se de sua promessa, Deus levantou João Batista, o
último dos profetas da Antiga Aliança, para preparar o caminho para o Rei
prometido. João Batista veio pregando uma mensagem simples: “Arrependei-
vos, porque é chegado o reino dos céus” (Mateus 3:2).
João Batista sabia que a profecia de Isaías feita muito tempo atrás havia se
cumprido na cidade de Davi: Porque um menino nos nasceu, um filho se nos
deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome:
Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.
Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de
Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça,
desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto (Isaías
9:6-7).
Com tal conhecimento, João Batista pregou as boas novas do Reino de
Deus. E um dia, enquanto João estava pregando, o descendente de Abraão e o
filho de Davi veio a ele para ser batizado.
Após ser batizado por João, Cristo começou o seu ministério público
pregando a mesma mensagem que João: “Arrependei-vos, porque é chegado o
reino dos céus” (Mateus 4:17). Embora centenas de anos tivessem se passado
desde que Deus prometeu um reino a Abraão e a Davi, finalmente havia chegado
o momento de Deus cumprir a sua promessa. “O tempo está cumprido”,
proclamou o Senhor, pois “o reino de Deus está próximo”. Agora era o momento
de todos se arrependerem e crerem no Evangelho (Marcos 1:15).
Infelizmente, muitos dos líderes de Israel — os escribas e os fariseus — não
queriam um reino assim. Os escribas e os fariseus não queriam um reino que
fosse edificado sobre a mensagem do Evangelho. Embora estivessem dispostos a
tomar o poder e o controle terreno para a nação de Israel, não estavam
interessados em renunciar ao poder que eles imaginavam ter. Eles queriam
governar sem antes se submeter. Eles queriam um reino, mas não o Evangelho
do reino. Eles queriam um rei para vencer os romanos, mas não um rei para
vencer os seus corações pecaminosos. Eles, como muitos antes deles, desejavam
poder e riqueza. Eles estavam mais preocupados com a libertação de Roma do
que com a libertação de Satanás, do pecado e de sua carne pecaminosa. Em seu
orgulho, eles desejavam governar o mundo em vez de, com humildade, ter Cristo
governando as suas vidas. Eles realmente não queriam a paz com Deus.
Em seu desejo por liberdade política, eles estavam ansiosos para nomear
um líder político para si mesmos. Alguns dos judeus desejavam tanto um
governante terreno que procuraram forçar Jesus a ser o rei deles (João 6:15).
Mas Cristo não tinha nenhum desejo de ser um rei terreno sobre os não
regenerados. Ele não tinha a aspiração de liderar uma insurreição de judeus
ímpios na batalha contra os romanos ímpios.
Cristo tinha como objetivo um inimigo mais perigoso. Ele não estava
interessado em ir à guerra “contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os
principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século,
contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6:12).
Cristo estava interessado em vencer o domínio de Satanás, não o Império
Romano. Era Satanás, não César, que havia escravizado a raça humana. Cristo
não estava preocupado com um pequeno líder marionete em Roma, mas fitava os
olhos no maligno que manipulava os seus fios por trás das cortinas.
Cristo veio para enfrentar o grande dragão vermelho. Ele veio para fazer
guerra contra o inimigo que derrubou Adão e Eva. Ele estava pronto para
guerrear contra aquele que escravizou cada alma em cada geração desde a queda
do homem. Pois desde a queda, o Diabo havia mantido as nações do mundo na
escuridão. Cada cidadão do mundo havia sido cegado pelo Príncipe das trevas.
Para que Cristo vencesse Satanás e roubasse os cativos dele, ele precisava
de algo mais poderoso do que um exército armado com escudos e espadas.
Mesmo a melhor força militar seria impotente para vencer o dragão vermelho.
Um rei liderando uma força militar poderia ter conquistado Roma, mas tal
exército teria sido totalmente ineficaz para conquistar o Príncipe das potestades
do ar que opera em todos os filhos da desobediência (Efésios 2:2).
Cristo não estava interessado em construir um reino com incrédulos. A
nação de Israel havia provado que era impossível que incrédulos obedecessem a
Deus. É impossível que pecadores se submetam às leis do reino dos céus. As
leis, a legislação e o governo político não têm poder para governar sobre a
consciência. A circuncisão do coração não é administrada por leis escritas em
pedra. É o Evangelho, não a lei, que faz nascer os pecadores no reino. Os não
regenerados estarão sempre em guerra com Deus, não importa quantas leis
justas, restrições e punições sejam colocadas sobre eles. Não pode haver paz
para os ímpios (Isaías 48:22). A luz e as trevas não têm nada em comum (2
Coríntios 6:14). Seria mais fácil para um leão se deitar ao lado de um cordeiro
do que para o ímpio se deitar ao lado de Cristo. O reino de Deus não pode ser
uma mistura de cidadãos regenerados e não regenerados.
Para que o reino de Deus venha, o reino das trevas deve cair. Para que haja
um reino de paz, esse reino deve ser povoado apenas com aqueles cujos corações
pecaminosos foram conquistados pelo Rei. Somente quando os pecadores forem
renovados no homem interior pelo poder do Evangelho é que haverá paz entre
Deus e o homem. É por isso que Jesus disse que é necessário nascer de novo
para poder entrar no Reino de Deus (João 3:3). Portanto, Jesus não veio para
estabelecer um reino terreno. “Meu reino”, disse Cristo, “não é deste mundo; se
o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não
fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (João 18:36).
Em vez de construir um reino a partir dos filhos físicos de Abraão, Cristo
veio para construir um reino a partir dos filhos espirituais de Abraão. Mas para
que Cristo estabelecesse tal reino, ele teve primeiramente que destronar o
maligno. Ele teve que resgatar os filhos espirituais de Abraão das fortes garras
do grande enganador. Se ele vai habitar com e em seu povo, então ele deve antes
purificar seu próprio povo eleito.
Antes que o homem exterior possa ser devidamente purificado, o homem
interior tem que ser renovado. Da mesma forma, antes que o mundo pudesse ser
purificado de sua corrupção, o poder de Satanás deveria ser destruído. E foi por
essa razão que o descendente da mulher veio ao mundo para esmagar a cabeça
da serpente sob seus pés.
Quando Cristo começou a expulsar demônios em seu ministério terreno, ele
anunciou que o reino de Deus havia chegado (Mateus 12:28). Ao invés do reino
dos céus se manifestar fisicamente, como alguns supunham que era o que
aconteceria de imediato (Lucas 19:11), ele viria espiritualmente, uma conversão
de cada vez. Ao contrário de outros reinos terrenos, “o reino de Deus”, disse
Cristo, “não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali”
(17:21). Em vez disso, Cristo está edificando lentamente o seu reino, despojando
o reino das trevas de seus cidadãos. Cristo está lentamente povoando o reino dos
céus através do novo nascimento.
Embora o reino de Deus não venha “com aparência exterior” (Lucas 17:20),
aqueles que nascem de novo podem vê-lo pela fé (João 3:3); e eles não só veem
o reino, mas, pela fé, possuem o reino de Deus dentro deles (Lucas 17:21). A lei
do reino foi derramada em seus corações (Romanos 5:5) e o Rei do reino veio
habitar ali pela fé (Efésios 3:17).
Assim, enquanto as nações do mundo estão travando uma guerra contra o
ungido de Deus, os ungidos de Deus estão edificando o reino dele enquanto
vivem nelas. Cristo está tomando de cada nação e grupo de pessoas aqueles que
eram prisioneiros de Satanás.
Contudo, antes que o reino prometido seja estabelecido, o maligno teve que
ser expulso. O poder de Satanás teve que ser vencido antes que o Evangelho
pudesse marchar através dos portões do inferno. E foi exatamente isso que Cristo
fez no Calvário. No exato momento em que as coisas pareciam mais tenebrosas,
em uma velha rude cruz, o descendente da mulher, o herdeiro de Abraão e o
filho de Davi derrotou definitivamente o maligno. Cristo, em sua morte, no
momento de sua maior fraqueza, expulsou aquele que havia enganado o mundo.
Em sua morte, ele destruiu aquele que tinha o poder da morte e libertou “todos
os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão”
(Hebreus 2:14-15). Ao fazê-lo, “despojou os principados e potestades, os expôs
publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Colossenses 2:15). Cristo Jesus
entrou no acampamento do inimigo e tomou aqueles que eram cativos do
Príncipe das trevas (Efésios 4:8). Ele “despojou os principados e potestades, os
expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo”.
Embora Satanás tenha ferido o calcanhar de Cristo, Cristo desferiu um
golpe mortal à cabeça de Satanás. Embora Satanás continue rondando como um
leão em busca de quem possa devorar, ele é um leão ferido cujo poder de engano
foi grandemente prejudicado. O manto de escuridão que cobre o mundo foi
rasgado. A luz do Evangelho agora é capaz de brilhar através das fendas nos
corações dos homens. Agora que Satanás foi “expulso” por Cristo ao ser
“levantado da terra”, Jesus está atraindo “todas as pessoas” para si mesmo (João
12:31-32).
Foi por essa razão que Cristo veio ao mundo: “Para abrir os olhos dos
cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas” (Isaías
42:7). Agora que Satanás foi despojado de seu poder, todas as coisas foram
colocadas em sujeição a um homem, o filho de Davi (Hebreus 2:8). E agora que
todo poder no céu e na terra foi dado ao Filho do Homem, ele ordena que o seu
povo vá por todo o mundo e anuncie o Evangelho (Mateus 28:18-20).
Pela autoridade de Cristo, a igreja foi encarregada de levar o Evangelho do
reino a todas as nações e grupos de pessoas do mundo. Não há lugar ou região
que esteja fora dos limites. O apóstolo Paulo, por exemplo, foi enviado aos
gentios “para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder
de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre
os que são santificados pela fé em mim” (Atos 26:17-18).
O Evangelho não está mais restrito à nação de Israel. Antes da cruz, Deus
deixou os gentios a tatearem na escuridão, mas agora depois da cruz, como
Paulo pregou aos atenienses, Deus ordena a todos em toda parte que se
arrependam de seus pecados e se ajoelhem diante do Rei Jesus (Atos 17:30).
Desde sua primeira vinda, Cristo, através do testemunho evangélico de seu
povo, tem assaltado as portas do inferno e resgatado os filhos prometidos de
Abraão de todas as nações, tribos e grupos de pessoas em todo o mundo. Ele
continuará a reunir seu povo até o final dos tempos (Mateus 28:20). Embora
Satanás continue enfurecido, ele não é mais capaz de impedir que a luz do
Evangelho penetre nos corações daqueles que Deus havia prometido há muito
tempo dar a Abraão.
Por causa da vitória de Cristo sobre Satanás, o Evangelho será vitorioso
sobre os corações pecaminosos de seu povo escolhido: “Pois é o poder de Deus
para salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1:16). A morte de Cristo
garantiu a vitória. O poder do Evangelho sai pelo mundo de trevas como um
cavaleiro em um cavalo branco, “vitorioso, e para vencer” (Apocalipse 6:2). Não
a maior parte, mas todo o poder e autoridade no céu e na terra foram dados ao
Rei Jesus. Pois ou Cristo tem todo o poder ou ele não tem nenhum. Ou ele já está
governando e reinando, ou sua primeira vinda foi um fracasso.
Mas sabemos que sua primeira vinda não foi um fracasso. Sabemos que ele
cumpriu todos os seus objetivos. E ao vencer a sepultura, ele ressuscitou dos
mortos para ocupar seu lugar de direito no trono de Davi — ele fez isso quando
se sentou à direita de Deus no céu. Ao ver esse poder sendo derramado no dia de
Pentecostes, Pedro proclamou que o tão esperado filho de Davi está agora
sentado no trono de Davi como Senhor e Cristo: Homens irmãos, seja-me lícito
dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e
entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que
Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo
a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previsão,
disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a
sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos
testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai
a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque
Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor:
Assenta-te à minha direita,
até que ponha os teus inimigos
por escabelo de teus pés.
Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós
crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo (Atos 2:29-36).
Conclusão
O filho de Davi não está somente no trono de Davi, ele reina e continuará a
reinar no trono de Davi até que tenha derrotado todos os seus inimigos (1
Coríntios 15:25). No entanto, antes que volte para derrotar o último inimigo, a
morte, ele continuará a subjugar o coração de seu próprio povo, resgatando-os do
poder da serpente. E ele continuará a reinar até ter reunido o último filho
prometido de Abraão ao reino eterno.
E quando ele terminar de edificar o seu reino e o povoado com os filhos de
Abraão, ele subjugará os ímpios enquanto destrói e purifica o mundo com fogo.
Então, quando tudo estiver perfeitamente restaurado, Cristo entregará o reino a
seu Pai como uma noiva imaculada, santa e sem mancha. Depois disso, todas as
lágrimas serão enxugadas e Cristo Jesus habitará para sempre com seu povo na
terra prometida — os novos céus e a nova terra. E isso nos leva ao quarto ponto
do amilenismo.
4
A Nova Terra é a Terra Prometida

Dizer que o reino de Deus é espiritual e celestial por natureza não é dizer que o
reino não será um dia físico por natureza. Embora Abraão, pela fé, estivesse
procurando uma cidade celestial, foi o mundo que Deus prometeu dar a ele
(Romanos 4:13). Não só lhe foi prometida a terra que ele peregrinava, mas a
Abraão foi prometido tudo o que existia ao norte, ao sul, ao leste e ao oeste
como uma herança eterna (Gênesis 13:14-15). Assim, parece que a cidade
celestial e eterna que Abraão pretendia herdar um dia estaria localizada sobre a
terra.
Bem, pelo menos assim parece, quando consideramos o fato de que a terra
prometida seria uma herança física: “Porque toda esta terra que vês, te hei de dar
a ti, e à tua descendência, para sempre” (v. 15). Embora se possa argumentar que
essa herança deveria permanecer na família de Abraão de uma geração para
outra até o final dos tempos, há mais razões para acreditar que essa promessa
ainda não foi cumprida. Há oito razões para acreditar que a terra prometida é o
novo céu e a nova terra.
Primeira, a terra prometida era a terra física — a mesma terra que Abraão
viu com seus próprios olhos: “Porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti”.
Novamente, Deus disse a Abraão: “Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos
caldeus, para dar-te a ti esta terra, para herdá-la” (Gênesis 15:7).
Segunda, a promessa deveria ser cumprida a Abraão, não apenas aos filhos
de Abraão: “Porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua
descendência” (Gênesis 13:15). A promessa não era que Deus daria a terra a
Abraão vicariamente através de seus filhos, mas que Deus a daria tanto a Abraão
como aos filhos de Abraão para que a desfrutassem.
Terceira, Abraão ainda não herdou nenhuma parte desta terra. A única terra
que Abraão possuía era o pequeno terreno que comprou (não recebeu ou herdou
de Deus) de Efrom em Macpela para enterrar sua esposa Sara (Gênesis 23:10-
16). Com relação à terra prometida, Abraão viveu e morreu sem receber um
palmo dela. A Bíblia diz que ele peregrinou por toda a sua vida como estrangeiro
sem receber aquilo que lhe foi prometido (Hebreus 11:13).
Quarta, a terra seria uma herança eterna: “Porque toda esta terra que vês, te
hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre”. Em outro lugar, diz:
Lembrou-se da sua aliança para sempre,
da palavra que mandou a milhares de gerações.
A qual aliança fez com Abraão,
e o seu juramento a Isaque.
E confirmou o mesmo a Jacó por lei,
e a Israel por aliança eterna,
Dizendo: A ti darei a terra de Canaã,
a região da vossa herança (Salmos 105:8-11).
No tempo em que Abraão herdar a terra, ela nunca lhe será tirada. Quando
Abraão herdar a terra, ele habitará nela para sempre.
Quinta, isso não só implica fortemente que a cidade celestial é uma cidade
eterna, mas que Abraão teria vida eterna, ou então não poderia desfrutá-la para
sempre.
Sexta, isso infere que os filhos de Abraão, que também herdam a terra,
viverão para sempre. Junto com seus filhos, Abraão desfrutará a vida eterna na
terra prometida. E como Abraão, todos os verdadeiros filhos de Abraão, pela fé,
viraram as costas para este mundo e colocaram sua esperança em um lar mais
duradouro: Porque, os que isto dizem, claramente mostram que buscam uma
pátria. E se, na verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam
oportunidade de tornar. Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por
isso também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já
lhes preparou uma cidade (Hebreus 11:14-16).
Sétima, para que os filhos de Abraão possam desfrutar para sempre da terra
prometida, então esses herdeiros devem ser os filhos de Abraão pela fé. Pois
somente aqueles que têm fé, como Abraão, terão a vida eterna. Como explicado
por Paulo, “porque a promessa a Abraão e sua descendência de que seria
herdeiro do mundo não veio pela lei, mas pela justiça da fé” (Romanos 4:13).
Oitava, consequentemente, para que a terra prometida seja toda a terra, o
termo terra prometida deve se referir aos novos céus e à nova terra — um lugar
onde somente a justiça e o povo justo habitam (2 Pedro 3:13). E a Bíblia não fala
da nova criação como a morada eterna dos filhos de Deus (Romanos 8:21)? E
Jesus não disse que os mansos herdarão a terra (Mateus 5:5)?
Assim, a ideia de que a nova terra é a terra prometida é o quarto ponto do
amilenismo.
Realização Parcial
Se a nova criação é a terra prometida, as promessas do pacto abraâmico
foram cumpridas apenas parcialmente. Vimos, no terceiro ponto do amilenismo,
que o reino de Deus já foi inaugurado nos corações dos filhos espirituais de
Abraão. O reino de Deus é atualmente espiritual. Em alguns aspectos, grande
parte do pacto abraâmico já foi realizado. No entanto, se a nova terra é a terra
prometida, ainda falta algo. Nós, como filhos espirituais de Abraão, pela fé,
aguardamos a ressurreição física e a recriação dos novos céus e da nova terra.
Até lá, nós vivemos neste mundo como peregrinos e forasteiros.
Já, mas Ainda Não
Esse cumprimento parcial do pacto abraâmico é muitas vezes explicado
pela concepção “já, mas ainda não” do reino de Deus. Por exemplo, o reino de
Deus já foi inaugurado, mas ainda não foi consumado. Embora a plenitude das
promessas do Antigo Testamento não será realizada até depois da segunda vinda
de Cristo, os primeiros frutos da era vindoura já brotaram na vida dos crentes.
George Ladd explicou isso desta forma: A igreja primitiva encontrou-se
vivendo em uma tensão entre a realização e a expectativa — entre “já” e o
“ainda não”. A era da realização chegou; o dia da consumação ainda está no
futuro.[7]

Para entender melhor o cumprimento já, mas ainda não (parcial) das
promessas do Antigo Testamento, é importante ver que (1) há um cumprimento
em dois estágios do reino de Deus e (2) há duas vindas de Cristo, (3) duas eras e
(4) dois reinos.
A Realização em Dois Estágios (Espiritual e Físico) do Reino de Deus
A concepção “já, mas ainda não” do reino implica que há um cumprimento
em dois estágios do reino de Deus que foi prometido a Abraão e Davi. O reino
de Deus foi inaugurado na primeira vinda de Cristo, embora não tenha sido
fisicamente consumado nos novos céus e na nova terra, o que acontecerá na
segunda vinda de Cristo. Os cidadãos do céu já receberam a vida eterna, embora
seus corpos permaneçam sob a maldição da queda. Cristo já conquistou e
subjugou os corações de seu povo, mas ele ainda não conquistou e subjugou
completamente as nações e removeu a maldição que mantém a criação em
sujeição.
De acordo com Paulo, toda a criação está gemendo junto com aqueles de
nós que têm as primícias do Espírito. Paulo explicou que estamos gemendo
interiormente “enquanto esperamos ansiosamente “a adoção, a saber, a redenção
do nosso corpo” (Romanos 8:19-23). Embora nos tenham sido dadas algumas
das promessas, ou seja, as primícias do Espírito, a plena herança de Abraão
ainda nos aguarda.
Embora o homem interior tenha sido redimido, o corpo ainda está por ser
glorificado. Da mesma forma, embora algumas das promessas de Abraão
estejam se tornando realidade — como, por exemplo, Deus chamando os filhos
de Abraão de cada nação — a herança completa, como a terra prometida, ainda
não se materializou. O reino de Deus agora é espiritual, mas um dia será também
físico — com a vinda dos novos céus e da nova terra onde só habita a justiça.
“Pelo fato de o reino ser tanto presente como futuro”, afirma Anthony
Hoekema, “podemos dizer que ele, agora, está escondido de todos, exceto dos
que têm fé em Cristo; um dia, entretanto, será totalmente revelado, de modo que
até seus inimigos terão, finalmente, de reconhecer sua presença e se curvar
diante de seu governo”. Os primeiros frutos do céu germinaram nos corações
[8]

dos crentes nesta era maligna atual, embora a colheita plena ainda não tenha sido
completamente realizada no estado eterno de glória.
No estado eterno de glória, céu e terra estarão perfeitamente unidos sob o
reino de Cristo (Efésios 1:10; Colossenses 1:20). Quando todo o mal for
exterminado e os ímpios e esse mundo maligno atual forem destruídos com a
recriação da nova terra, Deus então habitará com o homem em perfeita unidade e
paz para sempre. Verdadeiramente, o céu encherá a terra “do conhecimento da
glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Habacuque 2:14).
Naquele tempo, o pacto abraâmico será plenamente realizado. Abraão e
seus filhos, que foram atraídos de todas as nações e grupos de pessoas do
mundo, habitarão na terra prometida para sempre. Como afirma Hoekema: O
reino de Deus, portanto, deve ser entendido como o reino de Deus
dinamicamente ativo na história humana por intermédio de Jesus Cristo, cujo
propósito é a redenção do povo de Deus do pecado e de poderes demoníacos, e o
estabelecimento final dos novos céus e nova terra. Isso significa que o grande
drama da história da salvação foi inaugurado e uma nova era foi instaurada. O
reino não deve ser entendido apenas como a salvação de certos indivíduos ou
como o reino de Deus no coração de seu povo; significa nada menos que o reino
de Deus sobre todo seu universo criado. [9]
Duas Vindas de Cristo
O cumprimento em dois estágios das promessas do Antigo Testamento
corresponde aos dois estágios da vinda de Cristo. O Antigo Testamento
profetizou que o Rei vindouro estabeleceria tanto a paz quanto a justiça. O
Antigo Testamento falou do dia do Senhor como um dia de ira para os inimigos
do povo de Deus (Joel 2:1-2; Amós 5:18-20; Sofonias 1:14-15) e um dia de
misericórdia para o povo de Deus (Isaías 53).
A Vinda de Cristo Seria um Dia de Julgamento
Segundo Sofonias, o dia do Senhor deveria ser um dia de julgamento para
todos os habitantes da terra: Hei de consumir por completo tudo
de sobre a terra, diz o Senhor.
Consumirei os homens e os animais,
consumirei as aves do céu,
e os peixes do mar,
e os tropeços juntamente com os ímpios;
e exterminarei os homens
de sobre a terra, diz o Senhor…
O grande dia do Senhor está perto,
sim, está perto, e se apressa muito;
amarga é a voz do dia do Senhor;
clamará ali o poderoso.
Aquele dia será um dia de indignação,
dia de tribulação e de angústia,
dia de alvoroço e de assolação,
dia de trevas e de escuridão,
dia de nuvens e de densas trevas,
dia de trombeta e de alarido
contra as cidades fortificadas
e contra as torres altas.
E angustiarei os homens,
que andarão como cegos,
porque pecaram contra o Senhor;
e o seu sangue se derramará como pó,
e a sua carne será como esterco.
Nem a sua prata nem o seu ouro
os poderá livrar
no dia da indignação do Senhor,
mas pelo fogo do seu zelo
toda esta terra será consumida,
porque certamente fará de todos os moradores
da terra uma destruição total e apressada. (Sofonias 1:2, 3, 14-18) De
acordo com o profeta Isaías, o Senhor viria em julgamento: Eis que vem o
dia do Senhor,
horrendo, com furor e ira ardente,
para pôr a terra em assolação,
e dela destruir os pecadores.
Porque as estrelas dos céus e as suas constelações
não darão a sua luz;
o sol se escurecerá ao nascer,
e a lua não resplandecerá com a sua luz.
E visitarei sobre o mundo a maldade,
e sobre os ímpios a sua iniquidade (Isaías 13:9-11).
A Vinda de Cristo seria um Dia de Misericórdia
Também, segundo Isaías, o Senhor viria com a boa nova da salvação: Eu, o
Senhor, te chamei em justiça,
e te tomarei pela mão, e te guardarei,
e te darei por aliança do povo,
e para luz dos gentios.
Para abrir os olhos dos cegos,
para tirar da prisão os presos,
e do cárcere os que jazem em trevas (Isaías 42:6-7).
Um Dia de Ira e um Dia de Misericórdia
Assim, no Antigo Testamento, tanto a paz quanto o julgamento estão
ligados à vinda do Rei. O Antigo Testamento não só fala do Messias como a
pessoa que triunfará sobre seus inimigos e sujeitará as nações ao povo de Deus
(Sofonias 3:8), mas fala do mesmo Messias como o servo sofredor (Isaías 53:7).
O Messias viria para servir e sofrer, bem como para governar e reinar. O Messias
não deveria apenas trazer a paz às nações, ele deveria reinar sobre elas em
julgamento. Todas as nações da terra deveriam ser abençoadas nele, mas também
por ele todas as nações da terra deveriam ser condenadas. Ele deveria trazer
alegria e tristeza ao mundo.
Mas como Cristo pode fazer as duas coisas em seu aparecimento? Como ele
pode trazer cura e destruição para as nações?
Não Uma, mas Duas Vindas
Embora, ao ler o Antigo Testamento, seja difícil ver como Cristo trouxe
alegria e tristeza ao mundo em seu aparecimento, ao ler o Novo Testamento
aprendemos que o aparecimento de Cristo realmente acontece em dois estágios
— sua primeira e sua segunda vinda. O que parecia ser um único evento é, na
verdade, de acordo com o Novo Testamento, um único evento separado em dois
estágios. Ou, como diz William Cox: Esses não são na realidade dois eventos
separados, mas sim dois estágios de um mesmo plano. Os dois eventos se
complementam, e um não poderia estar completo sem o outro. [10]

Hoekema sugere: Com perspectiva profética característica os profetas do Antigo


Testamento misturaram itens relativos à primeira vinda de Cristo com itens
relativos à segunda vinda de Cristo. Foi apenas nos tempos do Novo Testamento
que foi revelado que o que era pensado nos dias do Antigo Testamento como
uma vinda do Messias seria cumprido em dois estágios: uma primeira e uma
segunda vinda. [11]

Em sua primeira vinda, Cristo sofreu e trouxe boas notícias ao mundo. Em


sua segunda vinda, Cristo trará tristeza e julgamento para o mundo. Sua primeira
vinda é uma vinda em paz, sua segunda vinda é em juízo. O sinal de sua primeira
vinda foi como um inofensivo “bebê envolto em panos e deitado numa
manjedoura” (Lucas 2:12). Uma manjedoura foi um sinal de que Deus veio em
paz. O sinal da segunda vinda de Cristo será um guerreiro feroz cavalgando em
batalha para trazer recompensa a todos que não aceitaram seus termos de paz.
Ele sofreu sob as mãos dos ímpios em sua primeira aparição, mas conquistará e
reinará sobre os ímpios em sua segunda aparição.
O cumprimento em dois estágios da vinda de Cristo pode ser visto quando
João Batista começou a duvidar que Jesus era realmente o Cristo. João Batista
estava esperando que o Messias governasse sobre as nações da terra. Ele estava
procurando o reino de Deus para subjugar os reinos deste mundo. No entanto, ao
invés de os justos governarem sobre os injustos, os justos estavam sendo
aprisionados pelos injustos. Em outras palavras, João Batista não estava
esperando que seu ministério terminasse da maneira como terminou. Ele não
pensava que apresentar o Rei ao mundo acabaria com sua cabeça em uma
bandeja. E como suas expectativas não foram satisfeitas, ele começou a duvidar
que Jesus fosse o Messias. Talvez ele estivesse enganado. Com tal dúvida, ele
enviou seus discípulos para interrogar Jesus: “És tu aquele que havia de vir, ou
esperamos outro?” (Lucas 7:19).
Para assegurar a João que ele era o Messias prometido, Jesus respondeu
citando a conhecida profecia de Isaías: Ide, e anunciai a João o que tendes visto e
ouvido: que os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os
surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho. E
bem-aventurado é aquele que em mim se não escandalizar (vv. 22-23).
O que é interessante é que Jesus não terminou a profecia. Ele parou no meio
da sentença. A passagem que Cristo citou de Isaías, na verdade, prossegue para
falar de Cristo julgando as nações: O espírito do Senhor DEUS está sobre mim;
porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a
restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura
de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança
do nosso Deus (Isaías 61:1-2).
Contudo, o Senhor parou propositalmente antes de mencionar “o dia da
vingança de nosso Deus”. Pois o dia das boas novas, da cura, da liberdade e do
favor é um dia diferente do “dia da vingança”. Portanto, a resposta do Senhor a
João Batista foi “Sim, eu sou o Cristo”. Embora ele ainda não estivesse se
vingando dos injustos, estava então cumprindo a primeira parte da profecia. Em
outras palavras, esse era o dia da cura e do sofrimento, não o dia da vingança e
da ira.
O que é mais interessante é que o ministério de João Batista estava
distintamente ligado à primeira fase da vinda de Cristo. Segundo Malaquias, a
menos que Deus tivesse enviado João Batista antes de Cristo para preparar o
caminho do Senhor, o dia da vingança teria impedido que houvesse um dia de
cura e sofrimento. Se Deus não tivesse separado sua vinda em dois estágios, não
haveria um povo reunido de todas as nações antes que o julgamento chegasse
sobre as nações.
Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível
dia do Senhor. E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração
dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição
(Malaquias 4:5-6).
Por essa razão, William Cox afirma: “É por causa do sucesso da primeira
vinda de nosso Senhor que os cristãos têm tanta confiança quanto anseiam por
sua gloriosa aparição”. De acordo com Hoekema: O que é único na escatologia
[12]

do Novo Testamento é que ele espera uma consumação futura dos propósitos de
Deus com base na vitória de Cristo no passado. George Ladd faz essa
observação: “Seu testemunho [da igreja] da vitória de Deus no futuro é baseado
em uma vitória já alcançada na história. Ela proclama não apenas esperança, mas
uma esperança baseada nos acontecimentos da história e em sua própria
experiência”. [13]

Assim, é claro que o que muitas vezes, no Antigo Testamento, pareceu se


referir a uma única aparição do Messias é, na verdade, segundo o Novo
Testamento, dividido em duas aparições. Isso é crucial porque o reino vem com a
vinda do Rei. Onde quer que o Rei esteja, lá está o reino. E visto que o
aparecimento de Cristo acontece em dois estágios, o Reino de Deus vem em dois
estágios. Na primeira vinda, o Rei reúne seu povo a partir das nações; na
segunda vinda, o Rei conquistará as nações. Na primeira vinda, Cristo
estabeleceu seu reino espiritual dentro dos corações de seu povo; na segunda
vinda, Cristo estabelecerá seu reinado físico em um universo perfeitamente
restaurado.
“Há, portanto”, segundo Sam Storms, “uma dupla manifestação do reino de
Deus correspondente às duas vindas do próprio Cristo”. Storms prossegue
afirmando: Ele apareceu pela primeira vez em obscuridade e humildade, para
sofrer e morrer pela vindicação da justiça de Deus e da salvação de seu povo…
Ele ainda aparecerá uma segunda vez em poder visível e majestade para libertar
a terra da maldição do pecado, para glorificar seu povo e para estabelecer seu
governo soberano para sempre na esplendorosa consumação dos novos céus e
nova terra. [14]

Duas Eras
Esses dois estágios do reino de Deus (estágio um, inauguração, e estágio
dois, consumação) podem ser vistas nas duas eras (ou períodos maiores de
tempo) de que se fala no Novo Testamento: esta presente era maligna e a era
vindoura (Gálatas 1:4; Efésios 1:21). A primeira vinda introduziu a era vindoura,
e a segunda vinda acabará com essa atual era maligna. Mas o que são essas duas
eras ou períodos de tempo?
A Presente Era Maligna
Esta presente era maligna, segundo as Escrituras, é o período de tempo que
se estende desde a queda de Adão até a segunda vinda de Cristo (Mateus 28:20).
A presente era maligna é o período de tempo em que a escuridão, a escravidão, a
injustiça, o pecado e a morte reinam sobre a terra. A presente era maligna
perdurará enquanto houver pecado no mundo.
Segundo Cristo, os descrentes nascem neste mundo caído como “filhos
desta era” (Lucas 20:34, CSB), e segundo Paulo, os filhos desta era são mantidos
cativos ao poder “do presente século mau” (Gálatas 1:4-5). Esta presente era
maligna, consequentemente, é o império do reino das trevas sobre os povos e as
nações desta era (Apocalipse 18:3).
A Era Vindoura
Se esta presente era maligna é o período de tempo em que o mal habita na
terra, então a era vindoura é o período em que a justiça habitará na terra (2
Pedro 3:13). E embora a era vindoura não será plenamente realizada até a
criação da nova terra, onde somente a justiça habita, as primícias da era vindoura
já foram introduzidas nesta presente era maligna. Desde a primeira vinda de
Cristo, como demonstrado por sua própria ressurreição, o poder da era vindoura
entrou no mundo. E como o poder do Cristo ressuscitado continua a transformar
pecadores mortos em novas criaturas (2 Coríntios 5:17), o poder da era vindoura
continua a operar nesta presente era maligna.
O poder da era vindoura, portanto, está sendo manifestado na terra dentro
dos corações dos crentes (Tito 2:11-13). Aqueles que foram unidos, pela fé, ao
Rei da glória, “provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes da era vindoura”
(Hebreus 6:5). Eles foram libertados do domínio e reino das trevas e
transportados para o reino do amado Filho de Deus (Colossenses 1:13). Em
outras palavras, o poder e as bênçãos da era futura já começaram em parte na
vida dos crentes (Lucas 17:20-21; João 18:36).
Escatologia Inaugurada
A inauguração do poder da era vindoura nesta presente era maligna é um
antegozo do céu. É uma porção do poder, da justiça e da glória do estado eterno.
Anthony Hoekema identificou isso como a escatologia inaugurada. “A
escatologia inaugurada”, segundo Hoekema, “implica que a escatologia de fato
começou, mas não está de forma alguma terminada”. A escatologia inaugurada
[15]

é o Cristo ressuscitado introduzindo dentro das vidas de seus seguidores as


primícias do estado eterno (isto é, o éschaton).
Eras que se Sobrepõem
Embora o poder do futuro já tenha sido inaugurado, o poder das trevas não
é uma coisa do passado. O poder e o domínio desta presente era maligna ainda
tem um controle sobre todos os filhos das trevas. Isso tem várias implicações:
Primeira, isso implica que embora o poder do reino dos céus já esteja presente
na vida dos crentes, ele ainda não se manifestou sobre os reinos deste mundo. O
mundo nada sabe sobre a vida, o poder, a liberdade e a paz do reino de Deus. As
nações e governantes desta era permanecem na escuridão e sob o domínio de
Satanás.
Segunda, isso implica que a era maligna atual e a era que está por vir estão
atualmente sobrepostas. Entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, as duas
eras são paralelas. Embora a era vindoura tenha sido introduzida, a presente era
maligna ainda não expirou completamente.
E terceira, isso implica, segundo W.J. Grier, que “o mundo celeste e a esfera
terrestre agora são estados paralelos, aos quais o crente pertence”. Em outras
[16]

palavras, os crentes se encontram vivendo em dois reinos ao mesmo tempo. Por


um lado, os crentes são cidadãos do reino dos céus e já experimentaram o poder
da era vindoura. Por outro lado, os crentes ainda vivem neste mundo caído e
experimentam os efeitos e influências atuais do reino das trevas.
Os crentes experimentam a tensão entre as duas eras de duas maneiras: (1)
em suas próprias vidas e (2) no do mundo em que vivem.

Primeira, em suas próprias vidas, os crentes experimentam os efeitos


malignos desta presente era maligna em seus corpos decadentes enquanto
experimentam os efeitos redentores da era vindoura em suas mentes e corações
renovados. Os crentes não apenas lutam contra os desejos pecaminosos, eles
sentem os efeitos contínuos do pecado em seus corpos em decadência. Embora
seu homem interior seja renovado dia após dia à imagem de Cristo, seu homem
exterior está perecendo (2 Coríntios 4:16). Portanto, porque “a nossa cidade está
nos céus”, disse o apóstolo Paulo, “esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso,
segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Filipenses
3:20-21).
Segunda, experimentamos a tensão entre as duas eras enquanto vivemos
como cidadãos do céu e deste mundo. Esta era maligna atual não passará até a
segunda vinda de Cristo. Até lá, fomos enviados ao mundo como ovelhas ao
meio de lobos (Mateus 10:16). Embora vivamos neste mundo, não somos deste
mundo. E, embora não sejamos deste mundo, ainda vivemos nele por enquanto.
E porque não somos deste mundo em que vivemos, somos odiados por ele (João
15:19, 17:16). Nós, como Cristo predisse, somos odiados por todas as nações
(Mateus 24:9).
No entanto, nós que cremos estamos certos de “que as aflições deste tempo
presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” em
nós (Romanos 8:18), “porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para
nós um peso eterno de glória mui excelente” (2 Coríntios 4:17).
Assim, gememos junto com a criação debaixo da perseguição e da maldição
desta presente era maligna. Como disse Paulo: Porque a ardente expectação da
criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita
à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de
que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a
liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme
e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos,
que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos,
esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo (Romanos 8:19-23).
Dois Reinos (Jurisdições)
Até aquele grande dia em que esta presente era maligna chegará a um fim
destrutivo, nós, os que cremos, vivemos como estrangeiros, peregrinos e
exilados neste mundo (Hebreus 11:13; 1 Pedro 2:11). Embora antes fôssemos
estranhos e estrangeiros ao reino dos céus (Efésios 2:19), agora somos cidadãos
do céu e estranhos a este mundo (Filipenses 3:20). Como este mundo não é mais
nossa casa, nós, como Abraão, estamos procurando uma cidade mais permanente
para chamar de nossa casa (Hebreus 11:10).
Durante nossa curta estadia, enquanto esperamos para entrar em nossa
morada eterna, somos chamados a viver aqui como embaixadores do reino dos
céus. Fomos enviados por nosso Rei para representá-lo e a seu glorioso reino
neste mundo caído (2 Coríntios 5:20). Somos chamados a ser uma luz na
escuridão. Fomos enviados ao território do inimigo para pregar o Evangelho do
reino e para resgatar aqueles que estão perecendo.
Enquanto somos residentes temporários neste mundo, estamos sob duas
jurisdições. Somos chamados a obedecer a duas autoridades distintas. Somos
cidadãos do reino do céu e cidadãos terrenos dos reinos e nações deste mundo.
David VanDrunen explica isso desta forma: Os cristãos são cidadãos de dois
reinos distintos, ambos ordenados por Deus e sob sua lei, mas existem para
propósitos diferentes, têm funções diferentes e operam de acordo com regras
diferentes. Na sua qualidade de cidadãos do reino espiritual de Cristo, os cristãos
insistem na não violência e nos caminhos da paz, recusam-se a pegar em armas
em nome de seu reino. Na sua qualidade de cidadãos do reino civil, eles
participam, quan-do necessário, do trabalho coercitivo do Estado, portando
pegam em armas em seu nome quando a ocasião o justificar. Como cidadãos do
reino espiritual, eles não têm lealdade patriótica a nenhuma nação terrena. Mas,
como cidadãos do reino civil, um patriotismo saudável certamente é possível. [17]

Por causa de nossa dupla cidadania, devemos “dar a César o que é de César,
e a Deus o que é de Deus” (Marcos 12:17). Como peregrinos neste mundo,
somos chamados tanto a temer a Deus quanto a honrar o rei (1 Pedro 2:17).
Somos chamados a pagar nossos impostos ao Estado (Mateus 22:21) e a dar
livremente nossas ofertas à igreja (1 Coríntios 9:11). Como cidadãos deste
mundo, somos chamados a desfrutar ricamente de todas as coisas (1 Timóteo
6:17). Como cidadãos do céu, somos chamados a depositar nossos tesouros no
céu e a buscar primeiro o reino de Deus (Mateus 6:20, 33). Em nossa submissão
ao Senhor, somos chamados a estar sujeitos: Sujeitai-vos, pois, a toda a
ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos
governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor
dos que fazem o bem (1 Pedro 2:13-14).

Nossa maior lealdade, no entanto, é ao reino dos céus. Quando as ordens do


homem violam as ordens de Deus, somos chamados à desobediência civil.
Devemos “obedecer a Deus e não aos homens” (Atos 5:29).
Essa maior lealdade a Deus, mesmo quando nos leva à desobediência civil,
é um benefício para a sociedade. Só porque o navio está afundando, não
significa que sejamos chamados a abandoná-lo. Nosso amor por Cristo e pela
Grande Comissão nos obriga a ir ao mundo em vez de nos retirarmos da
sociedade. Nossos valores cristãos influenciam o nosso voto, e eles nos obrigam
a ser cidadãos produtivos deste mundo. Entre muitas outras coisas, somos a
favor da família tradicional e somos contra o aborto. Nosso desejo de amar
nossos próximos nos constrange a sermos membros ativos da sociedade e ajudar
pessoalmente aqueles que precisam, orar por nossos governantes e a fazer o
possível para promover a justiça e a paz nesta presente era maligna.
A cultura como um todo é externamente beneficiada pela transformação
interna e pessoal que ocorre nos seguidores individuais de Cristo. Quanto mais
uma sociedade é constituída por aqueles que nasceram de novo, mais essa
sociedade é impactada pelo bem. Sem dúvida, muitos benefícios temporais
acompanham a propagação e recepção do Evangelho. Nós somos de fato o sal da
terra (Mateus 5:13). Se não fosse por isso, se não fossem os remidos, nada mais
impediria Deus de destruir o mundo.
O Evangelho muda as sociedades em nível individual. O Evangelho não é
projetado para a revolução política, mas para alcançar os perdidos com a
esperança de vida eterna. A menos que os pecadores se submetam ao Evangelho
do reino, eles não têm esperança duradoura. Deus não está interessado em
moralizar os ímpios. Deus não prometeu santificar a cultura ou redimir os
governos terrenos, nem está preocupado em cristianizar os ímpios com a falsa
esperança produzida pela moralidade externa.
Embora o Evangelho possa elevar a comunidade, ele também pode, no
entanto, trazer hostilidades e divisões. Como aponta Kim Riddlebarger: O
avanço do reino de Deus, embora inevitável, não garante que o mal na sociedade
diminua à medida que o reino avança. Na verdade, a presença do reino de Deus
garante o conflito com as forças do mal… onde quer que o reino de Cristo
avance, os cristãos devem combater contra nossos três grandes inimigos — o
mundo, a carne e o Diabo. A esperança cristã é que um dia o reino será
consumado quando todo o mal for esmagado pelo Cordeiro, mas não antes. [18]

Os Dois Reinos são Incompatíveis


Portanto, embora os cristãos vivam em ambos os reinos, estes dois reinos
continuam sendo jurisdições distintas. Como o petróleo e a água, o reino das
trevas e o reino dos céus são incompatíveis. Luz e escuridão não têm nada em
comum (2 Coríntios 6:14). A igreja, como foi redimida por Deus, e o estado, à
medida que permanece sob a influência das trevas, não foram unidos pelo
Senhor. Embora Cristo governe ambos, o estado não tem jurisdição sobre a
igreja, e a igreja não tem jurisdição sobre o estado.
Sim, cada centímetro quadrado deste universo atualmente pertence ao
domínio de Cristo, mas nem tudo nele se ajoelhou diante de Cristo. Embora ele
governe soberanamente sobre Satanás e os reinos deste mundo, o governo dele
só é abraçado por aqueles que nasceram de novo. Seu reino não vem sem que
sua vontade tenha sido feita (Mateus 6:10).
Somente os filhos espirituais de Abraão se submetem ao senhorio de Cristo.
Somente aqueles que provaram os poderes da era vindoura têm a proteção de
Deus contra a ira vindoura. Somente aqueles que estão unidos a Cristo
encontraram paz e liberdade sob sua liderança e experimentaram o poder
libertador da era vindoura. Assim, o reino dos céus, nesta presente era maligna,
não se expandirá além daqueles que estão unidos pela fé ao Rei.
E embora todo líder político, governador e rei tenha que prestar contas ao
Rei Jesus, não há promessa divina de que os líderes políticos governarão de
forma justa.
O Estado Não tem Jurisdição sobre a Igreja
Embora o poder político possa influenciar o comportamento externo para o
bem (que é uma graça comum e uma coisa boa), o poder político não pode
desfazer o reino das trevas que está dentro do coração daqueles que estão
escravizados ao governante desta presente era maligna. A teocracia do estado
judaico no Antigo Testamento provou que nem mesmo a legislação dada por
Deus pode estabelecer o reino dos céus na terra. As leis escritas sobre a pedra
não transformam os corações de pedra. Em 1523, Martinho Lutero declarou isso
desta forma: O governo terreno tem leis que não se estendem para além da vida,
da propriedade e dos assuntos externos na terra. Pois, sobre a alma, Deus não
pode e não deixará ninguém governar senão ele mesmo. Portanto, onde a
autoridade terrena arrogar para si o direito de prescrever leis para a alma, ela
invade o governo de Deus e apenas engana e corrompe as almas. Queremos
deixar isso bem claro para que todos o compreendam e para que nossos nobres,
os príncipes e os bispos, vejam quão tolos eles são quando procuram coagir as
pessoas com suas leis e mandamentos a acreditarem nisto ou naquilo. [19]

“A fé é um ato livre”, prosseguiu Lutero, “ao qual ninguém pode ser


forçado”. Somente aqueles que, pelo poder do Espírito Santo, voluntariamente
[20]

vêm a Cristo é que podem realmente vir a ele. A liberdade da consciência e a


separação da igreja e do Estado são princípios básicos do cristianismo do Novo
Testamento.
Pode-se argumentar, além disso, que o reino de Deus prosperou melhor sob
a perseguição romana do que depois que Roma romanizou o cristianismo. Um
dos ataques mais terríveis contra o reino de Deus aconteceu quando o
cristianismo se tornou a religião do Estado na Idade Média.
Não que as hostilidades e perseguições sejam desejáveis, mas o avanço e a
perpetuidade do reino de Deus não dependem da ajuda e da assistência de
nenhum governo terreno. Cristo prometeu edificar sua igreja com ou sem a
proteção do Estado. Além do fato de que frequentemente a igreja cresce mais
rapidamente sob a perseguição patrocinada pelo Estado. Uma coisa é certa —
assim como o reino de Deus superou o Império Romano, ele superará a todas as
outras forças nacionais (Daniel 2:44).
No final das contas, as autoridades civis não têm poder para obrigar a
consciência, pois não têm poder para policiar e puni-la. O máximo que os
governos terrenos podem fazer, mesmo que sejam liderados por cristãos, é
restringir o mal e punir os malfeitores (1 Pedro 2:14).
A Igreja não tem Jurisdição sobre o Estado
Da mesma forma que o Estado não tem jurisdição sobre a igreja, a igreja
não tem a comissão de cumprir sua missão através do uso das armas terrenas
deste mundo (2 Coríntios 10:4). Assim como Cristo não tentou estabelecer seu
reino através da força política (João 18:36), a igreja não deve ser seduzida a
pensar que pode expandir o reino de Deus através de revoluções políticas e
sociais. Assumir o poder do Estado não é o objetivo da igreja. Ativismo político,
marchas, protestos e comícios não são as chaves para o reino dos céus.
Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os
principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste
século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais
(Efésios 6:12).
Embora o Estado esteja sob o governo de Cristo, Cristo não prometeu
redimir o Estado. Não há maneira de livrar a cultura do pecado sem livrar a
cultura dos pecadores. E enquanto existirem pecadores não redimidos neste
mundo, o mundo permanecerá sob a influência e a escravidão do pecado. Aquilo
que foi deformado pelo pecado não pode ser reformado através da restauração
cultural. Não é de uma restauração, mas de uma recriação que o mundo precisa.
Os pecadores devem morrer para o pecado, para si mesmos e para este mundo e
então renascer pelo Espírito Santo antes de poderem entrar no reino de Deus
(João 3:3).
Da mesma forma, o mundo (e tudo o que há nele — nações, culturas e
filosofias) deve ser destruído com fogo e ser totalmente recriado antes de ser
libertado da escravidão e da corrupção da queda. O mundo precisa mais do que
ser remodelado; ele precisa ser queimado e recriado para se tornar algo
totalmente novo.
A única esperança eterna para este mundo é a mensagem evangélica que foi
confiada aos embaixadores do reino dos céus. Por essa razão, a grande esperança
não é a restauração desta presente era maligna por meio de reformas sociais e
leis políticas, mas que Deus continue a chamar um povo para si de todas as
nações e grupos de pessoas deste mundo antes que ele seja destruído. [21]

A União da Terra (Física) e do Céu (Espiritual)


De acordo com as Escrituras, o reino das trevas não chegará ao fim até o
glorioso retorno do Rei. As nações não serão conquistadas, submetidas e
julgadas até o retorno glorioso do Rei. Só então o Rei dos reis “com vara de
ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de
meu Pai” (Apocalipse 2:26-27; 18:1-10).
Então, na segunda vinda de Cristo, o reino dos céus, que foi inaugurado
com a primeira vinda, será consumado. A primeira vinda introduziu os poderes e
as bênçãos da era vindoura no coração dos filhos espirituais de Abraão. Cristo
veio pela primeira vez para trazer boas novas às nações. Nisso, ele veio para
chamar os pecadores ao arrependimento e para chamar a descendência espiritual
de Abraão de cada nação, tribo e grupo de pessoas. Ele veio para estabelecer o
reino dos céus dentro dos corações dos crentes para que Abraão tivesse uma
descendência tão numerosa quanto as estrelas para encher a nova terra com a
glória e o conhecimento de Deus. Em resumo, a primeira vinda ocorreu para
chamar o povo de Deus e prepará-lo para sua segunda vinda.
Da mesma forma, embora o reino de Deus seja atualmente invisível aos
incrédulos, um dia, com a vinda dos novos céus e da nova terra, ele encherá o
mundo físico com a glória de Deus. Esse será um novo mundo onde somente os
crentes e a justiça habitarão. Somente quando esta era maligna atual chegar ao
fim e somente quando todas as nações do mundo e todos os ímpios forem
destruídos pelo fogo, é que Deus unirá nossos novos corpos com nossas almas
redimidas e tornará o céu e a terra um só. Então a promessa de que o filho de
Davi, o Deus-homem, edificaria uma morada para o povo de Deus será
totalmente cumprida e, quando Cristo voltar, Deus e o homem habitarão em
perfeita paz na terra prometida para sempre.
E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira
terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova
Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa
ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis
aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles
serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E
Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem
pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas
(Apocalipse 21:1-4).
O pacto abraâmico será plenamente cumprido quando Abraão e todos os
seus descendentes espirituais herdarem a terra como um bem eterno para habitar
para sempre na presença de Deus: Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma
multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e
línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes
brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo:
Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro (Apocalipse
7:9-10).
Isso Não é Espiritualizar Promessas Literais
Isso não é a espiritualização de promessas literais. Isso não é negar a
importância do cumprimento físico das promessas do Antigo Testamento. Só
porque primeiramente há um cumprimento espiritual, não significa que um dia
não haverá um cumprimento físico posterior. Só porque o novo nascimento
ocorre antes que o novo corpo seja recebido e o reinado celeste antes do reinado
terrestre, não significa que as promessas não serão cumpridas fisicamente. Como
regra geral, as promessas do Antigo Testamento foram cumpridas
espiritualmente na primeira vinda, e serão cumpridas fisicamente na segunda
vinda.
Não temos que escolher entre o cumprimento literal e o espiritual, como se
as promessas tivessem que ter um ou outro. Essa não é a questão de modo
algum. Ao contrário, a questão é entre o cumprimento temporal e o eterno. A
pergunta que precisamos responder é esta: As promessas do Antigo Testamento
eram promessas temporais ou eternas? Ora, essa é a questão.
A herança que Abraão transmitiu a Isaque foi uma herança temporal. De
fato, cada coisa física que se desfruta deste lado da segunda vinda de Cristo,
nesta presente era, é temporal. Tudo neste mundo chegará ao fim. Não existem
bens terrenos que serão transportados conosco para a era vindoura. Tudo será
destruído com fogo naquele grande e temível dia do Senhor. Mas os herdeiros e
a herança de Abraão, que vem pela fé, durarão para sempre.
Abraão, embora atualmente reine com Cristo no céu, um dia será
ressuscitado em seu novo corpo e habitará na terra para sempre com todos os
seus filhos. Embora seus bens terrenos, que foram passados a Isaque e a Jacó,
tenham perecido, a herança que Deus prometeu a Abraão e a seus filhos
espirituais não pode passar. Assim, qualquer coisa que não seja uma herança
eterna, fica aquém do cumprimento pretendido do pacto abraâmico.
Conclusão
Em conclusão, a nova terra é a terra prometida. Embora o reino de Deus já
tenha sido inaugurado espiritualmente com a primeira vinda de Cristo, não será
consumado fisicamente até a segunda vinda dele. Embora o reino seja
atualmente espiritual, à medida que Cristo reina atualmente nos corações
daqueles que creem, um dia será físico, em sua segunda vinda. Então, quando
Cristo retornar, o reino do domínio dele se estenderá de mar a mar, e a glória do
Senhor encherá a terra (Habacuque 2:14). Mas até lá, “o reino de Deus”, como
diz William Cox, “existe como uma realização incompleta, aguardando sua
perfeição no aparecimento do Rei da glória”. [22]
5
A Finalidade da Segunda Vinda

Quando eu era mais jovem, meu pai me deu alguns conselhos que eu nunca
esquecerei e que impactaram a maneira como eu tenho abordado as Escrituras
desde então. De fato, esse conselho me ancorou na posição amilenista. Meu pai
sugeriu que eu interpretasse as passagens difíceis das Escrituras à luz das
passagens mais claras e diretas da Escritura.
Foi surpreendente para mim que um de meus professores de teologia tenha
distorcido esse simples princípio hermenêutico. Depois de argumentar que
deveríamos entender a linguagem simbólica e apocalíptica do livro de
Apocalipse literalmente, ele prosseguiu dizendo que a linguagem de 2 Pedro 3
deveria ser entendida simbolicamente. Pareceu para mim que ele disse isso
porque 2 Pedro 3 contradizia sua compreensão de Apocalipse 20. Ele fez o
contrário do que o meu pai me aconselhou a fazer. Meu professor procurou
interpretar uma passagem da Escritura mais fácil de entender, 2 Pedro 3, à luz de
uma passagem muito difícil, Apocalipse 20.
Eu não podia aceitar seu entendimento de Apocalipse 20 porque estava
convencido de que ele estava em oposição à passagem fácil de entender de 2
Pedro 3. Quando se trata de delinear os eventos do fim dos tempos, 2 Pedro 3 é
uma das passagens mais claras da Escritura. Se eu devo seguir os bons conselhos
de meu pai, então as passagens mais difíceis da Escritura, como Apocalipse 20,
devem ser entendidas à luz das passagens mais fáceis dela e não o contrário. E
quando lemos 2 Pedro 3, aprendemos que a segunda vinda de Cristo ocasiona o
fim do mundo. Isso também nos leva ao quinto e último ponto do amilenismo —
a finalidade da segunda vinda.
Uma Segunda Vinda Catastrófica
De acordo com as passagens didáticas das Escrituras no Novo Testamento
encontradas de Mateus a Judas, há certos eventos que ocorrerão quando Cristo
voltar: (1) a ressurreição geral dos mortos, (2) a destruição do mundo, (3) o
julgamento final e (4) a inauguração do estado eterno.
A Ressurreição Geral
Primeiro, naquele último dia da história humana, quando Cristo aparecer, os
mortos ressuscitarão. O profeta Daniel falou de uma ressurreição geral: “E
muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e
outros para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12:2). Essa ressurreição geral
dos justos e injustos foi então confirmada por Cristo: Vem a hora em que todos
os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para
a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação
(João 5:28-29).
Essa mesma mensagem foi pregada por Paulo, que afirmou que “haverá
uma ressurreição de mortos, assim dos justos como dos injustos” (Atos 24:15).
Alguns na igreja de Tessalônica tinham medo de morrer antes da segunda
vinda de Cristo, porque tinham medo de perder aquele glorioso dia da segunda.
Mas, de acordo com Paulo, aqueles que morreram não perderão a segunda vinda.
Aqueles que estão mortos em Cristo já estão com o Senhor, e quando Cristo
voltar, eles, que atualmente são espíritos desencarnados, voltarão com Cristo
para encontrar seus corpos ressuscitados. Quando ele aparecer, os mortos
ressuscitarão primeiro e aqueles que estiverem vivos serão arrebatados pelos ares
e terão seus corpos transformados em novos corpos glorificados: Não quero,
porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não
vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que
Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os
tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós,
os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que
dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de
arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão
primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente
com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre
com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras. Mas,
irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva;
porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de
noite; pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá
repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo
nenhum escaparão (1 Tessalonicenses 4:13-18—5:1-3).
Assim, vemos que o dia virá como um ladrão na noite, quando acontecerá
uma destruição súbita. Isso nos leva à segunda coisa que ocorrerá quando o
Senhor voltar.
A Destruição do Mundo
Cristo advertiu sobre a destruição do mundo em seu retorno:
Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam,
casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e
não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será
também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois no campo, será
levado um, e deixado o outro; estando duas moendo no moinho, será levada
uma, e deixada outra. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o
vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília
da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. Por
isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à
hora em que não penseis (Mateus 24:38-44).
E esta advertência foi reafirmada por Pedro quando ele disse:
Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão
com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as
obras que nela há, se queimarão. Havendo, pois, de perecer todas estas
coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, aguardando, e
apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se
desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua
promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por
isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados
imaculados e irrepreensíveis em paz (2 Pedro 3:10-14).
O Dia do Julgamento
O último dia será um dia de julgamento final. De acordo com a parábola do
trigo e do joio, tanto os verdadeiros como os falsos crentes permanecerão juntos
até a colheita, no final dos tempos. Então Cristo virá, enviará os seus santos
anjos para separar o joio do trigo, “colherão do seu reino tudo o que causa
escândalo, e os que cometem iniquidade”. O joio será atado em feixes para ser
queimado e lançado na “fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes”
(Mateus 13:41-42). Mas o trigo será recolhido no celeiro e então “os justos
resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai” (v. 43).
Todos os mortos ressuscitarão quando Cristo vier para julgar o mundo (Atos
17:31). Ele advertiu: “E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para
dar a cada um segundo a sua obra” (Apocalipse 22:12). Pois Cristo declarou: E
quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele,
então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante
dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e
porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que
estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino
que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-
me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me
(Mateus 25:31-35).
Paulo fala do dia do julgamento como o dia em que os santos serão
eternamente glorificados e os ímpios serão eternamente condenados: Prova clara
do justo juízo de Deus, para que sejais havidos por dignos do reino de Deus, pelo
qual também padeceis; se de fato é justo diante de Deus que dê em paga
tribulação aos que vos atribulam, e a vós, que sois atribulados, descanso
conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu
poder, com labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e
dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, por
castigo, padecerão eterna perdição, longe da face do Senhor e da glória do seu
poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável
naquele dia em todos os que creem (porquanto o nosso testemunho foi crido
entre vós) (2 Tessalonicenses 1:5-10).
Será neste momento que Cristo submeterá todas as nações ao seu senhorio:
Portanto esperai-me, diz o Senhor, no dia em que eu me levantar para o
despojo; porque o meu decreto é ajuntar as nações e congregar os reinos,
para sobre eles derramar a minha indignação, e todo o ardor da minha ira;
porque toda esta terra será consumida pelo fogo do meu zelo (Sofonias 3:8).
Embora ele não tivesse interesse em entrar em guerra com as nações em sua
primeira vinda, em sua segunda vinda Cristo virá para conquistar os reinos deste
mundo: E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele
as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e
da ira do Deus Todo-Poderoso. E no manto e na sua coxa tem escrito este nome:
Rei dos reis, e Senhor dos senhores (Apocalipse 19:15-16).
Quando Cristo voltar, ninguém escapará. Não haverá lugar para se
esconder. É por isso que Pedro exorta todos a se examinarem se estão
reconciliados com Deus agora. Hoje é o dia da salvação. Quando o céu se abrir e
as nuvens se enrolarem como um pergaminho, será tarde demais. Devemos estar
preparados agora, pois Cristo está vindo como um ladrão de noite. Devemos
vigiar e estar preparados, como o Senhor nos advertiu, pois não sabemos o dia
nem a hora (Mateus 25:12). Uma vez que ele aparecer, não haverá mais
esperança de salvação. Não haverá salvação naquele dia ou em qualquer dia
depois dele, pois, como vemos no ponto seguinte, o último dia é o primeiro dia
da eternidade.
O Estado Eterno
O reino de Deus que foi inaugurado na primeira vinda de Jesus Cristo será
consumado em sua segunda vinda. Cristo não está começando a edificar seu
reino, como alguns sugerem, mas está prestes a entregar um reino completo e
perfeito ao Pai. Em outras palavras, quando Cristo apresentar um rei-no perfeito
a Deus Pai, isto marcará o fim do mundo: Depois virá o fim, quando tiver
entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e
toda a potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os
inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a
morte. Porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz que
todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe
sujeitou todas as coisas. E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então
também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para
que Deus seja tudo em todos (1 Coríntios 15:24-28).
Depois que o mundo for destruído pelo fogo, Deus criará um novo céu e
uma nova terra onde somente os justos habitarão com Deus para sempre.
Naquele tempo, ele “aniquilará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor
DEUS as lágrimas de todos os rostos, e tirará o opróbrio do seu povo de toda a
terra; porque o SENHOR o disse” (Isaías 25:8). Então, a promessa feita a Davi
finalmente será cumprida na íntegra. O filho de Davi terá edificado para Davi
uma casa onde o povo de Deus habitará com ele na terra prometida em paz para
sempre: E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a
primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a
nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa
ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o
tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu
povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de
seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor,
nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas (Apocalipse 21:1-4).
Não Haverá Nenhum Reinado de Mil Anos Literais
Se quisermos usar todas essas passagens didáticas e claras da Escritura para
compreender as passagens difíceis da Escritura, então Apocalipse 20 não pode
estar falando de mil anos literais onde os justos e os injustos vivem juntos em
paz sob o governo de Cristo. Isso não é possível porque não há espaço para um
período de mil anos após a segunda vinda de Cristo. A Bíblia deixa claro que o
mundo termina no exato momento em que Cristo retorna. Uma vez que Cristo
venha novamente, (1) não haverá mais esperança de salvação, (2) não haverá
mais tempo para os ímpios viverem na terra e (3) não haverá mais tempo para os
ímpios viverem ao lado dos justos.
E isso é o que o termo teológico amilenista significa — “nenhum milênio
(literal)”. O a é um prefixo de negação, e a palavra milênio (milenista) é retirada
de Apocalipse 20, onde João fala de Satanás sendo amarrado por mil anos (ou
seja, um milênio). Portanto, os amilenistas acreditam que o reino de Cristo
aludido em Apocalipse 20:1-3 se refere ao reino espiritual de Cristo que se
estende desde a primeira até a segunda vinda dele, e não a um período futuro de
mil anos que ocorre após a segunda vinda de Cristo.
Apocalipse 20:1-3
Devemos lembrar que não foi Pedro ou Paulo, mas João que utilizou uma
linguagem simbólica e apocalíptica. Na verdade, na primeira frase do livro de
Apocalipse, João nos diz que as visões contidas em sua carta lhe haviam sido
mostradas através de sinais e símbolos: Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus
lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer;
e pelo seu anjo as enviou, e as significou a João seu servo” (Apocalipse 1:1,
NKJV).
A palavra traduzida aqui como “significou” é a palavra grega sémainó, que
tem o sentido de “significar” ou “dar um sinal”. Ela vem da palavra raiz séma,
que quer dizer “um sinal” ou “uma marca”.
Embora as visões no livro do Apocalipse não sejam as mesmas que as
parábolas de Cristo, elas são semelhantes na medida em que comunicam a
verdade através de uma história parabólica. A parábola do semeador, por
exemplo, deve ser interpretada figurativamente. Pregar o Evangelho pode ser
comparado a semear sementes, mas aqueles que pregam o Evangelho não estão,
na realidade, semeando sementes literais. Na parábola do semeador, as sementes
representam o Evangelho. Os diferentes tipos de solos também, segundo Cristo,
representam diferentes tipos de ouvintes do Evangelho (Mateus 13:1-23).
Da mesma forma, os sinais, as visões e a linguagem apocalíptica do livro do
Apocalipse não devem ser tomados literalmente. Eu não conheço ninguém que
não reconheça que pelo menos parte da linguagem de Apocalipse é simbólica.
Esses são apenas alguns exemplos, João viu (1) sete estrelas, que representavam
os sete anjos de sete igrejas, (2) sete candeeiros de ouro, que representavam as
sete igrejas da Ásia, (3) uma espada saindo da boca de Cristo, que representava o
julgamento divino que vem da boca de Cristo e (4) um dragão vermelho, que
representava Satanás. E a lista de símbolos prossegue.
Assim como a pregação do Evangelho é comparada à semeadura de
sementes e as sete igrejas são comparadas a sete estrelas no Apocalipse.
Esperemos, no entanto, que ninguém pense que estes anjos sejam literalmente
estrelas. Devemos ter cuidado para não interpretar símbolos como realidades
literais, tais como estrelas literais, candeeiros literais, um dragão vermelho literal
e uma espada literal saindo da boca de Cristo.
E se pudermos concordar que as visões do Apocalipse estão cheias de
linguagem simbólica, não deveríamos também concordar que tal simbolismo é
mais desafiador de interpretar do que a linguagem literal e didática de Paulo e
Pedro? Certamente, podemos concordar que as passagens mais difíceis da
Escritura não irão discordar das passagens mais diretas e claras.
Com a linguagem simbólica do Apocalipse e a linguagem literal de 2 Pedro
3 em mente, não deveríamos chegar à conclusão de que os mil anos falados em
Apocalipse 20:1-3 não se referem realmente a mil anos literais? Se 2 Pedro 3 não
permite a existência de um período de mil anos entre a segunda vinda e a
destruição do mundo, então devemos concluir que os mil anos em Apocalipse 20
estão falando de um período de tempo simbólico (perfeito ou completo).
Esse entendimento é reforçado pelo fato de que Apocalipse 20 está cheio de
linguagem simbólica. Essa visão particular inclui uma corrente, um selo, um
abismo e um dragão vermelho: E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do
abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga
serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no
abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as
nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um
pouco de tempo (Apocalipse 20:1-3).
Seria difícil imaginar que uma cadeia física e um selo físico pudessem
prender Satanás e que um abismo físico pudesse prendê-lo — pois ele é um ser
espiritual. É ainda mais difícil imaginar que esse abismo tenha uma chave literal
que o abre e fecha. E sabemos que, de fato, Satanás não é um dragão vermelho
literal. Na verdade, João se assegura de que compreendemos que o dragão
vermelho representa o Diabo.
Sem dúvida, João viu um dragão vermelho sendo amarrado por um anjo.
João viu, como se a visão fosse representada diante dele em uma peça cósmica
no céu, um anjo vindo do céu com uma chave na mão para abrir o poço no qual
o dragão vermelho, amarrado por uma corrente, seria jogado. E o mesmo anjo
que amarrou o dragão posteriormente o solta.
Mas, como o sonho de Nabucodonosor ou as parábolas de Cristo, essa visão
deve ser decifrada. Os símbolos devem ser interpretados. E certamente, como o
sonho de Nabucodonosor e as parábolas de Cristo, os símbolos nessa visão não
devem ser entendidos literalmente.
Devemos acreditar que a chave, a corrente, o dragão, o selo e o abismo são
todos símbolos que representam realidades espirituais, mas os mil anos devem
ser entendidos literalmente? Outros números do livro do Apocalipse, tais como
os números 7 e 666, são simbólicos. O número 7 representa a perfeição, e o 666
representa o homem (veja Apocalipse 13:18). O número 1.000 também não
poderia ser simbólico e representar uma realidade espiritual?
Quando se diz que Deus é dono de todo “o gado em mil colinas” (Salmos
50:10), devemos pensar que Deus só é dono do gado em mil colinas? Será que
isso deve ser entendidos literalmente? Não faz mais sentido pensar que a frase
“mil colinas” é uma linguagem parabólica representando todo o gado do mundo?
O período de mil anos do Apocalipse 20 é também uma forma parabólica
de falar sobre uma quantidade de tempo perfeita ou completa. Em outras
palavras, Satanás estará preso por todo o tempo necessário — nenhum dia mais
cedo ou um dia mais tarde. Pela quantidade total de tempo, o Diabo estará preso.
Cristo será capaz de fazer todo o seu trabalho sem ser impedido por Satanás.
Assim, faz mais sentido ver o reinado milenar de Cristo em Apocalipse 20
como símbolo do reinado espiritual dele que está ocorrendo atualmente entre sua
primeira e segunda vinda, pois Paulo diz que Cristo deve reinar até colocar todos
os seus inimigos sob seus pés. “Depois virá o fim”, diz Paulo, “quando tiver
entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e
toda a potestade e força” (1 Coríntios 15:24).
Com 2 Pedro 3 e 1 Coríntios 15 em mente, parece evidente que Apocalipse
20 não pode estar ensinando um futuro reino milenar de Cristo na terra (que
acontecerá após a segunda vinda e que consiste de crentes e incrédulos). Parece
mais possível que os mil anos sejam meramente simbólicos de um período de
tempo não revelado, porém perfeito, entre a primeira e a segunda vinda de
Cristo.
Mas a objeção óbvia é que o dragão vermelho deve estar amarrado durante
esse tempo, e todos sabemos que Satanás está atualmente andando como um leão
buscando alguém para devorar (1 Pedro 5:8).
Se olharmos mais de perto, porém, vemos um detalhe importante sobre a
natureza e a extensão da prisão de Satanás. Assim como João nos dá o
significado do dragão vermelho, ele nos dá o significado da prisão: “para que ele
não engane mais as nações” (Apocalipse 20:3). Em outras palavras, aprendemos
que Satanás está restrito de tal forma que não é mais capaz de manter as nações
do mundo cativas de suas mentiras e enganos. Esse é o ponto dessa passagem.
Floyd Hamilton explica desta forma: Suponho que ninguém insistiria que
Satanás deve ser amarrado com uma corrente literal de ferro ou algum outro
metal, pois Satanás é um espírito e correntes materiais não poderiam mantê-lo
cativo por um momento sequer. Amarrar sempre significa a limitar o poder de
alguma forma. Quando os homens se amarraram com um juramento de não fazer
algo, concordaram em limitar seu próprio poder e direitos conforme a extensão
de seus juramentos. Um homem e uma mulher estão vinculados por seus votos
matrimoniais, mas isso não significa que estejam vinculados em relação a outros
relacionamentos em suas vidas… Portanto, o fato de Satanás estar amarrado não
significa que ele seja impotente para tentar as pessoas, e nós sabemos que ele
não é. É simplesmente uma limitação do poder de Satanás em um aspecto
particular, especificamente a capacidade de “enganar as nações”. Durante o
período entre as duas vindas, o Evangelho deve ser proclamado a todas as
nações, e Satanás é impotente para impedi-lo. O caminho da salvação foi aberto
a todas as nações e não há nada que Satanás possa fazer para bloquear esse
caminho. [23]

Devemos nos perguntar: Quando Satanás foi destronado? Quando o


Príncipe das trevas foi expulso? Quando a cabeça do grande enganador foi
esmagada? Quando seu domínio do engano sobre as nações começou a desfazer-
se? Quando o Diabo foi derrotado?
A resposta é que Satanás foi derrotado por Cristo na cruz! Foi na cruz que
Satanás perdeu sua autoridade legal sobre as nações. O Filho de Deus veio na
fraqueza da carne de Adão e Eva: E, visto como os filhos participam da carne e
do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte
aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os
que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hebreus
2:14-15).
Na cruz é quando Satanás, o homem valente, foi amarrado por um homem
ainda mais valente (Mateus 12:29).
Embora Satanás ainda ande por aí como um leão, procurando a quem
devorar (sabendo que agora só lhe resta pouco tempo) — ele foi mortalmente
ferido. Ele foi despojado de seu poder, que equivale a dizer que ele foi amarrado,
se você preferir. Pela primeira vez desde a queda, o poder de Satanás lhe foi
retirado legalmente e dado ao descendente da mulher — Cristo Jesus. Os direitos
legais que Satanás tinha sobre as nações do mundo foram transferidos para o
filho de Davi.
Todo o poder no céu e na terra foi dado a um homem — o descendente da
mulher e o filho de Davi: E vi na destra do que estava assentado sobre o trono
um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos. E vi um anjo forte,
bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus
selos? E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro,
nem olhar para ele. E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de
abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele. E disseme um dos anciãos: Não
chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o
livro e desatar os seus sete selos…
E cantavam um novo cântico, dizendo:
Digno és de tomar o livro,
e de abrir os seus selos;
porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste para Deus
de toda a tribo, e língua, e povo, e nação;
E para o nosso Deus nos fizeste reis e sacerdotes;
e reinaremos sobre a terra.
E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos
anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares,
que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto,
de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força,
e honra, e glória, e ações de graças.
E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que
estão no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado
sobre o trono, e ao Cordeiro,
sejam dadas ações de graças,
e honra, e glória, e poder para todo o sempre.
E os quatro animais diziam: Amém. E os vinte e quatro anciãos prostraram-
se, e adoraram ao que vive para todo o sempre (Apocalipse 5).
A descendência da mulher, a raiz de Davi, saiu vitoriosa. Assim como Davi
pisou sobre o cadáver de Golias enquanto trazia a cabeça dele em sua mão,
assim também Cristo pisou sobre a serpente derrotada. “Ele”, na cruz, “despojou
os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si
mesmo” (Colossenses 2:15).
Com a sua vitória sobre o reino das trevas, a primeira ordem de trabalho de
Cristo foi comissionar que o Evangelho fosse pregado a todo o mundo. Com os
muros do engano quebrados, Cristo encarrega a igreja de ir e resgatar aqueles
que estão perecendo nas garras do grande enganador (Mateus 28). Vá e pregue o
Evangelho a toda alma. Agora que o príncipe da potestade do ar foi expulso e
agora que todo poder no céu e na terra foi dado ao Filho do Homem, nenhum
território está fora dos limites e nenhum grupo de pessoas é inalcançável. As
portas do inferno foram quebradas e não podem mais impedir que o Evangelho
entre e saqueie o reino das trevas de seus prisioneiros.
Essa grande derrota é retratada na visão de João como um dragão vermelho
sendo acorrentado e amarrado por mil anos. Isso não significa que Satanás não
engana mais, pois a Bíblia diz: Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto,
para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho
da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (2 Coríntios 4:3-4).
Isso significa que Satanás não pode mais impedir o Evangelho de ir ao
mundo inteiro e resgatar os filhos espirituais de Abraão de cada nação, tribo e
grupo de pessoas do mundo. Como meu pai, Donald Johnson, afirma em seu
comentário sobre o Apocalipse: Portanto, neste capítulo vemos a gloriosa
verdade de que Satanás é limitado, contido e frustrado quanto a seu plano
diabólico de manter as nações em completa ignorância e engano até que Cristo e
o Evangelho tenham completado sua missão com relação à humanidade. [24]

Agora que o homem valente foi amarrado e o reino de Deus chegou, as


portas do inferno não podem mais impedir que as boas novas cheguem a todas as
nações e grupos de pessoas do mundo (Mateus 16:18). Tanto para judeus como
para gentios, o Evangelho é o poder de Deus para a salvação (Romanos 1:16).
E Cristo não apenas nos comissionou a ir, mas ele prometeu que iria
conosco. Até o fim dos tempos, Cristo viajará até os confins da terra através de
seus mensageiros para chamar o seu povo a si mesmo (Mateus 28:20). Ou seja,
Cristo, através do Espírito e da igreja, continuará a edificar o seu reino, uma
conversão de cada vez, até ter reunido todos os filhos prometidos de Abraão, de
todas as nações e grupos de pessoas.
Então, no final dos tempos, o dragão será libertado do poço sem fundo,
como revela Apocalipse 20, o que indica que as nações serão mais uma vez
enganadas por Satanás. E se esse for o caso, isso corresponde à terrível profecia
de Cristo Jesus quando ele disse: “Quando porém vier o Filho do homem,
porventura achará fé na terra?” (Lucas 18:8). A implicação dessa pergunta
retórica é que a verdadeira fé será escassa.
Quando penso nessa visão em Apocalipse 20, quase sempre penso nas
vezes em que vi um saco de pipoca estourar no microondas. No início, nenhum
grão está estourando. As coisas começam devagar. É como ver a água ferver,
parece demorar uma eternidade. Essas primeiras pipocas são como as poucas
conversões sobre as quais lemos no Antigo Testamento: Abraão, Moisés, Davi e
Jeremias, e embora em certo momento Deus tivesse reservado sete mil pessoas
para si mesmo, isso realmente não é muita gente em relação à população
mundial naquela época, era apenas um pequeno remanescente dentro de uma
nação relativamente pequena entre todas as nações do mundo.
Mas, de repente, há uma explosão de pipocas estourando. E isso é como
quando o Espírito foi derramado no dia de Pentecostes. Primeiro houve três mil
conversões e depois outras cinco mil alguns dias depois (Atos 2:41, 4:4). As
coisas aceleraram abruptamente. O cristianismo se espalhou rapidamente.
Alguma coisa mudou. Rapidamente o Evangelho viajou de Jerusalém, com um
punhado de discípulos judeus, para a Judeia e depois para o mundo inteiro.
Pessoas de todos os tipos de etnias estavam povoando o reino de Deus. Antes do
final do primeiro século, igrejas foram plantadas em todos os lugares do mundo
conhecido. Verdadeiramente, na descendência de Abraão, todas as nações do
mundo foram abençoadas. E essa explosão de conversões judaicas e gentílicas
corresponde à prisão de Satanás.
Mas no final do processo de fazer pipocas no microondas, mais uma vez
apenas alguns grãos aqui e ali estão estourando. E assim parece que no final dos
tempos haverá apenas alguns poucos eleitos remanescentes para serem reunidos
ao seio de Abraão. É como se Deus libertasse o dragão para preparar e
amadurecer o mundo para o julgamento (Apocalipse 14:14-20).
Ele diz que o dragão deve ser libertado (Apocalipse 20:3), o que implica
que Cristo tem um propósito para o enganador. É como se Cristo aprisionasse
Satanás e entrasse livremente em um novo território para tirar seu povo das
garras dele, e uma vez que ele resgatou aqueles pelos quais veio ao mundo, então
ele libera Satanás sobre aqueles que o rejeitaram. Como está escrito: A esse cuja
vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de
mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não
receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a
operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os
que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade (2 Tessalonicenses
2:9-12).
Esse é um conceito assustador para aqueles que pensam que podem ir a
Cristo sempre que quiserem. Cristo pode simplesmente soltar Satanás para que
se apodere deles.
No final das contas, o amilenismo não rejeita o reinado de Cristo; ele
simplesmente nega que o reinado de Cristo seja restrito a um período literal de
mil anos. Cornelis Venema resume o amilenismo desta forma: O amilenismo diz
respeito ao milênio de Apocalipse 20 como uma representação simbólica do
presente reinado de Cristo com seus santos. Durante o período de tempo entre o
primeiro advento de Cristo e seu retorno no final dos tempos, Satanás foi
obrigado a não mais enganar as nações. O milênio não é um período literal de
mil anos, mas representa o período completo durante o qual Deus concedeu a
Cristo a autoridade para receber as nações como sua herança. [25]
Conclusão

Independentemente do sentido que possamos atribuir a Apocalipse 20:1-3, os


eventos que envolvem a segunda vinda de Cristo, como nos foi revelado nas
passagens didáticas do Novo Testamento, descartam a possibilidade de um
reinado de mil anos literais de Cristo. Aprendemos nessas passagens da Escritura
que a segunda vinda de Cristo ocasionará o fim do mundo. O mundo será
destruído, os ímpios serão julgados e os justos herdarão a nova terra.
Até lá, preparemo-nos para a vinda do Senhor, certificando-nos de que nos
submetemos ao seu senhorio antes que seja tarde demais. Ajoelhemo-nos perante
o seu reinado enquanto ainda há esperança de salvação. Pois Cristo está no
trono, e ele deve continuar a reinar até que tenha subjugado todos os seus
inimigos sob o escabelo de seus pés.
Em resumo, a hermenêutica histórico-redentiva, que é o primeiro ponto do
amilenismo, nos leva ao segundo ponto do amilenismo — que os filhos de
Abraão são aqueles, e somente aqueles, que estão unidos a Cristo pela fé.
Aqueles que são os filhos de Abraão pela fé é que são os verdadeiros herdeiros
de Abraão.
O terceiro ponto do amilenismo é que o reino de Deus é atualmente
espiritual. Desde sua primeira vinda, Cristo está sentado no trono de Davi e
continuará a governar e reinar do céu até terminar de edificar o reino com os
redimidos e entregá-lo, sem mancha ou mácula, a Deus Pai, no último dia.
O quarto ponto do amilenismo é que a terra prometida é a nova terra.
Abraão não estava procurando um pedaço de terra que permanecia sob a
maldição da queda; ele estava procurando uma cidade cujo artífice e construtor
era Deus. É somente quando houver uma nova criação que Abraão ressurreto,
com todos os seus filhos glorificados, habitará para sempre com Deus sobre a
terra em perfeita paz.
O quinto ponto do amilenismo é a finalidade da segunda vinda de Cristo. A
única esperança de salvação é agora — antes da segunda vinda de Cristo. Ele
virá como um ladrão de noite, mas quando ele aparecer, os justos e os injustos
ressuscitarão dos mortos, o mundo será destruído pelo fogo e todos enfrentarão a
Deus em julgamento para serem lançados no lago de fogo ou para entrarem no
descanso eterno de Deus.
O amilenismo não é complexo. É simplesmente o Evangelho aplicado à
história do mundo.
A editora O Estandarte de Cristo é fruto de um trabalho que começou a ser idealizado por volta do
início de 2013, por William e Camila Rebeca, com o propósito principal de publicar traduções de
autores bíblicos fiéis. Fizemos as primeiras publicações no dia 2 de dezembro de 2013 (publicação de
4 eBooks). De lá para cá já são quase 7 anos e centenas de traduções de autores bíblicos fiéis, sobre
diversos temas da fé cristã.
Somos uma editora de fé cristã batista reformada e confessional. Estamos firmemente
comprometidos com as verdades bíblicas fielmente expostas na Confissão de Fé Batista de 1689.

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A Confissão de Fé Batista de 1689 + Catecismo Puritano compilado por


C.H. Spurgeon

❝Nós precisamos de um estandarte pela causa da verdade; pode ser que esse pequeno volume ajude a causa
do glorioso Evangelho, testemunhando claramente quais são as suas principais doutrinas… Aqui os
membros mais jovens da nossa igreja terão um Corpo de Teologia, que servirá como uma pequena bússola,
e por meio de provas bíblicas, estarão prontos para dar a razão da esperança que há neles… Apeguem-se
fortemente à Palavra de Deus que está aqui mapeada para vocês.❞ — C.H. Spurgeon, 1855
A Interpretação das Escrituras
A.W. Pink

❝Dificilmente encontraremos um “tratado sobre hermenêutica”, tão bíblico e completo, tão profundo e ao
mesmo tempo tão prático, como diz o próprio autor: Nestes capítulos temos nos esforçado para colocar
diante de nossos leitores as regras que temos usado há muito tempo em nosso próprio estudo da Palavra;
elas foram projetadas mais especialmente para os jovens pregadores. Nós não poupamos esforços para
torná-los tão lúcidos e completos quanto possível, colocando em suas mãos esses princípios de exegese que
nos foram de grande proveito.❞
Os Distintivos da Teologia Pactual Batista
Pascal Denault

❝Pascal Denault merece muitos agradecimentos por seu trabalho ao pesquisar e descrever as nuances da
teologia do pacto da Inglaterra no século XVII. Ele mostrou fatores significantes que contribuíram para as
diferenças entre o pensamento e a prática dos presbiterianos e batistas particulares, descrevendo categorias
teológicas em termos fáceis e acessíveis.❞ — James M. Renihan, Ph.D. Deão e professor de teologia histórica Institute of Reformed Baptist
Studies
A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil
Jeffrey Johnson
❝Jeffrey Johnson produziu uma interação minuciosa, vigorosa e impressionante com a teologia pactual,
enquanto usada como apoio para o batismo infantil. Ele expôs uma análise detalhada de cada parte do
sistema, aprovou o que era biblicamente fundamentado, desafiou o que é indefensavelmente inventado e
ofereceu alternativas convincentes para cada parte do sistema que ele desafiou.❞ — Tom J. Nettles, Ph.D.
Professor de teologia histórica Southern Baptist Theological Seminary
Um Guia para a Oração Fervorosa
A.W. Pink
❝A oração particular é o teste de nossa sinceridade, o indicador de nossa espiritualidade, o principal meio de
crescimento na graça. A oração particular é a única coisa, acima de todas as demais, que Satanás busca
impedir, pois ele bem sabe que, se ele puder ser bem sucedido neste ponto, o cristão falhará em todos os
outros… Por mais desesperado que seja o nosso caso, maior é nossa necessidade de orar, se a graça em nós
está fraca, a contínua negligência em orar a fará ainda mais fraca, se nossas corrupções são fortes, a omissão
em orar as fará ainda mais fortes.❞
Oração: Orando com o Espírito Santo e com o Entendimento
John Bunyan

❝A oração é uma ordenança de Deus que deve ser praticada tanto em público quanto em particular. Além
disso, é uma ordenança que conduz aqueles que possuem o espírito de súplica para grande familiaridade
com Deus, e também possui efeitos tão notáveis que alcançam grandes coisas de Deus, tanto para a pessoa
que ora como para aqueles por quem ela ora. A oração abre o coração de Deus e através dela a alma, mesmo
quando vazia, é preenchida. Através da oração o cristão também pode abrir seu coração a Deus como o faria
com um amigo, e obter um testemunho renovado de Sua amizade.❞
Piedade Cristã: Os Frutos do Verdadeiro Cristianismo
John Bunyan

Todo aquele que foi justificado pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo encontrará aqui um excelente
guia para que possa viver de modo agradável a Deus. Este livro faz lembrar a magistral obra, A
Prática da Piedade, do piedosíssimo Lewis Bayly, por seu fervor e fidelidade bíblicos, e por sua
sobriedade e zelo piedoso de obedecer aos mandamentos do Senhor em todas as áreas de nossas
vidas e em todos os nossos relacionamentos. O autor nos exorta à prática da verdadeira piedade cristã
a partir de Tito 3:7-8.
O Homo como Sacerdote em seu Lar
Samuel Waldron

❝A ideia de que um homem é sacerdote em seu lar se deriva naturalmente da tese de que todo ministério
cristão tem caráter sacerdotal. No entanto, esse assunto confronta os homens com algumas das
responsabilidades mais difíceis que enfrentaremos. Quando cumprimos nosso dever e sentimos nosso
pecado e fraqueza nessa área, devemos constantemente nos lembrar da graça e das promessas que Deus nos
deu. Não podemos fazer progresso confiado em nossas próprias forças. Somente cresceremos e
assumiremos nossas responsabilidades com a ajuda de Deus.❞
A Doutrina da Trindade
John Owen

John Owen fez uma defesa magistral da grande doutrina bíblica da Santíssima Trindade contra os
socinianos. Dificilmente veremos hoje alguém que se denomine um sociniano, mas não é tão raro assim
encontrar alguém indouto e inconstante que segue as pisadas deles e nega a verdade bíblica sobre a bendita
doutrina da Trindade, para sua própria perdição eterna (2Pe 3:16). Portanto a refutação que Owen faz das
principais objeções dos oponentes dessa doutrina permanece útil também para os nossos dias. Sobretudo é
proveitosa a exposição fiel e profunda feita por ele sobre os principais textos bíblicos que revelam essa
verdade fundamental sobre o único e verdadeiro Deus: Pai, Filho e Espírito.
Os 5 Pontos do Calvinismo
C.H. Spurgeon

Nesta excelente coletânea de sermões Charles Spurgeon expõe o ensino bíblico sobre aqueles que
ficaram conhecidos como os 5 Pontos do Calvinismo: 1. Depravação Total;2. Eleição Incondicional;
3. Expiação Limitada; 4. Graça Irresistível; 5. Perseverança dos Santos. A capacidade ímpar com que
Deus dotou o pregador e a beleza e firmeza da verdade bíblica por ele tratada fazem deste livro um
recurso extremamente importante para todos aqueles que desejam obter uma compreensão clara e
robusta do ensino bíblico acerca da soberania da graça divina na salvação dos homens.
Como Saltar em Segurança para a Eternidade
Lidiano Gama

❝Com habilidade, o autor L.A. Gama desenvolveu a viagem de Greg Thopp rumo à eternidade
sempre ladeado pelas doutrinas que foram o fundamento e alicerce não apenas dos batistas
particulares (reformados), mas da própria Reforma Protestante e do puritanismo inglês e norte-
americano que se seguiu. O livro é valioso para todos os cristãos, mas, sobretudo, é uma preciosa
contribuição para os batistas e uma excelente oportunidade para se examinar cuidadosamente esse
documento, a Confissão de Fé Batista de 1689.❞ — Marcus Paixão
Teologia Bíblica Batista Reformada
Fernando Angelim

❝Estou convencido da extrema necessidade e urgência da igreja brasileira, especialmente os batistas,


recuperar um entendimento bíblico profundo e piedoso sobre os pactos de Deus. E estou igualmente
convencido de que este livro tem muito a contribuir para esse fim. Escrito de maneira clara e didática, e
sobretudo bíblica, este livro se mostrará útil tanto para o pai de família que deseja conhecer melhor sua
Bíblia e guiar a sua família piedosamente quanto para aquele que foi chamado a se “apresentar a Deus
aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2
Timóteo 2:15).❞ — William Teixeira

[1]
Michael Horton, The Gospel-Driven Life (Grand Rapids: Baker, 2009), 94.
[2]
Para mais informações sobre esse assunto, veja G. K. Beale, G. K. Beale, Handbook on the New
Testament Use of the Old Testament (Grand Rapids: Baker, 2012). (Publicado em português, Manual do uso
do Antigo Testamento no Novo Testamento: Exegese e interpretação, Vida Nova, 2013.)
[3]
Patrick Fairbairn, Hermeneutical Manual (Philadelphia: Smith, English and Company, 1859), 124.
[4]
Leia mais sobre esse tema no meu livro The Kingdom of God (Conway, AR: Free Grace Press, 2017).
[5]
Sam Storms, Kingdom Come: The Amillennial Alternative (Ross-shire, UK: Mentor, 2013), 42.
[6]
W.J. Grier, The Momentous Event: A Discussion of Scripture Teaching on the Second Advent (Edinburgh:
Banner of Truth, 2018), 46.
[7]
George Ladd, A Theology of the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1993), 368. (Publicado em
português, Teologia do Novo Testamento, Editora Hagnos, 2003.)
[8]
Anthony A. Hoekema, The Bible and the Future (Grand Rapids: Eerdmans, 1979), 53. (Publicado em
português, A Bíblia e o Futuro, Cultura Cristã, 2013.)
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Hoekema, 45.
[10]
William Cox, Biblical Studies in Final Things (Phillipsburg, NJ: P&R, 1966), 15.
[11]
Hoekema, The Bible and the Future, 12.
[12]
Cox, Biblical Studies in Final Things, 15–16.
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Hoekema, The Bible and the Future, 21.
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Storms, Kingdom Come, 340–41.
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Hoekema, The Bible and the Future, 18.
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Grier, The Momentous Event, 54.
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David VanDrunen, Natural Law and the Two Kingdoms (Grand Rapids: Eerdmans, 2010), 13.
[18]
Kim Riddlebarger, A Case for Amillennialism: Understanding the End Times (Grand Rapids: Baker,
2003), 110.
[19]
Martinho Lutero, On Worldly Authority: To What Extent It Should be Obeyed (n.p.: Glocktower, 2016),
35-36.
[20]
Lutero, On Worldly Authority, 38.
[21]
Para aprender mais sobre a natureza e relação entre os dois reinos, veja David VanDrunen, Living in
God's Two Kingdoms: A Biblical Vision for Christianity and Culture (Wheaton, IL: Crossway, 2010).
[22]
Cox, Biblical Studies in Final Things, 43.
[23]
Floyd E. Hamilton, The Basis of Millennial Faith (Grand Rapids: Eerdmans, 1955), 131–32.
[24]
Donald R. Johnson, Victory in Jesus: A Devotional Commentary on the Book of Revelation (Conway,
AR: Free Grace Press, 2018), 290.
[25]
Cornelis Venema, Christ and the Future: The Bible's Teaching About the Last Things (Edinburgh: Banner
of Truth, 2008), 108. (Publicado em português, A Promessa do Futuro, Cultura Cristã, 2017.)
Table of Contents
1A Hermenêutica Histórico-Redentiva
Hermenêutica Histórico-Redentiva
Autoria Divina
A História da Redenção
A Natureza Progressiva da Revelação
A Analogia da Fé
Teologia Pactual
Conclusão
2Os Crentes são os Filhos de Abraão
Não foi a Ismael e aos Ismaelitas
Não foi a Isaque e aos Israelitas
Não a Posse Exterior da Lei
Não a Circuncisão Externa
Não o Nascimento Físico
Cristo é o Descendente de Abraão
A Igreja Não Substitui Israel
Conclusão
3A Igreja é o Reino Davídico
O Reino Prometido no Pacto Abraâmico
O Reino Prometido no Pacto Davídico
O Reino de Deus Estabelecido na Nova Aliança
Conclusão
4A Nova Terra é a Terra Prometida
Realização Parcial
Já, mas Ainda Não
A Realização em Dois Estágios (Espiritual e Físico) do Reino de Deus
Duas Vindas de Cristo
A Vinda de Cristo Seria um Dia de Julgamento
A Vinda de Cristo seria um Dia de Misericórdia
Um Dia de Ira e um Dia de Misericórdia
Não Uma, mas Duas Vindas
Duas Eras
A Presente Era Maligna
A Era Vindoura
Escatologia Inaugurada
Eras que se Sobrepõem
Dois Reinos (Jurisdições)
Os Dois Reinos são Incompatíveis
O Estado Não tem Jurisdição sobre a Igreja
A Igreja não tem Jurisdição sobre o Estado
A União da Terra (Física) e do Céu (Espiritual)
Isso Não é Espiritualizar Promessas Literais
Conclusão
5A Finalidade da Segunda Vinda
Uma Segunda Vinda Catastrófica
A Ressurreição Geral
A Destruição do Mundo
O Dia do Julgamento
O Estado Eterno
Não Haverá Nenhum Reinado de Mil Anos Literais
Apocalipse 20:1-3
Conclusão

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