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Na redagao do Enem Na prova de Redacao do Enem, uma das competéncias textual avaliadas pelo exame 6a habilidade que 0 candidato demonstra no encadeamento geral dos pardgrafos. © Enem exige que o estudante demonstre “conhecimento dos mecanismos linguisticos necessétios para a construcéo da ‘argumentagao.” Os ‘mecanismos linguisticos de que fala esse competéncia referem-se principalmente & coesao. ‘Sem o dominio dessa propriedade textual, ‘nao € possivel articular (0s argumentos com. coeréncia. Pardgrafo 4: A cachaca: 0 que é, como se faz Pardgrafo 2: A cachaca e 0 processo de destilacao. Parte 3: A hora do texto Encadeie bem os paragrafos Depois de saber 0 que é um pardgrafo e aprender quatro formas de desenvolvimento, chegou a hora de descobrir como Ihe dar sequén- cia. Vocé nao precisa se apegar a determinado tipo de estrutura para fazer a introdugao. Aos poucos, pode combinar duas formas diferen- tes, como a oposigao € a associacao, a divisdo e a oposicao, e assim por diante. Uma vez feita a introdugao, sera a hora de passar ao trabalho de sequenciacao do texto propriamente dito, Saber encadear os pardgra- fos 6 uma tarefa que exige muita atengao, pois no podemos de forma alguma nos afastar do que enunciamos antes. Escrever 6 sempre estar olhando para adiante e para trés. Para isso, € preciso que tenhamos muita consciéncia do que colocamos no papel, senao ao final s6 resta- ré um amontoado de ideias desconexas. 0 dominio da coesao e da coe- réncia é, nessa hora, imprescindivel. 0 que vocé aprendeu a fazer de frase para frase, agora vai precisar fazer de pardgrafo para pardgrafo. Partamos do texto abaixo, em que os pardgrafos se encadeiam de forma muito clara e precisa. Destacaremos sempre as palavras que terao peso na abertura do parégrafo seguinte. Lendo o texto Como ¢ feita a cachaga? 1. A cachaga é 0 caldo de cana fermentado e destilado. Na fermentagio, micro-organismos conhecidos por leveduras convertem o agiicar da garapa em 4lcool. O produto resultante, chamado de vinho (como o suco fermentado de uuvas), é aquecido em alambiques para finalmente transformar-se em cachaga. 2. Na destilagao, 0 dlcool evaporado se condensa ao passar por uma ser- pentina, A primeira parte do liquido que pinga deve ser descartada. E a cha- mada “cachaga de cabeca”, cerca de 10% do volume total, que contém alto teor de substancias volateis e faz um estrago danado no organismo de quem a consome. Os proximos 80% sto 0 “coragdo” da cachaca. E pinga da boa. O restante é “gua fraca”, com baixo teor de dicool. A cachaga, entio, pode ser engarrafada imediatamente ou envelhecer em barris. Paragrato 3: A cachaga e seus segredos. Pardgrafo 4: A cachaga e sua invengao. Paragrato 5: A cachaca € 0 proceso de disseminagao na sociedade Paragrafo A cachaca e seu valor hoje. 3. A boa caninha tem os seus segredos. Como na escolha da uva para 0 vinho, conta aqui a boa qualidade da cana ~ fatores climaticos e o solo deter- minam se uma safra sera boa ou nao. No caso das aguardentes envelhecidas, 0 produto final depende do tempo de repouso ¢ do tipo de madeira do barril (0 mais comum é 0 carvalho). 4. A cachaca teria sido inventada ao acaso, no Brasil colonial e agueareiro. Em 1637, o naturalista alem&o Georg Maregrave, da comitiva do holandés Mauricio de Nassau, levou a Pernambuco a primeira caldeira para a producao de melado de cana. A borra adocicada que se concentrava sobre a garapa bor bulhante era removida pelos escravos com uma escumadeira e jogada numa tabua, Ali, ela fermentava. Um escravo teria experimentado e aprovado 0 sub- produto ctilico. “O resto da histéria nao se sabe ao certo. Mas alguém conse- guiu destilar a garapa fermentada e produzir a aguardente de cana”, afirma o engenheiro quimico Octavio Carvalheira, pesquisador do tema. 5. Nao tardou para que a caninha passasse da senzala 4 casa de engenho. Até mesmo Dom Pedro II teria experimentado um cdlice da marvada quando esteve no Engenho Monjope, em Igarassu, Pernambuco. “Foi no fim do século XIX e iniciozinho do XX, com a forte imigragio de europeus e sua cultura de vinhos, que a cachaga virou bebida de segunda linha”, diz. Maria das Vis- torias Cavalcanti, presidente do Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaga. 6. Na iiltima década, a pinga retomou seu lugar de direito, Hoje, 0 pais produz 1,3 bilhdo de litros de cachaga por ano. Estima-se que existam 30 mil produtores de caninha no Brasil e mais de 400 mil trabalhadores vinculados a essa industria. Investiu-se na qualidade e na divulgaco, aqui e no exterior. HA cachagas que valem mais que um bom uisque escocés ~ 600 mililitros da Anisio Santiago, produzida em Salinas, MG, so vendidos por cerca de 150 reais. Nao € A toa que, hoje em dia, a caipirinha é um dos drinques da moda na Europa. LACERDA, Mariana, Como é feita a cachaga? Superinteressante, ago. 2003. p. 32. Texto adaptado. Para que vocé percebesse como foi construfdo o texto, mostra- mos ao lado de cada pardgrafo sua arquitetura fundada na palavra- -chave cachaca e nas informacées que serao desenvolvidas em re- lagao a ela. Encadeie bem os parégrafos Coeréncia e palavra-chave Parte 3: A hora do texto © que nos chama logo a atengao - € Isso € uma ligao para voce colocar sempre em pratica - 6 a presenga da palavra-chave, repetida ou ‘substituida por um de seus sinénimos em todos os paragrafos. Esse € © primeiro sinal de que o texto tem rumo, nao se perdeu pelo meio do caminho, est coerente em relacao ao tema. Nao houve afastamento dele hora alguma. Além de ver se a palavra-chave estd presente durante todo o percur- 80 do texto, seré preciso também observar se cada pardgrafo acrescen- ta uma informagao nova, para que o leitor nao perca o interesse por ele. Texto redundante, que nao sai do lugar, que se torna repetitive, cansa, 6 logo abandonado. Depois do texto escrito, é hora de ver como se fez a passagem de um parégrafo para outro, como se deu a coesdo sequencial. Essa costura entre os pardgrafos é que Ihe dard a certeza de que esta na diregao certa. Voltemos ao texto. Releia todos os t6picos frasais. Vocé veré que em todos eles, na primeira frase, esta presente a palavra cachaca ou algo associado a ela. Na introdugao, coma nao poderia deixar de ser, cachaga aparece logo no inicio da primeira frase Faga sempre isso nas suas redagdes: comece com a palavra-chave, assim vocé ndo a esquecerd. Depois, dissemine-a ao longo do texto, como fez Mariana Lacerda. No segundo pardgrafo, ela usou as palavras alcool ¢ pinga. No ter- ceiro: a boa caninha. No quarto: cachaga. No quinto: caninha e mar- vada. No sexto: pinga. Para ver a razo por que a autora mudou de pardgrafo, vamos reler o final de cada um deles e 0 inicio do seguinte. Assim, detectaremos melhor como se deu 0 encadeamento do texto, como se fez sua coesao. Na ultima frase do primeiro parégrafo, a jornalista fala que o produto resultante da fermentacao do caldo de cana, antes de se transformar em cachaga, € aquecido em alambiques, local onde se da 0 processo de destilagao, quando 0 alcool evapora. por associagao a alambique que vai aparecer a palavra destilagao logo no comego do segundo pa- ragrafo e todo ele seré dedicado a esse proceso: em que consiste, 0 que produz, até chegar a verdadeira cachaca. Na ultima frase, lemos que, depois de todo o processo de destilacao, ela esté pronta para ser engarratada ou ser colocada em barris para envelhecer, © terceiro pardgrafo comega com caninha, sindnimo de cachaca, que aparece na ultima frase do segundo. Agora a ideia a ser desen- volvida em relagao a ela sao os segredos para que se torne uma boa caninha, e um deles € 0 que aparece no final do pardgrafo anterior: envelhecer em bars. Explicados os segredos da boa cachaca, parte-se para um novo aspecto do tema e abre-se, entao, um novo pardgrafo: o quarto. E com @ palavrachave que ele comega. Na frase final do pardgrafo anterior apareceu aguardentes, o gancho para continuar falando de cachaga no pardgrafo atual. ‘OLHO vivor Todos nés, para orever com justeza, somos obrigados a fazer um Jogo de idas vindas entre um parégrafo e outro. Com rempo, € evidente que esse mecaniemo se automatiza, e a pratica aa leitura @ da escrita mostrard rapidamente se 0 encadeamento estd ou nao perteito. Como vooé esté comegando a escrever, 2 atencdo precisa ser cuplicaca. A informacao nova que se vai desenvolver agora € a forma como ela foi inventada. Recarre-se entao a historia: @ cachaga foi criada no periodo colonial e agucareiro por um escravo que experimentou o sub- produto da garapa borbulhante que produzia o melado de cana. Uma descoberta do anaso. No quinto parégrafo, a autora, evidentemente, continua a falar da cachaca, mas a ligagao entre este € 0 anterior € escravo. Logo na primeira frase aparece, por associacao a essa palavra, senzala. Por oposigao a ela, surge casa de engenho. E sé explicard, assim, como 0 consumo dessa bebida se espalhou na sociedade da €poca, da senza- la & casa de engenho, chegando até Dom Pedro II. O pardgrafo final comega com pinga e afirma que ela retomou seu lugar de direito na sociedade, Por que @ autora diz isso? Releia a ilti- ma frase do parégrafo anterior. La esta escrito que o vinho, no final do século XIX e comeco do XX, tomou 0 lugar da cachaca. Daf se justifica a afirmativa que ela fez. Hoje a cachaca ocupa tugar de destaque e € valorizada nao $6 aqui mas também na Europa Do texto de Mariana Lacerda podemos tirar algumas ligdes que vocé deverd carregar redagoes afora: = A palavrachave, ou seja, a mais importante do texto, deve estar presente em todos os pardgrafos. O final de cada paragrafo deve ter tigac&o direta com 0 tépico frasal do pardgrafo seguinte. Cada novo pardgrafo significa uma nova informacao sobre o tema: palavra-chave + informagao nova Os t6picos frasais devem dar uma visdo progressiva do texto. De- vem mostrar a evolucao do tema. A fidelidade ao tera € imprescindivel, e isso se constata pela pre- senca constante da palavra-chave ou de outras associadas a ela. Antes de encerrar o capitulo, s6 um lembrete: Antes de escrever o texto, vocé deve fazer um breve esquema com a palavra-chave e as informagées que ela deve trazer em cada Encadeie bem os paragrafos ATIVIDADES 4. Cada pardgrafo abaixo sera seguido de trés opgdes de t6picos frasais. Escolna aquele que deve abrir 0 paragrafo seguinte e justifique. a) A lingua é um exemplo daquilo que a cléncie mo- derna chama de sistema complexo. Assim como © Universo, 0 nosso planeta, a matérla, a vida, as sociedades (animais e humanas), a economia e a politica, a linguagem apresenta certas proprieda- des que sao descritas por uma drea de pesquisa, que se desenvolveu sobretudo a partir da década de 1990, chamada teoria da complexidade. BIZZOCCH, Aldo. © emaranhado da ingusgem. Lingua portuguesa, Sao Paulo: Segment 1. 60, ano §, out. 2010. p, 54 Opec 4: Um sisterna complexo é um conjunto de partes conectadas entre si e de regras de interagao entre elas. ‘Opgao 2: As linguas apresentam todas as caracte- risticas necessarias 8 configuragao de um sistema complexo, dotado de proprieda. des emergentes. Opcao 3: Segundo essa teoria, um sistema é consi derado complexo quando suas propriede- des no sao 0 resultado de mera adigao das propriedades de seus constituintes isolados. b) Aquaman, Pequena Sereia, Bob Esponja... Esses tém sorte. Saem mergulhando mar afora sem se preocupar. Para n6s, personagens da vida real, @ evolugo néo foi tao bacana. Ficou no quase: des- ‘cendentes de seres que viviam na agua, até hoje desenvolvemos fendas branquiais como as de pel. es e anfibios. Mas s6 quando embrides. Logo elas ‘desaparecem para dar lugar a partes da laringe e ‘ssos do ouvido e garganta, BRITO, Fernando. E se... a8 pessoas dovaixo o'gua? Superinteressante,n. 282, se spirassem 10. p. ‘Opgao 4: Com um sistema respiratério como esse, seriamos parecidos com os anfibios. ‘Opeaio 2: Uma revolucdo e tanto aconteceria se as fendas continuassem I. Opec 3: A terra firme nao seria abandonada por completo. ©) Dieta das proteinas, mediterrdnea e até da Lua. H alguns anos a preocupacao em manter 0 peso ‘deal era “assunto de mulher’. Elas eram capazes de cometer atos ensandecidos na luta contra @ bbalanca. Jé eles, mesmo querendo eliminar a “bar: riguinha de chope’, ndo consegulam sentir prazer ‘em substituir a picanha pela carne de soja ou ain- {da saborear apetitosamente uma poreao de legu- ‘mes corides no vapor. Hoje a situacdo comeca a ‘mudar, Surgiram algumas dietas que liberam até uma ida churrascaria © 0 homem est mais pre- ‘ocupado com a sauide e a estética. EPOCA. Especial Homem. Rio 19 ab. 20 Janeiro: Epoca, 5. Texto adaptade, Parte 3: A hora do texto Opgao 4: Como a dieta sé traz resultados se alia. da a exercicios fisicos, 0 velho habito de reciamar da falta de tempo deve ser abandonado, diz Joao Lindolfo, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo: “As pessoas dizem que nao tem tempo”, Opeao 2: Segundo o endocrinologista Filippo Pedri- rola, “o nimero de homens que procuram métodos para emagrecer aumentou cerca de 25% em dez anos”. Opgao 3: Mas, se para alguns emagrecer é resultado de privagdes da mesa, para outros é ques- ‘to de vida ou morte, 4) Antes do comeco, 0 que existia? O nada? Como pensar sobre o nada sem supor a existéncia de algo? 0 nada faz sentido por si 56? Qu ele precisa de seu oposto - 0 tudo - para ter significado? Nao seria, talvez, melhor pensar em espaco e ausén- cia de espace, 0 vazio? Mas, se no iniclo existia apenas 0 vazio, de onde entéo surgiram o cosmo, ‘2 matéria, 0 espago no qual ela se move e cria formas complexas, algumas até vivas? Como algo ‘material pode surgir do nada, que por definigdio & imateriar? GLEISER, Marcelo. Antes do comeco Folha de .Poulo. So Paulo, 8 jun, 2003, Mais, 9. 18, Opcdo 4: Mais sofisticadamente, o conceito de tem- o tal como 0 entendemos em nosso dia a dia, 0 tique-taque constante e regular do passar das horas, nao faz sentido perto da ‘origem do Universo, Opgio 2: A fisica que usa esse tempo uniforme e familiar ndo funciona nas condigées extremas que reinavam nos primérdios. césmicos. Opedo 3: Perguntas como essas vem assombrando e inspirando a humanidade desde os seus primérdios. ) Entrar num tunel de luzes. A sensagao de sair do préprio corpo. Encontrar parentes e amigos jd falecidos. Muitas pessoas que estiveram perto da morte relatam ter passado por experiéncias como essas, que a ciéncia nunca conseguiu ex. plicar. Mas um estudo impressionante, que pela primeira vez revelou 0 que acontece no oérebro durante @ morte, parece ter comecado a desven- dar 0 mistério. ‘SUPERINTERESSANTE. So Paulo: Abr 1.278, jun, 2040. p, 22 Opeo 4: Usando um aperelho de eletroencefalo- grama, um grupo de médicos monitorou a atividade de 7 pessoas enquanto elas mortiam, Opgao 2: A atividade cerebral dos pacientes ia fican- do cada vez menor, Opedo 3: Os doentes estavam sob efelto de seda tivos @ 86 sobreviviam com a ajuda de aparelhos - que, a pedido de suas fami lias, foram desligados, fi A gente nao cansa de ouvir que todo cao se Parece com 0 dono. Essa premissa se toma ain. da mais real quando os hébitos alimentares e @ pritica de exercicios fisicos sao levacos em conta. Tanto companheirismo acaba se refletin- do no ponteiro da balanca - de ambos. Para ‘combater os quilos a mais, que prejudicam a Satide do bicho, nada melhor que receber edu- cacao alimentar e boas doses de malhagéo - ara ambos novamente. SAUDE € VITAL. S80 Paulo: Abril n. 329, cut. 2010. p, 29. Opgaio 4: 0 primeiro passo para afinar a cintura do ‘Seu amigo é descobnir 0 que esta inflando 0s pneuzinhos caninos. Opgiio 2: Petiscos no formato de ossos e afins de- vem ser abolidos da alimentacao do pet gorducho, Opgao 3: Mas os fatores genéticos e a castragaio também pesam nessa histéria - Leia 0 texto que se segue e assinale as palevras que fazem 0 elo entre os paragratos (pardgrafo 2 em rela- (0 a0 1; 3 em relagao ao 2 etc.) Envelhecer: com mel ou fer? 1. Conhego algumas pessoas que estdo envelhe- cendo mal. Desconfortavelmente. Com uma infelici- dade crua na alma. Estéo ficando velhas, mas néo esto ficando sabias. Um rancor cobreshes a pele, @ escrita e 0 gesto. S40 critices azedos do mundo. Em vez de criticos, alids, estao ficando erticos sem nenhuma docura nas palavras. Esto amargos. Com fel nos olhos, 2. E alguns desses, no entanto, terlam tudo para ‘ser 0 contrério: aparentemente tiveram sucesso em suas atividades. Major até do que mereciam. Por tanto, a gente pensa: 0 que querem? Por que essa bills ao telefone & nos bares? Por que esse resmun- 0 pelos cantos e esse sarcasmo piiblico que se ensa humor? 3, Isto estd errado. Errado, nao porque esteja sim plesmente errado, mas porque tais pessoas vivem numa infelicidade abstrusa. E, ademais, dever-se- fa envelhecer maciamente. Nunca aos solavancos. Nunca aos trancos e barrancos. Nunca como al. guém caindo num abismo e se agarrando nos ga- thos e pedras, olhando em panico para o buraco enquanto despenca. Jamais, também, como quem estd se afogando, se asfixiando ou morrendo numa camara de gas, 4. Envelhecer deveria ser como plainar. Como quem 1nGo sofre mais (tanto) com os inevitaveis atritos. As- sim como a nave que sai do desgaste da atmosfera © vai entrando noutro astral, e vai silente, e vai gas- fando nenhumquase combustivel, fiutuando como uma caraveta no mar ou uma cépsula no cosmos, 5. Os elefantes, por exemplo, envelhecem bem. E olha que é uma tarefa enorme. Nao se queixam do peso dos anos, nem da ruga do tempo e, quando ercebem @ hora da morte, caminham pausada- ‘mente para um certo e mesmo lugar - 0 cemitério dos elefantes -, € ai morrem, completamente, com a Srandeza existencial s6 aos sabios permitida. 6. Os vinhos envelhecem meinor ainda. Ficam all nos limites de sua garrafa, na espessura de seu sabor, na adega do prazer... E vo envelhecendo © ganhando vida, enveihecendo e sendo amados ©, porque velhos, desejados. Os vinhos envelhecom Gensamente. E dao prazer. 7. 0 problema da veihice também se dé com cer- tos instrumentos. Nao me refiro aos que enferrujam pelos cantos, mas a um envelhecimento atuante como 0 da faca, Nela, 0 corte diario dos dias a vai Consumindo. E, no entanto, ela continua afiadissima, encaixando-se nas maos da cozinhelra como nenhus ma faca nova. 8. Vai ver, a natureza deveria ter feito os homens enveihecerem de modo diferente, Como as facas, di- amos, por desgaste, sim, mas nunca desgastante. Seria a suave solugao: a gente devia ir se gastando, Se gastando, se gastando até desaparecer sem dor, como quem, caminhando contra o vento, de repente, Se evaporasse. E iam perguntar: cadé fulano? E al. vém diria: gastou-se, foi vivendo, vivendo e acabou. Acabou, € claro, sem nenhum gemido ou resmungo. Foal ‘SANTANA, Affonso Romano de. As mefhores erénices de Afionso Romano de Sant Anna. Selegdo e prefécio de Leticia Malard Sao Paulo: Gobal, 2003, p, 52:3. . Leia 0 texto abaixo e escreva dois pardgrafos ba. seados nas idelas nele veiculadas. 0 mais impor- tante neste momento é voce ficar atento & coesao entre um pardgrafo e outro, Cuide também da coe- rencia. Por que o brasileiro 1é pouco? Fiquemos com @ resposta da maior autoridade no ‘mundo, a Unesco. Para 0 setor da ONU que cuida de educaeao e cuttura, 56 ha leltura onde: 1) ler é uma tradigéo nacional, 2) 0 habito de ler vem de casa € 3) sao formados novos leitores. O problema 6 antigo: ‘muitos brasileiros foram do analfabetismo a TV sem assar na biblioteca. Para piorar, especialistas culpam @ escola pela falta de leltores. “Os professores cost mam indicar livros cléssicos do século 19, maravilno ‘$05, mas que no sdo adequades a um jovem de 15 anos’, diz Zoara Failla, do Instituto Pré-Livro. "Aoresen. ‘ado 86 a obras que considera chatas, ele ndo busca mais 0 livro depois que sai do colégio.” Muitos educa dores defendem que o Brasil poderia adotar o esque- ‘ma anglo-saxdo, em que cldssicos so um pouco mais prdximos, dos anos 1950 e 1960, e hd menos livros, ‘que séo analisados a fundo. Mas ai teria de mudar 0 vestibular e isso Ja € outra histéria. EIRO, Raphael. Superinteressa $0 Paulo: Abri,n, 284, now. 2010. p.

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