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3 O Sistema Estatal ¢ a Elite Estatal -{ + Existe um problema preliminar em relagdo ao Estado que & raramente considerado, mas que requer alengao se se deseja focallzar, de maneira correla, a discussio a Tr ito 2 te jue ’ ao se trata absolutamente de uma questio académica. Isso porque o lratamento de wma das paries do Estado — em geral 0 governo — como se fora o préprio Estado in-- troduz um enorme elemento de confusio no debale sobre a natureza e a incldéncia do poder estatal ¢ tal conlusio ode acarsetar amplas conseqiléncias polllicas. Portanto em amplas suposi¢ées a respeito da natureza do poder es lalal, estd repleta de grandes riscos e desapontamentos. A Fim de entender a natureza do poder estatal, ¢ preciso antes de tudo distinguir e em seguida relacionar os varios ele- mentos que inlegram o sistema .estatal. Nao é de surpreender que governo e Eslatfo apare¢am freqlienlemente como sindnimos. Isso porque & o governo que fala em nome do Estado. Era ao Estado que se reieria Weber quando afirmou, ‘numa frase [amesa, que para exlstir ele deveria , e deixar os assunlos politicos» para os polllicos profissfonais, Ou, alfernaliva- mente, «despolitizar> os assuntos em debate. Karl Mannheim observou certa vez que .* Algumas das consideragdes .acima se aplicam a todos os demais clementos do sistema estalal. Elas se aplicam, por exemplo, a um tercelro elemento, o mililar, ao qua) se po- di dos objetivos aiuais, o para Na maiorla dos paises capilalistas, ease aparelho coercitivo Constitui uma organizac¢io ampla, espalhada e poderosa, cujos Itderes profissionais sao homens de sfates elevado e grande influéncia, dentro do Bistemma eslatal e da sociedade. Em “‘nenhum Jugar toi a inflagdo da organizagio mililar mais acentuade, desde a Segunda’ Guerra Mundial, do que nos E.U.A., pais que até entao estava altamente orientado para a vida civil.’ O mesmo tipo de inflagao teve lugar também nas forgas de aseguran¢a internay, ndo sé nos Es- fados Unidos. E’ bem provavel que nenhuma vez anlerior- mente, em quélquer pals capilalista, excelo na {talia fas- cisla e na Alemanha nazista, uma proporgao (Jo grande de pessoas esteve empregada em atividades policiais e re- P' zes, pelo menos nos sistemas politicos de (ipo acidental, servir aos abjetivos de seus governos. a itucio- . De fato, o conceito de independéneia judicial esta stupondo nao ° Meynaud, La Tecinocratic, p._ 68. “Ch Mills, A Etite do Poder, Zahar Editores, Ric, cap. 8. 70 O Sisrema Estatat & A ELtre EstaTac apenas 2 liberdade dos juizes no tocante A responsabilidade em face do execulivo politico, mas lambém o seu dever alivo de proleger o cidaddo contra o executiva polilico ou seus agenles e a agi, por ocasido dos choques entre o. Estado e membros da socledade, como defensores dos di- reitos e das liberdades desle ullimo. Como veremos adianle, isso pode significar muitas coisas diferentes, De qualquer modo, 9 judicidrio ¢ parte integranle do sistema estatal, que afela,.as vezes profundamente, o exercicio do poder astatal. O mesmo ocorre, em maior ou menor grau, com um quinto elemento do sistema estatal, ou seja com as varias unidades do governo subcentral. Num de seus aspecios, o governo subcentral constiiui uma extensdo do governo ¢ da administrag¢do centrais, as antenas au tentaculos da ullima. Em alguns sislemas politicos ele nao tem praticamente outra fungdo. Nes paises do capitalismo avan¢ado, por outro lado, © governo subcenlral & muito mais do que um artificio aq- Jministrativo, Além de sesem agentes do Estado, tais uni- dades do governo (8m desempenhado também tradicional mente outra fungao, Tém sido ‘nao sé os canais de comu- icagio e administragdo entre o ceniro e a periferla, mas ainda a voz da periferia ou de inleresses parliculares da periferia. Elas tém servido de meio de superagdo de par- ticularidades locais, bem como de plataformas para a ex- pressdo destas, instrumentos de controle central e obs(é- culos ao mesmo. Em face de loda a cenlraliza¢ao do poder, que constitui um trago marcante do governo naqueles paises, vos Qrgdos aubcentrais de governo, notadamente emi siste- -Mas Federais como o dos Estados Unidos, persis como. estruturas de poder com seu préprio direito, capazes por- tanlo de afetar de: maneira muito acentuada as vidas das opulagées que tivessem governado. A-mesma coisa poderia ser dita a respeilo das assem- biéias representativas do capitalismo avangado. Agora mais do que nunea;sua vida glra em torno do governo, e mes- ‘mo nos lugares, como nos Estados "Unidos, em que sao Orgios formalmenie independentes do poder constitucional e Politico, suas relagées com o executive politico nao poden 7 UO Estapo NA SocieDADE Capitatista ser de, tipo puramente critico ou obstrulivo. Sao relagdes de contliio € COoperacio. No se trala de uma questdo de” ‘diviséo entre uma ala pré-governo ¢ outra anligoverno. Ambas as alas reflelem tal dualidade, pois os partidos oposicionistas ndo podem ser lolalmente ndo-cooperativos. Pelo simples fato de tomar Parle ngs _trabalhos: legislativos, eles auxiliam a tarefa do. Esse & um dos problemas principais dos partidos tevoluciondrios. Ao. ingressarem nos. érg4os. parlamentares existentes, sd0 obrigados, mesmo com relutancia, a tomar parte no trabalho. dos mesmos, mido a simples obsirugao. Eles podem considerar que o prego & compensador. Mas ao ingressar na arena parla- ‘mentar, fazem‘ pelo menas com que seja possivel um de- ierminado jogo polilico, ¢ devem joga-lo, de acordo com regras que nao foram escolhidas por eles. Quanto aos partidos governaimentais, sd0 raramente, se é que o sao, sinceros em seu apoio ao executive politico e, - a0 mesmo tempo, subservienles em relagdo a ele. Incluem pessoas que em virtude.de sta posi¢ao e influéncia devem ser persuadidas, lisonjeadas, amea¢adas ott subornadas. E’ através do exercicio constilucional dessa fungio coo- u Il. Tal parlicipagéo 6 aliés me- nos ampla ¢ significativa do que em geral se proclama em telagado a lais érgdos. Todavia, como se argumentard a se- guir, ndo deixa de ler importancia, mesmo em épocas de dominagdo executiva. ®@ $40 essas as instiluicdes — governo, administragao, for- as militares ¢ alicia, dudiciario, governo subecniral & assemib legislativas — que constiluein ’ os fatos altamente controvertides e fazer com que tais falos sejam julgados de acordo com critérios favora- veis aos negécios. Isso pode parecer uma fuga a polilica e@ 4 ideologia: mas na realidade trata-se de sua imporlacio clandestina nes assunios piblicos. 1 R. Bendix, Max Weber: an Intellectual Portrait, 1960, p..436. * J. Schumpeter, Capitatism, Socialism and DenocPacy, 1980, ps. 13748. LTR. Aron, La Latie des Classes, 1964, p. 280, * 75 © Esrapo. NA SocrepADE CAPITALISTA De qualquer modo, a idéia de que os homens de’ negécio estado afastados dos problemas politicos, de maneira. direla © pessoal, exagera enormemente a sua relutancia em buscar © poder politico, ao mesmo fempo que subestima o fato de que ta) busca foi muitas-vezes bem- sueedida. Nos Estados Unidos, eram os empresdrios que conslitufam © maior grupo ocupacional singular dos gablneles, enlre 1889 < 1949; e do numero total de membros do gabinele entre tais datas, mais de 60% eram empresdrios de um lipo ow outro." Nem mesmo duranle o’governo de Eisenhower (1953 a 1961)" foi a presenga dos empresdrios nos gabi- netes dos Estados Unidos menos marcante. Quanto aos mem- bros dos gabinetes brilanicos, entre [886 e 1950, cerca de um tergo correspondia a empresdrios, inclusive trés pri. meiros-minisiros — Bonar Law, Baldwin ¢ Chamberlain. “ Os empresarios também nao estiveram mal representades nos gabinetes conservadores que ealiveram no poder entre 1951 e¢ 1964. E mesmo se os empresdrios fiveram menos | @xllo nesse sentido, em alguns oulros paises capitalistas” avancados sua representagio jamais foi insignificante. i O governio nado constitui porém, de modo algim, a tnica ‘parle do. sistema estalal cm que os emprésaries liveram voz ativa. Na realidade, um dos aspeclos mais nificalives do.” capitalisme avangado ¢ justamente aquilo que poderia ser chamedo, sem grande exagero, a sua colonizagao crescente dos escalées superiores da parte adniinistraliva daquele sistema. Na Franga, a interveng%o do Estado tornou-se mais am- pla e assumiu formas inslitucionais mais elaboradas do que em qualquer outro" Jugar no mundo capitalisla." Mas lanlo SBD. Lassvell ef al, The Comparetive Sindy of Elites, 1982, p. cx., Mills, Elite do Peder, ps. 292 e * Chiebetlsl of al, The Comparative Study of Elite 2 30. Cf tam- bém Gatiaman, The British Potitleat Elite, ps. 92 ¢ seg. jm qui, porém, a nocdo de ile deve ser compreendida com uma Bignilicardo muilo positiva: Dp. ex, J. Sheahan, Promotion and Controf of Industry in Post-' [Wa Fronee, 1963, observa que, edurante a déceda de ‘50, o ‘técnica francesa de planejamento utilizava um sistema modecado de favores dife- 76 . © Sistema EstataL © A Ewtre EsTata na elaboragdo dos planos franceses como na sua execugdo, os homens que perlencem ao mundo dos negécios, e parti- cularmente dos grandes riegécios, gozaram de uma prepon- ;Serancla. acentuada, quase ‘majoritétia, em rela¢do “a qual- quer ouiro grupo gcupacional ou «selosialz. Schontield ob- serva-que, sem alguns aspectos, a evolugao do planejamento “na Franga, na década.de 50, pode -ser encarada como um alo de enlendimento voluntario entre altos funciondrios pu- blicos, civis e altos administradores do mundo dos negécios. Os politicos’ e ‘os representantes das. organizagées traba- thislas foram completamerile deixados de: ladoa.™ O mesmo lipo de predominio empresarial sobre oulros Btupos etondmicos pode ser enconirado ‘nas instituigées fi- wanceiras ¢ de crédilo. do. Estado“ e no setor nacionali- zado,” .A criagao deSse ‘sttor foi mulias vézes encarada como um desligamento-dé uma importante area de -atividade -econdmica do controle e ‘da influéncia capitalisia, Além de todas as outras for¢as que impedem um setor auxiliar na- cionalizado..d® ser ditigido de acordo com linhas nZo-orte- doxas, existe: ainda 0 fato de que-o empresariado adquiriu um, lugar extremamente gélido para. si mesmo nos érgdcs dirigentes daquele.setor, du melhor, ele foi convidado peles governos, qualquer que seja sua coloragao ‘politica, a de- sSempenlar wn papel importante na administragto e no con- {role do setor piiblico.” Em coniraposi¢ao, os represenian- les das classes irabalhadoras [@m aparecido como parenies renciados, @ lim de'obter cooperagdo, mas nio aplicava penalidades diretas a’ recusa em cogperars (p. 181). O mesmo autor descreve 0s franceses como um «grupo de pessoas bem in- fesclonadat_¢ inieligentes, que tenia aitdar clereer a8 perepec- tives’ para o governo ¢ o empresariado> (p. | ” Sehonii Modern Capitatism, :* Ch, para a Gré-Bretanha, S. Wilson ¢ T. Lupton, «The Social Background and Connections of “Top Decision-Makers's, em Hi Manchester School of Economic and Social Stadies, vol. 27, J.D. ex. Universities and oot Review, The Insiders (s/d.); c ine, Power af the Top, 1989; e J. Hughes, Nationalised Industries in the Mixed Economy, 1960, 7 = Um exemplo recente pico fol a indicagéo feita pelo Governo “de Wilson deum eminenle homem de negéclos, sem qualquer liga- lo corn © trabalhismo, para dirigir 8 recenfemenle naclonalizada © ‘(ou,"anlas, renacionalizada) Corporaghe Siderurglea. 77 O Estapo NA SociEDADE GaPITALISTA: realmente muito pobres — muilo embora se deva acrescen- tar que o ingresso de vm dicais «limposs jentagdo de instiluig6es que sdo, de fato, parte integranle do sistema capilalista. . 10 (e ainda nas assemblélas legislativas) " € obviamente falsa. Eles eslao envolvidos e tanto mais. diretamente 2 proporgao que o Es- tado passa a ocupar-se mais com a vida econdmica; sempre que o i ifi negécios, em uma posi¢do excepcionalmente forle se com- parada com outros grupos econdmicos, influenciam e¢ alé mesmo determinam a nalureza daquela inlervengio. Pode-se admitir facilmente que os empres: gressam.no sistema estatal, qualquer que seja‘o seu cargo, nao se consideram representanles do munda de negécios em geral ou menos ainda de suas préprias industrias ou firmas particulares.” Mas mesmo que 0 deséjo de pensar em lermos enacionais> scja muito forle, os empresdrios que estio no governo ‘ou na administragio muito provavelmente nao estario de acordo com uma politica que venha a ¢con- (cariar aquilo que consideram ser o interesse do empresa- ‘riado, nem muilo’ menos a se lornarem os defensores de ial polllica, uma‘vez que, quase por defini¢ao, estarao pro- pensos a aciéditar que lal polftica ¢ thimiga do «interesse ational», E’ muilo mais facil para os empresdrios, quando necessdrio, aproveilarese dos esloques e das acdes como uma espécie de rilo de passagem (rife de passage) ao. servigo do governo, do que aproveilar-se de uma delermi- nada concep¢#o do mundo ¢ do lugar que nele ocupa o empresariado. CE, po | Observar, parm, « conclusdo 2 que chegou uma Camisséio dq Investlgace to Senado, de que, duraute a Segunda Guerra Mundial sos homens de um délar por ano (como eram chamados entéo) €ram ‘pessaas com bases pata desgastar’ e “fobbics'» (D. C. Blaisdell] American Demoeracy under Pressure, 1950, p. 190). 78 O StsTeMA EsTATAL E A ELITE ESTATAL Nao obstanfe a expressiva participagao dos empresdrios nos assunios do Estado, & verdade porém que jamais cons- Uiluiriam, ¢ n§o constituem alualmente, mais do que uma minoria relalivamenle pequena da elite estatal, lomada como um (odo. E’ nesse sentido que as eliles econémicas .dos paises capilalistas avan¢ados nao sao, propriamente falan- do, uma. classe -«governante» comparavel as classes pré- industriais, aristocralica e fundiavia. Em alguns casos, estas Ullimas eram quase capazes de dispensar a maquinaria es- lalal, distinta e tolalmente arliculada, conslituindo-se elas + préprias, na pratica, o Estado.” As elites econémicas capi- . =, . . No ertanto, a importancia do desligamento relalivo dos ) “estatal propria. Isso porque os empresdrios pertencem, em termos econémicos e sociais, as classes médlas.e altas — e & justamente nessas classes que sdo recrutados predomi- nantemente, para nao dizer em sua maioria esmagadora, ‘oS ‘membros da elite estatal: O modelo «é monotonamente semelhante em todos os paises capilalislas e se aplica’ nao sé As elites admlnistratlvas militar e judicidria, que eslao Isentas do sufragio universal e da competicado politica, mas “também aquelas politicas e elelivas, que nao o estado. Por toda parte e em todos os seus elementos, o sistema estatal * Habbakuk escreve sobre a Inglaterra’ do século: XVIN que inclui aqui «funclond- riblicos de nivel elevador. _ ot * D. R. Matthews, The Social Background of Political Decision- Makers, 1954, ps. 23-4 (grilos no texto). * Mills, A Elite do Poder, Zahar Edilores, p. 192. Janowitz ob- serva ainda que cos dirigentes mililares norte-americanos ¢€m vindo ‘tradicionalmente das camades mais privilegiadas» (M. Janowitz, The Professional Sofdter, 1900, p. 69). Efe acrescenta também que, ‘eentrelanto, as fendéncias recentes em sua osigem social_oferecem uma confirmacdo sirpreendente do decUnio das osigens- sociais re~ Intivamente alfas dos mililares ¢ a aua transformacio em um grupo mais helerogéneo do ponio de vista sociale (p. 80). Mas esse ¢grupo ‘mais leterogéneo do ponto de viste eacials ainda’ é composio de homeng nageidos nas classes «empresariais, prolissionais @ -admi- niglrativass, que apresenlam uma preponderdncia esmagadora em selagéo aqueles nascides nas classes emédia> e . 83 © Estabo NA SOCIEDADE CAPITALISTA movimento dentro dele. Tal filia¢do propicia ligagoes de iL reira vitoriosa. Dois autores franceses abdrdam bem “a quesido e o’que afirmam nao se aplica apenas A Franga: “Se um esludante de. origem modesin realizou -eom Silo 9° seu ‘urso universitéric, foi aprovado no exame de admissio 4 Escola Nacional de Administraglo @ até mesmo, por que nfo, no exame firial em que a investiga scullurals € talvez mais severa do. ue no Ingresso, ele ndo eslard porém em pé de igualdade. com ivel - _ mais allo, 8 promo € mais incerla do que nov mais Peon Aqueles que confrolam ¢ delerminam a sele¢do ¢ a pro- mo¢ao no nivel mais alto do servigo estatal sf0 muito pro- yavelmente membros das classes média e alia, por sua ori- gem soctal ou em virtude de seu prdprio exito profissidnal, Provavelmenie terio uma imagem determinada de como um alto lunciondrio pdblico civil ou uma alta patente mililar deve pensar, falar, comporlar-se ¢ rea; E essa imagem sera lragada em iermos da classe’ a qual eles peslencem. No ha davida de que os recruladores; cOnscios das pres- s6es e exigéncias de uma época «meritocrAlican, ' poderao conscientemente tentar corrigir a. sua tendéncia preconcei- tuosa, Mas & mais provdvel que eles o superem quando j c idade «Diamanles brutoss tém hoje maior ‘aceitagéo que no passado, mas 6 preferivel que demons- irem boa perspectiva de alcancar o tipo ido de maciez. Max Weber aflrmou que o desenvolvimento da burocra- cia tendla a «eliminar privilégios de classe, que incluem a apropriagto dos meios de administragio e a apropriagdo da auloridade, bem como a ocupacdo de postos ein hases honorlticas ou como uma ocupa¢do resultante da riquezay. * " Bon e Burnies, Les Nouveaux Infelfectuets, p. 105, > Ver lambém cap. 3. 1047," Weber, The . Theory of Sociat and Economic Organisation, Pp. ad O Sistema EstaTaL & A ELtrE EsTaTat No entanto, fica af singularmente subestimado o grau em que 08 privilégios de classe existentes ajudam a restringir lal precesso, mesmo se eles nZo o interrompem de vez. Sein: diwida’ que ¢ verclade que se veriticou um’ processo de diliiga0. Social dentro do servigo estatal e que impltcou 0 acesso “de pessoas de*origem operdria e mals freqilente- mente ainda oriundas das classes médias baixas para po- sighés de-elite dentro do sistema eslatal, Mas’ dai a falar em ‘sdeimocratizagdon seria um engano. Trata-se anles de um “piocesso: de. caburguesameéntoy dos elementos mais capazes ‘€ mais’ impulsivos ‘das classes subordinadas. A medida qite tais elementos sobem na hierarquia estatal, passam a fazer parte, em todos os séntidos importanles, da classe social 4 ‘qual sua posigio, sua renda e stafus lhe d& acesso. Como jé foi observado, a respeito do recrutamento operdrio para a efite econdmica, esse tipo dé diluigdq nao afeta material- menie o cardter de classe do servico estalal e pode até mesmo fortalecé-lo. Mais ainda, tal recrulamento, ao di- iundir a crenga de que. as sociedades capitalistas se baseiam no: “princlpio da «carreira aberta aos talentosx, obscurece de ‘maneira bastante titil 9 grau em que isso nao ocorre, Considerando as hierarquias especiais da ardam social existenle, & inevitavel que os elemenlos oriundos das classes subordinadas que ingressam nos escaldes superiores do sis- - tema estalal deveriam tornar-se, pelo simples falo do seu ingresso, parte da classe que continua a doinind-lo. Para que fosse de outro modo, serja preciso ndo s6 que a inspira- ¢4o foss2 amplamente aumentada, mas a propria orden social teria que ser radicalmenle transformada e suas hie- tarquids de classe dissolvidas. +. Uma diluigdo social de tipo ainda mais pronunciada do que nas instituigGes’ nomeadas do sistema estalal ocorreu fanibém naquelas instituigSes cujos membros dependem di- eta ou indiretamente de elei¢do, ou seja, o executive poll- lico’e as assembléias parlamentares. Assim & que’ elemen- ‘ts de origem operdrla ou de classe. média baixa .consegui- yam muitas yezes integrar o gabinenle em palses- capila- lislas avangados — alguns deles chegaram’a ser até presl- dentes e. primeiros-ministros. E uma parcela enorme de 8s O Estado Na SOclEDADE CAPITALISTA poder pessoal foi alcancada ocasionalmenle por individucs desclassificados, como Hitler -ou Mussolini. Sera examinada mais adiante a imporlancia que leve t fato para a polftica do capitalismio avangado. Por ora basi observar que as ‘pessoas. oriundas de classes subordinada jamais constituiram mais. do que uma minoria daqueles que alcangaram elevadas posigdes politicas naqueles paises. imensa maioria pertenceu sempre, por sua origem social ocupag¢ao anterior, as classes média e alta,” Em grau ligeiramente menor, embora de maneira bei aceniuada, esse foi lambém o padrdo das Iegislaturas d palses capilalistas avang¢ados. O aumento da representaca dos. partidos operdrios (exceto, é claro, nos Estados Uni- dos) fez ingressar naquelas assembléias, embora ainda c mo mitorla, homens (e ocasionalmente mulheres) ndio nascidos nas. classes irabalhadoras, mas que eram, até ) momento de sua eleiczc, eles préprios trabalhadores oul pelo menos estavam intimamente envolvidos com a vida operdria, Mesmo os partidos burgueses sofreram um certo| processo de diluigdo social. Todavia, esses wlimos parli-| dos, que (€m dominado geralmenie as assembl¢ias parta-| mentares, permaneceram sotidamente, por sua composicae social, como parlidos de classe média e alla, dentro dos) quais os homens de negécio e outros elementos ligados al varios tipos de propriedade privada constituem uma parte} considerdyel e freqienlemente bastante substancial de seus) membros.“ Em termos de classe, a politica nacional (e| * Cf, Lasswell e outros, The Com parative Si Study of Elites, p. 30; Quitstian, The British Political Bute ea.; Matthew The Social Background of Potitical Becbiontoters ip. 2d Lemer, The Nazi Elite, 1051, p. 6; L. D. Edinger, «Post Telal: farian ‘Leadership: Elles in the German Tedetal’ Republics, en Amerleaa Polflical Seience : Review, vol. 54, Pe ‘Abeggien ¢ Manari, «Leaders of Hiern fapan: Social Origins anal Mobil his tm Economic Development and Cultural Change, vol. 9 atte 2 (Quivbro, 1960), p. | dog De Xe, Outten, Tie British: Potted Ellte, ps. 97 e seg.: a Barbe fone SE. Finer, «The British House’ ot Commons, em tnternenional Soci Science fournal, 196), vol. 13, n* 4, ps. SOL fe segs J, Blonde) Voters, Parties’ ¢ Teaders, 1963, cape 'S: M_ Dogan, ePolitical Ascent in a Class Society: French’ Deputies| 1870-1956, em D, Marvick (arg.), Political Dectsion-Makers, ‘1981; 86 © Sistema ESTATAL & A ELITE EsTaTat. nesse sentido a politica subnacional também)“ tem con- .Em relagio & Gra-Bretanha, escreve Gullsman: ..8@ subirmos na hierarqula, politica, a parlir dos eleilores, verifi- cagios que em. cada | — membros de partides politicos, mill- _tantes, parliddrios, disigentes politicos locais, deputados, dirigentes macionais — o cardter social ¢o grape é ligeiramente menos «re- presentativor ¢ ligeiramente mais inclinado em favor aqueles que Pertencem aos nivels médios e allos de nossa eociedade. A inclinagao é realmente bem mais, do que leve ¢.a afir- magio n&o se aplica menos aos oniros paises do que a Gra-Bretanha, + O-que.es fatos sugerem de maneira conclusiva ¢ que, em termos de o1 @ que for- nle — nado. sé, é bom salienlar, naqueles setores do sistema estalal, tais como adminisira¢gao, forgas asmadas e judiciario, que dependem de nomeagao, mas inclusive naqueles que estdo sujeilos ou que parecem Sujeitos aos caprichos do sufrégio universal ¢ aos azares da potitica competitiva. Numa época em que se fala tanto em democracia, igualdade, mobilidade social, auséncia de classes, e assim por dianle, conlinua a ser um falo basico G Brgunthal, The Federation of German Industry ia Politics, 1981, pe. 152 © seg; T. Fukuiall, Han and Saciely in fapan, 1962, p. “Ver adiante, ps 209 € * Quiisman, ‘The British Political Elite, p. 21.

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