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Capítulo 1

A Quiromante

M ais uma vez estou na minha escola chata. Reencontrar os amigos de sempre, com
os mesmos assuntos chatos que escutei no ano passado e no ano retrasado se
repetirão. Droga. Eu gosto de estudar, adoro pegar os livros da escola e devorá-los.
O que eu não aguento mais, é olhar para meus amigos. Calma Beatriz, você precisa
relaxar e ser forte, é só o primeiro dia de aula, o que tem demais? Então vamos lá,
outro ano letivo começa.
Entrei no pátio da escola, os estudantes estão todos em grupinhos
conversando, botando a conversa em dia, falando de suas férias, contando as
novidades. Quando eu vejo Juliana, minha melhor amiga, correndo em minha direção
toda esbaforida, dando-me um abraço forte, que quase perdi o ar.
- Beatriz, como foi as suas férias? Eu tenho tanta coisa para te contar.
- As minhas férias foram bem... - disse eu fingindo interesse.
- Eu preciso de contar, eu fui para praia. E sabe quem estava lá? Diego!
- Ah... - bufei. Juliana sempre fala desse garoto, que está louca por ele, mas ele
nunca deu atenção para ela. - Cadê o resto das minhas amigas?
- Ela estão olhando a lista dos estudantes que está grudada na parede, elas
querem ver se passaram de ano.
- Vamos lá na lista?
- Claro.
Eu e Juliana fomos até a lista, minhas amigas, Natália, Gabriela e Bruna,
estavam todas espremidas naquela multidão de ansiosos para ver qual sala cairiam.
Juliana foi em direção delas, cutucando Gabriela com o seu dedo, chamando-a para
se encontrar comigo. Outro abraço, vou comprar um ursinho de pelúcia para elas
ficarem apertando em vez de mim.
- Nossa, você está mais linda que no ano passado.
- Obrigada - disse eu com um sorrisinho.
- Nossa nem acredito, que estamos no terceiro colegial.
- Falando nisso, eu preciso ver o meu nome se está na lista.
- Não se preocupe, Natália vê pra gente.
Juliana interrompeu a nossa conversa, apontando com o seu dedo para o
garoto que eu mais odiava, Rogério, ele era o valentão da escola, além de gostosão.
Pegava todas as garotas, só que não ficava com nenhuma depois do beijo.
- Por que você precisa me mostrar esse garoto estúpido? - Eu disse com uma
voz irritada.
- Você não soube?
- Do que, Juliana?
- A mãe dele morreu.
- O que eu estou vendo, não é um cara triste e contraído - disse Gabriela -,
estou vendo um garoto desinibido e cheio de marra.
Virei para olhá-lo mais um vez, quando ele olhou para mim ao mesmo tempo,
dando um sorriso cínico que gostava de fazer.
- Pelo jeito, não afetou nada nele.
- Vai saber Beatriz - disse Gabriela.
Natália e Bruna conseguiram ver os nossos nomes na lista, saindo daquela
multidão, reunindo-se em nosso grupinho particular.
- Todas nós passamos para o terceiro colegial - disse Natália a todas nós.
- E sabe quem continua na nossa sala? - perguntou Bruna. - Rogério.
Deus, ele está na minha sala de novo, desde da primeira série esse rapaz me
atormenta. M inhas amigas também ficaram decepcionadas.
O sinal tocou, todas fomos para a nossa sala de aula, como o resto dos
estudantes que estudavam naquela escola.
Entramos, eu e as minhas amigas sentamos nos mesmos lugares que nos
outros anos antecedentes. Logo em seguida, entrou o resto dos meus colegas de
classe, eram os mesmo do ano passado, depois entrou Rogério, sentando lá no
fundão, junto com a sua trupe, que enchia o saco todo ano na sala de aula.
A professora entrou, era de português, uma mulher magra, com um nariz fino,
com óculos marrons grandes, bochechas chupadas, com cabelos ruivos amarrados em
formato de coque, com uma saia quadriculada e com uma camiseta rosa. A
professora tinha um péssimo gosto para roupas.
- Bom dia classe, eu sou a professora Letícia, e vamos começar a nossa
primeira aula do ano, nos apresentando uns para os outros.
Um murmúrio de reprovação ouviu-se na sala.
Depois que todos os alunos se apresentaram, a professora lascou matéria no
quadro negro, não teve dó nem piedade. As outras aulas, os professores se
apresentavam como sempre, uns faziam brincadeiras no primeiro dia, não passando
matéria, outros faziam suas apresentações, botando matéria para a gente copiar.
O sinal tocou, era a hora do intervalo, eu e minhas amigas ficamos na sala de
aula conversando. Quando entrou Lucas, ou melhor, Lukette a bicha da nossa escola,
que era o nosso amigo.
- M eninas! Eu preciso contar tanta coisa. Eu arranjei um namorado!
- Jura?! - dissemos todas.
- Ele é do Paraná, o nome dele é Paulo.
- Você se deu bem nessas férias - disse Gabriela com inveja. Ela era louca para
conseguir um homem.
A conversa estava indo bem, quando entrou Rogério na sala de aula com seus
amigos, e viu Lukette conversando com nós, ele se aproximou e começou a zoar.
- A bichinha veio na minha sala de aula, conversar com minhas amigas,
principalmente com a minha mina Beatriz.
Esqueci de dizer, que o bendito Rogério acha que eu sou a namorada dele.
Jamais.
- Chefe - disse o outro garoto do grupo -, ele sabe que não pode entrar na
nossa sala, você sabe o que devemos fazer quando alguém desobedece as nossas
ordens.
- Sei, sim! - disse Rogério cheio de malícia. - Vamos dar uma surra nele, para
que fique um lembrete, é proibido a Lukette, a putinha da escola, entrar aqui.
M inha paciência já tinha ido por água abaixo, levantei-me da minha carteira,
falando o mais alto que pude.
- Põe a mão nele Rogério e eu e minhas amigas batemos em vocês!
Juliana, Natália, Gabriela e Bruna olharam para mim assustadas.
- Gatinha não se intromete, não vem com marra para cima de mim.
- Deixe o garoto em paz, por favor, faça isso por sua mina. - Não acredito que
eu falei estas palavras.
Rogério pensou por um momento.
- Tudo bem, se eu encontrá-lo de novo aqui, eu não respondo por mim.
- Vai embora Lukette.
Lukette foi embora em disparada.
O intervalo tinha acabado, e o diretor queria todos os alunos da escola no
auditório, queria da boas vindas a todos, desejando um bom ano letivo.
O auditório era bem grande, mas tinha um problema, o teto estava com
rachaduras e manchado nos cantos, as cadeiras, a maioria delas estavam quebradas,
fazendo quase todos os alunos ficarem de pé.
O diretor entrou, ele usava um terno marrom, com uma gravata preta,
combinando com a camisa branca, sapatos marrons e uma cara de Sadan Hussein,
com aquele bigodinho parecido com o de Hitler.
- Quero dar boas vindas para os alunos - sua voz era esganiçada que doía os
tímpanos -, que este ano letivo seja o melhor de todos. Outro ano se inicia, nova
série, professores diferentes, matérias que nunca tinham vistos. E, para agradecer
por todos estarem presentes no primeiro dia de aula, neste sábado agora, a escola
realizará um baile de boas vindas para todos. Então é melhor começarem a arranjar
seus pares, porque esta festa promete.
Os alunos não acreditaram no que estavam ouvindo, nem eu acreditei. Um
baile na nossa escola? Nunca tinha acontecido esse evento histórico. Os estudantes
começaram a conversar no auditório, comentando que o diretor falara.
- Por favor meus queridos - disse o diretor interrompendo as conversas
paralelas. - Eu sei que no nosso país é raro ter um baile, só que não custa tentar.
Vocês vão adorar este evento, vai ter ponche e tudo que vocês têm direito. Agora
podem voltar para suas salas de aulas.
Um conglomerado de gente reuniu-se na porta do auditório querendo sair, uns
espremendo os outros, para se retirar daquele auditório horrível.
M inhas amigas e eu começamos a comentar sobre o baile que ia acontecer.
- Nossa - disse Juliana. - Vai ter uma festa nesta escola, eu já sei quem eu vou
convidar. Diego.
- Até parece que ele vai aceitar - disse Gabriela incrédula.
- Quer apostar?
- Gente - Bruna falou chamando atenção de todas nós. - Estou ansiosa para
encontra o meu bofe.
- Eu também! - disse Natália.
- E você Beatriz? - perguntou Juliana.
- Ah, legal. Agora, quem será que vai me convidar?
O sinal para o fim das aulas tocou. Despedi das minhas amigas e fui até o
ponto de ônibus.
Esperei alguns minutinhos, até que o meu ônibus veio. Por dentro, ele estava
vazio, então sentei no primeiro banco que vi. No decorrer no caminho, o transporte
começou a ficar lotado. Eu estava olhando pela janela, quando uma quiromante deu o
sinal para o veículo parar, ela estava segurando os seus utensílios, sua mesinha
dobrável com uma cadeirinha. Logo que aquela senhora entrou, o cheiro do fedor dela
recendeu todo o ambiente, ficando desconfortável para respirar. Pagando sua
condução, passou pela catraca e sentou do meu lado. Eu queria morrer, pelos menos
tomasse um banho de vez em quando. O cheiro das axilas dela estava me sufocando.
Durante o trajeto inteiro, fiquei encolhida no canto, torcendo para que ela fosse
embora, quando de repente, ela virou-se para mim, começando a me observar.
Comecei a ficar desconcertada. A quiromante começou a gesticular a sua boca para
falar comigo, pensei que ela ia dizer: “Isso é um assalto, passa a grana!”, mas o que
ela disse foi:
- Posso ler a sua mão?
Eu não acreditava muito nessas coisas de ver o futuro, acho isso uma pura
bobagem, quem faz o meu futuro é eu mesma, não essa quiromante infeliz que ganha
a vida lendo as mãos dos outros. Para não deixar ela sem resposta eu disse alguma
coisa.
- Eu não tenho dinheiro.
- Eu não vou cobrar nada. Desde da primeira vez que te vi, senti algo diferente
em você, acho que seu futuro pode ser importante. Deixe eu ler a sua mão. - ela
estendeu a sua mão para mim.
Senti alguma coisa diferente em meu peito, se eu soubesse do meu futuro,
tudo ia mudar. A quiromante estava me atraindo, convencendo a estender a minha
mão, para ela ler a minha sorte. Não resisti, dei uma das minhas mãos para ela.
- Vejo em suas mãos, algo sombrio, eu vejo uma chuva muito intensa, com
relâmpagos violentos no céu, você está inerte no chão, sem vida, não respira, pálida,
depois disso, enxergo a escuridão. Sua vida vai mudar totalmente.
Eu tirei minha mão rapidamente de perto dela, ela era maluca, estava
prevendo a minha morte, só podia está jogando uma praga. M eu coração estava a
mil, dentro de mim, eu sabia que a quiromante falava a verdade. M as não queria
acreditar nela.
A quiromante levantou-se do banco, foi até a porta e deu o sinal para ir
embora, a porta abriu-se, ela desceu, entrando em uma rua, desaparecendo depois
disso. Olhando da janela, parecia que ela tinha desaparecido como um passe de
mágica.
Quando cheguei em casa, fui direto para meu quarto tirar a roupa, para
almoçar. M inha mãe estava na cozinha, fazendo macarrão, meu irmão jogava vídeo
game na sala de estar. Lídia era separada do meu pai, porque ele não ficava muito
tempo em casa, ele trabalhava numa indústria que pesquisava novos tipos de
remédios, então ele viajava para vários países. M inha mãe, não aguentando mais a
distância, resolveu se separar do meu pai para não sofrer tanto. Julio, meu irmão
caçula de quinze anos, ficou revoltado com isso, mas aceitando, de vez em quando
ele chorava as escondidas. Eu, só podia consolar a minha mãe. É uma separação meio
idiota para mim, não tinha precisão, era só continuar tendo contato.
M inha mãe perguntou como que foi o meu primeiro dia de aula. Não
mencionei sobre a quiromante.
Fui para sala ver televisão, trocando de canal, coloquei no Jornal Hoje da
Globo, com a mulher do tempo dizendo:
- Teremos previsão de chuva para o final de semana.
Então eu me lembrei do que a quiromante tinha dito.
“Eu vejo uma chuva muito intensa, com relâmpagos violentos no céu...”
Não podia ser, ela estava falando a verdade. A minha sorte estava para
mudar para sempre.
Capítulo 2
O Acidente

Entrei novamente na sala de aula e sentei com as minhas amigas para mais uma
conversa de sempre, quando eu olhei para o lado e vi um garoto novo na sala de aula,
ele vestia roupas de Hip Hop de nylon, com uma camiseta regata, com um
bermudão. Percebendo que eu estava olhando para ele, dirigiu-me um sorrisinho
discreto, fazendo eu ficar todo vermelha, virando o meu rosto rapidamente de volta
para as minhas amigas.
Rogério entrou na classe com aquela pose de malandro de sempre e
cumprimentou o garoto novo dizendo:
- E aí primo Pedro, está gostando da nova escola?
- Estou gostando sim, mano!
M eu estômago revirou o café da manhã que eu tinha tomado.
- Senta lá no fundo da sala conosco.
- Vamos lá!
Juliana olhou para mim com um sorrisinho afetuoso, mostrando um olhar
como querendo dizer: “Agora a sala vai ficar maravilhosa!”. Pela primeira impressão,
o rapaz não mostrava ter as mesmas características que Rogério, parecia ser mais
sossegado, e não um bagunceiro de primeira linha.
O professor de biologia chegou, um homem careca, com óculos de aros
redondos, uma barba que só tinha penugens amarronzadas, com um casaco xadrez de
péssimo gosto, uma calça jeans desbotada e um sapato social, com algumas manchas
brancas. Ele colocou suas coisas em cima da mesa, apresentou-se formalmente e
lascou matéria na lousa que meus dedos ficaram latejando de tanto copiar sobre
mitose e meiose.
O sinal tocou para o intervalo, eu e minhas amigas estávamos no corredor,
quando Pedro se aproximou de nós, Natália, Gabriela, Bruna e Juliana
interromperam a conversa de imediato.
- Com licença meninas - disse sutilmente.
- Fique à vontade - respondi, antes que ele ficasse com vergonha.
- Você gostaria de ser a minha parceira no baile.
Aquilo foi um tapa na minha cara, minhas amigas fizeram um oh de
espantadas. Demorei alguns segundos para responder, não seria uma má ideia ir ao
baile com ele, até que ele era bonitinho, então, eu respondi:
- Sim! - minha voz saiu que nem uma garotinha do primário querendo sua
canetinha colorida.
- Então a gente se vê gatinha!
Ele virou às costas e foi embora.
M inhas amigas começaram a comentar o caso excitadas.
- Você é uma garota de sorte - disse Juliana toda empolgada.
- O garoto nem chegou e já se enlaçou para o seu lado - disse Natália me
abraçando fortemente.
- Eu que diga - disse Bruna.
- Agora só precisa de um vestido e uma bela maquiagem nos olhos - disse
Gabriela já me puxando para dentro da sala, para pegar o estojo de maquiagem.
Confesso que estou louca para esse baile, mas outra coisa me preocupa, a
visão que a quiromante teve comigo no ônibus.
O sinal para o fim da aula tocou, despedi das minhas colegas e saí para o
portão principal, quando uma cena chamou a minha atenção. Pedro estava
conversando com Rogério e mais alguns amigos no muro da escola e por incrível que
pareça este muro estava do meu lado e comecei a ouvir a conversa deles:
- Para você entrar para o nosso grupo, Pedro, terá que fazer algo de valor que
mostre a sua honra com a turma.
- E, quando eu começo?
- Que tal no baile?
- E o que eu preciso fazer?
- Nós vamos levar você até uma estação elétrica, onde você subirá na torre de
eletricidade e gritará eu sou filho da puta.
- E Beatriz?
- Invente uma desculpa para ela, dança alguns segundos com ela e diz que está
apertado.
- Pode deixar...
- Isso aí priminho! - cumprimentando com um aperto de mão.
Antes de perceberem a minha presença, saí de fininho para que não me
notassem. Pedro estava cometendo um grande erro, isso causaria a morte dele ou até
ser preso pela polícia, eu tinha que impedi-lo.
A semana passou voando e o diretor começou a decorar o ginásio com balões
de corações, cartazes com poemas românticas do poeta Camões e alguns homens
montando um grande palco, onde uma banda bem famosa contratada por ele iria
cantar. Deu-me um certo asco ver tudo aquilo, não sou um tipo de garota que adere
ao amor por outra pessoa. Fazer o quê? Pelo menos eu me divirto.
Era sexta-feira, falei com minha mãe se ela poderia me emprestar o cartão de
crédito para comprar um vestido para o baile.
- Você já tem um par?! - perguntou minha mãe quase tendo um ataque de
loucura.
- Sim... mãe...
- Qual o nome dele?
- Pedro.
- Belo nome, pode ir comprar o seu vestido. Não volte muito tarde, para que
amanhã você acorde disposta, porque vou levá-la ao salão de cabeleireiro para dar
uma melhora nesse rosto tão dócil.
- Eu passo um rímel aqui mesmo - disse tentando convencê-la a não fazer isso.
- Você vai toda produzida amanhã! E não quero mais discussões.
- Tá bom, mãe.
Saí de casa e fui ao Shopping Bourbon comprar um vestido verde-água e
também comprei um sapato branco bem discreto.
Voltei para casa, para me preparar para o grande dia de amanhã.
Acordei com a minha mãe puxando o cobertor com violência e gritando
comigo para que eu acordasse. Levantei-me da cama com relutância e fui tomar café.
Depois lavei o rosto me troquei e fui para o salão de beleza.
O salão se chamava Saia daqui Outra, com uma tesoura enorme cortando um
fio de cabelo loiro, mal gosto! As mulheres que trabalhavam ali, mais falavam de
seus encontros amorosos mal sucedidos do que fazer um simples cabelo, fiquei duas
horas para sair de lá. O resultado do meu cabelo e do meu rosto saiu magnífico, pelo
menos.
A noite chegou bem depressa, minha mãe me levou de carro até o portão
principal da escola e me deu um beijo e pediu para que dançasse bastante com o
gatinho à noite inteira.
Cheguei ao ginásio e o diretor logo pegou em meu braço e dirigiu-me ao lado
esquerdo, junto com as outras garotas do colégio, enquanto os meninos eram
colocados do lado direito. Encontrei minhas amigas que estavam bem produzidas,
quase não as reconheci, até elas não perceberam que era eu. Juliana estava com um
coque bem feito e com um monte de laquê em cima da cabeça que nem o próprio
vento poderia derrubar aquela muralha da China, ainda mais com um vestido
vermelho rubro nada discreto e com um sapato preto e que brilhava, mostrando que
foram polidas com esmero. Gabriela estava com um vestido branco e com um rabo
de cavalo e com um sapato branco. Bruna optou por tomara-que-caia rosa com uma
minissaia preta e com uma meia calça da mesma cor, com os cabelos soltos e cheio
de chapinha. Natália quis ser mais recatada e colocou um vestido preto, com um
sapato preto e o cabelo em forma de rabo de cavalo.
A festa estava prestes a começar, quando entrou Pedro com um smoking e
com um moicano na fronte de sua cabeça. Ele ficou tão lindo! Calma menina,
controla seus ânimos, a festa está começando, na verdade, um problema estava
começando e que eu tinha que evitá-lo de qualquer forma.
O diretor ficou no meio do salão, dando as boas-vindas para os participantes e
pedindo para que os meninos pegassem suas parceiras. Pedro me pegou de uma
maneira tão galante que eu quase derreti ali mesmo, se não fosse a banda que entrou
no palco e começou a tocar. E advinha quem era? Restart, cantando “Eu vou te
esperar”, até que a música era bem propícia para aquela ocasião. As meninas do
colégio começaram a gritar desvairadas por causa deles; eu gostava de ouvir Tom
Jobim, mais relaxante.
Pedro dançou comigo por meia hora, tirou as mãos de minha cintura e ficou
uma boa distância de mim.
- Eu preciso ir ao banheiro.
Era agora, tinha que salvá-lo de uma burrice.
- Você não está com vontade de ir ao banheiro! - Eu disse com uma voz firme.
- Como assim? - disse querendo fingir que estava apertado.
- Eu vi você conversando com Rogério, para entrar no grupo deles, você
precisa ir em uma estação elétrica, e como eu era a sua parceira na festa, inventaria
uma desculpa para ir ao banheiro e me deixar igual uma idiota aqui esperando e me
remoendo nos cantos sem uma companhia.
- Tá! É verdade! M as o que você tem a ver com a minha vida?
- Na verdade, nada. Só acho que para se enturmar com alguém, não precisa
arriscar a sua vida e até ir preso, por causa de uma insanidade desta.
- Eu tenho que ir Beatriz, foi legal dançar com você.
Ele se afastou de mim rapidamente, deixando-me no meio da multidão
desamparada, sem ninguém para curtir a noite. Como eu sou teimosa saí correndo
atrás de Pedro, não vou permitir que ele estrague a sua vida dessa maneira.
Fui para o portão principal do colégio e um rompante, procurando-o. Ele não
estava ali. Como era rápido. Corri um quarteirão, até avistar uma van preta, onde
Pedro estava sentado no banco da frente. Corri com todas as minhas forças gritando:
- Pedro, pare com isso!
Rogério ouviu a minha voz fazendo uma cara de desconforto e olhando para
outros garotos de seu grupo e também para um cara bem mais velho do que eles
dirigindo aquele carro. Aproximei-me, encostando na porta e olhando fixamente para
ele.
- Vai embora Beatriz! - disse Pedro com um tom de grosseria na voz.
- Não faça isso! Pense na sua própria vida!
- Eu já pensei nela! Agora vaza daqui!
- Então, eu vou com você!
A minha voz estava tão cheia de autoridade naquele momento que ninguém
questionou, entrei na van sentei-me ao lado de Rogério. Os outros garotos sentiram
um certo desconforto com a minha presença, mas eu não estava nem aí.
A van dirigiu-se para avenida Jaguaré, indo até a marginal Tietê, onde tinha
uma rede elétrica, com torres de aço que pendiam enormes com fios de cobre no alto.
O automóvel estacionou em um gramado perto do retorno da ponte, todos desceram
e atravessaram a avenida. Chegando na rede de energia, o cara mais velho tirou uma
madeira que estava encostada à parede, revelando um buraco do tamanho de um ser
humano. Pedro foi o primeiro a entrar, seguido pelos os demais companheiros e eu
foi a última a entrar. Rogério foi em direção a Pedro dando coragem ao seu primo.
- É só você fazer aquilo lá e fará parte do nosso grupo.
Pedro meneou a cabeça e tirou o paletó, indo em direção a torre. Começou a
escalá-la com uma confiança enorme, sem medo do desafio, dando um passo de cada
vez. M as o pior chegou, o céu começou a relampear e uma chuva pesada e intensa
desabrochou na noite, logo em seguida, raios violentos começaram pairar, fazendo o
céu iluminar-se como um dia de verão.
Um raio acertou uma das torres com fúria, fazendo Pedro se assustar e perder
o equilíbrio e ficar com uma mão só, pendendo na torre. Não pensei duas vezes, tirei
o meu sapato branco, levantei um pouco o meu vestido e comecei a escalar. O meu
medo tornou-se coragem, minha fraqueza virou força, quando percebi, agarrei as
mãos de Pedro e consegui fazê-lo segurar as barras de aço com mais firmeza. Pedro
agradeceu, descendo rapidamente, quando chegou lá embaixo, ele pediu para que eu
descesse também, mas um raio acertou em cheio no meu corpo, fazendo que eu fosse
arremessada nos fios elétricos. A energia entrava dentro do meu corpo como
formigas saúvas que atacavam furiosamente seus inimigos, depois, fui arremessada
novamente, indo em direção ao chão. Vi escuridão, como a quiromante tinha me dito,
vi o nada. E, pela primeira vez, eu sabia o que era a morte.
Capítulo 3
Não S ou Mais a Mesma

Eu sabia que estava morta, via na minha frente um campo cheio de flores e pessoas
com roupas brancas conversando umas com as outras felizes. Comecei a andar
através do campo, indo em direção a um lago, onde tinha um banco de praça com um
garoto sentado em cima, olhando o infinito, seus cabelos eram pretos e o seu corpo
bem definido. Dentro de mim, havia algo dizendo para que eu sentasse ao lado do
garoto e conversasse com ele. Quando me alojei ao seu lado, ele olhou para mim com
olhos bondosos, mostrando um sorriso tão afetuoso que quase fiquei apaixonada por
ele, o seu rosto era tão lindo e perfeito.
- Você não acha que aqui tem uma paz enorme? - perguntou ele.
- Sim... Eu acho...
- Este lugar é chamado de Preparação, onde o espírito do ser humano é
treinado para voltar para uma nova vida, mas no seu caso, não.
- Por que?
- Você tem uma missão, Beatriz, não chegou a hora de sua morte. Volte para a
Terra e cumpra a sua missão.
- Que missão? - perguntei, também querendo saber, como ele acertou o meu
nome de primeira.
- Há coisas que serão explicadas no momento certo. M as posso te garantir que
você não será a mesma pessoa quando veio para cá, estará mudada.
- Como eu faço para voltar, então?
- Basta você desejar.
Inspirei fundo e desejei voltar para o meu local de origem. O garoto começou a
desaparecer do meu campo de visão e tudo ficou escuro.
M eus olhos abriram lentamente, mostrando o teto de algum lugar em que eu
estava, virei-me para o lado e vi a minha mãe segurando a minha mão esquerda e
olhando para mim, com os olhos inchados de tanto chorar.
- M -mãe... - a minha voz soou fraca e gaguejante.
- Não se esforce filha, você passou por um baque muito forte.
- O-onde e-eu e-estou?
- No hospital.
Percebi que estava em um quarto hospitalar, com um cateter intravenoso e
com um aparelho de respirar no meu nariz.
M eu pai entrou no quarto todo preocupado, mas quando me viu de olhos
abertos, ele se acalmou, ficando feliz e sorrindo para mim.
Inspirei fundo e comecei a chorar, pela primeira vez, minha família estava
junta novamente, como antigamente, quando o meu pai não tinha saído de casa e se
separado da minha mãe.
- Filha! - disse ele com um sorriso nos lábios. - Você está bem?
- Estou - disse sem gaguejar.
- Quando a sua mãe ligou para mim, informando o que aconteceu, não pensei
duas vezes e vim até aqui.
- Eu agradeço pai.
Ele se aproximou de mim, pegando em minha mão e beijou-a.
- Filha, eu preciso ir, mas voltarei em breve para te ver.
M eu pai olhou para minha mãe.
- Avise o meu filho que eu estou com saudade.
- Pode deixar Igor... - ela disse com uma indiferença na voz.
- Tchau filha, melhoras.
- Tchau pai.
Igor fechou a porta do quarto atrás de si.

Depois de dois dias, o médico entrou no meu quarto e disse que eu poderia sair no
dia seguinte, pois o meu corpo estava mais resistente.
No outro dia, minha mãe estava guardando as minha coisas na bolsa, ela olhou
para mim com os olhos cheios de ternura.
- Filha, eu tive tanto medo de te perder. Se não fosse o Pedro ligar para mim,
informando que um raio tinha caído em cima de você, talvez estaria... Deixa pra lá.
- Um raio caiu na minha cabeça? - disse eu nervosa.
- Exato. Pedro me informou que o baile tinha acabado, e vocês dois saíram na
chuva, digamos... fora de si... Brincando, quando um raio te acertou.
- Ah... Agora lembrei - menti. Não podia dizer o que tinha acontecido
exatamente pois ela teria um ataque de loucura e Pedro foi muito sensato inventando
esse assunto. Tentei mudar a conversa. - Quantos dias eu fiquei inconsciente?
- Uma semana...
- Uma semana! - eu gritei.
- O raio que você levou não foi brincadeira, mas agora você está na ativa e
podemos ir para casa. Vamos?
M inha mãe abriu a porta do quarto do hospital.
- Vamos...
Quando chegamos em casa, meu irmão veio correndo e me deu um abraço sem
graça.
- Fiquei muito preocupado com você... - a voz dele foi sumindo aos poucos de
vergonha.
- Obrigado irmão, pelo seu apoio.
Ele deu um sorriso discreto e voltou a sentar no sofá. M inha mãe olhou para
mim com um brilho nos olhos que quase fez eu ficar cega, a felicidade irradiava dos
olhos dela, de ver-nos falando pela primeira vez, depois de muito tempo. Lídia
deixou as minhas coisas no quarto e deu outro abraço em mim que quase perdi o
fôlego.
- Não se esqueça, você não escapou das aulas. Amanhã começa tudo de novo.
- Que ótimo - minha voz não soou muito contente.
M inha mãe saiu do meu quarto e me deixou sozinha. Sentei-me na cama,
pensando em tudo que tinha acontecido, o meu acidente, Pedro fazendo aquela
prova idiota que Rogério tinha pedido e aquele garoto que eu tinha visto em outro
mundo, informando-me que a minha missão não tinha terminado. O que será que ele
quis dizer? Será que foi um sonho ou algo real. Não sei dizer ao certo.

Quando coloquei o meu pé na sala de aula e depois o meu corpo inteiro, as minhas
amigas vieram em um rompante me abraçando. Sinceramente, pela primeira vez, não
achei ruim ser abraçada, elas estavam preocupadas comigo, mostrando seu afeto por
uma garota chata e enjoada.
- Nós sentimos muito a sua falta - disse Juliana com emoção na voz.
- Você nos matou de susto! - disse Gabriela dando uma piscada de olho para
mim.
- Perdi a minha razão, sobre o que aconteceu com a nossa amiga querida -
falou Bruna quase chorando.
- É mesmo! - concordou Natália.
- Estou muito feliz por vocês estarem do meu lado. Não esquecerei jamais das
minhas superamigas.
Logo após de todo aquele sentimentalismo, sentamos em nossos lugares
habituais, e acabei virando para trás e avistei Pedro. Ele me encarou com os olhos de
vergonha e baixou a sua cabeça, pude perceber que ele estava arrependido.
Rogério entrou na sala com aquela pose de malandro, avistando-me,
aproximou-se e deu um sorrisinho cretino para mim.
- Está bem melhor gatinha... - sua voz era cheia de marra. - Se não tivesse ido
com a gente, não ir acontecer nada com você. Por isso, não gosto de mulheres que se
intrometem em coisas de homem.
Aquelas palavras despertaram a minha fúria, dando um tapa tão forte na mesa
que todo mundo direcionou-se para mim, assustados. Rogério não estava nem aí
pelo tapa que eu dei em cima da mesa. Levantei-me da cadeira e dei um tapa na cara
dele com todas as minhas forças, os cinco dedos ficaram manchados em sua pele. As
pessoas da sala perderam a respiração, até Pedro ficou conturbado com a minha
atitude.
- Você é nojento! - minha voz estava cheia de desprezo. - Como pode ser tão
egoísta e imaturo e nem se preocupa com os outros. Por causa da sua infantilidade
eu fiquei uma semana de cama, eu poderia ter morrido!
Rogério estava abalado ainda com o tapa na cara dado em seu rosto, seus
olhos tremiam de medo e raiva, ele queria bater em mim, arrancar a minha pele. M as
o que ele fez, foi sentar-se em sua carteira no fundo da sala.
M inhas amigas puxaram o meu braço para que me sentasse, não disseram
nada, porque sabiam do meu nervosismo, só ficaram me olhando preocupadas.
“Ela deu tapa na cara dele!”, comecei a escutar um garoto comentando com
um colega.
“Bem feito, teve o que merecia!”
“Eu também acho!”
“Rogério vai querer bater nela.”
Todo mundo da sala começou a falar ao mesmo tempo de mim, minha cabeça
começou a rodar, as vozes entravam em minha cabeça e martelavam o meu cérebro.
- Calem a boca! - eu gritei o mais alto que pude.
- M ais ninguém está falando - disse Juliana tensa.
- A sala inteira está falando de mim, até vocês estão falando! - minha voz
estava misturada com um urro de desespero.
Juliana tentou segurar o meu braço para poder me acalmar, mas rejeita-a com
brutalidade. O meu corpo começou a arquear para frete, senti espasmos vindo nas
pernas, braços, pescoço e a minha cabeça. M eus cabelos começaram a ficar eriçados,
parecendo que eu tinha levado um susto. Tudo começou muito rápido em volta de
mim, meu corpo foi levitando para o alto, derrubando a minha carteira com força,
fiquei suspensa no ar, meus braços estavam esticados e meus cabelos se mexiam em
uma dança frenética, nunca indo para baixo. Pela janela, notei o céu azul ficar preto,
o sol da manhã foi escondido pelas nuvens negras, trovões cantaram na escuridão,
reluzindo relâmpagos como espadas de guerreiros.
- Beatriz está flutuando! - disse Natália.
A cena de ação começou, uma chuva tão forte caiu sobre a escola, o vento
entrou pelas janelas com uma força avassaladora, jogando os cadernos, canetas e as
carteiras para qualquer lado aleatoriamente. Todo mundo da sala saiu em disparada
pelo corredor, gritando de pânico. Alunos de outras classes também saíram, pois o
vento estava inundando a escola inteira, os raios invadiram a construção, derrubando
as paredes. Os professores conduziam os alunos de uma forma frenética para a saída
da escola. Eu não via nada disso, mas com os olhos fechados eu podia reproduzir a
cena na mente. Um tornado começou a se formar assustadoramente, indo em direção
de tudo, eu não tinha controle sobre o que estava acontecendo, meu desespero
crescia de modo arrebatador. Seria o fim dos estudantes? Seria o fim da minha vida?
M eu pai entrou de repente na sala de aula e apontou a sua mão direita em
cima de mim. Dos seus dedos saíram uma energia magnética que me envolveu,
bloqueando aquela fúria dentro de meu ser, fazendo eu voltar para o chão
lentamente, deitada, meus cabelos voltaram para o seu formato original. A
tempestade tinha acabado, sobrando a destruição da escola.
Igor se aproximou de mim e levantou a minha cabeça, colocando-a entre as
suas pernas. Abri os olhos lentamente, meu pai estava olhando para mim de um
modo fraterno e preocupado.
- O que aconteceu comigo? - minha voz saiu um rouco profundo.
- Depois explicarei tudo, relaxe e feche os olhos, tenho muito trabalho a fazer.
- Fique comigo pai!
- Estarei sempre com você. Agora relaxe.
Fechei os meus olhos novamente, quando abri-os, eu estava deitada na sala de
aula, junto com o meus colegas que acordaram instantaneamente, parecendo que
tinham ensaiado para aquilo.
- O que aconteceu? - disse um aluno.
- A escola está toda destruída! - disse outro garoto de corpo magro.
- Verdade! - disse um menino de cabelos pretos.
Uma comoção encheu todo mundo, quando um professor entrou em nossa
sala de aula.
- Vocês estão bem?
- Estamos - todos nós dissemos em uníssono.
- O que aconteceu - perguntou Pedro.
- Tivemos uma tempestade. Os telhados da escola foram arrancados e a
maiorias das paredes estão destruídas, e vim buscar vocês, pois o lugar está com
risco de desmoronamento.
O professor nos conduziu a saída da escola, minhas amigas estavam mudas,
estavam em choque com o que tinha acontecido. Um jornalista estava parado em
frente ao muro do colégio fazendo uma matéria.
- Uma estranha tempestade atingiu esta região. Este foi lugar mais afetado
pela tempestade, tanto que a escola está com os alicerces abalados, com risco de
irem abaixo.
Olhei para Juliana e perguntei:
- Você sabe o que aconteceu?
- Não sei... A única coisa que me lembro é que começou a chover.
Ela não se lembra de nada. Fiz a mesma pergunta para as minhas outras
amigas, todos disseram a mesma coisa.
O carro fox da minha mãe de cor vermelha apareceu no meu campo de visão,
aproximando de todas nós. A janela preta foi para baixo, mostrando o belo rosto
dela.
- Filha, entre no carro! - sua voz estava sem emoção nenhuma.
Abri a porta do carro e entrei, olhei para trás, vendo a escola aos pedaços,
seria a última vez que voltaria novamente para cá.
Chegando em casa, meu pai e meu irmão estavam um do lado do outro, já
esperando pela minha presença sentados no sofá. M inha mãe sentou-se em uma
poltrona do lado direito da sala e eu fiquei de pé.
- Filha, sabe o que aconteceu hoje com você? - M eu pai começou a conversa.
- Está muito confuso na minha cabeça.
- Isso é normal. Gostaria de se sentar? Pois o que irei contar pode abalar um
pouco você.
Sentei-me em outra poltrona, olhando diretamente para ele.
- Você é uma paranormal - ele jogou isso na minha cara de uma vez só.
- Pai, para de brincar. Não existe esse papo de paranormal.
- Explique para mim, o que aconteceu hoje?
- Explique você! - A raiva estava tomando conta de mim novamente. - Por que
estava na minha escola? Como você apareceu de repente?
- Porque eu sou um paranormal. O meu poder é bloquear outros poderes de
paranormais, qualquer um, mesmo que seja o mais forte do mundo, tenho esse poder
abençoado. Também posso bloquear os meu poderes por sete horas.
- E eu - meu irmão começou a dizer -, tenho o poder de controlar e falar com os
animais. M amãe nunca deixou a gente ter um animal, para que você não desconfiasse
dos meus poderes.
- E minha mãe? - Eu estava processando isso muito espantada.
- Posso controlar a água.
- Filha... - disse o meu pai cheio de angústia. - Eu e sua mãe se separamos, pois
não podíamos deixar que você soubesse a verdade sobre nós. Poderia ser perigoso,
principalmente se uma pessoa qualquer não tivesse poderes, poderia nos denunciar e
causar a nossa destruição.
- Vocês poderiam ter me contado! - Eu berrei cheia de raiva e repulsa.
- Agora estamos te contando minha filha, principalmente agora que você tem
poderes. Agora é igual a nós, com uma única diferença, você é uma Trauma, sua mãe,
eu e o seu irmão somos Congênitos.
- Como assim?
- Existem dois tipos de paranormais no mundo, os Traumas e os Congênitos.
Os Traumas são aqueles que sofrem um acidente muito grave e acabam adquirindo
poderes misteriosamente, os Congênitos já nascem com esse dom.
- Podiam ter confiado em mim. Não contaria a ninguém.
- Também tivemos vergonha da Comunidade Psíquica, se eles soubessem que
sua mãe e eu tivemos uma filha sem poderes, seria a vergonha de nossa linhagem.
- Fizemos isso pelo seu bem - disse Lídia com uma ternura na voz, misturado
com tristeza. - Te amamos muito e não queríamos o pior para você.
- E, agora - continuou o meu pai -, terá que ir para o Campo de Concentração,
desenvolver o seus poderes, como o seu irmão vem fazendo há algum tempo. Eu
também menti para você, quando eu disse que o seu irmão passava um tempo
comigo, para compensar o tempo da perda.
- Eu tinha que fingir irmã, sempre mostrando minha tristeza, para que você não
desconfiasse de nada.
- Não confiaram em mim - disse entre lágrimas. - Não vou para um Campo de
Concentração, isso lembra Nazismo e não quero fazer parte disso. Dane-se essa
comunidade idiota. M entiram para mim, criaram um teatro barato, escondendo de
mim toda a verdade.
Levantei-me da poltrona e saí em disparada para o meu quarto, batendo a
porta com toda a força, deitei em minha cama. As lágrimas caíram dos meus olhos
como uma cachoeira, poderiam ter me contato tudo, mas não confiaram em mim e
criaram uma farsa, uma família que não existia. E agora tenho poderes sem controle
nenhum para utilizá-los, minha vida virou uma maravilha.
Capítulo 4
Campo de Concentração

Sonhei que estava em uma cidade antiga, primeiramente, não reconheci o lugar, pois
eu não era desta cidade. M as comecei a prestar a atenção em tudo a minha volta,
percebendo que tinha altas pilastras, formando templos espetaculares, pessoas que
andavam na cidade com túnicas brancas, não podia ser, estou na Grécia Antiga. O
povo grego andavam pelas ruas numa sintonia única, não prestavam a atenção em
uma garota estrangeira que estava ali, pareciam seres humanos programados a seguir
em frente, sem olhar para trás. Andei pela cidade, reparando nas grandes estátuas
dos deuses da Grécia, a primeira que vi foi Atena, a deusa da Sabedoria, a construção
de seu corpo era perfeita e seus olhos mostravam uma bondade e um conhecimento
profundo. M eus pensamentos foram interrompidos por gritos assustadores, o povo
heleno estava correndo desesperados, como lunáticos fugindo do hospício, quando
percebi uma presença muito forte, uma energia tão grande que o meu corpo começou
a tremer. Virei para a direção de onde as pessoas corriam e vi dois homens que
lutavam um contra o outro. Um tinha cabelos pretos e usava a mesma túnica dos
civis da cidade, já o outro, tinha cabelos marrons e usava roupa de soldado
espartano. Eles não lutavam com espadas, mas sim, saía energia de suas mãos, o de
túnica soltava uma energia branca e límpida, o outro emanava uma energia negra.
Aproximei-me dos dois, vendo mais de perto, tinham uma beleza arrebatadora, eram
deuses gregos na beleza literalmente.
- Desista Guenesis, dominarei este mundo e destruirei todos os Congênitos
desta terra! - disse o homem com roupa de soldado de espartano.
- Não Doron! Os Traumas podem viver em harmonia, só precisamos fazer
uma aliança de paz.
- Uma aliança de paz?! - Ele riu com um tom cheio de malícia. - Você sabe que
nenhum Congênito e Trauma se darão bem na vida. Os Congênitos odeiam os
Traumas.
- Você esqueceu que eu sou o rei deles? Que controlo todos?
- Sua força está fraca irmão. Não conseguiu controlá-los, por isso, criei os
Sarx!
- Não precisa ser assim, vamos trazer a paz para esse mundo!
- Não! - Ele gritou cheio de revolta. - Isso terminará hoje!
Eu não pude evitar e gritei:
- Parem com isso!
Os dois não repararam em mim, parecia que eu não existia. Doron arremessou
toda a sua energia negra em cima de Guenesis, que fez o mesmo com a sua energia de
luz. As duas energias se chocaram com mais intensidade, irrompendo uma grande
explosão de luz.
Acordei sobressaltada, o meu corpo transpirava compulsivamente, o meu
travesseiro estava todo molhado, formando o formato de minha cabeça. Levantei-me
da cama, o quarto já estava claro e o sol penetrava pela janela com o seus raios
solares.
O sonho que eu tive ainda estava vivo em minha mente, Doron e Guenesis,
dois irmãos brigando para manter a sua raça viva. Pelo sonho, Guenesis era um
Congênito e Doron um Trauma. M as por quê o motivo daquela briga? Doron tinha
mencionado sobre os Sarx, o que é isso? Primeiro eu precisava lavar o meu rosto e
depois tomar um café, depois pensaria melhor no assunto.
M inha mãe estava na cozinha preparando o café da manhã, quando percebeu a
minha presença e deu um sorriso cheio de ternura.
- Oi filha. Está melhor?
Não respondi. Ainda estava magoada com a minha família ter me enganado por
tanto tempo.
- Eu sei filha que devíamos ter contado para você. M as era para o seu próprio
bem. Não queríamos que você fosse uma ameaça para as outra pessoas.
Não aguentei e explodi.
- Vocês tiveram vergonha de mim!
Ela deu um profundo suspiro, deixando o bule de café em cima da pia, puxando
uma cadeira e sentando-se.
- Filha, venha aqui por favor.
Eu não queria ir, mas a minha mãe me olhou com os olhos cheios de tristeza e
não suportaria vê-la chorando. Sentei-me também. Ela pareceu aliviada depois da
minha aproximidade.
- Filha, você está entrando num mundo novo, o mundo dos paranormais. A
nossa sociedade é preconceituosa desde dos tempos antigos. Congênitos e Traumas
não se dão bem. Por isso, foi criada a Comunidade Psíquica para trazer a ordem.
M as mesmo ela, está cheia de preconceitos terríveis. Ainda não teve uma guerra feia,
pois por dentro da Comunidade há dois lados que têm um interesse próprio,
política. Quando você nasceu, estávamos felizes, ia nascer mais um paranormal
Congênito, mas não aconteceu. Aos quatro anos de idade, a criança tem que
apresentar algum poder, mesmo que seja ínfimo, você não teve nenhuma
demonstração. Seu pai e eu ficamos desesperados, pois quando um Congênito se
relaciona com o mesmo Congênito, ele tem que dar um Congênito, e isso seria a
nossa ruína.
Era muita informação para processar.
- Então, falamos para a Comunidade Psíquica que você tinha aparentado dons
especiais. Eles ficaram felizes e falaram que você iria com doze anos de idade para o
Campo de Concentração, mas não foi o que aconteceu.
- E como você e meu pai burlaram a Comunidade Psíquica?
- Entramos em contato com o diretor do Campo de Concentração e falamos
toda a verdade. Era uma manobra meio arriscada para se tomar, mas ele topou, pois
ele tinha uma irmã e que o seu filho sofria do mesmo problema. Depois do acidente,
você agora tem poderes, é uma Trauma, infelizmente, terá que aguentar o
preconceito da nossa sociedade.
Comecei a chorar, eles só queriam me proteger e eu chame-os de enganadores,
como eu estava errada, esse mundo era muito perigoso.
- Não chore minha filha - disse ela tentando me consolar. - Preciso dizer mais
uma coisa.
Parei de chorar, tirando as lágrimas dos meus olhos com as costas da mão.
- Já tiramo-la do seu colégio.
- M ãe! - Eu protestei.
- Irá para o Campo de Concentração, precisa dominar o seu poderes. Você
quase colocou a escola abaixo.
- Não foi a minha culpa! - Comecei a ficar irritada de novo.
- Eu sei - disse ela pegando em minha mão direita. - Se você não ir para aquele
lugar, os seus poderes aumentarão em profusão, chegará uma hora que você não
conseguirá dominá-los, pondo risco a sua própria vida.
- Tudo bem mãe. Quando eu tenho que partir?
- Hoje mesmo.
- Tudo bem, arrumarei as minhas malas.
- Seu irmão orientará você lá. Faça todas as perguntas necessárias para ele, até
que você possa fazer as coisas livremente.
- Farei isso.
- Vamos tomar café?
- Vamos.
- Vou chamar o seu irmão.
Ela deu um sorriso para mim e saiu da cozinha. Seria algo interessante na
minha vida, conhecer outra sociedade que não seja a humana.

Depois do café da manhã, fui ao meu quarto e liguei o computador e entrei no


Google, digitei o nome Guenesis. Apareceu um site chamado Gregos Para Não
Gregos, nesse site tinha todas as palavras e nomes da língua grega. Procurei em
nomes, não havia nem informação de Guenesis, Doron e Sarx. Procurei as palavras
em ordem alfabética e achei Doron. Clique em cima dela e apareceu as informações.

Doron no antigo grego significa a palavra dom, escrito no grego original ficaria
assim:

Procurei a palavra Guenesis e a achei.

Guenesis no antigo grego significa a palavra nascimento, escrito no grego original


ficaria assim:

Olhando novamente, encontrei a palavra Sarx.

Sarx no antigo grego significa carne, escrito no grego original ficaria assim:
Estranhei aquelas palavras. Como uma pessoa tem nome de substantivo?
M eio curioso. Será que tudo que eu sonhei não passava de pura imaginação? M as é
muita coincidência existirem essas palavras, não sabia sobre a existência deles. Algo
dentro de mim me dizia que isso não era um sonho e nem coincidência, era muito
mais sério do que se podia imaginar.

M inhas malas já estavam prontas, eu tinha tomado um banho gostoso para tirar o
cheiro de suor da noite, esperando minha mãe para ir embora. Julio estava do meu
lado com uma expressão tensa, era a primeira vez que eu ia com ele para o Campo de
Concentração, pensei em dizer algumas palavras de conforto, mas o telefone tocou e
eu atendi.
- Alô?
- Beatriz? - disse uma voz feminina.
- Sou eu. Quem é?
- Juliana - sua voz estava com intensa alegria. - Eu precisava ligar para você,
eu soube que saiu da escola. Vou sentir tanta saudade sua. M inha mãe também me
tirou do colégio, pois está em ruínas o prédio, na verdade, todos os pais tiraram.
- Obrigado Juliana - minha voz estava cheia de satisfação, pois ela tinha ligado
para mim.
- Onde você vai estudar agora?
- Ainda não sei - menti.
- M inha mãe quer colocar eu no Fernão Dias que fica lá em Pinheiros. Ela
disse que ia amanhã fazer a minha matrícula.
- Que legal. Sentirei saudade também. Você foi a melhor amiga que eu tive na
vida.
- Fala sério...
- Verdade! Desde da primeira série, lembra? E quando você bateu no Tiago,
pois ele tinha roubado a sua bolacha Trakinas, você virou um mostro. Ele ficou de
olho roxo.
- M e lembro! - Comecei a dar risada. Foram tantos momentos juntos de
felicidade. Não esqueceria dela nunca.
M inha mãe chegou na sala esperando eu desligar o telefone.
- Juliana, tenho que desligar, eu vou sair.
- Tudo bem, então. Outra hora nós nos falamos.
- Pode deixar!
- Tchau amiga.
- Até logo.
Desliguei o telefone, meus olhos começaram a arder, queria chorar
compulsivamente. Eu tinha sido uma tola com as minha amigas, não tinha dado o
valor merecido, acho merecedora da separação. Nós duas tomaremos caminhos
diferentes.
Entramos dentro do carro e deixamos para trás o nosso lar.

Estávamos na Rodovia Imigrantes indo para Rodovia Anchieta, o asfalto da estrada


era totalmente bem cuidado, não se via nenhum buraco ou algum defeito se quer, ao
contrário das ruas da cidade São Paulo que viviam cheias dela. Eu gostava de viajar,
principalmente, olhar a floresta que encurralava a via, dando um ar de liberdade, uma
sensação que a grande cidade não dava, sentindo-me presa em um monte de torres de
cimento erguidas no céu. M eu irmão estava sentado no banco da frente, olhando pela
janela do carro os outros automóveis fazendo o seu percurso, direcionando-se para
alguma cidade no interior. A propósito, eu queria saber aonde minha estava indo e
em que lugar ficava o Campo de Concentração.
- M ãe!
- Fala filha - disse ela sem desviar a sua atenção.
- Aonde nós estamos indo?
- Para o Guarujá.
- Guarujá? O Campo de Concentração fica lá?
- Não exatamente.
Achei estranho. Os paranormais ficavam lá? M as só tem praia, turistas e
pessoas ricas que passam suas férias ali, gastando todo o dinheiro em divertimento.
Deixei minha curiosidade de lado, queria matar no momento certo.
Fomos para Rodovia Conselheiro Domênico Rangoni, direcionando para o
nosso destino. Finalmente estávamos em Guarujá, uma cidade maravilhosa para
curtir tudo o que há de bom. Entramos na Avenida Santos Dummont, minha mãe
virou para esquerda pegando a Avenida M iguel Stéfano.
O Delphin Hotel ficava em frente ao mar, o local parecia uma casa de campo
ou restaurante para ser mais exato, mas que por dentro, mostrava uma construção
maravilhosa. M inha mãe foi em direção ao balconista e pediu um quarto para nós,
levou-os ao número 103. O quarto era bem espaçoso com uma piscina no fundo,
deixei minhas malas do lado da minha cama e admirei o visual.
- Gostou do ambiente irmã?
- Gostei!
- Antes de você vir junto conosco, eu ficava aqui com a minha mãe, antes de ir
para o Campo de Concentração, pegava até uma corzinha.
- Legal. - Tem mais alguma coisa que não me contaram?
Nossa mãe se aproximou com um vestido com desenho de flores, com um
chapéu gigante, com uma cesta cheia de comida.
- Vamos dar uma volta na praia?
- M ãe - disse eu. - Nem tirei as minhas roupas da mala! Nem trouxe o meu
biquíni. Como é que eu ia saber?
- Filha, não se preocupe, pegue o meu.
- Tá.
Fui ao banheiro e me troquei, essa viajem estava muito interessante até de
mais.
Atravessamos a Avenida M iguel Stéfano para a praia do Guarujá. Quando
pisei na areia, esqueci de todos os meu problemas, parecia que tudo não passava de
um sonho louco que desapareceu da minha vida. M eu irmão foi correndo em direção
ao mar com a sua bermuda verde sem camisa, eu, também fui para o mar, mas fiquei
só no início sentada na areia, deixando a água salgada me envolver carinhosamente.
Poderia ficar ali um ano inteiro.
Nós três fomos para uma mesa de cimento que ficava na calçada antes de entrar
na praia, onde tinha um quiosque de bebidas, minha mãe colocou a cesta em cima da
mesa e começou a tirar três lanches naturais, três latinhas de Guaraná Antarctica e
guardanapos. Sentia-me como se tivesse em férias escolares e aproveitando com a
minha família os melhores momentos da minha vida, mas na verdade, não era,
porque eu ia conhecer um outro ambiente que não fui acostumada.

Os três dias se passaram rapidamente, minha mãe fechou a conta do hotel e fomos
para nosso carro fox, pegamos algumas ruas da cidade de Guarujá até chegarmos no
cais da cidade. A noite estava maravilhosa, a lua brilhava intensamente no céu, com
as estrelas enfeitando em volta dela, como uma joia preciosa. A água do mar, batia
lentamente no cais e uma brisa suave passava por nós, refrescando aquela noite
quente.
Percebi vários iates parados na encosta, mas não tinha ninguém, só eu, minha
mãe e meu irmão.
- Nós temos que esperar até uma hora da manhã - disse Lídia.
- Para quê? - perguntei curiosa.
- Para ir ao Campo de Concentração.
- Quem vai nos buscar?
- Eles já estão aqui minha irmã - disse Julio com um jeito brincalhão. - Os
capitães estão dentro desses iates para levar-nos ao nosso destino.
- Você está me dizendo que o Campo de Concentração fica fora do continente?
- M inha voz saiu um pouco mais alta do que o esperado.
- Nós vamos para uma ilha que fica na divisão de mares do Brasil e do
continente africano.
- E ninguém nunca percebeu essa ilha?
- Quero que você veja com os seu próprios olhos.
Olhei para minha mãe pedindo apoio, mas ela deu uma risadinha discreta.
M uitas coisas iriam acontecer.
Era uma hora da manhã, vários carros começaram aparecer perto do cais. Os
pais saíam do carro com os seus filhos, uns de idade menor, outros já com dezessete
para vinte anos e o pior foi ver coisas bizarras demais, garoto com pele de cobra,
outro com chifre de touro. Isto está me assustando, mas compensou os outros
jovens que aparentemente eram normais.
Os capitães saíram do iate, esperando todos entraram. M eu irmão puxou o
meu braço e me levou para dentro do barco, virei o meu rosto para trás e minha mãe
acenava com as mãos, despedindo de mim. Quando entrei na embarcação, percebi
que dentro dela, tinha vários bancos fixados no chão para se sentar, não era um iate
luxuoso com quartos e cozinha. Julio e eu nos sentamos, olhamos um para outro e
começamos a sorrir, era a primeira vez depois de muito tempo que nós ríamos como
irmãos de verdade. Logo depois, outras pessoas começaram a preencher aquele local.
- Você está preparada? - perguntou ele.
- Acho que sim.
- Lá é muito legal, você vai gostar.
- Assim espero.
O barco começou a pegar velocidade, saindo do cais, indo para um mar sem
fim em uma noite de lua cheia.
Eram quatro horas da manhã e ninguém dali de dentro tinha pregado o olho,
era uma ansiedade tão grande para conhecer um novo lar que o sono era vencido.
Julio se aproximou de mim, pegando a minha mão.
- Vamos lá em cima Beatriz.
- Tudo bem.
Subimos. O mar estava calmo e alguns dos paranormais estavam admirando a
noite.
- Eu quero que você olhe para o horizonte irmã e veja a maravilha.
Olhei para onde ele tinha pedido, de repente o barco parou. Senti um certo
medo, não era muito fã de água. M as o meu medo se tornou em espanto, quando no
meio do oceano vi uma coisa estranha se formar no mar, ela foi se anuviando, até
formar uma ilha gigantesca, com um castelo enorme que tomava conta da ilha. O meu
queixo caiu de admiração. Alguns que estavam ali começaram a comemorar.
- Voltamos para o nosso verdadeiro lar - disse um garoto todo feliz.
Virei o meu rosto para meu irmão e ele sorriu.
- Agora você sabe que ninguém, jamais encontrou essa ilha.
- Isso está me surpreendendo.
O iate começou a se mover novamente, levando-nos para grande fortaleza
que ficava no meio do mar.
Quando chegamos ao cais, pessoas já esperavam por nós, homens e mulheres
vestidos de um sobretudo cinza, com adornos prateados na pontas. Os homens
usavam sapato social preto, com um cabelo bem penteado passado no gel. As
mulheres tinham os cabelos preso em rabo de cavalo e usavam salto-alto preto.
Outros iates começaram a chegar em direções diferentes e vi que aquela ilha não só
era grande para ser exibir, mas ali cabia um grande número de pessoas.
Aqueles homens e mulheres levaram todos nós até a praia, pedindo para que
ficássemos ali, até que todos já estivessem dentro do Campo de Concentração.
Depois que todos estavam reunidos, fomos para dentro de uma pequena floresta,
chegando a entrada do castelo, um portão enorme de prata ornamentava aquela
construção gigantesca. O portão abriu sozinho como em um passe de mágica,
levando todas as pessoas para um pátio enorme. Paramos ali e ficamos esperando
mais alguma ordem.
Na porta principal do castelo, saiu um homem de sobretudo e com as mesmas
características dos homens e mulheres de cinza, mas já era velho, não totalmente
caindo aos pedaços, só que velho. O que salvava ele, era sua postura sombria e forte
aparente.
- Sejam bem-vindos Congênitos e Traumas! - sua voz ecoou por todo o pátio.
- M uitos de vocês devem está se perguntando, “que lugar é esse?”, ou estão
ansiosos para mais um ano letivo no nosso Campo de Concentração. Espero que
todos amadureçam pelo tempo que estiverem aqui, e levem uma lição diferente para
vida de vocês. Pois cada um conhecerá algo totalmente novo, já os veteranos,
mostrarão essa novidade para os novatos. Agora, vamos para as Separações.
Detectores! - Aquelas pessoas de sobretudo que tinham nos recepcionados sem um
sorriso, subiram as escadas do castelo e ficaram cada um de lado. - Peço por
gentileza, que façam fila só os novatos, os veteranos podem ir para o seus
aposentos.
- Tenho que ir irmã - disse Julio.
- Não me deixe.
- São ordens. Não se preocupe, ninguém irá fazer algum mal a você.
Ele se afastou de mim e eu senti-me totalmente sozinha naquela fila
gigantesca.
Os Detectores tocavam nas pessoas e direcionava elas para um lado, um para
o esquerdo e o outro para o lado direito. Quando chegou a minha vez, o homem de
sobretudo colocou o seu dedo indicador na minha testa e olhou fixamente para mim.
- Interessante - ele disse de uma maneira misteriosa. - Dirija-se ao lado
esquerdo, você é uma Trauma.
Desci as escadas. Uma instrutora pediu para que ficasse na fila que tinha se
formado ao lado esquerdo do castelo. Acabando aquela Separação, fomos para o lado
oeste do castelo, entrando dentro dele. Passamos por vários corredores com quadros
enormes enfeitando as paredes. Depois, subimos uma escada em caracol, até chegar
ao seu topo. A instrutora pediu para que nós parássemos.
- Estão vendo essas duas portas? A do lado direito é o aposento das mulheres
e o outro é o dos homens. Bom descanso. As coisas de vocês estão em uma cama
reservada que será o seu local de descanso.
Ela abriu a porta do quarto dos meninos e das meninas e desceu novamente
pela escada de caracol.
Entrando dentro do recinto, assustei-me completamente, o quarto era
gigantesco com várias camas, com um monte de mulheres indo de lá para cá
apressadas e conversando. Comecei a andar perdida, parecia um estádio de futebol,
nunca pensei em algo tão incrível. Depois de algumas andadas, vi a minha nova cama
com as minhas coisas, sentei em cima dela, olhando novamente tudo a minha volta e
senti que tudo seria extraordinário e misterioso.
Capítulo 5
Indústrias Farmacêuticas Gomes

Igor estava dentro da limusine na Rodovia Dutra, indo para o seu destino. Ele olhava
pela janela, vendo os carros com os seus faróis acesos na noite, viajando para outro
estado, para verem suas famílias ou para diversão. Ele deu um sorriso no cantos dos
lábios, achando tudo aquilo patético, em breve, os seres humanos como também os
paranormais estariam em suas mãos. Logo tudo estaria sob o seu controle, para os
grandes acontecimentos que iriam acontecer.
O automóvel direcionou-se para uma grande indústria no meio da estrada,
parando na entrada, um segurança se aproximou do carro, antes que ele pudesse
tocar a janela, o vidro fumê desceu para baixo, mostrando o rosto de Igor, mas do
que depressa, o homem voltou para o seu lugar, entrando em sua cabine e apertando
um botão, abrindo-se o grande portão de metal. A limusine parou na entrada
principal, Igor desceu da limusine com uma pose de rei, com seu terno preto, gravata
preta com uma camisa branca, sapatos sociais pretos e brilhantes, queixo redondo,
cabelos pretos cortados e uma beleza assustadora.
Ele abriu a porta da indústria, uma recepcionista estava atrás do balcão
mexendo em alguns papéis, quando ela notou sua presença.
- Boa noite senhor Igor - sua voz tinha um tom de respeito fora do comum.
Igor só assentiu e começou a andar pelo grande salão feito de metal,
aproximando de um elevador, apertou o botão. Depois de alguns minutos, o elevador
parou naquele andar, entrando, apertou o botão do vigésimo subsolo. A porta se
fechou na frente. Chegando ao vigésimo subsolo, a porta de metal abriu, começando
a andar por um longo corredor de chumbo, chegando a uma grande porta de metal
inox, ao lado, tinha um identificador, colocou os seus olhos ali, a porta de um clique,
abrindo-se, mostrando uma grande sala de reuniões, com um monte de homens
vestidos de ternos pretos iguais ao dele. A mesa era longa, mas Igor não se
importou, foi andando com os passos tranquilos e sem nenhuma preocupação,
chegando a sua cadeira, sentou-se, olhando todos os homens daquela sala, com um
olhar ambicioso e frio.
- M eus colegas estão todos aqui - disse ele com uma voz fria. - Chamei vocês
aqui, pois os nossos planos precisarão ser completados, para que o mundo possa se
dominado por nós e todos os Congênitos da face da terra sejam destruídos, sobrando
só os Traumas que terão o controle sobre o mundo, criando um mundo livre e sem
preconceitos.
Um homem já de idade, com uma cabeça bem gigante e uma calvície brilhando,
com olhos enrugados e bochechas caídas se pronunciou:
- M estre, tudo está indo de vento em poupa - a voz dele era arrastada, como
se estivesse passando duas lixas uma sobre a outra.
- Eu sei. M as precisamos de mais alguma coisa para completar o nosso plano.
Sangue! Sangue de Congênitos será essencial para que possamos dominar este
planeta. Precisamos de jovens, iniciantes e veteranos, de idade de 13 há 18 anos,
para que possa dar certo. E, depois dos adultos para completar.
Outro homem se pronunciou:
- E onde vamos encontrar tantas pessoas assim?
Igor sorriu de uma maneira cruel.
- No Campo de Concentração, onde milhares de Congênitos se preparam para
começar a sua vida naquele lugar fétido e terminá-la, um lugar onde só tem
preconceitos e faz você sofrer. Só assim, colocaremos os nossos planos em prática e
derrubaremos a Comunidade Psíquica.
- Eles são muito poderosos! - disse outro homem com uma voz temerosa.
- Todo poder tem o seu ponto fraco, se pegarmos o ponto fraco, colocaremos
a Comunidade no chão. Em breve, todos estarão sobre os nossos pés. - Igor virou
para um homem de trinta e cinco anos, com cabelos castanhos e uma aparência
psicótica. - Como estão indo as nossas experiências?
- Da melhor forma possível, senhor. Logo, logo, teremos a perfeição - sua voz
era frio como gelo e sem emoção.
- Ótimo. Tudo estará encaminhado para que possamos fazer aquilo que não
fizemos há muito tempo.
Igor olhou para todos os seus seguidores, com um sorriso frio e cruel, ele só
pensava em destruir a escória do mundo, faria isso de qualquer maneira, e quem se
pusesse na frente do seu caminho morreria. Estava na hora de mostrar aos
Congênitos que os Traumas não eram idiotas.
Capítulo 6
O Duelo

No dia seguinte, eu fui acordada com um barulho de trombeta muito forte, todas as
meninas que dormiam no mesmo quarto acordaram no mesmo instante, levantando-
se de suas camas afoitas, correndo para o banheiro se arrumarem. As novatas como
eu, ficavam olhando as outras garotas veteranas se arrumarem rapidamente. M eu
olho estava ardendo de sono, que horas seriam? Olhei pela janela do quarto e vi que
ainda o céu estava escuro. Levantei-me da cama e dirigir-me ao banheiro. O banheiro
era todo branco, os azulejos tinham uma brancura tão intensa que doía até os olhos,
o chão da mesma cor, refletia quem estivesse pisando neles. Tinha várias pias de
porcelana com torneiras de ouro em montes, logo do outro lado tinha vários
chuveiros com boxes de cor branca e com um vidro que refletia só a distorção. Tinha
tanto vaso sanitário para escolher sem fazer fila. O bafo quente do chuveiro
começou a se espalhar no banheiro, criando uma névoa fantasmagórica no local.
Saí do banheiro e sentei na minha cama pensativa, eu estava em um lugar que
não conhecia ninguém, não tinha amigas para conversar, brincar e nem dar uma volta
neste castelo gigante. Estou só, como um fruta que cai da árvore, ficando no chão
sozinha, apodrecendo na terra. Queria tanto chorar, não sei por quê, uma tristeza
profunda estava em meu peito, quando eu ia chorar, senti uma mão tocando o meu
ombro. Olhei para aquela pessoa e vi que era uma das garotas novatas que entrou
junto comigo no quarto ontem. Ela tinha cabelos loiros, pele branca, o seu rosto
transmitia uma bondade e uma inocência, transformando aquele rosto em luz. Ela
sentou-se do meu lado e olhou para mim, dando um sorriso caloroso.
- Eu sou Priscila - disse ela estendendo a mão para mim.
- Beatriz - disse pegando em sua mão branca.
- Estou com tanto medo de estar aqui.
- Por que?
- Há dois meses atrás, eu era uma garota normal, depois do acidente, sou uma
paranormal, um Trauma, como me disseram.
- Você sofreu que tipo de acidente? - perguntei curiosa.
- Eu estava em um kart, correndo em uma pista em alta velocidade, quando
perdi o controle do automóvel bati com tudo nos pneus, mas não foram suficientes,
pressionando eu com tudo na parede. Fiquei com o corpo totalmente fraturado, os
médicos disseram para os meus pais que eu não teria esperança de sobreviver. M as
o meu corpo começou a regenerar e acabei descobrindo que posso correr em alta
velocidade, posso correr seiscentos quilômetros por hora.
- Caramba! - Eu soltei impressionada.
- Depois estou aqui. E você? Qual foi o motivo de estar nesta escola?
Aquela pergunta tinha me pegado desprevenida, depois do acidente que tinha
acontecido comigo, não pensei mais no assunto, pois chegava a ser um pouco
dolorido. M as ia deixar a menina saber o que aconteceu comigo, pois ela contou
sobre o seu acidente.
- Bem - comecei -, eu estava numa estação elétrica, querendo salvar um garoto
de uma burrice, quando um raio caiu em cima de mim, jogando eu nos fios elétricos.
Digamos que eu posso controlar a chuva e alguns elementos da natureza e quando
estou nervosa, os meu poderes ficam mais intensos e consigo também, ler os
pensamentos das pessoas.
- Nossa! - disse ela admirada. - Você tem um poder e tanto.
- É... M as ainda não sei controlá-los.
- Nem eu. Teve uma vez que corri tanto que acabei parando em Goiás. -
Priscila começou a rir. Acabei dando risada junto com ela. - M eu pai ficou
desesperado, procurando-me por vários dias.
- E como eles te encontraram?
- Acabei fazendo uma ligação para ele, depois que descobri onde eu estava
exatamente.
- Bem... É melhor nos ajeitarmos, pois daqui a pouco teremos que sair daqui.
Ela assentiu para mim.
- Podemos ser amigas? - perguntou Priscila.
- Claro que podemos!
- Então deixa eu te dar um abraço.
Fiquei um pouco constrangida, mas levantei-me da cama e abracei Priscila com
todas as minhas forças, ela também retribuiu o gesto. Encontrei uma amiga em que
eu podia confiar.
Depois de eu ter tomado um banho e me trocado, a mesma instrutora que
tinha me levado e mais algumas pessoas para seus aposentos, apareceu novamente.
Chamou todas as novatas e seguimos ela por vários corredores gigantescos,
chegando em frente ao um salão enorme, com várias mesas distribuídas
simetricamente posicionadas.
- Antes de vocês entrarem para o salão, - começou a dizer com uma voz bem
fina -, saibam que do lado esquerdo ficam os Traumas e do lado direito os
Congênitos, escolham um lugar adequado e apreciam o bom café da manhã.
Sentei na primeira mesa que vi, logo em seguida, Priscila sentou-se ao meu
lado também. A mesa estava repleta de pães franceses, com dez jarras de leite,
bastante chocolate dentro de potes de prata e um monte xícaras de ouro, queijos de
vários tipos, presuntos de vários gostos sobrepujavam deliciosos. Fiquei olhando
aquela mesa por um momento e pensei que nem lá em casa tinha tudo isso de tão
belo. Peguei uma faca de ouro e cortei um pão francês ao meio e deliciei-me com a
manteiga.
Priscila olhou para mim com uma cara de felicidade, ela sabia que eu estava
curtindo aquela comida maravilhosa, piscando com o olho direito, concordando
comigo e comendo o seu pão maravilhosamente.
Quando terminei de saciar a minha fome, vi as mesas dos Congênitos, eles
comiam olhando para a mesa dos Traumas, olhares hostis atravessam de todos os
lados, querendo pegar um infeliz para descontar todo o seu preconceito. Fingi que
não tinha ninguém me observando, pois eu me senti muito mal.
Vários Detectores apareceram no salão, avisaram que o horário do café da
manhã já tinha terminado e estava na hora das aulas. Disseram também que os
novatos, tanto homem como mulher, esperassem o instrutor José que levaria os
calouros para a sala.
José era um senhor de meia-idade, com cabelos prateados e pretos misturados,
mostrando que a velhice já estava batendo as portas e que ia tomar conta de toda a
juventude que um dia ele tivera. Seu corpo estava ausente de forma, tendo uma
barriga que se destacava com o seu jaleco cinza, seu rosto transmitia uma inimizade
tão grande que fazia que suas sobrancelhas fossem para os lados apavoradas pela
expressão mal encarada dele.
Fomos levados para uma sala gigantesca, com uma lousa enorme que tinha
dois metros de largura. As carteiras ficavam em formato de escadas, como uma
arquibancada de futebol e um tapete vermelho adornando o chão para contrastar com
as paredes brancas. Sentei-me, Priscila sentou do meu lado, na própria mesa já tinha
uma caderno, um estojo cheio de canetas em um livro didático chamado A Origem do
Paranormal, escrito pelo Agáthon Ariston.
A professora chegou na sala de aula com andar imponente e um olhar
imperioso, contrastando com a sua cara de queixo pontudo e olhar de desprezo. Ela
usava uma calça jeans surrada e uma camisa feminina de cor azul, confesso, ela quase
tem bom gosto.
- Olá Traumas! M eu nome é Luíza, sou professora de Paranormalogia,
estudaremos o surgimento dos poderes que nós temos. Alguém tem alguma
pergunta? - disse lançando um olhar desafiador.
Um garoto de orelhas de lobo e pelos cheios no rosto levantou a sua mão.
- Qual o seu método de avaliação? A senhora dá prova, soma pontos?
Luíza engoliu a sua saliva com dificuldade e respondeu:
- Dou prova sim. Tudo que vocês fazem é registrado e enviado para a
Comunidade Psíquica para saber a desenvoltura dos alunos. Esses cadernos que
estão em cima da mesa tem colado os horários das aulas. Dependendo da matéria, é
três horas com o mesmo professor. Vocês também receberão um guia, ensinando
sobre como devem-se comportar no Campo de Concentração. M ais alguma
pergunta? - ela levantou a sua sobrancelha como dizendo: “Pergunte mais alguma
coisa e eu mato você.”
- Não há mais perguntas. - disse o menino lobo.
- Ótimo! Então vamos começar a aula. Abram os seus livros na página 12.
A professora escreveu na lousa a palavra “local”, “preconceito” e “guerras”.
- Os primeiros casos paranormais surgiram na Grécia antiga, na época em que
os grandes filósofos como Sócrates divulgavam as suas idéias. A primeira pessoa a
ter algum poder especial chamou-se Guenesis, filho de Achilleion e irmão de Doron.
Quando a professora mencionou esse dois nomes, lembrei-me do meu sonho
que tive dos dois lutando e uma curiosidade aumentou dentro de mim, querendo
saber também sobre os Sarx.
- Quem foram os Sarx? - deixei escapar.
A professora olhou para mim espantada, pois ela nem tinha mencionado nada
sobre eles.
- Isso será respondido na próxima aula.
Fechei a minha boca e não perguntei mais.
Ela continuou dizendo que Doron ficou com inveja de Guenesis, seu irmão
mais velho, tendo raiva dele por ter conseguido poderes sobrenaturais, e
inesperadamente ele sofreu um acidente, dando a ele poderes sobre-humanos. Ela
também informou que não se sabe a origem dos seus poderes, informando que aquele
papo de deuses e semi-deuses era invencionice, pois os gregos viam os paranormais
desta maneira.
- Com isso, apareceu outros Congênitos como Guenesis e Traumas como
Doron, gerando um certo preconceito e causando uma guerra sem precedentes. -
concluiu. - Na próxima aula explicarei sobre os Sarx! - disse ela olhando para mim
curiosa.
A próxima aula era de Duelos com o professor Teobaldo, no salão de Lutas. O
professor era um homem de aparência de trinta anos, alto e musculoso e com um
sorriso que faria qualquer idiota se apaixonar por ele. Nesta aula, os Traumas e os
Congênitos tinham que participar juntos, pois cada um tinha que lidar com as suas
diferenças, para que não houvesse outra guerra entre os dois seres, como ocorreu há
tanto tempo atrás.
- Nesta aula, vocês não aprenderão táticas de guerras e nem ficarão igual aos
humanos, fazendo musculação dia e noite. Aqui vocês colocarão os seus poderes em
prática e terão que controlá-los.
O professor Teobaldo subiu ao tablado de duelos e encarou cada um com o
seu olhar de sedutor de última categoria que daria nojo. Priscila se derreteu com os
olhares do gorila exibido.
- Ele não é fofo? - ela sussurrou.
- É - disse sem muita convicção.
O macaco metido continuou a sua narrativa:
- Vamos começar esta aula. Para quem não sabe, sempre os novatos lutam
com alguém já experiente, para que durante as aulas possam superar o seu
adversário. Chamarei aqui a nossa lutadora nata, M irian Sá Costa do terceiro ano,
uma Congênita. Depois... - Ele começou a olhar para os novatos Traumas e seu
olhos caíram bem em cima de mim. M erda. - Você! - Ele apontou com uma
vivacidade assustadora. - Qual é o seu nome garota?
- Beatriz Carvalho Gomes!
- Suba ao tablado!
- Eu não gosto de lutar!
M irian que já estava junto com o professor, deu um sorriso de desprezo
medonho.
- Aqui não há lugar para pacifismo! Venha! - ordenou.
Não pude fazer nada, tive que obedecê-lo.
Subi ao tablado, enquanto Priscila me olhava com assombro e ódio.
O professor pediu para que eu ficasse do lado direito do tablado, de costas
para uma grande janela e M irian de costas para porta de entrada. Ele andou no meio
de nós duas, examinando cada uma. M irian já estava com posição de lutadora de
boxe, enquanto eu, não tinha posição nenhuma, olhando nervosamente para a inimiga
sem o que fazer.
- Beatriz - disse o professor -, M irian tem o poder de controlar qualquer
objeto que esteja neste Campo de Concentração e desejo boa sorte para você. Não
diga o seu poder, pois os Traumas tem poderes lamentáveis. - Escarneceu com um
sorriso maldoso.
Teobaldo desceu do tablado.
M irian veio correndo com tudo e deu uma cabeçada na minha cabeça,
deixando-me tonta, caindo no chão de bruços. Eu via tudo rodando, parecia que eu
estava em um carrossel. Ela não esperou me recompor, desferiu um soco nas minhas
costas, a dor entrou com uma faca na minha espinha, fazendo eu revirar os olhos de
desespero.
- Eu ainda nem comecei! - zombou ela.
Os Congênitos gritavam comemorando a vitória de sua companheira, mas os
gritos entravam distorcidos em meu cérebro.
- Vou deixar você se levantar.
M inha cabeça parou de girar lentamente e a dor nas costas diminuiu bem
mais rápido. Depois que a minha cabeça parou de rodar, olhei fixamente para M irian
que ria da minha cara com um prazer bestial.
Ela levantou sua mão, uma pulsação magnética saía dela de uma forma
sobrenatural, vindo da porta de entrada um monte de arames farpados. Agora estava
ficando bom.
- Agora sinta a dor, Trauma! - ela gritou.
Os arames farpados enrolaram-se em volta de mim, cravando as suas agulhas
afiadas em minha pele, cortando a minha carne.
- Até agora você não mexeu um músculo! - dando risada da minha cara
agonizante.
- E-e-eu n-não g-g-gosto de lutar... - M inha voz soava fraca, mas nítida.
- Que vergonha, pensei que você tinha poderes que valeriam a pena. M as
estou vendo que não!
Os arames foram apertando-se mais em meu corpo, deixando-me sem ar e
fraca. Eu não queria lutar, achava isso errado, principalmente quando se é um
Trauma, o preconceito é enorme. Eu estava ficando sem ar, meu pulmões faziam
esforços para capturar um pouco de ar que não via. Lágrimas caíam dos meus olhos
preguiçosamente, pensava que a nova vida de paranormal era mais legal, pelo visto
não era. Lembrei-me do meu pai, da minha mãe e dos meu irmãos, eu não podia
fraquejar.
Comecei a ouvir vozes novamente em minha cabeça, pessoas que
perguntavam se eu ia sobreviver depois dessa porrada, outros zombavam de mim
silenciosamente. Uma raiva foi crescendo dentro mim, como um touro pronto para
enfiar os chifres no toureiro. M eus cabelos eriçaram rapidamente, abri os olhos e vi
meu único inimigo, M irian, que olhou para mim assustada. Com uma força
impressionante, os arames se fizeram em pedaços, estilhaçando-se para todos os
lados do salão, machucando alguns alunos. M eu corpo foi flutuando no ar, a janela
que estava atrás de mim, mostrava um céu tão azul com sol forte, ficando negro
rapidamente. Todos os alunos exalaram um cheiro de medo, dando-me um prazer
avassalador e narcótico, principalmente o de M irian. Trovões ecoaram no céu,
esperando o meu chamado para o ataque, como bons cachorrinhos treinados para
voar em cima do pescoço de um ladrão. Ergui as minhas mãos e joguei-as em direção
de M irian, os raios saíram das nuvens com uma velocidade monstruosa, explodindo
o vidro em mil fragmentos e agarrando minha oponente, os raios cercaram-na e
levantaram ela no ar. Os alunos saíram do salão correndo desesperados, só
aumentando o medo e deixando-me mais poderosa. O professor Teobaldo olhou
para mim com a boca aberta e com um assombro e preocupação.
Das minhas mãos o comando para os raios foi inevitável, eletrocutando
M irian de uma maneira voraz e carnívora. Ela começou a berrar de dor, agonizando,
colocando o meu prazer de tortura nas alturas, aumentando a intensidade do choque.
- Para Beatriz, senão você irá matá-la! - gritou o professor em pânico.
Nem dei ouvidos para ele e continuei com a minha sina.
Teobaldo subiu no tablado, saltando sobre o ar e segurou em meus braços,
tentei eletrocutá-lo, mas ele conseguia resistir aos ataques. Erguendo a sua mão
direita, desferindo um grande soco no meu rosto que veio com uma dor horrível,
fazendo eu perder a consciência, caindo no chão, enquanto M irian caía do outro lado
também sem nenhum sentido.
Tudo estava em paz para mim, a minha raiva desapareceu como uma febre de
trinta e oito graus que some com novalgina. Trazendo um alívio para o meu ser.
Capítulo 7
Na S ala do Diretor

Estou novamente na Grécia Antiga, passeando entre as ruas e vendo o povo heleno
fazendo as atividades do dia a dia, sem se importar com uma garota vestida de calça
jeans, uma camisa rosa. Andei pelas estreitas vielas, até encontrar um grande templo,
com uma grande estátua de Zeus, segurando um raio em suas mãos e com um rosto
de superioridade, olhando para os mortais e dizendo que devem temer o pai dos
deuses. Aquele grande templo emanou um sentimento em mim tão profundo, algo
em meu ser pedia para que eu entrasse dentro dele, impulsionando-me com uma
energia misteriosa, que os meus pés começaram a caminhar sozinho para dentro da
construção milenar.
Dentro do templo, havia um altar de pedra com um homem ajoelhado em
frente a estátua do grande todo poderoso, podia-se ouvir os murmúrios de sua voz,
como se ele estivesse orando, mas ao mesmo tempo, não deixando perceber as
palavras que saíam da sua boca. Aproximei-me do homem que vestia uma túnica
branca, fiquei olhando os seus cabelos pretos e sedosos, brilhando de uma forma
muito intensa.
Os murmúrios pararam, ele ergueu a sua cabeça e depois o seu corpo, virando-
se em minha direção. Levei um choque, era o mesmo homem de túnica branca do
meu primeiro sonho, Guenesis, como o seu irmão tinha pronunciado. O seu rosto
tinha uma beleza tão enorme que qualquer garota ia se apaixonar por ele no mesmo
instante, só que a sua beleza era misturada com uma bondade tão infinita, dando a
liberdade de ler o seu coração através dos olhos.
Guenesis veio para mais perto de mim e encarou-me com os seus olhos
castanhos e deu um sorriso maroto.
- Beatriz - disse ele. - Não se espante se eu sei o seu nome e nem pense que
isso é um sonho, pois isso é real.
- Você é Guenesis? - Precisava dessa confirmação.
- Sim, sou eu. Da última vez que você viu eu e meu irmão lutando, era na
verdade, uma visão do passado. Precisava que você enxergasse com os seu próprios
olhos a batalha que dura depois de tantos milênios.
- M as a professora disse que a guerra acabou - disse debilmente.
- Os professores de história têm a missão de transmitir o seu conhecimento,
mas não a sensação de viver aquilo que aconteceu na vida.
O sorriso de seus lábios se esmoreceu.
- Beatriz, você está aqui neste exato momento, pois preciso lhe passar uma
mensagem. Essa mesma batalha que aconteceu há tanto tempo atrás sempre esteve
presente, mesmo com a Comunidade Psíquica apaziguando o interesse dos dois
lados, o preconceito entre Trauma e Congênitos ainda não acabou.
- Eu percebi. Estou alguns dias no Campo de Concentração e já sentir a
hostilidade.
- Os meus esforços foram em vão, pois continua a mesma coisa e nada parece
mudar. M as eu preciso dizer a você que uma grande guerra começará novamente,
entre Traumas, Congênitos e entre os humanos.
- Que guerra é essa?
- Uma batalha que decidirá o futuro da humanidade. Pois alguém está
querendo despertar o meu irmão Doron, só que estou muito fraco para detectar esta
pessoa. Você precisará me ajudar; terá que tirar-me do meu túmulo.
- E onde você se encontra?
- Não sei lhe dizer...
Guenesis começou a desaparecer do meu campo de visão, ficando tudo escuro.
Sua voz era agora abafada, ele estava tentando me dizer mais algumas palavras, só
que uma energia estranha se interpôs entre nós, alguém não queria que
continuássemos a conversa.

Abri os meus olhos rapidamente, eu estava na ala hospitalar. Uma enfermeira


percebendo que eu já estava acordada, veio ao meu lado e deu um sorriso caloroso.
Levantei da cama e vi que M irian ainda estava desacordada, com um cateter
intravenoso em seu braço, enviando soro para o seu corpo debilitado. Quando
comecei a caminhar, sentir uma pontada nas minha pernas, caindo no chão de muita
dor, a enfermeira veio me socorrer rapidamente, colocando-me na cama novamente.
- Você não pode sair daí menina! - Ela repreendeu de uma maneira afetuosa. -
Os ferimentos sobre o seu corpo ainda não se fecharam, principalmente os das suas
pernas que estão um pouco piores.
Olhei para elas, vendo um monte de furos profundos e arroxeados em volta.
- Sua adversária pegou pesada com você, hein! - Pondo o coberto em cima das
minhas pernas.
- É... - respondi sem nada para dizer.
- Esses duelos são muito perigosos, está vendo ali do outro lado?
Vi um monte de adolescentes deitados na cama, uns com faixa nos braços, nas
pernas até na cabeça, outros engessados e com aparelhos de respirar.
- Posso fazer uma pergunta?
- Sim.
- Aqui têm Congênitos e Traumas?
- Tirando a sua colega de luta, todos são Traumas - Sua voz soou pesarosa.
Uma revolta cresceu dentro do meu peito, como podiam tratar-nos daquela
maneira, só porque não recebemos o nosso dom através do nascimento. Isso era
muito injusto, errado, saí de uma sociedade cheia de conflitos para parar em outra
dez vezes pior, grande sorte eu tenho.
Fiquei duas horas olhando para o teto, quando um Detector chegou na ala
hospitalar, aproximando-se da enfermeira.
- Preciso levar Beatriz para a sala do diretor.
- Ela ainda não se recuperou dos ferimentos! - Sua voz soou em reprovação.
- O diretor está pedindo!
- Tudo bem - disse eu levantado da cama. - Eu vou até ele.
A enfermeira olhou para mim e suspirou derrotada.
Coloquei as mesmas roupas que eu tinha usado no duelo com a M irian, cheios
de buracos e com manchas de sangue, pelo menos ia pegar uma outra muda de roupa
para mim.
Antes de sair, virei-me para a enfermeira e dei um sorriso tranquilizando-a,
pois ela estava muito tensa e preocupada comigo.
- Eu agradeço os seus cuidados.
- Que isso... - disse ela.
- Qual é o seu nome?
- Ana...
- Prazer.
Saí da ala hospitalar junto com o Detector.
Atravessamos vários corredores, até chegarmos em um salão imenso, com uma
escada enorme em nossa frente. Subimos, indo para um corredor bem largo, com um
porta gigante que chegava quase ao teto. O Detector abriu sem nenhum problema,
entrando primeiro, logo em seguida, fui atrás dele.
A sala do diretor era imensa, com várias estantes na parede, com uma mesa de
mogno tão bem envernizada que doía o olho. O diretor estava sentado ali,
escrevendo no seu computador, ele parou de teclar, olhando para mim e depois para
o Detector.
- Pode se retirar.
Ele curvou a cabeça concordando, deixando eu e o diretor naquela sala repleta
de livros.
Fiquei um pouco apreensiva, pois não sabia o motivo de sua convocação. Será
que ele ia me dar um bronca por causa do ocorrido? Pois eu dei uma surra bem feia
na M irian.
- Beatriz. Chamei-a aqui, pois os professores fizeram alguns comentários e
preciso esclarecê-los com você.
- Eu não fiz nada, eu juro, mas se for a briga com a M irian, posso até explicar.
- Tentei me defender.
O diretor sorriu para mim. Isso era mau sinal ou bom?
- Não se preocupe, a sua aula era de Duelos. M as é sobre isso mesmo que eu
quero falar com você. Não é o fato da surra bem data na M irian, mas os seus
poderes me intrigam.
- Por que? - disse um pouco apreensiva.
- Quando sua mãe entrou em contato comigo, informando que você não tinha
nenhum poder herdado, pedindo para que eu fizesse uma falsa matrícula para você,
burlando a Comunidade Psíquica, para que a vergonha não caísse sobre sua mãe e
seu pai, aceitei em fazer uma matrícula para você, enganando a nossa Comunidade, a
que decide a vida dos paranormais.
O diretor deu uma pausa e depois continuou a sua narrativa sobre os meus
pais.
- Eles ficaram tão aliviados quando concordei em fazer isso, pois eu tenho
uma sobrinho que não herdou nenhum poder de nossos pais. Depois de tanto
tempo, você sofre uma acidente e sua mãe me liga novamente, dizendo que agora
você é uma paranormal, um Trauma. Não que isso seja algum impasse para mim,
mas o seus poderes trouxeram um espanto.
- Espanto? - Falei assustada.
- Os seus poderes são diferentes de todos que estão neste Campo de
Concentração. Nenhum deles conseguem controlar a natureza e nem os elementos
como a terra e o fogo que são muitos raros! A água ainda até que vai, mas já tivemos
vários casos com acidente causados pelo fogo e nenhum teve o poder de controlá-
los, nem a terra.
- Eu pensei que os paranormais tinham poderes absurdos.
- Não somos um monte de bizarros que herdam qualquer coisa. Confesso, que
muitos acabam virando metade animal e humano, por isso, surgiu a idéia de centauro.
- Só que não entendo o seu espanto diretor.
- Talvez o meu espanto seja sobre a aula de Paranormalogia que meu deu uma
dúvida. A professora Luíza disse que você tinha falado sobre os Sarx, sendo que era
a primeira aula dela com você.
Tinha que ser aquela professora.
- M encionei.
- Os seus pais já contaram a você sobre isso?
- Não.
- E como você sabe? - Seus olhos perfuraram a minha alma.
- Eu chutei - menti.
- M uito bom para um chute - questionou.
- O senhor está me deixando confuso. Por que você quer saber isso de mim?
Por que esse interesse tão grande pelos meus poderes? - M etralhei o diretor sem dó.
- É que você é um caso diferente, e preciso saber mais.
- Eu estou cansada, minhas pernas doem da luta que eu tive, não estou afim de
discutir isso, tudo bem? - Falei um pouco ríspida.
O diretor deu outro sorriso para mim, tive vontade de arranca a boca dele com
as unhas.
- Bom. Como esta conversa não está levando a nada, você pode ir para o seu
quarto - disse ele com uma voz vazia. O diretor apertou um botão que estava em
cima de sua mesa dizendo: - Detector, pode vir buscar a aluna Beatriz, a minha
conversa findou-se.
O Detector apareceu rapidamente na sala, esperando-me.
- Tenha uma bom dia Beatriz - disse sem nenhuma emoção na voz.
Eu e o Detector saímos da sala. Enquanto caminhávamos em direção ao quarto
das meninas, comecei a pensar sobre o que o diretor tinha me dito, achando que ele
deve está escondendo alguma coisa, sei que sim, e vou descobrir o que é.
Quando voltei para o quarto e deitei na minha cama, esqueci os problemas
que atormentaram durante esses últimos dias.
Capítulo 8
S entimento do Passado

O M inistro de Defesa em Brasília Sebastião Santos estava sentado em sua cadeira


em sua sala, avaliando os últimos documentos enviados pelo presidente, em relação
a proteção da nação brasileira. Depois de algumas verificações, acabou se cansado e
saiu de sua mesa e começou a andar sobre a sala.
Os seus pensamentos voltaram a um sentimento tão profundo e pesaroso, um
passado que atormentava-o como fantasma e não saía de sua cabeça de jeito nenhum,
a morte de sua irmã. O ministro tinha ódio dos paranormais, um ódio tão profundo
que chegava a ser morte. Ele lembrou o dia da morte de sua irmã.
Sebastião tinha dezessete anos e trabalhava numa pequena padaria que ficava
perto de casa, sua irmã ajudava a mãe a vender roupas que ela mesmo fazia para o
sustento, pois ela era viúva e não tinha como pagar as dívidas deixadas pelo seu
falecido marido. Sara, sua irmã, uma menina de quinze anos, bonita e de cabelos
loiros, era a atenção dos garotos do bairro, pois a sua beleza era muito intensa,
fazendo os garotos de estapearem na rua, disputando uma namorada que ainda não
tinham conseguido.
Sara não ligava para namoro, pois tinha uma vida muito dura, seu pai não
tinha deixado nada para a sua família e a casa onde moravam estava para ser leiloada
pelo banco, pois não tinham como pagar as prestações acumuladas da casa e nem as
que faltavam. Trabalhando com a sua mãe dia e noite para pelo menos trazer o pão
do dia seguinte. Ela não tinha tempo para brincar com as outras meninas de sua
idade e nem falar dos meninos da rua, só tinha tempo para o trabalho que fazia em
casa com a sua mãe, com uma pequena máquina de costura manual que tinha que
mexer os pés para funcioná-la.
Sebastião por sorte, conseguiu um emprego em uma padaria depois da morte
de seu pai. Precisava trabalhar, pois em seu leito de morte, o seu pai fez Sebastião
jurar que não ia deixar faltar nada para sua irmã e mãe, passando o trono para o seu
filho, e a maturidade precoce.
A vida estava seguindo o seu fluxo, as coisas aos poucos estavam
melhorando. Sebastião e Sara conseguiram voltar a estudar, os pedidos de roupa
estava aumentando, tudo estava sendo encaminhado aos poucos, mas nem tudo dar
certo e nem dura para sempre.
Sara voltava da escola, quando encontrou um garoto bem vestido, cabelos
loiros e olhos azuis, sentado no banco da praça. Ela que não deixava o amor entrar
em seu coração, deixou uma pequena brecha, entrando a paixão pelo garoto
desconhecido. Sara continuou olhando fixamente para ele, até que o garoto percebeu,
olhando-a e dando um sorriso, o coração dela na aguentou e escancarou o amor para
dentro de si.
No início, Sebastião e sua mãe não aprovaram o namoro, pois o garoto vinha
de uma família rica e poderosa, temendo que pudessem fazer algum mal para ela.
M as o amor imperou sobre todos, trazendo ao rosto de Sara uma alegria que não se
via há muito tempo.
Eles começaram a sair para bailes, sua mãe com um pouco de tecido que
sobrava das encomendas, fazia um belo vestido para ela sair com o seu namorado.
Às vezes ela ficava receosa, pois quem pagava tudo era ele para uma garotinha pobre
que não tinha nem onde cair morta.
Depois de três meses de namoro, Sebastião começou a perceber algo estranho
no namorado de Sara. Percebeu que ele nunca tinha mencionado o nome de seus pais,
nem onde morava, e nem a opinião dos pais sobre o namoro.
Em um dia que os dois voltaram da pracinha depois de tantos beijos,
Sebastião resolveu segui-lo sem ser notado, indo em direção a algum lugar que ele
pretendia descobrir. Até que ele chegou em um galpão abandonado, o namorado
subiu as paredes sem nenhuma corda, como uma aranha que anda na parede,
desaparecendo sobre o telhado. Sebastião procurou alguma passagem escondida, algo
que pudesse ter acesso ao local, até que encontrou um buraco na parede com espaço
suficiente para ele entrar.
Dentro do galpão, havia vários pedaços de madeiras espalhadas, fazendo um
amontoado em cada canto do lugar. Sebastião notou uma sala que ficava bem em
cima, com a lua acesa. Subiu as escadas cuidadosamente, sem fazer nenhum barulho.
Aproximando-se da porta, começou a ouvir uma conversa e quem falava era o
namorado de Sara, a voz vinha um pouco abafada, pois a portava bloqueava a
passagem do som.
- Em breve teremos energia suficiente! - Sua voz era tão fria quanto ao vento,
sumindo aquela doçura que ele tinha nos seus lábios para com a sua irmã Sara. -
Aquela garota pobre será sugada por mim, assim, terei a sua vitalidade.
- M as mestre - disse uma outra voz -, a mãe e o irmão não irão perceber que
você é um paranormal?
- Claro que não! - dando uma risada sombria. - Aquela garota está tão
apaixonada por mim que os dois só pensam em meus pais que não existem. Eu
preciso da energia dela para continuar sempre jovem.
- E quando você irá sugar toda a sua vitalidade? - disse outra voz.
- Amanhã a noite.
Sebastião ouviu aquelas palavras com um horror tão grande que saiu correndo
em disparada, não percebendo nada ao seu redor, tropeçando no amontoado de
madeiras, fazendo um barulho estridente. O namorado de Sara e os outros garotos
saíram da sala e viram ele.
- Peguem este garoto! - Ordenou o namorado de Sara.
Os garotos pularam em direção de Sebastião rapidamente para capturá-lo.
M as Sebastião foi mais rápido e saiu correndo pelo galpão, saindo pela mesma
abertura e fugindo que nem um louco fora daquele lugar sombrio.
Sua mãe percebeu que o seu filho estava sem fôlego e com uma cara de medo.
Ela o abraçou preocupada, acalmando-o, dando todo o seu amor maternal, dando a
segurança ao seu filho que a protetora estava ao seu lado.
No dia seguinte, Sebastião não perdeu tempo, fez um escarcéu enorme dentro
de casa, proibindo Sara de sair com o seu namorado. Sara ficou muito nervosa com
ele, despejando palavras duras e horríveis ao seu irmão, criando uma inimizade entre
dois. Como irmão mais velho, era o seu dever protegê-la, ele pegou a chave e tranco-
a em sem próprio quarto, ignorando os gritos histéricos da sua irmã, ele sabia o que
era melhor para ela. Sua mãe quis tomar a chave de seu filho, mas ele saiu pela porta.
Quando ele voltou à noite, sua mãe estava chorando na sala convulsivamente,
ele perguntou o que tinha acontecido, mas ela não respondeu. Foi até o quarto de sua
irmã e viu que ela estava arrombada. Quando entrou, viu a pior cena que ele nunca
tinha imaginado que veria, sua irmã tinha se enforcado com o lençol, estendida no ar
como um fantasma e com o seu rosto pálido. Sebastião caiu no chão e começou a
chorar, quando os paramédicos chegaram tiraram ela de lá.
Ainda sem nenhuma vontade de reagir, ficou naquele quarto mais algumas
horas, quando viu um bilhete em cima da cama, com uma caligrafia tão perfeita
escrita a seguinte frase:

Não adiantou idiota, ela se matou, mas eu tirei a sua vitalidade.

Aquelas palavras deixaram Sebastião com um ódio tão grande, prometendo


para si mesmo, que ia acabar com todos os paranormais que existissem no mundo.
Quando voltou para a sala, sua mãe estava saindo com uma mala, ele a chamou, mas
ela não deu ouvidos, partindo daquela casa, abandonando Sebastião.
Daquele dia em diante, Sebastião tornou-se um homem de grande influência
política, virando M inistro de Defesa, com intuito de proteger as pessoas indefesas.
Sebastião saindo de seus devaneios, voltou-se a sentar em sua cadeira e
começou a mexer novamente nos documentos, com uma amargura tão grande e um
ódio mortal. Ele só esperava um momento certo para acabar com os paranormais que
ficavam escondidos por aí, ia fazer com um prazer intenso e maravilhoso.
Capítulo 9
Arrependimento de Um Garoto Apaixonado

Pedro ainda sentia remorso do acontecido com a Beatriz, ele não devia ter aceitado
aquele desafio tão idiota, para entrar no grupo de um primo marrento que não valia o
feijão que comia.
Ele ainda se lembrava de Beatriz estendida no chão, imóvel, naquela chuva
forte, jorrando sem piedade do céu. Também o rosto de Rogério consternado que
ficara com medo do terrível acidente.
- Precisamos fugir daqui, deixe ela aí - disse Rogério sem sentimento.
- Não! - gritou Pedro cheio de fúria. - Não vou abandoná-la! Se quiser fugir vá
você sozinho! Se ela morreu é minha culpa!
- Como quiser...
- Vamos pessoal - disse Rogério para o grupo.
Ninguém se moveu, olhando-o com reprovação. Rogério ficou calado e olhou
para Pedro e para Beatriz.
Pedro aproximou-se de Beatriz com muito cuidado, colocando a sua mão no
pescoço dela lentamente, seu coração tinha parado de bater. Uma tristeza entrou em
seu coração, a culpa da morte dela era ele, com sua infantilidade de se encaixar em
grupo em sua nova escola. Quando ele ia tirar as suas mãos do pescoço dela, ele
sentiu as batidas do seu coração novamente, dando esperança ao seu coração.
Pegou-a, tirando-a daquela estação elétrica; os seus companheiros foram em
direção ao carro, abrindo a porta para Pedro, sentando-se. O rapaz mais velho levou-
os para hospital.
Depois de tanto tempo, ele ainda tinha uma sentimento de culpa e revolta e
uma paixão tão grande crescera em seu coração. Nunca pensou que amaria uma
garota como Beatriz, ainda mais ele, um garanhão que pegava as garotas mais safadas
da escola.
Ele saiu de casa, caminhando pela rua, não prestando atenção em nada a sua
volta, só em seus pensamentos de amor e arrependimento, chegando a uma praça
repleta de crianças brincando nas balanças, gangorras e gira-giras, sentando em um
banco.
Ali, chorou que nem uma criança com fome, não se importando com quem
estava ao seu lado, só em sua dor que dava pontadas em seu peito.
Um homem de terno e gravata, acomodou-se ao lado do garoto, tocando em
seus ombros. Pedro olhou para aquele homem de olhos bem convidativos e
prazerosos.
- Não chore mais - disse o homem com uma voz doce, mas escondida com um
tom frio. - Venha comigo e aliviarei o seu coração.
Pedro assentiu concordando.
Os dois se levantaram, caminhando até um carro preto parado do outro lado da
praça, entraram, desaparecendo o automóvel pelas ruas.
Capítulo 10
Amigos Verdadeiros

Olhei-me no espelho e vi uma garota de cabelos castanhos cumpridos, com olhos da


mesma cor do cabelo, uma boca fina e delicada, um queixo redondo e sobrancelhas
finas, de rosto cansado e desânimo.
Passaram-se três semanas de estadia neste lugar e ainda não me habituei ao
ritmo. Depois da surra que eu dei na M irian, os Congênitos queriam trucidar o meu
corpo e a minha alma, encarando-me com rostos de morte e vingança, dando vontade
de eu sair correndo que nem uma louca do lugar que estou e quero sair.
Faz tempo que não vejo o meu irmão Julio, parecia que ele tomou um chá de
sumiço, pois não nos encontrávamos, e quando ia para ala dos Congênitos, os
instrutores proibiam de os Traumas entrarem. Sinto-me sozinha, lógico, tenho a
minha amiga Priscila, mas preciso de pessoas que me apoiem e possam me ajudar a
acabar com esse preconceito ridículo, como Guenesis informou, mais de milênios
uma guerra continua.
O quarto gigante das meninas estava com uma agitação horrenda, minhas
colegas de quarto resolveram fazer uma faxina, colocando as camas
desorganizadamente, nem sabendo-se mais onde se encontrava a sua própria cama.
Eu e a Priscila estávamos varrendo o chão, com uma poeira que avolumava
assustadoramente, quando as cerdas das vassouras pelo chão, pelo visto, aqui não
havia uma limpeza há muito tempo. Enquanto eu tirava aquele sujeira do chão,
percebi que as minhas colegas de quarto, mantinham-se unidas, cada uma colaborava
umas com as outras, elas aproveitaram que era domingo, resolvendo serem solidárias
umas com as outras, como já sabem, estavam dando um trato no quarto.
M inhas costas doíam, dando umas pontadas bem forte, sentei-me em uma
cama qualquer, respirando fundo, enquanto Priscila sentava ao meu lado.
- Este quarto dá um trabalho danado! - disse Priscila também relaxando o seu
corpo.
- Ninguém limpa este quarto há séculos! Eu tenho certeza, você viu quanta
poeira tiramos do chão de carpete?
- Precisávamos de um aspirador de pó.
Priscila deu-me uma ideia genial.
- Amiga, você é demais! - disse eu alegre.
Tirei os meus sapatos, subindo em cima da cama com as minhas meias brancas
e lavadas e gritei bem alto para todas as meninas do quarto.
- Garotas!
Elas olharam para mim perplexas, querendo saber do ocorrido.
- Se vocês já notaram, este quarto não é limpo há vários milênios e nós
estamos cansadas! Não é verdade?!
Algumas assentiram concordando.
- Ótimo! O que vocês acham de usarmos os nossos poderes para dar uma geral
aqui. Já que não somos tratadas com igualdade neste Campo de Concentração, temos
que deixar tudo limpo e cheiroso! O que acham?
- Eu concordo! - disse uma garota de cabelos pretos.
- Eu também! - disse outra.
Logo, todas as meninas gritaram concordando. Priscila olhou para mim
admirada, aproveitando que era domingo e os inspetores tiravam o dia para relaxar,
ela chamou os meninos para nos ajudarem, em troca de elas limparem os quartos
deles. Os garotos toparam a ideia no mesmo instante, nós garotas, ficamos um
pouco ressentidas, mas topamos, pois todas nós sabíamos que ninguém dava a
mínima os garotos também.
A faxina começou.
Uma menina que tinha o poder de fazer os objetos se moverem, começou a
controlar a poeira que estava como um exército pronto para atacar. Alguns meninos
que tinham o poder da força, levantavam as camas como se fossem folhas de árvores
e eu, lógico, usei o meu poder para trazer água para lavar o chão.
Conseguimos limpar tudo em tempo recorde, deixando os quartos femininos e
os masculinos impecáveis. Fiquei feliz que a multidão topou a minha ideia, pelos
menos teríamos um quarto limpo por um mês inteirinho.
Antes de os nossos colegas saíssem do quarto das mulheres, eles perguntaram
de quem foi a ideia dessa faxina maravilhosa. Todos me denunciaram, apontado os
dedos para mim. Os rapazes se ajoelharam no chão e me agradeceram, convidando-
me para qualquer dia, dá uma voltinha com eles. Eu fiquei com uma vergonha
daquelas, nunca fui tão paquerada daquele jeito na minha vida.
No dia seguinte, três meninos e duas meninas se aproximaram de mim e de
Priscila no corredor, antes do café da manhã.
- Oi Priscila, meu nome é João! - Ele sorriu para mim, mostrando os seus
caninos profundos.
- Você é um vampiro? - perguntei nervosa.
- Relaxa, não vou sugar o seu sangue. Eu acho isso antiético.
- M eu nome é Paulo. E, antes que você repare nos meu pelos, eu sou um
lobisomem, sou aquele mesmo garoto que fez a pergunta para a professora de
Paranormalogia.
- Sou Tiago, tenho poderes psíquicos, posso controlar a mente de muitas
pessoas.
- Sou Clara, tenho o poder de curar.
- Carine, tenho o poder de flutuar.
- O que vocês desejam? - perguntei sem graça.
Todos responderam:
- Queremos ser os seus amigos!
- Nós vimos como você tomou a nossa dor, ajudando-nos a limpar o quarto
rapidamente - disse Clara.
- Você se importou conosco, quando ninguém mais se importa - disse João.
Pela primeira vez em três semanas, encontrei amigos verdadeiros, pessoas que
compartilhavam o mesmo pensamento que eu. Eu estava em casa finalmente, melhor
dizendo, estou com os meus amigos.
Capítulo 11
Terríveis Assassinatos

A repercussão da faxina de domingo foi enorme, o diretor ficou espantado com a


nossa iniciativa, dando os parabéns para todos os Traumas na frente dos
Congênitos, dizendo que eles precisavam seguir o mesmo exemplo. Os Congênitos
olharam para nós, querendo arrancar as nossas cabeças.
Os meus dias foram melhorando, agora que tinha seis amigos, eu não ficava
mais só nas aulas. João, além de ser um vampiro e ter a pele pálida, era um garoto
inteligente, tirava boas notas na prova, ajudando o grupo quando alguém tinha
alguma dificuldade. Paulo, o lobisomem, era um poeta nato, adorava os sonetos de
Bocage, Gonçalves Dias e do nosso grande Camões que o fascinava completamente.
Ele até disse para nós que Camões foi um Trauma, e os poetas Congênitos que tinha
inveja dele, armaram uma cilada para matá-lo durante a guerra, mas só conseguiram
arrancar o seu olho. Tiago gostava de computadores, ele tinham um Ipad, mas
deixava-o escondido, pois a escola não dava a permissão de ter eletroeletrônicos.
Clara gostava muito de maquiagem e ficavam me emperiquitando com um quilo de
pó de arroz, ficando como uma fantasma. Carine gostava de cantar, tinha uma voz
linda, fazendo apresentações antes de dormir. Descobri de Priscila que ela gostava de
ler, principalmente M achado de Assis, ela era fascinada, seu romance preferido era
Dom Casmurro, às vezes ela ficava horas e horas discutindo comigo que Capitu não
traiu Bentinho. Eu, podia dar a única coisa com a minha capacidade, história. Sou
uma ótima aluna em história, tirei só notas altas em Paranormalogia.
Estávamos na aula de Controle de Poderes, precisávamos ter controle de
nosso poder paranormal, a aula era bem mais legal agora, pois todos os Traumas se
uniram para sermos os melhores alunos, deixando os Congênitos para traz, e ainda
por cima irritados.
Quando tudo estava para melhorar, um alarme soou estridente no Campo de
Concentração, tapando todo mundo as suas orelhas.
- Aconteceu algum ataque ao nosso Campo! - disse o professor. - Vamos para
o Salão de Reuniões da Escola!
Todos nós saímos da sala correndo. Como eu já estava me familiarizando com
os costumes desse novo mundo, descobri que quando a escola toca este alarme
horrível, significa que algo desagradável aconteceu, dando a ordem para reunirmos
em um só lugar.
O Salão de Reuniões era gigantesco, as pilastras eram adornadas com
lâmpadas que se estendiam até o teto. Tinha também um palco e um altar de pedra,
parecida para fazer sacrifícios humanos. Os Traumas ficavam do lado esquerdo e os
Congênitos do lado direito, como de costume. O diretor entrou no salão, seguidos
pelos professores do Campo de Concentração, logo atrás deles, dois Detectores
traziam uma maca com um garoto nela. Ele não fora coberto, mostrando o seu rosto
pálido e magro que agora parecia mais um crânio do que uma cabeça normal. Envolta
dos olhos dilatados, havia uma profundidade, mostrando a ausência de carne.
Levando o garoto até o palco o puseram no altar de pedra, deixando a sua perna
esquelética tombada para baixo, sendo recolhida pelo Detector.
O diretor ficou bem na ponta do palco, observando cada um, escolhendo
também, cada palavra que ia dizer.
- Alunos do Campo de Concentração! - começou ele com uma voz bem aflita.
- Hoje tivemos um ataque misterioso na escola, um dos alunos Congênitos foi
brutalmente assassinado. Há em sua barriga um buraco bem grande, como se tivesse
sido sugado por algo monstruoso e sem nenhuma gota de sangue no corpo.
Os estudantes começaram a murmurar, principalmente os Congênitos que
estavam indignados com o acontecido.
- Pessoal, deixe eu terminar!
Todo mundo ficou quieto.
- Encontramos esse garoto que está neste altar, no banheiro. O mais estranho é
que não tinha nenhuma gota de sangue no chão. Como não sabemos quem está nos
ameaçando, teremos o toque de recolher.
O salão inteiro reverberou de protesto.
- Isso é culpa dos Traumas! - disse um garoto loiro.
- É isso mesmo! - concordou outro. - Eles que sofrem acidente misteriosos e
têm inveja de nós que temos poderes de nascença!
- Apoiado! - disse uma garota. - Eles não gostam da gente, principalmente que
somos mais inteligentes do que eles.
Todos os Congênitos começaram a vaiar. O diretor não conseguiu conter a
bagunça.
Os meu colegas Traumas ficaram quietos, não revidando as pejorativas. Cada
um queria sair daquele lugar e voltar para as suas casas, pois eu conseguia ler os
pensamentos de cada um, deixando-me nervosa.
Avancei até o lado direito do salão, encarando o garoto loiro que tinha
começado a confusão. Ele me olhou com desprezo e olhei-o com raiva. Todos os
outros ficaram vendo eu o garoto se encarando, parando os murmúrios. Era hora do
troco, ia dizer tudo que estava entalado na minha garganta.
- Vocês se acham muitos superiores, não é mesmo? - M inha voz soou como
trovão, percebendo que o salão estava ficando escuro. - Vocês nos tratam como se
fôssemos cachorros ou ser de outro mundo. Tudo bem, podem ter herdado os
poderes do pais pelo nascimento. M as uma única coisas não herdaram, o amor, a
tolerância, a compaixão, a compreensão e o caráter! Isso nenhum dos Congênitos
deste Campo de Concentração idiota e demente têm!
O diretor olhou para mim de boca aberta, já os professores queriam arrancar a
minha pele com os olhares farpados. Os Traumas ficaram mais corajosos, dando
risada dos Congênitos.
- Olha aqui sua idiota! - Uma garota saiu do meio da multidão. - Eu vou acabar
com a sua raça!
- Acaba com ela! - Todos começaram a dizer.
- Você acha que eu tenho medo sua vadia! - disse eu com bastante prazer.
- Vadia eu? - disse indignada. - E você que é uma vaca!
- Pelo menos, vaca fica no pasto e vadia fica na rua! - Joguei todas as palavras
como bofetão.
Todos os meu colegas Traumas deram risada.
- Toma sua vagabunda! - disse ela para mim.
Da sua mão começou a emanar uma luz muito intensa, e antes que ela pudesse
me acertar, um garoto Trauma me protegeu com um escudo de energia.
- Agora sua garota imunda, eu que vou encher a sua cara!
- Eu também! - disseram as minhas colegas de quarto.
- Então é que nós vamos ver - disseram os outros Congênitos.
Uma guerra ia começar naquele salão, mas o diretor interveio.
- Parem com isso já! - Ele gritou tão fortemente que todos se agacharam
mutuamente. - Todos para os seus quartos, não sairão de lar até a segunda ordem!
Todos foram para os nossos quartos. As meninas que faziam companhia
naquele quarto gigantesco, deram-me parabéns, nomeando-me Paranormal Rebelde.
Eu sei que poderia comemorar aquele afronta no Salão de Reuniões, mas não
estava ainda tão feliz com isso, queria encontrar o meu irmão.
Os dias que decorreram depois foram os piores, muito assassinatos
começaram a ocorrer, inúmeros Congênitos desapareciam dia após dias, deixando o
diretor desesperado, não tendo outra solução ao não se informar a Comunidade
Psíquica sobre o ocorrido. Alguns membros da Comunidade vieram, anunciando que
a escola entraria em uma recessão, as aulas seriam até as três horas da tarde e todo
mundo voltariam para os seus aposentos.
M as o pior estava para acontecer, quando um monte de alunos Congênitos
dentro da sala de aula caíam mortos, com um buraco na barriga misteriosamente.
O diretor começou a achar aquilo estranho, pois não morria nenhum Trauma,
notificando isso para os membros da Comunidade, dando a ordem que todos os
Congênitos deveriam voltar para as suas casas, só ficariam os Traumas, para ver se
algum de nós batesse as botas. Bela maneira de saber quem é o culpado.
As coisas complicaram, quando vários Detectores Congênitos começaram a
ser mortos também, e os que tinham voltado para as suas casas foram mortos, sendo
um transtorno para as famílias, causando o caos na Comunidade Psíquica. O M estre
Supremo dos Congênitos anunciou que dentre duas semanas o Campo de
Concentração seria fechado e todos voltaríamos para casa.
Só uma coisa deixava-me preocupada, meu irmão. Ele era um Congênito e não
queria que ele morresse. M as felizmente, ele estava são e salvo em casa, deixando-
me mais aliviada.
Todos os Traumas ficaram tensos com os acontecimentos dos últimos dias,
pedindo que os confortassem nesse momento tão difícil. E eu, estava mais tensa do
que qualquer pessoa ali daquele lugar.
Capítulo 12
A Lei Mais Importante

Faltavam três dias para todos os Traumas irem embora do Campo de Concentração,
pois os Congênitos morriam misteriosamente com um buraco na barriga e sem
sangue. O diretor mandou alguns Detectores Congênitos irem embora, deixando
alguns ainda para cuidarem de nós, até o dia de sairmos daquele castelo imenso.
M eus amigos ao mesmo tempo estavam felizes e tristes, eles queriam ir
embora daquele lugar onde não eram bem-vindos, mas mesmo assim, eles gostavam
de ficar naquele aqui. Eu, já queria ir embora daquele dali. Já estava há um mês e
parecia anos, só que uma coisa me preocupava, essas mortes misteriosas e terríveis.
Na última aula de Leis, a professora Camila nos informou que ia passar uma
única lei para que nós memorizássemos, ela seria muito importante para o resto da
vida. Eu gostava dela, a sala inteira, pois ela era uma professora Trauma e não nos
olhava com preconceito. Ela escreveu na lousa:

A lei mais importante é:

Nunca revele para um ser humano a sua verdadeira identidade. Pois será
condenado a morte.
Aquela frase ficou fixada na minha mente, era uma lei muito especial e
precisava ser respeitada, agora entendo, o meu pai apagou a mente de todo mundo
quando eu tive um ataque de raiva e os meus poderes ficaram descontrolados.
Naquele dia, tudo em minha vida mudou novamente, como aquele quiromante tinha
me alertado logo no primeiro dia aula, podia ter recusado, não, você não irá ler a
minha mão, mas ela acabou lendo-a e revelando o meu destino. Ela disse que seria a
escuridão, mas a escuridão me libertou novamente para a vida.
Os três dias se passaram, todos os Traumas estavam reunidos no portão de
entrada do Campo de Concentração. M eus amigos tinham ido na frente, para que
não fôssemos os últimos da fila e pegasse o pior banco dentro do iate. Eu, estava
terminando de arrumar as minhas mala, olhando aquele quarto imenso que antes
estava cheio de meninas conversando e sentindo-se abandonadas pelo forte
preconceito. Não sei se isso era bom ou ruim.
Quando estava descendo as escadas e indo para o portão de entrada, um vulto
atravessou a parede indo para um corredor oposto ao meu, no início achei que era
coisa da minha cabeça, mas não era, pois eu ouvi uma voz masculina gritando
loucamente.
- Socorro! - Sua voz era um urro ensurdecedor.
Larguei a minha mala, atravessando aquele corredor, para salvar alguém que
precisava de ajuda.
Capítulo 13
Aberração

O Detector estava encostado na parede, encurralado, com rosto tão desesperado que
deu dó. Uma sombra cobria a parede, era a forma de um rosto com olhos vermelhos
intensos, senti um medo tão profundo e de morte, aquele ser emanava uma maldade
tão obscura, atravessando a alma de qualquer ser, quando ele se transformou. A
sombra saiu da parede, transformando-se em uma pessoa, com a aparência de um
garoto de dezoito anos, cabelos pretos, calça jeans, tênis All Stars e com uma camisa
branca de gola V. A sua mão direta estralou fortemente, o ossos da mão remexiam
ansiosos, para saírem daquele corpo que emanava a própria trevas. Sua mão se
transformou em um grande cano de cor branco, com grandes tubos que saiam
conectando-se ao braços, como veias do próprio corpo. O garoto ergueu aquele
negócio monstruoso, pronto para matar o Detector, quando me joguei em cima dele.
Vi o seu rosto, seus olhos eram vermelhos, não era só as partes coloridas dos
olhos, mas toda íris e pupila, deixando tudo em vermelho monstruoso e pulsante.
Sua boca mostrava um sorrido prazeroso, seu nariz, tudo, denunciava o prazer de
tirar a vida de alguém.
- Saia da frente Trauma! - Sua voz era gutural.
- Não posso sair, você irá matá-lo! - berrei.
. Então morra! - gritou cheio de fúria.
Antes que ele pudesse me atacar, o ar que estava em minha volta virou um
vento forte, jogando o garoto contra a parede, abrindo um buraco e levando-o para o
outro lado.
- Fuja! E avise alguém!
O Detector olhou para mim ainda assustado, mas assentiu concordando e
fugiu daquele corredor que seria o da sua morte. Olhei para as minhas mãos que
emanavam uma energia muito poderosa, o ar daquele lugar estava rodando em
círculos por todos os meus dedos, como se fossem crianças brincando de pega-pega.
Atravessei aquele buraco, era uma sala bem cumprida, onde se guardava
coisas velhas sem uso algum. A criatura levantou-se dos escombros e silvou para
mim como uma cobra, correndo em minha direção para me atacar. Não perdi tempo,
meus cabelos eriçaram, comecei a flutuar no ar, senti uma eletricidade muito forte
saindo da minha espinha e indo para as minhas duas mãos, emanando raios e
acertando o bicho feio. Ele voou que nem um boneco, chocando-se contra a parede,
tirando a argamassa, aparecendo grandes tijolos que sustentavam a grande
construção, caindo no chão.
Ele berrou de ódio, levantando-se rapidamente, andou novamente em minha
direção para enfiar aquele cano ridículo em mim, mas fui bem mais rápida, jogando
outro raio em seu corpo, com mais intensidade. Ele começou a ser eletrocutado,
gritando de desespero, fumaça começava a sair do seu corpo, com cheiro de carne
queimada. Continuei torturando-o com um prazer enorme, só que eu não tinha
aquela raiva acumulada no meu peito, os meus poderes viam de forma natural,
consciente daquilo que estava fazendo. Fritei ele mais um pouquinho, até que ele
parou de gritar, ficando inconsciente. Larguei-o não chão, quando o diretor apareceu
com mais alguns Detectores. Virei-me para ele, dando um sorriso.
- Aí está o causador das mortes dos Congênitos - disse cheio de alegria.
- Ótimo! - pronunciou o diretor, ainda perplexo com a cena.
Voltei ao chão e saí daquele lugar, não queria ficar mais um minuto sequer.
Atravessei aquele corredor novamente e vi a minha mala largada ali, peguei-a e
fui para a grande fila lá fora. Avistei meus amigos e eles me perguntaram o motivo da
demora, expliquei tudo a eles.
O diretor apareceu na entrada do castelo gritando com uma voz bem
estridente:
- Todos vocês voltem para os seus aposentos! Encontramos o causador das
mortes neste Campo de Concentração
Todos nós voltamos para os nossos quartos. As minhas colegas de quarto
perguntavam confusas, querendo saber quem era o causador das mortes.
Depois de uma semana, a Comunidade Psíquica autorizou a volta dos
Congênitos. Diretor chamou todos daquele lugar para o Salão de Reuniões.
- Estou aqui para notificá-los que encontramos o motivo das mortes dos
Congênitos! A Comunidade Psíquica já está investigando os outros assassínios.
Saibam que foi uma Aberração que fez tudo isso.
Aberração? Por que esse nome? M ais tarde eu saberia do motivo.
Capítulo 14
Frustração de Um Plano

Tudo estava acontecendo como planejado, os Congênitos estavam sendo


assassinados um por um no Campo de Concentração, dando grandes quantidades de
sangue para a realização do seu sonho, aquilo que ele dedicou a vida inteira para que
se concretizasse, estava chegando a hora, faltava pouco para realizar o plano de
dominar o mundo inteiro, impondo a sua vontade, suas ideias, pondo as pessoas ao
seus pés.
Igor olhava para o copo cheio de uísque, com a sua cor amarronzada e um
cheiro delicioso, era a sua bebida preferida, desde da época da juventude, quando ia
ao bar nos seus 19 anos e mandava encher o copo até a boca, transbordando, uma
bebida que aliviava seus temores e sentimentos, anestesiando a sua mente de coisas
inúteis. O seu único pensamento, era no poder que iria ter, junto com Doron, o líder
do Traumas, que fora derrotado por seu irmão imbecil Guenesis, mas a revanche ia
chegar.
Um dos seus homens que usavam o mesmo terno preto do que ele entrou em
sua sala.
- M estre! - sua voz soava submissa.
- Diga meu caro amigo. - Seus olhos saíram do copo de uísque para o seu
seguidor.
-- Temos uma notícia que não irá agradá-lo!
A raiva cresceu dentro de Igor, como uma praga numa plantação de soja,
refletindo em seu rosto perfeito e bonito.
- O que seria? - O tom de sua voz ficou hostil.
- O DV7 foi capturado e está com a Comunidade Psíquica para ser analisado.
- O quê? - berrou cheio de ódio, atacando o copo de uísque com uma fúria
avassaladora. - Uma das minhas criações foi capturada? Como?
O seu peito arfava de cansaço, por causa da raiva que o consumia, sua vontade
era de pegar esse homem que estava na sua frente e o estraçalhar em sua mãos.
- Como descobriram, se ele é invisível?
- O senhor gostaria de ver os relatórios que estão no computador da sala de
pesquisas.
- Sim!
Igor levantou de sua cadeira e atravessou a porta de sua sala, não esperando o
desgraçado que trouxera a má notícia para os seus ouvidos puros e imaculados.
Chegando a sala de pesquisas, foi até o cientista que monitorava as pesquisas em seu
computador.
- M ostre-me!
O cientista sabia que uma única palavra vinda de seu mestre era uma ordem,
sabendo o que ele queria. Ele mexeu com a mouse clicando em cima de arquivo que
estava na tela, trazendo o relatórios para os olhos de Igor.
- Quem descobriu o DV7? - perguntou com uma voz fria.
- Uma garota chamada... - disse procurando no relatório. - Aqui! Beatriz
Carvalho Gomes! Ela viu o DV7 atacando um Detector no Campo de Concentração,
e neutralizou-o.
Aquelas palavras atingiram Igor como uma faca afiada, trespassando a sua
carne, entrando no mais profundo de sua alma, gerando o sentimento de ódio e ao
mesmo tempo de amor. Sua filha fizera aquilo, como poderia imaginar aquilo?
M esmo assim, se Beatriz atrapalhasse os seus planos, ele iria matá-la sem dó em
nem piedade.
Ele voltou para a sua sala, quebrando todos os objetos contidos nela,
extravasando aqueles dois sentimentos conflitantes de seu coração, deixando a sala
totalmente destruída.
Capítulo 15
Análise da Aberração

O médico-legista Andrikoula Sotirios estava analisando a estranha criatura


inconsciente sobre a maca e com amarras no seu corpo. O Campo de Concentração
do Brasil tinha enviado para a Comunidade Psíquica a criatura para ser analisado no
laboratório. Nos seus trinta e sete anos de carreira, nunca tinha visto aquilo, dando-
lhe uma certa curiosidade.
Andrikoula pediu para o seu assistente Stylianos retirar amostras de sangue
para análise, para saber se o rapaz era ser humano ou outra coisa. O resultados
saíram de imediato, sendo entregue para ele. Pegou os seus óculos que estava em
cima da mesa de amostras para ter uma visualização melhor do resultados.
- O que é isso? - disse ele em espanto.
- O que foi? - disse Stylianos preocupado.
- Suas células foram alteradas, ele é um ser humano, mas ele recebeu um
Trauma Forçado.
- Trauma Forçado?
- Você nunca ouviu falar disso?
- Não.
- Na época da Grécia antiga, o Trauma Doron fazia experiências sombrias com
seres humanos, fazendo o Trauma Forçado, provocando acidentes nas pessoas, sem
nenhuma precisão, criando paranormais mais fortes e perigosos, foi assim que
surgiram os Sarx, seguidores cruéis de Doron para acabar com os Congênitos. M as
parece que este aqui, não foi aperfeiçoado, ele foi criado para sugar sangue!
Andrikoula pegou o braço da Aberração para mostrar o grande cano e os tubos
que sobressaíam conectando-se com a pele.
- Isso significa que eles foram criados para uma única finalidade, tirar sangue.
M as para quê? Precisamos informamos ao M estre Supremo dos Congênitos essa
descoberta.
Um silvado reverberou pela sala. Andrikoula e seu assistente olharam para a
criatura que estava querendo se soltar para matá-los.
- Rápido! Vamos anestesiá-lo.
Stylianos pegou a seringa com tranquilizante e aplicou na Aberração.
Imediatamente, ele perdeu a sua consciência e ficou imóvel.
- Agora eu sei o por quê que o chamam de Aberração! - concluiu o médico-
legista.
Andrikoula chamou os paramédicos que trabalhavam junto com eles e
colocaram-no dentro de uma redoma de vidro para que ficasse ali para análise,
tirando-o da maca. E, mesmo que ele acordasse, não poderia sair dali, pois o vidro
era reforçado para problemas extremos como esse.
Capítulo 16
Encontro de Dois Irmãos

Eu fiquei mais famosa do que já era, depois que descobri quem era o causador das
mortes no Campo de Concentração. O diretor reuniu todo mundo no Salão de
Reuniões e me deu um broche com um símbolo de uma coroa, informando que eu
contribuí para o bem estar da escola. Achei muito legal esse conhecimento, mas
mesmo assim, os Congênitos não ficaram satisfeitos, dava para ver em seus olhares
que isso não era nada em comparação com as mortes que ocorreram, pelo menos, fiz
o que era certo.
M eus amigos ficaram super felizes com essa homenagem e fizeram uma
pequena festinha para mim. João o vampiro, trouxe refrigerante para nós, ele tinha
pegado na cozinha, todo mundo ficou preocupado, mas ele disse que as meninas que
trabalhavam na cozinha tinham uma quedinha por ele, deixando-o pegar o
refrigerante sem nenhum problema. Acabando todas essas comemorações, voltamos
a fazer o que tínhamos a cumprir, os estudos.
Passaram-se um mês depois de todos esses acontecimento, tudo estava indo
as mil maravilhas, eu tinha amigos, minhas notas eram altas, só uma coisa não
preenchia o meu vazio, o meu irmão. M inha mãe tinha dado as recomendações para
que ele me ensinasse as coisas aqui dentro, infelizmente, aprendi sozinha, pois os
Traumas e os Congênitos não podiam chegar perto um do outro. E, com isso, não vi
nem sombra de meu irmão.
Os dias sucederam um após o outro e a falta da presença do meu irmão me
deixava angustiada. Na aula de Leis, Clara percebeu em meus rosto a minha tristeza.
- O que foi minha amiga? - disse ela sussurrando para que não atrapalhasse a
aula.
- Ando muito chateada - respondi sem muita vontade.
- Com o quê?
- Eu sinto saudade do meu irmão. Ele também estuda aqui no Campo de
Concentração, ele é um Congênito, mas não posso chegar perto dele.
- Compreendo... M as isso é errado, ele é seu irmão, você tem direito de vê-lo.
- Como se os outros pensassem desse jeito - disse desanimada.
- Nós vamos dar um jeito.
Eu quis me mostrar esperançosa, mas não consegui transmitir. Clara me
abraçou discretamente, passando as suas forças para mim. Senti-me melhor depois
deste abraço.
Era a hora do momento de descanso, as aulas eram interrompidas para que os
alunos pudessem conversar um com os outros e ter um momento de socialização. Eu
olhei para todos que estavam num grande pátio fora dos muros da escola, lembrando
que Guenesis tinha me dito que uma guerra milenar ainda existia, pelo visto, senti
isso na pele.
Tiago me viu sozinha e se aproximou.
- Oi Beatriz - disse Tiago com um sorriso no rosto, mas esmoreceu quando vi
o meu rosto. - Que cara é essa Beatriz?
- De uma pessoa infeliz.
- O que aconteceu amiga?
- Nada...
- Eu já fiquei sabendo...
- A Clara te contou?
- Sim.
- Eu agradeço pela ajuda de vocês, mas isso não vai ajudar em nada.
- Vai sim...
- Como assim? - perguntei curiosa.
- Eu tenho plano para que você possa ver o seu irmão.
- Sério?! - disse eu já cheia de esperança.
- Seríssimo! Você se esqueceu que os inspetores não trabalham no domingo?
Essa é uma brecha bem legal para ver o seu irmão.
- Puxa! Como eu não tinha percebido isso antes?
- Quando a gente está triste, não percebemos as soluções que podem ocorrer.
Se abrirmos os nossos olhos e enxergamos a solução, ela virá ao nosso favor.
- Eu te agradeço muito! - disse abraçando-o ele bem forte. - E, como ele saberá
que eu desejo vê-lo?
- Uma das minhas habilidades com os meus poderes psíquicos, é que eu posso
transmitir informações para as outras pessoas.
- Você é o melhor amigo que eu tinha podia imaginar.
Ainda era terça-feira, e meu coração estava a milhão para ver Julio novamente.
Uma ansiedade tomou conta do meu corpo, deixando-me elétrica até o final da
semana, pois meu querido irmãozinho era tudo que eu tinha. Na quinta-feira, Tiago
me informou que já estava tudo certo e que Julio já estava sabendo. Essa notícia
aliviou o meu coração, relaxando a minha mente e aguardar o domingo.
Finalmente o grande dia chegou, como Tiago havia informado, não havia
nenhum inspetor na ala dos Congênitos. Recebi ordens para esperar na entrada da
ala, porque ele viria ao meu encontro.
Quando eu o avistei no corredor, uma alegria resplandeceu sobre o meu corpo,
fazendo-me correr até ele e dar um abraço bem apertado.
- Como eu estava com saudade de você!
- Eu sei irmã! - Sua voz soava tranquila e alegre.
- Eu estive tão preocupado com você, principalmente aqueles ataques com os
Congênitos.
- Está tudo bem, minha irmã querida. Nada aconteceu comigo. - Ele saiu do
meu abraço, dando um sorriso para mim. - O que você andou fazendo nesse um mês
que passou?
- Aprendendo a lidar com o preconceito. - M inha voz soou desgostosa.
- Eu sei... Peço desculpas por não ajudá-la a se adaptar no Campo de
Concentração, os inspetores não querem que nós se misturamos com os Traumas.
Por isso, nem consegui chegar perto de você.
- Eu entendo... M as agora estamos juntos de novo e podemos colocar o papo
em dia.
- Claro! Sobre o quê você quer falar?
- Tudo o que for possível.
Aquele foi o melhor encontro da minha vida, perguntei sobre os meus pais,
como eles estavam, pois Julio tinha voltado para casa, por causa dos assassinatos.
Ele disse que estava tudo bem com a nossa mãe, perguntando se eu estava bem
também. Já o meu pai, não havia nenhuma informação, ele não tinha dado nenhuma
notícia, nada. Há um mês ele não dava notícias, e isso, deixou eu preocupada.
Depois de todas as nossas fofocas, meu irmão despediu-se de mim, pois já ia
dar seis horas, e não podia ter ninguém fora dos seus aposentos. Dei outro abraço
nele um beijo de arrancar o ar, indo embora para o seu quarto. Eu voltei para o meu
quarto, como a mulher mais feliz do mundo, agora, eu estava em paz comigo mesmo,
de saber que meu irmão estava bem.
Capítulo 17
Uma Pista

O sol de domingo foi embora e deu lugar a noite com a lua enfeitando a escuridão.
Como ritual, todas as meninas do quarto davam boa noite umas para as outras,
desejando um bom descanso para enfrentar mais uma semana de aulas. Aconcheguei-
me na minha cama com o meu cobertor e o meu travesseiro maravilhoso e dormir o
sonho dos anjos.
Voltei novamente para a Grécia, só que desta vez, eu estava dentro de uma
mansão. Andei pelos corredores até chegar em uma sala de estar bem aconchegante,
com várias almofadas vermelhas, com um monte de vasos de cerâmicas enfeitando a
sala e Guenesis sentado em uma das almofadas. Ele sorriu para mim e pediu para
que me sentasse. Guenesis tinha uma beleza que ofuscava o meu raciocínio, tinha até
vontade de pegá-lo e lascar um beijo nele.
- Como você está Beatriz?
- Estou bem. E você?
- Bem... tirando o fato de estar enterrado, o resto está bem.
- Você poderia me dizer onde está o seu túmulo, assim poderia libertá-lo da
morte.
- Se eu soubesse onde está o meu túmulo, eu te falaria agora mesmo. - Ele riu.
- M as é sobre isso que venho falar para você. Encontrei o endereço de um lugar,
onde o responsável em trazer Doron à vida está.
- Sério?
- Sim. E, descobri também que essa pessoa é causadora das mortes do
Congênitos.
- Como você sabe de tudo isso? - perguntei curiosa.
- O meu corpo pode está preso, mas o meu espírito está livre. Só que não
consegui descobri mais coisas, pois tem alguém me bloqueado, e acredito que seja
Doron. Você precisa ir até esse endereço e impedir esse ser de fazer uma grande
burrada.
- Por que você me escolheu para essa missão? Eu não sou nada além de uma
garota Trauma.
- Eu vi em você Beatriz, algo que ninguém têm, o amor.
- Você está brincando - disse eu rindo.
- Estou falando a verdade.
Parei de rir, ele estava falando sério.
- Só saiba que você é a pessoa ideal para cumprir esta tarefa.
- Eu não sei o que você viu em mim.
- Algo que nem mesmo você enxergou, nem seu pai, nem sua mãe, nem seu
irmão e principalmente os seus amigos.
- Tudo bem, você me convenceu. M as como vou sair do Campo de
Concentração?
- Você achará o caminho.
- E qual é o endereço?
- Rodovia Dutra, quilômetro 45.
- Só isso?
- Só.
Guenesis e a mansão desapareceram na minha frente, restando apenas a
escuridão.
Capítulo 18
Plano de Fuga

Calculei mentalmente tudo o que iria fazer para fugir do Campo de Concentração, só
que nenhum plano prestava. Como eu iria fugir daqui? Qual será a reação dos meus
amigos a escutar uma história absurda dessas? Eu não sei.
Fiquei pensando por vários dias em algum plano de fuga, mas nada vinha a
minha mente. Atrapalhando até os meus estudos e deixando meu colegas
preocupados.
- O que foi Beatriz? - disse Priscila.
- O quê? - Saindo dos meus pensamentos.
- Você está avoada, não presta atenção nas aulas e nem o que eu falo. Está
acontecendo alguma coisa?
- Bem... - Eu não queria contar para eles, queria protegê-los, mas acho que não
será a melhor maneira de resolver as coisas. - Reúna todos os nossos amigos.
- Por que? - disse Priscila falando um pouco mais alto, fazendo a professora
olhar para nós duas e depois voltar a sua explicação.
- Você saberá. Quando for a pausa das nossas aulas eu explicarei o por quê
que estou avoada.
Priscila assentiu, não discutindo mais comigo.
Na hora do descanso, todos os meus companheiro estavam ao redor de mim,
olhando preocupados e nervosos ao mesmo tempo.
- Chamei todos aqui, porque preciso ter uma conversa franca com vocês.
- Que conversa? - perguntou Paulo curioso.
- M uito antes de entrar no Campo de Concentração e até agora, tenho
sonhado com Guenesis, o primeiro paranormal Congênito da história. Às vezes ele
aparece em sonho para mim e conversa comigo, e numa dessas conversas, ele
informou que alguém quer ressuscitar Doron. E, responsável pelas Aberrações
atacaram os Congênitos aqui na nossa escola. E, preciso fugir do Campo de
Concentração para impedi-lo de fazer essa cagada. Guenesis me deu até o endereço,
Rodovia Dutra, quilômetro 45.
Todos ficaram mudos e não disseram nada. O rosto de cada uma era de
consternação, digerindo as minhas palavras, ponderando-as, para ver se eu não
estava louca da cabeça. O silêncio começou a ficar muito intenso em nosso grupinho
fechado, deixando-me preocupada.
- Se você fugir, eu também irei - disse Tiago de repente.
- Eu também - disse João.
- Vamos junto - disse Paulo.
- Não deixaremos a nossa amiga ir sozinha - disse Clara.
- Somos as suas amigas - respondeu Carine.
- Isso é verdade - comentou Priscila dando um sorriso para mim.
- Vocês estão falando a verdade? - perguntei incrédula.
- Claro! - responderam todos em uníssono.
- Pensei que vocês iam achar que eu estava louca.
- Confesso Beatriz, que achei loucura, mas dentro de mim, respondeu que
você estava falando a verdade - disse João.
- Eu também - comentou Tiago.
O resto dos meus amigos assentiram concordando.
- Eu estou tão feliz que vocês acreditaram na minha palavra!
Deixei escapar uma lágrima de felicidade.
- Só que tem um problema - falou João. - Ninguém nunca conseguiu fugir do
Campo de Concentração. Os Detectores ficam em voltas dos muros, vigiando para
que nenhuma pessoa fuja daqui.
- Sinceramente - disse eu -, não sei como fugir.
- Precisamos também de um lugar para ficarmos depois da fuga - ressaltou
Priscila.
- Vocês podem ficar na minha casa.
- Beatriz, não irá e atrapalhar? - perguntou Paulo preocupado.
- Fiquem tranquilos, minha mãe adorará ter vocês como companhia, mas
precisamos sair daqui.
Um Detector aproximou-se de nós pigarreando. Todos nós viramos para ele e
ficamos calados.
- Quem é a Beatriz?
- Sou eu - disse com um frio na barriga. Será que ele escutou a nossa conversa?
- O diretor está te chamando. Ele quer conversar com você na sala dele.
M eus amigos olharam tensos para mim.
- Tudo bem, eu vou.
Segui o Detector até a sala do diretor, chegando lá, o Detector abriu a porta e o
diretor cumprimentou-me sentado em sua mesa.
- Beatriz! Como estão os seus machucados? - Fazendo um movimento com as
mãos para que o Detector saísse.
- Estão melhores! - disse chegando perto de sua mesa.
- Sente-se.
- Claro - falei sentando na cadeira.
Fiquei muito tensa naquela hora, o diretor olhava para mim, avaliando cada
movimento meu, eu não sabia o que ele queria de mim, mas penso que ele ia dar uma
punição para mim e para os meu amigos, pois queríamos fugir de lá.
- Eu compreendo a sua decisão.
- Que decisão? - perguntei nervosa.
- De você fugir junto com os seus amigos. E, estou dando autorização para
saírem daqui.
- O quê?! - Eu gritei.
- Não fique espantada, eu sei que você tem uma missão para cumprir. Impedir
que alguém liberte Doron da sua prisão.
- Como você sabe?
- Saiba que Guenesis entrou em contado comigo através de sonhos, avisando
sobre você e sua missão.
- E dos meus amigos?
- Eu soube agora por ele.
- Como?
- Beatriz, você é uma garota que sempre faz perguntas demais, querendo saber
tudo na hora. Tudo bem, Guenesis e eu sempre tivemos contato, desde de que eu era
jovem, ele se apresentou para mim em sonhos e pessoalmente como espírito. E,
quando soube dos seus poderes, fiquei muito curioso, pois os seus poderes são
semelhantes ao que a profecia informa.
- Que profecia? - M inha cabeça estava rodando de tantas informações.
- Doron e eu acreditamos que você é a garota da profecia, A Garota da Chuva.
- A Garota da Chuva? - Isso soou meio ridículo para mim.
- Exatamente. Acreditamos que você é a única capaz de deter Doron.
- E como é essa profecia?
- No momento certo, tudo será lhe dito. Amanhã de manhã, você e os seus
amigos partirão do Campo de Concentração. Quando chegarem no continente, estará
um carro a disposição de vocês, para levarem onde vocês desejam ir. Principalmente
para este endereço que Guenesis te deu.
- Só uma pergunta.
- Pergunte.
- Então, era por isso que você me fez todas aquelas perguntas naquele dia?
- Sim.
M inha mente processou melhor as informações.
- Nossa seção está encerrada. As quatro horas da manhã, quero todos vocês
acordados!
- Posso levar o meu irmão? - perguntei com a maior cara de pau possível.
O diretor ponderou, até dar a sua resposta definitiva.
- Tudo bem! Avisarei o seu irmão.
- Você é o melhor diretor do mundo.
Quando voltei para o pátio, contei para os meu amigos sobre o que o diretor
tinha me dito, eles se surpreenderam com a atitude dele. E disseram uns para outros
que iriam arrumar as suas malas para amanhã.
Agora, eu precisava me concentrar na missão, deter a pessoa que queria trazer
esse mal para o mundo novamente.
Capítulo 19
Voltando Para Casa

M eus olhos ardiam de tanto sono, eu queria voltar para a minha cama e dormir
novamente, mas não podia. M eus amigos também queria dormir, estavam com uma
cara de sono e com olhos vermelhos de cortar o coração. Julio queria me matar, ele
não gosta de ser acordado muito cedo, mas pelo menos, ele ia ver a nossa mãe
novamente. Estávamos no cais da ilha, os Detectores faziam companhia para nós,
até o nosso iate chegar e levar-nos novamente para a costa brasileira. Quando o iate
chegou, subimos apressadamente e sentamos nos bancos e dormimos como crianças.
O iate parou no cais do Guarujá, já era sete horas da manhã, todos nós
descemos da embarcação, onde um homem esperava-nos, informando que seria o
nosso motorista.
A perua era espaçosa e dava para todo mundo sentar e tirar outro ronco,
infelizmente, eu tive que ficar acordada, para dar instruções ao motorista de como ir
para a minha casa.
Era meio-dia, quando chegamos a casa da minha mãe. Ela estava do mesmo
jeito quando eu tinha saído. M eus amigos olharam para ela felizes, saciados do sono,
meu irmão estava satisfeito das horas de sono durante a viagem, e eu queria arrancar
o pescoço de alguém por não ter dormido.
Saímos da perua, o motorista encostou a sua cabeça no banco e dormiu. Pelo
visto, ele iria ficar ali até a segunda ordem nossa.
Julio tocou a campanhia e nossa mãe atendeu, recebendo-nos com um almoço
maravilhoso, com salada de tomate, arroz e feijão e uma linguiça de lamber os lábios.
João comeu a sua comida vorazmente, intercalando com o suco de laranja.
Tiago foi mais ponderado e mastigava ao poucos. Paulo comia tranquilamente, e as
meninas colocaram pouca comida em seus pratos. Julio seguia o mesmo
procedimento de João e comia vorazmente. Eu, fiz uma montanha de comida e
mandei tudo para dentro. Priscila, Clara e Carine ficaram abismadas.
Enquanto comiámos, discutimos em como chegar ao local, onde Guenesis
tinha dado o endereço. Precisávamos de uma estratégia e não tínhamos nenhuma.
Depois do almoço, minha mãe fez uma torta de limão de arrancar elogios da turma.
Como eu já estava cheia de tanto comer, peguei só um pedacinho, João e Julio
cortaram e metade da torta, que fome meu Deus.
Fomos todos para a sala, Pedro pegou o seu Ipad e o seu modem e acessou a
internet, vendo no Google M aps a localização do quilômetro 45 da Rodovia Dutra.
- Aqui informa que o local é das Indústrias Farmacêuticas Gomes.
- M as esse é o meu sobrenome - disse eu com espanto.
- É que o seu pai trabalha lá Beatriz, ele é dono das indústrias - disse minha
mãe ao entrar na sala.
- Você está dizendo que o meu pai trabalha lá, e é o dono?
- Sim.
- E você nunca nos contou?
- Achei que não precisava.
Por que eu tenho a impressão que meu pai escondeu alguma coisa da nossa
família? Será que ele estava trabalhando para o inimigo? Não podia ser.
M eus amigos viram em meu rosto, uma desconfiança tão enorme, e também
começaram a desconfiar. Julio olhou para mim com uma cara, querendo dizer que aí
tinha uma merda. Eu suspirei nervosa, não querendo acreditar que isso fosse
verdade.
Capítulo 20
Invadindo o Território do Inimigo

Ficamos dois dias planejando a invasão das industrias do meu pai, e o grupo decidiu
usar os nossos poderes para entrar naquele lugar que tudo indicava, era o local onde
estava a pessoa responsável em despertar Doron e usar as Aberrações para acabar
com os Congênitos no Campo de Concentração.
Nesses dois dias, eu e meu irmão explicamos tudo para nossa mãe, falamos
tudo que estava acontecendo e as nossas suspeitas. No início, minha mãe ficou
espantada, achando que isso não era possível, que o nosso pai nunca iria fazer uma
coisas dessas. Falei para minha mãe que não tínhamos certeza se era o meu pai ou
não, poderia ser outra pessoa e ele ser inocente disso. Lídia relaxou um pouco e
ficou menos preocupada. Ela pediu que deixássemos ela pensando um pouco, até ela
chegar em uma conclusão. M eu irmão Julio foi mais rápido em digerir as evidências,
enquanto estávamos voltando para o continente, contei tudo para ele, decidindo me
ajudar.
Depois de algumas horas, minha mãe foi até a sala, onde eu, meu irmão e meus
amigos estavam dando os retoques finais para o plano de ataque, pedindo que eu e
meu irmão fôssemos até o quarto dela.
Ela sentou-se em sua cama de casal e olhou para nós com um olhos de
conformação, pensando nas palavras que ia dizer para nós.
- Filhos... Confesso, que eu ainda estou meia assustada com tudo que vocês
me disseram, mas se é para o bem da humanidade, não interferirei, nem contarei para
o pai de vocês. Se ele for o responsável, terá que arcar com suas consequências, se
não for, estarei mais aliviada.
- M ãe, desculpe-nos por darmos essa bomba - disse eu sentando-se ao seu
lado e a abraçando.
- Relaxa, eu vou sobreviver.
- Tem certeza mãe? - disse Julio com preocupação.
- Claro filho. Se o seu pai se separou de mim para fazer sacanagem, ele levará
uma surra feia de mim, para nunca mais enganar a sua mulher.
- M ãe, você não existe - falei alegremente.
- Eu fico feliz, que pelo menos, uma boa educação dei a vocês. E, isso não
tenho que me queixar.
Lídia fez um aceno com a sua mão para que Julio sentasse do seu lado
também, dando um abraço bem apertado em nós.
- Agora preciso dar comida para o motorista de vocês, ele não sai do carro há
dois dias, tenho medo que ele passe mal por causa do calor, esse sol acaba conosco.
Tudo estava resolvido, agora poderíamos executar o nosso plano e livrar a
humanidade do sofrimento.
Já estava tudo preparado para a execução, cada um estava com a sua mala,
com lanternas, cordas e pilhas reservas. Nós iríamos atacar durante à noite.
Estávamos na Rodovia Dutra, no quilômetro 30, enquanto isso, repassávamos todas
as informações, para que não houvesse nenhum erro.
- Eu hipnotizo os guardas - disse João.
- Caso não dê certo, eu meto porrada neles, lobos têm reflexos bons - falou
Paulo.
- Eu posso controlar as mentes deles com os meus poderes psíquicos - disse
Tiago.
- Usarei a minha velocidade para ser mais rápida em espiar as coisas - disse
Priscila toda orgulhosa.
- Tenho o poder de cura, posso curá-los caso aconteça algum acidente.
- Isso mesmo, Clara, você é a nossa salvação - disse Carine. - Como eu posso
flutuar e dar para pôr todo mundo no ar junto comigo.
- Já eu - comentei -, posso fazer um estrago enorme com a minha chuva.
Todos riram descontraídos, só cada uma sabia o que estava sentindo,
enfrentando o medo. Não tínhamos noção do que encontraríamos lá, então, toda
cautela vinha a calhar.
Chegamos ao quilômetro 45 e vimos uma grande indústria desabrochar na
escuridão, com muros que não tinham fim, protegendo aquela imensa construção de
qualquer empecilho. Olhei de boca aberta para todo mundo, Julio, então, piorou,
seus olhos estavam arregalados de espanto. Eu e eles nunca imaginamos que o nosso
pai fosse dono de um monstro. Agora entendia o por quê que a nossa família era
classe média alta, ou melhor, classe rica.
Avistamos o portão de entrada, a perua estacionou. Todos nós descemos,
quando o policial saiu de sua cabina, ver o que estava acontecendo.
- O que vocês querem? Aqui não pode estacionar - disse com uma voz de
ameaça.
João se aproximou do guarda de uma forma descarada, seus olhos ficaram
vermelhos e suas presas aparecendo na sua boca, grunhindo que nem um animal. O
policial tirou a arma do coldre, apontou para ele tremendo de medo.
- Não faça isso seu guarda! - Sua voz soava tão sedutora que eu poderia beijá-
lo. - Olhe para os meus olhos... Isso mesmo, você vai abrir este portão e desligar
todas as câmeras de segurança de entrada. Entendido?
O policial assentiu como uma criança obediente.
- Ótimo!
Ele voltou para a cabine, abrindo o portão.
Todos nós caminhamos pelo imenso pátio, procurando alguma porta para
entrar. Quando avistamos uma, Tiago tocou na maçaneta e abriu facilmente a porta,
nós olhamos para ele, expressando com olhares dizendo que a gente era sortudo.
A recepcionista que estava no balcão olhou para nós espantada, depois se
recompôs e avançou até nós, pronta para enxotar todo mundo dali.
- Vocês não podem entrar aqui! - esbravejou.
- Calma moça - disse João. - Olhe só para os meus olhos...
A recepcionista foi um pouco resistente, mas cedeu a voz melódica dele.
- Quem é responsável por esta empresa?
- Igor Deodoro Carvalho.
- Eles fazem alguma coisa de ilegal aqui?
- Isso é pergunta que se faça - cortei a conversa um pouco irritada. - Diga para
ela, onde podemos encontrar o meu pai.
- Onde podemos encontrar Igor Deodoro Carvalho?
- Peguem aquele elevador e desçam até o vigésimo subsolo.
- Agradecido.
Fomos até o elevador, deixando a recepcionista ali parada que nem idiota.
Julio apertou o botão do elevador, esperamos alguns segundos, o elevador fez
o seu barulho habitual, entramos. Dentro dele, havia inúmeros botões e uma câmera
enorme, soltei um pequeno raio da minha mão, atingindo-o, parando de funcionar
imediatamente. Carine apertou o vigésimo subsolo, o elevador fechou a porta, com
um solavanco para descer.
- Eu acho muito suspeito, uma indústria ter vinte subsolos! - exclamei.
- Também acho - disse Paulo.
- O que se pai faz lá embaixo? - perguntou João curioso.
- Não sei pessoal, isso que me preocupa.
O elevador parou de repente, apontando o décimo sétimo subsolo. Tentei
apertar o botão novamente para descer, mas não houve nenhuma resposta. A porta
do elevador se abriu, mostrando a maior cena da minha vida.
Capítulo 21
Decepção

Esfreguei os meus olhos várias vezes, achando que era uma miragem, imaginação, sei
lá o que fosse, infelizmente, o que eu estava vendo era algo impressionante e bizarro
ao mesmo tempo.
Saímos do elevador, atravessando uma ponte de metal, no meio de um buraco,
onde em suas paredes havia inúmeras cápsulas, com seres humanos dentro, tubos
estava enfiados em várias partes do corpo e um líquido preenchia todo aquele
espaço. Parecia uma colméia de abelha, mas com um monte de adolescentes. Aquilo
não era uma indústria farmacêutica coisa nenhuma, aquilo era um laboratório
disfarçado.
Continuamos andando, quando uma escada apareceu a nosso frente, descemo-
la, chegando a uma grande sacada de metal inox, com vários computadores
embutidos em máquinas imensas.
- Seu pai não faz remédio não - disse Paulo espantado.
Andei sobre aquele lugar, até chegar em um dos computadores, pus a minha
mão direita nele e suspirei. O computador ligou sozinho, dando-me um susto,
mostrando um arquivo chamado Trauma Forçado.
- Gostou do ambiente Beatriz - disse uma voz conhecida no meio do nada.
- Quem é você?!
- Não me reconhece? - Sua voz era de desprezo.
M eu pai se materializou na minha frente, com uma superioridade imponente,
dando um sorriso para mim e para meus amigos, como se tivéssemos na rua,
apresentando-se um para o outro.
- Pai, você é o responsável por tudo?
- Ainda pergunta, filha...
- Então, você que criou as Aberrações e quer trazer Doron a vida! - Acusei
severamente.
- Aberração é um nome feio para se colocar, prefiro DVs - disse debochando.
- Pai, por quê?
- Por que mesmo! - disse Julio cheio de raiva. - M erecemos uma explicação
descente!
- Vocês não percebem! Os Congênitos são as pragas desta terra, eles tratam os
Traumas como se fossem animais! Nada mais que justo em trazer Doron à vida
novamente!
- Tirando vida de gente inocente! - berrei cheia de ódio.
- Filha, mortes são necessárias para execuções de planos. Ajuntem-se a mim, e
não terei como inimigos.
- Não! - disse cheia de convicção.
Igor olhou para mim consternado.
- Filho? - perguntou ele.
- Não!
- E vocês aí? - disse para os meus amigos.
- Sinceramente, não! - disse João!
- Você é louco! - exclamou Clara.
- Ele é patético! - acrescentou Tiago.
- Concordo com você Tiago! - disse Paulo.
- Seu pai Beatriz, é um idiota - disse Priscila.
- Falou e disse! - Carine finalizou.
Dei um sorrisinho no canto dos lábios.
- Pai, estou decepcionado com você.
- Jura? Eu não.
Igor começou a andar pela sacada como se estivesse em parque temático,
discorrendo as suas palavras vis e cruéis.
- Vocês são a vergonha da humanidade! Então, não poderei deixá-los sair com
vida! DV357!
Um vulto em alto velocidade surgiu, parando ao lado de meu pai,
materializando-se e mostrando um rosto familiar, Pedro.
- Gostou com o que fiz com seu namoradinho?
- O que você fez com ele? - Ignorei as suas palavras.
- Fiz o Trauma Forçado nele, só que ele não é para sugar sangue, mas sim foi
feito para matar. Apresento-lhe o Sarx da nova geração!
Aquelas palavras entraram em meu corpo como facas, desferindo golpes em
meu coração. Pedro não era meu namorado, e nunca foi, mas eu tinha uma dívida de
gratidão com ele, e vê-lo daquele forma, como uma Aberração, com olhos vermelhos,
corpo musculoso e cheio de ódio, fez eu me sentir vulnerável.
- Não gostou filha da surpresa? - Ele cortou os meus pensamentos.
- Não.
- Já era previsto. DV357, mate-os!
Pedro avançou ao meu lado, com uma força impressionante, desferiu um soco
na minha cara e depois no meu irmão. Caí no chão como uma boneca de pano, com
uma dor que atravessava o meu cérebro. Percebi que ele já estava dando socos em
meus amigos, e o estranho era que ninguém conseguia reagir.
Fiz uma força sobre-humana para levantar do chão, a minha cabeça rodava
parecendo um carrossel, via tudo embaçado. M as tudo parou de rodar, quando a
risada do meu pai ecoou no recinto, misturado com os gritos das meninas sendo
machucadas pelo pessoa que salvou a minha vida.
- Você não fará mais nada pai! - Urrei cheia de raiva.
- Você não pode usar os seus poderes, eu posso bloqueá-los.
- M as eu posso! - gritou Tiago todo ensanguentado.
Emanou de sua cabeça uma energia magnética muito poderosa, acertando a
cabeça do meu pai e derrubando-o no chão.
- Agora Beatriz!
Não pensei duas vezes, corri em direção da Aberração que entortava a perna
de João para quebrá-la, soltando o meu raio no corpo dele, arremessando-o para o
outro lado. Ele levantou, dando um silvado muito forte, vindo em minha direção,
mostrando as suas garras imensas para furar o peito. Enquanto ele via ao meu
encalço, concentrei-me em todo ar que tinha naquele lugar, pensando em um grande
ciclone, quando ele se materializou na minha frente, acertando Pedro em cheio,
tirando-o da sacada e jogando ele para o buraco sem fim que tinha lá embaixo.
M eu pai se recompôs, dando uma risada demoníaca, rindo como se nada
tivesse acontecido.
- Sua tola! Filha, você é muito idiota! Eu sabia que você viria atrás de mim
desde do começo! Doron me contou tudo, você está ao lado de Guenesis, um
Congênito. - Ele continuou rindo da minha cara. - Aproveitei que você está aqui, e
mandei um exército de Aberrações para destruir o Campo de Concentração e matar
todos os Congênitos!
Ele riu, riu e não parou mais, contando vitória. Ignorei-o, fui até os meus
amigos que estavam machucados. Olhei todos, mas estavam muito feridos, virei o
meu rosto para o meu pai, ele me fitava com desprezo. Ele tinha planejado tudo,
queria matar todos os Congênitos.
- Sabe o por quê que eu preciso de sangue, Beatriz? - continuou. - Para trazer
Doron do mundo dos mortos. E, hoje conseguirei uma quantia de sangue, o
suficiente para despertá-lo.
- Eu te odeio! Covarde! Desgraçado!
Igor voltou a rir, desmaterializando, como também toda a indústria
farmacêutica, restando apenas, um terreno vazio e abandonado. A sua risada ecoava
ainda pelo terreno, como uma assombração, lembrando que eu falhei com todo
mundo.
Capítulo 22
Ataque das Aberrações

Foi inevitável o ataque, as Aberrações invadiram o Campo de Concentração e


mataram todos os Congênitos. Os Traumas tentaram reagir ao ataque, mas foi em
vão, como também os Detectores que atacavam, mas morriam rapidamente. M uros
foram destruídos, salas de aulas vieram ao chão. Os professores lutaram bravamente,
mas foram massacrados pelos canos sugadores de sangue, perdendo o néctar da vida
de seus corpos, restando apenas, um concha vazia, oca, sem nada por dentro.
O diretor lutou até onde podia, mas desistiu, tendo que salvar todos os
Traumas da escola, colocando todos em um porão e se fechando lá dentro. Não havia
o que fazer, parecia que nenhum poder paranormal era páreo para aquelas criaturas,
não fazia nenhum estrago sequer. O certo era aguardar.
Passada a noite inteira de lutas, o diretor saiu do porão com os sobreviventes,
reunindo-se no Salão de Reuniões que estava intacta, discursando com as sua
palavras, para tentar amenizar a dor.
- Creio, que hoje foi o pior dias de nossas vidas! Essas criaturas acabaram com
a nossa escola, estudantes, Detectores e professores. Acho estranho, nenhuma
daquelas criaturas atacaram vocês, só os Congênitos. Não sei mais o que dizer.
O diretor saiu do palco e atravessou a multidão de cabeça baixa.
No mesmo dia, a Comunidade Psíquica fechou o Campo de Concentração,
deixando todos do conselho tensos, causando um caos em toda a Comunidade.
Tomando medidas de proteção drásticas para os outros Campos de Concentração
espalhados pelo mundo.
Capítulo 23
O Retorno dos S arx

Igor viajou para a Grécia o mais rápido que pôde, indo para o túmulo de Doron, não
para despertá-lo, ainda não. Doron primeiro, queria causar o caos ao mundo,
revelaria aos seres humanos que os paranormais existiam.
Igor andou pelos corredores da tumba, procurando a grande sala dos guerreiros
caídos. Um guia grego o acompanhava, segurando a lanterna para ele poder enxergar
em meio a escuridão.
No meio do caminho, as paredes de pedra exibiam runas escritas em grego
antigo, contando a história do antigo povo, também alertando sobre o perigoso
inimigo e o seus seguidores. Logicamente, Igor ignorava todos os avisos, pois ele já
sabia o que tinha naquela sepultura esquecida pelo tempo. Os dois viraram para um
corredor a esquerda, encontrando uma grande placa de pedra, com um monte de
palavras gregas esculpidas na placa que atravessou o tempo para o grande dia.
Ele tocou a placa fria, dando um sorriso no canto dos lábios de satisfação,
lendo cada palavra com um prazer indescritível.

Aqui repousa a maldição do homem, o caos na terra, a destruição do mundo.

Aquela frase foi degustada com um prazer inefável, ali estava escrito tudo o
que o ser humano podia temer. Quem será o grande filósofo que escreveu essa bela
frase, não interessa, estou aqui para libertar a desgraça novamente.
No canto direito da placa, havia uma pequena alavanca de metal, puxando-a. A
grande placa se moveu preguiçosamente, caindo pedaços de pedras e poeira
acumulada durante séculos, abrindo uma grande passagem, exalando um cheiro
pútreo.
O túmulo era enorme, havia inúmeros caixões de pedra espalhados
ordenadamente. O guia, ficou pálido ao ver aquela cena, ele nunca tinha visto um
monte de mortos no mesmo lugar.
Igor retirou uma faca do seu bolso, cortando a palma de sua mão, deixando o
seu sangue pingar no chão empoeirento, espalhando-se, criando uma pequena lama
de sangue.
- Pelo sangue de um Congênito, a praga da terra, a discórdia do mundo, o
verme da terra. Aqueles que deveriam ser mortos a muito tempo. Reivindico a
vingança, a oportunidade de terminar aquilo que não foi concretizado. Como servo
fiel de Doron, ordeno a todos que levantem das suas tumbas, para a nova guerra que
começará!
As tampas do caixão se arrastaram lentamente, fazendo uma sinfonia de
atritos em todo o ambiente. As mãos esqueléticas tocaram na borda da pedra, dando
força para os mortos se levantarem. Os Sarx se ergueram, mas eram puros ossos,
mas quando colocaram o pé fora do caixão e pisaram naquela terra antiga, carne,
tendões, órgãos e peles restauraram as formas originais dos antigos guerreiros. Dos
seus corpos nus, surgiram roupas do nada, todos eram carecas, com uma tatuagem
na cabeça, escrita Sarx em grego antigo.
- Nós ouvimos a voz do servidor de Doron, e estamos aqui para servi-lo! -
disseram todos em uníssono.
Igor deu uma risada prazerosa, sentindo o poder em sua mãos, estava com um
exército poderoso que iria abalar a terra. O guia saiu correndo, deixando aquela
pessoa louca com o seus mortos.
- Preciso de dez de vocês, para trazer caos para uma cidade! Essa cidade fica
no Brasil, São Paulo.
Dez Sarx ficaram na frente de Igor se ajoelhando.
- Conhecemos este lugar, Doron nos informou - disse um deles em grego
antigo.
- Perfeito - disse Igor reconhecendo cada frase.
- Tragam o caos na terra!
Eles se levantaram e desapareceram como fumaça de seus olhos.

Larissa estava com pressa, ela precisava chegar ao escritório, antes que o seu patrão
descem os estrilos dele, dizendo que ela estava atrasada e o seu salário ia sofrer as
consequências. M as o trânsito não dava trégua, aumentando mais o seu nervosismo,
querendo empurrar com o seu carro todos o motoristas. Ela viu alguma coisa voando
no céu, acertando um prédio da Avenida Paulista em segundos, fazendo um buraco
enorme no edifício. Os estilhaços do vidro caíram em cima dos automóveis, como
neve cristalina.
Larissa saiu do seu carro, olhando espantada para aquele imenso buraco que
apareceu do nada. Os outros motoristas saíram dos veículos, fazendo a mesma cena,
quando uma sombra se materializou na faixa de pedestres. O Sarx levantou a sua
mão direita, soltando uma energia negra de sua mãos, acertando um carro e fazendo-o
explodir. As pessoas olharam para onde vinha aquela explosão, vendo um homem
forte e musculoso, com traços belos mas assassinos, ele pegou um homem já de
idade pela sua camisa, sugando toda a sua energia vital pela boca, deixando só pele e
ossos. Todos presenciaram aquela senha grotesca, e saíram correndo em disparada
pela avenida. Só que o pior aconteceu, vários homens iguais a eles apareceram,
causando o caos na grande Avenida Paulista. Pessoas eram mortas facilmente, carros
voavam para os lados e aquele prédio que fora acertado por um deles, rachou ao
meio, não suportando mais segurar aquela grande construção, indo ao chão, liberando
uma grande fumaça de concreto.
Os policias chegaram, as viaturas pararam em lugares diferentes, os possíveis
salvadores saíram de suas carraças, com uma arma nas mãos, os Sarx perceberam que
estavam sendo ameaçados e mataram um por um com facilidade.
Um carro de reportagem chegou, o jornalista saiu do veículo e se escondeu,
mostrando as terríveis cenas
A avenida inteira fora bloqueada, causando um trânsito infernal na Consolação
que foi atacada pelos Sarx também.
A grande batalha milenar começou novamente.
Capítulo 24
Defesa

Sebastião assistia a tudo que estava acontecendo na Avenida Paulista pela televisão,
mexendo os dedos freneticamente de satisfação, era a prova que ele precisava para
acabar com os paranormais da face da terra.
Ele sentou-se em sua mesa, pegando o telefone e ligando para o gabinete do
presidente.
- Alô? - disse a secretária.
- Jussara, sou eu, o M inistro de Defesa, Sebastião Santos, eu preciso falar
com o presidente com urgência.
- O senhor quer falar com ele ainda hoje?
- Tem quer ser agora!
- Um momento, por favor.
A secretária foi até a sala do presidente.
O presidente João Barbosa estava conversando com o M inistro da
Agricultura, quando foi interrompido.
- Senhor presidente, desculpe incomodá-lo.
- Diga.
- O M inistro de Defesa deseja quer falar com o senhor com a máxima urgência.
- Peça para ele vir aqui.
Sebastião estava na sala do presidente, mostrando as imagens da Avenida
Paulista sendo atacada pelas pragas da terra através de seu celular.
- Dê permissão para que haja uma cassação de todos essas criaturas - disse
Sebastião fazendo o seu belo discurso.
O presidente ainda olhava as imagens, tentando fazer a digestão da terrível
catástrofe. Ele suspirou profundamente, olhando para Sebastião com um ar de
preocupação.
- Você tem carta branca para acabar com esses malditos. M as espere a decisão
do senado, para que possamos agir.
- Tudo bem, eu esperarei.
Sebastião saiu daquela sala, dando pulos de alegria em seu interior, era hora de
esterilizar a sociedade das pragas.
Capítulo 25
A Quebra da Lei

O meu coração estava muito machucado, no lugar do ódio, veio a tristeza e a


frustração, ele feriu meus sentimentos, abrindo um buraco sobre o meu peito de
desespero. Como ele pôde? M eu pai, eu sempre confiei nele, sempre acreditei que
ele trabalhava, fazendo coisas de pessoas normais, sei lá como designo agora. Não
contei muita coisa para a minha mãe, nem expliquei que o marido dela atacara sua
filha e o meus amigos de uma forma tão cruel, esperaria o momento certo, mas isso
já estava me consumindo.
Depois que as indústrias farmacêuticas desapareceram misteriosamente,
deixando um terreno vazio, fiquei igual a uma idiota olhando o espaço em aberto e
tentando processar tudo o que aconteceu, para ver se não era fruto da minha
imaginação, mas quando olhei os meus companheiros deitados no chão, sabia que era
tudo real. O motorista ajudou-me a carregar todos, Tiago estava consciente, então foi
mais fácil levá-lo para o automóvel. Quando cheguei em casa, abri a porta
abruptamente, entrando que nem uma louca desvairada, chamando minha mãe. Ela
estava na sala assistindo TV, assustando-se com o meu estardalhaço.
- O que foi filha? - perguntou ela preocupada?
- Venha tirar todos da perua, eles estão todos machucados.
- M achucados? - Sua voz mudou para um tom mais preocupado.
- Depois eu explico, venha.
Lídia foi uma mãe e tanto, pegou-os com facilidade, pondo todos dentro de
casa, um por um, ela foi colocando em cima de sua cama de casal, no meu quarto, no
quarto de Julio e outros deixou deitados no tapete na sala de estar. Ela pegou o kit
de primeiros socorros que estava no banheiro e cuidou dos ferimentos de todo
mundo, eu não estava muito machucada, mas mesmo assim ela pegou um gelo e pôs
na minha testa, onde a Aberração tinha me dado um soco. Doeu um pouquinho,
quando a pedra sem calor tocou em minha pele quente.
Depois disso, passaram-se quatro dias, meus amigos já estavam melhor, Julio
conseguia se movimentar pela casa sem reclamar da dor, mas mesmo assim, eles
ainda estavam muito debilitados. Lídia fez uma sopa de mandioquinha, chuchu,
repolho de levantar defunto, restaurando um pouco a cor de todos nós.
Queria relaxar um pouco e botar as minhas ideias em ordem, liguei a televisão,
trocando de canal com o controle remoto, quando uma reportagem chamou a minha
atenção. A Avenida Paulista parecia um campo de guerra, alguns prédios estavam
desabados, carros virados de cabeça para cima, pessoas correndo enlouquecidas, e
vários homens musculosos, carecas e com uma tatuagem em suas cabeças atacavam
pessoas inocentes. A reportagem mudou, mostrando a imagem da Consolação com
um caos horrível, parecia que os finais dos tempos tinha chegado. Uma cena de
guerra estava sobre a minha cidade.
Esses mesmos homens que atacavam enfurecidamente, matavam as pessoas
sem um mínimo de compaixão, com nenhum sentimento, não mostravam prazer em
matar as suas vítimas, tinham o rosto neutro sem emoção. Aumentei a televisão no
último volume, enchendo a casa com sons de gritos, explosões e um inferno geral.
M inha mãe veio correndo assustada para ver o que estava acontecendo, seus olhos
fixaram na tela e cresceram de espanto. Julio também apareceu, e fez uma cara de
repulsa imensa. Quando percebi, todos estavam na sala assistindo aquela reportagem
escabrosa, querendo entender o que estava acontecendo.
Eu ai fazer algum comentário sobre tudo que estava passando na televisão,
mas uma voz familiar sussurrou no meu ouvido:

“Quebre a Lei Beatriz, vá até lá e destrua os Sarx, antes que seja tarde
demais! Quebre a lei mais importante e enfrente o seu destino que é na terra dos
deuses!”
Demorou alguns segundos para eu entender a mensagem, percebi que era
Guenesis, pedindo para mim que quebrasse a lei mais importante. Compreendi que
revelasse que existiam paranormais sobre a face da terra e acabasse com os Sarx. O
que entendi foi que os Sarx voltaram e a batalhar milenar voltou. Só não entendi uma
coisa, o seu destino é na terra dos deuses. M esmo assim, estava na hora de lutar e
impedir o inimigo.
Levantei-me do sofá e fui em direção a porta, minha mãe percebeu a minha
atitude e exclamou:
- Filha, aonde você vai?
Virei-me para ela.
- Acabar com essa bagunça que está acontecendo. - M inha voz soou
determinada.
- Você está louca! É proibido revelarmos a nossa própria existência, isso
levará a pena de morte!
- M ãe! Eles já quebraram a lei, os Sarx voltaram, ninguém percebeu?
Todos cravaram os seus olhares de preocupação em mim.
- Eu vou com você! - disse João.
- Não! Fiquem todos aqui! Não quero que nenhum de vocês sofram com as
minhas decisões, irei sozinha.
- Por favor filha! - disse ela entre lágrimas. - Você é a única coisa mais
importante na minha vida, não posso perdê-la.
- Fique tranquila - disse aproximando de minha mãe e pegando em suas mãos.
- Dará tudo certo, eu sei.
Lídia beijou a minha testa, molhando-a com lágrimas.
- Vá em frente, se é para o bem da humanidade!
- Sim, mãe! - Sorri para ela.
- Nós estaremos torcendo por você - disse Clara me abraçando.
- Vai lá minha heroína - disse Paulo também me abraçando.
Naquele momento, todos me abraçaram, transmitindo as suas forças para
mim, cada um passava a esperança, afeto, coragem, renascimento, força e poder.
Depois do abraço, saí pela porta, indo ao encontro do meu destino, a terra dos
deuses.

O motorista contratado pelo diretor do Campo de Concentração, deixou-me em


frente aos Hospital das Clínicas, pois não queria que ele fosse machucado pela
catástrofe que estava acontecendo em alguns metros a nossa frente. Ele assentiu,
indo embora e eu caminhei em direção da Avenida Paulista.
Enquanto eu caminhava pelas rua, via um monte de pessoas escondidas entre
os carros, com uma poeira de cimento cobria todo o asfalto. A cidade estava em
caos, parecia um filme de ficção científica, com a protagonista de 17 anos que
enfrentará os Sarx, antigos guerreiros gregos e seguidores de Doron.
Quando adentrei na avenida, vi a cena de destruição projetada em meus olhos,
os carros, motos, ônibus e qualquer meio de transporte estavam empilhados um em
cima do outro como latas velhas. Tive um pouco de dificuldade para caminhar entre
os veículos, mas conseguia passar os obstáculos. À medida que ia avançando,
encontrei várias pessoas mortas no chão, todas secas, sem carne, restando só os
ossos, corpos de policias estavam espalhados pelo campo de batalha, mortos
inocentemente para propósitos obscuros. Aquilo tudo estava me deixando com
raiva, meus cabelos queriam eriçar, podia sentir as nuvens se posicionando para a
minha ordem e o vento como uma criança esperando o seu doce preferido. Andei até
a metade da avenida, chegando ao lado do M ASP que estava com uma rachadura
enorme e pronto para desabar. Parei ali, sentia que tinha alguém me vigiando,
observando os meus movimentos, sabia que era eles, estava na hora de acabar com
essa palhaçada.
- Sarx, venham lutar com alguém do seu tamanho, um adversário a altura de
vocês! - Gritei tão alto que a minha voz ecoou em vários lugares.
Sombras começaram aparecer em volta de mim, fazendo um círculo, ao todo
eram dez sombras, dez Sarx repugnantes. Eles se materializaram na minha frente,
analisando cada parte do meu corpo.
- Você é uma Trauma, não podemos lutar com você! - disseram todos em
coro.
- Sou uma Trauma que está ao lado dos Congênitos e dos Traumas e seguidora
de Guenesis!
- Guenesis! - repetiram todos com raiva.
Aquele nome era como uma maldição sendo proferida, deixando-os irritados.
Todos ergueram sua mão direita, soltando uma luz negra delas para me atacar, era
uma energia muito poderosa e maligna. Os Sarx jogaram essa luz negra em mim, mas
foi impedida por um escudo de energia que apareceu misteriosamente em volta do
meu corpo, desviando a luz negra para lados opostos.
Algumas pessoas que conseguiram se esconder das criaturas, observavam do
seus esconderijos uma garota enfrentando aqueles seres do mal. Percebi também, que
o câmera-man de uma emissora de TV me filmava.
Olhei novamente para os Sarx, eles estavam frustrados por não conseguirem
me atacar. Eles vieram em minha direção com tudo para me derrotar, só que fui mais
rápida e flutuei no ar. Eles também conseguiam fazer isso, continuando a me cerca
como uma presa. Eu tinha que ser rápida, não podia perder mais tempo, olhei
novamente para aquelas pessoas que dependiam de mim, lembrei da minha mãe, do
meu irmão e dos meus amigos, e principalmente do meu pai, o causador dessa
confusão.
A raiva do meu peito explodiu, meus cabelos eriçaram totalmente e o céu
começou a ficar negro, deixando toda a avenida na penumbra. Os raios riscavam o
céu impiedosamente, esperando o meu comando. O vento rodava em círculos sobre
todo o meu corpo, esperando a minha ordem. Estava na hora de eu mostrar o meu
verdadeiro poder. Os Sarx vieram me atacar, querendo me socar, enquanto eles viam,
o raios desceram do céu e acertaram todos eles, jogando-os no chão, com uma força
impressionante, mesmo assim, eles levantaram e começaram a atacar novamente.
Pedi ao vento que formasse um tornado para acabar com aqueles seres da escuridão,
e ela me obedeceu sem protestar, formando um enorme tornado. Pedi as nuvens que
caísse uma chuva muita intensa e ela veio a meu favor, fazendo tudo em volta
chover. Levantei a minha mão direita, lançando um raio em todos eles e fazendo um
corda elétrica sobre os seus corpos, depois mandei o tornado capturá-los, eles
rodavam dentro do vento indomável como brinquedos. Levantei meu dedo indicador
e comecei a girar em sentido horário, aumentando a velocidade, o tornado ficou mais
rápido, girando-os loucamente. Dentro do tornado, os Sarx começavam a se
desmanchar, virando só osso secos e se despedaçando junto ao vento. Fiz o tornado
desaparecer e o céu ficar azul novamente, deixando tudo calmo. Os ossos dos
inimigos caíram no asfalto, desmanchando como terra.
Voltei ao chão novamente, ofegante, arqueei um pouco as costas e pus as
minhas mãos sobre o joelho, tentando pegar um pouco de ar, eu tinha me esforçado
muito, mas nunca senti um poder tão grande como estava sentindo agora, os meus
sentidos estava mais aguçados, meu olfato mais apurado e os meu reflexos mais
intensos. Levantei a minha cabeça e olhei para as pessoas que estavam escondidas,
elas agradeciam com os olhos, estavam felizes por ainda estarem vivas.
Quando eu ia embora, todos eles se aproximaram e pegaram-me no colo,
comemorando a vitória, chamando-me de A Garota da Chuva. Será que esse apelido
era tão óbvio para mim? Eu não sei dizer, mas sei que salvei muitas vidas.

Voltei para a minha casa, todos me abraçaram me chamando de a campeã. M inha


mãe encheu-me de beijo, dizendo que eu estava maravilhosa enquanto eu lutava,
informando que nunca tinha visto um poder tão grande.
A campanhia soou, minha mãe atendeu, dois homens invadiram a sala. Eles
usavam um sobretudo azul com adornos dourados, tinham os cabelos cortados em
corte de soldado. M inha mãe olhou para mim desesperada, eu sabia que não era bom
sinal.
- Quem é Beatriz Carvalho Gomes? - A voz do homem era grossa e intensa.
- Sou eu! - disse sem vacilar.
- Nós somos os Interceptores, e a senhora está presa por quebrar a Lei mais
importante. A senhora será enviada para a Comunidade Psíquica, para ser julgada
pelo Conselho Supremo e sendo condenada a morte! - Aquelas palavras foram
proferidas pelo segundo o homem de sobretudo azul.
João, Paulo, Priscila, Tiago, Clara, Carine e Julio ficaram na minha frente,
protegendo-me.
- Ela não irá sair daqui! - disse Priscila.
- Vocês não perceberam que ela salvou pessoas inocentes de um calamidade! -
disse João revoltado.
- Ela merece ser recompensada pelos seus feitos! - reclamou Paulo.
- Concordo! - falou Tiago.
- Nós também! - disse Clara e Carine juntas.
- Ela transgrediu a nossa lei - disse o Interceptor do lado direito. - Por causa
dela, os paranormais foram revelados. Como a Comunidade Psíquica poderá reparar
um erro desses? Impossível, ela terá que ir para Grécia e será julgada pelo Conselho
Supremo. Se vocês não saíram da nossa frente, serão acusados de cumplicidade e
serão julgados também e mortos.
Não podia deixar que mais gente sofresse por uma irresponsabilidade minha,
precisava arcar com os meus atos. Agora entendi que o Guenesis tinha falado em
minha mente, a terra do deuses era a Grécia, de alguma forma, eu precisava ir para lá.
Desgrudei dos meu amigos e encarei os Interceptores.
- Eu irei! Eles não precisam ir comigo - minha voz soou séria e decidida.
- M uito bem Beatriz, sábia escolha - disse o Interceptor. - Despeça de sua
mãe, pois será o único rosto a lembrar na hora da morte.
- Não terá um julgamento antes? - perguntei desconfiada.
- Todos são culpados quando quebram a lei, mesmo sendo julgados são
levados a morte.
Belo julgamento, essa Comunidade Psíquica me dá nojo.
Abracei a minha mãe fortemente, debulhando em lágrimas. M inha mãe chorava
convulsamente, derramando litros e litros de água salgada na minha cabeça. M eu
irmão também me abraçou, chorando, dizendo que me amava muito; em seguida,
todos os meus amigos me abraçaram, desejando-me sorte, dizendo que ia dar tudo
certo e que o Conselho Supremo ia ver que eu quebrei a lei por uma boa causa.
Assim eu esperava.
Os Interceptores me escoltaram até o carro preto que estava estacionado em
frente da minha casa. Eles entraram, ligando o motor do carro, pronto para partimos.
Olhei pela janela, e vi a minha verdadeira família pela última vez, e guardaria essa
imagem na minha mente, que eles eram as pessoas mais importantes da minha vida,
esse julgamento era o fim da minha história. Ou talvez seja apenas o começo, sei lá.
O carro começou a se locomover, deixando para trás todas as pessoas que eu
realmente me importava, desaparecendo do meu campo de vista.
Capítulo 26
Bem-vindo a Grécia

O Aeroporto Internacional de Atenas era a coisa mais linda do mundo, bem


organizado, tudo limpinho, era um aeroporto de outro planeta. Eu poderia ficar feliz
e dizer, estou na Grécia, em Atenas para ser mais específica, uma cidade que ao
mesmo tempo é moderna, misturada com a antiguidade, mas não estava ali para
passeio, estava li para ser julgada pelos paranormais de alto calibre, os caras que
decidem tudo, muito legal.
Os Interceptores vieram junto comigo para esta parte do mundo, fomos ao
Aeroporto Internacional de Congonhas e pegamos o primeiro voo para Atenas,
viajamos na primeira classe. Os dois brutamontes me informaram que a Comunidade
Psíquica estava pagando tudo, então, como sou cara de pau, aproveitei os minutos
que faltavam para eu deixar de viver e comendo as melhores comidas que eram
servidas. Nunca na minha vida, fui bem tratada pelas aeromoças, parecia que eu era
filha de Eike Batista, quem dera que se fosse verdade.
Como eu não tinha trazido nenhuma bagagem, fomos diretamente para fora do
aeroporto, um Citroën prateado esperava por nós. Os dois Interceptores entraram e
puxaram-me que nem um ursinho de pelúcia para dentro do veículo.
Enquanto o carro passava pelas ruas, comecei a observar cada canto da cidade,
vendo como as pessoas estavam vestidas, como elas andavam, os prédios modernos
e principalmente as construções milenares que desafiaram o tempo e estavam ali,
imperiosas, mostrando para os cidadãos gregos da atualidade que não poderiam
nunca esquecer de seu passado, das suas raízes, a sua própria cultura, a sua
identidade.
Eu pensava que íamos direto para a Comunidade Psíquica, mas o motorista
entrou na Avenida Georgiu A’Street, parando em frente ao um hotel de luxo
chamando King George Palace Hotel. M eu queixo caiu e olhei para os dois
Interceptores espantada.
- Eu estou aqui para ser julgada ou para passar as férias aqui? - perguntei
curiosa.
- M esmo você sendo acusada de um crime tão vil, a Comunidade Psíquica
deseja que todos os paranormais sejam bem tratados. Como você não tem residência
fixa e o seu julgamento é amanhã, você passará um dia e uma noite aqui, tudo pago
por eles - disse o Interceptor sem nenhum sentimento.
Naquela hora, eu quis pular de alegria e dizer, hoje serei uma patricinha, mas
me contive. Pelo menos, eu ia experimentar as comidas gregas e também aproveitar
do bem e do melhor.
Quando adentrei no hotel, vi que ele era luxuosamente decorado, com estátuas
de filósofos gregos, como Sócrates, Aristóteles e entre outros, como também
estátuas de deuses gregos que adornavam aquele ambiente.
Fomos até a recepção, um dos Interceptores falou com o homem do balcão em
um grego perfeito, pedindo o quarto mais caro, ele pegou a chave e subimos o
elevador até o 34º andar. Quando entrei no quarto, fiquei de boca aberta, havia uma
televisão de LCD de 43 polegadas, sobre a cama, um lençol de linho fino, com
roupas de primeira qualidade, roupas modernas que deveriam ter custado uma
fortuna. Os Interceptores trancaram-me no quarto para que eu não fugisse,
deixando-me no quarto totalmente capitalista.
Como não havia tomado banho, tirei as minhas roupas e fui até o banheiro,
delirei quando vi uma banheira de hidromassagem com inúmeros xampus, cremes
para cabelos, óleos aromatizantes. Enchi aquela banheira com água quente, entupi de
sais e sabonete líquido e relaxei o meu corpo, tirando da cabeça os meus problemas.
Depois do banho, coloquei as roupas novas e liguei a televisão. Desisti, todos
os canais só falavam grego, preferi ficar deitada sem fazer nada. A porta do quarto se
abriu, entrando o camareiro, trazendo uma bandeja com uma comida típica daqui,
M oussaka. Ela era feita com berinjela e tomate picados, com camadas de carne
moída cozida com cebola, alho, canela, pimenta da Jamaica, com pimenta preta ao
molho béchamel, e para acompanhar, um suco de laranja sem açúcar. A minha boca
ficou cheia de saliva ao ver uma coisa tão deliciosa, saboreei cada pedaço da comida,
sentindo o gosto de cada condimento que fazia parte da deliciosa M oussaka.
O dia estava indo embora, dando lugar a noite, fui até a janela e vi a cidade
cheias de luzes, mostrando uma Atenas convidativa. Eu queria tanto conhecer os
pontos históricos da cidade, mas não podia sair e também, não tinha me acostumado
com o fuso horário daqui.
Fui para a minha cama, deitei e tive o sono dos anjos, esquecendo as minhas
preocupações.
Capítulo 27
Proteger a Nação

O Congresso estava totalmente lotado, os deputados federais e estaduais, como


também os senadores estavam reunidos para tomar uma providência em decorrência
aos ataques que ocorreram em São Paulo, por pessoas que tinham poderes
sobrenaturais, denominados paranormais.
O ministro Sebastião estava sentado em seu lugar, esperando o momento certo
de falar. Ele ia massacrar esses demônios.
O presidente do congresso Antonio Souza começou a reunião, falando da
catástrofe de estranhas pessoas com poderes sobre-humanos. Depois, foi a vez do
presidente, fazendo uma belo discurso em proteger a nação das ameaças dessas
criaturas, sendo passado a vez para Sebastião.
- Eu sei que ainda há um espanto em relação a isso - começou ele, contendo o
seu orgulho. - M as se vocês não viram os ataques é melhor que vejam com os seus
próprios olhos. Pois fomos atacados por seres que não deveriam existir em um
mundo normal.
Um murmúrio começou, mas foi interrompido por um grande telão que
mostrava a imagem dos Sarx, e principalmente uma garota de cabelos castanhos que
lutava contra esse arruaceiros.
- Viram? Eles botaram seis prédios abaixo, mataram cem pessoas e ainda
destruíram a maior avenida da América Latina, o maior centro financeiro do país!
Vocês acham que devemos deixar isso como está? Será que não há mais desses
demônios?! Precisamos colocar o exército nas ruas e caçá-los como animais, isso que
eles são! Preciso que vocês deem o seu voto, para que possamos proteger o nosso
Brasil de malfeitores.
Um deputado federal tomou a iniciativa:
- M as isso pode causar mais transtornos aos cidadãos brasileiros. Vamos
começar a pegar pessoas inocentes e enfiar balas nelas sem sabermos quem é... como
você disse... paranormais, criaturas do inferno, sei lá como se designa isso.
Os deputados e os senadores concordaram.
- Ainda mais que essa garota que está ali no vídeo, defendeu pessoas inocentes.
Como em nossa sociedade há pessoas do bem e do mal, eles também podem ter os
dois lados. Isso seria uma confusão total!
- Não se deixe enganar! - disse Sebastião um pouco irritado. - Deve ser o plano
deles, essa garota pode ser a líder, ela finge que ajudou nós, os seres humanos, dão
uma de bonzinhos e acabam com as nossas vidas! É isso que você quer deputado
Diógenes?!
- Não! M as seria uma insanidade fazer todo mundo correr riscos, sem saber
quem é paranormal ou não. Quem sabe eu não sou também? - debochou.
Todos riram no Congresso.
- Eu não deixaria a minha família cair nas mãos de seres tão repugnantes! -
Sebastião proferiu as palavras com um ódio mortal. - Eu preciso do apoio de vocês
para resolvermos esta questão desagradável! Vocês estão comigo ou não? - desafiou
Sebastião.
- Isso seria burrice! - disse outro deputado. - Precisamos de provas para
agirmos!
- M as eu tenho! - disse uma voz no meio de todos.
- Quem se pronunciou tome a palavra! - disse Sebastião gostando do que
ouviu.
Um homem levantou-se, era jovem, beirando aos trinta anos, usava um terno e
gravata de cor preta e um rosto tão imponente como seu umbigo.
- Nós também suspeitávamos dessas criaturas, antes mesmo desse ataque
acontecer. Fizemos pesquisas e encontramos o endereço de cada um deles, foi uma
pesquisa de quatro anos, investigamos de inúmeras maneiras e temos provas
suficiente para que as pessoas de bem deste país, não sejam afetadas pelas capturas
dessas criaturas.
- Ora, ora - disse Sebastião todo feliz. - Então temos como pegá-los. Deputado
Diógenes, o senhor ainda tem alguma coisa contra?
- Não.
- Ótimo! Então podemos voltar e decidir se faremos ou não, a cassação desses
seres de outro mundo.
A votação começou, demorou uma hora e meia para terminar. O presidente do
Congresso pegou o resultado em suas mãos e deu o veredicto:
- Todos votaram a favor da cassação e morte dos paranormais sobre todo o
território brasileiro, sem afetar as pessoas de bem que vivem nesta terra!
Sebastião se revirava de felicidade, finalmente tinha conseguido realizar o seu
sonho de tantos anos, acabar com todas a pragas da terra.
- M inistro Sebastião, o senhor está liberado para agir da melhor forma possível
em prol a nossa nação - disse o presidente.
- Darei o melhor de mim!
- Está sessão está encerrada! - disse Antonio Souza.
Sebastião aproximou-se do homem que tinha as provas contras os vermes da
humanidade.
- Deputado Frederico Nogueira, ao seu dispor.
- M inistro de Defesa Sebastião Santos - disse apertando a mão de Frederico. -
Precisamos conversar a respeito desses documentos, para fazermos uma estratégia
para acabar com inimigo.
- Perfeitamente.
Sebastião saiu do Congresso com a plena convicção que iria exterminar todos
os paranormais da face da terra.
Capítulo 28
A Oferenda

O túmulo de Doron era a coisa mais estranha que se podia imaginar. O sarcófago de
pedra onde ele estava enterrado, era conectado por tubos de ferro já enferrujados
com o tempo, sendo interligados por uma grande bacia de mármore, com inúmeras
runas gregas. Igor se aproximou da bacia e leu as inscrições novamente, ele não
cansava de lê-las, desde da primeira vez que encontrou o túmulo de seu senhor,
degustava cada palavra esculpida.

Só o sangue de quem ele mais odeia, poderá trazer o mal dentre os mortos.

Ele sabia o que Doron mais odiava, Congênitos, e era o sangue deles que traria
o salvador do planeta novamente, que fora injustiçado por querer viver em um
mundo sem preconceitos, um lugar que todo mundo o aceitaria do jeito que ele era.
Igor foi até o altar de pedra com pequeno púlpito que fora construído para a
pessoa que o traria de volta vida. Deu a ordem para que todos os DVs despejassem
o sangue dentro da bacia. Um a um foi jogando a essência da vida, enchendo aquela
enorme pedra até a boca. No altar de pedra, havia uma pequena alavanca de ferro
enferrujada, ele segurou-a e moveu-a de uma vez só, não importando se ela estava
emperrada ou não. Os tubos de ferro foram abertos e o sangue foi se esvaindo da
bacia, preenchendo-os até chegar o sarcófago de Doron. Quando a última gota entrou
no caixão de pedra, Igor começou a proferir palavras estranhas, fazendo um zumbido
dentro da tumba, espalhando por todo o ambiente.
- Doron, senhor dos Traumas! Aquele que foi injustiçado, receba a oferenda do
sangue, daqueles que você mais odeia, Congênitos! Levante meu senhor, e venha
trazer ordem para este mundo que está em caos. O seu grande exército o espera, para
terminar a guerra que começou a muito tempo atrás!
O corpo de Doron era só ossos que estava envolto por muito sangue, os restos
mortais dele começaram a sugar todo sangue, formando um fina camada de coágulo,
formando carne, tendões, órgãos, pele e o seus pelos. Tudo voltou a se regenerar, o
seu coração voltou a bater, seus olhos se abriram. Com as suas mãos, ele destruiu a
tampa do sarcófago, espalhando os pedaços pela tumba, erguendo-se e olhando para
a pessoa que o ressuscitara.
Igor nunca tinha visto um homem de uma beleza tão intensa quanto a dele, ele
era perfeito em tudo, braços, pernas, rosto, não havia nenhum defeito, era
musculoso, com uma aparência saudável, e nem parecia que ele estava morto há
muito tempo.
Doron tocou em seu corpo e uma roupa de soldado espartano apareceu,
depois, ele tocou em sua cabeça com as duas mãos, para ver se tudo estava no lugar.
Ele saiu de seu caixão, aproximando-se de Igor e examinando-o de alto a baixo.
- Eu não entendo, um Congênito que é a favor de Traumas e ainda por cima,
ressuscitou o pior pesadelo deles! - disse com uma voz fria que cortou o coração
daquele que o ressuscitou. - Você realmente é bem interessante, estou muito grato,
nobre general.
- Eu fiz o que tinha que ser feito! - Curvando perante ele.
- Em que ano nós estamos?
- Estamos no de 2012, meu mestre.
Doron deu um urro demoníaco, fazendo os pelos de Igor se arrepiarem.
- M aldito Guenesis! Ele é o responsável por eu estar neste lugar abominável,
ele me pagará muito caro! Ele ressuscitou dentre os mortos, general Igor?
- Ainda não.
Ele deu um sorriso de satisfação.
- Vou pegar os seus restos mortais e queimar com fogo. Sabe onde encontra-se
a sua tumba?
- Infelizmente, eu não sei.
- Não importa, pelo menos o meu exército está ressuscitado e os meus planos
em perseguir os Congênitos sobre a face da terra está encaminhado.
Doron tocou no ombro de Igor.
- Além de general, você será o meu mentor e me explicará o que mudou neste
mundo, enquanto eu estava morto. Preciso aprender os costumes, língua e ciência,
tudo que há neste planeta moderno.
- Claro meu senhor! - disse reverenciando-o novamente. - Posso fazer apenas
uma pergunta?
Ele assentiu.
- Quando destruirá a Comunidade Psíquica, lembre-se que o senhor podia
andar entre os vivos mesmo morto e com certeza verificou cada ponto estratégico
daquele lugar.
- Perfeitamente. M as ainda não destruirei a Comunidade Psíquica, tenho
outros planos em mente, e ela me servirá para a execução de todos eles.
- Sim, meu mestre.
Doron saiu de sua tumba, indo de encontro ao seu exército. Os Sarx viram o
seu mestre mais uma vez vivo, ajoelhando todos no chão, dando honras para ele.
Capítulo 29
A Comunidade Psíquica

O grande dia do meu julgamento tinha chegado, seria executada em praça pública,
sem ao menos ter uma defesa digna. Fazer o quê? Os poderosos foram sempre os
que mandaram neste mundo, e não seria diferente agora.
Os Interceptores vieram me buscar, levando-me para o carro. Pegamos a
estrada, distanciando da cidade de Atenas, em direção algum lugar onde não havia
seres humanos habitando.
Enquanto avançávamos para o meu destino, refleti em todas as coisas que
aconteceram comigo, desde do dia que encontrei aquela quiromante fedorenta, até as
minhas últimas ações nesses últimos dias. Analisei, ponderei, meditei, chegando a
conclusão que não teria nada do que se arrepender. Em menos de um mês,
aconteceram tantas coisas extraordinárias na minha vida, e se eu fosse parar para
pensar agora, sobre o meu julgamento e a minha condenação a morte, iria ser uma
piada de mal gosto. Refleti sobre o preconceito dos Congênitos com os Traumas, um
filme rodou em minha cabeça, mostrando tudo que discorreu no tempo que eu passei
no Campo de Concentração, do meu duelo com M irian, minhas conversas com o
diretor e minhas novas amizades, amigos verdadeiros que fiz e sentiam-se do mesmo
jeito que eu, desprezados. Será que nenhum dos lados não poderia dar o braço a
torcer e unirmos em só membro? Acho que não, tanto os seres humanos como os
paranormais são criaturas difíceis de lidar.
Só espero que tudo isso passe rápido, para que eu possa descansar novamente,
pois era para eu morrer na estação elétrica, mas voltei a terra para cumprir uma
missão, fora isso que o garoto tinha me dito, tinha muitas coisas para fazer. Será que
eu terminei? Pensando por esse lado, acho que teria mais algum papel para cumprir
nessa história, e poderá ser tão importante que poderá mudar o rumo de tudo.

No horizonte, despontou um grande muro com um portão de aço enfeitando a


paisagem. À medida que o carro foi se aproximando, pude perceber que os muros
eram bem grandes e o portão imenso. O carro parou em frente ao portão, um leve
ranger saiu dos dois portões, abrindo-se, revelando uma imensa construção de pedra,
com uma pequena estrada de cimento e ao lado um gramado bem cortado, com um
imenso pinheiro adornando a paisagem. O carro avançou para o meu destino, parou
na entrada da Comunidade Psíquica.
Por dentro, era mais elegante ainda, o chão era feito de ouro e com pequenas
pedra de diamantes encaixadas. Os Interceptores me levaram até uma sala e pediram
para que eu esperasse ali, depois saíram e me deixaram sozinha.
Um homem entrou por outra porta que havia na sala, ele usava uma bata
vermelha, parecia ser um padre, tinha olhos azuis e um cabelo tão branco quanto a
neve. Ele andava num passo vagaroso e educado, parecia que ele estava passeando
em algum parque. Ele se aproximou de mim e cumprimentou em português, mas com
sotaque grego.
- Olá. Eu sou o juiz Antzoulatos Ariathni. Você é a...?
- Beatriz Carvalho Gomes - completei
- Uma garota tão bonita como você, sendo julgada por desacato a lei. Espero
que a sua beleza a salve.
Antzoulatos pediu para que o seguisse, fomos para um grande corredor largo,
avançando para uma imensa porta. Ele abriu, revelando um grande conselho de
Traumas e Congênitos e uma bancada enorme, onde estava sentado o Conselho
Supremo. O juiz me levou até a minha cadeira de réu, depois sentou-se em seu lugar.
Todos me olhavam com uma intensa curiosidade, medindo-me de alto abaixo,
deixando eu nervosa.
- Está aberto agora a sessão do julgamento de Beatriz Carvalho Gomes. Por lei,
aquele réu que falar uma determinada língua, todos que estão presentes deverão falar
em acordo mútuo, ou seja, o português será a língua oficial deste julgamento.
Uma mulher com um coque na cabeça, vestida totalmente de social e com um
óculos de aro redondo, começou a me acusar impiedosamente.
- Essa deliquente transgrediu a lei mais importante, revelou a nossa existência
para os humanos! Ela deve ser executada agora!
As pessoas do conselho apoiavam a decisão, principalmente o Conselho
Supremo.
- Senhora Beatriz, você é uma Trauma ou uma Congênita?
- Sou uma Trauma - respondi sem muita vontade.
- Viram só! Ela é uma Trauma, isso é uma vergonha para mim que sou uma
Congênita de sangue puro, aceitar que uma Trauma infratora continue viva.
Um homem de social também se pronunciou:
- Eu protesto meritíssimo! Só porque ela é uma Trauma, não é motivo para
acusá-la impiedosamente. Ela está ofendendo todos os Traumas.
- Protesto aceito! - disse o juiz.
- Que absurdo! - disse ela revoltada. - Temos que fazer um julgamento para
essa infratora.
- Eu também concordo! - disse um dos membros do Conselho Supremo. -
Todos nós sabemos que não podemos ficar nos exibindo para todo mundo,
principalmente agora com tantos problemas que estamos tendo. Esquecerem que o
Campo de Concentração do Brasil foi fechado por causa daquelas Aberrações. - Ele
olhou para mim. - Estou decepcionada com você garota, deu mais dor de cabeça para
nós.
Todos do conselho concordaram.
- Execute-a! - disse a mulher que me acusava.
Todo mundo começou a repetir a mesma coisa:
- Execute-a! Execute-a! Execute-a!
Que droga de julgamento é esse? O meu advogado é um banana, não consegue
obter nenhuma vantagem desse caso. Olhei para ele, que também retribuiu o seu
olhar para mim, expressando com os seus olhos verdes que não havia como
defender-me, principalmente por ter quebrado a lei.
Como eu já estava de saco cheio dessa palhaçada, coloquei todo o meu
sentimento para fora, indignada com tudo o que estava acontecendo.
- Vocês são um bandos de hipócritas!
- Como ousa falar neste tom conosco?! - disse uma mulher do Conselho
Supremo.
- Ouso falar sim! Pois estou de saco cheio desse julgamento infantil e sem
fundamento! Em primeiro lugar, gostaria de falar que vocês são uns imbecis! Vocês
dizem trazer a ordem e paz para os paranormais, mas não fazem nada. Segundo
lugar, nós Traumas somos muitos desprezados pelos Congênitos e sei que tem aqui
Traumas que sofrem com preconceito! Eu quebrei a lei, não porque sou uma
deliquente ou uma infratora como vocês estão pensando. Eu tive lutar contra os Sarx
que atacaram a minha cidade, enquanto vocês ficam aqui, neste conselho fétido, não
fazendo nada. Doron será ressuscitado e vocês ficam discutindo coisas inúteis que
não levará a lugar nenhum.
Eu nunca tinha falado com aquela autoridade, nem previa que ia enfrentar um
julgamento com um monte de Congênitos e Traumas que queriam a minha cabeça em
uma bandeja de prata.
Outro homem do Conselho Supremo se pronunciou:
- Você é uma garota muito insolente sabia? Doron vivo, você está louca! Vimos
as imagens na TV e só havia você se exibindo com seus poderes!
- M entira! - gritei. - Vocês estão sendo comprados por Doron.
- Que acusação mais absurda! O Conselho Supremo é incorruptível, não nos
deixamos levar por bens materiais! Você quer que eu mostre o vídeo?
- Não será necessário - disse uma voz no meio da multidão.
- M estre Supremos dos Traumas, que honra temos o senhor aqui?
O M estre Supremo era um homem avançado em idade, mas que tinha vigor de
um garoto de 14 anos. Ele andou sobre o salão e aproximou-se do Conselho
Supremo.
- Vocês foram comprados por Doron! - sentenciou.
Todos ficaram espantados com a acusação.
- Beatriz Carvalho Gomes, lutou contra os Sarx, para defender as pessoas que
moram em seu país. Esse vídeo não existe, vocês só estão blefando. Estou muito
decepcionado com o Conselho Supremo. O M estre Supremo dos Congênitos pediu-
me que libertasse essa garota de sua acusação. Pois ela é a garota da profecia, a
garota da chuva.
Conversas paralelas encheram o conselho, outra vez me chamavam desse
apelido ridículo.
- Sendo assim, Beatriz Carvalho Gomes é inocente dos seus crimes!
Eu tinha mil motivos para comemorar, mas não fiz isso, queria saber sobre
essa profecia.
- M estre Supremo dos Traumas, o que é essa profecia?
- Vamos até a minha sala e eu explicarei tudo. Enquanto isso, o Conselho
Supremo será detido por traição.
Capítulo 30
A Profecia

A sala do M estre Supremo dos Traumas era bem simples, havia uma pequena
estante com livros, todos escritos em grego e uma mesa com um computador e
forrada de papéis.
Ele pediu para que me sentasse, oferecendo um copo de água bem gelada.
Depois, ele se sentou em sua cadeira, e me examinou com seus olhos sábios, lendo o
fundo da minha alma, ele queria ter certeza que eu era a pessoa certa.
- Beatriz, você é uma das três garotas traumas da profecia.
- Como assim? Explique isso direito para mim, todo mundo só fala de garota
da chuva, profecia e não me contam nada!
- Eu compreendo tudo o que você está sentindo, e explicarei para você.
Ele pegou um papel e me deu para que eu lesse.

O mal que parece que foi derrotado voltará, e três garotas que controlam
poderes que ninguém teve, surgirá. Chuva, terra e fogo traumas, quando reunidas
trarão a vida.

- Você pode explicar para mim, pois não estou entendo...


- Você é uma das três garotas, você é uma Trauma que tem o dom de controlar
a chuva. Você precisa encontrar essas duas outras garotas.
- Como?
- Sinceramente, eu não sei. Só sei que Doron ressuscitou e trará muita dor de
cabeça.
- Como você sabe que ele ressuscitou? - Pondo o copo de água em cima da
mesa.
O M estre Supremo levantou de sua cadeira e foi até a estante de livros, pegou
um livro e abriu-o, dentro dele, havia um pequeno frasco de sangue. Ele deu em
minhas mãos e pediu para que observasse atentamente.
- Este sangue é de Doron. Até alguns dias, ele estava seco, mas agora ele
voltou a ser líquido.
- E, como você conseguiu o sangue dele?
- Isso foi passado de geração a geração, como um alerta de que ele voltará.
Beatriz, você precisa encontrar o túmulo de Guenesis.
- Eu preciso de um tempo para colocar todas as minhas ideias no lugar.
- Perfeitamente, providenciarei um quarto para você. Será a nossa hóspede
por tempo indeterminado.

O meu quarto era bem simples, havia uma cama, com dois cobertores e uma pequena
escrivaninha e uma sacada gigantesca.
Fui até a sacada e olhei o horizonte, pensando em tudo que estava
acontecendo comigo. Aconteceu muitos coisas na minha curta vida, eu precisava de
um tempo para pensar.
Avisei para minha mãe que ficaria algum tempo da Comunidade Psíquica e que
voltaria quando tudo estivesse em seu devido lugar, principalmente a minha cabeça.
Ela ficou feliz em saber que eu não fui morta, falando que eu contasse sobre como é
estar em Atenas.
Eu precisava pensar agora no futuro da humanidade, e nas quatros missões a
cumprir, sozinha e sem ninguém para me ajudar nessa batalha.
Sumário
Capítulo 1 2
Capítulo 2 8
Capítulo 3 14
Capítulo 4 22
Capítulo 5 33
Capítulo 6 35
Capítulo 7 43
Capítulo 8 49
Capítulo 9 53
Capítulo 10 55
Capítulo 11 58
Capítulo 12 62
Capítulo 13 64
Capítulo 14 66
Capítulo 15 68
Capítulo 16 70
Capítulo 17 74
Capítulo 18 76
Capítulo 19 80
Capítulo 20 82
Capítulo 21 86
Capítulo 22 90
Capítulo 23 91
Capítulo 24 94
Capítulo 25 95
Capítulo 26 102
Capítulo 27 104
Capítulo 28 107
Capítulo 29 110
Capítulo 30 114

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