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RELAÇÃO JURÍDICO

OBRIGACIONAL

Introdução ao Direito das Empresas


Ano Letivo 2022/2023
Hugo Lacerda
1. NOÇÃO
Facto jurídico, em sentido amplo, é todo o acontecimento natural ou humano suscetível de produzir
efeitos no plano jurídico, constituindo, modificando ou extinguindo relações jurídicas. Conceito de
obrigação em sentido estrito (ou técnico).

A palavra obrigação pode tomar dois sentidos no âmbito do discurso jurídico: pode significar o lado
passivo da relação jurídica, integrado por um dever jurídico ou sujeição (obrigação em sentido amplo),
ou pode identificar certo tipo de relações jurídicas, no seu todo - lado ativo e passivo, que se
caracterizam pela existência de vínculos jurídicos obrigacionais entre os sujeitos e se encontram
previstas e reguladas pelo livro II do CC referente ao Direito das Obrigações (obrigação em sentido
estrito ou técnico).
O CONCEITO DE OBRIGAÇÃO EM SENTIDO ESTRITO OU TÉCNICO, coincide, pois, com a noção de relação jurídica
obrigacional, a qual se define como uma relação intersubjetiva disciplinada pelo direito no livro II do Código
Civil, mediante a atribuição de um direito subjetivo que se traduz no poder de pretender ou exigir do sujeito
passivo um certo comportamento ativo ou omissivo (direito de crédito) e a imposição do dever jurídico
correspondente, traduzido na obrigação de realizar uma determinada prestação para a satisfação do direito do
sujeito ativo (obrigação ou dívida). No mesmo sentido estrito, o art. 397º do Código Civil, descreve obrigação
como o vínculo jurídico pelo qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação.

Passaremos a utilizar, daqui em diante, a expressão obrigação neste sentido técnico, de relação jurídica
obrigacional, mas também para nos referirmos especificamente ao dever jurídico de tipo obrigacional que se
encontra do lado passivo da relação (obrigação ou dívida).
• Obrigação em sentido amplo
Lado passivo da relação jurídica: dever jurídico ou sujeição

• Obrigação em sentido estrito


Relação jurídica obrigacional (art. 397.º)
- Direito de crédito
- Obrigação (em sentido amplo) ou dívida
ESTRUTURA DA RELAÇÃO
JURÍDICA

A estrutura da relação obrigacional é entretecida pelos vínculos jurídicos que

ligam os sujeitos da relação, competindo ao sujeito ativo um direito de crédito e

ao sujeito passivo uma obrigação ou dívida.


ESTRUTURA DA RELAÇÃO
JURÍDICA
DIREITO DE CRÉDITO
• Direito subjetivo em sentido estrito
• Direito relativo
• Objeto: prestação
• Liberdade contratual quanto ao conteúdo da prestação (art 398.º)
• Normalmente direitos de conteúdo patrimonial

OBRIGAÇÃO OU DÍVIDA
RELAÇÃO OBRIGACIONAL SIMPLES E COMPLEXA
• Deveres principais de prestação
• Deveres laterais, secundários e acessórios de prestação ou de conduta
O DIREITO DE CRÉDITO
O direito de crédito é um direito subjetivo em sentido estrito, que concede ao seu titular o poder
de pretender ou exigir de outrem um comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão).
Trata-se de um direito relativo, que só se pode opor a uma ou várias pessoas certas e
determinadas, sobre quem impende o dever jurídico correspondente (devedor/es). Os direitos
relativos não produzem efeitos em relação a terceiros, contrariamente aos direitos absolutos, que
se impõem a todos os sujeitos sob a forma de dever geral de abstenção (direitos reais e direitos
de personalidade). Por isso, quando a prestação do devedor se concretiza na entrega de uma
coisa, o credor só pode exigir a entrega dessa coisa do devedor, e de mais ninguém, pois o direito
de crédito nunca faculta poderes diretos e imediatos sobre a coisa (só os direitos reais concedem
esses poderes, e permitem ao seu titular seguir o objeto do seu direito na esfera material e
jurídica de terceiros).
O DIREITO DE CRÉDITO
Os direitos de crédito incidem diretamente sobre uma conduta do devedor (sujeito passivo), e, por
isso, o seu exercício implica necessariamente colaboração por parte deste; se o devedor não cumprir
voluntariamente, o credor (titular do direito de crédito) terá de recorrer à via judicial para realizar
coativamente a prestação devida ou exigir a correspondente indemnização pela violação do seu
direito.

O direito de crédito pode ter como objeto uma qualquer ação ou omissão do devedor, vigorando o
princípio da liberdade dos sujeitos na fixação do conteúdo da prestação a prestação terá apenas de ser
apta para satisfazer um interesse do credor digno de proteção legal (art. 398º, n.º 1 e 2, do CC).

Os direitos de crédito são direitos de conteúdo patrimonial, concedendo ao seu titular uma expetativa
com valor económico, mas a prestação não necessita de ter valor pecuniário (art. 398º, n.º 2, do CC).
OBRIGAÇÃO OU DÍVIDA
A obrigação ou dívida corresponde ao dever jurídico que impende sobre
o sujeito passivo. O devedor está vinculado a adotar certa conduta para
satisfazer o interesse do credor, sob pena de, não o fazendo, ter de
responder pelos danos que causar com o seu incumprimento - essa
conduta é designada de prestação.
RELAÇÃO OBRIGACIONAL
SIMPLES OU COMPLEXA
Configura-se a relação obrigacional como sendo estruturalmente composta por um
direito de crédito e uma obrigação (relação jurídica simples).

Porém, na realidade concreta, as relações jurídicas obrigacionais não se resumem, na


sua estrutura, à existência de um direito de crédito e de uma obrigação
correspondente, mas concentram em si uma pluralidade de vínculos jurídicos de
diferente espécie, articulados entre si com vista à satisfação do interesse do credor:
vários direitos subjetivos em sentido estrito e os deveres jurídicos correspondentes, à
mistura com direitos potestativos e sujeições, ónus e expetativas jurídicas.
RELAÇÃO OBRIGACIONAL
SIMPLES OU COMPLEXA
Estas relações obrigacionais dizem-se, por isso, COMPLEXAS.
Atentando no lado passivo de uma relação obrigacional complexa, encontramos
vários tipos de deveres jurídicos que concorrem para a realização plena do
interesse do credor:

 deveres principais de prestação;


 deveres laterais de prestação;
deveres secundários de prestação;
deveres acessórios de conduta;
RELAÇÃO OBRIGACIONAL
COMPLEXA
 DEVERES PRINCIPAIS DE PRESTAÇÃO

São as obrigações que caracterizam a relação jurídica e permitem qualificar o


contrato que esteve na sua origem se for esse o caso; por exemplo, os deveres
de pagar o preço e de entregar a coisa vendida constituem o conteúdo essencial
do contrato de compra e venda (art. 879º do CC).
RELAÇÃO OBRIGACIONAL
COMPLEXA
 DEVERES LATERIAS DE PRESTAÇÃO

São deveres acessórios da prestação principal dos quais depende a satisfação do


interesse do credor que resultam da lei, da vontade das partes, ou da natureza
da prestação principal; por exemplo, o dever de entregar os documentos de um
automóvel pelo seu vendedor (art. 882º, n.º 2, do CC), ou de entregar um
manual de instruções de um eletrodoméstico.
RELAÇÃO OBRIGACIONAL
COMPLEXA
 DEVERES SECUNDÁRIOS DE PRESTAÇÃO

São obrigações com prestação autónoma que complementam ou substituem a


prestação principal, e decorrem da lei ou da vontade das partes; por exemplo, o
dever de indemnizar os danos causados pelo incumprimento culposo da
obrigação principal.
RELAÇÃO OBRIGACIONAL
COMPLEXA
 DEVERES ACESSÓRIOS DE CONDUTA

São deveres de proteção, lealdade e informação que decorrem principalmente


do princípio da boa fé, impondo às partes a adoção de um comportamento
honesto, correto e leal.
MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO
QUANTO AO VÍNCULO
As relações obrigacionais assentam em vínculos de natureza jurídica que
permitem ao titular ativo defender o direito de crédito em caso de
incumprimento do devedor; contudo, há relações jurídicas deste género que
não integram um elemento de garantia, ou seja, em que o credor não tem a
possibilidade de exigir judicialmente a realização coativa da prestação devida.
Distinguem-se, então, as obrigações civis das obrigações naturais.
MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO
QUANTO AO VÍNCULO

As obrigações civis são as comuns, em que o credor tem o poder de exigir do


devedor a prestação devida, recorrendo, em caso de incumprimento do
devedor, aos meios judiciais para fazer valer o seu direito de crédito.
MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO
QUANTO AO VÍNCULO

As obrigações naturais não dispõem de tutela coativa, pelo que o titular do


direito de crédito apenas tem o poder de pretender do devedor a adoção do
comportamento devido. Estas obrigações fundam-se num dever imposto pela
ordem moral ou social cujo cumprimento é assumido pelo direito por
corresponder a uma exigência de justiça, mas que não é judicialmente exigível
(art. 402º do CC).
MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO
QUANTO AO VÍNCULO
É o caso das dívidas prescritas (art. 304º do CC) e das dívidas de jogo e aposta
(art. 1245º do CC). Assim, se o devedor de uma obrigação natural não cumpre
voluntariamente, o credor não pode recorrer às instâncias judiciais para forçar
esse cumprimento; porém, se o devedor realiza espontaneamente a prestação
devida, deve entender-se que cumpriu a sua obrigação, e por isso, não pode,
mais tarde, pedir o reembolso da prestação que efetuou (art. 403º do CC).
ELEMENTOS DA
RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL
A- SUJEITOS
SUJEITO ATIVO
Credor: no interesse de quem é realizada a prestação; tem de ser determinável (art. 511.º CC)

SUJEITO PASSIVO
Devedor sobre quem recai o dever de realizar a prestação tem de ser determinado desde o início
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES
QUANTO AOS SUJEITOS

 SINGULAR
(um credor e um devedor)

 PLURAL
(mais do que um credor e um devedor)

i. Conjunta (ativa ou passiva)

ii. Solidárias (ativa ou passiva)


Obrigações Conjuntas
 A conjunção como regra nas obrigações plurais;
 Cada sujeito é responsável apenas por uma parcela da obrigação;
 Cada credor pode exigir apenas de cada devedor a parte da obrigação que lhe cabe;

Exemplo:
-António empresta € 600,00 a Beatriz e a Carlos
-Cada um é responsável pelo pagamento de €300,00
Obrigações Solidárias (art. 512.º e ss)
 Apenas quando resulte da lei ou da vontade das partes (art. 513.º)

 Cada sujeito é responsável pela totalidade da prestação

 O devedor responde pela totalidade da obrigação e libera todos os devedores


(solidariedade passiva)

 O credor pode exigir ao devedor a prestação total e libera o devedor para com todos
os credores ( solidariedade ativa);
Solidariedade Ativa
 Cada um dos credores tem o direito de exigir, por si só, o cumprimento da totalidade da prestação a
um devedor

 O devedor pode escolher o credor a quem satisfaz a prestação (art. 528.º);

 A satisfação do direito a um dos credores libera o devedor perante os demais (art. 532.º);

 O credor que recebe a totalidade da prestação tem de satisfazer os demais credores


(art. 533. º)

Exemplo:
António e Bruna emprestam € 600,00 a Carlos:
António e Bruna podem exigir o pagamento isoladamente a Carlos;
Carlos também pode fazer o pagamento total a António ou Bruna ficando liberado para com o outro;
Solidariedade Passiva (art. 512.º e ss)
 O credor tem o direito de exigir a qualquer dos devedores toda a prestação ou parte dela, ou seja,
pode escolher pedir a cada devedor apenas a sua parte ou a totalidade da dívida (art. 519.º do CC);

 O devedor não se pode opor e pagar apenas a sua parte (art. 518.º);

 Mas, depois de pagar a totalidade tem direito de regresso sobre os demais devedores, isto é, exigir
lhes a sua parte (art. 524.º);

Exemplo:
António empresta € 600,00 a Beatriz e a Carlos:
António pode exigir o pagamento dos € 600,00 só a Beatriz;
Beatriz paga os € 600,00 e libera o Carlos, tendo depois direito de lhe exigir os € 300,00;
OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA
OBRIGACIONAL

O objeto da relação obrigacional, no sentido de realidade sobre que incidem os


poderes do titular do direito subjetivo em questão, é sempre uma prestação.

A prestação define-se como o comportamento positivo ou negativo que o


devedor está obrigado a adotar para a satisfação do interesse do credor.
OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA
OBRIGACIONAL

As relações jurídicas obrigacionais têm sempre por objeto uma


PRESTAÇÃO(!!!)

[Conduta ou ato humano que o devedor (sujeito passivo) está obrigado a


realizar a favor do credor (sujeito ativo)]
OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA
OBRIGACIONAL
Para que a obrigação se constitua validamente, a prestação que é seu objeto terá
que cumprir certos requisitos.
1. A prestação terá de ser física e legalmente possível, no momento em que a
obrigação se constitui (art. 401º e 280º, n.º 1, do CC).

2. Terá de ser determinável, ainda que não determinada, segundo um critério


fixado por lei, pelas partes ou pelo tribunal (art. 400º e 280º, n.º 1, do CC).

3. Não poderá violar normas legais imperativas, contrariar os princípios de


ordem pública vigentes, nem ofender os bons costumes (art. 280º, n.º 2, do CC).
OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA
OBRIGACIONAL

A não verificação de qualquer um destes


requisitos gera, invariavelmente, a nulidade do
negócio jurídico que constituiu a relação
obrigacional.
MODALIDADES

Entrega de uma coisa (fungível ou infungível);

 Prestação de um facto (positivo ou negativo);

Prestações instantâneas e duradouras;


MODALIDADES
As partes podem fixar livremente o conteúdo da prestação, dentro dos limites da lei (art 398
º, n º 1 e 2

DESDE QUE

Haja interesse legítimo do credor

A prestação seja possível, física e legalmente art 401 º CC

A prestação seja determinada ou suscetível de ser determinada art 400 º CC

 Não contrarie normas imperativas, a ordem pública ou os bons costumes art 280 º CC
QUANTO AO CONTEÚDO

Entrega de coisa (fungível ou infungível)


Se a coisa a entregar for dinheiro, designa-se obrigação pecuniária

Prestação de facto (positivo ou negativo)


QUANTO À SATISFAÇÃO DO CREDOR

Prestação fungível: possibilidade de realização da prestação por terceiro, sem


prejuízo do interesse do credor;
O tribunal pode determinar que o facto seja prestado por outrem à custa do devedor (art. 828.º CC)

Prestação Infungível: só podem ser realizadas pelo devedor, porque


pressupõem qualidades pessoais deste;
O credor apenas pode exigir o pagamento de indemnização (art. 798.º CC)
QUANTO À DURAÇÃO DA PRESTAÇÃO
PRESTAÇÕES INSTANTÂNEAS: a execução ocorre num único momento (ex. entrega da coisa)

PRESTAÇÕES DURADOURAS: a execução se prolonga no tempo

 Fracionadas: a obrigação é dividida em várias prestações, a realizar sucessivamente


(ex. A empresta a B € 500,00 e estabelecem que esta dívida será satisfeita em 5 prestações)

• Continuadas: a prestação não sofre qualquer interrupção


(ex. a prestação do locador, art.1031º)

• Periódicas: a prestação é sucessivamente repetida em certos períodos de tempo


(ex. o pagamento da renda pelo locatário, art.1038º)
FACTO JURÍDICO

Simples ato jurídico –o sujeito pratica o ato voluntariamente, mas o efeito jurídico
decorre diretamente da lei e não da vontade das partes.
O simples ato jurídico pode ser lícito (consentido pela ordem jurídica) ou ilícito (proibido pela ordem
jurídica)
→Ilícito: Responsabilidade civil extracontratual

Negócio jurídico –São factos voluntários compostos por uma ou mais declarações
de vontade a que a ordem jurídica atribui efeitos jurídicos concordantes com o
conteúdo da vontade das partes
Os efeitos jurídicos decorrem da vontade das partes
→Negócios jurídicos unilaterais e bilaterais (contratos)
FACTO JURÍDICO
A relação obrigacional emerge de um facto jurídico (constitutivo), que pode ser um simples ato
jurídico ou um negócio jurídico. No primeiro caso, é a lei que determina o surgimento da obrigação
como consequência da prática do certo ato jurídico, no segundo, o nascimento da obrigação é
diretamente imputável à vontade das partes, manifestada através das declarações negociais que
constituem o negócio jurídico respetivo. Assim, a lei e a vontade das partes são consideradas as duas
fontes das obrigações.

Na categoria dos simples atos jurídicos, os atos ilícitos dão origem a uma relação obrigacional, por
força de lei, designada de responsabilidade civil.

Nos negócios jurídicos, daremos relevância aos negócios jurídicos unilaterais e aos contratos com
eficácia obrigacional mais frequentes.
Responsabilidade Civil
Noção: Imposição legal de uma obrigação de reparar os danos causados por um
determinado facto;

MODALIDADES
Responsabilidade extracontratual –art. 483.º CC
Proveniente da violação de direitos absolutos ou disposições destinadas a proteger interesses
alheios
Não pressupõe uma relação jurídica prévia

Responsabilidade contratual – art. 798.º CC


Proveniente da falta de cumprimento das obrigações emergentes de contratos
Pressupõe uma relação jurídica contratual prévia
Desenvolvida infra em sede de incumprimento da obrigação
Responsabilidade Civil
 Simples ato jurídico ilícito

 Decorre de facto ilícito praticado fora do âmbito da relação contratual

Pressupostos art. 483.º CC

A. Ilicitude

B. Culpa

C. Dano

D. Nexo de causalidade entre o facto e o dano


Responsabilidade Extracontratual

 Simples ato jurídico ilícito

 Decorre de facto ilícito praticado fora do âmbito da relação contratual

Pressupostos art. 483.º CC

A. Ilicitude

B. Culpa

C. Dano

D. Nexo de causalidade entre o facto e o dano


Responsabilidade Extracontratual

A. Ilicitude

O sujeito tem de ter praticado um facto voluntário violador de direitos absolutos (direitos
reais ou direitos de personalidade) ou violador de disposições legais destinadas a proteger
direitos de outrem.
 Facto positivo: ação
 Facto negativo: omissão
Responsabilidade Extracontratual

A. Ilicitude
O agente tem que praticar um facto ilícito, isto é, um ato humano voluntário que viola
direitos subjetivos absolutos de outrem (direitos de personalidade e direitos reais) ou
normas legais destinadas a proteger interesses de outras pessoas (art. 483º, n.º 1, do CC)
Responsabilidade Extracontratual

B. Culpa
 Atuação em termos de a conduta do agente merecer reprovação ou censura do direito;

 A conduta do agente merece censura quanto se concluir que ele podia e devia ter agido de outro modo;

 Art 487 º CC;

Modalidades de culpa
 Dolo (intenção de provocar dano);

 Negligência ou mera culpa (violação de deveres objetivos de cuidado);

 Responsabilidade pelo risco (sem culpa) em casos excecionais (art 483 º, n º 2 e 499 º);
Responsabilidade Extracontratual

C. Danos
O facto ilícito e culposo deve ter dado causa a um prejuízo de alguém.

Danos Patrimoniais (art. 564.º)

• Danos emergentes : perda patrimonial

• Lucros cessantes : lucro que deixou de obter

• Danos não patrimoniais (art. 496.º)


Responsabilidade Extracontratual

C. Danos
Nos danos indemnizáveis incluem-se, nos termos do art. 564º, n.º 1, do CC, além dos prejuízos imediatos
(danos emergentes), os benefícios que o lesado deixou de obter em consequência da lesão (lucros cessantes).
Por fim, tem de se averiguar se os danos provocados foram uma consequência direta do facto ilícito (conditio
sine qua non), e se era previsível, segundo as regras da experiência comum, que esses danos surgissem da
prática daquele facto (nexo de causalidade adequada)- art. 563º do CC.

Preenchidos estes requisitos, a obrigação de indemnizar os danos surge na esfera jurídica do lesante, por via
do disposto no art. 483º, n.º 1, do CC, e o lesado adquire o direito de crédito correspondente.
Responsabilidade Civil
C. Danos
Obrigação de indemnizar está regulada, em geral, no art. 562º e seguintes do CC. A função deste vínculo
obrigacional é reparar um dano, reconstituindo a situação que existiria se não se tivesse verificado o facto lesivo (art.
562º do CC). A indemnização deve, preferencialmente, ser feita por reconstituição natural, isto é, repondo a
situação de facto em que o lesado estaria se os danos não tivessem ocorrido, porém, na generalidade dos casos, a
indemnização é fixada em dinheiro, por a reparação natural não ser possível, não reparar integralmente os danos ou
ser excessivamente onerosa para o lesante (art. 566º, n.º 1, do CC).

O valor da indemnização em dinheiro é fixado pelo tribunal, segundo dois critérios: se a indemnização visa reparar
danos patrimoniais, deve corresponder à diferença entre a situação patrimonial efetiva do lesado e a situação
patrimonial que ele teria se não existissem danos (art. 566º, n.º 2, do CC); se a indemnização se reporta a danos não
patrimoniais, deve ser fixada segundo critérios de equidade, com o objetivo de arbitrar uma compensação adequada
ao lesado (art. 496º, n.º 4, do CC).
Responsabilidade Extracontratual

D. Nexo de Casualidade

 Nem todos os danos são passiveis de ser reparados;

 Só o são os danos resultante do facto e causados pelo facto;


Responsabilidade Extracontratual

Responsabilidade das pessoas coletivas

Dever de indemnizar os danos causados pelas pessoas singulares


que praticam os atos em seu nome (os seus representantes legais) e
por sua conta (os trabalhares e colaboradores) [Art. 500.º CC]
Responsabilidade Extracontratual

Responsabilidade das pessoas coletivas


Pressupostos
Aquele (comitente) que tenha encarregado outrem (comissário) do exercício de determinada atividade
Desde que em relação ao comissário se verifiquem todos os pressupostos de responsabilidade civil (ilicitude,
culpa, dano e nexo causal)

Independentemente de culpa do comitente


 O comitente responde perante o lesado pelos danos causados;
 Ainda que possa ter direito a reembolso do comissário, exceto se existir culpa do comitente;
 Havendo culpa também do comitente, aplica-se o artigo 497.º, n.º 2 CC;
NEGÓCIO JURÍDICO

Negócio jurídico unilateral


 Principio da tipicidade (art. 457.º)

Negócio jurídico bilateral (contratos)


 Principio da liberdade contratual (art. 405.º);
 O contrato deve ser pontualmente cumprido (art. 406.º);
 A mais importante fonte de obrigações;
NEGÓCIO JURÍDICO
UNILATERAL

[Exemplo, a promessa pública, prevista no art. 459º a 462º do CC]

A promessa pública é um negócio jurídico unilateral através do qual alguém promete, através de anúncio público,
uma certa prestação a favor da pessoa que praticar certo facto ou se encontrar em determinada situação. Como
prevê o art. 459º, n.º 1 e 2, do CC, quem faz a promessa (promitente) fica vinculado a ela, ou seja, o negócio jurídico
unilateral que celebrou tem como efeito o nascimento de uma obrigação em sentido técnico: nesta relação
obrigacional, o promitente tem o dever jurídico de realizar a prestação prometida, e à pessoa que vier a praticar o
facto ou se encontrar na dita situação caberá o direito de crédito correspondente. Note-se que, neste caso, o credor
só é determinado no momento em que realiza o facto ou fica na aludida situação, pelo que se trata, inicialmente, de
uma relação obrigacional com sujeito ativo indeterminado, mas determinável (cf. Art. 511º do CC).

Nos termos do art. 459º, n.º 2, do CC, a eficácia obrigacional do negócio não é prejudicada pelo facto do destinatário
da promessa agir sem ter em consideração a promessa, ou mesmo sem a conhecer (negócio não recetício).
CONTRATOS
Os contratos são o facto jurídico constitutivo mais comum de relações jurídicas obrigacionais.
No princípio da liberdade contratual, consagrado no art. 405º do CC, segundo o qual os particulares são livres de
celebrar contratos e de modelar o seu conteúdo. Esta forma de atuação da autonomia privada tem, pois, duas
dimensões:

1. A Primeira refere-se à liberdade de celebração de contratos, e significa que ninguém pode ser obrigado a
contratar ou proibido de contratar;

2. A Segunda reporta-se à liberdade de fixação do conteúdo do contrato, e abre às partes a possibilidade destas
definirem, segundo os seus interesses, os efeitos prático-jurídicos que pretendem produzir com a conclusão
desse contrato, designadamente pela celebração de contratos típicos e atípicos (previstos ou não na lei), e pela
inclusão das cláusulas contratuais que lhes aprouver. Este princípio sofre limitações quando há uma obrigação
legal de contratar (por exemplo, no contrato de seguro automóvel contra terceiros) ou uma proibição legal de
contratar (como é o caso da compra e venda a filhos e netos – art. 877º do CC); e bem assim quando a lei impõe
restrições às estipulações negociais das partes (por exemplo, o art. 280º do CC).
CONTRATOS
Dizer que os contratos têm eficácia meramente obrigacional equivale a afirmar que, da celebração
de um contrato, só podem advir obrigações para as partes desse contrato, e já não para terceiros
(art. 406º, n.º 2, do CC).

Muitas vezes se diz, também, que “o contrato é a lei das partes”, e com isto se pretende aludir à
obrigatoriedade dos vínculos jurídicos que dele emergem; concluído o contrato, ambas as partes
ficam obrigadas a cumpri-lo pontualmente (art. 406º, n.º 1, do CC), pelo que o incumprimento de
uma delas legitima a outra a recorrer aos meios judiciais competentes para exigir a sua realização
coativa.
CONTRATOS ESPECIAIS
 Compra e venda (art. 874.º ss)
 Doação (art. 940.º ss)
 Sociedade (art. 980.º ss)
Locação (art. 1022.º ss)
 Comodato (art. 1129.º ss)
 Mútuo (art. 1142.º ss)
 Prestação de serviços (art. 1154.º ss)
Mandato (art. 1157.º ss)
Depósito (art. 1185.º ss)
Empreitada (art. 1207.º ss)
I. COMPRA E VENDA
Compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma
coisa ou direito mediante o pagamento de um preço (art. 874º do CC).
Os efeitos jurídicos decorrentes deste tipo contratual são, além da
transmissão da propriedade da coisa ou direito do vendedor para o
comprador, duas obrigações: a obrigação de entregar a coisa, que impende
sobre o vendedor, e a obrigação de pagar o preço, que recai sobre o
comprador (art. 879º do CC).
Trata-se, portanto, de um contrato oneroso, em que ambas as partes
realizam atribuições patrimoniais correspetivas.
O contrato de compra e venda de bens móveis pode ser feito por qualquer
meio, de acordo com o princípio da liberdade de forma (art. 219º do CC), e o
de bens imóveis tem de ser realizado através de escritura pública ou
documento particular autenticado, nos termos do art. 875º do CC.
II. DOAÇÃO
Doação é o contrato pelo qual alguém transmite gratuitamente a propriedade de uma coisa ou

direito ou assume uma obrigação em benefício de outra pessoa, à custa do seu património, e com o

intuito de beneficiar a outra parte (art. 940º, n.º 1, do CC).

O carácter contratual da doação reside na existência de duas declarações negociais que se

completam: por um lado, a proposta de doação, feita pelo doador, por outro, a aceitação da doação

feita pelo donatário (art. 945º do CC); na falta de aceitação, o contrato não está concluído, pelo que

não produz qualquer efeito. A doação é nitidamente um contrato gratuito, em que uma das partes

atribui à outra vantagens patrimoniais sem exigir nada em troca, agindo com espírito de liberalidade
DOAÇÃO

Como efeito, a doação transmite a propriedade da coisa ou direito para o donatário e gera, para o
doador, a obrigação de entregar a coisa doada (art. 954º do CC). A doação de coisas móveis é, em
princípio, um negócio consensual, desde que a coisa doada seja entregue ao donatário (tradição da
coisa doada), mas, se tal não acontecer, a doação terá que constar de documento escrito (art. 947º,
n.º 2, do CC). A doação de bens imóveis tem que ser celebrada por escritura pública ou documento
particular autenticado (art. 947º, n.º 1, do CC).
III. SOCIEDADE
As sociedades são uma das espécies de pessoas coletivas (art. 158º do CC). A constituição de uma sociedade
(civil ou comercial) é feita através de um contrato, designado contrato de sociedade, que se encontra
previsto no art. 980º do CC.

O contrato de sociedade é o negócio jurídico através do qual duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir
com bens ou serviços para o exercício em comum de uma atividade económica (que não seja de mera
fruição), a fim de repartirem entre si os respetivos lucros (art. 980º do CC).

Da celebração deste contrato, surge, para cada um dos sócios, entre outras, uma obrigação de realizar a
prestação acordada (em dinheiro, bens ou em serviços) a favor da sociedade criada.

Embora o art. 981º diga que o contrato de sociedade não está, em regra, sujeito a forma especial, o art. 7º,
n.º 1, do Código das Sociedades Comerciais exige que este seja celebrado por documento escrito, para a
constituição de sociedades comerciais e civis sob a forma comercial.
IV. LOCAÇÃO
A locação é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a ceder o gozo de uma coisa, durante um
determinado período de tempo, mediante o pagamento de uma retribuição (art. 1022º do CC).

A locação assume duas modalidades consoante o seu objeto: arrendamento, se versar sobre coisa imóvel, e
aluguer, se incidir sobre coisa móvel (art. 1023º do CC).

Da locação, decorrem obrigações para ambas as partes: o locador tem a obrigação de entregar a coisa
locada e assegurar o gozo ao locatário para os fins a que esta se destina (art. 1031º do CC); por sua vez, o
locatário tem a obrigação de pagar a renda ou aluguer convencionados, além de outras previstas no art.
1038º do CC.

A locação é um contrato oneroso, uma vez que as partes recebem uma contrapartida patrimonial.

Configura, em princípio, um negócio consensual, sem formalidades definidas legalmente para a sua
celebração, salvo o arrendamento de prédios urbanos com duração superior a 6 meses, que tem que ser
realizado por documento escrito (art. 1069º do CC).
V. COMODATO
Comodato é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra uma determinada coisa
(infungível), móvel ou imóvel, para que ela se sirva dela, sem qualquer contrapartida, ficando
apenas obrigada a restituí-la (art. 1129º do CC).

O comodato é, por natureza, um negócio gratuito, celebrado com intenção de beneficiar o


comodatário.

Deste contrato, surgem apenas obrigações para o comodatário, cujas mais relevantes são as
obrigações de guardar e conservar a coisa emprestada e de a restituir no fim do contrato (art.
1135º, al. a) e h) do CC).

O comodato pode ser celebrado sem a observância de qualquer formalismo específico, por
aplicação da regra geral do art. 219º do CC.
VI. MÚTUO

O contrato de mútuo é um negócio jurídico pelo qual uma das partes (mutuante) empresta
à outra uma (mutuário) uma quantia em dinheiro, ou outra coisa fungível, ficando esta
obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade (art. 1142º do CC).

A eficácia obrigacional do mútuo centra-se na obrigação de restituir a quantia mutuada (ou


a coisa fungível mutuada, se for o caso), a cargo do mutuário, e na eventual obrigação de
pagar os juros respetivos.
VI. MÚTUO
A gratuitidade ou onerosidade do mútuo decorre diretamente da vontade das partes
expressa no contrato: se as partes convencionarem o vencimento de juros remuneratórios,
como contrapartida económica da disponibilidade do capital mutuado, o mútuo é oneroso;
se o mutuante empresta a quantia mutuada sem exigir qualquer retribuição, para beneficiar
o mutuário, o mútuo é gratuito.

Na dúvida, o mútuo presume-se oneroso (art. 1145º, n.º 1, do CC).

Quanto à forma, o mútuo de quantias até 2500,00€ não necessita de observar qualquer
formalidade, mas se superar esse valor terá que ser celebrado por documento escrito
assinado, pelo menos, pelo mutuário, e se ascender a mais de 25.000,00€, só será válido se
constar de escritura pública ou documento particular autenticado (art. 1143º do CC).
VII. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
O contrato de prestação de serviço, previsto no art. 1154º do CC, é aquele em que uma das partes
se obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com ou sem
retribuição.
Este tipo negocial engloba 3 modalidades:
contrato de mandato;
 contrato de depósito;
 contrato de empreitada (art. 1155º do CC);

Em especial, o contrato de empreitada é aquele em que alguém se obriga a realizar uma certa obra

mediante um preço (art. 1207º do CC). Trata-se de um contrato oneroso e consensual.


GARANTIA

 Elemento implícito da relação jurídica: assegura a eficácia prática dos vínculos


obrigacionais, em face da necessidade de colaboração do devedor para o cumprimento
da obrigação;

 Em caso de incumprimento voluntário da obrigação: assiste a o credor o direito de


recorrer aos meios de realização coativa da obrigação – implica recurso aos tribunais;

 Excecionalmente, pode estar ausente: obrigações naturais(art.402ºess.CC)–não são


judicialmente exigíveis (dívidas prescritas, dívidas de jogo e aposta);
Geral
Pessoais Fiança
GARANTIA
Especiais Hipoteca
Reais
Penhor
GARANTIA

O património do devedor é considerado a garantia geral das obrigações pelo


art. 601.º do CC, uma vez que, não sendo a obrigação voluntariamente
cumprida, o credor pode obter coativamente a satisfação do seu interesse por via
da ação creditória, que culminará, em último caso, com a execução de bens do
devedor, tal como refere o art. 817.º do CC.
GARANTIA

A ação creditória é composta, em regra, por uma fase declarativa e por uma fase executiva.

A fase declarativa (ação declarativa de condenação) destina-se a obter o reconhecimento


da existência da dívida e a condenação do devedor a cumpri-la, e pode ser dispensada
sempre que o credor tenha na sua posse um título executivo, isto é, um documento escrito
que ateste a existência da obrigação e o seu conteúdo.
Na fase executiva (ação executiva), o tribunal vai efetivar a responsabilidade patrimonial do
devedor, apreendendo e vendendo bens do devedor de valor suficiente, através da penhora
e venda executiva, para depois proceder ao pagamento da dívida exequenda (se a
obrigação era originariamente pecuniária ou se o credor vem exigir a indemnização pelos
danos causados com o incumprimento, por impossibilidade superveniente da prestação);
noutros casos, a execução tem como objetivo a apreensão e entrega coativa de coisa certa
e determinada que o devedor estava obrigado a entregar (art. 827º do CC), ou a prestação
de facto fungível por terceiro à custa do património do devedor (art. 828º do CC).
GARANTIA DAS OBRIGAÇÕES

Além da garantia geral, que permite a qualquer credor a satisfação coativa do seu direito
de crédito por execução do património do devedor, os credores podem garantir-se contra o
incumprimento da obrigação mediante a constituição de outras garantias, que lhes
concedem a possibilidade de atacar o património de terceiros (garantias pessoais) ou lhes
atribuem o direito de ser pago, com preferência em relação aos restantes credores, pelo
valor de certos bens do devedor ou de terceiro (garantias reais).

As garantias especiais derivam, geralmente, da vontade das partes manifestada na


celebração de negócios jurídicos, mas também podem resultar da lei e/ou de uma
decisão judicial.
GARANTIA PESSOAL DAS OBRIGAÇÕES
FIANÇA [ART. 627.º e ss]

 Possibilidade de o credor atacar o património de terceiros para satisfação do interesse


do credor.

 O património do fiador passa a responder também pelo cumprimento da obrigação;

 O fiador responde com todo o seu património pelo cumprimento da obrigação, ficando
pessoalmente obrigado;
GARANTIA PESSOAL DAS OBRIGAÇÕES
FIANÇA [ART. 627.º e ss]
CARATERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO DO FIADOR

A. Acessoriedade (art. 627º, n.º 2, 631º, 632º e 651º)


A acessoriedade determina que a fiança tenha o mesmo âmbito da obrigação do devedor e sofra as mesmas
vicissitudes da esta (art. 627º, n.º 2, 631º, 632º e 651º do CC);

B. Subsidiariedade (art. 638.º -benefício de excussão prévia)


A subsidiariedade concretiza-se na existência de um benefício de excussão prévia que possibilita ao fiador
recusar o cumprimento da obrigação enquanto não forem excutidos todos os bens do devedor (art. 638º, n.º 1, do CC).
GARANTIA PESSOAL DAS OBRIGAÇÕES
FIANÇA [ART. 627.º e ss]

As garantias pessoais reforçam a hipótese de cumprimento coercivo da obrigação pela


responsabilização pessoal de um terceiro, que passa a responder, com o seu património,
pela dívida do devedor.

A fiança é uma garantia deste género constituída por um terceiro que assegura, com todo o
seu património, o cumprimento da obrigação, ficando pessoalmente responsável perante o
credor (art. 627º, n.º 1, do CC).
GARANTIAS REAIS
[Hipoteca e Penhor]

As garantias reais são direitos reais que têm por função garantir o cumprimento de
obrigações, atribuindo ao credor as faculdades de se fazer pagar coativamente pelo valor
de um certa coisa, móvel ou imóvel, do devedor ou de terceiro, com preferência sobre os
demais credores, em caso de incumprimento da obrigação garantida.

A sua importância prática reside essencialmente na sequela, isto é, na possibilidade de


executar o bem sobre que incide a garantia mesmo que ele se encontre no património de
terceiros, mas também na preferência no pagamento que a garantia lhe concede,
permitindo-lhe pagar-se totalmente do valor do bem em primeiro lugar.
GARANTIAS REAIS
[Hipoteca]

A hipoteca, que confere ao credor o direito de ser pago pelo valor de certos bens imóveis
(ou equiparados), pertencentes ao devedor ou a terceiro, com preferência sobre os demais
credores (art. 686º do CC).

A hipoteca pode ter origem legal, judicial ou voluntária (art. 703º do CC), sendo, neste
último caso, constituída por contrato ou negócio unilateral nos termos do art. 712º do CC;
mas, em qualquer dos casos, só produz os seus efeitos se estiver registada na
Conservatória do Registo competente (art. 687º do CC).
GARANTIAS REAIS
[Hipoteca]

Constituída a hipoteca, ela passa a onerar o bem sobre que incide, assegurando ao credor
que, em caso de incumprimento da obrigação garantida, este poderá sempre executar esse
bem, pagando-se pelo valor que obtiver com a sua venda judicial (pois a lei proíbe que o
credor possa ficar com a coisa hipotecada para si – art. 694º do CC), mesmo que o bem
hipotecado pertença a terceiros (note-se que a hipoteca não pode impedir a transmissão
do bem hipotecado – art. 695º do CC).
GARANTIAS REAIS
[Penhor]

O penhor é outra garantia real que confere ao credor a satisfação do seu crédito, com
preferência sobre os demais credores, pelo valor de certa coisa móvel ou de certos direitos,
pertencentes ao devedor ou a terceiro (art. 666º, n.º 1, do CC).

Quanto ao objeto, o penhor pode recair sobre coisas móveis (salvo automóveis, navios e
aeronaves que são considerados equiparados aos imóveis) e ainda sobre direitos de crédito
e outros não hipotecáveis.
GARANTIAS REAIS
[Penhor]

O penhor de coisas constitui-se por negócio jurídico, mas só produz efeitos pela entrega da
coisa ou de documento que confira a sua disponibilidade exclusiva (art. 669º do CC);
a própria existência do penhor pressupõe a detenção material da coisa empenhada
(segundo o art. 677º do CC, a restituição da coisa empenhada extingue o penhor).

Os poderes do credor pignoratício resumem-se à satisfação do seu direito de crédito por


via da venda judicial, ou extrajudicial, da coisa empenhada, em caso de incumprimento da
obrigação (art. 675º do CC).
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

O cumprimento da obrigação corresponde à realização da prestação devida,


nos termos do art. 762º, n.º 1, do CC. Cumprida da obrigação, a relação
obrigacional respetiva extingue-se.

Em matéria de cumprimento das obrigações, vigoram os princípios da


pontualidade e da boa fé.
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

- Princípio da pontualidade – a prestação deve ser realizada, ponto por ponto, segundo o
que estava acordado ou fixado (art. 762º, n.º 1, do CC), e por inteiro, não por partes, salvo
se tal for convencionado pelas partes, ou imposto por lei ou pelos usos (art. 763º, n.º 1, do CC);

- Princípio da boa fé – o cumprimento da obrigação deve reger-se pelos ditames da boa fé,
isto é, a conduta das partes (devedor e credor), no cumprimento da obrigação e no exercício
do direito de crédito, deve ser leal, honesta e correta (art. 762º, n.º 2, do CC).
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

A. Legitimidade
Quem pode realizar a prestação?
O devedor ou terceiro (art. 767.º CC)

Quem pode realizar a prestação?

O devedor ou terceiro (art. 767.º CC)


CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

A. Legitimidade Ativa e Passiva


A prestação pode ser efetuada pelo devedor ou por terceiro, só podendo o credor recusar o
cumprimento de terceiro se houver acordo expresso nesse sentido ou a substituição o prejudicar,
designadamente por se tratar de prestação infungível (art. 767º, n.º 1 e 2 do CC).

A prestação tem de ser feita ao credor ou ao seu representante, legal ou voluntário, de acordo com o
disposto no art. 769º do CC.

A prestação feita a terceiro não extingue a obrigação, exceto se o credor consentiu previamente ou
vem a ratificar (art. 770º, al. a) e b) do CC), por isso se diz que “quem paga mal, paga duas vezes”.
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

B. LUGAR DO CUMPRIMENTO
Regra: domicilio do devedor;

Exceções
i. Art. 773.º;

ii. Art. 774.º;


CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

B. LUGAR DO CUMPRIMENTO
A obrigação deve ser cumprida no domicílio do devedor, segundo a norma geral constante do
art. 772º do CC. Contudo, esta regra contempla importantes exceções, constantes dos artigos
seguintes. Se a obrigação tiver por objeto a entrega de certa coisa móvel, deve ser cumprida
no lugar onde a coisa se encontrava na data de celebração do negócio (art. 773º, n.º 1, do CC).

Se, pelo contrário, se tratar de uma obrigação pecuniária, o pagamento da quantia em


dinheiro deverá ocorrer no domicílio do credor à data do cumprimento (art. 774º do CC).
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

C. TEMPO DO CUMPRIMENTO
No que concerne a data de cumprimento, podem ser distinguidas dois tipos de obrigações:

1. As puras;

2. Termo ou a prazo.
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

C. TEMPO DO CUMPRIMENTO

As obrigações puras são aquelas em que não resulta do negócio jurídico constitutivo, nem da
lei ou de decisão judicial, um prazo fixado para o cumprimento. Neste género de obrigações,
o credor pode exigir a prestação a todo o tempo, e o devedor pode cumpri-la a todo o tempo,
segundo o disposto no art. 777º, n.º 1 do CC. Para exigir o cumprimento, o credor tem de
proceder a uma interpelação do devedor, judicial ou extrajudicial, assim tornando a obrigação
exigível, como decorre do art. 805º, n.º 1, do CC.
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

C. TEMPO DO CUMPRIMENTO

As obrigações a termo, ou a prazo, têm uma data certa para o cumprimento, a qual é
definida pelas partes, por lei ou por decisão judicial. Estas obrigações vencem-se
automaticamente, na data estabelecida ou decorrido o período de tempo fixado, sem
necessidade de interpelação (art. 805º, n.º 2, al. a) do CC).
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES
D. PROVA DO CUMPRIMENTO
A prova de que a prestação foi pontualmente realizada pode ser feita através de um recibo ou
quitação, isto é, do documento escrito em que o credor declara ter recebido a prestação para
satisfação do seu direito de crédito.

O art. 787º, n.º 1 e 2 do CC atribui ao devedor o direito à quitação, o que significa que o
credor incorre no dever de o emitir, caso isso lhe seja solicitado no momento em que o
cumprimento é feito, ou posteriormente. Se o credor se negar a emitir a quitação, o devedor
pode recusar-se a cumprir enquanto não lhe for oferecida a quitação, nos termos do n.º 2
deste artigo.
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

O incumprimento ou inadimplemento de uma obrigação consiste na não realização


pontual da prestação devida.

Se a prestação não é efetuada em termos adequados, tal pode dever-se a culpa do


devedor (dolo ou negligência), ou então ser motivado por circunstâncias incontroláveis
alheias à sua vontade – no primeiro caso, falamos de incumprimento imputável ao
devedor, no segundo, de incumprimento não imputável ao devedor.
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

1. INCUMPRIMENTO NÃO IMPUTÁVEL AO DEVEDOR

A responsabilidade do devedor é excluída sempre que o incumprimento, nas suas mais


variadas formas, deriva de facto de terceiro ou de caso fortuito ou de força maior.

Distinguem-se, neste domínio, as situações de impossibilidade objetiva e subjetiva,


consoante deixe de ser possível realizar a prestação em absoluto, ou apenas em relação
ao devedor; apesar de ambas levarem geralmente à extinção da obrigação.

Estas hipóteses encontram-se previstas nos art. 790º e seguintes do Código Civil.
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

2. INCUMPRIMENTO IMPUTÁVEL AO DEVEDOR

O incumprimento culposo pode assumir uma de três modalidades, consoante o efeito:


constituir mora, incumprimento definitivo ou cumprimento defeituoso.

Em qualquer dos casos, o incumprimento constitui um facto ilícito, punido pelo art. 798º
do CC, com a obrigação de indemnizar os danos causados.

Estamos perante uma responsabilidade civil por factos ilícitos, na modalidade contratual.
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

2. INCUMPRIMENTO IMPUTÁVEL AO DEVEDOR

Assim, para que esta obrigação de indemnizar surja na esfera jurídica do credor, é indispensável o
preenchimento cumulativo dos pressupostos gerais da responsabilidade civil por factos ilícitos:
facto ilícito (que, neste caso, se concretiza na violação do direito de crédito do credor), culposo
(praticado com dolo ou negligência), existência de danos e nexo de causalidade adequada entre os
danos e o facto ilícito (art. 798º, 799º, 562º, 563º, 564º e 566º do CC). De salientar que,
contrariamente à responsabilidade extracontratual (art. 487º, n.º 1, do CC), esta modalidade
pressupõe a culpa do devedor; na verdade, o art. 799º, n.º 1, do CC impõe ao devedor o ónus da
prova de que o incumprimento não lhe é imputável (não teve culpa).
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

2.1 MORA

A mora corresponde a um atraso no cumprimento da obrigação, verificado por causa imputável ao


devedor (art. 804º, n.º 2 do CC). Mas, para que esta se verifique, não basta que a prestação não
tenha sido efetuada no tempo devido, ter-se-á de concluir também que a prestação ainda é
possível e o credor mantém o interesse nela.

A mora inicia-se com o vencimento da obrigação, o qual ocorre na data fixada pelas partes, pela lei
ou pelo tribunal, no caso de obrigações a prazo (art. 805º, n.º 2, al. a) do CC), ou depois de
interpelado o devedor para cumprir, nas obrigações puras (art. 805º, n.º 1, do CC).
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

2.1 MORA

O devedor em mora continua obrigado a realizar a prestação devida, mas, além dela, fica obrigado
a indemnizar os danos causados com o atraso, nos termos do art. 804º, n.º 1, do CC.

Estes danos são determinados em concreto, exceto nas obrigações pecuniárias; nestas, os danos
correspondem a juros de mora (art. 806º do CC), calculados com base numa taxa anual fixada na
lei ou no negócio jurídico (taxa anual : 365 dias x número de dias de atraso).
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES
2.2 INCUMPRIMENTO DEFINITIVO

O devedor falta ao cumprimento da obrigação, porque se recusa terminantemente a cumprir,


porque a prestação se tornou impossível, porque o credor perdeu objetivamente o interesse que
tinha na prestação, ou porque o não cumpriu no prazo razoável que lhe foi fixado pelo credor na
interpelação admonitória, desde que, em qualquer dos casos tal se verifique por culpa sua.

Em princípio, a consequência do incumprimento definitivo é a que está prevista no art. 798º do


CC: o devedor responde pelos danos causados, ou seja, fica obrigado a indemnizar os prejuízos
que o incumprimento da obrigação causou ao credor (responsabilidade contratual).

Esta obrigação de indemnização visa colocar o lesado na posição em que estaria se a obrigação
tivesse sido regularmente cumprida (correspondendo ao interesse contratual positivo).
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

2.2 INCUMPRIMENTO DEFINITIVO

Todavia, em caso de impossibilidade da prestação imputável ao devedor o credor, em vez de


cumprir pontualmente a sua parte no contrato (realizando a sua prestação) e exigir a
indemnização pelos danos causados nos termos gerais do art. 798º do CC, pode, em alternativa,
recusar a sua prestação, resolver o contrato e exigir uma indemnização pelos danos que sofreu em
consequência da celebração do contrato (o que corresponde ao interesse contratual negativo).
Mas esta possibilidade só existe nos contratos bilaterais, ou seja, nos contratos que originam
obrigações para ambas as partes, ligadas entre si por um nexo sinalagmático (obrigações
recíprocas ou correspetivas).
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

2.2 CUMPRIMENTO DEFEITUOSO

Para que verifique o cumprimento da obrigação é necessário que a prestação seja realizada na
altura devida, mas também que ostente as características essenciais acordadas pelas partes, sob
pena de desrespeito pelo princípio da pontualidade.

Assim, as hipóteses de realização da prestação com vícios ou deficiências, por facto imputável ao
devedor, integram a modalidade de cumprimento defeituoso.
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

2.2 CUMPRIMENTO DEFEITUOSO

Esta violação do direito de crédito encontra-se prevista, em geral, nos artigos 798º e 799º, n.º 1,
do CC, que impõem a obrigação de indemnizar os danos provocados pela não realização da
prestação nos termos devidos.

Em especial, esta forma de incumprimento é regulada em vários tipos contratuais, como os


contratos de compra e venda (art. 905º e seguintes, 913º e seguintes do CC) e de locação (art.
1032º e seguintes do CC).

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