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projetivos apn isa de Vllemor-Amaral yeila Moraes Cardoso Exte capitulo tem como objetivo contextua- tna perspectivas de us0 dos métodos projetivos a compreensio da personalidade dentro Bos processos de avaliagio psicol6gica, Nes- ‘e semtido, pretende-se retomar brevemente as cteristicas e a complexidade envolvida nes- ‘es métodos € os problemas para sua validacio, osando ampliar a discussio sobre seu uso em combinagio com outras estratégias de avaliacao. Objeiva-se também abordar os beneficios de realizar a discussio dos resultados dos métodos proetvos para potencializar 0 autoconhecimen- todo examinando. Ademanda para avaliagao de personalidade ocotte nos mais distintos contextos de avaliagio icoldgica e pode ser realizada utilizando-se ariados recursos. Dentre os recursos mais uti- lzados tem-se um conjunto de ferramentas tra jcionalmente conhecidas como métodos proje- ivos. Os métodos projetivos envolvem rarefas gas ou ambiguas com instrugdes relativamente pls, fazendo com que o examinando se uti- e de referenciais proprios para organizar as formagdes e produzir uma resposta, revelan- lo assim caracteristicas sobre o funcionamento iquico do examinando. Dentre esses métodos de-se citar como os mais conhecidos no Brasil eles que envolvem identificar com que man- as de tintas se parecem, tal como Rorschach 39 i jvaliago da personalidade no Brasil utiliz; ‘ando métodos © © Zalliger; relatar hist6rias a partir de uma imagem, como os Testes de Apercepgio Temé- tica; fazer desenhos, como o House-Tree-Person (HTP); construir piramides coloridas, como 0 Pfister, entre outros, A complexidade desse conjunto de métodos envolve diversas polémicas, tais como a dificul- dade de encontrar uma nomenclatura capaz de representé-los, dada a variedade dos fendmenos apreendidos por esses métodos, a comecar pela propria natureza do objeto de estudo, a perso- nalidade, ¢ de suas caracteristicas fundamental- mente idiogréficas, quando tomadas como um todo relacionado. Ainda que nao se tenha en- contrado respostas unanimemente aceitas para a escolha de nomenclaturas, é importante lem- brar que desde que Weiner (2000) argumentou sobre a presenga de projecao nas respostas a0 Rorschach, e Meyer e Kurtz (2006) questiona- ram a separagio clissica entre métodos objetivos € métodos projetivos e propuseram a aboligao definitiva da palavra projetivo, ainda nao se en- controu um termo que melhor abarcasse 0 con- junto de instrumentos conhecidos como projeti- vos. Desde entio, varios nomes tém sido adota- dos, incluindo-se métodos expressivos, métodos de autoexpressio ou, mais recentemente con- solidado para o Rorschach, método baseado no desempenho tipico, como é 0 caso do Rorschach > ‘Anna Elsa de Vilemor-Amaral e Lucila Moraes Cardoso Performance Assessment System (R-PAS). A ideia E ressaltar que as respostas a este tipo de método demonstram 0 modo tipico de uma pessoa fun- cionar ao resolver um problema, por exemplo, dizer com 0 que as manchas se parecem, com 0 que estamos de acordo. © repiidio a0 termo projetivo surgiu da necessidade de afirmar que nem toda resposta contém projeges no sentido psicanalitico do termo, o que é verdade! Mas a justa necessidade de desatrelar 0 modo de se avaliar de uma teoria ‘specifica a psicanalitica, pode ter levado a. um exagero que compromete desnecessariamente uma terminologia jé consagrada, uma vez que 0 termo projetivo continua em vigéncia no nome das diversas associagbes internacionais dedicadas aa esses métodos (ef, International Society of the Rorschach and Projective Methods; Reseaux In- ternationel du Rorschach et the Methodes Projec- tives, Societé francais de Psychanalise et Psycho- logie Projective, para citar apenas alguns). Talvea valha a pena lembrar que 0 termo projetivo, criado por Frank (1939), também no aludia A psicandlise, Este autor, em sua época, sou descobertas recentes da fisica como mode- lo ¢ se referia aos fendmenos em que particulas, rio podem ser observadas diretamente, mas cuja presena € registrada por meio das mareas deixa- das em seu percurso, Essa ideia de Frank (1939) de que as respostas das pessoas a determinados cestimulos, em determinadas tarefas, trazem uma area de algo que nao se observa diretamente, & justamente o que se pode considerar como o cer- ne da ideia contida na nomenclatura Método de Desempenho Tipico, trazida por Mihura e Meyer (2018), entendendo que tipico, neste caso, se re- fere aos comportamentos e modo de agir que si0 proprios da pessoa, isto é, as caracteristicas que registram sua singularidade, como uma marca na aioria das coisas que faz, Por g Femos neste capitulo 6 term mon mg ‘do simplesmente para hontar yim Pig” Por consideramos clara a alsig atin faz a0 tipo de fendmeno obserrage® Stn Os desafios para assegurar psicométricas dos métodos projet, apontados em diversos autores men ex, Lilienfeld, Wood, & Garb, 2009, al, 2018) e nacionais (p. ex., Cary Jemor-Amaral, 2017; Fensterseifer re a 20085, Villemor-Amaral & Pasginy S 2006). De modo que notamos avangors tivos no que se refere a adequagéesdan oa projetivos a0 requisitos psicométricos ma esperados dos testes psicoldgicos no tal he acon, + Mia & i Bras A titulo de exemplo, pode-se cia ge revisio recente Reppold etal. (2018) aaloaye sitivamente a quantidade de métodosprojry dlispontveis na lista de instrumentoscom pune favoravel para uso do Satepsi. Segundo leans mento feito pela autora em julho de 2017, iy 173 instrumentos listados 32 (18,5%) devi vam-se & avaliagio do consteuto persoalidadee destes 18 (10,409 do total de testes favorn) em formato de inventirio ou escalae 14 8,8) ‘métodos projetivos. Quando se considera om de que os estudos das qualidades psicoméiss desses instrumentos sio muito mais compless do que os de questionarios, escalas ou invest rios, dado seu carster holistic e eminente te idiografico, chega a surpreender 3 freuies quase equilibrada dos dois tipos. recer favorivel no Satepsi, coms Iaioria dos métodos projetivos dsponte® testes de manchas de tinta, havendo det? sistemas interpretaivos do Rorschach «dof liger. Ha também diferentes ‘versbes dos 16 rst gematica, dos testes das piramides ge de Pfister © do BBT, cujo critério de te so de uma ‘versio ou outra decorre oe xo dn pesson que serd avaliada, sine jo inceressane & 0 fo de que cin- eo Mprjevos receDeram PAreCer favo- 9 80%8 014, nas itimos cinco anos conside- sea ra de publicacao deste capitulo. O que ae nel dat € qUe> embora as pesquisas dacs de métodos projetivos ocorram pane uti ns itimos ano, 25 Prin same lis exto recomendadss para uso em nosso pafs ¢ constitwem wm gre {quanto o de instrumentos para avaliagio da personalidade, Frito esse comentario a respeito da nomen- acne das qualdades poicométrics, vamos crm nas discussbes SODTE OS beneficios de ssodesses métodos, NO sentido de compreender te, enbora 0 estudo dos mesmos seia bastan- ‘ecomplexo, hd que se destacar que é por meio dis que se pode acessar uma série de informa” cissobre 0 funcionamento mental, mais facil e rodamene identificadas na resposta 2 tarefas mis ahertas e ambiguas, pois estas dao espaco cauiorvisibilidade das “marcas” individuais ou doquese tem de mais tipico. Mas a complexida- éedfncionamento psiquico de cada individuo Sipoderé de fato ser apreendida mediante uma onbinagio de métodos que, no conjunto ¢ inte- sos, possam trazer mais informagdes do que Gulqut um deles separadamente. = Enovidade que cada estrarégia de ava- tea a € vieses especificos. OS sae socio oe exemplo, sto wimps i nati da desejabilidade Sede de conbecinento a= © respon: barat si, enquanto que os instrumentos ato, aqueles respondiclos por tercel- 439 AvaliagSo da porsonalidade no Brasil ulizando ‘métodos projet ros a respeit a respeito do examinando, sais imterferéncias das relagdes setae ¢ moe pectavasextemansobreeaes Como ja co} “on Hcommraio ‘em outras oportunid: es wa das vantages para wo dos mos vos seria o fato de que esses sio menos suscetiveis & desejabilidade social na medida e que nio pen licked que in aT: Ihor resposta, e possiveis simulagdes incidiriam mais no contetido de algumas das respostas do ‘que no complexo conjunto de indicadores impli- cados na anilise feita por um perito (Villemor- Amaral, 2009). Vergonha, pudor, elementos narcisicos ou 0 desconhesimento sobre si pati cipam em menor ou maior grau no desempenho em todos os testes, mas néo interferem do mes- mo modo nestes dois tipos. Assim, 0 uso concomitante dos métodos pro- jetivos com outras estratégias avaliativas favorece 2 obtencio de informagdes complementares s0- bre a dindmica de personalidade da pessoa ava- linda (Villemor-Amaral & Pasqualini-Casado, 2006). Enriquece ¢ torna mais fiel a compreerr sao sobre a pessoa, de modo que convergencias bu divergéncias entre os resultados contribuem para uma nova gestalt, Finn (2017) sinteia os vangos dessa discussio na medida em que desta ‘ca uma perspectiva interessante de integragio das informacoes geradas. Segundo 0 autor, a0 Inte gar dads de testes de anrorrelao © mmétodos de valiagao da personalidade com pase no desem- penino da pessoa, 08 projesvos é posse aber informagées adicionass imperceptiveis em io téenica isoladamente, 0 a¥e tornara mais ica iscussao dos resultados com o inte, pod lo inclusive trazet beneficios terapéuticos ime iatos. cegragoes entre ins- ‘Ao tratar das Tecate eros Pies possiveis int trumentos de Finn (2017) exe a [ey (tt ap dos apresentados no MMPI-2 ~ um inventirio de personalidade, € no Rorschach, relatando que somente em alguns casos, bem menos do que in- genuamente se pretenderia — que os dois tipos de instrumentos tendem a se confirmar ao apresenta~ rem boa concordancia nos indicadores, de modo ‘que, ao confirmarem determinados dados, geram mais confianga sobre os resultados da avaliagio. Em outros casos, porém, 0 MMPI-2 ¢ Rorschach podem revelar discordincias importantes, ¢ i80 tio significa que um avalia melhor do que 0 ou- tro. O teste MMPI-2 é um instrumento de autor- relato altamente estruturado, que na sua totalida- de revela tragos ¢ problemas dos quais os clientes ‘o esto plenamente conscientes, mas as respos tas em geral refletem a autopercepeio dos clientes sobre si mesmos no momento do teste. Para Finn (2017), ha cinco possibilidades de convergéncia ou divergéncia entre os resultados do MMPI2 e do Rorschach. Como ja afirmado, em alguns casos 08 resultados dos dois instramentos indicam a mesma diregio, por exemplo, (1) no “enotam falhas no funcionamento, com baixos in- ddicadores de patologia em ambos ou (2) quando bservamse falhas no funcionamento psicol6gico, seja na situagéo mais estrururada do teste de au torrelato, seja na nfo estrururad, tipica da téenica projetiva, Assim, os dois instrumentos concordam porque nao hé interferéncia subjacente ao proces- ee de resposta do examinando, de modo que o> problemas dos clientes na vida so mais evidentes Fo seu funcionamento do dia a dia, ¢ estes esto vomscientes destes problemas. Na experiéncia de Finn (2017), 08 clientes com esse padrao de resul- tacos tém hist6rias de vida consistentes com 0s re- sultados dos testes € no so muito surpreendidos [As outras combinagées de resultados envol- ‘vem a discordincia entre os dados gerados pe- ‘Anna Elisa de Vilemor-Amaral ¢ Lucila Moraes Cardoso Jos dois instrumentos. Existe 2 possbilida , jicadores de Perturbagig 5 de haver baixos ind : MMPI? em contraste com clevadosindcady,, de pertarbagio no Rorschach: NO 88,2 padrao divergente de resulta, presemam fancfonamentos PSEOPAOpe, ape cendems 2 emergi €m0 SUSE! RNR vsuais € que mobilizam mecay, turadas, mais inv sera je defesa mais regressivos para lidar con “Migealdades fora do habitual. No entant, ex mente funcionam bem em sina, we estruturadas, conseguindo yy uais para lidar com suas angis. 1g muitas vezes desconhecem ; vieareza de suas dificuldades ¢ portant, sin tapazes de comunicé-las. Conforme afirma Fin, {2017), uma busca cuidadosa de informagéesn historia de vida muitas vezes revela VAtios een « no passado desses clientes soas com este pacientes ger: oes familiares recursos intelect tias. Tais cliente: tos incomun: Osdois tltimos padr0es de divergéncia env ‘vem discrepdncias entre o Rorschach eo MMPI, havendo elevada perturbagio no MMPI-2 pos cos sinais patol6gicos no Rorschach. Isto pode tipos de clientes ¢ si ser encontrado em doi © engajamento na rarefa que permitiré com preender melhor o sentido desta divergéncis No primeiro caso, (4) se 0 examinando most cengajamento adequado, e isto costuma ocors: nos casos de avaliagdo de imputabilidade perl ou para fins forenses, 0 desacordo entre os dos conjuntos de resultados demonstra que o cle tem maior controle sobre suas autopercepsits tentando conscientemente endossar psicopat0l gia no teste de autorrelato, de modo que ¢ jms mente a falta de perturbagao no Rorschach 0% sugeriria a possibilidade de fingimento, ex28% on mesmo um “grito de socorro” de algném at precisa se mostrar pior do que realmente é N tilima possibilidade, (5) 0 padrio de resposts pente perturbado no MMPI-2 contrapon. mz aum resultado relativamente saudavel no doe ach pode Ocorrer em situacées nas quais forTeates nfo tém nenhuma motivacao para of pscoparologia, mas uma reacio extreme, ee defensiva de retraimento ou consttigdo, me esposta 2 forga regressiva provocada peloy ‘eimulos do Rorschach, resultou numa produ. tao tito empobrecida de respostas, seja por gquatdadeTmitada de respostas ou por predo- rindncia de respostas determinadas exclusiv.. nente pela forma, podendo chegar A situagio de «er necessirio invalidar aquele protocolo, Esa perspectiva de integragdo entre os dic ferentes métodos permite um refinamento ‘na compreensio do funcionamento psiquico do in- dividuo, amplia a visio do conjunto dinimico e saturalmente possibilita um melhor planejamen- to de como deveré ser feita a entrevista final de feedback ¢ discussio com o cliente sobre os resul- tndos da avaliagfo. Ainda que tradicionalmente a discussio dos resultados especificos de cada teste com os clientes tenha sido desaconselhada por ruitos profissionais, diversos clinicos apontam 0s beneficios de dar feedback cesses resultados para os clientes. Destacam-se como principais insificativas para essa mudanea de postura na re- hagio com o cliente a compreensio de que esse compartilhar permite compreender melhor os thdos ¢ favorece 0 bom relacionamento ‘terapeu- taciente, 0 aumento da sua cooperagdo no pro- ©e880 € uma impresséo mais positiva do cliente Com relac2o ao profissional que o atende (Finn & ‘Tonsager, 1997), levando-o a perceber que afinal todos os testes realizados tinham, cada um, seu Propésito. Com esta perspectiva em mios, que Cotsidera o estilo de resposta do cliente aos dife- Fentes estimulos, a discussio sobre os resultados Pode ser melhor dimensionada pelo profissional, 39 Avalacio da personalidade no Brasi uti | que selecionarg falar © até onde achados durante com mais propriedade o que i com as informagées sobre os © processo, Adicionalmente, uma contribuigio original de Finn (2017) seria o procedimento de inguéri- to estendido, Este pode ser feito tanto com testes de autorrelato quanto projetivos, mas no segun- do caso sua realizacdo pode ser ainda mais enri- quecedora no processo, ‘Trata-se de um prolon- gamento da aplicagao do teste, feita obrigatoria- mente apés sua aplicagdo padronizada, na qual se estabelece um didlogo acerca das impresses do cliente sobre o teste e suas observacdes a res- Peito das préprias respostas e eventuais relagbes destas com a queixa ou as perguntas para ava- liagdo. Este procedimento facilita eventualmen- te a producio de insights, 0 que constitui em si uma vantagem para os resultados finais, Princi palmente o inquérito estendido permite que o avaliador fancione como um “parteiro” (Finn, 2017), alguém que ajuda na ampliagéo de auto- ercepcio, sem correr o risco de trazer alguma interpretacio precipitada, fora de timing, 0 que traria consequéncias ruins para 0 processo e para a continuidade do tratamento. Na discussio sobre os resultados dos testes, © psicélogo compartilha impresses com o clien- te, permitindo que elas sejam cortigidas, confir- madas, revisadas ou ampliadas, Assim, 0 avaliae dor capta usa a linguagem do cliente, coletan- do exemplos de sua vida relacionados aos dados gerados pelos testes, bem como explorando com 6 cliente as circunstncias em que os fatos ocor- reram (Finn, 2017). Cumpre ressaltar que esses didlogos devem ser feitos com muito cuidado, de modo que, conforme destacam Finn e Martin (2013), os testes psicolégicos devem funcionar, sobretudo, como amplificadores da empatia por parte do avaliador. Como exemplo de divergéncia do tipo 5, con- forme explicitado acima, trazemos 0 caso de D se!, uma senhora de 54 anos que buscava ajui apés passar pelo médico de um servigo piblico de satide e ser por este medicada por conta de uma depressio que se manifestava ja havia uns d anos. Esta depressio comegou quando a cliente perdeu injustamente o emprego € a0 mesmo tem- po precisou cuidar de sua mae com Mal de Al- zheimer. Procurou uma clinica-escola devido ao atendimento gratuito, pois nao tinha condigées financeiras para pagar consultas particulares. A cliente relatou na primeira sesso que estava ter- rivelmente deprimida, ficando alguns dias sem conseguir sair da cama nem para tomar banho. Contow 0s acontecimentos que a levaram a essa condi¢ao e enfatizou principalmente a dura tarefa de ter que cuidar da mae, j& muito deteriorada mentalmente, porém com boa saiide fisica, o que tornava muito mais dificil concer seus comporta- mentos inadequados. Deise era casada ¢ com dois filhos adultos, mas afirmou nao ter ajuda deles nos cuidados com a mae, muito menos de seu it- mao, que mal as visitava. Queixou-se muito da falta de atengio por parte de todos. Deise estava animada na primeira sessio, bem-vestida, perfumada e trouxe um presente para a avaliadora, com quem no tinha tido con- tato até entio. Sentou-se no sof relaxadamente, colocando os pés para cima. Contou sobre sua depressao, os sintomas, ¢ mostrou uma foto que seu marido tirara dela apés trés dias sem se le- vantar da cama. A foro foi feita a pedido dela para que se pudesse registrar seu estado lamen- tavel. Contou 0 quanto passou por situagdes 1. Nome fictico, Aproveitamos para agradecer a Mayara Sal ‘gado, mestranda e membro do grupo de pesquisa “Avaliagao paicolégica em contextos de saide mental do LAPSaM, pela ‘ondugSo do atendimento @ concordancia como uso de mesmo. MED = 2x0 errs it os es dificeis na vida, como 0 alcoolismo ¢ 4 morte do pai. Contou também sobre ou ® pregos, dos quais foi demitida injustameny, a avaliadora, a atitude da cliente nig pag de algaém com depressio, mas guardou men” pressio para aie Como pergumtas que gostaria que fosey respondidas com a avaliacdo, Deise formiy quatro quest6es, a saber: “Por que tenho di culdades para lidar com perdas? Por que tenhy dificuldade para lidar com 0 desprezo de outa, pessoas? Por que tenho medo de ficar sozinhs Por que me sinto s6, mesmo estando rodeada de pessoas?” Conforme combinado com a avaiado- ra terapeuta, essas quatro perguntas consituic riam 0 foco do proceso. De acordo com a recomendagio, em aval io terapéutica € aconselhivel comecar a aplic- Gio de testes com aquele que tem mais validade aparente sobre 0 que se quer investigar. Como no caso foi a depressio 0 motivo que levou De- se a procurar ajuda, aplicou-se inicialmente @ Ebadep, escala de autorrelato para avaliagio da depressio. Deise pontuou 116, o gue indica si- romatologia depressiva severa. Em seguida aplicou-se 0 Rorschach, que re velou alguém com muita dificuldade de pescer- gio do outro e de si mesma e com uma tendéncit 2 compreensio distorcida da realidade. A incom gruéncia entre o nivel de parologia demons do na escala de depressio e 0 relativo equilibs® emocional observado no Rorschach confirm? 0 que ja se levantara como hipotese na primer entrevista, a necessidade de apresentarse mi doente, um pedido enfitico de cuidados- importante destacar que no caso dé Det jos nao ajudou apes dow sobret faria air a incongruéncia de resultad a confirmar uma hipétese, mas aj a avaliadora a planejar 0 modo como | 439 AvaliagBo da personalidad no Brasil ulilzando mtodos projet ajacusso final dos resultados com (80 2 jy a no negar suas queixas, mas ptt ender 0 quanto ela queria ter 2 gn 2 OMPEgtia que tinha perdido ¢ como dos oe ees que 0s cuidados ocorriam, have ificava como tais. A infor- ee oe ech sobre dificuldades no con- casio tidade € na autopercepcio foram com 2 eis para ajudar a avaliadora a go ie Tytela o modo de conversar so- sansa cm dos com Deise, cuidando para no a tos que devessem ser abordados, tm uma terapia de Tonga duracio. kn sada para discussio dos resul- pe on inserts psiolSsics € percep- {Jo profisional, optow-se por mencionar reaso como algo que existia, mas que jf 2 dee resentava integralmente, Reafirmou- 1 pede fto ea inhatido perdas importantes Faas ecoisas que The faziam muita falta e geo era una justa causa de sofrimento, Foi fo a ela que os testes ~ principalmente aquele dis manchas -tinham mostrado que havia mais cneidos emocionais do que ela percebia clara- arate, destacando-se entre esses 0 desejo inten- sapor afeto e atengao e a expectativa de receber aidads, tanto quanto ela se sentia obrigada a dipexsar, sendo provavel que a doenga fosse a tana que Ihe foi possivel de pedir ajuda e cui- {aio i pessoas ao redor. Apontou-se os pontos Positives sobre sua disposigéo para sair de casa, Simersar com mais pessoas e aceitar ajuda dos ‘families nos cuidados com a sua mie, que “inham acontecendo recentemente, assim como. ‘lniatva de procurar um psicdlogo. re ne Perguntas para a avaliagio feitas cial, conforme exposto acima, de se a, stmid, desacamse os aponta- Pela psicdloga, a titulo de respos- a vos tas: a dificuldade de aceitar perdas estaria rela- cionada ao sentimento de perda de cuidados e de atencao de alguém para ajudé-la, Como exemplo disso falou-se da perda da sua mie “para o Al- zheimer”, 0 que Ihe tirou “o colo”, usando suas réprias palavras. Do mesmo modo, o sentimen- to de desprezo se relacionava com a maneira como ela percebia a situagio quando nao recebia © cnidado esperado, mesmo que isso nao fosse exatamente, ou necessariamente, 0 modo como ‘08 outros a estivessem tratando. A cliente foi na- turalmente se dando conta de uma nova manei- ra de perceber sua hist6ria, tendo chegado, por si mesma, & compreensio de que esses achados também ajudavam a responder sobre o medo de ficar sozinha, assim como o sentir-se s6 mesmo estando acompanhada, Certamente muito mais foi dialogado com a cliente, nio sendo objetivo no momento apre- sentar a totalidade do caso. O exemplo citado ‘vem apenas ilustrar como o Rorschach gerou informagées pertinentes sobre o funcionamento Psiquico da cliente, seja nos seus aspectos psico- métricos, seja na anélise temética das respostas fornecidas pela mesma e, principalmente, como 60 us0 dos métodos projetivos concomitante a es- tratégias de autorrelato possibilitam uma com- preensio mais abrangente dos fendmenos psi- quicos envolvidos na tomada de decisio. Serviu também para compreender a melhor forma de dialogar com a cliente e estimulé-la para uma te- rapia de mais longa duragio. Consideragées finais © intuito neste capitulo era demonstrar que os métodos projetivos contribuem para os processos de avaliagao psicol6gica, nio somen- te com acréscimos de dados para elucidagéo de MEI 200 cisco sor Amaral ca eras Cros uma queixa ¢ orientagio de tratamentos. Sua contribuigio se da de modo singular, ja ques além de trazer informagdes novas € menos aces- siveis cognitivamente pelo respondente, possi- bilitam uma confrontagio com os demais dados obtidos por meio de outros instrumentos a0 longo do processo avaliativo, confrontagio que Referéncias Cardoso, LLM. & Villemor-Amaral, A.E. (2017). Critérios de cientificidade dos métodos projetivos. In M.R.C. Lins & J.C. Lins (Eds). Avaliagdo psico- logica: aspectos tedricos e priticos (pp. 159-172). Petrépolis: Vozes. Fensterseifer, L. & Werlang, BS.G. (2008). Apontamentos sobre o status cientifico das técni- «a5 projetivas. In ALE, Villemor-Amaral & BS.G. Werlang (Eds.). 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Colegdo Avaliagao Psicolégica — rdenadores: , 5 ‘Nunes Baptista isa de Villemor-Amaral ES Conselho consultivo: Alessandra Gotuzo Seabra (UPM) ‘Ana Paula Porto Noronha (USE) Carlos Henrique Sancineto da Silva Nunes (UFSC) Caroline Tozzi Reppold (UFCSPA) Cliudio Simon Hutz (UFRGS) Lucas de Francisco Carvalho (USF) Luiz Pasquali (UnB) Makilim Nunes Baptista (USF) ‘Monalisa Muniz (UFSCAR) Ricardo Primi (USF) Solange Muglia Wechsler (PUCCAMP) Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagao (CIP) (Cimara Brasileira do Livro SP, Brasil) Compendio de Avaliagdo Psicol6gica / Makilim Nunes Baptista. ta.) | Corganizadors)- Petropolis: Vozes, 2018. -(Avalagio Psicolégica) Varios autores. | Varios organizadores. | Bibliografia. ISBN 978-85-326-6077-0 1. Avaliagdo psicolégica ~ Compéndios 2. Psicometria 43, Testes psicologicos 1. Baptista, Makilim Nunes. Il. Série. 19-24264 CDD-150.287 | Indices para catdlogo sistemiatico: 1. Avaliagio psicol6gica 150.287 Maria Paula C. Riyuzo ~ Bibliotecéria - CRB-8/7639

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