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Bendassolli
Lis Andrea P Soboll
Organizadores
00
MR Clínicas do Trabalho
Novas Perspectivas para
Compreensão do Trabalho na
Atualidade
Autores
Álvaro Roberto Crespo Merlo
Ana Magnólia Mendes
Ana Paula Figueiredo Louzada
Christophe Dejours
Claudia Osório da Silva
Dominique Lhuilier
Eugéne Enriquez
Gilles Amado
Isabelle Gernet
Jean-François Chanlat
Jussara Brito
Lis Andrea 12Soboll
Luciane Kozicz Reis Araujo
Maria Elizabeth Antunes Lima
Maria Elizabeth Barros de Barros
Milton Athayde
Pedro F.Bendassolli
Teresa Cristina O. Carreteiro
Vanessa Andrade de Barros
Vincent de Gaulejac
Yves Clot
Yves Schwartz
SÃO PAULO
EDITORA ATLAS S.A. - 2011
0 2010 by Atlas s,A,
Vários autores.
ISBN978-85-224-60950
10-08968 CDD-158.7
Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto nt' 1.825, de 20 de dezembro de 1907.
Prefácio (YvesClot), xi
Parte I —Fundamentos, 1
114
4 Os humanos nas organizações: atores-sujeitos dotados de identidades,
4.1 Dos atores às estratégias identitárias, 115
4.2 Identidade e ressonância psíquica em contexto de trabalho, 116
5 Os humanos nas organizações: trabalhadores em situação, 116
5.1 Quando o trabalho prescrito nunca é o trabalho real, 116
5.2 Quando o desejo de reconhecimento está no centro da dinâmica do
trabalho, 117
6 Os humanos nas organizações: atores-sujeitosem busca de significações, 119
6.1 A linguagem nas organizações: de que se fala? , 119
6.2 A cultura: um universo de significações,121
7 Os humanos nas organizações: atores-sujeitos enraizados num espaço-tempo,
122
7.1 0 espaço no trabalho: um lugar mais que funcional, 122
7.2 0 tempo no trabalho: uma realidade subjetiva e qualitativa, 123
8 Os humanos nas organizações: atores-sujeitos encarnados, 124
8.1 0 corpo no trabalho: um corpo que às vezes sofre, 124
8.2 0 corpo no trabalho: uma expressão de si, 125
9 Os humanos nas organizações: sujeitos éticos, 125
10 Conclusão: por uma gestão compreensiva e reflexiva, 126
3 A pré-pesquisa, 174
4 A pesquisa propriamente dita, 174
5 Análise da demanda, 176
6 Análise do material de pesquisa, 176
7 A observação clínica, 177
8 A interpretação, 177
9 Validação e refutação, 178
10 A experiência, 180
10.1 0 contrato, 181
10.2 Conferência de abertura das atividades, 181
10.3 Sessões coletivas: o espaço de escuta, 181
10.4 Oficinas com os gestores, 182
10.5 Seminários e supervisões do espaço de escuta, 183
10.6 A devolução, 183
11 Considerações finais, 185
Fundamentos
Introdução às clínicas do trabalho:
aportes teóricos, pressupostos e
aplicações
Pedro F. Bendassolli
LisAndrea P. Soboll
1 Introdução
3 Origens e filiações
5.3 A psicossociologia
5.4 A ergologia
6 Pressupostos compartilhados
Ao dizermos que um dos focos das clínicas do trabalho é o poder de agír dos
sujeitos e dos coletivos de
trabalho, precisamosentender o que está implicado
na ideia de "poder"
neste caso. Na verdade, muitas são as representações sobre o
poder, podendo elas se
referirem a classes sociais, à posse sobre recursos escassos,
à capacidade de influência,
à autoridade. Mas o poder de que se trata aqui se
refere ao poder encontrado no
nível do ato, no sentido mendeliano. Clot (2008)
acrescenta que o poder, nesse registro,
possui alguns endereçamentos: há o poder
sobre si mesmo, no sentido do poder
do "uso de si" (SCHWARTZ, 1992); o po-
der sobre a atividade (a maestria sobre meios-fins); e o poder sobre a atividade
dos outros. Há ainda o poder sobre as resistênciasdo real (LHUILIER, 2006a),
quando o sujeito consegue enfrentar, criativamente, as restrições, as frustrações
e a indeterminação da realidade material implicada em toda forma de atividade.
Um segundo ponto de compartilhamento é o entendimento sobre o trabalho.
Nas clínicas do trabalho, este último não é restrito à sua institucionalização eco-
nômica, isto é, ao emprego. Ele é apreendido enquanto atividade sustentada por
um projeto de transformação do real e de construção de significados pessoais e
sociais (CLOT, 1999, 2001; LHUILIER,2006a, 2006b, 2006c). Trata-se de ativi-
dade "desinteressada", pois, mediante o trabalho, o sujeito enreda-se em uma
narrativa coletiva, "sai de si mesmo" (CLOT,1999; CLOT;LITIM,2006), tomando
parte de uma rede na qual é reconhecido e para a qual contribui. Na perspectiva
de Clot (1999, 2008), o trabalho-atividade envolve uma atenção a si mesmo, à
atividade dos outros (no contexto de um género profissional coletivo, com suas
normas, histórias, regras) e à atividade propriamente dita, isto é, àquilo que está
sendo feito, o que levanta a questão da eficiência, do propósito, até mesmo da
estética e do gosto.
Adicionalmente, na concepção das clínicas do trabalho, este é considerado
como uma prova inscrita numa práxis, isto é, numa demanda pela transformação
da realidade (LHUILIER,2006a). Dizer que o trabalho é uma prova implica o tra-
tamento da dimensão do real.
Conforme observa Lhuilier (2006a), o ato mendeliano expõe o sujeito ao con-
tato com o real, situação que inevitavelmente compreende o risco de fracasso de
seu projeto de ação. E é precisamente neste ponto, com a introdução da dimensão
do real na discussão sobre o ato, que a mesma Lhuilier, uma das principais autoras
a delinear a noção de clínicas do trabalho, propõe situarmos este último, já que
o trabalho igualmente envolve um confronto do sujeito com o real —entendido
como o que resiste à simbolização, o que "ultrapassa" o pensamento que dele se
pode ter ou fazer previamente.
O delineamento do conceito de "real" no âmbito das clínicas do trabalho deve-
se também à contribuição da ergonomia. Embora não possamos fazer aqui senão
uma apreciação esquemática, o "real" da ergonomia é apreendido em seu contraste
14 Clinicas do Trabalho • BendassoJlie Soboll
7 Considerações finais
No campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT), as clínicas
do trabalho contrapõem o modelo dominante da psicologia organizacionalde
ênfase cognitivo-comportamental, tendo em vista que apresentam finalidades
diferenciadas em relação aos objetivos organizacionais e aos objetivos dos traba-
lhadores. De igual forma, a psicologia social do trabalho, embora com mais zonas
de proximidade que a psicologia cognitivo-comportamental, diferencia-seda
clínica do trabalho pela ênfase dada aos processos psíquicos em suas imbricações
sociais (e reciprocidades). Embora a psicologia organizacional e a psicologiado
trabalho sejam articuladas dentro de um único campo denominado Psicologia
Organizacional e do Trabalho, há importantes diferenças entre elas, definidas por
questões de ordem epistemológica, teórica, metodológica e social. Ainda assim,
a articulação num único campo evidencia as controvérsias, coexistindo a instru-
mentalização de práticas e a crítica sobre elas.
As clínicas do trabalho apresentam-se no campo da POT não como conjunto
de teorias homogêneas. Exatamente pela diversidade e pelas confrontaçõesque
encerram na sua delimitação, as clínicas do trabalho contribuem valiosamente
para a análise do trabalho na contemporaneidade. A psicodinâmica do trabalho,
a clínica da atividade, a psicossociologiae a ergologia, como clínicas do traba-
lho, distanciam-se do modelo clínico "individualista", que tem como objetoos
processos intrapsíquicos, que minimiza ou simplesmente ignora as ramificaçÕes
sociais do sujeito da clínica. Também buscam se distanciar de certo pensamento
científico social que vê a precedência do social sobre o psíquico, restando ao sujeito
um "lugar" já produzido ou dado. Em contrapartida, buscam se posicionar como
clínicas "sociais" do trabalho, pois se equilibram no fino e tênue limite entre psí-
quico e social, vendo entre eles jogos complexos de reciprocidade e tensão,
Introdução às clínicas do trabalho: aportes teóricos, pressupostose aplicações 17
Referências
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Internationale de Psychosociologie,III (6-7), p. 157-167, 1997.
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Introduçào às clinicas do trabalho: aportes te6ricos, pressupostos e aplicaçôes 19