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‘a; dicionarista, lexicdlogo. CUL- 7 TURA: [Do lat. Ana Maria Pinto Pires de Oliveira eultuta.]S.f- 1. Ato, Aparecida Negri Isquerdo efeitoou modo de cul- in tivar. 2. v. cultivo (2). Organizadoras Ba Ocomplexo dos pa- droes de compor- tamento, das crengas, das instituigoes € doutros valores espirituais @ muate- riais transmitidos coletivamente e A caractertsticos de uma sociedade. AS CIENCIAS eXICO: S. M. 1. ; 2 Diciondrio de linguas =< DOLEXICO Diciondrio dos wocdbulos usados por wesw LEXICOLOGIA escola literdria; lexicon. 3. Diciondrio LEXICOGRAFIA abreviado. 4. P. ext. ins hh TERMINOLOGIA Conjunto de vocd- rulos duma lingua ou fe termos prdprios es oa duma ciéncia ou arte, a rr? a dispostos, em eral, cr btoamante e ss y com o respectivo significado, ou a sua versdo em outra fingua. 2. Obra ou lioro que os consigna. NOLOGIA: fat. terminu, pA i TUEMS ma’, + -log(o} +- ; Saf. oh Conjunto LL) =r | UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL Reitor Manoel Catarino Paes - Peré Vice-Reitor Mauro Polizer Obra aprovada pelo CONSELHO EDITORIAL DA UFMS através da Resolugdo 11/98 2* edigao aprovada pela Resolugao 04/01 CONSELHO EDITORIAL Claudio Alves de Vasconcelos Elcia Esnarriaga de Arruda Horacio Porto Filho Jaime César Coelho José Batista Sales José Luiz Fornasieri Marcia Yukari Mizusaki Monica Carvalho Magalhaes Kassar Neuza Maria Mazzaro Somera Orlinda Simal Rosa Maria Fernandes de Barros Ficha Catalografica preparada pela Coordenadoria de Biblioteca Central-UFMS As ciéncias do léxico : lexicologia, lexicografia, terminologia / Ana (C569c.2 Maria Pinto Pires de Oliveira, Aparecida Negri Isquerdo, organizadoras. - 2. ed, -- Campo Grande, MS : Ed. UFMS, 2001. 268 p. : 21 cm. Varios autores. Esta publicagdo contou com o apoio do COMPED e INEP, no Ambito do Programa Publicagdes de Apoio Formagao Inicial e Continuada de Professores. ISBN 85-85917-85-7 1. Lexicografia. 2. Lexicologia. |. Oliveira, Ana Maria Pinto Pires de. Il. Isquerdo, Aparecida Negri. CDD (20) — 413.028 AS CIENCIAS DO LEXICO Maria Tereza Camargo Biderman Universidade Estadual Paulista/Araraquara/CNPq OLEXICO O léxico se relaciona com 0 processo de nomeagao e com a cognicao da realidade léxico de uma Ifngua natural constitui uma forma de registrar o = conhecimento do universo. Ao dar nomes aos seres € objetos, 0 homem os classifica simultaneamente. Assim, a nomeagao da realidade pode ser considerada como a etapa primeira no percurso cientffico do esp{- rito humano de conhecimento do universo. Ao reunir os objetos em grupos, identificando semelhangas e, inversamente, discriminando os tracos distinti- vos que individualizam esses seres € objetos em entidades diferentes, o ho- mem foi estruturando o mundo que o cerca, rotulando essas entidades discri- minadas. Foi esse processo de nomeagao que gerou 0 léxico das linguas naturais. Por outro lado, podemos afirmar que, ao nomear, o individuo se apropria do real como simbolicamente sugere 0 relato da criagao do mundo na Biblia, em que Deus incumbiu ao primeiro homem dar nome & toda a criago e domind-la. A geragao do léxico se processou e se processa atra- vés de atos sucessivos de cognicao da realidade e de categorizagao da ex- _periéncia, cristalizada em signos lingiifsticos: as palavras. Os conceitos, ou significados, sto modos de ordenar os dados soriais da experiéncia. Através de um proceso criativo de organiza- cognoscitiva desses dados surgem as categorizag6es lingiifsticas ex- sas em sistemas classificatérios: os léxicos das linguas naturais. im, podemos afirmar que 0 homem desenvolveu uma estratégia en- 13 genhosa ao associar palavras a conceitos, que simbolizam os referentes, Portanto, os simbolos, ou signos lingiifsticos, se reportam ao Universo referencial. Sistemas classificatérios das linguas naturais O processo de cognigao e de apropriagdo do conhecimento assu- miu formas distintas, ou seja, os sistemas lexicais das numerosissimas Ifn- guas naturais (vivas ou mortas). Embora provavelmente se baseiem num processo de conceptualizagao universal, as Ifinguas constituem sistemas muito distintos e variados. A conceptualizagao da realidade configura-se lingiiisticamente em modelos categoriais arbitrarios. As categorias lingiifs- ticas nao sao nem coincidentes, nem equivalentes. As Taxionomias que embasam os modelos de categorizagao constituem elaboragGes especifi- cas de cada cultura, embora possamos admitir que as linguas naturais tenham tipos de semantica universalmente compreensi veis. Em suma, 0 universo conceptual de uma Ifngua natural pode ser descrito como um sistema ordenado e estruturado de categorias léxico- gramaticais. As palavras geradas por tal sistema nada mais sao que rotulos, através dos quais o homem interage cognitivamente com o seu meio. Vale a pena insistir no fato de que as categorias léxicas variam de lingua para lingua, raramente ocorrendo que dois idiomas sejam dotados dos mesmos tipos categoriais. Além disso, o léxico de uma lingua natural pode ser identificado com 0 patriménio vocabular de uma dada comunidade lingiiistica ao longo de sua historia. Assim, para as Ifnguas de civilizagao, esse patrim6nio cons- titui um tesouro cultural abstrato, ou seja, uma heranga de signos lexicais herdados e de uma série de modelos categoriais para gerar novas pala- vras. Os modelos formais dos signos lingiifsticos preexistem, portanto, ao individuo. No seu processo individual de cognigao da realidade, o falante incorpora o vocabulario nomeador das realidades cognoscentes juntamen- te com os modelos formais que configuram o sistema lexical. Taxionomias técnico-cientificas aa A etapa mais primitiva de cognigdo da realidade pode ser identificada com a geragao do léxico basico das linguas naturais. A me- 14 dida que as comunidades humanas desenvolveram progressivamente seu conhecimento da realidade e tomaram posse do mundo circundante, 0 homem criou as técnicas e depois as ciéncias. Assim as comunidades que atingiram tal estdgio de civilizagao precisaram ampliar sempre mais seu repertorio de signos lexicais para designar a realidade da qual toma- yam consciéncia, ao mesmo tempo que precisavam rotular as invengdes e nogdes novas desenvolvidas por essas ciéncias e técnicas. Eis por que o léxico das Ifnguas vivas usadas pelas sociedades civilizadas vive hoje um processo de expansio permanente. No mundo contemporaneo so- bretudo, esta ocorrendo um crescimento geométrico do léxico portugués e das linguas modernas de modo geral, em virtude do gigantesco pro- gresso técnico e cientifico, da rapidez das mudangas sociais provocadas pela freqiiéncia e intensidade das comunicagGes e da progressiva integragdo das culturas e dos povos, bem como da atuagdo dos meios de comunicagao de massa e das telecomunicagées. E 0 léxico 0 tinico do- minio da lingua que constitui um sistema aberto, diversamente dos de- mais, fonologia, morfologia ¢ sintaxe, que constituem sistemas fecha- dos. As designagées dos referentes criados pelas técnicas e pelas cién- cias constituem as taxionomias técnico-cientfficas. Essas taxionomias so sistemas classificat6rios engendrados segundo modelos cientificos e, portanto, nao mais empfricos como nos primérdios da historia das so- ciedades humanas. Contudo, cada comunidade humana que forja o seu instrumental lingiifstico para designar conceitos novos utiliza o modelo lingiifstico herdado por seu grupo social. Assim os termos técnico-cienti- ficos so gerados com base na légica da lingua em questao, segundo os padrées lexicais nela existentes. Excetuam-se os empréstimos lingiifsticos, muito freqiientes no mundo contemporaneo, sobretudo anglicismos, que se vém propagando por todas as linguas, em virtude do papel hegem6nico exercido pelos Estados Unidos na contemporaneidade. De fato, o inglés tornou-se a lingua universal da ciéncia e da tecnologia. DISCIPLINAS TRADICIONAIS QUE ESTUDAM O LEXICO: A LEXICOLOGIA E A LEXICOGRAFIA Essas disciplinas enfocam o seu objeto de estudo, o léxico, de distintos, porém, ambas tém como principal finalidade a descrigao mesmo léxico. 15 Lexicologia A Lexicologia, ciéncia antiga, tem como objetos basicos de estudy e andlise a palavra, a categorizacao lexical ¢ a estruturagao do léxico Esses trés problemas tedricos tm merecido pouca atengao dos lingiis. tas. A definigao ¢ a identificagao da unidade lexical constitui problema tedrico complexo com graves conseqiiéncias em outros dom{nios, espe. cialmente na pratica da Lexicografia. O problema das classes de pala- vras, ou seja, a categorizagao léxico-gramatical também € assunto pou- co estudado, a nao ser pelo tradicional enfoque dos gramaticos. Quanto & estruturago do léxico, tal matéria, desconhecida e complexa, rara- mente foi objeto de trabalhos cientfficos. A rigor, essa questao foi ape- nas aflorada em sua superficie. Importa lembrar que “o léxico de qual- quer Ifngua constitui um vasto universo de limites imprecisos e indefini- dos.” (Biderman, 1978, p.139). Ora, ao nivel do microcosmo lexical, cada palavra da lingua faz parte de uma vastissima estrutura que deve ser considerada segundo duas coordenadas basicas - 0 eixo paradigmitico e 0 eixo sintagmatico. Da conjugagao dessas simples coordenadas resulta a grande complexidade das redes semAntico-lexicais em que se estrutu- ra o léxico, evidenciando como a palavra inserida numa cadeia paradigmatica se articula em combinatorias sintagméticas, gerando um labirinto infindo de significag6es lingiifsticas. Embora se atribua 4 SemAntica o estudo das significagées lingiifs- ticas, a Lexicologia faz fronteira com a Semantica, j4 que, por ocupar-se do léxico e da palavra, tem que considerar sua dimensio significativa. Tradicionalmente os estudiosos da Lexicologia tem-se ocupado da problematica da formago de palavras, provincia em que essa ciéncia confina com a Morfologia, dita lexical. Os lexicélogos vém-se dedicando também ao estudo da criagao lexical, ou seja, dos neologismos. A partir da década de cingiienta muitas pesquisas foram realizadas em Estatisti- ca Léxica, ou Léxico-estatistica, visando a obter resultados aplicdveis a0 ensino/aprendizagem do vocabulario, bem como investigagOes mais especulativas sobre tipologia lingiifstica, na busca da origeme filiagao de familias lingiifsticas, ciéncia essa batizada de Glotocronologia. Muito tam- bém ja se fez no dominio da SemAntica Evolutiva ou Diacrénica. Ade- mais, a Lexicologia faz fronteira com ciéncias tais como a Dialetologiae a Etnolingiifstica; nessas areas interdisciplinares fizeram-se estudos So- bre Palavras e Coisas, isto é, sobre as relagées entre a lingua e a cultura. 16 Mais recentemente a Psicolingiifstica e a Neurolingiifstica t¢m feito mui- tas pesquisas experimentais sobre a estocagem do vocabulario ¢ o pro- blema do acesso ao repertério lexical armazenado na meméria. Lexicografia A Lexicografia é a ciéncia dos dicionrios. E também uma ativi- dade antiga e tradicional. A Lexicografia ocidental iniciou-se nos princf- pios dos tempos modernos. Embora tivesse precursores nos glossdrios latinos medievais, essas obras nao passavam de listas de palavras explicativas para auxiliar o leitor de textos da antigiiidade classica e da Biblia na sua interpretagao. A Lexicografia s6 comegou, de fato, nos séculos XVI e XVII com a elaboragao dos primeiros diciondrios monolingiies e bilingiies (latim e uma lingua moderna). Os primeiros di- cionrios em lingua portuguesa dignos do nome sao: o Vocabulario Por- tugués-Latino de Rafael Bluteau (1712-1728), obra bilingiie em 8 volu- mes € o Diciondrio da Lingua Portuguesa de Anténio de Morais Silva (1* ed. 1789; 2* ed. 1813). Quanto aos dicion4rios técnico-cientificos, no portugués, eles sao obra do século vinte; na verdade, nessa area estamos apenas comegando. Ao longo desses tiltimos séculos a descrigao do léxico foi efetiva- mente realizada pela Lexicografia e nao pela Lexicologia; contudo, essa tarefa foi executada como uma praxis pouco cientifica. A andlise da significagao das palavras tem sido o objeto principal da Lexicografia. E muito recente, pelo menos entre nés, o advento de um fazer lexicografico fundamentado numa teoria lexical e com critérios cientificos. Jéa Lexicologia aplicou-se mais cientificamente ao estudo do lé- xico. Hoje, porém, é a Lexicografia que vem despertando grande inte- Tesse entre os lingiiistas. DICIONARIOS O diciondrio de lingua faz uma descrigao do vocabulério da lingua em questio, buscando registrar e definir os signos lexicais que referem os conceitos elaborados e cristalizados na cultura. Por outro lado, 0 dicionario é um objeto cultural de suma importancia nas sociedades contemporaneas, sendo uma das mais relevantes instituigdes da civilizagao moderna. Exer- 17 cendo fungées normativas e informativas na sociedade, esse produto culty. ral deveria ser de uso obrigat6rio para todos os usuarios da lingua. Podemos considerar um diciondrio de 100.000 a 400.000 pala- vras como um fesouro lexical. Via de regra, esse tesouro é fragmen- tado em subconjuntos diferentes, originando-se assim varios tipos de diciondrios: o dicionério padrao (em torno de 50.000 palavras) e os diciondrios técnicos e especializados, recobrindo-se assim os diversos campos do conhecimento. Ainda que se trate de um dicionario de ta- manho médio (50.000 entradas), a nomenclatura do diciondrio padrao retine um grande contingente de vocabulos técnicos e cientificos, além de regionalismos e termos raros, literarios, desusados, jd que o léxico mais usual nao ultrapassa umas 15.000 palavras. Num acervo de 50.000 palavras um nimero elevado desses signos sao termos técnico-cienti- ficos vulgarizados na lingua geral. Contudo, um ntimero enorme de signos lingiifsticos nao foram criados em nossa cultura, mas foram im- portados de outras culturas e linguas, e recriados ou adaptados a especificidade da lingua portuguesa. O vocabulério de uma I{ngua se renova com grande velocidade no mundo contemporneo. Segundo a lexicégrafa J. Rey-Debove em 25 anos a renovagao vocabular é da ordem de 10%, 0 que corresponde a 5.000 palavras num conjunto de 50.000 vocabulos (1984, p.57). Um diciondrio é constitufdo de entradas lexicais, ou lemas que ora se reportam a um termo da lingua, ora a um referente do universo extralingtifstico. A lista total desses lemas constitui a nomenclatura do dicionério, a sua macroestrutura. Quanto ao verbete, essa microestrutura tem como eixos bdsicos a definigao da palavra em epigrafe e a ilustragéo contextual desse mesmo vocdbulo, quer atra- vés de abonagées por contextos realizados na lingua escrita ou oral, quer através de exemplos. Quanto a ilustragdo contextual (e/ou abo- na¢gao) ela é essencial para explicitar claramente o significado e/ov uso registrado na definigao. Claro est4 que os significados e usos teferidos sao aqueles ja registrados e documentados em contextos ten ane ssmbotiete possiveis, eventualmente atribu- es risches tobresegi cue verbete deve ser completado com gistros sociolingiiisticos do uso da palavra e te miss i i i i : ss6es a outras unidades do léxico associadas a este lema por mele le redes semAntico-lexicais, 18 Convém reiterar que o dicionario de lingua registra a norma lexical corrente na sociedade. De fato, o dicionarista nada mais € que o porta- voz da comunidade lingiifstica. A TERMINOLOGIA A Terminologia se ocupa de um subconjunto do léxico de uma lingua, a saber, cada drea especffica do conhecimento humano. Esse subconjunto lexical que constitui seu objeto, insere-se no universo referencial. Assim, a terminologia pressupée uma teoria da referéncia, ou seja, uma correlac4o entre a estrutura geral do conhecimento e 0 c6édigo lingiifstico correspondente. Especificando melhor: a Terminolo- gia deve estabelecer uma relagao entre a estrutura conceptual e a estrutura léxica dessa lingua. Citemos Cabré: “A teoria geral da Ter- minologia baseia-se [...] na natureza do conceito, nas relagdes conceptuais, na relagdo termo-conceito e a atribuigao de termos aos conceitos ocupam uma posicao chave [nessa ciéncia]. Esse enfoque do conceito ao termo distingue o método de trabalho da Terminologia daquele que caracteriza a Lexicografia. Os termindgrafos, que sao os praticos da Terminologia, tém por objeto a atribuigao de denominagoes aos conceitos: atuam pois do conceito para o termo (processo onomasioldgico); os lexicégrafos, praticos da Lexicografia, partem da denominagdo, que é a entrada de diciondrio, e a caracterizam funcional e semanticamente: movem-se na diregdo contraria, do termo para o conceito (processo semasiolégico)”. (1993, p.32-33). Para abordarmos a questo da referéncia, t6pico central na Ter- minologia, é preciso propor um modelo cognitivo que permita descrever, relacionar e classificar os conceitos, gerando uma taxionomia por meio da qual esses conceitos sao nomeados. Podemos conceber 0 universo cognoscivel como um hiperespago continuo que recortamos em classes de objetos (ou referentes) através de processos de classificagao de acordo com suas caracteristicas distin- vas. Como o registro a transmissao do conhecimento usam 0 instru- to discreto da lingua, impée-se a aceitagao das coergdes impostas tico como meio de abordagem aproximativa desse sistema lingiifs s ado, dependendo do enfoque peculiar conhecimento. Por outro | 19 de uma disciplina do conhecimento, um dado referente pode ser Percebj. do e categorizado diversamente, dependendo do Seu uso em cada freq cientffica, ou da sua correlagéo com outros itens de cada subespagy conceptual. Por exemplo: em eletrénica 0 clorito Ferrico é usado para construir placas de circuito impresso em que ele corréi as trilhas a Serem eliminadas; na indistria téxtil 6 usado como mordente para fixar as cores em tinturaria. Ambas as reas técnico-cientfficas reconhecem os mes. mos cristais deliqiiescentes na descrigao do referente, identificando-o como a mesma substncia, mas enfocam-na de modo diverso. No espago continuo do conhecimento, a fungao referencial da linguagem mapeia um repert6rio discreto e enumeravel de simbolos - 9 léxico. Dessa maneira, todo conhecimento do universo é transferido para © léxico em virtude da relagao que se estabelece entre cada um dos itens lexicais discretos e 0 espago referencial designado. Esses sim- bolos, signos lingiifsticos, nao sao itens do conhecimento propriamente dito. Sao-no apenas no sentido de que s6 podemos manipular o conheci- mento abstrato através dessas formas lingiifsticas, que somos capazes de memorizar e com as quais podemos operar. Esses signos sao, pois, meras etiquetas através das quais podemos referir-nos ao conhecimento do universo (Johnson & Sager, 1980). O uso de um termo especifico em uma disciplina técnico-cienti- fica pressupde o conhecimento da configuracgao desse espago conceptual e o papel e o lugar desse termo nesse sistema estruturado do conhecimento. E relativamente simples atribuir uma forma a um item lexical; é dificil, porém, especificar os limites do conceito ao qual ele se refere. A despeito da norma social atuando na lingua, os indivfduos podem inter- pretar os conceitos diversamente, segundo sua conceptualizagao da rea- lidade. Conseqiientemente, os usudrios da lingua podem atribuir ao mes- mo item lexical uma referéncia, contendo discriminagoes sutis em rela- ¢40 ao conhecimento do mesmo espago cognitivo, isto é, usarem 0 mes- mo termo para referir pontos nao coincidentes no universo cognosctvel. Eis por que é recomendavel uma normalizagao terminolégica para 84 rantir a univocidade do significado e do uso do termo cientffico. Ora, é desejavel obter o consenso dos usudrios da Iingua sobre a sentido ¢ delimitagao de um termo cientifico. Para sanar essa dificuldade pode-S¢ deliberadamente propor e impor a uniformidade de uso do termo, fixan' 20 oficialmente um padrao terminoldégico, A despeito de ser dificil atingir uma total uniformidade de referéncia, pode-se obter um razodyel con- senso entre Os usuarios da lingua. O uso de termos padronizados (normalizados) permite que a co- municagao lingiifstica atinja a eficdcia desejada, se os membros da co- munidade cientifica, ou da sociedade em geral, dispuserem do mesmo repertério de signos e esses itens lexicais designarem o mesmo referen- te na estrutura geral do conhecimento. Por isso 0 papel da normalizagao terminolégica é essencial. Também se pode padronizar os mecanismos de designago, permitindo que as neologias criadas possam ser facil- mente decodificadas, pois sua referéncia seria inferida de outros termos ja conhecidos. Isso vem ocorrendo, com freqiiéncia, em algumas dreas do conhecimento como a biologia, a farmacologia e a quimica, em virtu- de do sistema taxionémico adotado nessas areas. Seria desejavel que isso se verificasse nas demais dreas do conhecimento (Johnson & Sager, 1980). O que se constata sdo divergéncias, as vezes gritantes, na lexicalizagao dos termos na lingua, sobretudo quando as terminologias passam ao uso da lingua geral. Nessa instAncia os termos assumem freqiientemente valores polissémicos, afastando-se de sua monossemia original e muitas vezes adquirindo conotac6es variadas que desvirtuam seu valor denotativo original. Por outro lado, convém lembrar que os criadores de terminologias no portugués freqiientemente ignoram os processos de formagao de pa- lavras do nosso sistema lingiifstico e geram alguns monstrengos lexicais. Esse fenédmeno vem ocorrendo muito no dominio da informatica em que specialistas em computagio e informatics em geral, partindo de uma nologia gerada na lingua inglesa, criam termos portugueses em total ‘onancia com os processos de formagio de palavras do portugués. ‘or ainda: criam termos hibridos sobre uma base inglesa acrescida de morfemas do portugués como em becapear (backupear), bootar, clicar, ‘customizar, deletar, formatar, inicializar, logar, plugar, renderizar, seanear, startar, storar, além dos decalques e das lexias complexas em que um verbo suporte do portugués se combina com um termo inglés como em dar o (um) boot, dar um enter, dar reset, dar um sort, etc. ceitos e termos tem sido objeto de politicas A normalizagao de con: e giifsticas intervencionistas para tentar ordenar os caG6ticos processos 21 ‘0 lexical que vém ocorrendo nos variadissimos dominios do! ordnea, sendo mais conhecidos os! ‘ ' de criagat conhecimento na sociedade contemp' casos do Canadé Francés, da Franga e da Catalunha. No Brasil uma comissao de especialistas de algumas universidades brasileiras, associa. da & ABNT (Associagao Brasileira de Normas Técnicas) vem-se de.’ brugando sobre esse problema com vistas a propor a comunidade brasj-! Ieira termos e conceitos mais bem formados. ' REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BIDERMAN, M. T. C. Teoria Lingiifstica. Lingiifstica quantitativa e computacional, Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Cientificos, 1978. | JOHNSON, R. L. & SAGER, J. C. “Standardization of Terminology In: a Model of! Communication” In: International Journal of the Sociology of Language. The Hague, Mouton, 1980, 81-104. REY-DEBOVE, J. “Léxico e diciondrio” In: Lexicografia e Lexicologia. ALFA. Suple- mento, V-28, 1984, 45-69. CABRE, M. T. La Terminologia. Barcelona, Editorial Empiries S.A., 1993.

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