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A palestra relacionada à atividade física para o grupo especial de gestantes foi

apresentada no dia 22 de setembro de 2022, e abordou diversos pontos importantes na


construção de um programa de atividades, prescrição e acompanhamento desse grupo
durante todo o processo de gestação.
A partir de uma rápida passagem pela epigenética, tema da biologia que trata das
mudanças fenotípicas não surgem diretamente pela genética, mas que perpetuam
características através das mitoses e meioses no processo da gestação. Após essa breve
apresentação, a palestra seguiu para a importância da divisão e reconhecimento dos
principais fatores de risco, cuidados e possibilidades de cada uma das fases da gestação,
geralmente divididas em trimestres.
Essa divisão entre os três trimestres da gravidez é uma divisão geral, que têm
função norteadora no processo de prescrição das atividades, mas que foi deixado evidente
durante a apresentação a importância da percepção individual do esforço durante as
atividades. No primeiro trimestre, por exemplo, gestantes que não tinham contato nenhum
com atividades físicas devem ter cuidado com exercícios de alta e média intensidade,
realizando preferencialmente atividades com uma menor intensidade, diferentemente de
gestantes que já eram praticantes ou atletas, que possivelmente podem manter um nível de
intensidade mais alta durante esse primeiro trimestre.
A partir do segundo trimestre, os cuidados tornam-se mais específicos para o grupo
especial, buscando evitar tarefas com maior impacto (saltos verticais, levantamentos
olímpicos, etc.) e que tenham amplitude de movimento muito elevada, por conta do
aumento da relaxina (hormônio que diminui a rigidez de cápsulas articulares, importante
para o aumento das articulações pélvicas no parto), visando um bem-estar geral durante
essa fase.
Já no terceiro trimestre, os cuidados estão relacionados à observar sinais vitais
básicos (pressão arterial, frequências cardíaca e respiratória), avaliar sempre a percepção
individual, buscar atividades que tenham influência no alívio da dor lombar, evitando
inclusive exercícios abdominais e em quatro apoios. Além disso, os cuidados com
amplitudes de movimento alta se mantêm.
Em relação ao processo de avaliação, ficou evidente a importância da reavaliação
mensal da gestante durante a gravidez, já que a mesma passa por modificações corporais
constantes. Dentre as diversas formas de avaliar, alguns testes já protocolados foram
recomendados, como é o caso do PARmed-X, que é um guia específico para atividade
física com gestantes. Além do PARmed-X, os testes mais padronizados também são
recomendados, como as medidas de peso, altura, circunferências e avaliação postural. As
dobras cutâneas são um ponto difícil de se analisar durante o processo de gestação, por
isso recomenda-se somente utilizar a dobra tricipital como sendo importante na avaliação.
Outra avaliação de extrema importância é traçar um perfil psicológico durante a
anamnese, para conhecer a melhor forma de atuar com a paciente durante o processo. A
partir das avaliações citadas, é possível direcionar melhor a atuação com esse grupo. Em
relação ainda à avaliação, é relevante o apontamento do índice de massa corporal como
sendo calculado de forma diferente na gestante, levando em conta uma margem de ganho
de peso a partir do seu peso corporal no período anterior, como na tabela abaixo:
Os principais cuidados em relação ao período gestacional se relacionam com
diversos fatores e sistemas do corpo, como o cuidado com a hipertermia fetal devido ao
aumento do estresse sobre o corpo da mãe e do feto durante uma atividade aeróbica
prolongada em um contexto de altas temperaturas, a dificuldade de levar nutrientes para o
feto por conta da redução do fluxo sanguíneo no útero ou por ausência de carboidratos para
a mãe durante um exercício prolongado sem cuidados com a alimentação.
Existem restrições mais específicas para alguns tipos de exercícios, que envolvem
risco de impacto direto com a região abdominal ou que colocam o organismo de forma geral
em uma situação de estresse muito elevado, e que pode acarretar em prejuízo para o
desenvolvimento fetal, como é o caso de atividades de luta, esportes competitivos e
levantamentos de peso. Além disso, exercícios com alto impacto e demanda de estruturas
articulares como saltos, trabalhos de potência e alongamentos com intensidade alta
envolvem estruturas que estão enfraquecidas no período pré-natal. Outras atividades, mais
incomuns mas que são importantes de se tratar, são o mergulho e as atividades em altitude
elevada, que envolvem modificações no sistema respiratório e cardiovascular, trazendo
riscos de hipóxia ao feto.
Outro fator importante que tem relação direta com o tipo de exercício prescrito é a
recomendação para o controle da diástase. Nesse caso, as recomendações são diversas,
como por exemplo: evitar exercícios que ofereçam uma demanda alta dos músculos
abdominais mais superficiais; trabalhar músculos do assoalho pélvico e o músculo
transverso do abdome; enfatizar posturas que diminuem a pressão abdominal, trabalhando
a respiração diafragmática de forma eficiente e, tanto no pré-natal como no pós-parto, focar
em exercícios que não ofereçam tensão elevada na linha alba, evitando estiramentos e
deformações nessa estrutura.
No treinamento aeróbico, a intensidade recomendada é baseada em parâmetros
como a frequência cardíaca, escala de Borg e o Talk-Sing Test, que são formas de avaliar o
praticante durante a atividade. O exercício aeróbico, portanto, deve ser realizado de acordo
com a capacidade individual, com avaliação constante da condição. A recomendação geral
é que, para iniciantes, a FC fique em torno de 102-124 BPM, intermediárias em torno de
125-146 BPM, e atletas, mediante autorização médica, até 169 BPM. Na escala de Borg e
no Talk-Sing Test, utilizam-se as faixas de atividade baixa a moderada. Em relação à
densidade, é possível realizar diversas estratégias, com uma preferência da palestrante
pelo aeróbico parcelado, envolvendo uma parte de atividade aeróbica, um pequeno treino
de força e posteriormente a segunda parte do treinamento aeróbico.
No treinamento de força, a recomendação é de se realizar de 2 a 3 vezes na
semana, de forma não consecutiva, contendo, em cada sessão, cerca de 8 a 10 exercícios,
com 12 a 15 repetições em uma intensidade moderada (utilizando a escala de Omni-Res),
com um intervalo entre os exercícios de 1 a 2 minutos. Algumas restrições para o
treinamento de força são o uso da manobra de Valsalva e exercícios que aumentem a
compressão abdominal, cuidados com saltos e altas intensidades. Em exercícios
abdominais, as recomendações se modificam ao longo dos trimestres, mas de forma geral,
é necessário restringir exercícios na posição de 4 apoios no terceiro trimestre, focando,
principalmente no segundo trimestre, em exercícios abdominais em decúbito dorsal,
prancha utilizando o apoio do “step”, além de exercícios que envolvam a musculatura
respiratória acessória da região.

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