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Revista sicologia e Sarde Sindrome De Turner E Variantes: Reagdes E Mecanismos Psicossociais Adaptativos ‘Turner Syndrome: Psychosocial Reactions And Adaptive Mechanisms Sindrome De Turner Y Variaciones: Reacciones ¥ Mecanismos De Adaptacién Psicosocial Vera Liicia Soares Chvatat* Fétima Béttcher-Luiz Egherto Ribeiro Turato Faculdade de Citncas Medicus, Universidade Estadual de Campinas Resumo OBJETIVO: Delinear os mecanismos adaptativos psicossociais ullizados por portadoras da ST ou formas variantes frente a0 diagnéstico da doenga. METODO: Nesta pesquisa qualitativa foram realizadas entrevistas clinico-psicologicas semidiigidas em 13 mulheres, submetendo os dados Anilise Qualitativa de Conteddo, assim categorizados: 1. reagdes psicossociais frente ao dingndstic; 2. reagdes psicossociais frente go estigma de tuma doenga genética; 3, mecanismos psicossociais adaptativos. Posteriormente os dados foram discutidas dentro de quadro tedrico psicossociolégica. RESULTADOS: Conflitos psicossexuais, dficuldades de relacionamento| interpessou,sentimentos de raiva, culpa, impotéacia e quadros de depressdo; mecenismos adaplativos psicossociais utlizados: repressfo, negagio, anulagdo, fantasies e adaptagio. CONCLUSAO: Os achados deste estudo poderio subsidiaratendimentos psicossociais em servigos de sade, complementarmente a protocolos médicos de rotina, Palavras-chave: Sindrome de Tumer; Genética; ReagSes Psicossociais; Mecanismos Picossocias Adaptativos; Pesquisa Qualitativa Abstract OBJECTIVE: To outline the mechanisms of psychosocial adaptation used by Turner Syndrome of variant forms carriers, when onfrontedtothe diagnosis. METHOD: Inthisqualitativeresearch,semidirectedclinical-psychological interviews were conducted with 13 women and the data was submited to Qualitative Content Analysis and so categorized: 1. psychosocial reactions face of the diagnosis; 2. psychosocial reactions face ofthe stigma in genetic illuess; 3. adaptive psychosocial mechanisms. AMerwatds, the data were interpreted in accordance with psycho- sociological framework. RESULTS: Psychosexual conflicts, difficulties in inter-personal relationships, jealousy, ‘impotence feelings and depression; mechanisms: repression, negation, invalidation, fantasies and adaptation CONCLUSION: We consider the findings ofthis research can be used in psychosocial support, additionally to the ‘medical protocol for patient withthe syndrome. Keywords: Turner Syndrome; Genetic; Psychosocial Reactions; Adaptive Psychosocial Mechanistss; Qualitative Research Resumen OBJETIVO: Para delinea los mecanismos de adaptacién psicosocial ulizados por los pacientes con TS o variantes ‘cuando el diagnéstico de la enfermedad, METODO: entrevistas de investigacién eualitative ciniea-psicolégico se Ilevaron a cabo dirigido # 13 mujeres, sometiendo a los datos para el anlisis eualitativo, clasificados como: 1 reacciones psicosociales cuando e! diagnéstico 2. reacciones psicosociales contra el estigma de una enfermedad ‘genética, 3. los mectnismos de adaptaciin psicoldgica, Después de los datos se dchatieron en el psica terica RESULTADOS: los conictos psicosexusles, las difcullades en las rlaciones interpersonales, los seatimientos de ira, culpa, indefensiny el estado de depresin, los mecanismos de adaptacidn psicosocial uilizado: la tepresion, la negacidn, la anulacion, las fantasias y la adaptacién, CONCLUSION: Nuestros resultados podrian apoyar la atencién psicosocial en los servicios de salud, ademas de los protocolos médicos de ruina Palabras clave: sindrome de Turner, la genética, lareaccin psicosocial; mecanismos de adaptacin psicosocial; Investigacion cualitativa ia, UCDB - Introdugio genética que afeta uma a cada 2500 nativivas do sexo feminino, Foi descrita pela primeira vez em. rograma de Mestrado en A Sindrome de Tumer (ST) & uma alteragio "Rua Donato D'Otaviano, 131 Jardim Chapadio.13070-136 Campinas, SP. Fone: (19) 3879-1739 o (19) 9114-8251 poi: Coordenasio de Apereigoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES), Ministéno de Educa do Brasil; Maro 2000 a Fevereiro 2005. Proceso a. DS “1082000, 1938, mas a efetiva confirmagdo laboratorial ocorreu nas décadas de 50 e 60, com o desenvolvimento das téenicas de citogenética © a constatagdo de que os cestigmas da sindrome eram decorrentes da perda total ‘ou parcial de um dos eromossomos X. Posteriormente foram descritas variantes do cariétipo original 45 Revista Psicologia e Satide, 2009, 1 (1), pp. 9-14 ISSN: 2177-093X ia, UCDB - rograma de Mestrado en Revista sicologia e Sarde X, que compreendiam alteragdes estruturais ou em mosaicos do mesmo cromossomo, distribuidas em fenétipos de amplitude variada, sendo a caracterstica ‘mais comum a baixa estatura, sexuida pela disgenesia gonadal (Thompson e Thompson, 2000). ‘A maioria dos conceptos portadores da sindrome é climinada durante a vida intra-uterina, de modo que os sobreviventes correspondem aqueles com alteragdes clinicas menores, que irdo exigir especial atengao dos, pais © acompanhamento médico constante, em azo de complicagaes renais, cardiovasculares ¢ auditivas. Em alguns casos, obscrva-se deficiéncia cognitiva, embora normalmente a inteligéncia das portadoras esteja inscrida nos limites de normalidade da populagao ndo afetada (Soriano-Guillen et al 2005). Puberdade espontanea ocorre em 20% dos casos «entre estes, 50% necessita de sustentagao hormonal para manter © desenvolvimento puberal adequedo © promover algum ganho de estatura, através da dministragdo exdgena de estrogenos/ progestégenos € de horménio de erescimento (GH), respectivamente (Hoffee, 2000). O diagndstico definitive da sindrome ‘ou de suas variantes requer a realizagdo de cariétipo © 0 tratamento das pacientes é identificado pelo CID 10 (Cédigo Internacional de Doengas), No Brasil, © tratamento hormonal foi recentemente reconhecido ¢ regulamentado em portaria." Como doenga erénica se manifestar desde a infaincia, ha consenso de que 0 tratamento médico deve reduzir o impacto da condigao genética sobre a dindmica psicossocial, em criangas e adultos, Todavia, alguns desses aspectos, como auto-estima e ajustamento social, nio tém sido sistematicamente estudados (Carel et al, 2006). Em divulgagéo anterior procuramos conhecer psicanaliticamente, de modo focado, as defesas egdieas usadas por essas mulheres (Chvatal, Bottcher- Luiz & Turato, 2009), No presente artigo procuramos ampliar a discussio para a adaptag3o psicossocial depreendida dos estudos com esta amostra de sueitos. Para tanto, igualmente partimos da nogdo de que a perda de um objeto desejado, da identidade ou da auto-estima causa ansiedades, havendo dois modos de diminui-la; dando diretamente com problema ou deformarinegar a propria situagio. Nesse caso, para proteger a personalidade contra a ameaga, 0 ego falsifica a natureza desta por meio dos mecanismos de defesa do ego (Freud, 1974). Considerando-se que toda conduta humana deriva de um complexo arranjo biopsicossocial, cada individuo apresenta uma sensibilidade (afetiva) pessosl ¢ particular que se constitui num conjunto de mecanismos, dos quais, se langa mio em reag#o 20s agentes tidos como estressores (Ballone, 2000; Raynal, Le Meaux & Chereau, 2005). Denominados de mecanismos ° Ministério da Sade, Protocolo Clinica e Dirsrizes ‘Terapéutias Sindrome de Turner ~S SSCTIE a" 72 4 06 de noverivo de 2006. adaptativos psicossociais, eles englobam as formas, téenicas ou estratégies desenvolvidas a0 longo do processo evolutive humano para lidar com os conflitos internos, bem como, com a realidade externa (Turato, 2008). Na particular ancoragem teérica para este estudo, procuramos conhecer as reagdes © delinear ‘os mecanismos adaptativos psicossociais que as mulheres entrevistadas, afetadas pela Sindrome de ‘Turner ou variantes, utilizavam para se estruturarem, emocionalmente ¢ interpessoalmente frente cenfermidade. Sujeitos e Método Nesta pesquisa foi adotado 0 método clinico- qualitativo (Turato, 2006), enquanto téenica que © viabilizou foi a entrevista clinico-psicologica semidirigida de questdes abertas (Fontanella, ‘Campos & Turato, 2006), que permite ao pesquisador iniciar, reformular, corrgir e/ou clarear hipéteses de trabalho, ja durante o curso das observagies (Bleger, 1980). A construsdo da amostra foi feita através da téenica por amostragem proposital (Pope & Mays, 1995), sendo assim constituida por 13 mulheres com ‘endtipo compativel com a Sindrome de Tumer e suas Variantes, com idades de 21 a 45 anos e que estavam sob acompanhamento ambulatorial junto ao Centro de Atengdo Integral & Saiide da Mulher/Universidade Estadual de Campinas/CAISM/UNICAMP. Salientamos gue por tratar-se de pesquisa ualitativa, na anilise e discussio dos resultados no houve a preocupagio em separar por faixas etirias, uma vez que a divisio em subgrupos populacionais da amostra tem uma preocupagio epidemiologica que remete & pesquisa quantitativa. Neste caso, as, caracteristicas biodemogrificas dos. sujeitos no serviram, a priori, para screm destacadas. Todavia, foram ou néo valorizadas na discussio das falas, «aso tal dado, como a idade, fez sentido do ponto de vista simbélico. O material coletado foi submetido 4 Andlise Qualitative do Contetdo, passando por releituras flutuantes, estabelecendo-se as seguintes categoria emergentes: 1. Reagées psicossociais frente ao diagndstico; 2. Reagbes psicossociais frente ao estigma de uma doenga ‘genética; 3. Mecanismos psicossociais adaptativos. Os resultados. foram interpretados, partindo- se da abordagem psicolégica, aliada a um quadro cclético de referenciais teéricas para a discussio no espirito da interdisciplinaridade, cujos conceitos, dessem conta da dimensio simbélica psicossocial as uais os fendmenos humanos so atribuidos (Turato, 2005). A validagdo da discussdo ocorreu no sistema metodoligico da revisio por pares do Laboratorio de Pesquisa Clinico-Qualitativa, da Faculdade de Ciéncias Médicas da Unicamp. 10 Revista Psicologia e Satide, 2009, 1 (1), pp. 9-14 ISSN: 2177-093X ev icologia e Quadro 1 Caracteristicas biodemogriificas Escolari ao ‘Estado Altura Peso Caracteres sexuais Paciente Made dade Coupacie civil (im) (Ke) secundérios /cariétipo o 30a gro lar Casada 14567 —_“Hiipodesenvolvidos completo AG,XXI4SX. a 3a 2grau = Auxiliarde —Casada«1,55.«49—_“Hipodesenvolvidos completo enfermagem 46,XX/ 45,X. 03 31a Superior —_Professora-—“Solteira_ 1,63 65 _—_‘Hipodesenvolvides 46XX4 5X. of 22a 2grau = Auxiliarde = Casada_«1,42-«44-_—_“Hipodesenvolvidos produgao 46,X, 190 X(qV45,X. os 45a grow Do lar Casada 149 73-—_“Hiipodesenvolvidos 46,XXI45,X. 0s 24a grou = Ajudante de Solteira 1,58 «64 _—_‘Hipodesenvolvidos completo cozinha 46,XX/45,X, o7 28a -2*gru_—=Operadorade —Cusada_(1,54 -—«65—_“Hipodesenvolvides incompleto caixa 46X, del Xq(22—ater). os 33a 2grau_—=Balconista—-Casada_«1,45.««42_—_“Hipodesenvolvidos completo 45 0 182 grou == “Estudamte. -—Soltcira 1,35. «31_—_-Hipodesenvolvidos, ‘completo 46X.1(XY/45,X. 10 21a 2*grau~—=Estudante = Solteira_ 1,61 «69 -—_‘Hipodesenvolvides completo 46,XX/45,X, " 36a 2%grau_-—=‘Desempregada Solteira 146 65 —_Hiipodesenvolvidos completo 45,X. 2 27a Superior —_‘Biomédica _—Solteira_ 1,50 40-—_‘Hipodesenvolvides 45,X. a3 26a -2grau_-—=Operadorade —Casada_1,44-—«S6—_‘Hipodesenvolvides completo caixa 45xX. Resultados desenvolvendo quadtos clinicos de depressio, Foram De retorne do levantamento de campo, foram constatadas as seguintes caracteristicas, bbiodemogriticas com 0 correspondente quadro clinico, referentes & amostra estudads: ‘As mulheres que participaram da pesquisa procuraram © CAISM/Unicamp por amenorréia priméria ou sccundéria. Segundo scus relatos, clas tinham que lidar com muitas intercorréncias clinicas oriundas da alteragao genética, tais como a infertilidade, osteoporose, cardiopatias © docncas renais, entre outtas, Por outro lado, o desconhecimento ‘owa falta de informagoes adequadas sobre a sindrome gerava angiistias ¢ temores, levando-as a cogitar sobre a possibilidade de deficiéncia mental ou desveladas ainda conflitos psicossexuais, dificuldades de relacionamento interpessoal, sentimentos de raiva, culpa e impoténeia, Para lidar com essas dificuldades, cessas mulheres demonstraram utilizar principalmente ‘os seguintes mecanismos: negagio do problema, repressdo dos desejos, fantasias e adaptagao, Discus 1. Reacts psicossociais frente ao diagndstico ‘Alves & Rabello (1999) pontuam que as respostas aos problemas associados & doenca constituem-se no contexto social ¢ remetem diretamente a umm mundo partiIhado de priticas, crengas e valores que se transformam em experiéneias da enfermidade. Desa ul Revista Psicologia e Sade, 009, 1 (1), pp. 9-14 ISSN: 2177-093X ude evista Psicologia e forma as pessoas situam-se frente & doenga ou entao, assumem a stuagdo da docnga, sempre Ihe conferindo significados em tomo dos quais desenvolvem modos de lidar com ela ¢ estruturar suas vidas, “Tenho wn bom emprego (.») mas, tinha depressdoe cava muito triste. iss0 me afetou muito psicologicamente.” (03). “No sei... ndo set ainda o que vow fazer 7. Tssas falas eivadas de desalento nos permitem inferir que o impacto do diagnéstico propiciow o desenvolvimento de um quadro depressivo, enotando desdnimo e desinteresses que amainam projetos « sentides do viver. Perda do objeto, separagio necesséria ¢ elaboragao do luto constituem um eixo: provavel para quadros depressivos, Neste caso, pode- se presumir que esas mulhcresapés entrar em contato com o diagnéstico recebido, estariam vivenciando o luto pela perda do ideal do estado de saiide, =A Sindrome de Turner tem correlagio com 4 deficiéncia mental? do saber do meu diagnéstico fui procurar saber tudo sobre a sindrome, pois ew achava {qe a defciéncia mental era uma das caractersticas aa sindrome.” (12). ~"Aqui (...) eles disseram que essa Sindrome de Tuner que eu tenko pode causar problemas no coragdo, nos rins, nos ouvidos (..) © nos ossos.” (01). Angistia ¢ medo implicam em soffimento que podem ser petecbidos em recortes de fala dessas mulheresao se saberem portadoras deumaenfermidade genética, praticamente desconhecida para clas, mas que passa a exigir um tratamento continuo pelo resto. de suas vidas devido ds sequelas “Tenko dividas, gostaria de ter certeza de {que tenho isso mesma! Omédico examina agente, nao fala nada e a gente nao tem coragem de perguntar.” (03). “Eu me acho fechada. a, “(.,) eu tinha dificuldade de me relacionar e tinha vergonha de contar que ainda era virgem...” (03). ‘AS falas dessas mulheres denotam dividas, medo, possiveis conflitos psicossexuais, dificuldades no relacionamento interpessoal, sentimento de impoténcia © depressio em decorréncia da cigneia do diagnéstico, Por se julgarem portadoras de algum ‘defeito’, fecham-se em seu sofrimento, isolando- se do contato social, Freud (1914) j@ alertava que 0 individuo atormentado pela dor deixa de se interessar pelas coisas do mundo externo porque no dizem respeito ao seu softimento, [, enquanto soffe, 0 individue tem dificuldade de amar. Assim sendo, podemos inferir que essas mulheres sofferam um ‘grande choque emocional ao receberem o diagndstico da doenga, que pode afetar sua saiide mental levando- as a desenvolver possiveis quadros psiquiatvicos que requerem cuidados. 2. Reasies psic + frente ao ext de uma doenga genética ‘Uma sindrome genética que impée limitagées importantes na vida dessas pacientes, leva-nos arefletir sobre certo estigma como um significative evento sociolégico (Goffman, 1988). Na dimensio social, ha ddoengas que se transformam em uma marca indelével. Desde a cultura da Grécia Antiga, quando jf existia ‘muito conhecimento sobre os recursos visuais, forjou- se 0 termo estigma para se aludir a sinais corporais, designados a expor algo incomum ou ruim sobre © status moral de quem os apresentava. Os sinais eram infligidos no corpo e serviam para anunciar que © porlador era um eseravo, um criminoso ou um traidor: uma pessoa marcada a ser evitada, especialmente em lugares piblicos. Hoje, esta palavra empregada ainda em sentido semelhante ao original, mas mais utilizada em relaglo a propria “desgraga’ do que a sua evidéncia corporal “Bu ndo sou igual a todo mundo.” (07) “Eu me acho muito complicada por causa disso (..) no & todo tratamento que eu posso fazer.” OD. “Bu escondia das pessoas 0 que eu tinha, nao queria que soubessem..” (02), Essas falas acobertam preconccitos em relagdo 4 doenga. Sentem-se diferentes, complicadas ¢ no 4querem gue 0s outros falem de seu problema, Nossa jca tem confirmado que, frente & experiéncia cli doenga, pacientes abandonam 2 condigdo de ser humano comum e total, reduzindo-se a condigdo de uma docnga, um estigma. Geralmente, procuram limitar as informagies a pessoas intimas, temendo plas especulagdes de outros © de se expor a curiosidade excessive Uma das caracteristicas dessa sindrome € @ baixa estatura, No Brasil, registros sobre as ‘medidas antropométricas das mulheres so escassos. Entretanto, pesquisa realizada por Espin & Barros (2004) demonstram que, durante o século XX, houve uma tendéncia para aumento de estatura da crianga brasileira, apesar das desigualdades sociais. ainda cexistentes no pais. Todavia, o sutil ineremento nao se aproximou da média de altura das mulheres adultas de crigem anglo-saxénica, na década passada, em tomo de 1,70 (Nielsen, 2006), Portanto, na adoleseéneia & «que esse fator vai ser acentuado, como se observa nas falas abaixo, “Eu continuava baixinka, sem erescer. sou desenvolvida para namorar.” (09). “Antes eu tinka preconceito em relagdo a ‘minka altura, as pessoas zoavam comigo por eu ser baixinha...” (13) Devido 4 baixa estatura ¢ imaturidade corporal, nfo se acham adequadas para namorat como as demais adolescentes de sua idade, 0 que por si $6, j4 dove causar um certo isolamento, Para a pessoa que se sente estigmatizada, as situagdes sociais sempre 12 Revista Psicologia e Sade, 009, 1 (1), pp. 9-14 ISSN: 2177-093X ude evista Psicologia e provocam uma interagdo angustiante, Ou ela & muito agressiva ou muito timida, sendo que, em ambos 0s casos, estario sempre prontas a ler eventuais significados ndo intencionais nas atitudesalheias “Bu gostaria de no me importar tanto com 0 que as pessoas falam...” (10) Pesquisando a literatura sobre a questi do stigma (Goffman, 1988), vieram-nos & meméria os sentimentos que a pessoa estigmatizada transmite, uma ver que a maioria das pacientes entrevistadas ddemonstrou um comportamento timido, apreensivo & caréncia afetiva. Entetanto, um fator relevante tem que ser considerado, Grande parte delas pertence a grupos sécio-econémicos de baixa renda. Migraram de pequenas cidades interioranas situadas em outros estados brasileiros, menos desenvolvidos, onde: “(ou) era tudo muito precério...” (02) (oo) & tudo muito dificil.” (05) “Antes eu morava lé na (..) em wma regido muito pobre... (06). Essas mulheres moram atualmente em casas de parentes, geralmente na periferia de cidades grandes no sudeste brasileiro, considerado dos mais desenvolvidos do pais ‘Em casa meu irmio ¢ meu pai esto desempregados, eu também estou.” (13). “Eu gostaria muito de poder estudar... de fazer wna faculdade, mas ndo se...ndo tenho dinheiro ‘para isso,” (06). “Pagamos aluguel, meu marido ficou desempregado um tempo... Entio no dava para me -preocupar com isso.” (04), este modo, juntamente ao estigma decorrente da sindrome, acreseenta-se a marca da exelusio e! ou marginalizagio social, neste caso, as questes de sobrevivéncia sécio-econémicas tém que ser priorizadas. O que nos leva a pensar gue esse quadto de caréncia s6cio-econémico-cultural deve influir na forma com que a doenga & vivenciada, uma vez que a ressonaneia psicologica e sécio-profissional depende também dos fatores ligados propria doenga, as caracteristicas de personalidade © dos mecanismos adaptativos que a pessoa desenvolve para lidar com as dificuldades do viver. “Mecanismos psicossociais adaptativos Todas as pessoas tém que lidar com 0 meio ambiente © suas agressdes, frente as quais tém que ddesenvolver mecanismos para se adaptar,cigualmente com seu. mundo intemo onde # ameaga de alguns eventos psiquicos (pulsées, emogBes, te.) pode causar excesso de sintomas de ansiedade e angistia existencial. AS falas abaixo sugerem a utilizagdo dos rmocanismos de repressio ¢ de negacio como forma de lidar com os conflitos decorrentes da sindrome: “Nao esquento a cabeca com i880...” (11). “Mas agora ja estou acostumada. (09). “$6 me lembro quando venko a Unicamp.” (03) “Eu achava que nao tinha a Sindrome de Turner etinka vergonha de falar com os outros sobre isso.” (07. “Acho que estd tudo bem, ndo acho que teria que ser diferente. Sei que nao vou poder terfithos, o médico disse que tenho titero infantil, mas indo me preocupo com isso,” (01). Enguanto isso, nas falas absixo, podemos infer sobre a utlizagdo do mecanismo de anulagao, Ou seja, recorrem a certa onipoténcia divina como tentativa de resolver o problema. Als, como essa questio da religisidade & bastante infuente pode-se pensar em componente cultural, “Bles disseram que no posso engravida mas s6 Deus & quem sabe! Mesmo que os médicos digam o contrario, Ele pode me fazer engravidar. Para Deus nada é impossivel..” (02) “Bu penso assim, se eu tver que ter filhos), se Deus quiser que eu tenha... entéo vou ter..." (11). Saberse portadora de uma sindrome genética levam-nas a recorrer &fantssia como forma de lidar com a situagdo desfavoravel, evitando assim entrar em contato dire com 0 confit angustiantc “Uma vez 0 médico perguntou se eu tinka tido algum acidente, mas eu ndo me lembrava de nada. Mas hi pouco tempo, eu me lembrei de que, quando eu tinka mais ou menos 10 anos, cai sobre tima cristaleira, assim, com as permas abertas, bem no meio...” (03). ‘As falas seguintes apontam para mecanismos psicossociais adaptativos na medida em que denotam accitar a enfermidade © suas consoqincias, assim como abrem-se para a adogdo, como forma de lidar com o fendmeno vivenciado da infertlidade “Sei que preciso de cuidados sempre, sei aque cuidar da saiideé muito importante ¢ quero fazer isso.” (04). “Quando ew tver um namorado, ele vai saber ‘porque eu me abro, falo. Eu falo sobre isso até com meus amigos...” (06). “(o) posso adotar wm ow mais.” (08), "(on) adotei um bebé. E a filha que nascen do meu coraciio." 05). ‘Assim sendo, ficou fartemente sugestivo que as mulheres com Sindrome de Tumer ou suas variantes ‘ém que lidar com as intrcorréncias fisieas epsiquicas da enfermidade provocando grande sofiimento que, freqiientemente, dificultam uma _insergao, social mais sadia, Por esse motivo, recomendam-sc Suporte psicossocial ambulatoril,imegradamente a0 protocoo clinica derotin. B, ness caso, 0 resultados da pesquisa, rferentes aos mocanismos psicossociais adaptativos por clas utilizados, podem auxiliar no desenvolvimento de intervengdes mais especificas, como uma abordagem psicoteripica direcionada « tais pacientes. 13 Revista Psicologia e Sade, 009, 1 (1), pp. 9-14 ISSN: 2177-093X ia, UCDB - rograma de Mestrado en Revista sicologia e Sarde Referéncias Alves, RC, Ruel, MLC (1999), Signiicaio e metforas na expergncia da nfermidade In: Alves, PC, & Rabelo, M.C. (Ong) Exparidnea de doen e natatva (pp, 171-185). Rio de Jancis Fioere “Ballon, GJ. (2000), Imunoloyia eemocio, Retieved Agosto 24, fom PigWh Ince, Web site ip abalone sites uo com ‘Bleger, J. (1980), Temas de Psicologia Sio Paulo: Martins Fontes Cael, LC. ; Catel, CE; Frmanucl, E, Mai, T, Juliane 1, Sylvie C. 2006), foumal Clinical Endocrinol Metabolism 91: 2572-2979, Chvatal, VIS, BétcherLaiz, F, Tuato, ER 2009) Responses ofan il defense mechanisms wed by women with, ‘urner syndrome and variants. 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E-mail: erturato@uol.com.br Artigo extraido da Tese de Doutorado intitulada “Vivéncias do Fendmeno da Infertilidade por Paci com Sindrome de Turner e Variantes — Um Estudo Clinico-Qualitati aprovada em Fevereiro de 2005, ntes , defendida pela primeira autora e Pesquisa realizada no Centro de Atengo Integral a Saiide da Mulher (CAISM) / Faculdade de Ciéneias ‘Médicas / Universidade Estadual de Campinas (FCM-UNICAMP). Cidade Universit Distrito de Baro Geraldo — ia “Zeferino Vaz" ~ 13085.970 Campinas, SP. Brasil e conduzida de aordo com os padres da Declaago de Helsingue, tendo sido aprovada pelo Comité de Etica em Pesquisa, Faculdade de Ciéncias Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 16 de julho de 2002, conforme protocol. 270/2002. Apresentagdo em Congresso: Resultados parciais da pesquisa foram apresentados no IV International Conference of Health Psychology, Havana, Cuba, 2004, Conilito de interesses: no ha, 14 Revista Psicologia e Satide, 2009, 1 (1), pp. 9-14 ISSN: 2177-093X

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