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Da Ação de Consignação em Pagamento
Da Ação de Consignação em Pagamento
DO PAGAMENTO INDIRETO
O art. 335 do Código Civil traz um rol taxativo de razões que autorizam a consignação do
pagamento. Os incisos I a IV podem ser classificados como razões subjetivas: Art. 335 [...] I —
se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na
devida forma; II — se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e
condição devidos; III — se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV — se ocorrer dúvida
sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento (BRASIL, 2002, documento
on-line).
Todas as hipóteses previstas no art. 335 do Código Civil impedem o devedor de efetuar o
pagamento direto. Assim, se o solvens (devedor) tem o dever de cumprir a obrigação, precisa
ter à sua disposição os meios que facultem o pagamento, sempre que existir recusa do credor
ou dúvida em torno da figura do accipiens (credor). A consignação terá lugar nas obrigações de
dar, pois envolvem um objeto a ser depositado. Na grande maioria das vezes, trata-se de
obrigação pecuniária, mas não é uma modalidade exclusiva desse tipo de obrigação. Por lógica,
não seria possível a consignação de uma obrigação de fazer que estabelece uma prestação de
serviço ou de não fazer, a qual determina inércia por parte do devedor.
O CPC de 2015 determina os ritos distintos para a consignação do pagamento bancário e para
pagamento via judicial. A matéria se encontra disciplinada nos arts. 539 a 549 do CPC de 2015.
Na consignação judicial, o depósito do bem é feito em juízo; já a consignação extrajudicial é
precedida do depósito da quantia em estabelecimento bancário, nos moldes do CPC de 2015,
art. 539, §§ 1º a 4º. Dispõe o art. 338 do Código Civil: Art. 338 Enquanto o credor não declarar
que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento,
pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de
direito (BRASIL, 2002, documento on-line).
Se o objeto do depósito for um bem imóvel ou corpo certo, o devedor poderá, ainda assim,
realizar o pagamento em consignação, citando o credor, para vir ou mandar recebê-la, sob
pena de ser depositada, conforme disciplina o art. 341 do Código Civil. Para Pereira (2018, p.
202): Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo, ou porque era o único originariamente
devido, ou por ter o credor perdido o direito de escolha, o devedor antes de consignar fará
citar o credor para que venha recebê-la no local em que se encontrar ou naquele que seja o
lugar de pagamento, conforme disponha o instrumento (Código Civil de 2002, art. 341). Não
comparecendo o credor, pessoalmente ou por preposto, será consignada a coisa em mãos do
depositário público ou de quem suas vezes faça. A consignação de corpo certo, ao contrário do
que entende Von Tuhr, não exclui os imóveis, que podem dela ser objeto, fazendo o devedor
citar o credor para vir recebê-los ou imitir-se na sua posse, ad instar do que prescreve o art.
1.216 do Código Civil italiano de 1942, ou para que venha receber a escritura respectiva, como
para o caso dos terrenos loteados prescrevia o art. 17 do Decreto-Lei nº 58, de 10 de
dezembro de 1937. Neste sentido, acompanhando o entendimento consolidado da doutrina e
da jurisprudência, o Código Civil de 2002 também os incluiu.
Nas obrigações de dar coisa incerta ou alternativas, cabendo a escolha ao credor, ele será
citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o
devedor escolher, conforme art. 342 do Código Civil. Portanto, após a escolha pelo devedor, a
coisa escolhida será depositada. Se houver custos com o depósito, por exemplo, para
conservação de alimentos, as custas correrão por conta do credor se a ação for julgada
procedente e pelo devedor se for improcedente, de acordo com o disposto no art. 343 do
Código Civil:
Se o locador, ora réu, não contestar ou levantar os valores depositados, o juiz acolherá o
pedido do autor, declarando quitadas as obrigações e condenando o réu ao pagamento de
custas e honorários de 20% sobre o valor dos depósitos. Em contrapartida, o réu poderá
contestar, alegando: não ter havido recusa ou mora em receber a quantia devida; ter sido
justa a causa da recusa; não ter sido efetuado o depósito no prazo ou no lugar do
pagamento; não ter sido efetuado o depósito integral. Assim, o réu apontará o valor de
diferença para o locatário complementar, conforme o disposto no art. 67, VII, da Lei do
Inquilinato.
A discussão das contas é incidental, de forma a permitir uma condenação do dever de pagar o
saldo apurado.
- Condena ao pagamento do saldo residual (para o autor ou réu, pois a ação tem natureza
dúplice);
- Não se admite cumulação de ações de exigir contas com revisar de cláusula contratual (Rec.
Repetitivo Tema 908 STJ).
- A prestação de contas é feita nos próprios autos em que foi feita a nomeação do tutor,
curador, inventariante, administrador judicial, etc.
Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o saldo e não o
fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda, glosar o
prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias à
recomposição do prejuízo.
Art. 550: Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu
para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias.
§ 3° A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada e especi fica,
com referência expressa ao lançamento questionado.
§ 5° A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no prazo de
15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.
§ 2º As contas do autor, para os fins do art. 550, § 5º , serão apresentadas na forma adequada,
já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as receitas, a aplicação das
despesas e os investimentos, se houver, bem como o respectivo saldo.
Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o saldo e não o
fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda, glosar o
prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias à
recomposição do prejuízo.
São três as ações possessórias existentes em nosso ordenamento, conforme Artigo 554
e seguintes do Código de Processo Civil de 2015: INTERDITO PROIBITÓRIO,
MANUTENÇÃO DA POSSE e REINTEGRAÇÃO DA POSSE.
Cada uma delas tem como objetivo a proteção possessória e são identificadas pelo ato
que coloca em risco a posse.
Para Savigny, a posse é o poder físico sobre a coisa (corpus) com a intenção de ter a
coisa como sua (animus). Para Ihering, a posse é o poder de fato sobre a coisa
(corpus).
Tanto o Código Civil de 1916 quanto o Código Civil de 2002 adotaram a teoria Objetiva.
Desse modo, verifica-se que a posse é o poder de fato sobre a coisa exercida em nome
próprio (autonomia).
Eis que quem exerce a posse em nome alheio é mero detentor e não possuidor, além
de que garante ao possuidor que sofre qualquer espécie de agressão, a manutenção
da posse ou sua recuperação.
Neste contexto, aquele que mantém algum dos atributos inerentes ao direito de
propriedade é o possuidor da coisa e a ele é dado o direito de intentar com as Ações
possessórias.
Portanto a posse não se confunde com propriedade, porém é protegida como uma
exteriorização dela, o que deixa evidente o acolhimento da teoria objetiva da posse,
desenvolvida por Ihering.
POSSE X PROPRIEDADE
A posse, por sua vez, consiste no exercício, pelo possuidor, de um dos atributos da
propriedade (uso, gozo, disposição, reaver) sobre o bem.
A posse deve existir no mundo fático, ou seja, ele deve estar utilizando o bem, gozando
dele, dispondo dele ou usufruindo seu direito de reavê-lo. Seja qual dos atributos da
propriedade o possuidor esteja exercendo, ele deve agir como se fosse dono da coisa.
O Novo Código de Processo Civil – Lei 13.105/2015 – no que diz respeito às ações
possessórias, Arts. 554 a 565, dispõe três ações distintas para proteger o legítimo
possuidor e a sua posse: a ação de reintegração de posse, a ação de manutenção de
posse, e o interdito proibitório.
Praticamente não altera as regras existentes acerca das ações possessórias, mas
acrescenta alguns dispositivos, regulamentando, em especial, a legitimidade coletiva e
a possibilidade de mediação em conflitos derivados da posse de bens.
Neste caso, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez e os que
não forem identificados serão citados por edital.
Nesses litígios, será obrigatória a atuação do Ministério Público (Art. 178, III, NCPC) e
da Defensoria Pública, caso seja necessária a proteção da parte hipossuficiente
financeiramente.
Assim, sendo as ações possessórias uma tutela provisória de urgência, requer urgência
do pedido, o juiz poderá conceder liminar visando intenção de proteger o legítimo
possuidor e a sua posse, através das ações de reintegração, manutenção e interdito
proibitório.
Mas, devemos atentar que, há restrições à tutela provisória, conforme dispõe o Art.
1.059 do NCPC. O NCPC agora deixa clara a possibilidade de concessão de tutela de
urgência e de tutela de evidência.
Considerou-se conveniente que a resposta do Poder Judiciário deve ser rápida não só
em situações em que a urgência decorre do risco de eficácia do processo e do eventual
perecimento do próprio direito.
Mas há de se reconhecer que no NCPC muitas das disposições do CPC/73 não foram
alteradas.
Uma das grandes novidades trazidas pelo NCPC 2015 é o artigo 311 sem
correspondente perante o seu antecessor, CPC/1973.
Este artigo dispõe o Art. 311 que a tutela da evidência será concedida,
independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil
do processo, isso quando:
d) A petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida
razoável.
O NCPC também prevê a participação nas ações possessórias coletivas, ou seja, que é
uma das inovações trazidas e que se encontra prevista nos parágrafos do artigo 554.
Neste caso, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez e os que
não forem identificados serão citados por edital.
Nas ações possessórias mobiliárias, o objeto da discussão será um bem móvel ou,
ainda, direitos que assegurem obrigações relacionadas a ele.
A partir dessa diferenciação, nota-se que cada uma das ações possessórias terá suas
próprias regras de competência para julgamento do processo.
Ameaça
A ameaça se caracteriza quando há receio sério (fundado) de que a posse venha a
sofrer alguma ameaça, seja turbação, seja esbulho. Assim, ocorrerá ameaça se,
embora nenhum ato de afronta à posse ainda tenha sido praticado, houver indícios
concretos de que poderá ocorrer a moléstia à posse.
No direito civil, ameaça, significa coação ou ato pelo qual alguém exerce uma pressão
física ou moral sobre outra pessoa, sua família, seus bens ou sua honra, para obrigá-la
a realizar certo negócio.
Portanto, a ameaça contra a posse, a violência iminente citada pela lei, é remediada
pelo interdito proibitório. É utilizada na situação de agressão iminente ou receio
justificável de perturbação da posse.
Neste seguimento, a ameaça pode ser requerida na tutela de urgência, pois os seus
pressupostos subordinam-se aos requisitos da probabilidade do direito e do perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo (Art. 300, caput do CPC 2015).
Portanto, no tocante à ameaça da posse sobre a coisa, esta pode ser caracterizada pela
violência ou tão somente pela sua iminência.
Diante desse exposto, a ameaça é causa justificadora do pedido de interdito
proibitório, pois este só é cabível na hipótese de haver ameaça de turbação ou de
esbulho da posse.
Turbação
A turbação é o esbulho parcial, ou seja, é a perda de algum dos poderes fáticos sobre a
coisa, mas não a totalidade da posse. O possuidor continua possuindo, mas não mais
pode exercer, em sua plenitude, a posse.
Por exemplo, ocorre turbação quando alguém adentra no imóvel e passa a cortar
árvores, seguidamente, mas não impede o acesso do possuidor à área.
É o ato que embaraça o livre e normal exercício da posse, haja ou não dano, tenha ou
não o turbador direito sobre a coisa.
Em outras palavras, turbação é a perda parcial da posse. O possuidor pode ser mantido
na posse, por ter sido impedido de exercê-la.
A turbação pode se manifestar por meio de diversos atos abusivos, tais como a
derrubada de uma cerca limítrofe, o trânsito de pessoas ou máquinas em propriedade
alheia, o uso indevido de calçada ou estacionamento privativo.
Deste modo, nos termos do Art. 560 do CPC/20015, se houver turbação, o possuidor
tem direito de ser mantido na ação de manutenção de posse, enquanto que, se houver
esbulho, o possuidor tem direito de ser reintegrado ação de reintegração de posse.
Além disso, se houver ameaça, o possuidor poderá fazer uso do interdito proibitório.
Portanto, a turbação ocorre quando um terceiro impede o livre exercício da posse sem
que o legítimo possuidor a perca integralmente.
Veja que, nesse caso, o uso da mencionada passagem pelo proprietário, a princípio,
não estará obstado, havendo, tão somente, incômodo em razão do trânsito de pessoal
estranho e equipamentos no interior de sua propriedade.
Esbulho
No direito civil, o esbulho é o ato pelo qual o possuidor se vê despojado da posse,
injustamente, por violência, por clandestinidade e por abuso de confiança, ou seja, é a
situação na qual a coisa sai integralmente da esfera de disponibilidade do possuidor,
quando ele deixa de ter contato com ela, por ato injusto do molestador.
Por exemplo, se alguém invade uma propriedade rural, cercando-a e impedindo que o
possuidor nela adentre, cometeu esbulho, isto é, a privação, subtração.
Dentro deste contexto, o possuidor tem o direito de ser restituído, pois o esbulho é a
perda total da posse.
É o caso da posse injusta, ou seja, posse obtida por violência, que se inclui na categoria
de vícios possessórios que são três: a clandestinidade, a violência e a precariedade.
Neste segmento o possuidor esbulhado pode recuperar a coisa pela força (esforço
incontinenti), nos termos do que dispõe o Art. 1.210, § 1º do CC de 2002.
Se tenta fazê-lo e não consegue, considera-se perdida a posse. Perdida será se, não
estando presente ao esbulho, abstém-se de retomar a coisa.
Interdito proibitório
Interdito proibitório é uma ação preventiva e cabível quando o legítimo possuidor do
bem sofrer uma ameaça de turbação ou de esbulho.
Ou seja, tais ameaças apesar de não terem sido praticadas, o ofensor se encontra na
iminência de levá-los a efeitos, não bastando apenas à mera desconfiança do
possuidor e sim um “justo receio”, que nada mais é que a necessidade de o autor
demonstrar a probabilidade de iminente agressão à sua posse.
Cabe ainda dizer que o possuidor, turbado ou esbulhado, ainda conta com a proteção
jurídica conforme o Artigo 1.210, § 1º do Código Civil.
Manutenção de posse
A ação de manutenção na posse tem como objetivo a proteção do possuidor contra
atos materiais advindos do ofensor, denominados de atos de turbação.
Neste caso, o possuidor não perde a disposição física que tem sobre bem. A turbação é
uma ofensa de menor intensidade em relação ao esbulho.
No caso de turbação, não houve a perda da posse, apenas limitação de sua posse,
portanto a ação a manutenção de posse é cabível e encontra sua previsão legal no
artigo 560 do Código de Processo Civil.
Reintegração de posse
A ação de reintegração de posse é cabível quando o possuidor é privado do bem
possuído, ou seja, ele é completamente afastado do bem, denominado esbulho.
Esta espécie de ação possessória é aquela adequada para a proteção da posse quando
está é molestada injustamente, esbulhada através de violência, clandestinidade ou
precariedade.
Princípio da fungibilidade
Segundo este princípio, “a propositura de uma ação possessória em vez de outra não
obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente
àquela, cujos requisitos estejam aprovados” (Art. 920 do CPC).
Isso porque os pedidos e as causas de pedir das duas demandas são completamente
diversos e, sendo assim, a outorga de uma tutela em vez de outra implicaria
julgamento extra petita.
Cumulação de pedidos
O Art. 292 do CPC/73 autoriza, genericamente, a cumulação de pedidos, nos processos
em geral, desde que sejam compatíveis entre si, que o juízo tenha competência para
julgar todos e que os procedimentos sejam os mesmos.