Fazer download em pdf
Fazer download em pdf
Você está na página 1de 5
DINTRODUCAO A anamnese psiquistrica € o principal instrumento que o psiquiatra clinico tem para conhecer seu paciente, colher sua hist6ria de doenga, estabelecer um diagndstico e por conseguinte propor um tratamento. Diferentemente de outras éreas da medicina, a psiquiatria tem pouco auxilio dos exames laboratoriais, embora essa seja uma érea de notivel crescimento nos tiltimos anos, ainda esti muito longe das outras especialidades médicas. Alguns exames como Tomografia Cerebral, Ressoniincia Magnética Cerebral, Eletroencefalograma ¢ dosagens de horménios tiroidianos vem se tornando quase imprescindiveis, mas esto ainda longe de serem definitivos no auxiflio diagnéstico. Ao se examinar um doente psiquidtrico deve-se ter em mente que naquele momento a pessoa pode estar expondo fatos importantes de sua vida, muitas vezes constrangedores ¢ que normalmente no seriam falados com ninguém, devemos entio respeitar 0 paciente nesse momento e preservar sua intimidade, para tanto uma sala fechada, sem vazamento de som, € 0 minimo que se deve oferecer ao paciente assim ‘comp local de assento razoavelmente confortavel. Nao hd necessidade de luxo que néio exista em outra situagdes do local em que se esté, se 0 paciente se sentir acolhido ‘compreendido, isso ja serd suficiente para despertar a confianga do paciente. Em um primeiro contato no € aconselhivel confrontar 0 paciente com possfveis delirios, é€ um momento de conhecimento miituo € de empatia. O médico nao deve concordar com as idéias persecut6rias que porventura o paciente apresente, ou com um delirio de culpa, ou tendéncia suicida, deve mostrar que nfo esté de acordo ‘com aquilo que o paciente diz, procurando sempre trazé-lo a realidade, mas sempre evitando um confronto direto, esse s6 deve ser feito quando o paciente jd € bem conhecido ¢ nio hé risco de que ele abandone o tratamento por isso. ‘Com pacientes em que se suspeite de idéias de suicidio, este deve ser investigado & fundo, e se necessdrio ser perguntado diretamente ao paciente se ha essa possibilidade. Falar-se de suic{dio com 0 paciente no o induz a isso, ¢ sim cria-se a possibilidade de que o assunto seja debatido e consequentemente evitado. Ao lidar com pacientes muito agitados ou violentos, 0 médico deve procurar se preservar, 0 exame deve ser feito num local que possibilite a0 médico uma “retirada” répida € © auxflio de enfermeiros treinados deve ser imediato, caso seja necessério contengio temporéria do paciente. A agressio ao médico 6 rara, mas deve set considerada, Toda a anamnese psiquidtrica deve durar em média 40-60 minutos. Ao se ater & investigagao psiquica propriamente dita, 0 examinador deve inicialmente deixar a entrevista correr livremente, buscando ganhar a confianca do paciente e os pontos que para ele sio mais importantes. Conforme forem sendo colhidos os dados, esses deverdo, pouco a pouco, ser esmiugados, num afunilamento gradual que vai culminar ‘em perguntas diretas sobre os temas ou sintomas que no ficaram bem esclarecidos na entrevista, 1) OBJETIVOS 1. TRATAMENTO 2. COMPREENSAO PSICOLOGICA 3. DIAGNOSTICO 4. ALIANCA TERAPEUTICA 11) QUEIXA PRINCIPAL Pode ou nfo ser manifesta pelo doente. E o motivo pelo qual o paciente foi & consulta. Muitas vezes 0 paciente no tem queixa propria e mesmo nega a doenga, atribuindo & outros sua problemética. Em algumas ocasides uma queixa “falsa” pode mascarar outro sintoma que realmente motivou a consulta. Deve ser descrito 0 que 0 paciente diz sobre sua vinda, com suas palavras e 0 ‘que 0 acompanhante esclarece. IV) HISTORIA DA DOENCA ATUAL. A historia da doenga atual deve ser detalhada ¢ incluir todos os sintomas observados na consulta e relatados pelo acompanhante. Inicio da doenga, internagdes ocorridas, tratamentos efetuados, medicagSes utilizadas, sintomas existentes, etc. Deve terminar com 0 relato da situago atual, que levou & procura de aux. V) HISTORIA PESSOAL, Deve ser © mais amplo possivel, dados de nascimento, evolugdo na primeira infincia, idade em que andou, controle de esfincteres, fala, doengas da primeira infincia, comportamento escolar, adolescéncia, menarca, comportamento em grupos, trabalho, envolvimento com policia, uso de bebidas alcodlicas, vida militar, religiio, vida sexual, casamento, nascimento de filhos, morte de entes queridos, menopausa, etc, Sempre se deve procurar obter as atitudes do paciente frente & essas situagdes de vida. VI) EXAME FiSICO_ Um exame fisico que investigue minimamente o doente deve ser feito. Ao Psiquiatra nfo € exigido um exame detalhado, mas como médico ele deve estar preparado para detectar possiveis patologias orginicas que podem estar contribuindo ‘ou mesmo causando uma alteragio de comportamento. Quadros. infecciosos, Endocrinopatias, Tumores, Diabetes ¢ outros podem freqiientemente desencadear alteragdes comportamentais que se consideradas apenas em seu aspecto psiquidtrico no serdo adequadamente tratadas, Vil) EXAME PSiQUICO 6 a partir daqui que a anamnese se diferencia para o psiquiatra, € nesse momento, que na yerdade comega desde que o paciente entra na sala, que o psiquiatra vai esmiugar 0 comportamento do paciente e decidir se existe algum diagndstico a ser feito. © psiquiatra deve fazer seu relato sempre sem utilizar termos técnicos, usando preferencialmente as palavras do paciente ou de seu acompanhante ou a descrigo do que vé na consulta, Deve-se ter em mente que um outro profissional que posteriormente Ieia 0 relato possa se sentir como se estivesse “vendo” o paciente. Do exame devem constar as seguintes reas do psiquismo, que podem ser descritas em qualquer ordem, dependendo mais de quem examina: 1. Aparéncia Modo de se vestir, de andar, falar, expresso facial, tiques, postura, trejeitos, gitias, etc. E realizada apenas com a observagio do paciente. 2. Nivel de Consciéncia Grau de lucidez e exame quanto & capacidade de orientagio, atengo e concentracio. E afetada principalmente em casos de Traumatismo Craniano, Infecgdes, Tumores, Intoxicagdes Exégenas ou Endégenas, Epilepsia, ou seja, casos de comprovada alterago orgénica. Deve se testar a orientagio do paciente quanto & si mesmo € no tempo e espaco. Lentiddo nas resposta ou necessidade de repeti¢ao freqliente das perguntas podem ser indicativos de déficit de atengio, assim como distratibilidade fécil. 3. Meméria Deve ser investigada em seus componentes imediato e tardio (fixagio © evocacio). Estar alterada nos mesmos casos anteriores e nas Deméncias, podendo ser testada com pequenos testes de repetigao de palavras, historias, etc. O exame conhecido como “Mini Mental” € muito stil. Em alguns casos, 0 paciente pode “preencher” os vazios de meméria_ com fabulagGes ‘mais ou menos inconscientes, ou mesmo alucinar dados de meméria. 4. Inteligéncia Definida como uma “capacidade de adaptagio ou de “resolugio de problema”, é muito afetada pela cultura, o que muitas vezes pode causar confusio no examinador. Interpretago de provérbios populares sempre ajuda e © paciente com déficit intelectual demonstraré dificuldades, tendendo a interpretagdes concretas, voltadas para sua realidade imediata. O psicético também tende a fazer interpretagdes concretas ou mesmos adapté-las ao seu delitio. 5. Afetividade Incluem-se aqui o humor bisico do paciente, o estado de animo atual, 0 nivel de envolvimento com atividades rotineiras, se hd alegria mérbida, euforia, tristeza, depressio, incongruéncia entre discurso e afetos, ambivaléncia aietiva, raiva, ira, embotamento afetivo, etc. 0 modo com que paciente fala de seus entes queridos, de seu trabalho, das coisas que gosta de fazer, sua expresso facial, io fundamentais para a avaliagdo. 6. Sensopercepcdo _Avalia-se aqui o sens6rio do paciente em todos os sentidos bisicos: audigdo, visio, gustacio, olfaclo e tato.Se hi presenca de ilusGes ¢ alucinagdes. Quadros ricamente floridos com fendmenos alucinatérios fo tipicos de psicoses esquizofiénicas, alcoolismo e uso de drogas. 7. Vontade — Investiga-se aqui 0 grau em que 0 paciente busca conseguir as coisas que deseja, as atitudes que toma. Esté intimamente ligada & afetividade. ( paciente pode estar hipobilico, hiperbilico ou mesmo abilico. 8. Psicomotricidade Muito dependente da vontade ¢ da afetividade, expressa nivel de atividade motora do paciente, deve-se investigar se esté excessiva ou inibida, se tem finalidade pratica ou nao, se as atividades sao concluidas ou nio. 9. Pensamento Deve set examinado quanto 0 seu curso, sua forma ¢ seu contetido, Existem inimeras alteragdes de pensamento, a maioria € decorrente de quadros psicdticos esquizofrénicos ou de distirbios afetivos. Quanto a0 ‘curso, este pode estar acelerado, com desvios do curso em que se perde 0 “fio da meada”, lento, com demora nas respostas, ou interrompido. Quanto & forma, pode haver desagregacio, tangencialidade, bloqueio, perseveragdo, ecolalia, etc. Quanto ao contetido, podem haver idéias delirantes dos mais diversos tipos, idéias delirdides, erros de interpretagio, fuses de pensamentos com criagdo de neologismos, ete. VII) SUMULA PSICOPATOLOGICA Nesta seedo 0 examinador deverd fazer um resumo do exame psiquico. Todos os sintomas descritos detalhadamente naquela etapa deverio ser resumidos em seu termo técnico apropriado. Quando se descreveu toda uma situagio persecutéria do paciente com detalhes de uma trama para prejudicé-lo, provocagdes, calinias, etc. pode-se resumir tudo aqui num tinico termo relatando-se: “delirio persecutério” A anamnese psiquidtrica vai culminar com um diagnéstico ou pelo menos uma hipétese diagnostica, que vai determinar o tipo de tratamento, ou tratamentos, a set efetuado. Trata-se do Manual de Diagnéstico e Estatistica adotado nos Estados Unidos, versio III revisada, 1) Avaliagéo Multiaxial - 5 eixos Eixo 1 - Sindromes Clinicas; Eixo 2 ~ Distirbios do Desenvolvimento e Personalidade; Eixo 3 ~ Distirbios e Condigoes Fisicas, importante para o problema atual; Eixo 4 - Fatores de Stress-psicossocial tipos: conjugal, ocupacional, financeiro, legal, desenvolvimental, doenga, tragédia da natureza, Eixo 5 - Avaliagio Global do Funcionamento, baseado em uma escala. I) Caracteristicas - Permite a classificagiio da certeza do diagnéstico. - Uniformiza 0 procedimento médico e diagnéstico - Permite elaboragio de pesquisas.

Você também pode gostar