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         Eu podia ver seus olhos ainda me encararem daquela forma, os olhos que me
trouxeram tanta dor. Aquelas mãos pousando sobre minha cabeça e dois segundos
depois seus sussurros ecoavam pela minha mente e meus gritos saiam facilmente pela
minha boca. E o outro ficava ali apenas se divertindo com aquelas unhas enormes. O
tom arrogante e com aquele sorriso idiota, ele havia estraçalhado minha perna, que
ainda latejava de dor e eu podia sentir o líquido se movendo dentro do meu corpo, não
sabia como era possível. Por toda parte eu sentia queimar, cada parte do meu corpo, mas
não era como se meu corpo estivesse pegando fogo, era diferente, não sabia explicar,
mas doía muito e eu tentava não fazer barulho. Se eu soltasse um pequeno suspiro era
provável que iriam me encontrar. Era mais provável ainda que eles já estivessem atrás
de mim e me matariam assim que colocassem as mãos em mim. Eles não me deixariam
escapar mais uma vez.
          Ao fazer esforço para tentar manter meus olhos abertos, sinto uma certa irritação
e minha visão embaça. Me forço ao máximo para ficar acordada e não cair no sono.
Tento focar na pintura na parede do outro lado do beco, uma gravura de um pássaro
numa gaiola sendo segurado por fios e cordas enquanto um garoto brinca de marionete
com o pássaro. Era uma pintura linda, mas me passava um sentimento soturno. Seus
olhos são tristes, mas o garotinho parece estar se divertindo. Ao redor do garoto podia
ver sombras de pessoas que pareciam estar aplaudindo o menino. O pássaro tem suas
penas opacas e algumas até estão caídas ao solo da gaiola, está morrendo por dentro e
por fora. Tudo pelo entretenimento. Ao lado da pintura há algumas escritas e grafites, eu
não entendo o que quer dizer, está em outro idioma, provavelmente na língua das
pessoas daqui. Eu ainda sinto minha cabeça doendo, mas não tanto como antes, é uma
dor tolerável.
          Fiquei ali sentada durante minutos que para mim pareciam horas, estações, anos.
A dor parecia que só piorava e eu já estava desejando que tivessem arrancado minha
perna, teria sido mais fácil pelo menos.
        O vento se tornando inverno ao tocar minha pele, o dia cedendo lugar à noite e
então tornando-se ofuscante novamente, árduo em seus detalhes. Lutava para não fechar
os olhos, já estava ficando repetitiva pensar apenas nisso, em manter meus olhos bem
abertos, mas por alguns segundos os cerrei, mas os detalhes da pintura no muro do outro
lado do beco ainda estavam brilhantes e existentes por trás das minhas pálpebras
fechadas, substituindo uma vida de memórias por uma única imagem sangrenta da
minha perna rasgada e perfurada por suas unhas. Eu o sinto, eu ainda consigo senti-lo
em minha pele. O Major fez um estrago na minha pele, mas nada se compara ao estrago
que tinha sido feito na minha cabeça. Ele virou tudo de cabeça para baixo, eu quase
poderia jurar que eu poderia esquecer quem eu sou a cada momento.
        Abro os olhos e ainda vejo o sangue saindo da ferida, junto com um pouco de
líquido transparente. Minha pele ao redor da ferida está bastante irritada. Gotas de
sangue continuam a cair no chão úmido e sujo do beco. Meus olhos voltam a marejar e
minhas pálpebras começam a ficar pesadas novamente — “Mantenha os olhos abertos
Marli.” — Me forço a ficar acordada. Tenho que ficar acordada, não posso cair no sono,
não posso. Tento abrir meus olhos mais e mais, se eu dormir nunca mais irei acordar,
nunca mais terei a chance de ver minha família, de voltar para eles. Santo deus como eu
queria que nada disso tivesse acontecido, para falar a verdade nem sabia como
aconteceu. Todavia meus irmãos, eu só queria poder vê-los novamente, não podia
perde-los também. Não poderia, não posso.
          Sinto ainda mais pressão na panturrilha, parece que o ferimento está piorando,
olho para os furos na minha perna, que ainda estavam sangrando muito, não parava. Se
eu não morresse pelo veneno, com certeza morreria por ter perdido muito sangue. Não
havia jeito, iria morrer de uma forma ou de outra. Minha perna dói mais ainda quando
penso no momento em que ele enfiou as suas garras em minha panturrilha, quando a
imagem de suas unhas crescendo como se fossem garras e penetrando minha perna e a
pressão que sentia quando o veneno se misturava ao meu organismo. Ele ainda disse
que estava errado, eu estava viva, não estava morrendo e isso era um problema para
eles. Então enfiou suas garras novamente na minha perna direita. Deveria ter sido
apenas um arranhado ou foi o que eu pensei, mas foi profundo demais. O sangue não
parava de sair e eu não sei o que fazer, nunca pensei que isso aconteceria comigo. Tá aí,
a gente nunca pensa que esse tipo de coisa vai acontecer conosco, sempre vemos isso
em filmes, mas nunca pensamos de fato que isso poderia se tornar realidade. Afinal não
existe pessoas com super poderes, pelo menos não deveria existir, mas seja lá onde eu
estava, aqui existia. Pessoas com capacidades de entrar na minha mente, de me matar
apenas com um arranhão ou até mesmo formar uma redoma protetora. Sabe se lá mais o
que aquelas pessoas poderiam fazer. Não duvido que poderiam voar se quisessem.
Nunca imaginei que isso aconteceria comigo, na verdade nunca nem cogitei que coisas
como isso existissem até o dia de hoje. Não era para eu estar aqui, nem fazia ideia de
como vim parar num lugar como esse, não existia nada assim, não deveria pelo menos.
O que estava acontecendo? Eu conhecia o lugar, mas não do jeito que estou vendo
agora. Eu conhecia cada pedaço daquela Zona, a Zona Morta como as pessoas
chamavam. Eu conhecia cada rua, beco e viela daquela região de Japryon. Era a minha
Japryon, mas estava destruída, parecia que uma bomba nuclear havia explodido ali ou
coisa parecida. Conhecia também grande parte das pessoas. Mas aqui nesse momento,
nesse estado, as ruas pareciam iguais, mas a diferença era que a minha Zona estava em
guerra. Eu nunca imaginei ver algo assim, casas destruídas, às ruas completamente
destruídas, alguns corpos caídos mortos no chão, sangue. Até o céu estava mais
sombrio, o céu azul de costume não habitava ali. Não estava com cara de que iria
chover, mas eu não conseguia nem mesmo ver o sol, mas ele estava lá, sempre estava,
devia estar pelo menos.
        Ainda não havia entendido como as pessoas saindo de seus trabalhos, às pessoas
indo festejar haviam desaparecido e tudo que sobrara da Zona 13, era os restos. As ruas
abandonadas, destruídas, tudo escuro como se não havia vida ali. Foi tudo embora num
piscar de olhos e de repente apenas dois faróis foram vistos por mim. As casas
aparentavam estar vazias, pois se havia alguém nelas, com certeza estavam sem vida.
          Eu esperava que isso fosse apenas coisa da minha cabeça, um sonho, não, um
pesadelo, bem dos ruins na verdade. Mas se isso realmente for um pesadelo eu tenho
que dar os devidos créditos para a minha imaginação, ela se superou dessa vez. Até a
dor parecia real, uma dor horrível que eu podia jurar que haviam arrancado minha
perna, mas quando eu a olhava, ela ainda se encontrava grudada ao resto do meu corpo.
Isso era bom, na verdade era incrivelmente bom saber que não tinha perdido a perna,
mas as vezes me pegava pensando em como eu queria que alguém arrancasse minha
perna.
— Mas que droga!— digo em voz alta, mas não alto suficiente ao ponto de alguém
próximo daquele beco pudesse me ouvir. Não podiam certo? Só se ouvia barulhos de
tiros e bombas explodindo não muito longe de onde eu estava. Eles haviam caído numa
emboscada, não podiam lidar comigo ali, foi só por isso que haviam me deixado ir. Só
podia ser isso. Apesar que eu sabia que eles ainda estavam por aí, provavelmente
procurando pelo meu cadáver e, se eles me encontrarem com vida, eu vou ter desejado
estar morta.
     Eu sei que ainda estão aqui, consigo senti-los, de verdade, eu realmente consigo
senti-los, principalmente o desgraçado que fez isso comigo, eu consigo sentir o veneno
se espalhando pelo meu corpo e se eu dormir, eu sei que não vou acordar, não posso
deixar que isso aconteça, não posso cair no sono, mesmo que o cansaço seja maior que
minha vontade de viver. Quero acreditar que isso não é real, mas é impossível, a dor
latejando por todo o meu corpo não consigo ignorar isso, não dá, eu tento, tento de
verdade mas não dá. Não sei como isso é possível, ele simplesmente enfiou suas unhas
na minha panturrilha, não deveria estar doendo tanto, mas está. As unhas dele eram
enormes, pareciam mais com garras e quando as tirou da minha pele, vi saindo gotas de
dentro das unhas. Por um momento pensei que fosse meu sangue, acreditava que fosse
porquê não tinha outra explicação para ser outra coisa, mas ele havia feito o mesmo com
outras pessoas antes de mim e eu havia visto eles matando aquelas pobres almas,
pessoas inocentes, pessoas comuns iguais a mim. Era o que eu achava pelo menos,
pessoas que não tinham habilidades como a deles, éramos comum, normais, sem graça.
Mas para ele isso era errado, era um crime ser uma pessoa normal. Eles tinham repudio
do que éramos, nos olhavam com nojo e como se devêssemos ter vergonha de quem
éramos. Mas eu os devolvi um olhar orgulhoso, um olhar de quem sentia nojo deles, de
pessoas tão primitivas e sem nenhum pingo de empatia pelo próximo. Eles nos
chamavam de demétricos. Nos deram até um nome, mas claro que deram, não podiam
ter nada fora do controle deles. Mas o Major, ele nos chamava de traidores. "Não são
merecedores, não são puros o suficiente para receber o poder", era o que o Major disse
para os outros, que nós devíamos ter vergonha de quem somos e que a morte era
punição insuficiente. Insuficiente. Fico imaginando o que ele faria se um homem como
ele tivesse o poder de governar uma nação, o poder de não ser desrespeitado. O que ele
faria com pessoas que fogem da sua margem de normal. Mas ele nos torturou para só
então depois nos matar. Ele acabou comigo, destruiu tudo que eu tinha. Aquela dor
insuportável invadindo minha cabeça sem intimação. Eu gritava de dor, gritava e
gritava, mas parecia que eles estavam se divertindo com aquilo. Ele. Ele ainda teve a
coragem de dizer que sentia muito por ter que fazer aquilo comigo, mas que era o
trabalho dele. São apenas homens seguindo ordens, é sempre o que dizem para pessoas
como o soldado que havia invadido minha cabeça. Ele, com os seus olhos que pareciam
com os olhos de Marvin. Havia certa inocência em seu olhar, mas o que ele fez comigo
não foi nada inocente e muito menos sem querer. Ele torturou todas aquelas pessoas que
estavam ali comigo, vítimas, pessoas comuns, pessoas demétricas como eles mesmo
disseram. Estavam nos torturando, mas a troco de quê? Logo depois que o Major
enfiava suas garras na pele daquelas pobres almas, sua respiração ficava ofegante, eles
gritavam de dor mais e mais, até que caiam no sono e sua respiração diminuía até parar.
Foi então que percebi que estavam mortas e eu não podia acabar como aquelas pessoas,
eu havia de conseguir vencer aquilo, não podia cair no sono. Mesmo que meus olhos
praticamente se davam por vencidos.
          Algo me tira da minha linha de pensamentos, então eu percebo, são passos, estão
se aproximando, "eles vão me achar" penso comigo mesma, não estou escondida, na
verdade nem me dei ao trabalho de pensar nisso. Caída no chão, no meio do lixo,
sentido uma dor surreal e fazendo o possível para não gritar. É difícil mas tento, tento de
verdade, não quero morrer, não agora, ainda tenho muito o que viver. Existem pessoas
que precisam de mim, nem a faculdade eu terminei ainda. Mas aqui estou, num beco
qualquer torcendo para que eles não me encontrem e se isso acontecer, aí sim eu estarei
morta e eles não vão me deixar escapar com vida, não de novo. Ouço uma explosão não
tão longe de onde estou, ouço gritos de pessoas inocentes, vejo pessoas correndo, vejo
outras sendo atingidas pelo... nada. Simplesmente caem no chão como se fossem nada e
pelo nada. Eu não estava sozinha, podia sentir, ele estava ali. Só podia ser ele. Devia
estar a minha procura ou então tentando se esconder pelo seja lá o que estivesse
atacando eles. Ouço tiros e mais explosões. Ouço alguns deles gritarem mais palavras
no idioma deles, são palavras desconhecidas ao meu ouvir. Nunca ouvi nada parecido
como aquilo. Sinto uma pontada na cabeça, é a mesma de antes, como se tivessem
perfurando o meu crânio, como se estivessem vasculhando o meu cérebro, procurando
por qualquer informação que fosse. Eu já havia sentido essas dores, antes mesmo de
Demus vasculhar minha mente, não sabia o que era, mas então quando chegou na minha
vez e ele vasculhou minha cabeça, foi então que chegou tudo de novo, aquela dor
maldita, aquilo significava que tinha alguém dentro da minha cabeça. O que significa
que tinha alguém dentro dela agora mesmo. Talvez tentando descobrir onde estava,
talvez seja Demus, parecia com a mesma dor de quando ele vasculhou, tinha que ser ele,
só podia ser. Aposto que já estava vindo para cá com outros soldados. Estamos no meio
de uma guerra e eu não sei como vim parar no meio disso, não era para eu estar aqui,
não era mesmo.
          Ouço alguém se aproximando, mas dessa vez está vindo por trás, olho para o
outro lado do beco e percebo que ele tem saída, "você é uma burra, Marli." penso. Eu
nem me dei ao trabalho de me esconder direito, provavelmente eles me viram entrando
aqui. Assim que me soltaram, me rastejei até o beco mais próximo, me joguei contra a
parede, lutando contra tudo que estava sentindo e nem percebi que ele tinha acesso a
duas ruas, se eu correr, não importa o lado, eu vou morrer, seja de dor ou seja por eles,
por suas mãos. Sentei mais próximo ainda da parede como se pudesse me camuflar. A
cabeça latejante com a mudança de posição. Toquei o inchaço na perna e senti a mistura
de sangue já secando com ainda sangue fresco sendo jorrado para fora da panturrilha.
Ainda nem acreditava que estava viva depois de ter perdido tanto sangue. E minha
cabeça ardia como se tivessem colocado gelo com sal em meu cérebro e se mil formigas
estivessem mordendo o centro ao mesmo tempo. “Eles vão me matar, eu não devia estar
aqui, eles vão me matar.” Meus olhos começam a fraquejar, ouço mais pessoas gritando
e mais disparos de tiros. Então ouço passos vindo em minha direção, olho para a direção
do som, mas não vejo ninguém. Tento lutar contra o cansaço, mas é quase impossível.
Olho em direção ao barulho do andar de alguém, vejo a poeira se levantar não mais do
que alguns centímetros do chão, são passos, são poeiras levantadas por passos, mas
onde estava seu corpo? Estava invisível o desgraçado. O garoto que também havia sido
preso pelos soldados, ao meu lado. Ele me disse que alguns conseguiam ficar invisíveis.
E não me surpreenderia que Demus fosse forte o suficiente para conseguir esse feito.
— Droga! — consigo senti-lo. Ele está abaixado na minha frente. Eu tento me afastar
mais dele, mas havia uma parede atrás de mim o que me impossibilitava de me
distanciar. Sua respiração batendo contra o meu rosto, seu hálito quente se chocava
contra a minha bochecha. "Por favor." mas nada, ele continua ali. Ouço ele praguejar e
sinto chegar mais perto ainda. Eu estava de frente para ele agora. "Não consigo te ver.",
penso rapidamente.
— Apareça. — digo olhando para frente, para a direção do ar que bate contra o meu
rosto, sua respiração ainda mais forte. Ele está muito perto, talvez se eu desse um soco
no ar, eu o acertaria, mas não vai fazer muito efeito, estou fraca demais, mal estou me
aguentando, não teria nem forças para levantar o meu braço. Ele não responde, apenas
fica parado na minha frente respirando profundamente. A dor volta a pulsar dentro do
meu cérebro. "Era ele, só podia ser" penso mesmo sabendo que ele podia ler meus
pensamentos. Ele solta um ar pelo nariz, como se tivesse dado um breve sorrido, e eu
solto um grito. Seguro minha cabeça com minhas mãos, mas não adianta nada. A dor
está cada vez pior. Ele sabia o que eu estava pensando. Sua respiração se chocava contra
o meu rosto, era difícil ignorar. "Me mate" digo entre meus pensamentos, "sei que pode
me ouvir", eu olho para minha frente, não vejo nada, ele não está ali, mas eu sinto sua
respiração. “Me mate” peço novamente, mas ele estava gostando de fazer isso, me
torturar. Era esse o trabalho dele, tem que seguir ordens, mas não me surpreenderia que
ele gostasse do que estava fazendo. Minha cabeça parecia que iria explodir, eu
pressiono ainda mais minhas mãos contra o meu crânio. Me forço a não gritar, não
queria lhe dar esse prazer também. Engulo o choro e olho para a direção em que ele se
encontra.  Ao invés de ver seus cabelos brancos como a neve e seus olhos de azuis tão
claros que eu podia jurar serem brancos se eu não tivesse visto tão de perto e ter
enxergado o leve tom azulado de seus olhos. Todavia o que vejo é o outro lado do beco,
tijolos manchados de muitas coisas, sangue, tinta, mofo e resquícios de lodo. Os dizeres
naquela língua que não entendo está lá do outro lado, assim como a pintura do pássaro e
do garotinho e as pichações. Eu movo meu rosto para frente, tento intimida-lo, mesmo
sabendo que será inútil. Sinto sua mão se chocar contra o meu peito e então ele me
empurra, o ar é espremido dos meus pulmões, e tudo parece encolher. Não sinto nada
além de um mundo cada vez mais apertado e a pressão de sua mão contra o meu peito
faz minhas costas bater com força contra a parede, fico sem ar por um instante e antes
que eu apague, sua mão toca minha panturrilha féria e digo uma última palavra antes de
ir para a escuridão. Sussurro seu nome.
— Demus! — E então a escuridão cai sobre meus olhos, deixo o cansaço tomar conta de
mim, não luto mais, não quero, apenas quero descansar, quero sentir que estou segura,
quero sentir que vou encontrá-lo, logo eu irei vê-lo, logo seremos um só. Eu decido
partir. Então eu apago.

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