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2 Pressupostos da valoractio dos recursos naturais O uso indiscriminado dos recursos naturais, sem se observar as suas inter-relages com o ambiente global, tem comprometido a manutengao da vida na terra. O debate sobre a valoragio dos re- cursos naturais/ambientais deve ser analisado como uma das partes de que se compée 0 todo. Os ecossistemas, como sistemas abertos, esto constantemente em processo de interagio com 0 meio ambi- ente, com os processos quimicos ¢ com as leis ecolégicas ¢ econd- micas. Neste capitulo, analisa-se a abordagem sistémica da valoragao dos recursos naturais, utilizando-se a teoria de sistemas como supor- te para a compreensio das inter-relagdes dos recursos naturais com as leis da termodinamica e da sua sustentabilidade. 7.1 — Enfoque Sistémico dos Recursos Naturais O meio ambiente apresenta caracteristicas de um sistema aber- to, que recebe ¢ exporta energia, ¢ tem como subsistemas a econo- mia, a ecologia ¢ os demais entes correlacionados. Como tal, apre- senta afluxo ¢ refluxo de energia, mas, caso nao receba inputs, certa- mente perecerd. Pela perspectiva entrépica, a manutengio da vida na terra passa por um ciclo constante de nascimento, desenvolvi- mento, regeneragao ¢ morte, Um recurso natural sé se mantém vivo, 3 Digital jizado com CamScanr Jost Aeowon Mal ente organizado, se importar energia de alta qua- externo e processd-la de modo a sustentar a sua istémico proporciona um quadro multidimensional diferentes disciplinas inverag om, implicando que a dos recursos naturais deve ser entendida como um capaz de analisar as complexas interagées (instituicées acionais do meio ambiente, decisées ptiblicas, regulamentos, normas, atribuicéo de valor) entre os subsistemas ¢ o sistema | (CLAYTON, RADCLIFFE, 1996, p. 12). Esse enfoque se apro- xima do modelo sistémico tradicional. As principais caracteristicas comuns aos sistemas abertos sio (GOLDSMITH, 1999, p. 179-187; RICKLEFS, 1996, p. 145-148; BOULDING, 1992, p- 289-300; kat: KAHN, 1987, p. 35-42 © BERTALANEFY, 1973, p. 217-218): Input de energia: nenhum organismo é auto-suficiente, ne- sempre de entrada de energia, de importagéo de energia ambiente externo, Os sistemas abertos importam ene ambiente, os ambic cessita do rgia do eres animais ¢ vegetais sobrevivem devido A troca constante de energia. Do mesmo modo, cas/humanas importam energia do meio fungio dela. suficiente as atividades econdmi- ambiente ¢ vivem em Nenhum sistema, ecolégico ou econdmico, é auto- ou autocontido: as espécies humanas e biolégicas pre- Suprimentos renovados de energia do meio ambiente interno ¢ externo, cisam de b) Transformaco de energia: toda a ener input a0 organismo € transformada, ova energia, A energia importada em encrgia disponivel: nova energia visando A gia que entra como Processada em forma de uma do ambiente & transformada 4 natureza processa materiais em forma de sobrevivéncia d: espécies, © as atividades econdsmicas também transformam energia — trabalham com mate- riais oriundos do ambiente natural ¢ devolvem Para esse ambiente energia de alta entropia, Os seres humanos também transformam 4 energia dos recursos naturais por meio do uso intensivo; quando isto ocorte, a degradagio dos recursos da natureza é iminente. " Digitalizado com CamScanr 0 Vavor oa Matuvcaa c) Entropia e yas iropia negativa: os organismos do meio ambiente se des- astam ¢ tende orre or is i i i tam e tendem a morrer, por isso é imprescindivel que esses si emas adquiram entropia negativa, Para sobreviver, os sistemas aber ss precisam mover-se a fim de deter o processo entrépicos neces- jam adquirir entropia negativa ~ energia transformada de baixa cnrropia ~, visando evitar a desorganizagio do sistema. Assim, 0 ocesso entrdpico dos sistemas abertos conduz & desestruturagao dos organismos bioldgicos; o sistema aberto, que importa mais ener 4 do meio ambiente do que a que despende, arm adquire entropia negativa, O processo entrépico impde-se em f° nena energia € “os os seres vivos ¢ atividades econdmicas, contribuindo para 0 desgaste da manutengdo da vida na Terra. 4) Feedback Negativo: rodo sistema aberto, a0 receber energia ou input em demasia, emite uma mensagem de feedback negativo vim o intuito de manter o sistema na diregao correta, Os inputs para os sistemas abertos no consistem somente em materiais con- vendo energia, os quais so transformados em novas formas de ener- gia; as entradas de materiais nos sistemas abertos também sao de earéter informativo, proporcionando uma sinalizagao, wna espécic de sensor que avisa ao sistema sobre a qualidade de energia vetroalimentada, mecanismo de feedback negative permite aos sis- dares abertos corrigirem distorgées ese ajustarem a umm novo estado de equilfbrio. Quando o feedback de um sistema é interrompido, 0 sou estado de equilibrio desaparece, a entropia domina os seus meca- nismos de retroalimentagao, conduzindo-o 20 perecimento. Ener- gia de baixo aproveitamento ~ dejetos industriais, excess de polui- Ao € outros tipos de lixo — constitui-se em excesso de input, que os v sremas abertos: nao rém possibilidade de absorver, O conceito de capacidade de suporte é um mecanismo de informagao para os siste- mas abertos: 0 ambiente natural emite uma mensagem avisando 0 quanto cle pode suportar de dejetos oriuindos das atividades econd- micas € 0 aviso codificado por meio de um sensor que reflete o desaparecimento de algumas espécies. Um aumento da poluigéo em grande escala, acima dos ntimeros permitidos, afeta a satide huma- 5 Digitalizado com CamScanr 0 Vator on Narureza c) Entropia negativa: os organismos do meio ambiente se des- gastam ¢ tendem a morrer, por isso é imprescindivel que esses sis- temas adquir m entropia negativa. Para sobreviver, os sistemas aber- tos precisam mover-se a fim de deter o processo entrépico; neces- sitam adquirir entropia negativa — energia transformada de baixa entropia -, visando evitar a desorganizacao do sistema. Assim, 0 proceso entrépico dos sistemas abertos conduz & desestruturagao dos organismos biolégicos; o sistema aberto, que importa mais ener- gia do meio ambiente do que a que despende, armazena energia ¢ adquire entropia negativa. © processo entrépico impée-se em to- dos os seres vivos e atividades econémicas, contribuindo para © desgaste da manutengéo da vida na Terra. d) Feedback Negativo: todo sistema aberto, ao receber energia ou input em demasia, emite uma mensagem de feedback negative com.o intuito de manter o sistema na diregSo correta. Os imputs para os sistemas abertos ndo consistem somente em materiais con- tendo energia, os quais so transformados em novas formas de encr- gias as entradas de materiais nos sistemas abertos também séo de carter informativo, proporcionando uma sinalizagao, uma espécie de sensor que avisa ao sistema sobre a qualidade de energia retroalimentada. O mecanismo de feedback negativo permite aos sis- temas abertos cortigitem distorgdes e se ajustarem a um novo estado de equilibrio. Quando o feedback de um sistema € interrompido, © seu estado de equiltbrio desaparece, a entropia domina os seus meca- nismos de retroalimentagio, conduzindo-o ao perecimento. Ener- gia de baixo aproveitamento — dejetos industrials, excesso de polui- ao ¢ outros tipos de lixo - constitui-se em excesso de input, que os sistemas abertos: nado tém possibilidade de absorver. O conceito de capacidade de suporte é um mecanismo de informag&o para os siste- mas abertos: 0 ambiente natural emite uma mensagem avisando 0 quanto ele pode suportar de dejetos oriundos das atividades econd- micas ¢ 0 aviso é codificado por meio de um sensor que reflete o desaparecimento de algumas espécies. Um aumento da poluigao em grande escala, acima dos numeros permitidos, afeta a satide huma- 15 Digitalizado com CamScanr Jose Arouoo Mora de vida nos ecossistemas. O sensor na, desequilibrando o sistema O s tema consiste em alto indice de sestrucuragao do si que informa a d doengas do aparelho respiratério, ga ¢ nurengio ao longo do tempo dos coeficientes de morbidez. 6) Homeostase: € um conjunto de elementos auto-reguladores dle um sistema aberto que permite manter 0 estado de equilibrio do meio ambiente. A energia importada do meio ambiente de baixa entropia é usada para manter uma constancia no sistema; existe um intercambio constante entre os diversos sistemas por meio de influ- xos ¢ exportagio de energia. O processo homeostatico envolve a manutengao do sistema por intermédio da reduzida variabilidade decorrente dos efeitos externos; 0 importante é a preservacéo do cardter estaciondrio do sistema. Excesso de energia entrépica con- duz o sistema a no mais suportar o estado de equilfbrio inicial, tos hospitalares excessivos e ma- conduzindo-o para um novo ponto de equilibrio ou para a sua com- pleta deterioragéo, Observa-se que mudangas quantitativas precisam de subsistemas de apoio que possam produzir melhoras qualitativas no funcionamento de um sistema. Os conceitos de capacidade de suporte € de resiliéncia dos sistemas ambientais precisam ser mais quantidade excessiva de pessoas que usufruem das belezas dos locais de recreacio ao at livre contribuem para degtadar © meio ambiente desses locais e modificar ou mesmo deteriorar 0 seu estado homeostético. Nao se tem atualmente resultados de pes- uisas cientificas que nos possibilitem entender o processo ¢ o tem- po de regeneracao desses locais, mas sabe-se que alguns recursos na- turais so renovaveis e recicldveis bem explorado: a Por meio, principalmente, do avan- go técnico. Processos tecnoldgicos de recicl nientes do meio ambiente estéo a0 alcanci técnicas de clonagem podem possibilitar sos naturais. Isso somente é Pos: ‘agem de materiais prove- ‘¢ do homem, assim como t4o ambiental. O cardter homeostéti de gest4o do meio ambiente, Digitalizado com CamScanr 0 Vicor ox Natute2n nario dos recursos naturais, Para 5 cost: é sos naturais, Para se Deets - Para se manter o estado homeostitico essitio que se mantenha, por exemplo ; a homotermia, ou seja nes empe! i a ° esma temperatura, A maiatia dos pass : enema A maria dos pssaos mamfferos mantém a sua temperatura entre 36° Ce 41°C 5, mesmo que a temperatur sbiente esteja variando entre -50° Ce 450° : ty seme: nce a interago entre a atvidadesecondmicaThurnenen¢o ome ente natural também esté sujeita & regulagdo. O nivel de inter- clagao entre esses dois sistemas € regulado por meio de um sensor, gue mensura a quantidade de respostas emitidas para 0 meio ambi- ente, como processo de retroalimentagao das atividades econdmi- cas. O sensor € um indicador como, por exemplo, o PIB, que sinaliza 0 crescimento econémico. Ele deveria representar, no seu cbmputo, a degradagao/exaustao do capital natural. Outros sensores sinalizam a qualidade de vida de populagées urbanas: 0s niveis de poluicio do ar € poluigao sonora séo exemplos de degradagao € exaustao dos recursos naturais e de deslocamento homeostdtico dos ativos ambientais.! Os ativos naturais? s4o auto-regulados ¢ capazes de con- servar por si préprios a sua estabilidade, tanto em termos de resiliéncia como em termos de resisténcia. Os sistemas naturais so auto-sus- tentaveis ¢ se desagregam & medida que as atividades econdmicas! humanas interferem em seu meio ambiente. Mesmo sem a interfe- réncia humana, os sistemas naturais podem ser perturbados, mas exis- tem agentes que exercem ago de correcio do sistema para um novo ponto de equilibrio. LOVELOCK (1991, p. 19-20) demonstra que a pria Gaia? manifesta um comportamento homeostatico por meio amento que a Terra mantém com o seu meio ambi- ‘As inter-relacdes observadas nos organismos vi- vos agem também nos sistemas nacurais, permitindo, assim, explicar a estabilidade desses sistemas. O nivel de estabilidade dos sistemas € varidvel ¢ depende dos fatores do ambiente, além da eficiéncia dos controles internos. Conforme ODUM (1988, p. 29), existem duas estabilidade: “A estabilidade de resisténcia (a capacidade ea estabilidade de elasticida- pré do inter-relacion ente — a atmosfera. formas de de se manter estavel diante do estresse) de (a capacidade de se recuperar rapidamente)”. VW Digitalizado com CamScanr J 9 Mote acowamento das energias € aS exporta f yt: recebe 0 | marae meio ambiente, contribuindo, assim, pars © processo de varoalimentagio do sistema, O output representa © produto, a saida senecem material ¢ energia de bai- siste os recursos naturais f spia para as atividades econdmicas/human Ito nivel de entropia, a ambiente material com @ biental, causando no- que por seu turno 1 ao meio nta os sistemas econdmico ¢ am! imer o ambiente natu- gual retro} as. O proceso € pernicioso para micas ¢ para a manurengao da vida na vas ¢ altas entropii ral, para as atividades econé Terra 2.2 — Leis da Termodindmica e o Sistema Natural 5 recursos naturais fornece a base a termodinamico ¢ a sua in- s econémicos. A revolu- O entendimento sistémico do: principal para a andlise do paradigm fluéncia no meio ambiente ¢ nos processo 4] marcou uma profunda transformacao da relacdo do tureza, O aparecimento da maquina a vapor per dustrial mecanizada, a cao industri homem com a nai scimento de uma produgao in al e comercial da época, provocan- dem econémica, ecoldgica, mitiu o cre: qual modificou a estrutura soci do grandes ¢ ripidas mudangas de or politica ¢ social. A primeira fase da revolugéo industrial — de 1780 a 1860, revolugio do carvio e do ferro — revolucionou a mecanizagao da industria e da agricultura com o aparecimento da maquina de fiar (tear mecinico). Com a invengao da maquina a vapor, iniciaram- ndes transformagées nas oficinas, o desenvolvimento da formou 0 artesio em operario, oficinas fami- Jiares em fabricas ¢ usinas ¢ surgiram as primeiras imigragoes de mmassas humanas das areas agricolas para as proximidades das fabri- jagdes urbanas. Além dis- se as gral industria fabril trans! cas, provocando o crescimento das popul Jo a vapor, a construgio de estradas de ferro na $0, Com a navega Estados Unidos e a invengao do telégrafo elétrico Inglaterra ¢ nos I celerado dos transportes € ¢ do telefone houve um crescimento a das comunicagoes. 18 Digitalizado com CamScanr 0 Viton on Marurezn A segunda fase ¢ revolugio industrial — de 1860 a 1914, revo- lusao do ago e da eletricidade ~ caracterizou-se pelo desenvolvimen- to de novo processo de fabric ‘io de ago, pela substituigio do vapor pela cletricidade ¢ pelos derivados do petréleo como principais fon- tes de energia. Surgiram os primciros automéveis na Alemanha (Daimler ¢ Benz) ¢ nos Estados Unidos (modelo T da Ford) ¢ novas ¢ revoluciondrias formas de organizagio de negécios foram implementadas, em decorréncia da acumulagio de capital e da ex- ploragio da mais valia, ta de trustes, cartéis, fus is como: dominagao industrial, formagao s empresariais, companhias holdings e expan- sao industrial. Portanto, 0 process entrépico dos recursos naturais teve seu dinamismo acelerado na revolugio industrial, assim como o seu inter- rclacionamento sistémico. CLAUSIUS (1888) fundamentou esse prin- cipio, afirmando que “o calor nao pode passar, por si sé, de um corpo mais frio para um corpo mais quente” (apud GLEISER, 1997, p. 211-226). Toda forma de cnergia precisa de trabalho para a sua transformagio. Nos sistemas fechados, toda a energia dispontvel" se dissipa, ou seja, transforma-se em energia latente, que gera entropia méxima para o sistema, onde qualquer trabalho ¢ imposstvel de ser realizado. Nos sistemas abertos, 0s processos entrépicos conduzem & morte da vida na natureza, ja que as atividades econdmicas ¢ huma- nas so degradadoras do meio ambiente. O estado de equilibrio dinamico é mais bem analisado pelos princfpios termodinamicos. A Primeira Lei da Termodinamica, ou lei da conservagio, formulada a partir da necessidade de se compre- ender a relagio entre calor ¢ trabalho, afirma que matéria ¢ energia nao podem ser criadas ou destrufdas, mas somente transformadas. A queimada de uma floresta de um Parque Nacional dissipa calor, trans- formando a madeira em carvio ¢ cinzas. Nesse processo, a energia nao desaparece, apenas se dispersa pelo espago, assumindo um novo estado, Em um Parque Nacional, por exemplo, as plantas, por meio da fotossintes , consomem minerais, gases ¢ materiais brutos do solo e Ww Digitalizado com CamScanr Jost Axouno Mota do sol para converter esses materiais em ener- 1a biosfera, onde animas ¢ do are usam a energ se da cadeia alimentar ¢ terativamente, Assim, a quantidade total de ener- gia orginica, | plantas convivem i gia nao é criada nem destrufda, mas apenas transformada de um estado para outro (MERICO, 1996, p. 41). Por conseguinte, pouca ou nenhuma energia é dissipada e 0 sistema tende ao equilfbrio homeostético, gerando pouca ou nenhuma entropia. A Segunda Lei da Termodinamica, ou lei da entropia, é enunci- ada como a medida quantitativa da irreversibilidade. A entropia é representada pela quantidade de energia que nao € mais capaz de realizar trabalho e também é a medida do grau de desordem na na- tureza, Nos processos naturais, a energia livre ¢ transformada em energia latente, dissipada no meio ambiente; portanto, nao mais disponfvel para gerar vida nova (BOULDING, 1993, p. 301). Essa nova energia ndo disponivel — entropia — assume a forma de poluicao, exaurindo os recursos naturais ¢ degradando-os. Segundo SCHRODINGER (1944), um sistema somente poderd permanccer vivo, distante da entropia mdxima ou da morte “retirando continuamente entropia negativa do seu ambiente. (...) Portanto, 0 estratagema que 0 organismo usa para se manter estaciondrio em um nivel bastante alto de ordenagao (= nfvel bastante baixo de entropia), na verdade consis- te em continuamente sugar ordenacao do seu ambiente (...); as plan- tas (...), €claro, conseguem seu suprimento mais poderoso de ‘entropia negativa’ na luz solar” (apud SCHNEIDER, KAY, 1997, p. 193). A declaragao e a constatagao da segunda lei sao simples. Muitos estudos tém demonstrado as suas implicagées, entre as quais desta- cam-se (EHRLICH, EHRLICH, HOLDREN, 1993, p- 71): a) em qualquer Processamento ou transformacio de energia, alguma energia é dissi- pada (essa propriedade ocorre também nos Processos de troca de energia entre os entes de um mesmo ecossistema; entre esses ele- mentos gera-se energia de baixa entropia, ao contrério das ativida- des econémicas, que geram energia degradadora do meio ambien- te); ¢ b) em nenhum processamento de energia € poss{vel que 0 nico resultado seja a conversio de uma determinada quantidade de 20 Digitalizado com CamScanr 0 Vator ox Narureza calor ~ energia térmica — em uma igual quantidade de trabalho «til (todos os processamentos de energia geram entropia de baixa ou alta intensidades). © comportamento organizado, a esséncia da preservacio da vida, é considerado pela termodinamica. Quanto mais input de enet~ gia de alta qualidade o sistema recebe, mais préximo do equilibrio ele esta Um sistema aberto alimentado com este tipo de energia pode ser afastado do equilfbrio, mas a natureza, mesmo em um esta- do de desordem, possui mecanismos de resisténcia a afastamentos do equilibrio. Portanto, a vida surge porque a termodinamica comanda a or- dem do sistema a partir da desordem ou da ordem. Entio, nao exis- te vida sem ambos os processos, “ordem a partir da desordem para gerar vida e ordem a partir da ordem para dar-lhe continuidade” (SCHNEIDER, KAY, 1997, p. 198). A questao principal nesse discurso ¢ a continuidade da vida por meio do intercdmbio natureza-homem-atividade econémica. GEORGESCU-ROEGEN (1993, p. 75) tem discutido esses pontos. Para ele, a atividade econdmica produz bens titeis & satisfacao do homem, pela transformagio dos valiosos recursos naturais, produtos da natu- reza de baixa entropia, exportando para a natureza o lixe proveni- ente de suas atividades, dejetos materiais de alta entropia. Por outro lado, afirma que o resultado € que “(...) cada vez que produzimos um Cadillac, o custo de fazermos isso é a diminuigao no numero de vidas humanas no futuro.” Esse indicador de crescimento econdmi- co € refletido por meio da abundancia industrial como uma béngio para a geragdo presente, mas é definitivamente contrétio ao interes- se da espécie humana. A energia existe em dois estados: dispontvel ou livre ¢ nao disponivel ou latente. Do ponto de vista da termodinamica, maté- ria ¢ energia participam do proceso econdmico em um estado de baixa entropia e geram produtos em um estado de alta entropia. A nio-sustentabilidade da explorasio dos recursos naturais gera dejetos que retornam & natureza na forma de matéria e energia entrépicas, 2 Digitalizado com CamScanr Jost Arouoo Mota comprometendo a recomposigto dos ativos da natureza ¢ afastan. do-os do ponto de equilths . Assim, a entropia nunca pode sep + criada (FABER, NIEMES, STEPHAN, 1995, destruida, somente pode s p. 87). Realmente, a cadeia alimentar da natureza pode gerar entropia, | mas de bai intensidade, que a prépria natureza consegue dissi. par. Concomitantemente, as atividades econémicas/humanas ex. ploram materiais da natureza ¢ geram energia por meio do proces- so produtivo, causando entropia de alta intensidade, que degrada © meio ambiente. Alta entropia significa exaustao ¢ morte do meio ambiente, da vida na terra, seja animal ou vegetal, de uma drea Preservada de um ecossistema (Parque Nacional) ou da preserva. Jardim Zoolégico). Portanto, a Segunda Lei da Termodinamica implica ersibilidade do tempo. Isso nao é veri tempo fisico, mas também (VERCE Sao de espécies animais ( irrev dadeiro somente para o nvertido ¢ absorvido nos pro- MAY, 1995, p. 6). A Digitalizado com CamScanr 0 Vavow 04 Narutan rao da degradagao ambiental. Para RINSWANGER (1993, p. 229), as principais implicagoes da Segunda Lei da : ermodinamica si a) A irr rsibilidade temporal dos processos entrdpicos: 0 aumen- co de entropia em um sistema aberto pode ser compensado por meio ic insumos de entropia negativa do meio ambiente. Ocorre que 0 po é um proceso irreversfvel ¢ os demais ecossistemas nao so sistemas abertos. b) A cficiéncia ecoldgica: as teorias ecolégicas que incorporam co- nhecimento termodinamico fornecem novos discernimentos para a efi- ciéneia dos ecossistemas, pois auxiliam 0 entendimento dos diferentes aspectos de eficiéncia termodinamica nos ecossistemas ¢ podem levar a conclusdes sobre como as atividades em sistemas econdmicos poderiam ser organizadas num caminho ecologicamente mais eficiente; ©) As mudancas evoluciondrias e aumento de entropia: os siste- mas abertos esto conectados & dissipagao de energia e matéria. Esse conhecimento aplicado aos ecossistemas ¢ sistemas ccondmicos for- nece uma importante ligacao entre economia evolucionaria e degra- dagao do meio ambiente. 2.3 — Sustentabilidade dos Recursos Naturais A expresso “desenvolvimento sustentével”, sugerida pela World Commission on Environment and Development (wcED), refere-se 4 trajetéria do progresso humano, levando em conta as necessidades ¢ aspiragbes da geragéo presente sem comprometer a capacidade das geracées futuras de encontrar as suas prdprias necessidades ¢ aspira- ses. O conceito de desenvolvimento sustentavel ¢ condicionado por limitagoes de cunho tecnolégico, de organizagao social do pla- neta ¢ da capacidade da biosfera de absorver os efeitos da atividade econémica/humana (O'CONNOR, 1998, p. 19 ¢ BRUNDTLAND, 1991, p. 9-10). De modo semelhante, soLOW (2000, p. 132) tem enfatizado que a sustentabilidade deve ser analisada pelo ponto de vista da justi- Ga entre as geragdes, compartilhando bem-estar entre as pessoas do presente ¢ do futuro. As polfticas ptiblicas ambientais devem con-. 2B Digitalizado com CamScanr Jost Azoun0 Mora 1 abilidade dos ecossistemas do ponto de jo da sustent v intergeracional. | DALY (1993a, p: 325), € posstvel somente . sendo definida por uma de artefatos, permitindo tor. o futuro. Além do que, atéria/energia fosse templar a questi : vista da justiga distributive 4 sustentabilidade, pat ) 1 estiver em estado estacion’ ¢ a economi: constante de seres humanos ¢ de vida melhor ¢ sustentavel ni a taxa de processamento de m: haveria uma melhor utiliza. popula nar a qualidade seria necessario qu reduzida para um nivel mais baixo. Assim, ; jtativos do crescimento em provelto dos quali- inte substituig4o do capital material — capital cao de elementos quant tativos, obtida pela consta tradicional, consumo de energi ~ pelo capital intang(vel, que compreende informagio, cultura ¢ educa- sto. ja, matérias-primas € recursos renovdveis Nessa linha de raciocinio, COSTANZA, DALY (1997; p. 72); EL SERAFY (1997, p. 196-197) e PRUGH (1995, p. 47) propdem que a sustentabilidade deve ser analisada sob dois prismas: o da sustentabilidade forte ¢ 0 da sustentabilidade fraca. A sustentabilidade forte esté ligada aos principios de economia ecolégica.’ O capital natural e manufaturado séo complementares € nGo substitutos. E importante, pois, manter incélume o estoque de capital natural, independentemente do estoque de capital manufa- turado. Preservar o capital natural ¢ 0 manufaturado é a condigao minima para se alcangar a sustentabilidade. Para qualquer cenario de crescimento econémico, o principal fator € 0 uso de recursos naturais, cuja degradagéo avanga com 0 processo econémico. En- tao, a fim de se adquirir a sustentabilidade do capital natural, de- vem-se analisar os seguintes pontos: tri fo acco ca ee en desses recursos; iovh capacidade'de tegeneraréo * gerar uma quantidade de cidade de suporte do meio amb * compensar a degradaca 3 acteoah ded Bradacao dos recursos naturais nio: lesenvolvi ‘nvolvimento de recursos substitutos renovévei, desperdicios compat{vel com a capa- iente; ¢ -renovaveis s. "4 Digitalizado com CamScanr 0 Vator oa Narurexe A sustentabilidade fraca indica que o capital natural sé deve ser consumido & medida que for compensado por aumentos no capital manufaturado. A sustentabilidade fraca tem sido argiiida como um conceito importante para a mensuragao da renda, pois nao se deve confundir a renda com a venda de ativos naturais. Por esse princ{pio de sustentabilidade, portanto, a renda tem de ser sustentavel, ou seja, a exploragao do capital natural tem de ser contabilizada no sistema de contas nacionais. Os defensores da economia neocléssica acreditam que a exploracao do capital natural pode ser compensada por politicas que possibilitem substituir os ativos naturais. Por seu turno, os acréscimos compensatérios no capital feito pelo homem sio fatores neoclassicos de substituibilidade, e sio decorrentes: * Da elasticidade de substituigéo: quando a clasticidade de subs- tituigo entre o capital natural ¢ 0 capital manufaturado for superi- or a unidade. * Do progresso técnico: a taxa de crescimento da populagéo deve ser inferior & taxa de avango técnico, exatamente visando a compen- sar a degradacao do capital natural. A Escola de Londres® analisa o problema da sustentabilidade a partir da articulagao entre 0 meio ambiente ¢ 0 crescimento econd- mico, ou seja, entre a sustentabilidade fraca ¢ a forte. Uma grande parte dos ativos naturais caracteriza-se pela sua multifuncionalidade, suprindo fungoes ecoldgicas, econdmicas € recreativas. Uma parte desses ativos naturais é denominada de capital natural critico (EAUCHEUX, NOEL, 1995, p. 360). Os ativos que compéem o capital natural nao sio homogéneos. Hé uma clara distingao entre capital natural mercantil e capital na- tural ndo mercantil. A substituibilidade ou a complementaridade podem ser empregadas. Pode ser factivel substituir um ativo natural por uma tecnologia apropriada. COSTANZA (1997a, p. 55) defende o conceito da sustentabilidade do ponto de vista de sua dimensdo ecolégica. A sustentabilidade nao implica condicionar a atividade econdémica ao estado estacionario; ao contrdrio, deve-se discuti-la considerando os aspectos do crescimento e do desenvolvimento econémicos. 5 Digitalizado com CamScanr Jost Arouoo Mota td associado a0 aumento quantita- nsiderar a exaustao dos recursos ntavel ¢ no existe indefinida- lvimento econdmico acar- mento econdmico es O cres tivo da atividade econdmica sem CO} | nfo pode ser suster eta finito. O desenvol o na qualidade de vidi ursos nacurais consumidos. 3-34), a sustentabilidade pode ser do capital natural ¢ do fluxo de naturais. Por iss mente em um plant reta um melhorament a sem, necessariamente, causar um aumento dos rect Para TIETENBERG (1996, p-3. pela dtica do bem-estan s. Aandlise da sustentabili “estar das geragbes Futuras que o estoque de capita edo capital nacural enfa gue o capital natural ¢ 0 capital Tidades de substituigao. A fluxo de setvigos fisi- analisada dade pela 6tica do bem-estar servigos fisico refere-se ao bem: 9 mesmo nivel das gera- goes presentes, de modo | total se manteria no mesmo patamar. O enfoqu tiza a preser- ‘0 dos recursos naturais ¢ assume o homem tém limitadas possibil de, analisada pela perspectiva do ao do recurso selecionado em xo de servicos para as diversas ativid vaca feito pel sustentabilida cos, enfoca a preserva tural, de forma que o flu econdmicas/humanas nao seria interrompido. ‘A sustentabilidade pode ser também enfocada pela 6tica da teo- ria de sistemas, pela qual o equilibrio ocorre quando nao ha nenhu- ma mudanga no ecossistema, de modo que recurso natural pode recompondo-se, voltando a um meio ambiente existe nascimento ¢ morte de espécies, relagoes seu estado na- lades adquirir resiliéncia, estavel. Nesse estado, cooperativas € competitivas de populagdes, mas também existe um momento em que o sistema busca 0 equilibrio (BOULDING, 1991, p- 23). A valoracao dos recursos naturais pelo ponto de vista da teoria de sistemas permite ao decisor ptiblico entendet que a questao de nergia preco dos ativos naturais é apenas uma forma de entrada de e ci- disponivel, que retroalimenta o funcionamento do sistema de de one ‘ ferramentas de valorasio auxiliam as decis6es publicas P° va abe glen sapacideds de assimilagéo do sistema ambiental, i de uso ¢ exploracao capacidade de suporte'é limitada ao controle pelo homem. %6 Digitalizado com cam cans | O Vator oa Narueer, No entanto, a discusséo sobre a sustentabilidade dos ativos s conduz.& andlise de sua capacidade de regeneracdo, Desta mancira, as decisdes com relagao ao preco de recursos naturais de uso comum adquirem melhor embasamento, pois estdo sustenta- ambient das na compreensao de que os recursos naturais s&o sistemas aber- tos, que continuamente trocam energia com o meio ambiente ex- reno. A dimensao da formulagio de polfticas ptiblicas esté embasada na sustentabilidade de uso dos recursos naturais. Para SACHS (2000. 9 p. 12, 1997ab, p. 473-475 ¢ 1993, p. 37-38), no planejamento do desenvolvimento devem-se considerat, concomitantemente, as se- guintes dimensoes: + Sustentabilidade social: parte do principio da justiga social, ou seja, embasa-se nos conceitos de melhor distribuigao de renda e de bens, de modo a permitir a redugio das diferengas nos padrées de vida entre as classes sociais. * Sustentabilidade econmica: refere-se ao étimo locacional ¢ gestio eficiente dos recursos, assim como a um constante fluxo de inversdes publicas e privadas que, necessariamente, devem ser analisa- das ndo somente pela ética do retorno empresarial, mas também em tetmos de retorno social. + Sustentabilidade ecoldgica: relaciona-se com 0 uso adequado dos recursos dos diversos ecossistemas, com destaque para os produ- tos fésseis € residuos de origem industrial. Esse proceso de simbiose pode ser equilibrado por meio de tecnologias apropriadas ao desen- volvimento urbano, rural e industrial. Define um arcabougo institucional ajustando o desenho das instituigdes a um novo mode- lo de protecao dos recursos naturais. * Sustentabilidade espacial: € adquirida a partir da eqitidade distributiva territorial dos aglomerados humanos ¢ econdmicos, objetivando minimizar o impacto nas regides metropolitanas, pro- teger os ecossistemas frageis ¢ instituir unidades de reservas naturais a fim de proteger a biodiversidade. _ ; * Sustentabilidade cultural: inclui solug6es criativas para 0 conceito de ecodesenvolvimento, por meio de solugbes especificas que possibi a Digita izaco com CamScanr José Arouno Mota tem a continuidade cultural, conremplando-se a regido, sua cultura ¢ seu ecossistema. * Sustentabilidade ambiental: consiste em se respeitar a capaci. dade de suporte, resisténcia ¢ resiliéncia dos ecossistemas. © Sustentabilidade politica nacional: baseada na democracia ¢ no respeito aos direitos humanos, de modo que o Estado implemente um projeto nacional em parceria com todos os atores desse proces so. + Sustentabilidade politica internacional: consiste na aplicacao do principio da precaugao na gestaéo dos ativos ambientais, assim como em garantit a paz entre as nagdes € promover a cooperacio internacional nas dreas financeira e de ciéncia e tecnologia. A questo da sustentabilidade dos recursos naturais mereceu des- taque nas principais conferéncias sobre 0 meio ambiente. Nos pré- ximos tépicos, abordam-se os eventos que mais se destacaram na discussao dos problemas ambientais globais: 0 Relatério Meadows, como marco de preocupagao dos problemas do meio ambiente; a Conferéncia de Estocolmo, representando a coroagao do movimen- to ambiental; O Nosso Futuro Comum, que enfatizou o conceito da sustentabilidade do desenvolvimento econémico; e a Conferén- cia do Rio de Janeiro, que traduziu os problemas ambientais em um plano de agao — a Agenda 21. 2.3.1 — 0 Relatério Meadows Em abril de 1968, um grupo de trinta pesquisadores de diver- sos pafses reuniu-se na Academia Lincei, em Roma, para analisar @ situagao presente e futura do homem (Boxe 2.1). Cinco elementos bdsicos, que representaram os limites para o crescimento, foram ana- lisados: 0 crescimento demogréfico, a produgao de alimentos, 0 rit- mo do crescimento industrial, os niveis de poluigao gerados pela atividade econdmica ¢ 0 consumo de recursos naturais ndo- renovaveis. Cada um desses pontos foi analisado exaustivamente € © grupo concluiu que os seus crescimentos no transcorrer do tempo seguem uma tendéncia exponencial, ou seja, esses elementos cres- 28 Digitalizado com Cam 1 (0 Vator pa Naruneza cem em ritmo de progressio geométrica (( (GRINEVA pows et al., 1975). LD, 1993, p. 3} Para analisar os limit i ; iiites para crescimento, as caegorias de sjemnentos foram estudadas. A primeira inclui . | 2 f tudadas. A primeira inclui as necessidades fisicas, que subsidiam as fisiolégicas e industriais — comida, matérias-primas, i] ¢ combustfveis nucleares —, € os sistemas ecoldgicos do planeta, que absorvern dejetos ¢ reciclam substancias. A segunda categoria de ingredientes necessétios para o crescimento consiste nas necessidades sociais. Até mesmo se os sistemas fisicos da terra forem capazes de absorver um crescimento constante da populacao, 0 crescimento atu- al da economia dependerd desse fator, a fim de que possa gerar paz € estabilidade social, educagao e emprego, ¢ afiancar 0 progresso tecnoldgico. Boxe 2.1: O Clube de Roma eas Limitagdes ao Crescimento Por sugestao do industrial italiano Aurelio Peccei, foi criado, em 1968, 0 Clube de Roma. 0 Clube langou 0 relatério The Limits of Growth, denominado Relaté- tio Meadows, cujos coordenadores foram Donella e Dennis Meadows. O docu: mento chocou a opinido publica, mas os propagadores do crescimento econd- mico consequiram minimizar 0 seu teor, acusando os seus autores de alarmistas « catastréficos. Apesar de seu contetido chocante, 0 relatério uma advertén- cia, pois nao fazer nada em prol do meio ambiente & contribulr para o aumento do risco ambiental. GRINEVALD (1993, p. 39) afirma que “na histéria das id6ias, © Relatério Meadows pode ser comparado aos livros De Revolutionibus, de Copémico, a A Origem das Espécies, de Darwin’. A mensagem foi bastante evidente: um meio ambiente finito impde limitagGes ao crescimento economicos no qual esto inseridas a demografia, a industrializagéo, @ exaustao dos recur- sos minerais e a poluigao. O Relatério do Clube de Roma encontrou dificuldades para predizer o futuro, mas alertou 0 mundo sobre a sustentabilidade do crescimento econdmico acelerado. Comida, recursos ¢ um ambien- te sauddvel sdo necessdrios mas no condigées suficientes para 0 cres- cimento. Até mesmo se eles sao abundantes, 0 crescimento pode ser estancado pelos problemas sociais. Finalmente, o relatério conclui que as restrig6es quantitativas do meio ambiente mundial conduzirao a uma revisio do comporta- n Digitalizado com CamScanr Jost Arouoo Mora nda a sociedade; as taxas de crescimenty © 0 mento humano ¢ de ; Jo de equilibrio em nosso planet; 1 0 estad «desenvolvimento absoluto ¢ relativo entre er alcangado por meio de uma estratégig fe desenvolvimento deve ser incluida, mem com o scu meio ambiente; a te usada constituiu-se em uma a dimensao do problema; demogrificas ameagam equilibrio, em termos d as nagées, somente pode s global; na estratégia global d principalmente, a relagio do ho abordagem quantitativa excessivamen ferramenta relevante para demonstrar medidas puramente técnicas, econdmicas ¢ le mente os dispositivos para conduzir 0 equilibr necessitando, pois, de esforgo para a compreensao do problema, ima- ginacio, solugio politica e moral e mudanga de comportamento fren- te aos valores ¢ metas dos individuos ¢ das nagées; 0 desafio da mu- danga é atribufdo & geragao presente, O Relatério Meadows causou polémica e serviu como subs{dio para os debates da Conferéncia de Estocolmo (BuRSTZYN, 1995, p 105). gais nao so necessaria- jo do crescimento, 2.3.2 — A Conferéncia de Estocolmo A Conferéncia de Estocolmo, realizada entre 5 e 16 de junho de 1972, é considerada um marco do ambientalismo global (Boxe 2.2). Representa 0 coroamento do movimento ambiental, que jé vinha se estruturando desde o final dos anos 60, e é importante por causa da legitimidade que concedeu aos assuntos ambientais. Teve a participagao de representantes de 113 paises e de 19 agénci- as governamentais, que deixaram como legado o envolvimento das Nagées Unid: i ii 3 as nos programas ambientais dos pafses (DELEAGE, 1993, p. 40). Estocolmo tamb j aah ie ajudou a fortalecer os grupos ambientais € seus papéis, é i “Lampliay os sus papéis, como também a promover o desenvalv- '0 de politicas ambientais nacionais eo heci: é cies ambien, mien reconhecimento de agén- ventais € ministérios dos paises. A princi realizagio da conferenca éstrbufda ts prcocparg ee Pe ulca as Pteocupagdes com o proces- so de industrializaca i G40 € seus efeitos no desenvolyj 6 (MATHER, CHAPMAN, 1995, p. 246). sna dest 30 Digitalizado com CamScanr 0 Vator oa Narureze Conferéncia de Estocolmo | Em 1968, em Nova York, as Nagées Unidas tomaram a decisao de realizar, quatro | anos mais tarde, em Estocolmo, uma conferéncia internacional sobre o homem e seu meio ambiente. Essa primeira conferéncia propés um plano de ago para fer os diversos tipos de poluigdo e proteger a natureza. Pretendia desen- volver agdes contra 0 subdesenvolvimento por meio da transferéncia de recursos | tecnicos e financeiros para os paises do Terceiro Mundo. O Secretério-Geral da Conferéncia, Maurice Strong, recomendava uma nova estratégia, 0 | ccodesenvolvimento, baseada na utilizagéo de recursos humanos e naturais em i escala local e regional. Em Estocolmo nasceu a ecologia politica em escala inter- nacional, Além disso, universitérios, representantes de agremiagies de defesa da natureza e cientistas demonstraram os perigos de um crescimento exacerba- do, que destréi a fauna, a flora e os homens, e instituiram a palavra de ordem: “Uma Unica Terra, um nico povo!” Entre os diversos pontos enfocados pela conferéncia, merece destaque especial a recomendagio 7: “Os paises deverao adotar todas as medidas poss(veis para impedir a poluicao (...), [nao] prejudicar os recursos vivos (...), [Nao] causar danos as possibilidades recreati- vas ou interferir com outros usos legitimos do mar” (DIAS, 1998, p. 268). Finalmente, a Conferéncia de Estocolmo nfo estabeleceu me- tas a serem atingidas, mas apenas intengdes ¢ recomendagées que servissem de inspiragao ¢ orientacdo para a formulagéo ¢ implementagio de politicas ptiblicas das nagdes. Mesmo assim, esta- vam impliciras, na carta de princfpios, as preocupagées com 0 de- senvolvimento € 0 uso sustentdvel dos recursos naturais. 2.3.3 — 0 Nosso Futuro Comum A Conferéncia de Estocolmo despertou nos paises industrializa- dos e em desenvolvimento o desejo de elaborarem, juntos, “(...) os ‘direitos’ da familia humana a um meio ambiente saudavel ¢ produti- vo. Varias reunides desse tipo se sucederam: sobre os direitos das pes- soas a uma alimentagio adequada, a boas moradias, a Agua de boa qualidade, ao acesso aos meios de escolher o tamanho das familias”. Nesse perfodo, houve um retrocesso quanto as questOes ambientais ¢ sociais: “(...) um planeta em processo de aquecimento, ameagas Aca- mada de ozénio, desertos que devoram terras de cultivo”. Era necess4- ria uma agenda global para as mudangas (BRUNDTLAND, 1991, p. XIII). 3 Digitalizado com CamScanr Jost Arouoo Mora cio Ambiente ¢ Desenyoly. io : Mi A Comissio Mundial sobre o I : ae se em 1984 e, 900 dias depois, em abril de 1987, cuniu-s mento re tério intitulado O Nosso Futuro Comum (Boxe 23), publicou o rela ‘ a A analisada sob diversas Oticas, tornoy. A que sustentabilidade, questao da sustenta ; ; on onceito mais claro ¢ de facil entendimento. A sustentabilida se um co ais vimento foi vista como um processo de mudanga conti. do desenvol ae ‘ em que as varidveis tecnologia, nua na estrutura social das nag6es, ari P organizagio social e capacidade de suporte da biosfera podem ser getenciadas ¢ aprimoradas a fim de proporcionar uma nova ordem on crescimento econdmico (DELEAGE, 1993, p. 43 ¢ BRUNDTLAND, 1991, p. 9-10). Boxe 2.3: O Relatério Brundtland: O Nosso Futuro Comum Presidida por Gro Harlem Brundtland, a Comissao para o Meio Ambiente e De- senvolvimento da Organizagao das Nagdes Unidas publicou, em 1987, 0 relaté- rio. O Nosso Futuro Comum, no qual identificou problemas que se constituem em entraves para o desenvolvimento: 0 crescimento demografico, a deterioragao dos solos provocada pela criago de gado e pela agricultura, o desflorestamento, a destruicdo de espécies e as alteragées climaticas globais. O relatério priorizou diminuir 0 consumo dos recursos naturais, especialmente os energéticos, redu- zir a divida externa dos paises pobres e reorientar os recursos destinados aos orgamentos militares, objetivando modificar as relagdes econémicas internacio- nais e diminuir as desigualdades sociais, O problema da sustentabilidade de reas comuns é visualizada apenas na esfera global, apontando para a administracéo dos diver- sos bens comuns: 0s oceanos, o es 0s direitos ¢ deveres das nagdes $620 & sustentabilidade desses espacos (BRUNDTLAND, 1991, . 293-; E ii i P. : 324). E ‘negivel seu impacto positive, mas nenhuma reco" mendasao foi feita sobre a sustenca ome ee bilidade das dteas comunais in- Hem tampouco for i ‘am esi me seangadae no plano gan ea 23.4 - A Conferéncia do Rio de Janeiro Digitalizado com CamScant 0 Vigor ox Naroegan expage para a realizagao de uma conferéncia que nado ¢ discutir e as gerasse uma carta de intengdes, mas que pude uma agenda comunr a todos os paises, [sso somente foi pos- Conteréncia do Rio de janciro, eréncia das Nagdes Unidas sobre o Meio Ambiente ¢ csenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, no perfodo de 3 de junho de 1992, reafirmou a declaragao de Estocolmo ¢ avan- (Boxe 2.4), ntou um marco importante para a causa da sustentabilidade qu stes pontuais do meio ambiente dos paises biental, sinalizando, almente, para os paises que detém gran= a defi 1998, p. 271 € DELEAGE, 1993, p. 45). reservas d de seus patrimSnios naturais (DIAS, Boxe 2.4: Rio 82, A Conferéncia da Esperanga A segunda Conteréncia das NagSes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvol- vimento realizou-se no Rio de Janeiro, em 1992, num importante clima de nego- clago, e foram abordados os principais desatios deste final de século, desta cando-se a interagao homem-ambiente, deveres perante a geragao futura e as demais espécies, clima e biodiversidade. Houve claras indicagdes de que os paises industrializados podem se aproximar dos povos do Sul, e 0 | ecodesenvolvimento pode preservar os recursos naturais e recusar a segrega- | ¢&o social, em escala ecoldgica e planetaria. © Principio 13, aprovado na Conferéncia do Rio de Janeiro, enfatiza o problema da sustentabilidade dos recursos naturais, afir- mando que “os Estados devem legislar nacionalmente sobre a res- ponsabilidade e a compensagio para vitimas da poluigio ou outros danos ambientais.” Mesmo nao estabelecendo metas a serem alcancadas, essa Conferéncia sinalizou que a questio da sustentabilidade deve ser vista por diversos angulos. Algm disso, o principal produto dessa Conferéncia foi aprovar um plano de ago, a Agenda 21, composta de 4 segdes ¢ 40 capitu- los, que define objetivos ¢ metas a serem aleangados: “Trata-se de um documento politico com compromissos assumidos pelos Esta- dos, traduzidos em agées concretas, sobre meio ambiente ¢ desen- volvimento” (IPRI, 1993, p. 39). 3 Digitalizado com CamScanr José Arouoo Mora prio (1997, p. 231), “a Agenda 4 Para RIBEIRO, PHILIPPE Jt timentos € orientar recy, te como referéneia para priorizar inves sos no rumo do desenvolvimento s 40, sio necessarios os esforgos das instituigées Ptiblicas de inceresses comuns, que resultem em me serve econ stentavel, ara a sy implementag eda sociedade em busca thor qualidade de vida, redugao de injustigas ¢ desenvolvimento com menos degradacao ambiental. ‘A Secio I da Agenda 21 trata das dimens6es social ¢ econdm;. ca do desenvolvimento sustentavel, incluindo os efeitos dos pa. drdes de consumo nos paises industrializados. A Segao II é dedicada a gestdo ¢ A conservacao dos recursos naturais, incluindo o plane- jamento e a gestio integradas do solo, a protegao dos ecossistemas montanhosos, a promogao da agricultura sustentavel € 0 desenvol- vimento rural. A Segao III refere-se ao fortalecimento do papel dos grupos sociais, abrangendo os temas relativos ao género femi- nino, juventude, criangas, indigenas, organizag6es néo-governa- mentais, autoridades locais, trabalhadores e sindicatos, empresas, comunidade cientifico-tecnolégica ¢ agricultores. A Segao IV trata dos meios de implementagao da Agenda 21, a qual inclui recursos e mecanismos financeiros, transferéncia, cooperagao e capacitagio recnoldgica, arranjos institucionais internacionais ¢ instrumentos € mecanismos jurfdicos internacionais (IPRI, 1993, p. 40-48). 2.4 — Consideragées Finais A teoria de sistemas ajuda no entendimento do estado homeostatic ¢ na aplicagéo do conceito de entropia aos sistemas fechados ¢ abertos. Em um sistema fechado, toda a energia livre s¢ dissipa, gerando entropia maxima e impedindo a realizagao de qual- quer forma de trabalho. Nos sistemas abertos, a troca de energia gera entropia de baixa intensidade, O sistema econdmico import do meio ambiente material ¢ energia dispontveis ¢ produz residuos contendo energia latente. Esse fendmeno é uma aberragio, pois pf" duz dejetos como as diversas formas de poluicéo que, por meio da maxima entropia, destroem a vida nos ecossistemas, uM : Digitalizado com CamScanr 0 Vavoe ox Narueean A desintes agao dos ecassistemas & 0 reflexo dos processos ntOpicos ¢ econdmicos. Quanto mais o meio ambiente se afasta de suas condigdes étimas, maior se torna a desadaptagio ecoldgica, bio- ica ¢ social. Os paradigmas termodinamicos, especialmente a Se- unda Lei da 'Termodinamica, ajudam a entender esses processos. © problema é que a constante exploragéo dos recursos naturais cera entropia c altera as condigées originais de vida dos ecossistemas. Os desequilfbrios gerados pelos préprios ecossistemas ocasionam de- sordem no ambiente natural, mas a natureza consegue se readaptar c atingir novamente o seu ponto de homeostasia. Desequilibrios in- ternos no ambiente natural geram entropia de baixa intensidade, enquanto que as atividades antrépicas geram entropia de alta inten- sidade, conduzindo o meio ambiente para a desagregacao ¢ para a morte. A importancia da teoria sistémica e das leis da termodinamica permite que se reconhega o papel fundamental da matéria ¢ da ener- gia dos ecossistemas ¢ as suas relagbes de causa e efeito com as ativi- dades econdmicas ¢ antrépicas. Essas relagées existem, pois os siste- mas ecolégicos ¢ econémicos sao sistemas abertos ¢ caracterizam-se pela permuta constante de energia. E com base no enfoque termodinamico que tem aumentado a preocupagio com a sustentabilidade dos ecossistemas, Tornar sus- tentdveis os recursos naturais no presente € garantir para as futuras geracdes o uso desses mesmos recursos. Por outro lado, o binémio tcoria de sistemas e processos termodinAmicos fundamenta o enfoque da sustentabilidade dos recursos naturais. A assimilagio das condi- GGes para a sustentabilidade tem forte apego na importagio de re- cursos da natureza para as atividades econdmicas e na retroalimentagéo dessas para o ambiente natural. De modo semelhante, as leis da conservagio © da entropia sub- nismos que dio apoio A astentabilidade dos sidiam a compreensio dos me sustentabilidade. Os principais meca ccossistemas sao a capacidade de suporte, que indica o quanto o meio ambiente pode suportar de residuos antrépicos, ¢ o potencial de cLy Digitalizado com CamScanr Jost Aouno Mota resilgncia, que sinaliza para a capacidade de regenerasio do meig | ambiente natural. | Muitos esforgos tém sido Feit de dos ativos naturais. O R demonstrou ao mundo a gravidade do do, tendo como instrumento de ang. acerbado dos recursos natu. os no sentido da manutengéo dy sustentabilida: clatério Meadows, sobre og limites para 0 crescimento, crescimento econdmico acelera lise a tendéncia exponencial do uso ex rais renovaveis e nao-renovaveis. O Relatério Meadows foi divulgado em plena crise do petré- -o dos recursos minerais e energéticos o mecanicista, malthusiano e organizado pelo homem ‘sos naturais. Com- leo, apregoando o esgotament do planeta. Utilizou 0 raciocini economicista, segundo 0 qual o sistema teria de se ajustar 4 demanda ¢ & oferta dos recur deu forte énfase & nogio de limite da populacio, demonstrando que a taxa de crescimento da populagéo mundial era superior & taxa de crescimento da producio de alimentos ¢ de con- sumo dos recursos naturais (LE BRAS, 1994, p. 18-19). * O problema da sustentabilidade do crescimento econémico também mereceu destaque nas Conferéncias realizadas posterior mente (Conferéncia de Estocolmo, O Nosso Futuro Comum ea Conferéncia do Rio de Janeiro, especialmente o documento intitulado Agenda 21), mas em nenhuma delas se estabeleceram metas a serem atingidas para a sustentabilidade, ficando essas Te servadas tao somente & carta de intencao global dos paises partici- plementarmente, pantes. Mesmo assim, a Conferéncia de Estocolmo marcou os anos 70 como a década do ambientalismo global ¢ conseguiu fazer 0 €l° entre meio ambiente e desenvolvimento, inscrevendo-os na ordem do dia da polftica internacional (saci, 1992, p. 98). No préximo capitulo, analisar-se-4 um conjunto de justificati- vas que dao suporte A questao da valoragao dos ativos ambientais: enfocando“os pelo ponto de vista sistémico, 36 Digitalizado com Cam: Scanr

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