Você está na página 1de 15
90 Revista Brasileira de Psicandlise- Volume 40, n# 2, 90-104, 2006 Vida, morte, criacdo e repeticao' Maria Luiza Gastal? Resumo: A autora examina pontos de convergéncia entre a psicanélise ea biologia darwinista, no que diz respeito A fungio criativa dos mecanismos de destruigio. A partir da investigaglo de aspectos das idéias naturalistas de Darwin e Freud, considera que essa dimensio criativa do instinto de mort, presente na metapsicologia freudiana, ‘com fregiiéncia,esquecida pelos psicanalista, apesar de sua importancia ede seu interesse na clinica. Palavras-chave;instinto de morte Eros, Tanatos, bologla, cratividade, Darwin. ois estes sdo os elementos exstentes e, passando uns pelos outros, fornam-se homens e as demais espécies animals, ra pelo Amor convergindo em wm tniea harmonia, ora cada qual pelo édio da Discbrda sendo apartado, até que, tendo-se desenvolvido conjutamente como um uno, sdo completamente subjugados. Empéoces, citado por |. Barnes em Fildsofos pré-socritcos Morremos, de manera benigna, na exata medida dagullo que nos decidimos a viver. Se exigimes tudo, a morte nos sata a0 pescogo e nos despoja de tudo - nos devora, Morrer~ vier ~ étanger a harpa do tempo, moduli, transformé-to em ritmo, ‘em msica, Morte, quando se morre ber, & esvai-se na obra construlda, para que o tempo, nea apresado decfrad, fale da vida eda morte = jd que a morte & conversa de vives, lio Pellegrino, A burrice do Deménio Introdugao Diversas convergéncias ja foram apontadas entre Darwin e Freud, e 0 proprio Freud com- parou o efeito da psicandlise sobre a humanidade ao do darwinismo ~ ambos teriam contribuido, juntamente com a concepcao de Copérnico sobre o sistema solar, para retirar o homem de uma posigdo especial na natureza.’ Freud nascew praticamente junto com 0 darwinismo, mais precisa~ mente, dois anos antes da apresentacao do trabalho conjunto de Charles Darwin e Alfred Wallace 4 Linnean Society of London. Ritvo (1992) propde que “no extenso corpus dos textos de Freud, encontra-se fossilizada a teoria evolucionista da época de Darwin, inclusive aspectos eliminados pelo tempo” (p. 13). Freud, por sua ver, foi discipulo de Carl Claus, zodlogo que foi um dos respon- siveis pela disseminagio das idéias de Darwin na Alemanha, Sobre essa influéncia, freqientemente negada pelos psicanalistas, por razées que nao cabe discutir neste trabalho, jé foram escritas obras importantes, como os livros de Ritvo (1992) e Sulloway (1992) e diversos trabalhos que abordam distintos aspectos dessa influéncia, a maioria deles se detendo sobre a influéncia dos mecanismos darwinistas, sobre a idéia da ascendéncia animal do homem e seus instintos, sobre a importancia ® Dedicado a meus analistas ea todas as pessoas que me ajudaram a contar esta hist6ria 2 Candidata da SPB e professora da UnB. ® Ernst Haeckel, 0 mais importante disseminador da obra de Darwin na Alemanha, em 1894 jéchamara a atengo para 0 “eevigoprestado por esses dois hesis [Darwin ¢ Copérnico],ao acabarem com as concepades antropocéntrica egeoctntrica «do mundo’ referindo-se a Darwin como 0 "Copérnico do mundo orginico” (Hackel citado por Rtvo, 1977, p. 36) Vida, morte, criagio e repetiglo Maria Luiza Gastal a da nogio de conflito ou da formagao neurobiolégica de Freud para seu trabalho metapsicolégico posterior (ver, por exemplo, Ades, 2001, e Garvey, 2003). Mas além desses jé conhecidos embates epistemolégicos, dois episédios inusitados da vida de Freud e Darwin parecem também uni-los, De um lado, a longa dedicagao de Darwin ao estudo das minhocas ¢, de outro, a resisténcia de Freud com os bidgrafos.* O que poderiam esses dois even- tos ter em comum? Para Adam Phillips, em “Darwin's worms’ os dois epis6dios so manifestagdes das preocuagdes de Darwin e Freud a respeito da morte e da razao de viver quando nao hé mais. esperanga de salvagao em outra vida, Sao formas distintas que os dois pensadores encontraram de se perguntar sobre o sentido da vida. F da morte, Tragando um paralelo entre o pensamento de Darwin e o Freud, Phillips nos propde uma reflexdo original sobre o instinto® de morte e seu papel ctiativo, idéia que buscarei, a partir da proposta de Phillips, explorar neste artigo. Os vermes ea morte ‘Mas nto etd comenndo, std sendo comido, Um determinado congress de vrmes politics se inteessou por ele, Nesses memen- tos, overme € ico imperador. Nbs engordamostods os outros sere para que nos engordem; e engordamas para engordar as larva, Ore obeso€0 mencigoesquiido to apenas varlagdes ce um men ~ dois patos, mas ma mesma mesa; so € tudo, Shakespeare, Hamlet, tradugSo de Millr Fernandes Darwin e Freud, diz Phillips (2000), destituem Deus de seu lugar especial ¢ nos deixam somente com a constatagdo de que somos a natureza. Jé no faz sentido buscar um lugar especial para a espécie humana ~ ela é parte da natureza. E sé. Se ro velho mundo o drama ocorria entre Deus e a natureza, com o “Homem" [..] completando ~ ou {alhando ao tentar completar ~ 0 triingulo, vemos entio Darwin e Preud entre os pensadores envolvidos em -etirar Deus da cena, deixando-nos com nada entre nds ea natureza. Se nfo hé nada fora da natureze, fica sem sentido falar de natureza,e espectalmente de natureza humana, como dividida contra si mesma, A natureza est, como sempre esteve, de seu proprio lado. (Phillips, 2000, p. 5) £ também para a importincia do trabalho destruidor da natureza que apontava o interesse de Darwin sobre as minhocas, seres tio pequenos e que entretanto, em grande ntimero e traba- Ihando de forma tao laboriosa, permitem a continua producdo de mais vida, ao criar condigdes de fertilidade para o solo.” ‘fm 1885, Freud escreveu& nova, Martha, relatando que hava quaseconcludo “uma resougio de que um grupo de pessoas, porenguanto no nascidasfadadas ao inforini, se eset profundamente [to meus bidgrafs, Dest todos os meus ‘idios ds lkimos quatorze anos, juntamente com carts, anotagBesclenifias eos manuscritos de minkas publicagbes Somente as ertas dos faliare foram poupads. [J ilo posso morer antes de me livrar do pensamento perturbador de quem poderis terscesio aos antigos paps [-] que os bigrafos se stormentem, no ciaremos Faclidades para ees" Jones 1989, p11). 5 tormis~ “vetmes” ~ €@ nomenclatura utilizads na época de Darwin para designar os anelideos (minhocas) ¢ outros animais de organizacio anatOmicaciindrica No pretendo explraro tema controverso dos termos ‘pulsio “nstinto, Tendo a concordar com Strachey (1996, P. 29) em que “-L.Freud usou a palara Treb" para abarcar varios conceltos diferentes: Minha enfase, neste trabalho, na ‘obra Alem do principio do prazr. Ali Freud utiliza os dots termos, sendo sua distingbo nada evident, e define instinto ‘como um “impulso[..]arestaurar um estado anterior de coisas” (Freud, 1920a/1996b, p47; grifo meu), ou sea, abarcan- do signiicados de Treb, enumerados por Hanns (1996). O fort pel biologa ness trabalho de 1920 indica que ele est ‘se tferindo a um fendmeno comum a espécie humana ¢ aos demas seres vivos. Assim, optei pelo termo “instints ~ inclusive no instinto sexual ~ das minhocas. Parte do estudo > Darwin também estavaInteressado “na vida mental votou-se para seu comportamento:“[.] a8 minhocas so timias. Podemos supor que sofram grande dor quando feridas, como parecem expressar por suas contorges. jugar por sua avider por certostipos de alimento,apreciam o prezer de comer, Sua paldo sexual &sufcientemente forte para sobrepujar, por um bom tempo, seu terror da luz" (Darwin, 1883, 1.36; tradugio minha). 92 Revista Brasileira de Psicandlise- Volume 40, ne 2- 2006 Darwin, sugere Phil obstinada labuta das minhocas. Seu primeiro trabalho sobre minhocas foi escrito em seguida a0 retorno da viagem do Beagle, ¢ ele voltaria a se debrugar sobre elas somente no final da vida. Para Phillips, esse foi um gesto sintomitico: quando estava mais préximo da morte, e apés haver perdido trés filhos, dente eles, a filha preferida - Annie -, voltou a se interessar por esses pequenos animais, ‘Ao retornar a eles no final da vida, Darwin esta propondo, segundo Phillips, um outro tipo de vida apés a morte ~ uma imortalidade secular, que nao é vivida por nds, mas por nossos descendentes, ips, parece encontrar consolos para o mundo que descreve na lenta e e que nao pode existir sem a existéncia da morte. [A batalha, a luta e a guerra, so omitidas neste livro; é a alegre resiliéncia ¢ inventividade da natureza [..] ‘que Darwin quer enfatizar no final de sua vida. [.. Elas preservam o passado, e criam condigdes para 0 futuro, Nenhuma divindade é necessévia para essas continuidades reasseguradoras.[..]Alimento e histéria ‘que mais hé aqui? [..] As minhocas néo sio um refigio; (Phillips, 2000, p.$5-56) ‘as sio uma defesa adicional de sua posigio. E isso, no sistema darwinista, sem que elas atuem por qualquer determinacéo moral, mas pelo simples fato de que precisam fazé-lo para sobreviver. A teoria que Darwin propée para explicar a grande diversidade da vida é essencialmen- te materialista, baseada na variagZo ao acaso dos tragos dos organismos (caracteristicas externas, 6rgios, comportamentos herdados) e na sobrevivéncia diferenciada daqueles individuos que pos- suam caracteres que Ihes conferem mais vantagens, em determinado contexto. © comportamento das minhocas, portant, evoluiu por meras interagdes entre organismos e ambiente, Que elas, com seu comportamento ~ produto de selecdo natural -, nos auxiliem a sobreviver, aumentando a fer- tilidade do solo, é um fato contingente. Mesmo que nao existissemos, elas continuariam a fazer seu trabalho. No sistema darwinista, 0 mundo (incluindo as minhocas) nao foi concebido em nosso beneficio, Esses seres aparentemente tdo insignificantes, mas de cuja atividade depende boa parte da vida no planeta, nos sugerem, assim, que 0 foco de nosso interesse a respeito do mundo deveria ser dirigido para o solo e nao mais para os céus. A biologia que se consolida com Darwin nos sugere que & nos processos terrenos que se escondem os segredos da vida e da morte. Isso produziu uma forte deflexio do olhar da histéria na- tural, que até entio procurava identificar os designios de Deus na obra da criagdo e se voltava agora para os processos materiais que poderiam ter gerado a enorme diversidade da vida, No tltimo capitulo de A origem das espécies, Darwin (1859/1985) percebe a ruptura que o proceso que estava propondo representaria para nosso entendimento da vida. Comentando o impacto que no futuro suas idéias teriam sobre a biologia, prevé, corretamente, que “um vasto campo de estudos e apenas trilhado serd aberto sobre as causas e as leis da variabilidade” -, acertando assim sobre o enorme desenvolvimento da genética -, e que “as nossas classificagdes tornar-se-do |...] genealogias” (p. 456; traducao minha), como sio, de fato, as classificagdes biol6gicas atuais. Ele, entretanto, vai mais Jonge ¢ prevé, ‘num futuro remoto, caminhos abertos a pesquisas ainda mais importantes. A psicologia serd solida- ‘mente estabelecida sobre tum novo fundamento, a aquisicio necessariamente progressiva de cada facul- dade e de cada aptidio mental, o que lancara nova luz sobre a origem do homem e sua historia. (p. 458; tradugio minha) Vida, morte, criagio e repetigao Maria Luiza Gastal 93 O que teria pensado o jovem Freud ao ler tais previsies?* ‘Mas outro aspecto do materialismo darwinista nos interessa mais de perto, aqui. O pro- cesso de selecio natural depende da variagio e da sobrevivéncia diferenciada dos organismos, como vimos. Tal variagdo s6 pode existir se também existir a morte, que abre espago para as novas formas, resultantes da variagao ao acaso e da agao da selegao natural. E a morte (e 0 nascimento) de novos organismos que permite que se criem as condigdes para a variagdo. Assim, no sistema smente, uns dos outros. Viver, nos darwinista, os processos de vida e morte dependem, necessari lembra Engels, significa morrer. Freud também parece buscar, com o conceito de instinto de morte, olhar para essa outra diregdo, a0 especular a respeito dos processos biolégicos que poderiam dar conta de fendmenos ‘mentais desconcertantes ~ fendmenos que pareciam violar a regulagao dos processos mentais pelo principio do prazer. Sim, nos diz Freud, o desejo do ser é morrer, mas isso nao é suficiente - & preciso poder morrer & sua propria maneira: “O que nos resta é 0 fato de que o organismo deseja morrer apenas do seu préprio modo” (Freud, 1920a/1996b, p. 50). Em Além do principio do prazer Freud descreve a tendéncia do orginico para retornar a0 estado inorginico, o que seria devido a uma tendéncia ~ ou instinto ~ que levaria 4 morte do individuo, Freud buscou apoio na biologia ~ sobretudo na nogio de “instinto” e no trabalho de Weismann a respeito da morte. Em relagio ao primeiro, ele acentua seu cardter de repeti¢ao, que, embora pareca nos levar & mudanga e ao desenvolvimento, indica tratar-se de repeticdes de eventos historicamente determinados ~ determinados por sua histéria evolutiva: “[..] as mais impressivas provas de que hé uma compulsio orginica para repetir esto nos fendmenos da hereditariedade nos fatos da embriologia” (Freud, 1920a/1996b, p. 48). Herdados, relatos da histéria, os instintos repetem padrdes que teriam sido fixados ao longo da historia das espécies. Parece que podemos aqui ouvir a voz de Darwin referir-se aos instintos: “Nao vejo dificuldade em admitir que a selecdo natural possa conservar e acumular constantemente as variagdes do instinto, na medida em que sejam vantajosas aos individuos” (Darwin, 1859/1985, p. 236; traduco minha). Em sua obra Essays upon heredity, Weismann (1889) propunha que dois grupos de células haviam se diferenciado no curso da evolugio dos organismos pluricelulares: as somticas, respon- siveis pela protegdo do organismo, e as germinativas, voltadas para sua reprodugdo. As células do segundo grupo, assim como os animais unicelulares, seriam potencialmente imortais, transmitin- do-se de geracdo a geracdo. Weismann, entretanto, salientava que “a duracdo da vida (...] longa ou curta, € governada pelas necessidades das espécies, e ¢ determinada pelos [...] mesmos processos mecanicos de regulagio pelos quais a estrutura e a fungio de um organismo se adaptaram a seu ambiente” (Weismann, 1889, p. 9; tradugao minha). A morte, para ele, era uma caracteristica adap- tativa derivada da selegdo natural, como qualquer outra adaptacdo biolégica, nao necessdria mas contingente. A matéria viva nao possuiria nenhum tipo de tendéncia & morte: Considero quea morte nio é uma necessidade primiria, mas que foi adquirida secundariamente como uma adaptagdo, Acredito que a vida tem uma duragio fixa, ndo porque seja contrério & sua natureza ser iimita- da, mas porque a existéncia limitada de individuos seria um luxo sem nenhuma vantagem correspondente ‘A morte [natural] ndo é um atributo de todos os organismos. Um imenso nimero de organismos inferiores ndo morre, embora sejafacilmente destruido [..]. (Weismann, 1889, p. 24; tradueo minha) * Gay (1989) cita uma carta deste jovem Freud a seu amigo Emil Fuss relatando a decisio de se tornar um cientista natural, em ver de advogado, Diz ele: "Vou examinae os documentos milenares da natureza, talvez me intrometa em seu eterno ltgioe dividiel minhas vitrias com todos os que queiram aprendes" (p39) 4 Revista Brasileira de Psicandlise - Volume 40, nt 2- 2006 Discordando de Weismann, e recorrendo a estudos que indicavam que a morte natural ocor- ria mesmo em organismos unicelulares, Freud estende 0 conceito de instinto de morte para todos os organismos e para todos os niveis de organizacio, propondo que mesmo as células e organismos unice- lulares, como os protistas, apresentam uma tendéncia & morte. E, uma ver.que a hipétese de Weismann, associa a morte & sexualidade, apresentando ambas como aquisicdes relativamente tardias na historia da vida, permanece também a questio da origem da reproducio sexual. Diante da falta de evidéncias definitivas na biologia, Freud ¢ categérico: “Se, portanto, no quisermos abandonar a hipétese dos ins- tintos de morte, temos de supor que estio associados, desde o inicio, com os instintos de vida” (Freud, 1920a/1996b, p. 67). Ble, assim, sustenta a existéncia de um instinto voltado para a morte do individuo, instinto em parte justificado pelas idéias de Darwin e Weismann, mas também (ou sobretudo) pela perturbadora freqiiéncia na clinica de eventos que pareciam por em xeque o principio do prazer”? £ interessante notar que a biologia contemporanea talvez esteja mais alinhada as idéias de Freud do que estava a época em que ele escreveu Além do principio do prazer. Zurak e Klain (2005) sugerem que a biologia molecular contemporanea, ao identificar com maior preciso a existéncia de mecanismos de morte programada ao nivel celular, pode oferecer argumentos significativos a favor da teoria de Freud com respeito & teoria tanstica, O termo apoptose foi proposto para no- mear alteragdes morfoldgicas e estruturais relacionadas a esses processos de morte celular. Eles reconhecem, entretanto, a dificuldade de estender a nogio de instinto ao nivel celular, lembrando que, “embora todos os instintos e pulsdes sejam programas bioldgicos, nem todos os programas biolégicos sao instintos” (Zurak & Klain, 2005). Freud nao se serviu somente da biologia para propor o instinto de morte. Assinalando que “o que se segue & especulagio, amide especulacéo forcada” (Freud, 1920a/1996b, p. 35), ele se aventura ndo somente nas especulagées biolégicas de sua época, mas também na filosofia, recor- rendo a Plato e, alguns anos mais tarde, em “Andlise terminavel e intermindvel’, a Empédocles seus principios de amor e discérdia, responsiveis, respectivamente, pela criagao e pela destruigio. ‘A idéia de instinto de morte ~ 0 olhar para uma outra diregao ~ é também utilizada por Freud para tratar do problema do masoquismo. Se os processos mentais so regulados pelo principio do prazer, pergunta-se Freud, como explicar 0 masoquismo, aincessante repeticio do trauma nos sonhos dos soldados ou a dolorosa repetigao da transferéncia? Talvez o sofrimento e 0 desprazer nao sejam somente adverténcias, mas objetivos em si mesmos, terminando mesmo por paralisar o vigia de nossa ‘vida mental ~ 0 principio do prazer - e produzindo o gozo no sofrimento (Freud, 1924/1996a). Freud recorreu ao que Barbara Low (1920) chamou de principio do Nirvana - um esforgo para reduzir, manter constante ou remover a tensdo interna devida aos estimulos ~ para chegar a uma teoria sobre 0 masoquismo (Freud, 1924/1996a). Apesar de baseado num modelo fisico de funcionamento do cérebro que se mostrou bastante equivocado, a idéia de que a mente busca um estado de diminuigdo de tensdo teve importancia'® fundamental no entendimento dos fendmenos psiquicos que Freud observou na clinica." Anteriormente ele havia utilizado a expresso principio de constancia, que associou ao instinto de morte, ou a tendéncia da vida a retornar a seu estado norginico. Assim, sob o principio do prazer vemos 0 organismo tendendo a evitar 0 desprazer e a ° fam InbigSes, sintomas e ansiedade, Freud (1920b/1996d) afirma que o medo do aniquilamento, resultado de nosso

Você também pode gostar