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Colego Ensaios ‘volume 52 OBRA DO AUTOR Participagio Pensando a violéncia com Freud - SBP de PA, 2005. Formacao analitica: fos e versdes - LetradeVida, 2010. Estudos psicanaliticos das conceitos e do método ~ Alinea, 2012. Organizagio ‘Sehreber, Freud ea clinica: escritos da alma - Letra&Vida, 2012. Coautoria Novas tempos, velhas recomendacdes: sobre a func analitica -Paim Filho e Leite ~ Sulina, 2012. Autoria Motopsicologia: um othar é luz da pulsdo de morte - Movimento, 2014. Ignacio A. Paim Filho METAPSICOLOGIA um olhar a luz da pulsdo de morte @ movimento Capa Editora Movimento Sete tata f Ei npcinan, 959 Diagramasao E | , Daniel Ferrer A Claudia pela forma apaixonada e cria- 7 tiva com que me acompanha em meus estados reer Pllens desiderativos. e LI ‘Acompanhamento effBrial y - Ao Gabriel e Augusto por me instigarem Berenice Sicspitas 2 a rever meus conceitos. ‘Aos colegas de autoria por compartilha- CATALOGAGAO NA FONTE rem suas ideias, DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO Plas Paim Filho, Inicio Alves Metapsicologa: um oar uz da plsdo de more / to6l Ignacio Alves Pain Filho. ~ Porto Alege : Movimento, 2014 3 14x21 em. (Coleg Enston 3 159.964 240. (Coles 2), ca P ISBN 978-85-7195-2263 Ud we 1. Metapsicloga. 1 Titulo. I, Série cpp. 150.195 2014 Direitos desta edigdo reservados & Editora Movimento Rua Banco Inglés, 252 Morro Santa Teresa 90840-600 - Porto Alegre - RS - Brasil Tel. (51) 3232-0071 Fax (51) 3232-0001 wwweeditoramovimento.com.br editoramovimento@editoramovimento.com.br FREUD REINVENTANDO FREUD: UM RETORNO AS ORIGENS” (Por uma metapsicologia da pulsdo de morte) [o-] mas ndio posso mais entender como foi que pudemos tor desprezado a ubiquidade da agressividade ¢ destrutivi- dade nao erétiea e falhado em conceder-the o devido lugar em nossa interpretacao da vida (Freud, 1930, 142) No inicio da década de vinte, no século passado, a psica- nélise estava completando aproximadamente trinta anos de exis- téncia, tomando por referéncia o trabalho de 1891, As afasias.. Nessas trés décadas havia adquirido reconhecimento como mé- todo de tratamento das doengas da alma, bem como uma forma de compreensio do humano eo meio cultural, expandindo-se por varios paises, conquistando continentes. O saber proposto pelo fundador, que até entdo movia e estimulava o pensar da cultura psicanalitica, sustentava no paradigma da pulsdo sexual e suas vicissitudes a esséncia do sujeito psiquico. Sujeito esse se cons- tituindo no interjogo do principio do prazer e do desprazer, tendo no recaleamento, por exceléncia, o elemento estruturador. Contudo, a clinica freudiana em seu constante pulsar as ressonancias do traumatic apés a primeira Guerra Mundial interrogam as premissas metapsicolégicas ¢ técnicas vigentes. Instiga 0 conquistador da terra proibida — o inconsciente ~ a ou- sar revolver € expandir sua teoria pulsional. Compreendo que 0 grande interrogante sucede através da enigmatica repeti¢Zo, pois até 1919-20, essa estava amparada na ideia de uma repetigao em nome do que foi, em algum momento, prazeroso para 0 sujeito. Entio, o enigma se presentifica: por que se repete o que nunea foi prazeroso? Essa pergunta traz, outra vez, para 0 centro da cena, ‘Trabalho original publicado na Revista Brasileira de Psicandlise, v46,n. 2. Sdo Paulo 2012 (revsto ampliado). 129 as manifestagdes clinicas da compulsdo a repetigzio. Momento de ruptura com 0 monismo do aforismo até entio vigente: despraze- oso para um sistema, prazeroso para outro. Partindo dessa vertente, Freud escreve dois trabalhos ~ O estranho (1919) e 0 Além do principio do prazer (1920) — que, em seu conjunto, marcam 0 nascimento do conceito revolucionério da metapsicologia freudiana: a pulsdo de morte; momento historico, que sera imortalizado na célebre expressio: a virada de vinte. Proponho neste trabalho nao me ocupar do “depois de Freud”, antes do “com Freud”. Ao propor esse caminho, tenho em mente que a tematica trabalhada por ele, sobre uma possivel ‘metapsicologia da pulstio de morte, segue sendo 0 que temos de mais significativo e produtivo, para nos havermos com os desa- fios da psicopatologia da clinica cotidiana as realizagées cultu- rais. Entendo-o como 0 clissico dos classicos e, sendo assim, tem muito a narrar, tanto que segue clamando por interlocutores. Nes- sa acep¢ao, lembro Calvino: “Um classico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha de dizer” (1993, p. 11), ou ainda, “E classico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompativel” (1993, p. 15). Diante disso, fagamos retorno as origens, aos desdobramen- tos do pensamento daquele que ousou varias vezes reinventar a si, bem como sua ciéncia. Escutemos seus rumores. No texto de 1919, Freud busca o saber dos escritores criativos, para comecar a pensar o caréter repetitivo da propria pulsio, um mais além. Nes- se sentido, 0 conto de Hoffimam, O homem de areia, é proficuo para refletir as sensagdes de estranhamento do arcaico, 0 dar vida a0 inanimado. O surgir de inquietagdes permeadas por ambigui- dades que circulam entre 0 conhecido/familiar e 0 desconhecido. Trabalha a proposta de uma estética psicanalitica, que nao transita pela via do belo, sendo pela via da qualidade do sentir e, por esse caminho, langa um olhar para o horror. Que horror seria esse? O horror da castrago? O horror da finitude ¢ do desamparo? Talvez pudéssemos sinteticamente falar do horror diante do encontro com a forga disruptiva (demontaca) da pulso, com 0 que nao se deixa conter, com 0 que tem uma demanda de descarga absoluta. Portan- 10, temos ai o demoniaco capturando a percepco do bicho homem. 130 Nesse ensaio, a palavra freudiana esté revestida de sutileza que revela mistérios ¢ exige do leitor uma escuta de extremo refi- namento. Recordemos sua ideia sobre Das Unheimlich — que pro- de como peculiar forma de retorno do recalcado, que se verifica através de sensagdes, algo que carece de maior qualificaga0, evoca seu vinculo com a representagao; porém, acima de tudo, revela sua origem pulsional, o que é da esfera do inapreensivel. Seguindo por essas associagdes, podemos dizer que essas inquietantes estranhe- zas remetem ao que hé de mais pulsional no inconsciente recal- cado. Ampliando e interrogando os mistérios do pensamento de Freud, surgem questdes: essas sensagdes que remetem ao pulsar da pulsio — repetir — ndo podem, também, ser uma forma de co- municago do que esta mais além do recalcado? Ou, ainda, a0 que niio est subordinado as leis do prineipio do prazer? Deixemos em aberto, por enquanto, essas indagagdes. Podemos afirmar, a partir desse momento, que esto langadas as bases para que, em 1920, ocorra o aparecimento simbélico da pulstio de morte. Em consequéncia, abastecido com a montagem de 1919, Freud vai conceber e propor uma nova dualidade pulsional: pul- sto de morte versus pulsdo de vida. Esse trabalho de 1920 tran- sita sob a ética de duas perspectivas: de um lado, a biologia na qual se percebe a necessidade de Freud em buscar ancoragem para o novo paradigma, nao discriminando, por exemplo, a morte do corpo somatico da pulsto de morte. De outro lado, comega a ser delineado um lugar singular para ela, fazendo com que ga- nhe mais autonomia, ou seja, um comprometimento em menor grau com a visio das ciéncias da natureza. E possivel afirmar que Freud nomeia a pulsao de morte, porém nao dimensiona, ainda, toda a relevancia metapsicol6gica e seu carster altamente subver- sivo. Que fara dela a pulsdo por exceléncia. Acredito que a construgo desse conceito refundaré a metapsi- cologia, tendo sido necessérios dez.anos para que Freud pudesse ex- plicitar sua real importincia, desde a origem aos destinos do sujeito. ‘Aqui surge uma questio, que deixo assinalada para reflexdo dos leito- res: Freud necessitou de dez anos, ¢ nés necessitaremos de quantos? Durante esse tempo de muita fertlidade, encontraremos a produgdo de trés trabalhos magistrais e perturbadores: O problema econdmico 131 cdo masoquismo, de 1924; A negativa, de 1925; ¢ O mal-estar na cul- tura, de 1930, Por entender que os textos de 1924 ¢ 1930 tém um eixo associativo que remetem, com maior intensidade, ao destino tanatico da pulsio de morte, concentrar-me-ei de imediato neles ¢, apés, reto- ‘marei o trabalho de 1925, que em sua tessitura encobre e descobre © potencial pré-vida da pulsio de morte. No artigo de 1924 deparamo-nos, de fato, com o problema metapsicolégico do masoquismo, ¢ nio somente com seu proble- ma econdmico, do qual destaco 0 enigmético masoquismo pri- mario ¢ erégeno. Ao postular esse masoquismo, Freud coloca a pulsdio de morte ligada pela libido da pulsdo sexual nas origens do psiquismo, tendo na solidariedade-excitatério-sexual, como 0 explicitado na vertente anterior, o seu mediador. Podemos afirmar que, com esse texto, Freud inaugura o lugar primordial da pulstio de morte, anterior 4 presenga da libido da pulsdo sexual: “Segun- do ela, a0 surgir, a libido teria encontrado a pulsio de morte ~ ou de destruigo — ja predominando nos seres vivos” (Freud, 1924, p. 109). Nesse sentido, cabe esclarecer que a pulsio sexual até 1920 tem sua fonte no corpo, como esta dito em 1915 no trabalho Pulsdes e os destinos da Pulsdo, amparado na ideia que compe- te a mae desperté-la, conforme o exposto no terceiro ensaio dos Trés ensaios (1905). Escutemos: desperti-la, nao crié-la. Com a entrada em cena da pulsio de morte temos mais uma virada: 0 corpo passa e ser a fonte da pulsdo de morte, enquanto a pulsio sexual serd criada a partir do investimento materno. Podemos ler isso na formulagdo exposta anteriormente: “..] ao surgir a libido teria encontrado a pulsio de morte jé predominando [...J”. Tal afirmagio faz brotar uma interrogagdo: a libido surge de onde? ‘Acredito que vem do objeto, esse que tem a fungao de ligar, vin- cular, dando pulsdo o adjetivo de sexual. Penso que essa pro- posigo dé maior consisténcia, por exemplo, a posigto freudiana de que narcisismo primario é produto do investimento parental. Com 0 advento do Mal-estar na cultura, a pulsao de mor- te adquire sua configuracdo de conceito central no pensamento freudiano, com toda sua subversividade. Consolida-se 0 des- prendimento e a diferenciagao entre a pulsao de morte ¢ a morte bioldgica, O desligado do traumatico esté implicado na morte 132 psiquica, seja pela destruigiio do desejo e/oupelo ndo acontecer do desejo. Neste, ocupa-se do mal radical doe no homem, a destrutividade como forga motriz que necessita ser domada pela eficacia da libido, Esse mal-estar diferente do mal-estar pela remtincia ao desejo sexual que a cultura impde ao sujeito, como explanado no trabalho de 1908, Moral sexual e doenga nervosa moderna ¢ retomado na nona vertente, revela a angistia da au- todestrutividade e suas intercorréncias quando do acontecer da alodestrutividade. O mal-estar denunciado em 1930 traz a tona a maior comple- xidade na estruturagio do sujeito psiquico e da cultura, da qual cria- dor ¢ criagdo tém, na onipresenga da pulsio de morte, uma eterna esfinge. Portanto, soma-se a forga do desejo proibido, regida pelo principio do prazer/desprazer, que busca por meio dos destinos da pulsdo sexual mediar as demandas do individuo © do meio social, a forea do nfio desejo, universo do caos pulsional, regido pelo prin- cipio de nirvana. De forma esquemitica, podemos dizer que nosso mal-estar é decorrente da forga da libido (desejo) + forga da destru- tividade, essas submetidas aos mecanismos que visam a contengao. Em julho de 1925, Freud ocupa-se da escrita de um peque- no texto de apenas seis paginas: A negativa (Die Verneinung), no qual encontramos uma temética aparentemente técnica, porém a metapsicologia vai se delineando em cada detalhe. Surpreende a0 revelar a origem pulsional da negagao e seu lugar na estrutu- rago do aparato psiquico. Pode-se inferir do texto que ali esto langados os fundamentos para se especular 0 postulado filos6fico da positividade da negatividade". Esse aspecto é abordado com profundidade por Hipollite (1966/1998), que toma como referén- cia 0 pensar de Hegel sobre o cariter ontolégico da negatividade. Seguindo por essa linha de trabalho, resgato as palavras de Freud enunciadas no peniiltimo parigrafo, alguns instantes antes Merece destaque que no texto de 1923, O Ew e o ID, Freud jéassiné-la esse cariter positive da pulsio de morte: “Por exemplo, podemos agora entender que, na verdade, 4 pulsio de destuigho & colocada a servigo de Eros, visando ao escoamento e remogio para fora” (Freud, p. $0) e “Contudo, frente is duas espécies de pulsio, 0 Eu ndo se ‘mantém imparcal, Por meio do seu trabalho de iemtificagao esublimacto, ele ajuda as pulses de morte a contrlarem a libido do 1d” (Freud, p. 63) 133 de finalizar sua exposig&o: “A afirmagaio — como substituto da unifio pertence a Eros; a negativa — sucessor da expulsio ~ per- tence ao instinto de destruigao” (Freud, 1925, p. 300). Destaco a relagdo intrinseca entre a negativa e a pulsio de destruigaio — fi- xemos essa ideia; agreguemos uma segunda proposi¢do freudia- na: “Um juizo negativo € o substituto intelectual da repressio; 0 seu ‘nfo’ é a marea distintiva da repressdo, 0 seu certificado de origem ~ tal como, digamos, ‘Made in Germany” (Freud, 1925, 297). Temos aqui uma série complementar: pulsao de destruigaio —a expulsiio — a negativa — 0 recalque. Ao olhar essa série, sou tomado pelo Unheimlich; como ligar a pulstio de destruigo com o recalque, um dos destinos de Eros? Eis ai mais um enigma da esfinge, vejamos como podemos decifi-lo. Freud, ao conceber essa proposigao, estava integrado de forma densa ¢ circunscrito & metapsicologia da pulsto sexual, exteriorizada nos, trabalhos de 1914-15, com uma possivel metapsicologia da pulsio de morte. Visando dar textura a essa proposigao, percorro as seguin- tes veredas: parto da ideia de que os destinos da pulsdo sexual cum- prem uma dupla fungdo-satisfagio da demanda pulsional e defesa contra essa mesma demanda, Tomando o recalque como paradigma, compreendo que ele desempenha essa duplicidade, viabilizando al- gum nivel de satisfagdo, através do retorno do recaleado ¢ a con- tengo, por meio de recalque primério do propriamente dito. Ao realizar a fungdo de impedir a livre satisfaga0 da demanda pulsional std negativando a forga de pulsdo, ou seja, esté dizendo “no a sa- tisfagio do desejo em seu estado primordial. Esse processo, a luz da metapsicologia da pulsio de morte versus a metapsicologia da pul- sli sexual, significa: de um lado, o corte/cisio (pulstio de morte/ne- gagiio) que permite a contengao e, de outro, a criagao de um espago que contenha a histéria das vicissitudes de Eros. Isso far Hyppolite (1966/1998) dizer: “...] mas negar é mais do que destruir” (p. 898). Portanto, a negaciio do recalque, abastecida pela forga disruptiva da pulso de morte, torna factivel que esse negado mantenha-se exilado ¢,a0 mesmo tempo, trabalhando para obter a satisfacdo. Repassemos que Freud, em 1915, pontua que o recalcado prolifera no escuro, ‘Compreendo que Freud, com essa série complementar e sua dindmica, inaugura 0 processo que permitiu aos pos-freudianos, 134 como Green, desenvolver suas ideias sobre o trabalho do negati- vo. Ao fazer essa montagem, mesmo sem ampliar a ideia, abre a probabilidade de uma nova perspectiva metapsicolégica para se equacionar a problemitica da pulsio de morte. Isso permite um alargamento desse conceito mais além de sua tanaticidade. Diante desse contexto, a destrutividade pode e deve ser pen- sada em sua duplicidade; como destruig&o tandtica, que impede a construgio de novos significados, como temos exemplificado nas chamadas patologias do nao representavel, e como destruigao vi- talizante, que possibilita, com a desconstrugao do estabelecido, a criagaio de condigdes para o advir de novas ligagdes. Falando em criagdo, evoco a sublimagao, destino da pulso sexual — conjun- ¢4o — que tem na forga disjuntiva da pulsio de morte uma fonte propulsora para o seu acontecer. Nesse sentido, é emblematica a palavra de Freud, em seu trabalho inacabado, de 1938: “[...] 0 objetivo do segundo (pulsdo de morte), pelo contrario, é desfazer conexdes ¢ assim destruir coisas” (p. 173). Fazendo um paréntese inquiridor e evocando a clinica, essas palavras: “desfazer cone- x0es”, ndo traduzem uma das fungdes da intervengo do analista? Ampliar a capacidade sublimatéria nfo é uma das finalidades de uma andlise? Sendo assim, a pulso de morte estaria implicada diretamente na construgio do caminho da cura? Entendo que sim, pois, de forma ampla, podemos dizer que todo sujeito que procu- 1a analista, vem em busca de modificar o seu jeito repetitivo de ser, romper, desfazer conexdes e poder criar novos nexos; em ter- ‘mos pulsionais, instrumentalizar 0 potencial desorganizador da destrui¢ao com o potencial organizador da libido, Nesse sentido, recordo a atengaio flutuante, sustentada no intercdmbio pulsional: a atengo ¢ tributdria de Eros, enquanto a flutuagao o é da pulsio de morte®. Porém, retornemos a nosso escrito, com a expectativa de que essas questdes produzam desassossego nos leitores. “Na vertente:“O pulsar da pulstoe os enigmas da criaglo”,desenvolvemos a idea da rele- ‘ncia da puso de morte como um ds protagonists do processo de sublimagSo, Tomamos ‘como estimalo o postuado de que a pulsio de morte, ao romper com arepetigBo do mesmo, Tibera a ener para ume repetigo diferencia, atravessada pela forga de ligago de Eros. Paim Filho e Leite (2012) desenvolvem ess ideia propondo uma compreensio metapsi- coldgica para essa recomendacio técnica, ressaltando sua importincia como instrument vital na fungo de escuta dos derivativas do inconscient recalcado e do no recalcado. 135 Nao esquecamos: a pulsiio de morte nao tem qualidade, & somente uma forga cega que pulsa visando a descarga. Podemos, balizados por esse pensar, referendar a ideia de a angiistia ser a me- Ihor forma de apresentagao do irrepresentavel da pulsdio de morte, desde a angistia-sinal a angistia automatica. Entretanto, néio pode- mos esquecer 0 seu cariter silencioso, quando mantém-se muda, encarcerada por um traumético que leva & estase psiquica, que se manifesta por um puro agir. O qualitativo de vitalizante ou tanatica sera dado pelo colorido da libido da pulsdo sexual, essa que contém © € contida pelo objeto, Sendo assim, temos posto que a libido tenha a missio de indicar o caminho a ser percorrido pela forga origindria da pulsao de morte em suas mais variadas formas de repetig® Apés esse breve recorte sobre a construgdo do conceito da pulsio de morte, que remete a um além do prinefpio do prazer, estamos em condigdes de repensar a vitalidade e a pertinéncia do pensamento freudiano, decorridos esses noventa anos de histéria. Pulsio de Morte: a génese da alma em pauta Por crer que 0 texto de 1924 sobre 0 masoquismo contém, implicita e explicitamente, ideias que bradam por serem espe- culadas, e que podem ser fontes norteadoras para se pensar uma metapsicologia da pulsio de morte, tomarei por interlocutor 0 niio representavel presente na constituigdo do aparato psiquico, da normalidade a patologia. Debrugo-me sobre ele, com a meta de refletir a existéncia de um masoquismo primério ndo erdgeno. Recordemos que, nesse texto de 1924, Freud vai cunhar a expresstio masoquismo primario e erdgeno. Ao nos reportarmos a essa expresso, é chamativa a necessidade de Freud de agregar 0 adjetivo “erégeno”. Parece-me uma redundancia, pois o substan- tivo “masoquismo” jé contempla o sexual. Porém, avento a possi- bilidade de que essa forma de adjetivago tenha por meta ressaltar a importancia do sexual para domar a forga indomavel da pulsio de morte. Contudo, referendado pelo método pensante de Freud de trabalhar com par de opostos, como, por exemplo: proceso primério versus processo secundario; principio do prazer versus 136 principio da realidade; recaleamento primério versus recalcamento secundario; pulsdo de vida versus pulsio de morte, acredito que ele legou um modus pensante para concebermos o par complementar do masoquismo primério e erdgeno: 0 masoquismo primario no erdgeno. Se assim o for, surge uma questo: qual a relevancia desse masoquismo para a teoria e, por conseguinte, para a clinica? Eis ai ‘0 nosso interrogante, a clinica contemporinea, Clinica que versa sobre os enigmas da neurose, da psicose e da perversiio, que con- tém em seu cerne o universo do representivel, tendo na forga do desejo o mobil de sua dindmica, que pode ser recalcado, desmen- tido e/ou forcluido. Associa-se a essa familiar clinica de nosso co- tidiano, mas também nao to familiar, o desconhecido universo do no representivel, que os chamados estados-limite exemplificam @, 80 mesmo tempo, rogam por elucidagaio, Elucidagiio que busco fazer trabalhar na décima primeira vertente. Partindo da ideia freudiana de que © masoquismo é produto do encontro entre a pulsio de morte e a pulsio sexual, podemos in- ferir que este representa um momento, mesmo que mitico, inaugu- ral, da psique. Com isso, dor sem prazer e prazer com dor passam. a ser constitutivos da estruturagao da subjetividade do humano. Se tomarmos como ponto de partida a desamparada cria humana, com seu cabtico orbe pulsional, perceberemos que essa constituir-se~A na direta proporgdo do investimento libidinal dos objetos primordiais. ‘Sendo 0 masoquismo o destino primeiro, originario, que dard alguma ordem a desordem pulsional, vejamos por quais caminhos se dara o acontecer da psique. Para cumprir tal meta, se faz neces- sirio esclarecer 0 lugar do erégeno nas vicissitudes deste originétio. ‘Como dissemos acima, ele & o sinal que vem para ressaltar a impor- tancia decisiva da libido, que determinara destinos. Temos tal propo- sig&io enfatizada em 1923: “Diremos, também, que, inversamente, a progressdo das fases anteriores para a genital definitiva, depende de uum acréscimo de componentes eréticos” (Freud, 1923, p. 51). Pen- so que Freud, ao falar do masoquismo primério ¢ erégeno como um elemento estruturante, traga uma linha associativa com o proceso da repetigdo, desde a sua fungao criativa até o viés psicopatolgico 137 da compulsdo a repetigao"" ¢ ou da reagao terapéutica negativa, Com © masoquismo ocupando esse lugar singular, temos instrumentos para propor a seguinte tese: 0 masoquismo, antes de tudo, é pri- mario; na medida em que for sendo investido pela libido, vai fazer surgir 0 masoquismo primério e erdgeno, com sua potencialidade para o devir do masoquismo feminino e moral. Porém, quando esse investimento nao cumprir sua fungao de contengdo estruturante, se mantera como masoquismo primério ndo erdgeno. Nesse sentido, penso na hipétese levantada por Freud em 1923 “Entretanto, essa defusdo ¢ to primitiva que, na verdade, parece tratar-se mais de uma fusdo incompleta de pulsdes” (Freud, p. 51). Ele se manifestara de forma mais in natura sob o predominio da forga indomada da pulso de morte. Essa proposigdo pode ser exemplificada de ma- neira lapidar no proceso analitico, através da reago terapéutica negativa, que, como sabemos, é produto do masoquismo moral do Super-Eu. Esse masoquismo distingue-se pelo fator de haver uma dessexualizagio, ou seja, ocorre um aftouxamento do componente erégeno, que produziri seus ditames de maneira coerciva. Cogitan- do essa ideia, a reaco terapéutica negativa, que se particulariza por uma situiago paradoxal —adoecer ao melhorar— vem caracterizar a necessidade de punigao decorrente do sadismo projetado nos obje- tos. Parece-me que essa defusdo faz reviver 0 masoquismo primério através do retomo sobre si mesmo, dependendo da intensidade, do erdgeno ao ndo erégeno: quanto mais tandtica a reagao terapéutica negativa, mais pulsdo de morte, menos libido, mais necessidade de punigd0, menos sentimento de culpa. Entretanto devemos atentar para o assinalamento que Freud faz em 1937, no capitulo VI, do trabalho “Andlise termindvel ¢ intermindvel”. Nele encontramos a proposigao de que a reagiio te- rapéutica negativa possa transcender 0 conflito entre o Super-Eu e © Eu, indo além do interjogo prazer/desprazer, sugerindo a pos: lidade daquela também estar aprisionada de forma radical & pulsio de mort Na vertente “Compulsio a repetisto: pulsio de morte “Trans-investda” de libido” de- senvolvo a ideia que propde diferencia 0 processo de investimento do transvestimento «da pulsio de mort pela libido. Quando do advento do primero, teremos a possibiidade ‘de repeties cambiantese, quando do segundo, 2 compulsio repetigio do mesmo. 138 Uma parte dessa forca i foi por nés identifica, inubitavel- ‘mente com justica, como sentimento de culpa e nevesidace de unico, e por nbs lacalizada na relagdo ego com o superego. “Mas essa é apenas a pare dela que, por assim dizer esti psi- dquicaentepresa pelo superego e asim se tora reconhecivel; ‘outrascotas da mesma fora quer press, quer lives podem ‘estar em ago em outros lugares nao especificados. ..] Esses enémenos consttuem indcacdes inequivocas da presenca de tum poder na vida mental que chamamos de instinto de agress- vidade ou de destrigao [..] (Freud, 1937, p. 276) Temos ai a narrativa da proposta inédita de Freud, que faz da reagio terapéutica negativa (R.TN.) tributéria de uma dupla origem. Diante dessa nova concepgao, 0 pulsional destrutivo pas- sa a estar implicado intrinsecamente na génese dessa manifesta- io clinica, Sendo assim, penso tratar-se de uma manifestagdo no tratamento de algo que remete aos fundamentos da psique, a forga do traumatico, vinculada ao masoquismo primério ndo er6- ‘geno. Seguindo essa linha de trabalho, compreendo que a R.T-N. € decorrente de uma pura necessidade de punigdo, de mandatos endogimicos, aquém do conflito ~ auséncia de angiss- tia. Quanto a R-TN. decorrente do masoquismo moral, se encon- tra atravessada pelo conflito, trazendo em seu bojo o sentimento de culpa —angéstia insidiosa, Com essas perspectivas em mente, pretendo explorar a ideia das vicissitudes da pulsio de morte em seus caminhos descaminhos com a pulsdo sexual, a partir do irrepresentavel do masoquismo primério ndo erdgeno. Seguindo esse ponto de vista, ratifico, esse masoquismo & produto do encontro primor- dial das pulses. Nesse tempo primeiro, é uma frégil ligagiio em que o erdgeno ainda nao se construiu, Recordemos Freud, que, em 1930, corroborando essa ideia, adverte: “...] mas nao posso entender como foi que pudemos ter desprezado a ubiquidade da agressividade e destrutividade nao erética [...]” (Freud, 1930, p. 142). Com isso posto, temos recursos para vinculd-lo ao trauma primordial. Como sabemos, esse traumitico é produto da forga da inscrigo do pulsional, ligado as impressdes e tragos, fundando 0 aparato psiquico, que tem nos destinos pulsionais narcisicos seu 139 vetor de execugdo. Ancorado nesse pensar, agrego que o trauma primordial carrega em seu cemne 0 masoquismo primario nd erd- geno, 0 qual propicia uma qualidade. Seguindo por esse caminho exploratério, podemos ratificar a tese de que o inconsciente nao recalcado tem sua instauragao efeti- vada pelos destinos pré-recalque®, que estardo implicados na con- tengo e na efetivag’io do masoquismo primério ndo erdgeno; en- quanto o inconsciente recalcado, produto do acontecer do recalque originario, constituido e constituinte do universo representacional, tem como elemento fundante 0 masoquismo primério e erdgeno. Partindo desse nécleo origindrio, podemos hipoteticamente delinear dois percursos ndo excludentes, porém concomitantes, que tém como diferencial as intensidades com suas especificida- des qualitativas: 0 masoquismo primério ndo erégeno do trauma primordial segue pulsando sem uma intervened mais ativa da libido. Portanto, aquém do principio do prazer, subordinado a ‘uma pulséio de morte pouco domesticada, tendo como forma de expressiio maior a compulsio & repetigdo do que nunca foi praze- roso (Freud, 1920), topograficamente localizado no inconsciente nao recaleado. Nesse contexto temos a vigéncia de uma pulsio de morte comprometida com seu imperative maior: descarga ab- soluta, marcada pela preméncia do nirvana — forga do corpo so- ‘mitico em detrimento do corpo simbélico. Essa pulso, por estar fragilmente investida, padece de uma mudez, de um siléncio si- nistro, insidioso com toda a sua autoletalidade; ¢ 0 outro caminho €a transformagao em erdgeno, que viabiliza 0 acontecer das re- presentagdes, que remete ao inconsciente recalcado, regido pelo principio do prazer, que busca efetivar o desejo, pelos mais varia- dos caminhos — retorno do recalcado: sintomas, sonhos, transfe- réncia, atos falhos; retomo do forcluido: delirios, alucinagdes; ¢ 0 retomno do desmentido: fetiche. Aqui temos uma pulsio de morte exercendo sua fungao destrutiva do estabelecido, pondo Eros a trabalhar. Nesse sentido, embate entre a forca do desligado da vertente “Destinos Pulsionais Narcisicos: Sobre Schreber em nés” construoa| Posigo que os destinos pulsionas pré-recalque vibilizam a fundagdo do aparato ‘quico. Visando dar sustentabilidade a essa hipStese, fago uma articulagBo com 0 caso do “Presidente Schreber” (1911) eo artigo “Uma crianga &espancada” (1919). 140 pulsdo de morte ¢ a forga que visa ligagdo da pulstio sexual se tra- duz na ruptura do siléncio de nossas origens®. Essa compreensio dé sentido a afirmago de Freud, estabelecida no tiltimo paragrafo do Eu eo Id (1923), quando fala do irrequieto Eros. Quanto As manifestagdes clinicas das patologias do irrepre~ sentivel, penso na compulsio a repetigzio do mais além, repetigio do que nunca foi prazeroso... presente, por exemplo, na toxico- ‘mania (patologias do ato), na psicossomatica, como, também, na tragédia melancélica. Nesses quadros deparamo-nos com a im- possibilidade da angiistia cumprir sua fungao de protegao contra 0 horror do desamparo. Mais aquém das suas singularidades, reflito na forga de uma autodestrutividade pouco mediada pela libido. Parece-me que esses sujeitos sofrem de imperativos categéricos que remetem a forga de um masoquismo primério ndo erégeno, preso na trama de um Eu-realidade-originéria permeado por pul- ses parciais, pelo autoerotismo, de uma pulsio de morte pouco mitigada pela forga da solidariedade-excitatorio-sexual; que tem na incorporagao do objeto sua fonte primordial de satisfaga0, que Ihe garante alto grau de alienagdo: a sombra de um objeto frag- mentado cai sobre o Eu. Por conseguinte, as identificagdes ten- derio a acontecer de maneira precaria, Nesse sentido, penso na vigéncia de um psiquismo marcado pela preméncia de um estado de nao desejo, de um narcisismo impossibilitado de cumprir sua fungdio de um ideal, em que a droga ou o corpo biolégico surgem como tentativas de aplacar (ligar) a dor nao sentida do desampa- 0, do qual somos todos origindrios e que se manifesta de modo peculiar na sensago de vazio e/ou nas tormentas do corpo. Proponho o seguinte esquema na tentativa de dar alguma plasticidade as vicissitudes constitutivas do psiquismo, partindo do pressuposto de que 0 masoquismo primério ndo erdgeno ¢ 0 fundamento primordial. S Neste parigrafo explicito o cariterparadoxal da pulsdo de morte: silenciosa em suas origens e produtora de ruidos contundentes na medida que se v8 compelida a ser domes- ticada pela pulsio sexual 14 Maoquene Peni igre Orman nm - congo epetiso (recente dee) mM cette canine Pinos os PS: pulsto Sexual; S.E.S: solidariedade~ excittria ~sexual PM: pulsto de Morte, R-T.N: reasa0 teraputica negative aaa 142 Temos o ato como porta-voz do que é sem voz, a pulsto de morte em toda a plenitude anticultural: a jungao da forga destruti- vva do sujeito mais a forca destrutiva dos objetos; estabelecimen- to de um pacto mortifero entre ambos. Esses objetos origindrios (figuras parentais) entram em cena trazendo, além do traumatico de sedugio permeada pela libido, que permite a criagio de uma verdade histérica, o traumatico da pulsdo de morte, 0 acontecer da verdade material. Verdade essa que, por exceléncia, ¢ incog- noscivel, o que deixa representar-se sfio seus atributos, enquanto a porgo central — o intrinseco — segue de eterno inapreensivel, as coisas do mundo: “O que chamamos de coisa do mundo sao restos subtraidos da apreciagao judicativa” (Freud, 1895, p.379). Sendo assim, esse lado obscuro do mundo — restos, inapreensivel ¢ incompreensivel, estar sempre implicado com 0 que o objeto tem de mais destrutivo. Quando penso nesse nucleo central que constitui © objeto e 0 sujeito, penso na pulsio, essa “coisa do mundo”, a que nunca temos acesso, somente a sabemos por seus atributos, informados por seus representantes. Por esse caminho, © traumatico da verdade material diz. respeito ao no conhecido do pulsional, que 0 corpo e 0 objeto depositam sobre o sujeito. Esse € 0 nflo passivel de ser subjetivado pelo aparato psiquico. ‘Nesse palco nao erdtico, temos um dos apices do prinefpio de nirvana, a busca da tensfo zero, tempo de ser objeto da pulsdo, anterior A edificagdo do objeto do desejo. Sendo assim, o que & encenado no é a construgdo de uma hist6ria, antes uma hist6ria sem construgdo, Dan- do sequéncia a essa assertiva, a fungio analitica deverd contemplar a possibilidade, balizada pela dinamica da transferéncia, de instrumen- talizaro recurso técnico da construgdo em analise e da andlise. Como um iltimo assinalamento, retomo a pertinéncia da sen- sago de estranhamento como uma forma de falar do inconsciente recalcado, dos destinos do masoquismo primario erdgeno, mas tam- ’bém, indo mais além, como forma de comunicagao do pulsional ins- crito, mas ndo transcrito, que 0 masoquismo primério nao erégeno representa, Entretanto, visando a uma maior clareza, reafirmo, Freud propée o estranho exclusivamente como retorno do recalcado, Po- rém, encontramos em seu texto ideias que permitem pensar no arcai- £0, no niio recalcado, no retorno do que poderia ter sido mais nao foi: 143 Pois & possivel reconhecer, na mente inconsciente, a predo- ‘mindncia de uma ‘compulsdo a repeticdo’, precedente dos Jmpulsos instintuais e provavelmente inerentes & prépria rnatureza dos instintos ~ uma compulséo poderosa 0 bas- ‘ante para prevalecer sobre o principio do prazer [..]. To- das essas consideragdes preparam-nos para a descoberta de que 0 que quer que nos lembre desta intima ‘compulsao 4 repetigdoé percebide como estranho (1919, p. 297). ‘A propria natureza da pulsio, eis ai uma expresso que me faz pensar na forga de apresentagdo da pulsdo, do que nao se deixa con- tere transformar, pela trama representacional. Da repetigdo do trau- mitico — compulsao a repetigfio, © que Freud chamou a “repetigao da mesma coisa” (1919, p. 295). Seguindo por essa leitura, na qual encontro vestigios de um estranho que diverge das variadas formas conhecidas do retomo do recalcado, deparo-me com o sinistro, que desconsidera as leis que regem o principio do prazer. Logo, o estra- nnho pode e deve ser pesado, também, como instrumento de comu- nicago do que carece de representagiio, que se vale das sensagies por ndo poder fazer valer o sentimento, Em face dessa limitagio do sentir, penso, novamente, na reagao terapéutica negativa, ¢ vejo nela um grau extremado da vivéneia sinistra (melhora/agravamento), que convida o analista a ser um interlocutor que possa dialogar com essa negativa que tem culpa, mas niio sente, que pede unico, mas, tam- bbém, nao sabe, antes de tomar-se uma reago ou, sendo mais expli- cito, um ato carregado de autodestrutividade, Encerrando, ratifico, Além do principio do prazer, noventa anos de uma histéria viva, marco inaugural de uma nova era, que visa fazer pulsar a forga indomada da pulsdo de morte. Pulsdo essa que convoca, desafia, faz tremer e mesmo temer o pensar psica- nalitico, diante da proposta maior da ciéncia do inconsciente, que compreendo como uma Ciéneia Unheimlich*. Consiste em um dis- 5 No artigo “Psicanélise uma cigncia Unheimlich: o mais além das neurociéncias” (PAIM FILHO, 2009), o autor busca trabalhar a especificidade da psicandlise como ci- ncia, fazendo uma interlocugio com a proposta de neuropsicandlise. Nesse sent advoga a importincia do principio da incerteza e sua possvel vinculag8o com a teoria pulsional, em especial a pulsio de morte como forea desorganizadora do estabelecido. orga propulsora da cratvidade. 144 curso assentado em uma ordem divergente, que pde em confronto permanente o ndo conhecer da pulso de morte, entrecortado pelo conhecerdesconhecer da pulsdo sexual, como julgo conhecer pro- pagado e visado por muitas de nossas ciéncias contemporiineas. REFERENCIAS CALVINO, 1. (1993) Por que ler os classicos. Tad. N. Moulin, Sao Paulo: Compa- ‘hia das Letras (trabalho original publicado ema 1991), FREUD, S. (2004) La afasia In: ‘Trad. R. Aleade. Buenos Aires: Nueva Visidn (trabalho original publicads em 1891), _. 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