Você está na página 1de 108

FICHA TÉCNICA

TÍTULO

Manual de Extinção de Incêndios

AUTOR

Femédica - Formação e Emergência Médica, Lda

DESIGN E PAGINAÇÃO

Femédica - Formação e Emergência Médica, Lda

IMAGENS E ILUSTRAÇÕES

Femédica
Banco de imagens

Versão 1.0 - 1.ª Edição 2019


Revisão da versão 1.0 - 1ª edição 2018

www.femedica.pt

© 2019 - All Rights Reserved


1. ÍNDICE

1.. Nota Introdutória..................................................................................................................................... 7

2. E
. stados físicos da matéria...................................................................................................................... 7

3..Início e propagação do fogo.................................................................................................................... 7

4..Aspetos gerais da combustão............................................................................................................... 16

5. D
. esenvolvimento e progressão de um incêndio................................................................................... 20

6..Métodos de extinção............................................................................................................................. 23

7..Agentes extintores................................................................................................................................. 25

8. .Classificação dos extintores.................................................................................................................. 37

9..Características e modo de funcionamento dos extintores.................................................................... 40

10..Actuação com extintores..................................................................................................................... 43

11..Redes de incêndio............................................................................................................................... 50

12..Iluminação de segurança.................................................................................................................... 59

13..Sinalização de segurança e de informação........................................................................................ 61

14. V
. estuário e equipamento de protecção individual............................................................................... 66

15.. Aparelhos respiratórios........................................................................................................................ 66

16..Busca e salvamento............................................................................................................................ 72

17..Organização da segurança................................................................................................................. 80

18..Combate a incêndios e estabelecimentos de mangueiras.................................................................. 91

19. Bibliografia......................................................................................................................................... 105


Manual de Extinção de Incêndios 7

1. NOTA INTRODUTÓRIA

O objetivo deste manual é de proporcionar aos seus leitores esclarecimento sobre algumas dúvidas
que possam surgir sobre a formação de segurança contra incêndios. Serão abordados os conceitos
relacionados com esta matéria e de uma forma simples realçar os aspetos importantes a ter em
consideração na compreensão e aplicação prática dos conhecimentos sobre extinção de incêndios.

2. ESTADOS FÍSICOS DA MATÉRIA


SÓLIDOS:
⋅⋅ Têm forma fixa
⋅⋅ Não são, em geral, compressíveis (há tão pouco espaço entre os seus constituintes que é muito difícil
aproximá-los mais uns dos outros).

LÍQUIDOS:
⋅⋅ Não têm forma
⋅⋅ Já são compressíveis, ainda que pouco, pois há mais espaço entre os seus constituintes o que
possibilita que as moléculas se aproximem umas das outras (ainda que com alguma dificuldade).

GASES:
⋅⋅ Não têm forma
⋅⋅ São facilmente compressíveis (há tanto espaço entre os seus constituintes que pode obrigar-se as
moléculas a aproximarem-se umas das outras).

3. INÍCIO E PROPAGAÇÃO DO FOGO


3.1 O QUE É O FOGO?

O fogo, como foi referido anteriormente, é uma reação química de oxidação-redução designada por
combustão e acompanhada pela libertação de calor.

Esta libertação de calor pode ser lenta, como no caso da formação da ferrugem, ou rápida com a produção
de chamas, como quando se acende o bico de gás de um fogão.

Assim a combustão não pode existir sem o combustível, mas também sem um segundo componente – o
comburente.

O melhor exemplo de comburente, responsável por 99,9 % de todas as combustões, é o oxigénio contido
no ar que respiramos. Este é constituído, aproximadamente, por 78 % de azoto, 21 % de oxigénio e 1 %
de outros gases.

Notas:
8 Manual de Extinção de Incêndios

Em resumo, pode afirmar-se o seguinte:

⋅⋅ Combustível: substância que reage no seio de um gás

⋅⋅ Comburente: corpo gasoso ou atmosfera que envolve o combustível e que com ele reage na
combustão.

3.2 TRIÂNGULO DO FOGO

A experiência mostra que, em geral, não basta misturar o combustível com o comburente para que se
verifique a combustão. É necessária uma fonte de energia que possa iniciar (ativar) o processo, isto é,
necessita-se de uma energia de ativação. Só pela junção destes três fatores tem origem a combustão.
Fala-se então do triângulo do fogo.

3.3 TETRAEDRO DO FOGO

A ação conjunta dos três elementos do triângulo de fogo, necessária para se iniciar uma combustão, pode
não ser suficiente para a manter. Para garantir a combustão contínua tem que se introduzir um quarto
elemento – a reação em cadeia. Com efeito, no decurso da reação química formam-se os chamados
«radicais livres», resultantes da decomposição das moléculas nos átomos que lhes deram origem.

Estes radicais livres, gerados a partir das moléculas que participam na reação de combustão, contêm
energia elevada e reagem rapidamente com outras moléculas, formando mais radicais livres (existem
ao nível das zonas intermediárias das chamas) expandindo, deste modo, a combustão no tempo e no
espaço.

Por exemplo, na combustão do hidrogénio as moléculas deste, por ação do calor dividem-se, originando
radicais livres de hidrogénio (H°) que, por sua vez, se combinam com uma molécula de oxigénio, originando
outro radical livre (OH°), propagando-se desta forma a reação.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 9

Podemos então dizer que se formou o tetraedro do fogo

(tetra = quatro + edro = face)

A contribuição e características destes fatores irão influenciar a combustão de forma diversa dependendo
das características associadas ao combustível, ao comburente, à energia de ativação e à própria
formação de radicais livres, que serão analisados nos pontos seguintes.

3.4 FONTES DE ENERGIA DE ATIVAÇÃO

A energia, normalmente na forma de calor, necessária para iniciar o processo da combustão designa-
se por energia de ativação. Esta pode ter origem numa variedade apreciável de fontes conforme se
apresenta.

> PRINCIPAIS FONTES DE ENERGIA DE ATIVAÇÃO

Tipo de Fonte Origem Exemplos

- Aquecedor elétrico
- Resistência
- Cabo de alta tensão quebrado em contato com o solo
Elétrica - Arco Voltaíco (faísca)
- Descarga entre um extintor e a terra após o esvaziamento
- Eletricidade estática
rápido de extintor
- Contato não lubrificado entre duas peças metálicas em
- Fricção
Mecânica movimento
- Compressão
- Compressão de um gás num cilindro
- Placa de um fogão
- Superfícies quentes
Térmica - Exposição intensa e continuada ao Sol, que provoca a
- Radiação
libertação de vapores combustíveis pela madeira
- Limalha de ferro + Óleo
Química -
- Algosão + Óleo

Notas:
10 Manual de Extinção de Incêndios

3.5 COMBURENTES

O comburente que participa na grande maioria das combustões é, como se disse, o oxigénio do ar.

A percentagem de ar na mistura combustível é também um fator importante. Para certos combustíveis,


uma atmosfera com menos de 15% de oxigénio já não alimenta uma combustão. No entanto, há outros
combustíveis para os quais a combustão se extingue apenas para concentrações de oxigénio inferiores a
10%. Os combustíveis sólidos podem continuar a combustão, sem emissão de chama, numa atmosfera
com apenas 6% de oxigénio e há substâncias que libertam oxigénio ao arder, tais como a celulose e
compostos dela derivados, a pólvora, os nitratos, os cromatos e os materiais pirotécnicos, entre outros.
Verifica-se, assim, que a percentagem de oxigénio mínima para que se mantenha a combustão depende
do combustível em questão.

Para além do oxigénio, há outros gases que podem comportar-se como comburentes para determinados
combustíveis. Assim, o hidrogénio arde no seio do cloro, os metais leves (lítio, sódio, potássio, magnésio,
etc.) ardem no seio do vapor de água e o cobre arde no seio de vapor de enxofre. O magnésio e o titânio,
em particular, e se finamente divididos, podem arder ainda em atmosfera de gases normalmente inertes,
como o dióxido de carbono e o azoto.

Pelos exemplos expostos é, pois, fácil de reconhecer a complexidade e variedade de situações passíveis
de se verificarem num incêndio, uma vez que substâncias, normalmente consideradas como agentes
extintores, podem elas próprias permitir o início ou a intensificação de uma combustão.

3.6 COMBUSTÍVEIS

Os combustíveis apresentam-se nos três estados da matéria, pelo que as suas propriedades físico-
químicas são também muito diferentes, dificultando o estabelecimento de regras de uma forma absoluta.

Contudo, algumas das características podem ser sistematizadas e estudadas, de que são exemplo as
seguintes:

⋅⋅ Condutividade térmica
⋅⋅ Estado de divisão
⋅⋅ Densidade

⋅⋅ Miscibilidade (líquidos)
⋅⋅ Temperaturas características
⋅⋅ Tendência para libertar vapores (líquidos)

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 11

3.7 CONDUTIVIDADE TÉRMICA

A condutividade térmica está diretamente relacionada com a capacidade de uma substância conduzir
calor. Assim, as substâncias pouco condutoras de calor ardem mais facilmente que as boas condutoras.
Por exemplo, a madeira arde muito mais facilmente que o ferro. Este facto deve-se à acumulação de calor
numa pequena zona no caso de materiais pouco condutores. A temperatura nesse local eleva-se de tal
forma que se libertam vapores combustíveis, os quais, na presença de mais calor (energia de ativação),
podem inflamar-se. No caso dos bons condutores, o calor distribui-se por toda a massa fazendo com que
a temperatura se eleve lentamente.

3.8 ESTADO DE DIVISÃO

O estado de divisão do combustível influencia a capacidade que um corpo tem de arder. Como exemplo,
considere-se o petróleo que à temperatura ambiente não é inflamável, isto é, chegando a chama de um
fósforo à superfície deste líquido não se verifica a combustão. No entanto, se for disperso mecanicamente
(em spray), em direção a uma fonte de calor, observa-se a sua inflamação imediata.

3.9 DENSIDADE

A densidade do combustível antes da vaporização (tratando-se de um sólido ou de um líquido) ou a


densidade do próprio vapor é outra característica a conhecer. Esta propriedade pode ser definida pelo
quociente entre a massa de uma determinada quantidade de substância e o volume que ela ocupa (1).
Definida desta forma, a densidade tem como unidade mais usual, no caso de líquidos, g/ml. Por exemplo,
a água no estado líquido a 25 °C tem uma densidade aproximada de 1 g/ml e, por isso, sabe-se que 1g
de água ocupa 1 ml ou, o que é o mesmo, que 1kg de água ocupa o volume de 1l.
Ao afirmar-se que a gasolina é menos densa que a água, significa que 1kg de gasolina ocupa um volume
maior do que 1l. Por outro lado, a gasolina não é miscível com a água e flutua à sua superfície. Isto
significa que, em caso de incêndio, o uso da água para tentar extinguir a combustão deste líquido pode
levar à sua propagação.1
Da mesma forma, a densidade dos vapores combustíveis em relação ao ar origina situações diferentes.
Considerando, uma vez mais, o exemplo da gasolina, cujo vapor é mais denso que o ar e, por isso, se
propaga facilmente junto ao solo.
Uma vez que não se dissipa na atmosfera é também um veículo para levar a combustão a outros pontos.
Já o gás natural é menos denso que o ar e, por isso, em ambiente aberto dissipa-se facilmente para a
atmosfera.

3.10 MISCIBILIDADE

A miscibilidade dos combustíveis deverá ser igualmente considerada, uma vez que da mistura de dois
combustíveis, sendo um muito inflamável (gasolina) e outro apenas inflamável (petróleo), resulta um
líquido que pode passar a libertar quantidades importantes de vapor a baixas temperaturas aumentando,
deste modo, o risco de incêndio.

Notas:

1 . Trata-se da densidade mássica ou densidade específica


12 Manual de Extinção de Incêndios

3.11 TEMPERATURAS CARACTERÍSTICAS

As temperaturas características de um combustível encontram-se diretamente ligadas com a presença de


uma fonte de calor, que pode aumentar a temperatura do combustível desde um valor mais baixo até um
mais elevado, com a seguinte classificação:

⋅⋅ Temperatura de inflamação – temperatura mínima à qual uma substância é capaz de emitir vapores
combustíveis em quantidade suficiente para formar com o comburente uma mistura que, por ação de
uma fonte de energia, se pode inflamar, extinguindo-se a combustão de seguida devido à emissão
de vapores em quantidade insuficiente;

⋅⋅ Temperatura de combustão – temperatura mínima à qual uma substância emite vapores combustíveis
em quantidade suficiente para que, em contacto com o comburente, se possam inflamar por ação de
uma fonte de energia exterior e arder continuamente;

⋅⋅ Temperatura de ignição – temperatura mínima à qual os vapores libertados por um combustível se


auto-inflamam (combustão espontânea) sem a presença de uma fonte da energia exterior.

Apresentam-se alguns exemplos de combustíveis com as suas diferentes temperaturas características.

> TEMPERATURAS CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS COMBUSTÍVEIS SÓLIDOS, LÍQUIDOS E GASOSOS

Temperatura de Temperatura de Temperatura de


Substância
Inflamação (cº) Combustão (Cº) Ignição (Cº)
Pinho 225 265 280
Madeira dura ≈ 245 ≈ 270 ≈ 290
Papel 230 - 230
Polietileno 340 - 350
Gasolina -40 -20 227
Gasóleo 90 104 330
Petróleo 30 43 250 a 450
Óleo lubrificante 157 177 230
Etanol 13 - 370
Butano -60 - 430
Etileno - - 490 a 540

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 13

3.12 TENDÊNCIA PARA LIBERTAR VAPORES

Uma outra propriedade com interesse neste contexto é a tendência que um combustível líquido tem para
libertar vapores combustíveis. Com base neste critério, existem diferentes classificações consoante o
país considerado.

A norma portuguesa NP-1936 (1983) classifica os combustíveis líquidos quanto ao risco de incêndio, em
três categorias:

⋅⋅ 1.ª Categoria – quando o ponto ou temperatura de inflamação (Ti) é inferior a 21 °C. Isto significa que
estas substâncias libertam vapores à temperatura ambiente;

⋅⋅ 2.ª Categoria – se o ponto ou temperatura de inflamação é igual ou superior a 21 e inferior a 55 °C.


Estes líquidos libertam gases ou vapores em locais não protegidos;

⋅⋅ 3ª Categoria – o ponto de inflamação é igual ou superior a 55 °C e, por isso, só libertam vapores


quando sujeitos à ação de uma fonte de calor.

Apresentam-se alguns exemplos de combustíveis dos vários grupos.

> TEMPERATURAS DE INFLAMAÇÃO - CARACTERÍSTICAS DE VÁRIOS COMBUSTÍVEIS LÍQUIDOS

Categoria Combustível Ti (Cº)

Éter de petróleo -45


Gasolina -45 a -20
1ª Categoria Acetona -12
Benzeno -11
Álcool a 80º 10
Aguarrás 34
2ª Categoria Aguardente 36 a 54
Petróleo 45 a 48
Gasóleo 65 a 72
3ª Categoria Óleo de travões 82 a 118
Óleos lubrificantes 175 a 220

Notas:
14 Manual de Extinção de Incêndios

3.13 LIMITES DE INFLAMABILIDADE


A percentagem de vapores de combustível é outro dos fatores a considerar, já que a mistura do
combustível com o comburente não pode conter demasiado combustível (mistura rica) nem uma quantidade
insuficiente (mistura pobre). Definem-se então, para cada combustível, os limites de inflamabilidade, que
delimitam o campo de inflamabilidade, dentro dos quais é possível o início da combustão de acordo com
a norma portuguesa NP-3874-1 (1995):

⋅⋅ LII – Limite Inferior de Inflamabilidade – corresponde à percentagem mínima de combustível


gasoso que, misturado com o ar, permite a combustão, não sendo a mesma possível abaixo deste
limite (mistura pobre).

⋅⋅ LSI – Limite Superior de Inflamabilidade – corresponde à percentagem máxima de


combustívelgasoso que, misturado com o ar, permite a combustão, não sendo a mesma possível
acima deste limite (mistura rica).

O campo de inflamabilidade varia de substância para substância, como se pode ver pelos exemplos do
quadro seguinte.
> CAMPO DE INFLAMABILIDADE DE VÁRIOS COMBUSTÍVEIS

Campo de Inflamabilidade
Combustível
LII (%) LSI (%)
Hidrogénio ≈4,0 ≈75,0
Monóxido de Carbono 12,5 74,0

Propano 2,1 9,5

Acetileno 2,5 82,0

Gasolina (vapor) 1,4 7,6

Éter (vapor) 1,7 48,0

Álcool (vapor) 3,3 19,0

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 15

3.14 CLASSES DE FOGOS

A grande diversidade de combustíveis, em especial o seu estado físico e a forma diferente como reagem
perante um determinado agente extintor, levou à divisão dos fogos em classes para que a sua extinção
possa ser feita da forma mais eficaz. A NP EN2 (1993) define as seguintes classes de fogos, de acordo
com a natureza do combustível:

⋅⋅ Classe A – fogos de materiais sólidos, em geral de natureza orgânica, em que a combustão se faz,
normalmente, com formação de brasas. São exemplo, a madeira, o carvão, o papel, os tecidos, os
plásticos comuns e a palha;

⋅⋅ Classe B – fogos de líquidos ou sólidos liquidificáveis. As gasolinas, o álcool, os petróleos, o alcatrão,


a cera, a parafina, são exemplos desta classe de fogos;

⋅⋅ Classe C – fogos de gases, tais como o metano, propano, butano, gás natural, acetileno e hidrogénio,
entre outros;

⋅⋅ Classe D – fogos envolvendo metais, tais como os metais leves (lítio, sódio, potássio, magnésio,
alumínio), certas ligas e, ainda, o titânio.

⋅⋅ Classe F – fogos envolvendo gorduras de origem animal e vegetal, e produtos para cozinhar em
aparelhagem de cozinha.

Notas:
16 Manual de Extinção de Incêndios

4. ASPETOS GERAIS DA COMBUSTÃO


4.1 VELOCIDADE DA COMBUSTÃO

A velocidade a que decorre uma combustão depende de vários fatores.

Em particular, será tanto mais rápida quanto maior for:

⋅⋅ O grau de divisão do combustível


⋅⋅ A inflamabilidade do combustível
⋅⋅ A superfície do combustível, em especial no que diz respeito à superfície exposta diretamente ao
comburente
⋅⋅ O grau de renovação ou alimentação de comburente.

Em relação à velocidade, a combustão é classificada de quatro formas, cujas características mais


importantes são as seguintes:

⋅⋅ Lenta – quando se produz a uma temperatura suficientemente baixa, isto é, inferior a 500 °C, não
havendo, regra geral, emissão de luz. A oxidação de um metal (ferro, cobre, zinco, etc.) em contacto
com o ar húmido é um exemplo deste tipo de combustão.

⋅⋅ Viva – é aquela em que se produz luz e, vulgarmente, designa-se por fogo. Neste caso, devido à
mistura dos gases inflamados com o ar forma-se a chama. No caso dos sólidos, cuja combustão
decorre à superfície, verifica-se a incandescência a partir da sua ignição e também através da
formação de brasas. Estas surgem quando o combustível já não liberta gases suficientes para
provocar chama. A combustão do carvão ilustra estes aspetos.

⋅⋅ Deflagração – combustão muito rápida cuja propagação se dá a uma velocidade inferior à do som
no ar (340 m/s).

⋅⋅ Explosão – combustão resultado da mistura de gases ou partículas finamente divididas com o ar


numa percentagem bem determinada – mistura explosiva ou detonante – propagando-se a uma
velocidade superior a 340 m/s. Neste caso, a mistura tem de ocupar todo o espaço onde está contida
e, no momento da explosão, provoca uma elevação de temperatura ou de pressão ou de ambas,
simultaneamente, sobre todo o espaço confinante.

4.2 PROPAGAÇÃO DA ENERGIA DA COMBUSTÃO

A propagação da combustão deve-se, essencialmente, ao facto da energia libertada se propagar e criar


condições para que uma maior quantidade de combustível entre em combustão.

É esta transferência de energia que constitui o fator de maior relevo na forma como um incêndio se propaga.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 17

São as seguintes, as formas como a energia resultante da combustão se pode propagar:

⋅⋅ Radiação – a combustão viva, ao produzir chama, leva à emissão


de energia sob a forma de radiação nomeadamente infravermelha
(isto é, abaixo do vermelho) que, sendo invisível para o homem
só é detetável pelos seus efeitos ou com equipamento especial.
A energia transmite-se através do espaço, sem suporte material e
em todas as direções, tal como acontece com a radiação produzida
pelo Sol, que se propaga até à Terra através do espaço vazio. A
energia radiada, ao encontrar um corpo opaco, transforma-se em
calor, aquecendo-o. Este tipo de propagação de energia é particularmente perigoso para os edifícios
próximos a um incêndio violento. Os edifícios expostos à radiação são designados por exposições
exteriores.

⋅⋅ Condução – o calor transmite-se diretamente no interior de um


corpo ou através de corpos em contacto, sem deslocação de
matéria, através de alterações do estado da agitação molecular.
Esta transferência de energia efetua-se dos pontos em que a
temperatura é mais elevada para aqueles em que a temperatura
é menor. Esta propagação do calor será tanto mais rápida quanto
melhores condutores forem os corpos envolvidos. Num edifício,
a condução pode verificar-se através de paredes e estruturas
metálicas (pilares e vigas), etc.

⋅⋅ Convecção – a menor densidade dos gases aquecidos provoca


correntes ascendentes dos gases quentes e correntes descendentes do
ar circundante, mais frio, deslocando-se desta forma a matéria aquecida
para outros pontos. Num edifício, esta forma de propagação faz-se por
todas as comunicações interiores (caixas de elevadores, corredores,
coretes, condutas de ventilação) e pela fachada.

Existe ainda outra forma de propagação de incêndios – projeção e deslocamento de matéria inflamada.
Em consequência de dilatações bruscas dos materiais inflamados e/ou da existência de fortes correntes
de ar, é frequente dar-se a projeção de partículas aquecidas ou mesmo incandescentes, tais como pinhas
(ou pedaços), caruma, folhas, pequenos ramos, etc.

Notas:
18 Manual de Extinção de Incêndios

Este tipo de propagação é também possível pelo movimento de animais em chamas, faúlhas de locomotivas,
artifícios pirotécnicos, etc. Outro exemplo, são os combustíveis sólidos que fundem ou gotejam, podendo
propagar a energia, através do aquecimento, a outros pontos.

4.3 PRODUTOS DA COMBUSTÃO

Da combustão, para além da libertação de energia, também resultam produtos como o fumo, os gases e
os resíduos sólidos (por exemplo, as cinzas).
O fumo deve-se à combustão incompleta dos materiais e tem cor branca ou cinzenta pálida se houver
bom acesso do comburente à mistura, e negra ou cinzenta escura quando o fogo desenvolve grande
temperatura e tem falta de comburente, como é o caso da combustão de plásticos ou em espaços
fechados.
Por vezes, verifica-se a presença de fumo colorido, amarelo, roxo ou violeta, indicando a presença de
gases fortemente tóxicos.
O conhecimento dos gases resultantes da combustão e das suas características é extremamente
importante, uma vez que as estatísticas mostram que morrem mais pessoas em incêndios urbanos devido
à inalação destas substâncias do que por queimaduras ou derrocadas de edifícios.
De uma forma geral, os gases que se libertam da combustão serão tanto mais perigosos quanto mais
elementos entrarem na composição do combustível.
A combustão pode libertar gases tóxicos como, por exemplo:

⋅⋅ O monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2), resultantes da matéria orgânica;


⋅⋅ O ácido cianídrico (HCN), proveniente de fibras acrílicas como as carpetes, poliuretanos ou nylon,
que também liberta amoníaco;
⋅⋅ O ácido clorídrico (HCl) e fosgénio (COCl2), resultantes da queima de materiais que possam conter
cloreto de polivinilo (PVC), como certo tipo de pavimento, papel de parede em vinilo e tubagens de
instalação de cabos.
Apresenta-se um resumo da toxicidade de alguns dos gases libertados num processo de combustão,
indicando-se as possíveis origens desses gases.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 19

Nessa tabela apresentam-se, para diversas situações de exposição, as concentrações desses gases
utilizando-se como unidade a parte por milhão (ppm).

Uma parte por milhão corresponde, por exemplo, a um mililitro em cada metro cúbico, pois um metro
cúbico é igual a um milhão de mililitro.

1 M3 = 1 000 L = 1 000 000 ML

Em percentagem, uma ppm é equivalente a 0,0001 % do volume total, ou seja, 1% é equivalente a


10 000 ppm.

Admissível Perigoso em
Substância Mortal Origem
várias horas meia hora

Dióxido de Todos os materiais


1000 a 1500 3500 a 4000 60000 a 70000
Carbono, CO2 orgânicos

Monóxido de Todos os materiais


100 1500 a 2000 10000
Carbono, CO orgânicos

Vapores Nitrosos,
10 a 40 100 a 150 200 a 700 Celulóide e brinquedos
NO/NO2
Ácido Cianídrico,
Lã, seda e alguns
HCN 15 100 180 a 270
plásticos

Ácido Clorídrico, Materiais sintéticos como


10 1000 a 2000 1300 a 2000
HCI o PVC

Ácido Sulfídrico, Materiais orgânicos com


20 300 1000
H 2S enxofre

Em sistemas de
Amoníaco, NH3 100 500 2500 a 5000
refrigeração

Materiias |a base de cloro


Cloro, Cl2 0,35 a 1,0 40 a 60 1000
(pouco significativo)

Materiais à base de cloro


Fosgénio, COCl2 1,0 25 50
(pouco significativo)

Notas:
20 Manual de Extinção de Incêndios

5. DESENVOLVIMENTO E PROGRESSÃO DE UM INCÊNDIO


5.1 FASES DE DESENVOLVIMENTO DE UM INCÊNDIO

Um incêndio é uma combustão (fogo) sem controlo no espaço e no tempo.

De uma forma simples, um incêndio, abandonado a si mesmo, depois da sua fase inicial, entra em
combustão livre até se verificar o decaimento das chamas.

O desenvolvimento de um incêndio depende de muitos fatores de tal forma que, nos bombeiros, é usual
dizer-se que não há dois incêndios iguais.

Porém, é normal sucederem-se as seguintes fases no desenvolvimento de um incêndio:

⋅⋅ Fase inicial (ou eclosão), em que a quantidade de oxigénio no ar é suficiente para um aumento
gradual da temperatura da chama, ao mesmo tempo que se libertam gases como o vapor de água,
dióxido de carbono, monóxido de carbono e outros referidos anteriormente.

⋅⋅ Fase de combustão livre (ou de propagação), em que existe uma elevada produção de chamas
atingindo-se a temperatura máxima devido, não só à quantidade de oxigénio existente ainda no ar e
que alimenta a combustão, como também aos vapores quentes que se estão a produzir e se elevam.

Num incêndio ao ar livre, segue-se a fase de declínio das chamas até se verificar a extinção, por ausência
de combustível.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 21

Num espaço fechado o fenómeno será mais complexo pois, da fase de combustão livre pode evoluir-se
para três situações distintas:

⋅⋅ Declínio das chamas (como num incêndio ao ar livre), quando o espaço for ventilado e o calor se
puder libertar para o exterior;

⋅⋅ Combustão generalizada se o calor não se puder libertar para o exterior, mas existir razoável
renovação de ar no local do incêndio;

⋅⋅ Asfixia, se não existir renovação de ar no local do incêndio, sendo notório o decaimento das chamas
apesar da temperatura se manter com valores muito elevados. A quantidade de oxigénio existente é
baixa, dando origem à incandescência, isto é, à formação de brasas.

Contudo, a quantidade de gases libertados na combustão é máxima, nomeadamente o monóxido de


carbono, existindo sérios riscos de uma explosão de fumo se a ventilação do local não for corretamente
efetuada.

5.2 COMBUSTÃO GENERALIZADA

Quanto mais viva for a combustão, maiores são a energia libertada e a temperatura, sendo mais reduzidas
as possibilidades da dissipação de calor sem que sejam afetados os restantes materiais combustíveis
expostos direta ou indiretamente, em particular num espaço fechado e se as paredes conduzirem mal o
calor.

Uma vez que a dissipação da energia se processa mais lentamente que a sua produção, a temperatura
continua a aumentar e os materiais emitem vapores de destilação em grande quantidade, enchendo o
local.

Ao atingirem temperaturas muito elevadas os gases podem autoinflamar- se acelerando o processo de


entrada simultânea em combustão da totalidade dos corpos: combustão generalizada (flashover).

A partir desse momento a temperatura no local é uniforme e a radiação sobre as paredes atinge o seu
valor máximo.

O período de tempo que medeia entre o início do incêndio e a combustão generalizada depende da

Notas:
22 Manual de Extinção de Incêndios

admissão de ar e do potencial calorífico do combustível. Em termos práticos, tendo em vista a segurança


dos bombeiros, indica-se um período médio de 15 minutos.

Se a combustão generalizada ocorrer numa parte do edifício, liberta-se tanta energia que a velocidade de
propagação aumenta e o incêndio pode atingir, rapidamente, os compartimentos vizinhos.

A combustão generalizada depende positivamente da:

⋅⋅ Quantidade e extensão da superfície combustível em relação à dimensão do compartimento;


⋅⋅ Admissão de ar fresco no local
⋅⋅ Natureza e disposição das substâncias combustíveis

Negativamente, depende da:

⋅⋅ Absorção de calor por materiais não combustíveis


⋅⋅ Perda de calor através da ventilação, nomeadamente quando esta é efetuada no ponto mais elevado
da estrutura.
Após a combustão generalizada decorre a combustão contínua, caracterizada por uma temperatura
constante e máxima libertação de calor, até ao declínio das chamas.

5.3 EXPLOSÃO DE FUMOS

De entre os gases de combustão encontra-se o monóxido de carbono, que existe em maior quantidade
quando o acesso do oxigénio ao local é difícil.

Como é menos denso do que o ar, acumula-se normalmente


na parte superior dos edifícios e outras estruturas. É, além
disso, inodoro, incolor e insípido.

Se, por qualquer razão houver um fornecimento brusco de


oxigénio, ao nível ou abaixo do fogo, o monóxido de carbono
aquecido pode reagir com ele repentinamente originando uma
explosão de fumo ou backdraft. Esta situação evita-se através
de uma ventilação correta do local do incêndio.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 23

5.4 COMBUSTÃO OCULTA

O desenvolvimento de uma combustão sem envolver uma chama como, por exemplo, um cigarro ou
materiais domésticos, tal como forros de mobílias contendo algodão ou espuma de poliuretano, é bastante
vulgar. Uma pilha de aparas de madeira, serradura ou carvão pode arder durante semanas ou meses sem
a libertação efetiva de uma chama.

Este tipo de combustão ocorre, em geral, apenas em materiais porosos e que formam uma massa com
compostos de carbono quando aquecidos.

Nestas circunstâncias, o oxigénio difunde-se lentamente e há focos de combustão latentes, muitas vezes
invisíveis a partir do exterior dos materiais envolvidos. Dada a baixa condutividade térmica dos mesmos,
o calor resultante fica retido no seu seio garantindo, assim, a temperatura necessária para a continuação
da combustão.

6. MÉTODOS DE EXTINÇÃO

A extinção da combustão corresponde sempre à eliminação (ou minimização) de, pelo menos, um dos
elementos do tetraedro do fogo. Contudo, na extinção de um incêndio, muitas vezes tenta eliminar-se
mais de que um dos elementos do tetraedro com o objetivo de extinguir a combustão o mais rapidamente
possível.

Assim, existem quatro métodos teóricos de extinção:

⋅⋅ Carência
⋅⋅ Limitação do comburente
⋅⋅ Arrefecimento
⋅⋅ Inibição

6.1 CARÊNCIA

Carência ou dispersão do combustível (remoção do combustível) é, em teoria, o método mais eficaz mas,
regra geral, a complexidade da sua execução pode impossibilitar a sua aplicação. Para combustíveis
sólidos é possível tentar diminuir a sua quantidade, reduzindo, desta forma, as dimensões do incêndio,
como por exemplo num amontoado de aparas de madeira, de papel ou de plásticos. Em incêndios
florestais a técnica do contra-fogo representa ainda um dos exemplos muitas vezes bem conseguidos.

Nos combustíveis líquidos ou gasosos, a sua aplicação depende das condições do incêndio. Numa
conduta de líquidos ou gases um incêndio pode ser facilmente dominado se for possível cortar o acesso

Notas:
24 Manual de Extinção de Incêndios

do combustível ao local da combustão através, por exemplo, da manobra de válvulas colocadas em locais
estratégicos.

6.2 LIMITAÇÃO DO COMBURENTE

A limitação de comburente é um método que impede o acesso do comburente à superfície do combustível.

Pode assumir dois aspetos distintos:

⋅⋅ Asfixia – quando a limitação do comburente resulta do seu consumo na combustão em condições


que não garantem a renovação de ar. Não há, portanto, qualquer ação exterior;

⋅⋅ Abafamento – quando a limitação do comburente resulta de uma ação, exterior à própria combustão,
que impede a renovação de ar.

A limitação de comburente pode conseguir-se diminuindo a concentração de oxigénio, para valores


próximos de 14%, na maior parte dos casos, e de 6%, se existirem brasas.

A injeção de um gás inerte (azoto, p. ex.) ou a cobertura das chamas com uma substância com resistência
suficiente à inflamação (espuma, p. ex.) são dois exemplos de abafamento. Este método é geralmente
aplicado para incêndios de menores dimensões. Excetua-se o exemplo de incêndios em porões de navios
onde a injeção de azoto pode levar à extinção do mesmo, por abafamento.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 25

6.3 ARREFECIMENTO

O arrefecimento ou redução da temperatura consiste em eliminar a energia


provocando-se uma diminuição da temperatura do combustível (abaixo da
sua temperatura de inflamação) e, consequentemente, extinguindo o incêndio
(água, p. ex.).

Este método é dos mais utilizados no combate aos incêndios, como no caso
das brasas onde a água, ao vaporizar-se, provoca uma diminuição gradual da
temperatura.

6.4 INIBIÇÃO

A inibição ou rutura da reação em cadeia consiste em impedir a transmissão de energia (calor) de umas
partículas do combustível para outras limitando, assim, a formação de radicais livres e/ou consumindo-
os à medida que se formam.

Como exemplo, destaca-se a atuação do pó químico extintor, produto que se decompõe em radicais
livres que, ao combinarem-se com os produzidos do processo de combustão, os elimina e inibe a reação
em cadeia.

Note-se que, no caso da rutura da reação em cadeia, é fundamental complementar esta ação com a
eliminação de um dos lados do triângulo do fogo. Se não se proceder assim, a presença dos três lados
do triângulo do fogo provocará, muito provavelmente, o seu reacendimento (reignição).

7. AGENTES EXTINTORES

Dado que existem vários métodos de extinção, estão disponíveis vários agentes extintores que atuam,
regra geral, maioritariamente por um dos métodos referidos, mas, muito frequentemente, atuam de forma
acumulada, na eliminação de mais de um componente do tetraedro do fogo.

Os produtos ou agentes extintores devem ser utilizados criteriosamente de forma a evitar perigos

Notas:
26 Manual de Extinção de Incêndios

pessoais, agravamento do incêndio e ainda, quando possível, a minimizar os efeitos negativos do próprio
agente extintor sobre os materiais atingidos. Existem nos três estados físicos da matéria e têm âmbitos
de aplicação, eficácia e limitações diferentes.

Para além dos agentes extintores mais utilizados, que se apresentam nos pontos seguintes, importa
referir outros dois: a terra e a areia. O primeiro é, por vezes, utilizado no combate de pequenos focos
de incêndio, especialmente em áreas rurais ou florestais. A areia tem uma aplicação genérica, apenas
condicionada pela sua disponibilidade no local do incêndio.

7.1 ÁGUA

7.1.1 ASPETOS GERAIS

A água é o agente extintor por excelência uma vez que, em geral, é abundante, de baixo custo e é
passível de ser utilizada de diversas formas.

Atua, essencialmente, por arrefecimento e pode ser aplicada na forma de jato ou sob a forma pulverizada:
chuveiro ou nevoeiro.

Pode atuar também por abafamento, mais vulgar na aplicação pulverizada, dada a elevada produção de
vapor de água que pode originar ou ainda por encharcamento de espaços com combustíveis sólidos.

Quando aplicada na forma de nevoeiro é necessária alguma prudência, uma vez que, ao vaporizar-se,
aumenta de volume cerca de 1700 vezes, que, em espaços confinados, pode levar à asfixia. O vapor de
água envolve o incêndio e leva à sua extinção por falta de comburente (oxigénio).

Os incêndios normalmente são extintos pelo efeito da diminuição da temperatura, causada pela água e
não pelo abafamento resultante da produção de vapor, ainda que este último possa suprimir as chamas.

Apresenta risco de utilização relativamente a equipamentos elétricos em carga, situação frequente na


maioria dos incêndios urbanos e industriais.

O principal inconveniente deste agente é os estragos que provoca, tanto durante a aplicação como após
a extinção, devido, nomeadamente, à corrosão metálica.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 27

Emprega-se na forma de jato para obter grandes alcances, quando o calor impede a aproximação do
pessoal de intervenção. O chuveiro e o nevoeiro obtêm-se com agulhetas apropriadas e têm, nesta forma,
muito maior poder de arrefecimento, mas menor alcance e poder de penetração.

7.1.2 ADITIVOS

A água pode usar-se também com aditivos.

⋅⋅ Aditivos molhantes
⋅⋅ Aditivos emulsores
⋅⋅ Aditivos viscosificantes
⋅⋅ Aditivos opacificantes

Para além destes existem outros aditivos, sem ação extintora, nomeadamente os anticongelantes e os
anticorrosivos.

7.1.3 APLICAÇÕES

Para os fogos da classe A (combustíveis sólidos) a água pode ser utilizada em jato, mas a sua capacidade
de extinção pode ser melhorada se utilizada na forma pulverizada (chuveiro ou nevoeiro).
Nos fogos da classe B só pode ser utilizada na forma de chuveiro ou nevoeiro, desde que o combustível
tenha uma densidade superior à da água.
Para esta classe, não deve ser utilizada em combustíveis voláteis como a gasolina e o benzeno, devido
à sua baixa temperatura de combustão e ao facto da densidade destes líquidos ser inferior à da água,
podendo contribuir para a propagação do incêndio a outras zonas.
A água nos fogos da classe C não se utiliza diretamente no combate ao incêndio, mas sim no arrefecimento
dos depósitos e outros materiais a ele expostos, prevenindo a sua rutura e, consequente, explosão.
Nos fogos da classe D a água nunca deve ser utilizada, dada a sua reação violenta com os combustíveis
envolvidos.

A água, para ser aplicada no combate a incêndios, pode ser armazenada em:

⋅⋅ Extintores contendo água ou uma solução aquosa e um gás propulsor. A aplicação pode ser em jato
ou pulverizada, com ou sem aditivos
⋅⋅ Instalações fixas de extinção: manuais (redes de incêndio armadas) ou automáticas (sprinklers)
Depósitos de veículos de combate a incêndios, sendo impulsionada pelas respetivas bombas ou
motobombas
⋅⋅ Aeronaves de combate a incêndios sendo, normalmente, projetada para o solo por gravidade

Notas:
28 Manual de Extinção de Incêndios

7.2 ESPUMAS

7.2.1 ASPETOS GERAIS

A espuma são bolhas constituídas por uma atmosfera gasosa (ar), que se encontra confinada numa
parede formada de uma película fina do agente emulsor.

Este agente extintor começou por ser utilizado para extinguir, por abafamento, incêndios em combustíveis
líquidos menos densos que a água, formando sobre eles um manto de espuma. Com efeito, a espuma,
sendo menos densa do que a grande maioria dos líquidos combustíveis, fica à sua superfície.

Atualmente algumas espumas também são utilizadas no combate a incêndios, por inundação total, em
determinados espaços confinados cujas combustões envolvem líquidos e/ou sólidos.

A utilização deste agente extintor é também recomendada noutras circunstâncias, tais como no
revestimento de superfícies verticais que possam opor-se à propagação de um incêndio.

As espumas devem ter boas propriedades adesivas (colar-se às superfícies), baixa viscosidade (fluir
rapidamente sobre as superfícies), resistir ao ataque químico do combustível e ao calor libertado, devendo
ainda possuir boa estabilidade (coesão).

Outros fatores importantes a ter em conta são o alcance do jato (~15 m), que é significativamente menor
que o da água (~40 m) e o tempo de decantação, que deve ser tão elevado quanto possível.

O seu modo de atuação é por arrefecimento, através da absorção de calor do combustível e superfícies
adjacentes e por abafamento, impedindo a entrada de oxigénio entre o líquido e o fogo, para além de
impedir a evaporação do combustível e de o isolar das chamas.

A extinção resulta da competição entre fatores positivos (produção e propagação da espuma) e negativos
(decantação, evaporação e contaminação).

As espumas podem ter duas origens:

⋅⋅ Natureza física ou mecânica, quando se introduz um produto emulsionante na água, sendo a solução
posteriormente misturada com o ar
⋅⋅ Natureza química, pela reação de uma solução ácida com uma solução alcalina, libertando-se dióxido
de carbono que ajuda a formação de bolhas de espuma compacta (este tipo de espuma já não é
utilizado).

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 29

A sua classificação pode ser efetuada de acordo com o coeficiente de expansão da espuma, que é
definido como a relação entre o volume de espuma produzido e o volume de solução emulsora inicial.
Por exemplo, se 1 l de solução emulsora (água + espumífero) originar 8 l de espuma, o coeficiente de
expansão será de oito.

Quanto ao coeficiente de expansão as espumas classificam-se da seguinte forma:

⋅⋅ Espumas de alta expansão, se o coeficiente de expansão for maior que 200. Estas espumas têm
uma densidade muito baixa, são facilmente destruídas pelo calor, podem ser arrastadas pelo vento
com facilidade e pode, até, respirar-se no seu interior. Devem ser utilizadas em espaços perfeitamente
confinados e fechados
⋅⋅ Espumas de média expansão, se o coeficiente de expansão se situar entre 20 e 200. A sua produção
exige equipamento mais ligeiro que o necessário para a produção de espuma de alta expansão
⋅⋅ Espumas de baixa expansão, se o coeficiente for inferior ou igual a 20. É o tipo de espuma mais
denso, tem grande aderência, condutividade elétrica semelhante à da água, é estável e resiste bem
ao arrastamento pelo vento. Destina-se a intervenções no exterior

7.2.2 AGENTES ESPUMÍFEROS (EMULSORES)

Existe uma variedade apreciável de agentes espumíferos que produzem espumas de eficácia diversa em
função do coeficiente de expansão e face aos diferentes tipos de combustíveis.

Estes agentes podem ser classificados da seguinte forma:

⋅⋅ Agentes proteicos – misturados com água, em percentagens de 3 a 6%, originam espumas com
coeficientes de expansão da ordem de oito. A espuma obtida apresenta boa elasticidade, resistência
mecânica e capacidade de retenção de água. Este tipo de espuma é denso e viscoso e possui
elevada estabilidade e resistência ao calor, para além de ser biodegradável. É destruída por líquidos
polares como os álcoois, éteres e acetona. Não deve ser empregue em fogos em gás liquefeito sob
pressão (butano e propano) e é apenas compatível com os pós químicos dos tipos B e C;
⋅⋅ Agentes fluorproteicos – concentrados que têm vindo a substituir os proteicos. Têm uma eficácia
reforçada baseada na fluidez (baixa viscosidade) e resistência à contaminação, garantem uma
boa cobertura e estanquicidade e impedem a passagem de vapores nos hidrocarbonetos líquidos.
Possuem boa resistência ao fogo e à reignição. Muitas podem ser utilizadas em conjunto com os pós
químicos, pois são compatíveis com eles. São igualmente destruídas por líquidos polares.
⋅⋅ Agentes sintéticos ordinários – em baixa expansão têm uma velocidade de decantação lenta
e boa fluidez. Podem, também, ser usados em média e alta expansão, mas com características
inferiores. A sua impermeabilidade é baixa, em particular em média e alta expansão, para além
de terem pouca resistência ao calor que é compensada pela grande capacidade de produção. Em
caso de reacendimento verifica-se a destruição rápida destas espumas. Não podem ser usadas em
líquidos polares.

Notas:
30 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Agentes sintéticos AFFF – agem como os emulsores clássicos formando uma camada de espuma
que isola a superfície do combustível e, para além disso, uma película aquosa que flutua à superfície
dos hidrocarbonetos líquidos (p. ex., gasolinas), opondo-se à emissão de vapores. A estanquicidade
é melhorada devido à película aquosa que dificulta a reinflamação do combustível. Também não
podem ser usadas em líquidos polares;
⋅⋅ Agentes polivalentes – destinam-se a ser usados em líquidos polares, podendo também ser
utilizados nos não polares. No que respeita aos hidrocarbonetos, estas espumas têm características
idênticas aos emulsores ordinários.

7.2.3 UTILIZAÇÃO DE ESPUMAS

Constituem casos típicos de utilização de espumas:

⋅⋅ Combate a incêndios em líquidos combustíveis, quer estejam contidos em depósitos, quer estejam
derramados;
⋅⋅ Proteção de recipientes abertos que contendo líquidos combustíveis, estejam expostos a um incêndio,
prevenindo a sua ignição;
⋅⋅ Proteção de derrames de líquidos combustíveis que estejam ou não expostos a um incêndio,
prevenindo a sua ignição;
⋅⋅ Combate a incêndios, por inundação total, em espaços confinados onde existam combustíveis
líquidos e/ou sólidos;
⋅⋅ Proteção de exposições, revestindo superfícies verticais que possam opor-se à propagação de um
incêndio.

A extinção de um incêndio com espuma resulta da competição entre a produção e a propagação da


espuma sobre o espaço incendiado e a sua destruição. Assim, deve procurar-se sempre que a velocidade
de produção e propagação da espuma seja superior à sua velocidade de destruição.
O resultado desta competição depende do tipo de espuma utilizado, das circunstâncias do incêndio e da
forma como a espuma é aplicada (manobra da agulheta).

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 31

Existem duas técnicas de aplicação manual da espuma em combustíveis líquidos, que são utilizadas em
função do tipo de espuma e das características do incêndio:

⋅⋅ Aplicação suave – consiste na projeção da espuma de forma indireta, contra uma parede ou o chão,
à frente do combustível a arder, evitando o contacto violento com as chamas.
Esta técnica é recomendada para espumas com fraca resistência às chamas e à contaminação pelos
combustíveis líquidos

⋅⋅ Aplicação direta – consiste na projeção da espuma diretamente sobre as superfícies líquidas


incendiadas ou a proteger contra a inflamação.
Esta técnica não é muito exigente para os operadores da agulheta, mas só é aplicável com certos
tipos de espumas (fluoratadas ou sintéticas – AFFF) por serem mais resistentes à destruição e
suportarem bem o contacto violento com os hidrocarbonetos combustíveis.

Os bombeiros devem ter sempre presente que não se deve aplicar água em conjunto com espumas, no
mesmo foco de incêndio. Os principais motivos são:

⋅⋅ A decisão de utilização de espuma, num dado foco de incêndio, resulta do responsável ter concluído
que é mais eficaz ou que a água não pode ser aplicada, dadas as suas contraindicações nessa
situação;
⋅⋅ A aplicação de água sobre a maioria das espumas destrói-as facilmente e poderá contribuir para o
alastramento do incêndio.

Notas:
32 Manual de Extinção de Incêndios

7.2.4 RESTRIÇÕES AO USO DE ESPUMAS

As espumas são consideradas agentes de baixa toxicidade e sem perigo para o homem desde que se
observem alguns cuidados, nomeadamente não serem ingeridas, não entrarem em contacto com os
olhos e mucosas e também não contactarem de forma prolongada com a pele.

As bases emulsoras são biodegradáveis, com exceção das fluoradas que apresentam maior dificuldade
para se degradar. Este tipo de agentes não provoca problemas apreciáveis de corrosão se o armazenamento
se limitar à duração da intervenção e os equipamentos utilizados forem lavados com água após cada
intervenção.

Os emulsores não devem ser misturados, exceto os proteicos de tipo simples.

Contudo, ao contrário dos emulsores, as espumas são compatíveis entre si, sendo possível a utilização
simultânea de espumas de natureza diferente. A utilização de água em jato ou chuveiro sobre as espumas
não é aconselhável, pois pode destruí-las mecanicamente, dando origem a processos de reinflamação.

Em alguns casos é possível uma ação conjunta das espumas com o pó químico, utilizando-se em primeiro
lugar este produto para extinguir as chamas e a espuma para evitar processos de reinflamação.

Os riscos da sua utilização em equipamento elétrico sob tensão são idênticos aos da água, uma vez que
as espumas são, essencialmente, constituídas por esta substância. Portanto, não devem ser utilizadas
em locais onde existam equipamentos elétricos em carga.

7.3 GASES INERTES: AZOTO E DIÓXIDO DE CARBONO

7.3.1 ASPETOS GERAIS

O azoto (N2) e o dióxido de carbono (CO2) são dois gases inertes, isto é, nem são combustíveis, nem
alimentam a combustão.

Em termos de volume a eficácia do CO2 é claramente superior, para além de ser o gás que permite a
extinção da combustão na presença de maior teor de oxigénio.

O azoto atua por abafamento e a sua utilização principal é na inertização de atmosferas, isto é, na
prevenção da combustão. Pode ser usado em fogos da classe B quer envolvam líquidos solúveis ou
insolúveis em água e ainda, em equipamento elétrico em carga. As únicas incompatibilidades dignas de
registo são o facto de alguns metais, tais como o lítio e o titânio, arderem violentamente em atmosfera de
azoto.

Normalmente, o azoto não é utilizado, diretamente, como agente extintor, mas é um gás impulsor na
compressão dos pós químicos em extintores.

O dióxido de carbono atua por abafamento e também por arrefecimento. Em regra, está contido em

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 33

reservatórios onde se encontra parcialmente liquefeito à temperatura ambiente e à pressão de 60 kg/cm2.

Não é condutor da eletricidade nem deixa qualquer resíduo. Tem elevado poder de difusão e não necessita
de propulsão auxiliar. Atua de forma rápida e, devido à baixa temperatura durante a expulsão, pode ser
usado em combustíveis líquidos com baixa temperatura de combustão.

Pode ser usado em fogos das classes B e C e em alguns fogos da classe A.

O CO2 utiliza-se, para extinção de incêndios, nas seguintes formas:

⋅⋅ Em instalações fixas de extinção;


⋅⋅ Em extintores (portáteis e transportáveis) e, menos frequentemente, em instalações fixas em veículos
de combate a incêndios.

7.3.2 RESTRIÇÕES E LIMITAÇÕES

A temperaturas baixas (< 0°C) verifica-se uma significativa diminuição do volume do dióxido de carbono.
Este facto origina um menor débito desse gás diminuindo a eficácia da aplicação. No seu armazenamento
a altas pressões a temperatura não deve ser menor que -10 °C nem superior a 50 °C.

Este agente não deve ser usado em fogos da classe D, uma vez que estas combustões dissociam dióxido
de carbono, em brasas de carbono. Pelo mesmo motivo, também não deve ser utilizado em incêndios que
envolvam materiais instáveis e oxigenados tais como nitratos, cloratos e explosivos em geral.

Quando da sua descarga, as partículas de CO2 podem originar cargas electroestáticas suficientes para
produzir faíscas capazes de inflamar atmosferas combustíveis.

Notas:
34 Manual de Extinção de Incêndios

7.4 PÓS QUÍMICOS

7.4.1 ASPETOS GERAIS

Este tipo de agente extintor oferece, em certas circunstâncias, uma boa alternativa ao uso da água.

Os pós são constituídos por substâncias sólidas, finamente divididas em cristais secos com dimensões
de 10 a 75 μm (1 μm = 10-6 m = 0,000001 m), sendo projetados com o auxílio de um gás propulsor inerte
não tóxico (azoto ou CO2). Todos atuam no sentido de suprimir a chama através da inibição da reação
em cadeia.

A sua eficácia depende principalmente da dimensão dos grãos, dos aditivos, da resistência à compactação
e do equipamento utilizado.

Classificam-se segundo as classes de fogos que extinguem:

⋅⋅ Pó BC – a matéria base é, em geral, o bicarbonato de sódio misturado com outros produtos, como
estearato de zinco ou silicone que melhoram as suas características. Têm um poder extintor 4,5
vezes superior ao do CO2. Em incêndios que envolvam equipamentos elétricos deixam resíduos
corrosivos o que constitui uma desvantagem face ao CO2;

⋅⋅ Pó ABC (polivalente) – foram adotados para estender a ação deste tipo de agentes extintores à
classe A e são constituídos com base em compostos de amoníaco. Atuam, como os anteriores, nos
fogos das classes B e C, assim como nos da classe A. Nestes, uma vez eliminadas as chamas e
permanecendo as brasas que poderão ativar novo incêndio, atuam por asfixia e carência, fundindo-se
e formando uma substância vítrea que envolve o combustível e o isola do ar como se fosse um verniz;

⋅⋅ Pós especiais para fogos da classe D – são específicos de um dado metal reativo ou família de
metais. Sendo à base de grafite e alguns cloretos e carbonetos específicos, são totalmente ineficazes
em fogos das restantes classes e usam-se, em geral, na indústria aeronáutica e nuclear.

Os pós utilizam-se, para extinção de incêndios, nas seguintes formas:

⋅⋅ Em instalações fixas de extinção, com atuação pontual;

⋅⋅ Em extintores (portáteis e transportáveis) e, menos frequentemente, em instalações fixas e em


veículos de combate a incêndios.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 35

Podem utilizar-se os pós combinados com outros agentes extintores, sendo mais usual a combinação
com espumas, nomeadamente as do tipo AFFF, em sistemas de agulheta dupla.

7.4.2 RESTRIÇÕES E LIMITAÇÕES

Os pós ABC e BC são incompatíveis, pelo que, em caso de substituição de uma carga BC por outra do
tipo ABC o extintor deve ser cuidadosamente esvaziado e limpo. Caso contrário, poderá ocorrer entre
os dois tipos de pó uma reação química com libertação de CO2 e outros gases que pode provocar a
explosão do equipamento extintor.

A utilização de pó químico diminui a visibilidade, reduzindo a capacidade de movimentação do pessoal


envolvido no combate ao incêndio. Apesar da eficácia na extinção de incêndios em equipamento elétrico
até 1000 V a recuperação e limpeza do mesmo é, em geral, difícil ou mesmo impossível.

Os pós não devem ser projetados sobre explosivos, nitratos ácidos e ácidos concentrados.

7.5 HALONS

7.5.1 ASPETOS GERAIS

Os hidrocarbonetos halogenados ou halons são compostos com hidrogénio e carbono, em que um ou


mais átomos de hidrogénio são substituídos por elementos ditos halogéneos, tais como o flúor, o cloro e
o bromo.
Identificam-se por conjuntos de quatro algarismos que se referem ao número de átomos de cada espécie,
sendo o primeiro relativo ao carbono, o segundo ao flúor, o terceiro ao cloro e o quarto ao bromo. Os dois
halons mais importantes são o 1211 e o 1301, encontrando-se o seu fabrico proibido, devido a problemas
ambientais, desde 1994.
Os hidrocarbonetos halogenados existentes em extintores ou sistemas foram substituídos e destruídos
até Dezembro de 2003, conforme regulamento CE N.º 20307/2000 do Parlamento Europeu e do Conselho
de 29 de Junho de 2000, com exceção das situações muito particulares previstas nesse regulamento.

Notas:
36 Manual de Extinção de Incêndios

7.5.2 RESTRIÇÕES E LIMITAÇÕES

Não se devem usar halons em incêndios onde se verifique a formação de brasas profundas ou provenientes
da inflamação de estruturas fibrosas, como roupas e têxteis em geral, nem em fogos superficiais na
presença de humidade ambiental ou em conjunto com a água como agente extintor.
Também não se devem usar em incêndios próximos de produtos alimentares. Outra restrição à sua
utilização resulta de serem solúveis em alguns hidrocarbonetos.
Em concentrações elevadas originam problemas de toxicidade, pelo que o bombeiro não deve expor-se
ao fumo e gases libertados. Deve ser sempre efetuada a ventilação do local após a aplicação de halons.

7.5.3 ALTERNATIVOS AOS HALONS

A substituição dos compostos, designados por halons, como agentes extintores tem vindo a ser objecto
de diferentes estudos. As normas NFPA 2001 e ISO 14520 foram elaboradas com o objetivo de proceder à
normalização dos compostos alternativos. Assim, as atuais alternativas aos halons podem ser classificadas
em dois grandes grupos:

⋅⋅ 1.º – Actuam, predominantemente, por inibição (rutura da reação em cadeia), assim como os halons;
⋅⋅ 2.º – Actuam por abafamento (limitação do comburente).

No primeiro grupo os actuais substitutos dos halons menos prejudiciais são os agentes constituídos
essencialmente por carbono, hidrogénio e flúor.

O bromo como elemento químico foi totalmente eliminado e, em alguns casos, também o cloro. A sua
utilização para substituição dos halons convencionais implica usualmente poucas modificações nos
sistemas de combate ao incêndio.

O segundo grupo é constituído por agentes extintores compostos por gases naturais combinados em
proporções específicas, nomeadamente o Inergen (IG-541), Argonit (IG-01) e Argonfire (IG-55). Estes
agentes implicam um investimento mais elevado devido às pressões envolvidas no seu armazenamento.

7.6 ESCOLHA DO AGENTE EXTINTOR

A escolha do melhor agente extintor depende dos diferentes fatores enunciados ao longo dos pontos
anteriores.
Contudo, é possível sistematizar este estudo tornando viável uma escolha rápida, quando na presença
de um incêndio ou, como medida de prevenção, recorrendo ao melhor agente extintor face ao risco, de
acordo com a norma portuguesa NP 1800 (1981).
Apresentam-se no quadro seguinte as informações qualitativas da adequação dos agentes extintores,
nas suas diversas formas, para as diferentes classes de fogos.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 37

> ESCOLHA DO AGENTE EXTINTOR

Agentes Extintores
Classes Água Pó Químico
Substitutos
de fogo Espumas CO2
Jacto Pulverizada ABC BC D dos Halons (1)

Sim Sim Sim Sim Sim


A Não Não Não
Bom Muito Bom Bom Muito Bom Aceitável
Sim Sim Sim Sim Sim
B Não Não Sim Bom
Aceitável Muito Bom Bom muito Bom Muito Bom
Sim Sim Sim Sim
C Não Não Não Não
Bom Bom Bom Bom
Sim
D Não Não Não Não Não Não Não
Muito Bom

(1) Atenção substitutos só para sistemas fixos.

8. CLASSIFICAÇÃO DOS EXTINTORES


8.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Um extintor é um aparelho que contém um agente extintor, que pode ser projectado e dirigido para o fogo
pela ação de uma pressão interna.

Esta pressão pode ser obtida por uma compressão prévia permanente, pela libertação de um gás auxiliar
(conforme NP EN 3-1, 1997).

É um meio de primeira intervenção no combate a um incêndio na sua fase inicial, podendo ser utilizado
por qualquer pessoa, que o saiba manusear, logo que detecte um incêndio.

Na realidade, a rapidez de atuação é primordial, na medida em que o extintor só é eficaz no início de um


incêndio. Com efeito, a quantidade do agente extintor, assim como o tempo de utilização, são limitados.

No entanto, o êxito da utilização do extintor depende dos seguintes fatores:

⋅⋅ Estar bem localizado, visível e em boas condições de funcionamento


⋅⋅ Conter o agente extintor adequado para combater o incêndio
⋅⋅ Ser utilizado na fase inicial do combate ao incêndio
⋅⋅ O operador conhecer previamente o seu modo de funcionamento e utilização.

Notas:
38 Manual de Extinção de Incêndios

Os bombeiros utilizam, geralmente, os extintores existentes nos seus veículos. Podem, em certos casos,
recorrer aos instalados, como meio de protecção, em edifícios e estabelecimentos, ainda que estes se
destinem prioritariamente à utilização dos seus ocupantes antes da chegada dos bombeiros.

Os extintores de incêndio podem classificar-se, tomando em consideração os diversos critérios,


nomeadamente:

⋅⋅ Agente extintor
⋅⋅ Mobilidade do extintor
⋅⋅ Modo de funcionamento
⋅⋅ Eficácia de extinção

8.2 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO AGENTE EXTINTOR

Os extintores podem classificar-se consoante o agente extintor que contêm. Atualmente, existem os
seguintes tipos:

⋅⋅ Extintores à base de água


⋅⋅ Extintores de espuma
⋅⋅ Extintores de dióxido de carbono (CO2)
⋅⋅ Extintores de pó
⋅⋅ Extintores de hidrocarbonetos halogenados (halon)

8.3 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À MOBILIDADE

Quanto à sua mobilidade, os extintores classificam-se em:

⋅⋅ Manuais – os que, prontos a funcionar, têm um peso igual ou inferior a 20 kg;

⋅⋅ Dorsais – os que, prontos a funcionar, têm um peso igual ou inferior a 30 kg e estão equipados com
precintas que permitem o seu transporte às costas. Este tipo de extintor é raro.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 39

Os extintores transportáveis estão dotados, para o seu deslocamento, de apoios com rodas e, consoante
a sua dimensão, são puxados manualmente ou rebocados por veículos.

8.4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO MODO DE FUNCIONAMENTO

Os extintores podem ser classificados, quanto ao seu modo de funcionamento, nos seguintes tipos:

⋅⋅ Pressão permanente

⋅⋅ Pressão não permanente

8.5 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À EFICÁCIA DE EXTINÇÃO

Atendendo à eficácia de extinção, os extintores classificam-


se segundo o fogo-tipo que são capazes de extinguir.

Para se determinar a eficácia de extinção são efetuados,


em áreas adequadas para o efeito, ensaios de fogos de
dimensões controladas que obedecem aos parâmetros
das normas.

A classificação do fogo-tipo é representada no rótulo


por uma letra, que indica a classe de fogo para o qual o
extintor tenha demonstrado capacidade efetiva e por um
número (apenas para as classes A e B), que representa a
dimensão do fogo-tipo para que o extintor satisfaz.

Os extintores classificados para uso em fogos das classes


C ou D não necessitam de ter um número precedendo a
letra de classificação.

Os rótulos, sobre a forma de decalcomania ou impressão


serigráfica, com inscrições em língua portuguesa,
colocados numa posição tal que possam ser lidos e que
permitam reconhecer e utilizar um extintor, devem conter
em cinco áreas diferenciadas as indicações destacadas
na figura.

Notas:
40 Manual de Extinção de Incêndios

9. CARACTERÍSTICAS E MODO DE FUNCIONAMENTO DOS EXTINTORES

De acordo com os critérios de classificação anteriormente referidos, descrevem-se, a seguir, as diferentes


características e funcionamento dos diversos tipos de extintores.

9.1 EXTINTORES DE PRESSÃO PERMANENTE

Nos extintores de pressão permanente o agente extintor e o gás propulsor estão misturados no recipiente.

Desta forma, a pressão está permanentemente estabelecida no interior por um gás inerte, geralmente o
azoto (N2).

O agente extintor ocupa uma grande parte do volume interno do recipiente, ficando o restante volume,
que se designa por câmara de expansão, reservada para o gás propulsor, que se encontra a uma pressão
entre 12 e 14 kg/cm2.

Nestes extintores, existe um manómetro que permite verificar a pressão interna, que deve estar dentro
dos valores estipulados para o funcionamento eficaz do extintor.

Quando se retira a cavilha de segurança e abre a válvula do extintor, o agente extintor, pela ação da
pressão exercida pelo gás propulsor, é expelido para o exterior através do tubo sifão e mangueira, com
bico difusor colocado na extremidade desta.

Para interromper, temporária ou definitivamente, a descarga do agente extintor basta fechar a válvula de
comando.

O extintor de CO2 é, também, um extintor de pressão permanente, mas trata-se de um caso particular.
Com efeito, devido às suas propriedades físicas e a uma pressão de 50 a 60 kg/cm2, à temperatura
ambiente o CO2 encontra-se dentro do recipiente em dois estados físicos: líquido e gasoso. Este extintor
caracteriza-se pelo facto de não possuir manómetro.

Tem um tubo sifão e uma válvula de controlo de descarga com um difusor (agulheta) acoplado ou, no caso

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 41

dos extintores de maior capacidade, uma mangueira com difusor ligado à válvula. O difusor garante as
condições ideais para expansão do CO2 e permite dirigir o agente extintor para as chamas, com eficácia
e segurança.

O agente extintor ao vaporizar-se, quando é expelido através do difusor, produz uma temperatura negativa
que pode atingir -78°C.

Para se interromper, temporária ou definitivamente, a descarga de CO2 basta fechar a válvula de comando
de descarga.

9.2 EXTINTORES DE PRESSÃO NÃO PERMANENTE

Nestes extintores existe uma garrafa com gás inerte para garantir a propulsão do agente que ocupa uma
parte do volume interno do recipiente.

A garrafa de gás (cartucho) propulsor, normalmente CO2, pode encontrar-se no interior ou no exterior do
recipiente.

Nos extintores com garrafa interior existe um manípulo que, quando se retira a cavilha de segurança e
é pressionado, perfura um disco que veda a garrafa, fazendo expelir o gás propulsor para o interior do
recipiente.

No caso dos extintores com garrafa exterior existe um volante na válvula da garrafa que, ao ser rodado,
a abre, expelindo o gás para o interior do recipiente através de um tubo de descarga.

Notas:
42 Manual de Extinção de Incêndios

Em ambos os casos, o gás expelido pela garrafa expande-se no interior do recipiente, pressurizando-o e
misturando-se com o agente extintor.

Pela ação da pressão exercida pelo gás, o agente extintor é projetado e dirigido para o fogo através de
uma mangueira ligada à parte superior ou inferior do recipiente, podendo a descarga ser controlada por
uma pistola difusora (agulheta), colocada na extremidade da mangueira.

9.3 EXTINTORES TRANSPORTÁVEIS

Os extintores transportáveis, devido à sua especificidade, merecem ser objecto


de uma referência especial.
Os extintores puxados manualmente, quanto ao seu modo de funcionamento,
podem ser de pressão permanente ou de pressão não permanente. Neste último
caso, o gás propulsor encontra-se normalmente numa garrafa exterior.
As capacidades mais usuais nos extintores puxados manualmente variam entre
20kg e 100kg.

Os extintores rebocáveis são equipamentos de médio e grande porte que, para se deslocarem,
necessitam ser atrelados a um veículo que os reboca.
Quanto ao modo de funcionamento, são de colocação em pressão no
momento da utilização. As garrafas do gás propulsor, normalmente
azoto (N2), encontram-se montadas no exterior do recipiente.
Devido às suas características, deve tomar-se em atenção as
instruções fornecidas pelos fabricantes para a forma de colocação
em funcionamento destes extintores.

9.4 POR TIPO DE AGENTE EXTINTOR

9.4.1 EXTINTORES À BASE DE ÁGUA

Os extintores à base de água mais comuns são constituídos por recipientes recarregáveis possuindo,
geralmente, uma capacidade de seis ou de nove litros.

Podem ser de pressão permanente ou de pressão não permanente.

Estes extintores têm a característica de poderem projetar a água em jato ou pulverizada. A descarga deve
fazer-se através de um filtro colocado no tubo sifão, de forma a reter corpos estranhos que possam existir
misturados com o agente extintor.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 43

9.4.2 EXTINTORES DE ESPUMA FÍSICA

O extintor de espuma é aquele que projeta uma mistura espumosa à base de água.
Como já foi referido nos agentes extintores, a espuma física obtém-se pela mistura de três elementos:
água, líquido espumífero e ar.
No caso dos extintores de espuma física, a água e o espumífero estão contidos no recipiente, podendo o
espumífero estar dentro de uma embalagem de plástico, que se rompe no momento da pressurização ou
já estar adicionado à água desde a altura em que o extintor foi carregado.
Quando da atuação do extintor, o ar mistura-se com a água e o espumífero através dos orifícios da
agulheta.
Os extintores de espuma física podem ser de pressão permanente ou não permanente.

9.4.3 EXTINTORES DE DIÓXIDO DE CARBONO

Conhecidos como «extintor de CO2», contêm dióxido de carbono em estado liquefeito, armazenado
sobre pressão.
O dióxido de carbono encontra-se no recipiente, à temperatura ambiente (cerca de 18°C).
O CO2 ao vaporizar-se, sob a forma de «neve carbónica», pode atingir temperaturas da ordem de 78°C
negativos, o que implica muito cuidado no manuseamento deste extintor, sobretudo quando utilizado na
presença de outras pessoas.
Ao utilizar o extintor é normal formar-se uma «camada de gelo» no seu difusor.
A projeção do CO2 obtém-se pela pressão permanente criada no interior do recipiente, provocada pela
tensão de vapor do próprio agente extintor.

9.4.4 EXTINTORES DE PÓ

Como o próprio nome indica, como agente extintor, contém pó químico seco, ABC, BC ou D.

A pressurização destes extintores pode ser obtida por pressão permanente ou não permanente.

10. ACTUAÇÃO COM EXTINTORES


10.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Para atuar com um extintor é necessário, previamente:

⋅⋅ Garantir que o agente extintor é o adequado para o tipo de incêndio, em especial, que não há riscos
na sua utilização na classe de fogo em questão, para que a atuação seja segura;
⋅⋅ Conhecer perfeitamente o modo de funcionamento e utilização deste equipamento, para que a
atuação seja eficaz.

Notas:
44 Manual de Extinção de Incêndios

Assim, o conhecimento das regras básicas sobre a utilização dos extintores é fundamental para a
segurança dos bombeiros e o êxito na extinção do incêndio.
Nestas condições, é indispensável tomar em consideração as seguintes regras a observar por quem
actua com um extintor:

⋅⋅ Identificar prontamente todos os tipos de extintores;


⋅⋅ Conhecer perfeitamente o modo de utilização de cada tipo de extintor;
⋅⋅ Actuar rapidamente utilizando o extintor adequado à classe de fogo;
⋅⋅ Em espaços interiores, atuar sempre em grupos de dois bombeiros;
⋅⋅ Extinguir o incêndio de acordo com os procedimentos indicados a seguir.

ATENÇÃO

⋅A
⋅ aproximação ao incêndio tem que ser progressiva
⋅Deve
⋅ avançar-se tendo a certeza que não se ficará cercado pelo incêndio
⋅Em
⋅ espaços interiores, deve actuar-se sempre com aparelhos de protecção
respiratória
⋅Ao
⋅ ar livre, não se deve expor ao fumo e gases libertados

10.2 ACTIVAÇÃO DO EXTINTOR

No ato de utilização de um extintor o primeiro passo será a ativação deste, isto é, colocá-lo em condições
de funcionamento.
Para tal o bombeiro deve:

⋅⋅ Retirar a cavilha de segurança. No caso dos extintores de pressão permanente ficam prontos a
funcionar a partir daquele momento

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 45

⋅⋅ Pressurizar caso seja um extintor de pressão não permanente percutindo o disco da garrafa interior
que contém o gás propulsor ou rodando o volante da válvula da garrafa exterior

⋅⋅ Premir o manípulo existente na válvula do extintor, quando o comando está instalado na


referida válvula;

⋅⋅ Premir o manípulo de comando existente na pistola (ou agulheta) difusora.

Notas:
46 Manual de Extinção de Incêndios

10.3 MODO DE ATUAR

Ao atuar com um extintor o bombeiro deve ter em consideração os seguintes aspetos:

⋅⋅ Um incêndio ao ar livre deve ser sempre combatido a favor do vento de modo a que o agente extintor
seja dirigido no sentido para onde as chamas e fumo estão a ser projectados. Desta forma, evitará
queimaduras, a inalação de gases e fumo e o desvio do jato do agente extintor;

⋅⋅ Se, por qualquer motivo, combater o incêndio contra o vento, ou em locais interiores, proteja-se com
equipamento adequado;

⋅⋅ Antes de se avançar para o incêndio, deve efetuar-se um disparo curto do agente extintor para
comprovar que o extintor se encontra em condições de operacionalidade;

⋅⋅ Avançar até se aproximar do incêndio (três a cinco metros consoante o tipo e capacidade do extintor);

⋅⋅ Dirigir o jato do agente extintor para o incêndio, avançando à medida que este vai perdendo alcance
ou o incêndio se for extinguindo;

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 47

⋅⋅ Se o extintor for de CO2, aproximar-se o mais perto possível do incêndio. Pela sua natureza, o CO2
tem pouco alcance e é facilmente desviado pelo vento e correntes de convecção;

⋅⋅ Começar a extinção do incêndio pelo ponto mais próximo de si, projetando o jato do agente extintor
de forma a efetuar um corte junto à base das chamas;

Notas:
48 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Movimentar o jato na horizontal, fazendo movimentos laterais (varrimento) de forma a abranger toda
a superfície ou volume da chama;

⋅⋅ Em incêndios de combustíveis líquidos contidos em recipientes, não incidir o jato na vertical do fogo
pois corre-se o perigo de espalhar o combustível para fora do recipiente;

⋅⋅ Ao utilizar-se extintores de espuma, deve fazer-se incidir o jato do agente extintor para a parede interior
do recipiente, para que esta se espalhe uniformemente pela superfície do líquido em combustão;

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 49

⋅⋅ Se o extintor for de água pulverizada, esta é projetada por cima do incêndio em movimentos circulares;

⋅⋅ Se o incêndio se desenvolver na vertical (caso de líquidos combustíveis em derrame de cima para


baixo, cortinados etc.), o incêndio deve ser combatido, iniciando-se na parte inferior e progredindo
seguidamente de baixo para cima;

⋅⋅ Ao combater um incêndio em gases inflamáveis em saída livre, o agente extintor deve ser dirigido
junto à saída, pela retaguarda ou lateralmente num ângulo de 45° a 90°;

Notas:
50 Manual de Extinção de Incêndios

11. REDES DE INCÊNDIO

As redes de incêndio são instalações fixas de protecção contra incêndios compostas por diversos
equipamentos, acessórios e tubagens de diâmetros adequados às necessidades de caudal e pressão.
O objetivo da implementação das redes de incêndio é permitir o combate a incêndios cuja intensidade supere
a capacidade de extinção dos extintores.

11.1 EQUIPAMENTOS

Os equipamentos mais utilizados nas redes de incêndio são:

11.1.1 HIDRANTES

Os hidrantes – marcos de água e bocas-de-incêndio – são normalmente instalados junto ao lancil dos
passeios que marginam as vias públicas ou em paredes e estão ligados à rede pública de abastecimento
de água.

No caso dos marcos de água e bocas-de-incêndio instalados no domínio privado, a sua alimentação faz-se
através da rede pública ou, mais raramente, a partir de reservas de água existentes, tais como depósitos,
tanques, furos de captação, etc.

Os marcos de água ou marcos de incêndio são montados salientes em relação ao nível do pavimento.

No domínio privado também se utilizam hidrantes idênticos aos descritos para a via pública.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 51

As bocas-de-incêndio podem ser de parede ou de passeio onde normalmente


se encontram incorporadas. A admissão de água é nestes casos de 40 mm ou
superior e a tomada de 45 mm

As bocas-de-incêndio «tipo teatro» na sua grande maioria encontram-se


instaladas no interior do domínio privado.

11.1.2 MANGUEIRAS E AGULHETAS

O transporte de água, entre hidrantes e os veículos de combate a incêndios ou os locais de aplicação


de água, processa-se através de linhas de mangueira.
A água pode também ser transportada através de mangueiras para outros equipamentos, tais como
motobombas, colunas secas, etc..
As agulhetas são equipamentos para adaptar na extremidade de uma mangueira e destinam-se a
formar e dirigir a aplicação de água.
Estes equipamentos apresentam as seguintes características:

⋅⋅ Mangueiras para serviço de incêndio – são produzidas em materiais flexíveis para trabalho a baixa
pressão (até 22 kg/cm²), para o diâmetro das bocas que servem. Têm o comprimento normalizado
de 20 m.

Notas:
52 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Agulhetas – existem diversos tipos e modelos de agulhetas para o combate a incêndios. As mais
utilizadas nas redes de incêndio são as conhecidas como de três posições (fechada, jato e chuveiro).

⋅⋅ Carretéis – Os carretéis para serviço de incêndio podem ser instalados à vista ou dentro de armários
de protecção. Os mais usuais têm uma mangueira com 25 m de comprimento com o diâmetro de 25
mm. Outros comprimentos e diâmetros também são utilizados.

11.1.3 REDE DE INCÊNDIO ARMADA

Para se poder designar por rede de incêndio armada (RIA), esta tem de ser composta no mínimo por
duas bocas-de-incêndio normalizadas e armadas, canalizações e alimentação de água com pressão.
Uma boca-de-incêndio armada compreende os elementos a seguir descritos, que devem ser guardados
num armário:

⋅⋅ Boca-de-incêndio normalizada (25, 45 ou 70 mm), de preferência com volante fixo à válvula;


⋅⋅ Lanço de mangueira com junções (25, 45 ou 70 mm);
⋅⋅ Agulheta;
⋅⋅ Chave de manobra (para 45 ou 70 mm);
⋅⋅ Disjuntor (facultativo se a boca-de-incêndio for de 70 mm).

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 53

11.1.4 COLUNA SECA

As colunas secas são instalações hidráulicas de uma rede


privativa do serviço de incêndios de um edifício ou unidade
industrial. Estão normalmente instaladas em edifícios com
altura superior a 20 metros e não se encontram em carga.
Para sua utilização é, pois, necessário alimentá-
la, operação que é efetuada pelos bombeiros
através dos seus veículos de combate a incêndios.
A água é bombeada com pressão do veículo para
a tomada da coluna seca colocada na fachada do
edifício, permitindo, assim, que a coluna fique em carga.
Desta forma, os bombeiros podem ligar as mangueiras nas bocas-de-incêndio dos pisos em que têm que
atuar para proceder ao combate ao incêndio.

11.1.5 SISTEMAS AUTOMÁTICOS

Designa-se por sistema um conjunto de órgãos e/ou equipamentos que concorrem para a execução de
um mesmo fim.
Na segurança contra incêndio considera-se a existência de dois tipos de sistemas automáticos:
de deteção (SADI) e de extinção (SAEI).

11.1.6 SISTEMAS AUTOMÁTICOS DE DETEÇÃO DE INCÊNDIOS (SADI)

Os sistemas automáticos de deteção de incêndios (SADI) avisam o ser humano do perigo de um incêndio
e permitem a sua intervenção no momento em que aquele é, geralmente, ainda insignificante. Servem,
portanto, para proteger a vida humana e salvaguardar os bens materiais e culturais. A configuração
genérica de um SADI está representada na figura abaixo.

Notas:
54 Manual de Extinção de Incêndios

11.1.7 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NO SADI

A. DETETORES AUTOMÁTICOS

São aparelhos do sistema de deteção de incêndios que registam, comparam e medem


automaticamente a presença e variação das manifestações da combustão: fumos, calor e
chamas. Transmitem, seguidamente, estas informações a uma central que as exploram.
Segundo a capacidade de reação a uma determinada manifestação da combustão, os detetores podem
ser identificados pela sua capacidade de medir ou analisar a presença de:

⋅⋅ Gases da combustão
⋅⋅ Aerossóis
⋅⋅ Fumo visível
⋅⋅ Chamas
⋅⋅ Elevação rápida de temperatura
⋅⋅ Limiares de temperatura

B. DETETORES DE FUMO

A detcção de fumo ocupa um lugar privilegiado no campo das disponibilidades técnicas dando um
diagnóstico precoce do incêndio. Basicamente há dois tipos de detetores de fumo: óticos e iónicos.
Os detetores óticos de fumo reagem a uma concentração importante do fumo visível.
Os detetores iónicos de fumo reagem a todos os tipos de aerossóis, oferecendo um mais largo campo de
aplicação. Estes detetores estão a ser substituídos pelos óticos de fumo.

C. DETETORES ÓPTICOS DE CHAMA

Estes detetores sinalizam fogos abertos, desde que a radiação produzida não seja impeditiva de atingir os
detectores pela presença de uma nuvem de fumo, que se desenvolva simultaneamente, ou de obstáculos.

D. DETETORES DE TEMPERATURA

Estes detetores só são recomendados para incêndios de desenvolvimento rápido de temperatura.

Os detetores de temperatura são de dois tipos: termovelocimétricos e termostáticos.

Os detetores termovelocimétricos sinalizam o início de um incêndio de desenvolvimento rápido, se a


elevação da temperatura por unidade de tempo ultrapassar um determinado valor.

No caso dos detetores termostáticos, estes apenas sinalizam o início de um incêndio se uma determinada
temperatura for ultrapassada.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 55

E. DETETORES ESPECIAIS

Para além dos detetores referidos anteriormente, existem outros de aplicação ou conceção especial
disponíveis no mercado ou em fase de estudo.

F. DETCTORES MANUAIS (BOTONEIRAS)

Em apoio e reforço à detecção do incêndio efetuada por sensores, dita automática, é usual complementarem-
se os sistemas com botoneiras (botões) de alarme manual para permitir a intervenção humana, em
antecipação ao sistema automático.

G. CENTRAL DE DETECÇÃO DE INCÊNDIOS (CDI)

A central de detecção de incêndios constitui o painel de exploração e de transmissão das informações.


Deve ser capaz de interpretar e de explorar diferentemente as informações vindas dos detectores
automáticos e dos detectores manuais, iniciar as diversas funções e permitir, assim, uma intervenção
humana e/ou automática, rápida, eficaz e adaptada à situação e ao seu objecto a proteger.

Notas:
56 Manual de Extinção de Incêndios

H. DISPOSITIVOS DE ALARME

Os dispositivos de alarme, ótico e/ou acústico, servem para aviso das pessoas e são os seguintes:

⋅⋅ Besouros
⋅⋅ Cláxons
⋅⋅ Campainhas
⋅⋅ Sirenes
⋅⋅ Lâmpadas intermitentes
⋅⋅ Rotativos
⋅⋅ Altifalantes

I. TRANSMISSÃO DO ALARME À DISTÂNCIA

A transmissão do alarme à distância pode ser efetuada por linha telefónica (privativa ou comutada) ou via rádio.
A mensagem transmitida pode ser uma gravação, uma comunicação oral ou um sinal digital.
A transmissão à distância permite conduzir informações da central de detecção aos seguintes grupos:

⋅⋅ Equipas de intervenção privativas da empresa (brigadas de incêndio);


⋅⋅ Equipas de intervenção públicas (bombeiros).

11.1.8 FIABILIDADE DO SADI

O funcionamento permanente e fiável do sistema deve ser assegurado por controlos periódicos, revisões
regulares e a realização imediata dos trabalhos de manutenção necessários.

11.1.9 SISTEMAS AUTOMÁTICOS DE EXTINÇÃO

O objetivo de um sistema automático de extinção (SAEI) é o de manter, face ao risco de incêndio,


uma vigilância permanente e, no caso da sua ocorrência, projectar automaticamente um agente
extintor, de modo a extingui-lo ou, em última análise, a evitar a sua propagação e desenvolvimento.
Estes sistemas designam-se em função do agente extintor que utiliza, podendo ser de:

⋅⋅ Água (sprinklers)
⋅⋅ Espuma
⋅⋅ Pó químico seco
⋅⋅ Gases limpos: CO2 (dióxido de carbono)
⋅⋅ Outros: Inertes (argonite, argonfire, inergen, etc.)
Sintéticos (FM 200, FE 13, etc.)

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 57

Por ser mais comum, será apenas destacado o sistema de extinção por água.
11.1.10 SISTEMAS DE EXTINÇÃO POR ÁGUA (SPRINKLERS)

De uma instalação de sprinklers pretende-se uma vigilância contínua dos locais a proteger, através da
detecção, do alarme e da extinção do incêndio com água.
A. Composição das instalações

As instalações de sprinklers são constituídas por uma rede, devidamente dimensionada, de tubagens
normalmente instaladas no tecto e nas paredes junto a este, onde estão montados os sprinklers. Estas
instalações são basicamente compostas por:

⋅⋅ Sprinklers – dispositivos automáticos, dotados de um componente termosensível, que atuam a


uma temperatura pré determinada e permitem a descarga uniforme da água sobre um incêndio.
O componente termosensível pode ser de ampola de vidro ou termofusível.

Além dos automáticos, existem outros designados por abertos e de pulverização.

⋅⋅ Posto de controlo – é composto pela válvula de alarme, válvula principal de fecho, dispositivos
de alarme, câmara de retardo, manómetro e acessórios opcionais. A válvula de alarme e restantes
acessórios são diferentes consoante o tipo de instalação.

Notas:
58 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Rede de tubagens – é através da rede de tubagens que a água chega aos sprinklers. A configuração
da rede e o respectivo traçado do sistema de sprinklers dependem das condições arquitectónicas e
estruturais da construção envolvente da área a proteger.

⋅⋅ Fonte abastecedora de água – as fontes abastecedoras de água de uma instalação de sprinklers


além de assegurarem, automaticamente e em qualquer altura, a pressão e caudal, devem ainda
oferecer condições de segurança no que respeita à falha de abastecimento da rede pública ou ao
congelamento.

⋅⋅ Central de bombagem – para que uma instalação de sprinklers possa funcionar com condições fiáveis de
caudal e pressão de água, torna-se necessário a existência de uma central de bombagem. Existem situações
emqueacentraldebombagempodesersubstituídaporumdepósitodeáguapressurizadocomarcomprimido.
Em traços gerais uma central de bombagem é constituída pelos componentes descritos na imagem
seguinte.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 59

12. ILUMINAÇÃO DE SEGURANÇA

A iluminação é um fator essencial para a segurança das pessoas. O súbito desaparecimento da iluminação
pode originar acidentes e provocar o pânico.

Uma iluminação mínima é indispensável para, em caso de necessidade, garantir a evacuação de locais
ocupados por pessoas e a intervenção de socorros.

12.1 ILUMINAÇÃO ELÉTRICA DOS EDIFÍCIOS

A iluminação destinada a satisfazer as necessidades correntes de um edifício é, geralmente, alimentada


pela rede pública de distribuição. São possíveis avarias, tais como:

⋅⋅ Falha na rede
⋅⋅ Incidente local, próprio do edifício ou da instalação, que vai provocar a atuação das protecções
eléctricas de entrada
⋅⋅ Acidente com carácter mais geral que poderá provocar falha elétrica (p. ex. incêndios,
inundações, etc.).
Em todos os locais que recebam público, onde a escuridão origina perigos acrescidos, devem existir, pelo
menos, dois tipos de iluminação: normal e de emergência de segurança.

Em certas situações pode definir-se um terceiro tipo: a iluminação de substituição.

A iluminação normal destina-se à exploração corrente do dia-a-dia, enquanto a de emergência de


segurança permite a evacuação do público, operações de socorro e salvamento de vítimas, quando a
iluminação normal se avariar ou falhar.

A iluminação de substituição é alimentada por outra fonte de energia geralmente própria do edifício (p. ex.
grupo gerador de emergência).

O edifício fica assim com dois tipos de iluminação distintos podendo minimizar os riscos para o público.

12.2 FUNÇÕES DA ILUMINAÇÃO DE EMERGÊNCIA DE SEGURANÇA

A função essencial da iluminação de emergência de segurança é a de assegurar, em qualquer circunstância,


um mínimo de iluminação para permitir a evacuação rápida dos locais e a intervenção dos meios de
socorro.

Notas:
60 Manual de Extinção de Incêndios

12.2.1 FONTES DE ENERGIA ELÉTRICA

A fiabilidade de todas as partes da iluminação de segurança, tais como, fontes, circuitos e aparelhos é
indispensável. Mas a componente fontes representa o fator mais importante e sensível, necessitando de
vigilância e manutenção.

As fontes de energia disponíveis para a iluminação de segurança são:

⋅⋅ Bateria central de acumuladores – um conjunto de acumuladores (bateria central) constitui uma


possível fonte de energia de segurança.
A instalação de compreender um dispositivo de recarga e de regulação automática, de forma a
conservar os acumuladores no seu estado de carga óptima, permitindo alimentar, em caso de
necessidade, a totalidade da iluminação de segurança durante uma hora.
Deve evitar-se a degradação das características das baterias, por excesso de carga ou descarga.

⋅⋅ Grupo gerador de emergência – com esta fonte de energia no estado de vigília, em caso de falha
da rede normal, o equipamento deve ser capaz de alimentar os circuitos de segurança num tempo
inferior a um segundo.
A passagem do estado de vigília ao estado de funcionamento deve ser realizada automaticamente.

⋅⋅ Blocos autónomos – são aparelhos onde estão incorporados focos luminosos, bateria de
acumuladores e dispositivo de recarga.
Assim, as fontes são independentes umas das outras, constituindo a principal vantagem destes aparelhos.
Existem dois tipos de blocos autónomos:
⋅⋅ Permanentes
⋅⋅ Não permanentes.
Nos blocos permanentes a rede que assegura a iluminação normal alimenta, ao mesmo tempo,
as lâmpadas do bloco autónomo, isto é, no estado normal há um fluxo luminoso equivalente ao
fornecido pelos acumuladores. Este fluxo pode ser obtido a partir das mesmas lâmpadas ou de
lâmpadas distintas.
Os blocos não permanentes não se encontram iluminados em estado de vigília, podendo ter
lâmpadas de fraca potência para sinalização.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 61

13. SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA E DE INFORMAÇÃO

A sinalização de segurança serve para alertar os ocupantes de determinado local ou edifício, de uma
maneira rápida e inteligível, para objectos e/ou situações susceptíveis de provocar perigos, de ajuda a
ultrapassar esses mesmos, ou de prestar informações relacionadas com a problemática da segurança.
Esta informação é prestada com sinais de segurança que, através da combinação de uma forma
geométrica com uma cor e um símbolo, fornece uma informação precisa relacionada com a segurança.
São feitos normalmente em PVC fotoluminescente de alta intensidade luminosa, de 2 mm de espessura,
embora possam ser feitos ainda de outros materiais como o alumínio. A impressão deve ser em serigrafia
e resistente à radiação UV. Como característica contra incêndios devem ser auto-extinguíveis, sem
propagação de chama por gotejamento, de superfície anti-estática e não podem ser radioactivos, tóxicos,
não conter fósforo ou chumbo.
Os sinais de informação prestam aos utentes diversas informações úteis.

OS PRINCIPAIS SINAIS SÃO:


⋅⋅ Emergência
⋅⋅ Equipamentos de combate a incêndios
⋅⋅ Obrigação
⋅⋅ Proibição
⋅⋅ Advertência
⋅⋅ Informação
⋅⋅ Matérias perigosas

CORES:
⋅⋅ Vermelho – alarme e combate a incêndios
⋅⋅ Amarelo – aviso
⋅⋅ Azul – obrigação
⋅⋅ Verde – salvamento ou socorro
⋅⋅ Branco – proibição

FORMAS GEOMÉTRICAS:
⋅⋅ Círculo – para sinais de obrigação e proibição
⋅⋅ Triângulo – para sinais de perigo
⋅⋅ Quadrado ou rectângulo – para sinais de emergência, indicação e adicionais.

Notas:
62 Manual de Extinção de Incêndios

13.1 TIPOS DE SINAIS

13.1.1 SINAIS DE EMERGÊNCIA

13.1.2 SINAIS DE EQUIPAMENTOS DE COMBATE A INCÊNDIOS

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 63

13.1.3 SINAIS DE OBRIGAÇÃO

13.1.4 SINAIS DE PROIBIÇÃO

13.1.5 SINAIS DE PERIGO

Notas:
64 Manual de Extinção de Incêndios

13.1.6 SINAIS DE INFORMAÇÃO

13.1.7 SINAIS DE INDICAÇÃO DE MATÉRIAS PERIGOSAS

13.2 DISTÂNCIAS DE OBSERVAÇÃO

Sinais de tamanho diferente podem não servir para executar a mesma função em distâncias iguais. A
distância existente entre o utilizador e o local onde o sinal está afixado condiciona o tamanho do sinal a
ser aplicado tendo em conta que o mesmo deve ser identificado de uma forma inteligível por qualquer
pessoa independentemente da sua nacionalidade.

Recorre-se a aplicação da seguinte expressão:

S≥L²/2000
Em que S = Área do sinal (m²)

L= Distância de observação (m)

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 65

13.3 TIPOS DE FIXAÇÃO

A forma como a sinalética se encontra afixada também influencia a eficácia da mesma.


Assim podemos ter os seguintes tipos de fixação:

⋅⋅ Tipo 1 - Fixação de parede em que o sinal apenas é visível de frente para o mesmo
⋅⋅ Tipo 2 - Fixação de parede em que o sinal é visível nos dois sentidos mas não de frente
⋅⋅ Tipo 3 - Fixação suspensa em que o sinal é visível nos dois sentidos mas não de frente
⋅⋅ Tipo P - Fixação de parede em que o sinal é visível nos dois sentidos e de frente pois forma um
ângulo de 45° com a parede

13.4 COLOCAÇÃO DA SINALÉTICA

O nível de colocação da sinalética deve ser tido em conta consoante os objetivos a que a mesma se
destina.

Se colocada a nível superior, deverá se encontrar acima de 1,8m e normalmente é utilizada de forma
que todos os ocupantes de um espaço, e em qualquer altura, possam identificar os locais que pretendem.
Transmite informação para o público em geral.

Se colocada a nível intermédio, deverá estar compreendida entre 0,4m e 1,8m e habitualmente possui
indicações para a pessoa que vai utilizar ou operar com determinado equipamento. Transmite informação
para alguém em particular.

Se colocada a nível inferior, deverá estar sempre abaixo de 0,4m e normalmente é utilizada para informar
os utilizadores sobre o caminho a percorrer em caso de incêndio bem como de limites físicos de estruturas
como degraus, locais a contornar, etc.

Notas:
66 Manual de Extinção de Incêndios

14. VESTUÁRIO E EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

Sempre que os elementos das equipas de primeira intervenção (EPI) tenham que atuar em acidentes
de dimensões já consideráveis é de todo conveniente que disponham de vestuário e equipamento de
proteção individual.

Assim, os elementos das EPI devem ter em atenção a proteção:

⋅⋅ Da cabeça
⋅⋅ Dos olhos
⋅⋅ Respiratória
⋅⋅ Do tronco e membros superiores e inferiores

15. APARELHOS RESPIRATÓRIOS

Antes de se abordarem os aparelhos de proteção respiratória e os cuidados a ter na sua utilização,


convém referir que a sua função principal é a de proteger as vias respiratórias do utilizador, permitindo-lhe
trabalhar com segurança em todos os ambientes em que a atmosfera esteja poluída por partículas, gases,
vapores ou possua uma taxa de oxigénio insuficiente.

Os aparelhos para a proteção respiratória são importantes para a segurança das equipas de primeira
intervenção.

Constitui regra fundamental que o utilizador, ao entrar em atmosferas contaminadas, potencialmente


tóxicas ou com baixo teor de oxigénio, esteja obrigatoriamente equipado com aparelho para a proteção
respiratória. A não utilização deste equipamento pode levar a tentativas falhadas de salvamento,
incapacidade ou morte.

O elemento bem treinado deve ter conhecimento dos requisitos necessários para a utilização dos
aparelhos de proteção respiratória, dos procedimentos a seguir para os colocar e retirar e dos cuidados
adequados a ter com a sua manutenção.

O elemento deve usar, obrigatoriamente, proteção respiratória sempre que trabalhe em:

⋅⋅ Incêndios urbanos e industriais, incluindo o rescaldo (1)


⋅⋅ Espaços com carência de oxigénio
⋅⋅ Esgotos
⋅⋅ Poços
⋅⋅ Passagens subterrâneas

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 67

⋅⋅ Silos
⋅⋅ Depósitos ou tinas (interior)
⋅⋅ Piscinas (casa das garrafas de cloro)
⋅⋅ Acidentes com matérias perigosas
⋅⋅ Todas as outras situações em que a atmosfera lhe é prejudicial.

15.1 MÉTODOS DE PROTEÇÃO RESPIRATÓRIA

Existem dois métodos distintos que permitem assegurar uma proteção respiratória individual contra as
atmosferas contaminadas, a saber:

⋅⋅ Por purificação do ar
⋅⋅ Por fornecimento do ar ou oxigénio, a partir de uma fonte não contaminada.

No primeiro método, os aparelhos de protecção respiratória utilizados são conhecidos por filtrantes.
O ar inspirado passa através de um filtro que retém as impurezas. O tipo de filtro varia consoante as
impurezas.
No segundo método, o ar a ser inspirado é transportado por uma linha de ar ou, alternativamente, o ar ou
oxigénio são fornecidos a partir de garrafas transportadas pelo utilizador. Estes aparelhos são conhecidos
por isolantes.

Pela sua importância, descrevem-se em detalhe apenas os aparelhos autónomos, dando uma maior
relevância aos de circuito aberto, por serem os que as equipas de primeira intervenção mais utilizam.

Notas:
68 Manual de Extinção de Incêndios

15.2 APARELHO RESPIRATÓRIO ISOLANTE DE CIRCUITO ABERTO

Estes são os aparelhos respiratórios utilizados nos corpos de bombeiros e na maioria das indústrias, pelo
que é importante conhecer as suas características, funcionamento e limitações.

A EN 137 (norma europeia) define um aparelho respiratório isolante de circuito aberto, de ar comprimido,
como um aparelho de proteção respiratória isolante autónomo que possui uma fonte portátil de ar
comprimido e é independente na atmosfera ambiente.

Convencionou designar-se o Aparelho Respiratório Isolante de Circuito Aberto pela abreviatura ARICA.

Os aparelhos respiratórios isolantes de circuito aberto são concebidos e construídos para permitir ao
utente respirar, por chamada, o ar proveniente de uma garrafa (ou garrafas) de alta pressão, que passa
através de um redutor e de uma válvula de chamada ligada à peça facial. O ar expirado passa, sem
reciclagem, da peça facial à atmosfera ambiente, através de uma válvula de expiração.

As suas características principais são:

⋅⋅ Simplicidade de funcionamento

⋅⋅ Debitar sempre ar fresco com um mínimo de resistência à inspiração

⋅⋅ Possibilidade de se verificar a qualquer instante a quantidade de ar de reserva através do manómetro


existente

⋅⋅ Facilidade de recarga das garrafas

⋅⋅ Facilidade de conservação, não exigindo ferramentas nem conhecimentos especiais

15.2.1 CONSTITUIÇÃO

Um ARICA é constituído essencialmente por peça facial, garrafa(s), precintas de fixação do aparelho ao
utilizador, suporte dorsal, manómetro e avisador sonoro de segurança. A figura e a respetiva legenda dão-
nos uma informação pormenorizada sobre a constituição de um ARICA.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 69

15.2.2 AUTONOMIA RESPIRATÓRIA DOS ARICA

A autonomia respiratória depende da reserva de ar comprimido e de fatores que condicionam o consumo


de ar, já anteriormente referidos.

Para determinar a autonomia convencionou-se, universalmente, que 40 l/min é o débito médio de ar


respirado por um bombeiro em trabalho pesado, o qual corresponde, mais ou menos, ao esforço
despendido a andar durante 4 Km com um aparelho às costas.

A autonomia pode ser:

⋅⋅ Autonomia efetiva

⋅⋅ Autonomia de trabalho

Notas:
70 Manual de Extinção de Incêndios

15.2.3 AUTONOMIA EFETIVA

É o período de tempo, em minutos, correspondente à capacidade de ar contido na garrafa.


Conhecendo a capacidade da garrafa em litros de água, a pressão indicada no manómetro e o consumo
médio de ar respirado é possível determinar-se a autonomia efetiva conforme exemplo do Quadro

> CÁLCULO DA AUTONOMIA EFETIVA

15.2.4 AUTONOMIA DE TRABALHO

Com a obtenção de autonomia efetiva podemos determinar a autonomia de trabalho. Como o próprio
nome indica é o período de tempo para trabalho em minutos, não incluindo a reserva de ar do aparelho,
que é de cerca de 10 minutos.

No Quadro dão-se exemplos da forma de cálculo para obtenção da autonomia de trabalho.

Nunca utilizar um aparelho em que a(s) garrafa(s) contenha(m)

inicialmente menos de 80% de ar da sua carga total, isto é:

240 bar para as garrafas de 300 bar

160 bar para as garrafas de 200 bar

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 71

Existem aparelhos respiratórios concebidos especificamente para garantir a fuga, em caso de emergência,
de locais onde, pela sua natureza, existe o risco da sua atmosfera se tornar contaminada ou carente de
oxigénio. Estes aparelhos têm uma autonomia muito reduzida (5 a 10 min) pelo que os elementos das
equipas de primeira intervenção nunca os devem utilizar, nem sequer para «reconhecimento».

15.2.5 LIMITAÇÕES

Se bem que alguns dos fatores que afectam a capacidade dos elementos das EPI utilizarem
eficazmente aparelhos respiratórios sejam comuns a vários modelos, descrevem-se de seguida
os fatores limitativos dos ARICA, por serem estes os aparelhos respiratórios mais utilizados.
Quanto às limitações do equipamento destacam-se as seguintes:

⋅⋅ Visibilidade limitada – a máscara reduz a visão periférica e em caso de embaciamento pode reduzir
a visão em geral
⋅⋅ Capacidade diminuída de comunicação – a máscara prejudica a comunicação vocal
⋅⋅ Aumento de peso – dependendo do modelo, o equipamento respiratório de protecção sobrecarrega
o elemento com um peso entre 11 e 16 Kg
⋅⋅ Diminuição da mobilidade – o aumento do peso e o efeito aprisionante do suporte dorsal e precintas
de fixação, reduzem a mobilidade do elemento
⋅⋅ Condição do aparelho – pequenas fugas resultam num excesso de ar perdido
⋅⋅ Pressão da garrafa antes da utilização – se a garrafa não estiver totalmente carregada (cheia), o
tempo de funcionamento (autonomia) será proporcionalmente reduzido

Para além da preocupação acerca das limitações do equipamento, os elementos das EPI têm que ser
conhecedores das suas próprias limitações, realçando-se as seguintes:

⋅⋅ Condição física – se o indivíduo estiver em condição física diminuída, o ar contido no cilindro será
consumido mais rapidamente
⋅⋅ Características faciais – a possibilidade do utilizador conseguir um bom ajuste da máscara na face,
depende da forma e dos contornos da face
⋅⋅ Grau do esforço físico – quanto mais o utilizador se esforça, mais ar consome
⋅⋅ Estabilidade emocional – um elemento que fique excitado irá aumentar a sua cadência respiratória,
consumindo o ar mais rapidamente
⋅⋅ Autoconfiança – a confiança do elemento nas suas capacidades e no equipamento terá um efeito
extremamente positivo nas acções que tiver que desempenhar
⋅⋅ Treino – o elemento devidamente treinado e altamente experiente será capaz de conseguir uma
maior autonomia. Por isso recomenda-se uma formação contínua.

Notas:
72 Manual de Extinção de Incêndios

16. BUSCA E SALVAMENTO

Existem dois objectivos quando se procede a uma busca e salvamento: procurar vítimas e salvá-las e,
complementarmente, obter informações sobre a extensão do incêndio.
Em grande parte dos incêndios urbanos e industriais, a busca deve ser dividida em busca primária e
busca secundária.
A busca primária é uma procura rápida de vítimas antes ou durante as operações de extinção, chegando
a ser feita, em muitos casos, sem que estejam montadas linhas de mangueira para ataque ao incêndio.
Apesar disso, pela sua importância, a busca primária tem que ser a mais minuciosa possível. Contudo,
nos edifícios de construção antiga, acima do piso do incêndio, muitas das vezes pode não passar de uma
rápida «vista de olhos» sobre toda a área acessível aos elementos da equipa, com particular atenção
para os locais onde seja mais óbvio encontrar vítimas.
Por outro lado, a busca secundária é executada depois do incêndio estar dominado, pelo que não é
necessário grande rapidez. A busca secundária deve ser ainda mais minuciosa por forma a garantir
que não ficaram vítimas por localizar. Uma vez que as condições de calor e visibilidade melhoraram
substancialmente, a busca secundária não é uma operação tão perigosa para os bombeiros. No entanto,
deve ser executada, dado que é tão importante como a busca primária.

Quando se faz a busca primária em edifícios com vários pisos, as áreas mais críticas são:

⋅⋅ O piso onde decorre o incêndio

⋅⋅ O piso imediatamente acima do piso incendiado

⋅⋅ O piso mais elevado

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 73

No piso do incêndio, a busca primária deve iniciar-se o mais próximo possível do foco de incêndio,
retrocedendo a equipa em direção à entrada.

Este procedimento permite alcançar, em primeiro lugar, as vítimas que se encontram em maior risco
de ser atingidas pela propagação do incêndio. Todas as outras, a maior distância do foco de incêndio,
estarão menos expostas aos produtos da combustão e, consequentemente, terão mais probabilidades de
sobreviver até a equipa retornar em direção à saída.

Quando os elementos da equipa de primeira intervenção procedem à busca primária no piso


imediatamente acima do piso incendiado, devem iniciar a tarefa logo que entram naquele e progredir
na direção da vertical do foco de incêndio. Esta prática, a utilizar obrigatoriamente nos edifícios de
construção antiga, difere da anterior – avanço imediato para a zona do foco de incêndio – devido às
diferentes condições existentes nos dois pisos considerados:

⋅⋅ Os elementos movimentam-se no piso em chamas junto ao pavimento, abaixo do calor e do fumo,


o mesmo não acontecendo no piso acima do incêndio, pois muitas das vezes o fumo preenche todo
o espaço até ao nível do piso, mesmo num incêndio de médias proporções;
⋅⋅ A propagação do incêndio de compartimento para compartimento é, normalmente, muito mais rápida
do que a propagação de piso para piso;
⋅⋅ Os ocupantes do piso acima do incêndio estão diretamente ameaçados pelos gases de combustão,
enquanto que as vítimas na área do foco de incêndio correm riscos provenientes tanto dos gases
como das próprias chamas.

No caso do piso mais elevado do edifício, quaisquer ocupantes que tenham ficado no seu interior
encontram-se fortemente ameaçados pelo movimento ascendente do fumo, gases e calor, que sobem
pela caixa de escada e outros espaços verticais existentes. Assim, no caso dos edifícios de construção
moderna, deve ser dada, de imediato, especial atenção à busca e salvamento naquele piso.

16.1 PROCEDIMENTOS

Consoante as condições existentes no interior do edifício, ao


fazerem a busca primária, os elementos deslocam-se de pé,
agachados ou «de gatas». Existindo apenas fumo pouco
denso e não havendo ou sendo reduzido o calor, caminhar de
pé será a forma mais rápida para proceder à busca.

Caminhar «de gatas» sob a camada de fumo aumenta a


visibilidade e reduz os riscos de tropeçar, cair em escadas ou
por aberturas existentes no piso.

Notas:
74 Manual de Extinção de Incêndios

Ao caminhar agachados ou «de gatas», os elementos devem utilizar as ferramentas para sondar o caminho
à sua frente, fazendo deslocar as costas da mão do lado da parede ao longo desta, com movimentos
para cima e para baixo.
A deslocação pelas escadas do edifício deve ser feita, preferencialmente, «de gatas», quando as condições
de visibilidade são adversas. Ao subir, a cabeça do elemento deve ir à frente. Ao descer, devem ir à frente
os pés. Esta deslocação sendo, embora, mais lenta, permite que o elemento se movimente na camada
de ar menos aquecida junto ao piso.
A busca primária deve ser executada de forma sistemática, de compartimento em compartimento,
completando a tarefa em cada um deles, enquanto se procura, constantemente, ouvir sons ou ruídos
produzidos por vítimas.
A técnica para a movimentação no interior de um edifício com pouca visibilidade é utilizar as paredes
como guia, contornando todo o perímetro que se pretende revistar. Pretende-se, assim, manter o sentido
de orientação no fumo denso.
Os elementos da equipa devem utilizar as ferramentas, as pernas e os braços para alcançar todo o
espaço.

Quando existe um corredor central a separar escritórios, apartamentos ou outros espaços, a busca e
salvamento deve ser feita em ambos os lados, se possível por duas equipas diferentes. Se houver
apenas uma equipa disponível, a operação deve iniciar-se pelos compartimentos de um dos lados do
corredor e, no regresso, serem revistados os do lado contrário.
Ao entrar no primeiro espaço, a equipa volta à direita ou à esquerda, seguindo as divisórias em redor
do compartimento até regressar ao ponto de partida. Ao sair, volta na mesma direção em que entrou,
continuando até ao compartimento seguinte. Como exemplo, se voltou à esquerda quando entrou, volta
à esquerda quando sai do compartimento

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 75

No salvamento de uma vítima para um ponto seguro ou para o exterior do edifício, a equipa deve voltar
no sentido contrário ao que entrou.
Nalguns casos, o melhor método para proceder à busca em compartimentos de pequena dimensão será
manter um dos elementos à entrada do compartimento, enquanto o outro faz a revista, orientando-se
através do diálogo que vai mantendo com o parceiro.

Este método pretende reduzir a possibilidade da equipa se perder no interior do compartimento, diminuindo,
simultaneamente, o stress causado pela situação. Por outro lado, quando os compartimentos são
relativamente pequenos, torna a busca mais rápida em comparação com a executada por dois elementos,
pois o que entra pode deslocar-se com maior ligeireza sem receio de ficar desorientado.

Como foi referido, durante a busca primária a visibilidade pode ser bastante limitada, obrigando a recorrer
muitas vezes ao sentido do tacto.

A identificação dos objectos pelo toque pode ser a única fonte de informação sobre o tipo de compartimento
onde se encontra a equipa de bombeiros.

16.2 LOCALIZAÇÃO PROVÁVEL DE VÍTIMAS

O comportamento humano na presença de um incêndio segue padrões cujo estudo, a partir da experiência
de situações passadas, leva à conclusão de que se deve dar primordial importância a determinados
locais quando se pretende encontrar vítimas no interior dos edifícios.

Quase todas as pessoas e animais – sendo os bombeiros a excepção – fogem perante a ameaça do
incêndio logo que dão pela sua presença. Contudo, as chamas ou os produtos da combustão poderão
cercar as vítimas antes destas conseguirem fugir.

Por esta razão, deve ser dada uma especial atenção a:

⋅⋅ Caminhos que servem para evacuação nomeadamente a porta principal e a escada interior.
⋅⋅ Por detrás das portas, especialmente, se for difícil abri-las completamente.

Notas:
76 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Junto aos parapeitos das janelas.


⋅⋅ Quartos de dormir, lavabos, banheiras, chuveiros, armários, sob as camas, atrás das
mobílias, sótãos e caves e quaisquer outras áreas que possam ocultar crianças e ocupantes
doentes ou desorientados.
⋅⋅ As crianças podem esconder-se do fogo, ainda, em caixas de brinquedos, armários e outros
locais inesperados. Sendo muito imaginativas, confrontados com o perigo podem esconder-se,
também, nos locais que habitualmente usam para brincar. Mesmo frigoríficos, arcas congeladoras
e armários de cozinha podem ser utilizados como refúgio por uma criança, o que significa, mais
uma vez, que a busca tem de ser exaustiva.

16.3 BUSCA SECUNDÁRIA

Uma vez dominado o incêndio e tendo melhorado, consequentemente, as condições no interior do edifício,
é altura de se proceder à busca secundária, muitas das vezes em simultâneo com a fase de rescaldo,
pois, ao mesmo tempo que se extinguem os pequenos focos ainda ativos, verifica-se a existência ou não
de vítimas. Entretanto, deve ser dada atenção à forma como se procede ao rescaldo, de modo a não
soterrar eventuais vítimas sob os escombros se as paredes ou os tetos abaterem.

Uma vez completamente extinto o incêndio, a velocidade a que se procede a busca secundária pode
abrandar, sendo conveniente verificar o local onde vão ser colocados os objectos ou escombros antes
da sua movimentação.

A busca secundária deve processar-se por todo o perímetro do edifício, incluindo as coberturas, áreas
nas traseiras para as quais alguém possa ter saltado e por debaixo de janelas. Devem ser verificadas,
também, zonas de arbustos pois poderão encobrir alguma vítima inconsciente. Estas áreas exteriores
devem ser examinadas antes de permitir lançar-se quaisquer escombros pelas janelas.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 77

A busca secundária deve ser executada, preferencialmente, por elementos que não participaram na
busca primária, pois, uma nova equipa irá, certamente, olhar para os locais de forma diferente.

Outra dificuldade que os elementos da equipa podem sentir ao executar a busca secundária será
reconhecer vítimas carbonizadas, especialmente quando os escombros provocados pelo incêndio
caíram em cima dos corpos. Assim, deve ser feito um completo exame aos escombros antes de serem
lançados pela janela ou retirados para o exterior. Esta tarefa deve ser encarada como um procedimento
rotineiro por todos, mesmo que não haja informação sobre a falta de qualquer pessoa.

Deste modo, mesmo em incêndios de pequenas proporções, é essencial proceder à busca nas áreas
acima e abaixo do nível do incêndio.

Se um compartimento ou uma área no piso do incêndio ou nos pisos acima estiverem trancados, é
necessário abrir o acesso, por vezes com ferramentas de entrada forçada, pois os espaços verticais
como as chaminés, condutas, etc., poderão transportar concentrações mortais de fumo e gases para
áreas afastadas da zona do incêndio, sem qualquer indicação visível nas caixas de escada.

Em geral, nos pisos situados dois ou mais níveis abaixo do incêndio não é necessário proceder
à abertura forçada de compartimentos encerrados, excepto, em casos especiais. Uma exceção, por
exemplo, é a que se refere aos pisos abaixo do nível do solo, nos quais podem existir concentrações
de monóxido de carbono provenientes de incêndios em fase de asfixia.

16.4 SALVAMENTO DE VÍTIMAS

Embora as escadas que equipam os corpos de bombeiros sejam usadas para remover os ocupantes
quando se localizam acima do piso térreo, a evacuação deve ser feita, sempre que possível, pelas
escadas do edifício.

Esta é uma das razões pela qual, no combate a incêndios, se torna essencial evitar que as caixas de
escada sejam tomadas pelo fogo, fumo e gases de combustão.

Assim, temos diversas formas de transportar as vítimas até ao exterior:

Notas:
78 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Encaminhá-las pelo seu próprio pé

⋅⋅ Arrastamento da direção do seu corpo

⋅⋅ Transporte nos braços

⋅⋅ Posição de sentado

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 79

⋅⋅ Pelas extremidades

⋅⋅ Por arrastamento

⋅⋅ Por cobertor ou similar

EM CASO DE DESORIENTAÇÃO

⋅⋅ Procurar retroceder até ao local onde se encontravam no início


⋅⋅ Não sendo possível, procurar uma qualquer saída do edifício ou, pelo menos, da área em risco de
ser atingida pelo incêndio
⋅⋅ Simultaneamente, em voz alta, pedir auxílio tentando chamar a atenção de outros elementos que
estejam na área
⋅⋅ Não encontrando um caminho de fuga, procurar um lugar relativamente seguro e ativar o alarme
pessoal de segurança (APS), caso possuam um destes equipamentos
⋅⋅ Se encontrarem uma janela, cavalgar no parapeito, fazer sinais a pedir auxílio, ativar o APS, usar o
foco da lanterna, agitar os braços ou atirar objetos para a rua. Contudo, em nenhuma circunstância
os elementos devem lançar o capacete ou outras peças do equipamento de proteção individual.

Notas:
80 Manual de Extinção de Incêndios

17. ORGANIZAÇÃO DA SEGURANÇA

A organização da segurança contempla o conjunto de pessoas responsáveis pelo estudo, planeamento


e gestão do sistema no seu conjunto, ao nível da execução das medidas de prevenção, intervenção,
formação, fiscalização e aquisição de equipamentos de combate a incêndios.

Um sistema organizativo da segurança contra incêndio onde estejam definidas responsabilidades,


competências e interdependências, deverá ser elaborado de forma adequada ao caso concreto de cada
empresa ou instituição.

Um serviço de segurança contra incêndio deve ser basicamente estruturado de acordo com a área de
ocupação, tipo de construção do edifício, risco existente e do tipo e índice de ocupação de pessoas.

A segurança contra incêndio deverá ser constituída por uma ou mais equipas de primeira intervenção
coordenadas por um delegado de segurança, com um perfil bem determinado e caracterizado por:

⋅⋅ Competência técnica
⋅⋅ Capacidade de decisão
⋅⋅ Conhecimentos relativos ao sector de atividade desenvolvida pela empresa ou instituição

Quando ausente, o delegado pela segurança deverá ser sempre substituído em todas as suas funções de
segurança. O substituto deve estar nomeado previamente, de forma a colmatar qualquer eventualidade.
Sob responsabilidade do delegado da segurança existirão uma ou mais equipas de primeira intervenção.

17.1 EQUIPAS DE PRIMEIRA INTERVENÇÃO (EPI)

Cada equipa de primeira intervenção deve ser composta por um chefe de equipa e mais seis elementos
com boa condição física, psíquica e formação adequada no combate a incêndios e primeiros socorros.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 81

Sem prejuízo do número de efetivos que constituem a EPI, é recomendável que esta integre também um
ou mais elementos da manutenção.

A equipa de primeira intervenção tem como funções a atuação com meios disponíveis de 1ª e 2ª intervenção,
respetivamente extintores e rede de incêndio armada, a coordenação da evacuação e também:

⋅⋅ Garantir e comprovar com frequência o estado normal do edifício no respeitante ao cumprimento das
instruções de segurança
⋅ ⋅ Inspecionar todas as dependências, assegurando-se da disposição adequada de produtos
e equipamentos
⋅⋅ Zelar por todas as operações de inspeção e manutenção dos equipamentos de segurança
contra incêndio
⋅⋅ Comunicar à administração ou ao responsável de segurança todas as situações anómalas,
principalmente as avarias em qualquer dos equipamentos de segurança

Pode concluir-se que a segurança contra incêndio, equacionada de forma integrada para se evitar em
situações de falsa segurança, existe para:

⋅⋅ Proteger vidas
⋅⋅ Servir o desenvolvimento da empresa ou instituição
⋅⋅ Preservar a existência da empresa e garantir a sua função económica e social

17.2 DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS

As disposições construtivas dos edifícios são muito importantes para a segurança contra incêndio e
dependem da altura do edifício, do tipo de ocupação, enfim, do risco de incêndio.

Dentro das características relevantes para a segurança contra incêndio de um edifício destacam-se, pela
sua importância, a compartimentação ao fogo e as vias de evacuação que dispõe.

17.3 COMPARTIMENTAÇÃO AO FOGO

Consiste no conjunto de medidas de natureza construtiva de um edifício que visam introduzir barreiras
físicas à progressão de um eventual incêndio, limitando os seus efeitos â menor área que for possível.
A compartimentação ao fogo deve ser garantida por elementos de construção (paredes, pavimentos,
portas, cobertura, etc.) estrategicamente distribuídos para delimitar os efeitos de um incêndio entre
edifícios e, muitas vezes também, entre diversos espaços interiores a um dado edifício.

Notas:
82 Manual de Extinção de Incêndios

Normalmente a compartimentação ao fogo é definida entre:

⋅⋅ Edifícios contíguos
⋅⋅ Diversos pisos de um mesmo edifício
⋅⋅ Espaços sujeitos a ocupações distintas, mesmo que se encontrem no mesmo piso
⋅⋅ As vias de evacuação verticais (escadas) e os espaços que lhes são adjacentes
⋅⋅ Os locais de risco agravado de incêndio e os espaços que lhes são adjacentes, em especial se estes
forem acessíveis ao público

Durante a utilização do edifício a compartimentação ao fogo pode vir a ser posta em causa por atitudes
que a contrariem. Assim, é essencial garantir as condições de compartimentação, pelo que os elementos
de uma equipa de primeira intervenção devem ter conhecimento da sua estrutura e tipo, bem como
garantir o cumprimento das medidas de natureza preventiva que lhes dizem respeito, constantes no Plano
de Segurança do edifício.

A existência de compartimentação é um auxiliar importante quando da intervenção das EPI, pois permite
aumentar a sua segurança como, por exemplo, quando operações de combate a incêndios são lançadas
a partir de espaços compartimentados ao fogo relativamente aos afetados pelo incêndio.

17.4 VIAS DE EVACUAÇÃO

As vias de evacuação destinam-se a garantir que os ocupantes de um dado edifício possam chegar, em
segurança e rapidamente, ao exterior em caso de incêndio ou outra emergência.

Estas vias são constituídas, essencialmente, pelos corredores, escadas, átrios, etc., bem como pelas
saídas para o exterior do edifício a que esses elementos conduzem.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 83

Assim, devem:

⋅⋅ Ser distribuídas pelo edifício em função do número e tipo de ocupantes


⋅⋅ Possuir características que as tornem seguras, nomeadamente que garantam a sua protecção face
aos efeitos de um eventual incêndio (compartimentação ao fogo e controlo de fumo)
⋅⋅ Ser sujeitas a uma atenção especial, durante a exploração do edifício, de modo a estar
permanentemente praticáveis e a que os seus meios de protecção se mantenham operacionais.

As vias de evacuação protegidas podem ser de dois tipos:

⋅⋅ Vias de evacuação enclausuradas – percursos interiores, possuído elementos de construção na


sua envolvente que são resistentes ao fogo e sistemas de controlo de fumo
⋅⋅ Vias de evacuação ao ar livre – percursos em contacto com o exterior ou totalmente no exterior,
cujos elementos de compartimentação relativamente ao edifício são resistentes ao fogo.

Durante a exploração do edifício, é necessário que as vias de evacuação se mantenham permanentemente


praticáveis, sendo fundamental que:

⋅⋅ Estejam permanentemente desimpedidas, isto é, livres de quaisquer obstáculos (mobiliário,


materiais, equipamentos, etc.) que reduzam a sua largura, obstruam os elementos de sinalização e
de iluminação de segurança ou que, de qualquer forma, limitem ou impeçam a evacuação;
⋅⋅ Não possuam quaisquer materiais combustíveis, que possam dar origem a um incêndio ou contribuir
para a sua propagação;
⋅⋅ As portas existentes nos caminhos de evacuação e as de saída sejam facilmente abertas por pessoas
em evacuação. As portas que servem mais de 50 pessoas devem abrir no sentido da evacuação e as
que servem mais de 200 pessoas devem ainda possuir barras anti-pânico;
⋅⋅ As portas de compartimentação ao fogo que existam em caminhos protegidos devem ser mantidas
permanentemente fechadas. As que, por razões de exploração do edifício, estejam normalmente
abertas devem dispor de dispositivos que as fechem automaticamente em caso de incêndio;

Notas:
84 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Os equipamentos, dispositivos e sistemas de segurança de que dispõem devam ser mantidos em


perfeitas condições de operacionalidade.

Assim, os elementos de uma equipa de primeira intervenção devem ter um conhecimento perfeito das
características e capacidades das vias de evacuação, bem como desempenhar um papel ativo na sua
manutenção permanente em condições praticáveis. Estes aspetos devem constar do Plano de Segurança
do edifício.

Por outro lado, as vias de evacuação, em especial as protegidas, constituem também um meio seguro
para as equipas de primeira intervenção acederem aos locais onde decorrem as operações de combate
a incêndios.

17.5 PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS

A prevenção de incêndios consiste num conjunto de medidas a tomar para evitar a sua eclosão.

O fator humano é, sem dúvida, o maior responsável pela ocorrência de incêndios. Algumas regras básicas
a tomar em consideração e uma informação cuidada poderão evitar situações de eclosão ou mesmo
dificultar a propagação de um incêndio.

Os elementos que compõem as equipas de primeira intervenção, pela sua experiência e conhecimento,
devem divulgar aos restantes funcionários algumas das regras fundamentais da prevenção contra
incêndios.

Ainda no aspeto da prevenção, são extremamente importantes as ações que podem ser desenvolvidas
pelos elementos das empresas de segurança contratadas.

São também medidas de prevenção todas as ações tendentes a manter as condições de segurança, em
especial no que se refere aos espaços, sistemas e equipamentos.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 85

Seguidamente, indicam-se algumas regras de prevenção que devem ser adotadas:

⋅⋅ Verificar, diariamente, todos os comandos principais dos equipamentos de segurança, alarme de


evacuação, iluminação de emergência, comando das portas corta fogo, etc.
⋅⋅ Treinar a operação manual dos equipamentos, imaginando situações possíveis de incêndio, tendo
em vista o seu funcionamento adequado à segurança contra incêndio. Os sistemas automáticos
são falíveis
⋅⋅ Fazer manutenção sistemática a esses equipamentos, com recurso a profissionais, quando necessário;
⋅⋅ Providenciar rapidamente todas as reparações que se mostrem necessárias
⋅⋅ Não permitir reparações provisórias ou improvisadas
⋅⋅ Não permitir a utilização de instalações elétricas provisórias
⋅⋅ Assegurar que existem cinzeiros por todos os espaços onde seja permitido fumar
⋅⋅ Zelar pela proibição de fumar nos locais de maior risco de incêndio
⋅⋅ Confirmar a recolha diária de lixos
⋅⋅ Proceder diariamente a rondas de modo a detetar qualquer possível indício de práticas contraditórias
da segurança contra incêndio
⋅⋅ Verificar com frequência a desobstrução das saídas e caminhos de evacuação
⋅⋅ Seleccionar mentalmente os meios de extinção adequados para vários tipos de instalações, prevendo
possíveis situações de emergência

17.6 PLANO DE EMERGÊNCIA

Quando ocorre um incêndio ou outra situação de emergência, não é o momento para se organizarem as
acções a desenvolver. Estas devem ser estudadas e implementadas com antecedência.

Todos os empregados e em particular os elementos das equipas de primeira intervenção, devem ter
instruções concretas sobre a forma de atuação em caso de emergência.

O arranque de um plano de emergência pressupõe dois passos prévios:

⋅⋅ Detecção de um incêndio
⋅⋅ Reconhecimento do incêndio

O reconhecimento significa a identificação do local do incêndio, a avaliação das suas dimensões e direção
em que se propaga.
Uma vez avaliada a gravidade do incêndio, aciona-se então o plano de emergência até ao nível adequado
à dimensão do sinistro, dando-se sempre prioridade ao salvamento de pessoas.

Notas:
86 Manual de Extinção de Incêndios

A existência de um plano de emergência só é fiável se todos os empregados o compreenderem e estiverem


familiarizados com as medidas que nele constam. Por isso exige:

⋅⋅ A mais ampla divulgação


⋅⋅ A prática de simulação com vista à avaliação da sua eficácia

Com este objetivo, deve ser contactado o corpo de bombeiros da zona, para visitar as instalações, preparar
e colaborar nesses simulacros. É recomendável realizar-se esta ação uma vez por ano.

17.7 A IMPORTÂNCIA DO ALARME

A primeira ação do plano de emergência é dar o alarme.

Importa fazer algumas considerações sobre o alarme, em virtude da sua importância no eficaz desenrolar
do plano.

O alarme, e consequentemente a ativação do plano de emergência, deve efetuar-se escalonadamente,


de acordo com a gravidade do incêndio. Só se deve alargar o alarme à totalidade do edifício quando o
incêndio não seja facilmente dominável.

Assim o alarme pode ser:

⋅⋅ Alarme local – aplica-se a qualquer incêndio na sua fase inicial;

⋅⋅ Alarme sectorial – quando o incêndio se encontra em fase avançada, mas supostamente dominável
e confinável a um sector reduzido (por ex. um piso);

⋅⋅ Alarme geral – para situações em que o incêndio se prevê assumir maiores dimensões a curto prazo.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 87

17.8 ATUAÇÃO EM CASO DE EMERGÊNCIA

Em caso de emergência deve ser seguido o esquema de atuação definido na imagem abaixo

17.9 PROCEDIMENTOS GERAIS DE ATUAÇÃO

Em caso de incêndio comprovado - Alertar os bombeiros

Se o sistema automático de detecção de incêndios possui alerta automático e funcionou, os bombeiros já


se encontram alertados. No entanto, deve confirmar-se sempre, nomeadamente através do telefone, se
receberam a informação.

Dar, em simultâneo, o alarme

O alarme deve ser dado de forma:

⋅⋅ Progressiva (para evitar o choque psicológico);


⋅⋅ Local, sectorial ou geral (consoante a gravidade do incêndio e as pessoas em risco);
⋅⋅ Inequívoca (não dar origem a dúvidas).

Evacuar as pessoas em risco (e só essas)

⋅⋅ Deve ser dada prioridade à evacuação sobre o combate ao incêndio.


⋅⋅ Garantir a abertura imediata das portas de saída.

Iniciar o mais cedo possível o combate ao incêndio

⋅⋅ Usando os meios de extinção adequados;


⋅⋅ Retirando materiais combustíveis do alcance do fogo;

Notas:
88 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Parando os equipamentos não necessários à segurança do estabelecimento, em especial os de


ventilação e ar condicionado
⋅⋅ Procedendo ao corte da alimentação de combustível e da energia elétrica, de acordo com as
necessidades de segurança no combate ao incêndio
⋅⋅ Assegurando o funcionamento correto dos sistemas de emergência e procedendo à sua operação
manual, se necessário

Analisar constantemente a situação

⋅⋅ Para decidir da extensão da evacuação a outras zonas, eventualmente da evacuação total.

Preparar e facilitar o acesso aos bombeiros

⋅⋅ Colaborar com os bombeiros nas operações de combate e salvamento.

Após o incêndio

⋅⋅ Completar a extração de fumo, calor e gases da combustão


⋅⋅ Repor nas condições adequadas todos os equipamentos do sistema de segurança
⋅⋅ Retirar os materiais não danificados e proceder à sua recuperação, se possível
⋅⋅ Proceder à limpeza das instalações atingidas

17.10 EVACUAÇÃO

A evacuação de todas as pessoas em risco devido ao incêndio


é o objetivo primordial e tem prioridade sobre todos os outros
procedimentos previstos no plano de emergência.

É, pois, necessário que todas as pessoas em risco tomem


conhecimento da necessidade de serem evacuadas.

O primeiro passo é, portanto, dar o alarme. Não esquecer que um


alarme inapropriado pode causar pânico nas pessoas e, por isso,
resultarem situações perigosas e difíceis de controlar.

Os elementos das Equipas de 1º Intervenção (EPI) que tiverem de


coordenar ou colaborar na evacuação de um local devem:

⋅⋅ Transmitir discretamente a ordem de evacuação


⋅⋅ Impor ordem, calma e rapidez: não corra – não grite – não empurre
⋅⋅ Dirigir as pessoas para as saídas, indicando as vias de evacuação a utilizar
⋅⋅ Evitar o pânico, acalmando as pessoas mais descontroladas

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 89

⋅⋅ Evitar as grandes aglomerações, pois aumentam o pânico. Quando existam, deve-se fraccioná-las
em grupos de menos de 20 pessoas
⋅⋅ Caminhar junto das paredes dos corredores e escadas
⋅⋅ Se existir fumo, caminhar o mais perto possível do chão
⋅⋅ Não utilizar os elevadores
⋅⋅ Ajudar as crianças e os incapacitados
⋅⋅ Tranquilizar as pessoas
⋅⋅ Orientar a evacuação sempre para espaços amplos e ao ar livre

⋅⋅ Comprovar a completa evacuação do edifício

⋅⋅ Determinar previamente, fora do edifício, pontos de encontro e voltar a confirmar se estão todas
as pessoas

⋅⋅ Comunicar aos bombeiros as possíveis faltas de pessoas


⋅⋅ Não permitir o regresso ao edifício de nenhuma pessoa durante as operações de combate ao incêndio
até que aquele local seja considerado seguro pelos bombeiros

Notas:
90 Manual de Extinção de Incêndios

Durante o movimento de evacuação das pessoas de um edifício afetado por um incêndio devem existir
dois elementos com funções distintas para acompanhar todo o processo: o chefe de fila e o cerra-fila.

AO CHEFE DE FILA COMPETE:

⋅⋅ Se em compartimentos, bater às portas e chamar os ocupantes


⋅⋅ Informar as pessoas sobre a necessidade de evacuação
⋅⋅ Agrupar e tranquilizar as pessoas
⋅⋅ Proibir a utilização de elevadores
⋅⋅ Verificar a ausência de fumos nos caminhos normais de evacuação
⋅⋅ Utilizar o caminho de evacuação alternativo apenas no caso de o caminho normal de evacuação
estar impraticável
⋅⋅ Encaminhar as pessoas para a saída
⋅⋅ Acompanhar as pessoas evacuadas até ao ponto de encontro

No ponto de encontro deve:

⋅⋅ Anotar os nomes das pessoas evacuadas


⋅⋅ Informar os bombeiros das possíveis faltas de pessoas

AO CERRA-FILA COMPETE:

⋅⋅ Ajudar o chefe de fila


⋅⋅ Assegurar-se que foram aplicadas todas as medidas de segurança aplicáveis ao edifício
⋅⋅ Certificar-se ao sair, que todas as portas estão fechadas
⋅⋅ Ajudar as pessoas em dificuldade
⋅⋅ Assegurar-se que ninguém fica para trás
⋅⋅ Impedir que as pessoas voltem para trás
⋅⋅ Substituir o chefe de fila se necessário

No ponto de encontro deve:

⋅⋅ Socorrer e providenciar a evacuação dos feridos em conjunto com as equipas de emergência.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 91

18. COMBATE A INCÊNDIOS E ESTABELECIMENTOS DE MANGUEIRAS

Ao ser detetado um foco de incêndio deve, logo que possível, iniciar-se o ataque. Se a combustão ficar
localizada o incêndio não será tão perigoso.

Ao combater-se um incêndio deverão tomar-se em consideração as seguintes indicações e procedimentos:

⋅⋅ A existência de qualquer cheiro muito ativo indica a presença de produtos que podem ser tóxicos ou
explosivos;
⋅⋅ Fumo de cor branca ou cinzento pálido indica que a combustão tem bom combustível e dispõe de
comburente em quantidade;
⋅⋅ Fumo negro ou cinzento escuro indica que se trata de uma combustão que desenvolve grande
temperatura e tem falta de comburente, como é o caso da combustão dos plásticos;
⋅⋅ Fumo amarelo, roxo ou violeta indica, geralmente, que se está na presença de gases altamente
tóxicos;
⋅⋅ A inalação de ar quente e fumo provoca lesões graves no aparelho respiratório. Proteja-se com um
ARICA;
⋅⋅ Impedir a propagação do incêndio para fora da área já atingida;
⋅⋅ Os incêndios em instalações elétricas devem ser tratados como se estas estivessem sob tensão (não
utilizar água);
⋅⋅ Não exagerar na aplicação dos meios de extinção, para além das quantidades necessárias à extinção
segura do incêndio, para evitar possíveis danos daí resultantes.

Não esquecer que:

GRANDE INCÊNDIO ͢ MUITA ÁGUA

PEQUENO INCÊNDIO ͢ POUCA ÁGUA

18.1 COMBATE COM ÁGUA PELO INTERIOR

Aspetos a atender neste combate:

⋅⋅ No percurso dentro do edifício os elementos da equipa de primeira intervenção devem observar


atentamente todos os locais por onde passam para verificar a existência de focos de incêndio
secundários, preverem caminhos de fuga seguros e, até, localizar eventuais vítimas;

⋅⋅ Quando tiver que abrir a porta de um compartimento em que suspeite ou tenha a confirmação de
incêndio no seu interior, nunca se ponha em frente da mesma;

Notas:
92 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Proteja-se com a parede, no caso da porta abrir para dentro do compartimento. Se a porta abrir para
fora do compartimento ou for de correr proteja-se com esta;

⋅⋅ Ao entrar numa área com incêndio, os elementos da equipa de primeira intervenção devem baixar-
se, de forma a que o calor, fumo e gases da combustão fiquem acima das suas cabeças, permitindo
uma atuação mais segura e confortável;

⋅⋅ A linha de mangueira deve estar pronta a atuar (em carga), mas não se deve abrir a agulheta até se
localizar o foco de incêndio, exceto se tal for necessário para proteção dos elementos da equipa de
primeira intervenção

⋅⋅ Em princípio, não incidir a água sobre o fumo pois provocará o seu arrefecimento e a sua descida em
direção ao pavimento, diminuindo bastante a visibilidade

⋅⋅ Se os materiais a arder tiverem um desenvolvimento vertical a água aplica-se, inicialmente, na zona


junto ao pavimento e, quando o domínio for aí garantido, sobe-se até se obter a extinção total;

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 93

⋅⋅ Mesmo que se preveja ser suficiente apenas o trabalho de uma agulheta, deverá ser posicionada
outra linha de mangueira de reserva para eventual reforço da primeira e proteção dos elementos da
equipa de primeira intervenção ou exposições interiores;

⋅⋅ O trabalho com mais do que uma agulheta deve ser muito bem coordenado, de modo a que os seus
efeitos se conjuguem e se obtenha o mais rápido domínio do incêndio.

⋅⋅ Quando não for possível dominar o incêndio num compartimento deverá abandoná-lo e fechar a sua porta;

⋅⋅ Ter em atenção o envolvimento do incêndio pelas costas.

No caso de ser imperioso afastar o fogo das vítimas deve conjugar-se o ataque inicial ao incêndio com as
operações de salvamento.

A primeira agulheta deve ser posicionada no interior do edifício, no local mais próximo das chamas, isto
é, onde possa garantir a melhor proteção de pessoas que eventualmente ainda se encontrem no edifício
ou, caso contrário, onde possa cortar a progressão do incêndio de forma mais eficaz.

Assim, a primeira agulheta deve ser colocada a trabalho no local onde melhor se possa interpor entre o
incêndio e os ocupantes ou, caso o edifício esteja desocupado, entre o incêndio e o local mais importante
a proteger, normalmente, o local para onde o incêndio se propagará mais facilmente.

A ação da primeira agulheta é a de maior responsabilidade para o eficaz domínio do incêndio.

18.2 MANGUEIRAS

As mangueiras que compõem as linhas para combate a incêndios destinam-se a conduzir um fluido
(água) sobre determinada condições para um certo local.

Estas mangueiras, em que cada lanço tem normalmente 20 metros de comprimento, são designadas pelo
diâmetro, sendo as mais utilizadas as de 25mm (carretéis), 45, e 70 mm de diâmetro interno.

Notas:
94 Manual de Extinção de Incêndios

As linhas de mangueira deverão, dentro das possibilidades, ser estabelecidas até ao foco de incêndio.
Junto deste, deverá ficar mangueira suficiente (seio) para que, em caso de necessidade de avanço, não
seja preciso aos elementos da equipa de primeira intervenção arrastarem toda a linha.

Se a água for projetada de muito longe, o resultado obtido será praticamente nulo, visto que ela se
vaporiza antes de poder atingir o foco de incêndio.

A aproximação ao incêndio garante uma maior quantidade de aplicação de água e poder de penetração
desta nos combustíveis.

18.3 AGULHETAS

Para que a água possa ser projetada com eficácia, é necessário que na extremidade da linha de mangueira
seja montada a agulheta, com a finalidade de orientar a projeção da água, conferindo-lhe determinadas
características conforme o fim a que se destina. Um fator importante no momento do ataque a um
incêndio é a forma como a água é aplicada. Este fator envolve a aplicação da água sobre os materiais em
combustão, assim como nas áreas quentes do espaço onde se está a desenvolver o incêndio.

A água pode ser aplicada em jato, pulverizada em cone de ataque ou em cortina de proteção, de maneira
a que, em qualquer momento, se recorra à forma de aplicação mais conveniente e requerida pelas
circunstâncias.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 95

A aplicação em jato permite:

⋅⋅ Descarregar grandes quantidades de água a uma longa distância, na vertical e horizontal;


⋅⋅ Arrefecer as estruturas;
⋅⋅ Penetrar com maior força de impacto nos materiais combustíveis da classe A.

A aplicação sob a forma de água pulverizada ou em cortina de proteção tem pouco alcance. Em
compensação, tem uma grande eficácia para deter os avanços e os retrocessos das chamas, devendo
utilizar-se, portanto, quando se está muito próximo das chamas, de fumo ou quando o calor radiado se
torna insuportável.
A água projetada sobre a forma de pulverização tem um grande poder de extinção e permite um melhor
aproveitamento.
Quando projetada em cone de ataque a água tem uma relativa força de impacto e de absorção de calor.
Em alguns tipos de agulhetas, o cone de água sofre um movimento rotativo que melhora as prestações
descritas anteriormente.

18.4 MANOBRAS COM LINHAS DE MANGUEIRA

Os elementos que vão atacar um incêndio, devem ser conhecedores e ter praticado suficientemente a
progressão com mangueiras.

Por outro lado devem observar as seguintes regras para evitar correr riscos graves:

⋅⋅ Expulsar o ar que existe na linha, abrindo lentamente a agulheta e deixar sair água até que seja
garantido um fluxo contínuo antes de atacar um incêndio;
⋅⋅ Conhecer bem o funcionamento da agulheta;
⋅⋅ Manter a perna do pé da frente permanentemente dobrada formando com o pé um ângulo menor
que 90°. A perna da retaguarda deverá manter-se o mais rígida possível;

Notas:
96 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ Assegurar que a distância entre os pés varie entre os 40 a 50 cm e que a separação longitudinal seja
de 20 cm, podendo aumentar em função da estabilidade necessária;

⋅⋅ Colocar o braço do lado da mangueira de forma a comprimir esta contra o corpo e a axila. O
antebraço acompanha a mangueira por baixo agarrando o punho ou a agulheta e a mão do braço
exterior agarra o anel regulador da agulheta;

⋅⋅ Se houver mais que um elemento a atuar na linha, o segundo deve estar à distância de um braço,
atrás do primeiro.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 97

18.5 ATAQUE E PROTECÇÃO

No combate inicial a um incêndio urbano ou industrial, duas ações são decisivas para evitar o seu
desenvolvimento:

⋅⋅ Impedir a progressão livre do incêndio, evitando que este alastre a áreas contíguas expostas aos
seus efeitos;
⋅⋅ Combater o próprio incêndio. O conceito básico é o de que quanto mais pequeno é o foco de incêndio
mais hipóteses há de o circunscrever e extinguir. Por exemplo, uma fogueira apaga-se com um
balde de água.
Como regras gerais podem apontar-se:

⋅⋅ Atuação rápida e decisiva, sem perdas de tempo, tendo o cuidado de nunca descurar a segurança;
⋅⋅ Tentar prever sempre o comportamento do incêndio face às características do edifício, para melhor
o dominar.
Num incêndio de pequenas proporções, deve tentar quebrar-se o ritmo de progressão actuando diretamente
sobre as chamas. Quando tal não for possível, deve dar-se prioridade à protecção das exposições e, só
então, fazer-se incidir meios de combate sobre as chamas até à sua extinção completa.

Nesta fase das operações de combate a incêndios destacam-se três marcos importantes:

⋅⋅ Circunscrição – Um incêndio está circunscrito quando os meios de combate estão dispostos de tal
forma que se pode garantir que o incêndio não vai alastrar para além da área já afectada por ele;
⋅⋅ Domínio – Um incêndio está dominado quando há sinais nítidos que está a ceder perante a ação
dos meios de ataque. A intensidade das chamas diminui visivelmente e o fumo apresenta uma cor
mais esbranquiçada, devido ao vapor resultante da aplicação da água nas operações de combate;
⋅⋅ Extinção – Um incêndio está extinto quando os principais focos deixarem de estar activos, praticamente
não existindo chamas. Poderão apenas subsistir pequenos focos em actividade, sem importância,
na maioria ardendo sob a forma de brasas que serão facilmente eliminados, sem apresentar perigo
de maior.

18.6 ESTRATÉGIAS DE COMBATE

O chefe de equipa de primeira intervenção decidirá sobre qual a melhor estratégia de combate ao incêndio,
face às condições em que o mesmo se encontra e aos meios disponíveis no local.

São duas as estratégias de combate a incêndios urbanos e industriais – a ofensiva e a defensiva.

Notas:
98 Manual de Extinção de Incêndios

18.7 ESTRATÉGIA OFENSIVA

A estratégia ofensiva consiste no ataque ao incêndio colocando os meios de combate de modo a cortar
o seu desenvolvimento, circunscrevendo-o à menor área possível. Em incêndios urbanos, a aplicação
desta estratégia consiste na montagem de linhas de mangueira para ataque no interior do edifício.

Esta estratégia é mais eficaz e deve ser utilizada sempre que as condições de segurança do edifício
e a intensidade e dimensão do incêndio o permitam. Sempre que possível, a estratégia ofensiva deve
ser efetuada, ponderando os meios disponíveis, de modo a empurrar as chamas, o fumo e os gases de
combustão para o exterior do edifício, combinando as operações de extinção com as de ventilação tática.

Para além da ventilação táctica, as operações de combate ao incêndio pelo interior (estratégia ofensiva)
são também apoiadas pelas operações de abastecimento de água, montagem de acessos pelo exterior
(utilizando as escadas disponíveis nos bombeiros) e abertura de acessos, recorrendo a métodos de
entrada forçada.
Se há pessoas no interior do edifício é obrigatório o recurso à estratégia ofensiva.

18.8 ESTRATÉGIA DEFENSIVA

Quando a intensidade e a dimensão do incêndio, ponderadas em relação aos meios disponíveis, ou a


falta de segurança do edifício não permitam desenvolver as operações de ataque ao incêndio pelo seu
interior, recorre-se à estratégia defensiva, que se desenvolve pelo exterior.
Esta estratégia consiste em fazer incidir os meios de combate a partir do exterior, através de portas,
janelas ou outros vãos abertos nas fachadas ou, ainda, através de aberturas e partes destruídas da
cobertura do edifício. Não é aplicável quando ainda existam pessoas no interior do edifício, mesmo que
sejam bombeiros, pois coloca-as em sério risco.
Recorrendo-se à estratégia defensiva é, muitas vezes, necessário proteger as exposições exteriores. Tal
deve-se ao facto de só se adotar esta estratégia se o edifício estiver de tal maneira afetado pelo incêndio
que impossibilite o combate pelo seu interior. Ora, nessas circunstâncias é muito provável que os edifícios
vizinhos (proteções exteriores) fiquem em risco.
Há ainda circunstâncias particulares que podem levar o chefe de equipa de primeira intervenção a optar por

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 99

uma estratégia defensiva, protegendo apenas as exposições exteriores,


não combatendo o incêndio. São disso exemplos as situações de:

⋅⋅ Explosão iminente (caso do BLEVE);


⋅⋅ Existência de produtos tóxicos ou outras matérias perigosas no
interior do edifício, que apresentem riscos demasiado elevados para
os bombeiros;
⋅⋅ Eminência de derrocada, total ou parcial, do edifício.

No caso de instalações industriais com maior risco de incêndio (indústria


química pesada, indústrias da madeira e da cortiça, fábricas de papel,
de plásticos, de tintas, etc.), em que a carga de incêndio é muito elevada, é mais provável surgir uma
situação que imponha a estratégia defensiva.

18.9 PROTEÇÃO DAS EXPOSIÇÕES

Exposições são todos os locais, interiores ou exteriores de um edifício em


risco de poderem ser afetados pelo incêndio ou pelas suas consequências
(calor, fumo e gases de combustão, etc.).
A proteção das exposições será a prioridade imediata após os salvamentos
de vidas em perigo.
Apesar de, muitas vezes, ser possível identificar as situações que ameaçam
as exposições, a verificação do seu grau de risco só poderá ocorrer quando
se determina com mais precisão a localização e extensão do incêndio.
Na estratégia ofensiva, a proteção das exposições consegue-se através
do adequado posicionamento das agulhetas utilizadas no combate ao
incêndio. Com efeito, essas agulhetas devem ser colocadas de forma a protegerem os locais ainda não
afetados e a «empurrarem» o calor, fumo e gases de combustão para o exterior do edifício.

As equipas de combate ao incêndio no interior de um edifício não devem esquecer que, face a um foco
de incêndio, existem sempre seis áreas de exposição interior. Essas áreas estão localizadas por ordem
de perigosidade, face ao sentido de propagação das chamas, da seguinte forma:

⋅⋅ Acima;
⋅⋅ À frente, no sentido de maior progressão horizontal;
⋅⋅ À esquerda, em relação ao sentido de maior progressão horizontal;
⋅⋅ À direita, em relação ao sentido de maior progressão horizontal;
⋅⋅ Atrás, isto é, no sentido oposto ao de maior progressão horizontal;
⋅⋅ Abaixo.

Notas:
100 Manual de Extinção de Incêndios

18.10 MÉTODO DE ATAQUE DIRETO

O método direto consiste na aplicação da água diretamente sobre o foco de incêndio, arrefecendo o
combustível que se encontra a arder.
Aplica-se quando o foco de incêndio é visível e pode ser atingido, com eficácia, pela projeção da água da
agulheta. Em incêndios iniciais é o método mais eficaz.
A regulação da agulheta deve ser efetuada de modo a que a água seja aplicada sobre os materiais a
arder, consoante as circunstâncias do incêndio.

Apresentam-se duas situações típicas:

⋅⋅ Aplicação em jato quando a intensidade do incêndio for maior, pois permite a aplicação a uma maior
distância e permite uma maior penetração nos materiais envolvidos, evitando a vaporização até se
atingir o foco de incêndio. A água deve ser aplicada sobre a base do foco de incêndio, utilizando jatos
curtos até diminuir a sua intensidade;
⋅⋅ Aplicação de água na forma pulverizada, normalmente em chuveiro, sempre que a intensidade do
incêndio for menor, regulando-se a abertura do cone de água (mais compacto ou mais disperso)
em função da intensidade de calor, de modo a garantir que a água chega, no estado líquido, aos
materiais em combustão.

A aplicação em jato é, também, a mais indicada se não for possível garantir uma boa ventilação, pois não
perturba tanto a distribuição térmica, isto é, permite mais facilmente que o fumo e gases de combustão se
mantenham nos pontos mais elevados. Por oposição, o chuveiro poderá «arrastá-los» para mais perto do
solo, porque é maior a produção de vapor e o efeito de arrefecimento.

18.11 MÉTODO DE ATAQUE INDIRETO

O método indireto consiste na aplicação da água, dirigindo-a para o teto do compartimento em chamas,
de modo a garantir a sua máxima vaporização, dado que esse local é o de temperatura mais elevada.
A extinção processa-se por efeito de abafamento, resultante da elevada quantidade de vapor de água
produzida.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 101

A sua aplicação típica ocorre quando o foco de incêndio é muito intenso ou quando não é possível atingir
diretamente o combustível a arder. Exige uma melhor técnica na manobra da agulheta, pois apresenta
maiores riscos do que o método de ataque direto.

Deve ser dada atenção especial à grande quantidade de vapor de água produzida (cerca de 1700 L para
cada litro de água que se vaporize totalmente), pelo que a necessidade de uma eficaz ventilação tática é,
neste caso, mais notória.

O método de ataque indireto não deve ser aplicado quando existem, ou se suspeita que possam existir,
pessoas nas imediações do foco de incêndio pois pode tornar o ambiente insustentável para elas. Tal
deve-se ao facto do fumo e dos gases de combustão serem arrefecidos e baixarem em direção ao
pavimento, bem como à grande produção de vapor de água a temperatura elevada. A visibilidade no local
pode, também, ser agravada pela combinação de fumo e vapor de água mais próximos do pavimento.

Se não existirem condições para garantir uma boa ventilação tática, o método de ataque indireto também
não deve ser aplicado. Tal resulta de, sem uma boa ventilação tática, não ser possível expulsar o fumo
e gases de combustão produzidos pelo incêndio e o vapor de água resultante do método de extinção,
criando-se um ambiente de muito baixa visibilidade e mais hostil, pondo em causa a eficácia da extinção
e a segurança dos elementos.

Notas:
102 Manual de Extinção de Incêndios

18.12 MÉTODO DE ATAQUE COMBINADO

O método combinado consiste na associação da técnica de produção de vapor, característica do


método de ataque indireto, associada à aplicação de água diretamente sobre os materiais a arder junto
ao pavimento.

O método de ataque combinado é recomendável na fase de combustão livre (ou de propagação) de um


incêndio, na qual a produção de chamas e a temperatura ao nível do teto são elevadas.
Ao utilizar-se apenas uma agulheta deve aplicar-se, em primeiro lugar, jato ou chuveiro com pouca
dispersão sobre o fumo e gases quentes próximo do teto e, depois, incidir sobre os materiais a arder junto
ao solo.
Se a área estiver bem envolvida pelo incêndio e dispuser de boa ventilação, deve aplicar-se jato sobre o
teto «varrendo-o» de lado a lado. Tal manobra permitirá quebrar o jato, arrefecendo as camadas superiores
e fazendo cair água sobre os materiais a arder no pavimento.
A agulheta pode, também, efetuar três movimentos típicos, consoante as características dos locais e as
condições do incêndio:

⋅⋅ Em «T» – varrimento das camadas superiores, segundo uma linha, baixando na vertical da área
onde o foco de incêndio for mais intenso;
⋅⋅ Em «Z» – varrimento das camadas superiores, segundo uma linha, baixando na diagonal do
compartimento até ao pavimento, onde se efectua o varrimento segundo outra linha;
⋅⋅ Em «O» – o jato começa por incidir no tecto e efectua, de seguida, um varrimento circular passando
por uma das paredes, pavimento e a outra parede.

O método combinado requer, também, os cuidados já referidos para o método indirecto, nomeadamente
no que diz respeito à ventilação táctica.

Notas:
Manual de Extinção de Incêndios 105

19. BIBLIOGRAFIA

⋅⋅ Manual de Fenomenologia da Combustão da Escola Nacional de Bombeiros


⋅⋅ Manual de Brigadas de Incêndio da Escola Nacional de Bombeiros
⋅⋅ Manual de Combate a Incêndios Urbanos e Florestais da Escola Nacional de Bombeiros
⋅⋅ Manual de Segurança e Proteção Individual da Escola Nacional de Bombeiros
⋅⋅ Manual de Busca e Salvamento da Escola Nacional de Bombeiros

19.1 BIBLIOGRAFIA DE APOIO

⋅⋅ ATKINS, P. W. e BERAN, J. A., (1992) – General Chemistry. New York, Scientific American.
⋅⋅ Essentials of Fire Fighting, (1983), 2.ª ed., Oklahoma: Fire Protection Publications.
⋅⋅ EUROVISUAL, COMUNICAÇÕES LDA (1997) – Manual de Instrução – Extintores.
⋅⋅ FREITAS, O. S.; SÁ, J. M., (1991) – Manual Técnico-Profissional para Bombeiros, Brasília. FRIEDMAN,
R., (1996) – Principles of Fire Protection Chemistry. 2ª ed., NFPA.
⋅⋅ MIGUEL, Alberto Sérgio S. R., (1995) – Manual de Higiene e Segurança no Trabalho. Porto Editora,
3.ª Edição.
⋅⋅ Praticas y Teoria para Bomberos, (1991) – Oklahoma: Publicaciones de Proteccion Contra Incendios.
⋅⋅ PURT, G. A., (1980) – Introdução à Técnica do Fogo. Lisboa: Liga dos Bombeiros Portugueses.
⋅⋅ SCOTT, Ronald, (1997) – Basic Concepts of Industrial Hygiene. Boca Raton: Lewis Publishers.

19.2 BIBLIOGRAFIA REFERENCIADA

⋅⋅ NP EN 2, (1993) – Segurança contra incêndios – Definição e designação das classes de fogos.


Lisboa: Instituto Português de Qualidade.
⋅⋅ NP EN 3 Parte 1, (1997) – Segurança contra incêndios – Extintores de incêndio portáteis. Designação,
duração de funcionamento. Ensaios de eficácia (fogos – tipo). Lisboa: Instituto Português de
Qualidade.
⋅⋅ NP EN 3 Parte 2, (1997) – Segurança contra incêndios – Extintores de incêndio portáteis. Ensaios de
estanquidade, dieléctrico e de compactação. Lisboa: Instituto Português de Qualidade.
⋅⋅ NP EN 3 Parte 5, (1997) – Segurança contra incêndios – Extintores de incêndio portáteis. Especificações
e ensaios complementares. Lisboa: Instituto Português de Qualidade.
⋅⋅ NP 1800, (1981) – Segurança contra incêndios – Agentes extintores. Selecção segundo as classes
de fogos. Lisboa: Instituto Português de Qualidade.
⋅⋅ NP 1936, (1983) – Segurança contra incêndios – Classificação dos líquidos quanto ao ponto de
inflamação. Lisboa: Instituto Português de Qualidade.

Notas:
106 Manual de Extinção de Incêndios

⋅⋅ NP EN 25923, (1996) – Segurança contra incêndios – Agentes extintores. Dióxido de carbono. Lisboa:
Instituto Português de Qualidade.
⋅⋅ NP 3064, (1988) – Segurança contra incêndios – Utilização dos extintores de incêndio portáteis.
Lisboa: Instituto Português de Qualidade.
⋅⋅ NP 3874-1, (1995) – Segurança contra incêndios – terminologia. Parte 1: termos gerais e fenómenos
do fogo. Lisboa: Instituto Português de Qualidade.
⋅⋅ NP 4413, (2002) – Segurança contra incêndios – manutenção de extintores. Lisboa: Instituto
Português de Qualidade.
⋅⋅ Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho n.º 2037/2000/CE de 29/06/2000
⋅⋅ CASTRO, Carlos Ferreira de e ABRANTES, José M. Barreira (2005) – «Combate a Incêndios Urbanos
e Industriais», Manual de Formação Inicial do Bombeiro, Vol. X, Escola Nacional de Bombeiros,
Sintra, 2.ª ed., 86 p.

Notas:
Avenida Aquilino Ribeiro nº8 A, 2745-721 Massamá
211 975 723 | 912 190 431
www.femedica.pt

Siga-nos em:

Você também pode gostar