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Servico Social ¢ o campo da salide: para além de plantdes e encaminhamentos Social Services and health policy: beyond shifts and forwarding Francis Sodré* Resumo: Trata-se de um artigo que visa analisar a politica de sati- dec 0 trabalho do assistente social a partir de dois momentos distintos das formas de gestao do trabalho: 0 modelo fordista ¢ o modelo de acumulagio flexivel. Esses dois eixos de anélise seréo discutidos aplicados a0 campo da sade € & insergao do trabalho do assistente social na satide. Os dois eixos foram escolhidos para apontar um exa- me sobre tendéncias dos determinantes sociais & saiide piblica ¢ a0 processo de trabalho do assistente social neste campo. Palavras-chave: Servigo Social, Processo de Trabalho. Saide Péblica. Satide Coletiva, Abstract: This article aims at analyzing health policy and social work from two distinct forms of working management: Ford’s model and the model of flexible accumulation. These two axes of analy- sis are discussed as applied to the field of health and to the integration of social work in health. The ‘two axes were chosen fo examine the trends of social determinants to health and the social worker's ‘working process in this field, Keywords: Social Services. Working process. Public health. Collective health, * Assistente social ¢ doutora em Sade Coletiva, professora do Departamento de Servigo Social da Universidade Federal do Espirito Santo — Vitéria/ES — Brasil. E-mail: francisodre@ uol.com.br. Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 453 necessidade de escrever sobre o trabalho do assistente social no campo da satide traz desafios recorrentes desde a insergaio do pro- fissional de Servigo Social nesta area de atuag4o. Temos hé muito tempo actimulo nas discussées produzidas para a satide publica através das ferramentas que o Servigo Social, juntamente com outros profissio- nais, desenvolveu e aprimorou ao longo da reforma sanitéria ¢ da implantagao do Sistema Unico de Satide (SUS), tornando-as coletivas. Do conhecimento acumulado nas lutas sociais, 0 assistente social contribuiu para a politizagao do campo da satide. Inseriu o debate sobre os determinantes sociais de forma definitiva ¢ ainda hoje se insere nas frentes de trabalho para demarcar um posicionamento macropolftico que luta por um SUS menos bio- médico nas suas mais diversas redes de servigos e especialidades. Nas duas décadas de vida deste Sistema Unico de Satide comemoramos também trinta anos do Congreso da Virada, algo que nao foi simples coinci- déncia histérica. O nascimento do SUS é verdadeiramente um produto das Jutas sociais, nas quais os assistentes sociais tiveram importante contribuigao € trouxeram para si a afirmagio de um referencial teérico até ent&o hegem6- nico pautado nas refiexées de uma teoria social critica e comprometida com um projeto de sociedade que determinou toda a histéria subsequente desta profissao. Na Area da satide, verifica-se as interfaces da hist6ria e das politicas pu- blicas que vivenciamos através das conexées estabelecidas com as politic: sobre a vida. O que é uma politica de saiide se néo uma politica sobre a vida? Ou em chave marxista: as politicas de reprodugao social. Neste campo das re- Ss lagGes sociais, duas observagGes serdo aqui pontuadas em diferentes momentos hist6ricos dos processos de gestio do trabalho em sade: o fordismo e a acu- mulagao flexfvel em suas determinagdes na satide — uma demarcagao que fi- zemos para elucidar momentos diferenciados da politica de satide e que influen- ciam nas prticas dos profissionais, entre eles © assistente social inserido na satide coletiva. Essa demarcagao histérica norteard toda nossa andlise no decor- rer do debate que ora propomos. Esse exame sobre tendéncias esta pautado na produgdo de Harvey (1989), que contrapée dois momentos distintos nas formas de gestio do trabalho denominades por ele como fordismo e acumulagio flexi- vel. Desse arcabougo produzido pelo autor, aplicaremos tal andlise ao campo da satide, refletindo sobre a insercio dos assistentes sociais 454 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 A Modernidade e o Fordismo na Sade Publica ‘A afirmagio da industrializagdo por meio da formacéo de um amplo par- que industrial abrigado em um discurso nacionalista trouxe a modernidade ao pats. A industrializacdo endégena e financiada por um capital exégeno fez com que o Brasil vivenciasse um amplo processo de crescimento dos seus centros urbanos. Essa mesma industrializagao trouxe consigo as mazelas de um traba- Iho de fabrica, conflitos urbanos ¢ a criagdo de politicas de controle da forga de trabalho. Para o Servigo Social isso representou a necessidade de criagdo de praticas “modernas”, a exigéncia de uma racionalidade burocratica-administrativa e a insergéio do seu trabalho em estruturas institucionais complexas do ponto de vista organizacional.' O embate de tendéncias estruturalistas retomadas no Servigo Social e confrontadas com referenciais da psicologia e da sociologia caracterizam a chegada da modernidade a profissio. No campo da satide ptiblica, foi o momento das grandes instituigées cen- tralizadas e verticalizadas em uma estrutura tinica de poder. A construgaio de um Estado forte e presente por meio do fomento as politicas sociais fez deter- minar a criagio do campo da satide publica. A propria terminologia “satide plbblica” refere-se 4 formagio de uma politica estatal, portanto “publica” no seu sentido de ser atrelada ao Estado. As instituigées de porte estavam também correlacionadas chegada dos grandes projetos industriais, principalmente aqueles que trouxeram a promessa do desenvolvimento? econdmico, invertendo o perfil populacional do Brasil rural para o Brasil urbano. Modelos americanizados de politicas publicas fun- cionalistas entravam em discussao, colocando o cerne do debate profissional do assistente social na cléssica divisio caso/grupo/comunidade. Ou seja, 0 indivi- duo, o grupo e a vida em sociedade eram tratados de forma estanque, como se fossem diferenciados ou como se nao estivessem correlacionados. 1. Este raciocinio foi desenvolvido de forma muito qualificada no livro Ditadura e Servigo Social, de José Paulo Netto, com 0 requinte do detalhamento hist6rico que isso representou para o amadurecimento profissional do Servigo Social, 2. B interessante notar como a palavra “desenvolvimento” traz a nogao de retirada do envolvimento (des-envolvimento},o que faz sentido & nossa histéria, que se pautou por uma modernizagao ditada por padrées internacionais. Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 455 Esse misto entre funcionalismo e estruturalismo no campo do Servigo Social pautou priticas sociais importantes e momentos hist6ricos para a profis- sao. Destaca-se entre cles a insergao maciga dos assistentes sociais nos grandes hospitais, o trabalho muitas vezes higienista de retirada das populagdes de rua com 0 discurso do sanitarismo organizado por meio de normas de higiene ¢ cuidado com 0 corpo. No Brasil, 0 Servigo Social demarcou sua entrada no campo da satide publica pelo viés dos trabalhos com comunidade, por meio de praticas educa- tivas sobre procedimentos de higiene aplicados a vida privada, incentivando o controle de natalidade, o controle de doencas infantis, de higiene bucal, de sa- neamento para a criagao das primeiras politicas urbanas de satide, muitas vezes realizado por meio de um trabalho educative baseado em proporcionar acesso a informagao sobre o proprio corpo e a higiene do mesmo. Esse era um trabalho que se mostrava necessario a um pais sem escolaridade, com grande parte da populagaio em condigao de miséria e revelando desconhecimento sobre o proprio corpo. Também nesse perfodo, por meio das politicas urbanas, as abordagens individuais sobre a satide foram desenvolvidas de forma ampla. O Servigo So- cial de caso para a satide publica era a representagio da necessidade de inter- vengao do assistente social nas politicas de reprodugao social. Trazia ainda 0 reconhecimento de que a satide possuia seus determinantes sociais, mas também a afirmagdo que muitos desses determinantes eram tratados isoladamente. Isso caracterizou uma agéio maciga de atendimentos de “casos sociais” — quase um contrassenso, Assim, 0 atendimento de caso nas grandes instituigdes se ampliou, apoia- do em um excesso de demandas com o qual o assistente social teve de se depa- rar. A pratica da sistematizagao se perdeu em muitas instituigdes devido ao grande contingente de pessoas atendidas. Desse mesmo perfodo, nasce nos hospitais puiblicos, como ferramenta do Servigo Social, o “livro preto”. Um livro de ata, com capa preta, em que 0 as- sistente social relata o atendimento que chega até ele como registro de sua de- manda. Atualmente, o “livro preto” est para o Servigo Social no campo da satide como 0 Ford modelo T est para o fordismo — algo superado. Trat: de um registro superficial, sem dados que venham a servir de fonte para uma sistematizagio qualificada. Registros pontuais realizados de acordo com a von- se 456 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 tade, o tempo e a decisao do assistente social no momento da chegada do usua- rio. Uma forma padronizada de dizer “resolva no préximo plantéo”. Assim, as demandas que chegam ao Servigo Social so tratadas como uma situagao iso- lada fazendo com que o proprio assistente social desqualifique seu trabalho, nao colocando a dimensio macrossocial que est4 contida em cada atendimento que realiza, ou melhor, no destacando a complexidade das manifestagdes da ques- Go social naquela demanda trazida ao campo da satide piblica O grande hospital traz consigo a gestao do trabalho em um formato seme- Ihante ao concebido dentro da grande fabrica. Atendimentos em mas em massa, internagdes contabilizadas pelo seu gasto financeiro, leitos em série ¢ atendimentos sequenciais sem tempo de parada, Desta forma, aos poucos molda-se uma rotina também para aquele trabalho que nao deveria ser consi- derado rotineiro. O Servico Social criou e reproduziu normas institucionais de forma mecanizada para todos aqueles que o procuravam, Mas como nao ter um texto pronto se a proposta institucional é seriada, dividida por especialidades? Em cada elinica, enfermaria ou ambulatério “apertam-se parafusos” em partes diferentes do corpo humano. cirurgias A especialidade técnica na satide ptiblica criou equipes que nao interagem. Sio profissionais compartimentalizados, como se a vida fosse a jungiio de co- nhecimentos sobre pedagos do corpo humano. O “fordismo modernizador” proporcionou ao campo da satide uma formagao maciga de profissionais que tratam a vida como partes contidas em um todo. A estrutura administrativa centralizada do grande hospital, proporcionou a criagdo de um modelo de satide-fébrica. Uma produgao sem originalidade, centrada em um discurso de defesa do Estado protetor que nunca conhecemos através do fordismo na satide publica. A ctiagao da satide-fabrica deu origem também a formagao dos primeiros cartéis de terceirizagdo nos servigos de satide. A criagdo dos planos de satide ‘ou mesmo a chegada decisiva de servigos especializados de grande custo que funcionam dentro dos hospitais paiblicos de todo o Brasil marearam esse mo- delo. Em hospitais universitarios, filantrépicos ou mesmo hospitais de médio porte, tornou-se comum o surgimento de servigos de hemodidlise, quimiotera- pia ou radioterapia, fomecidos por equipes que detém o controle sobre as mn4- quinas. Exatamente © mesmo formato capitalista do infcio da sociedade bur- guesa: um grupo de médicos detém as maquinas de radioterapia e por eles serem Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 457 ‘os donos das maquinas, fornecem (dentro de um servigo piiblico) seus trabalhos altamente especializados, cobrando o quanto querem pelo servigo e sendo pagos pelo Estado. Este modelo de Estado-empresa’ reflete no $6 0 campo da sade, mas 0 tinico formato de Estado de bem-estar social que o pais conheceu, refor- cando teses dos estudos marxistas em que o Estado sempre foi a representago de uma classe. Para o Servico Social, isso nao foi muito diferente. A hegemonia do dis- curso biomédico dentro da instituicdo hospitalar reforgou uma atitude aguerri- da dos assistentes sociais para afirmarem seu espago na satide piiblica. O mo- delo estatal era pautado pela atuagao no grande hospital-fabrica ou nos centros de satide que funcionavam por meio de um modelo militar campanhista, A as- sociagao entre ambos formava uma légica dual de atuagdo exclusiva para 0 campo da satide. A insergdo dos assistentes sociais nesses dois mbitos propor- cionava questionamentos de politizagao da satide que nao sé se resumiam a esse modelo dual, mas a outras formas de insergao e outras formages de um dis- curso ndo hegeménico a satide publica. Este questionamento jé demarcava os idos dos anos 1980 com a insergao decisiva da teoria social critica no debate profissional. Também a eritica ao Estado classista que convivia, contraditoria- mente, com referenciais fenomenolégicos ¢ outras correntes de pensamento que 8 época formavam os debates da sociologia ¢ da filosofia. Nao se pode afirmar que todo esse contexto histérico tenha gerado uma atuagao especifica dos assistentes sociais no campo da satide, mas surgem nes- se momento hist6rico, em reposta A saiide-fabrica, 0 modelo de resisténcia também pautado na ideologia de uma produgdo em massa e em série: associaces de assistentes sociais da oncologia, da infancia, da clinica... como se a profissao estivesse de fato inserida na serializagao da satide piiblica que o Estado fordis- ta criou. Em outro ponto de vista, o livro de Maria Inés de Souza Bravo, que narra a trajet6ria do Servico Social na reforma sanitéria,! mostra também outras for- mas de resisténcia, lutas coletivas, em que os assistentes sociais foram aliados dos movimentos de moradia, de luta pela satide e pela politicas urbanas de sa- neamento bésico — um reflexo que apontava para transicdes ou deslocamentos do modelo vigente trazendo os ideais do sanitarismo. 3. A terminologia Estado-empresa foi retirada do livro Trabalho e cidadania de Giuseppe Cocco. 4, Estamos nos referindo ao livro Servigo Social ¢ Reforma Sanitéria, publicado pela Cortez Editora 458 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 Por isso & satide-fabrica atribui-se a légica intervencionista estatal como se as politicas de satide criadas pelo Estado nao fossem passiveis de ser ques- tionadas, pois trazem consigo uma falsa nogdo que exercem unicamente o “bem comum”. As politicas fordistas ao campo da satide proporcionaram uma con- traditoriedade: por um lado, um avango no campo das conquistas pelas lutas sociais em criar, executar e garantir as politicas sociais de satide; por outro, no campo do Servigo Social, criou “legitimidade” de um discurso “estatalista” que reforcava as politicas fordistas intervencionistas como algo legitimo, provedor de bem-estar para a sociedade. O discurso do Estado provedor esteve presente em muitos meios académicos, como se o Estado ndo fosse porta-voz. dos inte- resses de classe. Com certa opacidade, isso legitimou a entrada violenta do capital privado nos servigos publicos e a légica privatista e privatizante de mui- tas dessas politicas. Por essas ages do jogo macropolitico, o Estado fordista pode ser consi- derado 0 Estado-empresa, pois colocou dentro das instituigdes puiblicas o modo de produgdo gerido “em parceria” entre piiblico ¢ o privado, como se isso fosse o caminho “natural” das coisas. Esse cenério, introduzido de forma am- pliada pelo discurso modernizador industrial no campo da sade, abriu os precedentes necessérios para a chegada do neoliberalismo na década seguinte. A satide ptiblica sofreu refracdes desse discurso. A construgao das grandes instituigdes de sade verticalizadas e associadas & Previdéncia Social no con- trole da forga de trabalho foi aliada ao fordismo estatal. A politica “moderniza- dora” de industrializacao 86 foi possivel no cendtio brasileiro quando associada a Previdéncia (que funcionava como uma seguradora privada) e & Satide (que cuidava de vidas como se cuidasse somente de corpos aptos ao trabalho). No campo das praticas, foi sob a égide desse modelo que foi criado o prontudrio do usuario separado por atuagdo profissional. O assistente social tinha o scu prontuario, ¢ os demais profissionais tinham outros. Por onde o usudrio da satide passava deixava um registro em uma “gaveta” diferente. O argumento para isso foi a ética do sigilo profissional.* Algo que nao diz nada 5. “Os assistentes sociais dispéem de um manancial de demincias sobre a violagao de direitos humanos ce sociais e, desde que nao firam as prescrighes éticas do sigilo profissional podem ser difundidas e repassadas 0s rgios de representag2o € meios de comunicagio atribuindo-thes visibilidade pdblica na defesa dos di- reitos [,.,] Por meio da socializagao de informagGes procura-se tomar transparente, aos sujeitos que busca os servigos, as reais implicagdes de suas demandas — para além das aparéncias e dos dados imediatos — assim como os meios ¢ condigées de ter acesso aos direitos. Nesse sentido, essa abordagem extrapola uma Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 459 ao usuario que segue de porta em porta de uma mesma instituigdo e nao recebe um retorno dos profissionais que nao dialogam entre si. Sabemos que as infor- magées sigilosas podem ser sistematizadas em um documento A parte que fique sob a guarda do assistente social, por isso nio explicam a compartimentalizagao das informagées. Nao temos claro até que ponto tal atitude seja, em vez da “ética do sigilo”, a “ética do corporativismo”. O prontuario nao pode servir de instrumento de didlogo se cada um s6 quer dialogar apenas com seus pares. Neste jogo, somente o usuario perde, pois nao encontra equipes provocativas que coloquem no centro das discussdes um debate sobre a demanda atendida. Desta forma, reproduz-se servigos hierarquizados, padronizados, centralizados, compartimentalizados e corporativistas, como o fordismo nos ensinou. Os assistentes sociais precisam atentar para nao repetir o modelo de pro- dugdo em massa, que no caso da saride-fabrica pode ser compreendido por plantées e encaminhamentos. Aquele arquétipo resumido em uma sala, um livro preto, um assistente social e uma agenda antiga com contatos telefonicos desa- tualizados. O que poderia ser equiparado ao médico que s6 entrega receitas Este modelo nao condiz com o discurso que foi criado pelo Servigo Social, que apregoa a emancipagao humana como principio. O que a instancia hospitalar proporcionou & formacdo profissional foi uma légica inserida na dimensao hist6rica maior da instituigdo — uma maquina de fabricar produtos sem sentidos para © seu produtor e para o seu demandante. Produtos que se esgotam em si mesmos ¢ perdem a dimensio processual do trabalho do assistente social. O modelo satide-fabrica cria as bases para a atuagdo pautada em um dis- curso moralizador, que trata a pobreza como algo irreversivel ou as instituigdes como um ambito da politica piblica em que nao ha caminhos para mudangas. De forma ampliada, introjeta no campo da satide publica a naturalizagéo da svaziadas pobreza, despolitiza a miséria, realizando servigos pobres e pratica: aos mais pobres. Gera um vazio de sentidos as instituigdes, aos profissionais e aos usudrios, em um conformismo que reforga a banalizagio da pobreza em todos os Ambitos da vida. abordagem com um foco exclusivamente individual, ainda que, por vezes, realizada a um tinico individuo — a medida que considera a realidade dos sujeitos como parte de uma coletividade. Impulsiona, assim, também a integragao de recursos sociais que forneca retaguarda aos encaminhamentos sociais ¢ aarticulaga0 do trabalho com as forgas organizadas da sociedade civil, abrindo canais para a articulagao do individuo com ‘grupos c/ou entidades representativas, capazes de negociar interesses comuns na esfera piiblica” (Iamamoto, 428, 2007). 460 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 A Satide, 0 Servigo Social e o Modelo de Acumulacao Flexivel Os anos 1990 inseriram de forma ampliada a transi¢ao do fordismo-taylo- rismo para as modos flexiveis de acumulagao (0 toytismo foi o maior exemplo). Proporcionou o envio das fabricas para regides sem tradigao industrial, com maiores perspectivas de exploragao da classe trabalhadora — o que veio a incre mentar novas formas de extraao de superlucros. Todo esse contexto favorece a “naturalizagio” da mercantilizagao da vida no capitalismo avangado, transfor- mando os cidadio sujeito de direito em um “cidadao consumidor’’’ o desempre- gado em um “empreededor” ou em mero cliente das politicas de assisténcia social focalizadas. Este mesmo cenétio, aprofundado em perfodos neoliberais, demarcou o crescimento de inciativas da sociedade civil, por meio da expansio das ONGs, do voluntariado, da filantropia e do denominado “terceiro setor”. Nesse quadro de profundas perdas para os trabalhadores, foi se desfazen- do o seu potencial politico-organizativo. Entre outros fatores, as novas praticas flexiveis de gestao da forga de trabalho, 0 trabalho por domieflio, o trabalho nas infovias de comunicagio, as terceirizagdes, 0 trabalho parcial, tempordrio e fragmentado estabeleceram mecanismos e novos meios de controle e dominagao sobre a classe trabalhadora com o argumento falso e perverso da “empregabi- lidade”. E interessante notar como essas mudangas nos modelos de gestao da for- a de trabalho desencadeiam influéncias importantes sobre o campo da satide. Na evolugao do discurso dos campos de conhecimento, percebe-se um deslo- camento entre as terminologias saiide publica e satide coletiva. Pode-se, de forma breve, introduzir que o campo da satide coletiva traz questionamentos &s politicas ptiblicas de satide em seu formato gerido unicamente pelo Estado “parceiro” das empresas de satide. Cabe aqui destacar exemplos como a indtis- tria de equipamentos hospitalares, os cartéis dos planos de satide, a indtistria de medicamentos e as organizagGes nado governamentais,’ tio presentes na atual politica de satide. 6. Ana Elisabete Mota desenvolveu tais conceitos em dois momentos diferenciados de suas obras, destacamos aqui o livro Cultura da crise e Seguridade Social e, atualmente, O mito da assisténcia social, ambos publicados pela Cortez Editora, 7. Atualmente tomou-se impossivel pensar a politica de satide sem a participagio das ONGs, Exemplo disso so as casas de recuperagéo de dependentes quimicos (muitas delas com vertentes religiosas), as co- Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 461 ‘A nomenclatura “satide coletiva” nao representa apenas uma mudanga entre termos, mas a incorporagao de questionamentos trazidos principalmente pelas lutas sociais. A satide coletiva desperta para 0 fato de que o motor do desenvolvimento das politicas ptiblicas sdo os movimentos de resisténcia, e nao a modernizagao proposta por mais industrializagio. Para a satide, um campo empitico por exceléncia, o actimulo jé produzido pela reforma sanitéria forne- ceu elementos suficientes para este entendimento. Despertou-nos para 0 fato de que nao sera mais industrializagao que trara desenvolvimento, mas sim a aber- tura definitiva de um didlogo do Estado com as lutas sociais — admitindo a demanda dos movimentos como agenda das politicas ptiblicas. Tomando esse raciocinio como central a esse segundo momento de anéli- se, podemos inferir que do ponto de vista dos movimentos de resisténcia, a década de 1990 foi a expresso maxima de que esse jogo estava temporaria- mente perdido. A chegada avassaladora do neoliberalismo as politicas de satide deixou muito claro, por um lado, os atores sociais que disputavam projetos privatistas de satide e, por outro lado, a continuidade dos ideais da reforma sanitéria.* Esse embate que marcou a década passada deixou-nos herangas muito representativas, a maior delas o silenciamento dos movimentos. As lutas sociais do trabalho na década de 1990 expressaram a fragmenta- do da classe trabalhadora em diversas formas de vinculos e contratos empre- gaticios que manifestaram a precarizagdo das relagdes de trabalho no perfodo de crise do fordismo. Por muitos, esse periodo foi denominado como sendo de acumulacao flexivel, guiando varias formas de gerir nfo somente 0 campo das politicas do trabalho, mas também, nesse caso, as formas de gestio das politicas de satide. Diante desse quadro, o assistente social demarcou de forma vertical sua atuagdo na reprodugdo das relagées sociais. Na satide coletiva, foi o reflexo dos questionamentos que tentavam distanciar 0 fordismo das politicas de satide, um questionamento definitive ao modelo saiide-fabrica. Criou-se como principal estratégia para operacionalizar seu posicionamento no campo um modelo de- nominado estratégia de saide da familia (ESF). Diferentemente da légica de -munidades terapéuticas, as casas de acolhida de pessoas portadoras do virus HIV/Aids, voluntérios de orga- nizagées que recebem vitimas de violéncia, entre muitas outras. 8, Maria Inés Bravo formula uma importante discussio sobre o tema no livro Politica social e democra- cia, publicado pela Cortez Editora ¢ pela UERT em 2001 462 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 produgao fordista, a producdo passava a ser por demanda, e nao em série. O trabalho dos profissionais da satide retomava uma antiga discussio no campo das ciéncias: o retomo do generalista e a critica ao especialista. A ESF retomou o debate que propunha menos operarios que apertassem somente parafusos, mas inseria uma leitura de que as politicas de satide sao de fato politicas sobre a vida, por isso nao sao objeto de forma exclusiva a um nico saber profissional ou pega a ser trocada por um especialista. O discurso cientifico pedia multiprofissional de forma definitiva. Com isso, passa a existir um chamamen- to ao discurso da participagao e da multiplicidade. ampliagao do campo, alargava as bases de andlise ea tormava Outro momento importante foi a criag&io das equipes de agentes comuni- trios. Os agentes precisavam ser locais, “nativos” em seus territ6rios de traba- Iho. Os agentes de satide saem todos os dias das unidades de satide com o objetivo de capturar os “nichos”, exatamente como no modelo de acumulagao flexivel. Em cada casa que se entra busca-se 0 habito, o comum, o cotidiano, 0 corriqueiro, a rotina para se compreender a “satide como estilo”, como forma de vida. Criou-se novos indicadores para compreender as politicas de satide. Isso nao foi uma peculiaridade brasileira, mas internacional. O fato é que “qualida- de de vida” (um critério extremamente subjetivo) tornou-se mensurdvel. “Qua- lidade” ¢ “estilo” compdem atualmente um mesmo critério de andlise, um cri- tério que passou a ser medido e capturado como estilo de vida sauddvel. Isso proporciona aos assistentes sociais, profissionais da satide, dois pon- tos de reflexao: 1) Frente aos determinantes sociais que conhecemos sobre a satide, o que seria um estilo de vida sauddvel? Iremos pontuar a miséria e a pobreza como critério de avaliagéo ou encontraremos estilos sauddveis mesmo dentro das condigées de pobreza da populagao?; 2) O que essa inversdo propos- ta pelo campo da satide coletiva nos coloca como demanda? Que modos de reproducdo da vida estao sendo pautados? No inicio dos anos 2000 assistiu-se & contratagéio em grande escala de agentes comunitérios. Durante um longo perfodo tomou-se conhecimento de que o trabalho do agente comunitario era basicamente centrado no ato de entrar de casa em casa, obter delas informagées importantes para direcionar o trabalho das equipes de satide da familia nas unidades. Este trabalho, se feito de forma mais politizada, traria uma processualidade interessante 4 satide — uma provavel Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 463 perspectiva de continuidade com didlogos mais proficuos com a populagao. Os assistentes sociais pereeberam com isso a perda de um espaco no mercado, A técnica de vista domiciliar é parte da histéria da profissao do assistente social. Entramos no Ambito privado da vida das pessoas, no espago residencial, doméstico. Certamente, para usar a linguagem biomédica, um procedimento invasivo. A visita domiciliar proporciona essa leitura sobre privado, uma busca por informag6es que personalizam a agdo do profissional com seu usud- rio; portanto, uma ferramenta perfeita ao modelo flexivel de sade. Para a satide coletiva, o territ6rio tornou-se 0 foco da agao; milimetrica- mente esquadrinhado, os habitos e as manifestagdes da cultura local so colo- cados como determinantes sociais da satide. Aliés, nunca os determinantes sociais foram (do evidentes A satide, operando de forma clara, marcando a es- fera da reprodugao sociz com influéncias das politicas mundializantes, a cultura se manifesta nesse di- verso, ¢ os habitos tornam-se a fonte primaria para trabalhar a satide como produto final da ago profissional. |. As dindmicas dos territérios sao dindmicas locais que aqui queremos afirmar € que esse trabalho requer uma ago politica por exceléncia, Dinamizar redes, ativar e conhecer as dindmicas produtivas dos territérios, conhecer habitos ¢ a cotidiancidade da coletividade posta em andli- se nas lentes das unidades de satide focadas no territério. Um trabalho caracte- ristico da agdo de um profissional de Servigo Social.” Nos hospitais, a satide coletiva também proporcionou um olhar flexivel sobre a relagdo satide-doenga. Aqui queremos chamar a atengdo para um di curso que circula com fluidez entre os profissionais da satide e entre os assis- tentes sociais que atuam no campo da gestdo: 0 discurso da humanizagao. Pontuamos a humanizacao como discurso porque ela é parte de uma série de 9. A categoria profissional ainda nao conseguiu garantir que o numero de assistentes sociais seja am- pliado nas unidades de satide para fazer a proposta de qualificar a intervengio dos trabalhos com as familias cas redes sociais dos territérios do SUS. Ainda vigora, na maior parte das unidades de sade do Brasil, que somente um assistente social dé conta de todo o trabalho com a populago local, mensurado nos mapas dos ‘gestores que tentam ser cartesianos na satide publica, salvo raras excegSes. Nao é preciso rever as formas de intervengdo do nosso trabalho social com os moradores das mais diversas regides, mas sim rever os eritérios do SUS, que se baseiam em quantitativos de habitantes que s6 se tonariam possiveis de ser trabalhados de forma fordista, em massa, Nao é esta a intengao de um trabalho qualificado nos territérios para alcangar a politica de saiide que almejamos, 0 SUS que queremos esté longe das condigSes de trabalho postas 20s profissionais de satide 464 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 agdes que dizem tornar humano aquilo que nao possui formas ou atitudes hu- manas. Retirar a centralidade do trabalho morto, aquilo que esta incorporado as maquinas, e recolocar a centralidade do trabalho vivo na satide — objetivar-se na ago humana. Tem-se por pré-sabido que o discurso da humanizagio propée as mesmas ages planejadas pelas formas formas flexiveis de acumulagao: atengao, aco- Ihimento, cuidado, criar vinculos — afetividade posta em um processo de tra- balho que se dé em ato. Esse processo de trabalho humanizador, ao mesmo tempo que proporciona relagdes mais abertas com usudrio, também abre precedentes para trabalhos mais alienantes do ponto de vista da sua execucio. Certa vez ouvi de um profissional da satide: “B facil ser ‘humanizador’ com alguém que est vulnerdvel”. E tomamos entao isto como ponto principal de nossa andlise, nos direcionando aos assistentes sociais gestores das politicas puiblicas. Hé uma ambiguidade no discurso da humanizagao. Se por um lado pro- move menos maquinas, menos produgdo em série, menos fordismo na satide, por outro traz uma pratica extremamente alienante, tanto do ponto de vista do profissional da satide, quanto para seu usuario. No campo hospitalar, hoje, os usuarios caracterizam-se por pessoas doentes. Nao existem pessoas saudaveis em busca de atendimento hospitalar. Neste sentido, qualquer um desses deman- dantes esto ali A espera de qualquer profissional que Ihe dé o minimo de aten- do, de escuta ou mesmo uma fnfima informagao. Assim compreende-se melhor a frase acima citada, ouvida de um profissional de satide, Em situagao extrema- mente vulnerdvel, qualquer discurso profissional que contenha minimas infor- mages pode ser entendido como “humano” ao usuario. Por outro lado, do ponto de vista do trabalhador, 0 modelo fiexivel da satide propde um profissional de satide participativo, que introjete certa docili- dade, seja compreensivo na aco, sensivel em seus procedimentos ou palavras. O gestor humanizante é aquele que transmite informagées, tenta nao tratar de forma piramidal seus modos de gerir ¢ que ainda atenda o usudrio para se tornar pr6ximo a ele. Um modelo de trabalhador pressuposto pela acumulagao flexivel”? 10. Nao se pode perder de vista que 0 modelo de acumulagao flexivel ditou uma “flexibilidade” nas re- lagdes de trabalho, mas também nos processos, nas formas de produgio, nas relagdes de consumo, ¢ uma desregulamentagio dos direitos do trabalho. Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 465 como participativo; aquele que além do trabalho feito com as mios, tao caro ao Ambito hospitalar, é também requerido em seu espitito — sempre compreensi- voc atento ao outro, independentemente de suas condigdes de trabalho. Ou seja, uma evidéncia que os niveis de exploragao sobre o trabalhador da satide atual chegaram ao extremo em suas formas de exploragao. O assistente social tem sido cada vez mais convocado a atuar na gestéo dessa forga de trabalho no campo da satide, algo que nos desafia a pensar sobre essas relagées de forma mais aprofundada. Ao profissional que se resume a dar plant6es e encaminhamentos, as politicas de satide lhe reservam lugares exte- nuantes de trabalho, equipes despreparadas, ambientes insalubres, condigdes inferiores de administrar seu processo de trabalho no atendimento aos usuarios. O modelo flexivel da satide requer um assistente social para além do arquétipo “plantdo-encaminhamento”. Um caminho de mao dupla que abre janelas para longos debates. Nao existe aqui intencionalidade de dizer que o planto do Servigo Social € uma atividade desnecesséria ou superada, pois sabemos bem que ele se cons- titui, muitas vezes, como a tinica porta de entrada realmente existente aos usuarios das instituigées tradicionais; um momento em que 0 usuario é recebi- do para ser ouvido em sua queixa sobre a propria instituigdio, buscar orientagées breves, complementar um atendimento realizado por outro profissional (e que © usudrio sai de 14 sem as informagées que realmente necessitava), abrir um didlogo com os canais da rede de servigos ou mesmo intrainstitucionais. No entanto, atentamos para o fato de que o trabalho desse assistente social nao pode se esgolar nisso, como se encontrasse um fim em si mesmo. Oassistente social despreparado continua a repetir que “apaga incéndios” ‘ou que somente resolve problemas nos hospitais. Mas quem nao resolve pro- blemas em hospitais? A instituigdo hospitalar colocou-se na modernidade como uma maquina de resolver problemas de satide. Todos no campo hospitalar atuam com a finalidade de desenvolver estratégias para fazer viver, ampliar a sobrevi- da, retirar a populagao que Ihe demanda de uma condig%o de sofrimento, que na maior parte das vezes trata-se de um sofrimento fisico ou psicolégico. A maneira como se deu (¢ ainda acontece) a implantagao da politica de satide traz aspectos importantes para analisar a forma fabril de fazer a ago de Estado. O assistente social é solicitado, durante todo o seu tempo de trabalho, aatender demandas complexas, de forma desmedida pode ser considerada a sua 466 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 intensidade. Por vezes, 0 atendimento a uma sé pessoa pode ocupar dias de trabalho devido a sua complexidade. E mesmo com demandas grandes e inten- de atendimento direto & populagao, é também convocado a ocupar cargos que dialogam com a gestao. O projeto de lei!! que defende trinta horas semanais de trabalho para o tente social tem no seu excesso, intensidade e sobrecarga de trabalho a base de toda a discussao apresentada em 2008. A questao trabalhista maior centra-se na forma em como fazer reconhecer nesse perfil de trabalhador sua peculiari- dade de agao profi do trabalho mensurado através da hora trabalhada ou do produto concreto que produz, e no pela sua processualidade, como se dé entre todas as demais pro- fissdes que atuam na reprodugao da vida. as ional sem destitui-la em seu salério. Um claro dilema fabril Informacao é capital Diante desse cendrio, temos assistido de forma ainda muito timida 0 cres- cimento da demanda por pesquisa ou assessoria para as polfticas piiblicas de satide. As pesquisas solicitadas aos assistentes sociais pedem que os mesmos realizem uma interface entre os dados empiricos obtidos com a politica executa- da, geralmente por érgios piiblicos. E interessante notar como a produgao do assistente social nesta leitura macropolitica sobre a realidade da satide agrega capital ao Estado na sua forma de direcionar os servigos ¢ os programas de governo. A produgio de informagao sistematizada e qualificada pelo assistente social proporciona leituras que subsidiam o trabalho do gestor. No modelo de acumulagao flexivel, a informagao tornou-se um capital valiosissimo. Dai o crescimento da demanda por pesquisas e estudos que precedem as agdes dos gestores das politicas sociais. A dimensao investigativa do trabalho do assisten- te social tem sido também demandada por outros fatores, nao dependendo ex- clusivamente de uma “atitude” desse profissional. 11, Em 2008 foi extenso o debate sobre o projeto de lei que pleiteava trinta horas semanais de trabalho para o assistente social. A jomada reduzida visa primordialmente preservar a satide ¢ a seguranga do profis- sional. Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 467 ‘A produgdo de pesquisa tem sido demandada de forma mais constante ao istente social, que hoje tem se preocupado com a sua insergdo nas pés-gra- duagGes tanto lato sensu quanto stricto sensu. Essa preocupagao aparece de forma recorrente entre aqueles assistentes sociais interessados em atualizar conhecimentos e produzir uma prética eritica. Mesmo nas cidades que fogem ao circuito das grandes metrépoles, essa necessidade em qualificar-se ¢ inserir estudos & sua pratica comega a tomar maiores proporgdes. Sabemos que a in- sergdo nos cursos de especializagdo ou mestrados no garantem a continuidade da pritica da pesquisa em seus ambientes de trabalho, todavia desperta o inte- resse ¢ 0 experimento nesse campo, atentando para a necessidade e a realidade que esse trabalho nao seja necessariamente exclusivo dos meios académic O atual momento do Servigo Social deixa claro sua intencionalidade de buscar incessantemente 0 novo, Uma busca pelas tendéncias as demandas dos usuarios que traz a sua insergdo definitiva na pratica da pesquisa dentro das instituig6es ptblicas e privadas. O Sistema Unico de Assisténcia Social, mode- lo criado a partir da experiéncia do SUS, j4 mostra a preocupagao com a criago do cargo de pesquisador como parte do Ambit da gestdo.!? Informagao siste- matizada e geragao de conhecimento associado 4 produgao tornam-se um capi- tal importante As novas formas de gestdo. “O conhecimento nao € sé um verniz que se sobrepée superficialmente & prética profissional, podendo ser dispensa- do, mas é um meio pelo qual € possivel decifrar a realidade e clarear a condugao do trabalho a ser realizado”, diz Iamamoto (2001, p. 63). No modelo “flexivel” de produgao da satide a pesquisa no tem sido uma alternativa ou mera liberalidade do profissional em escolher com ela trabalhar ow nao, Por mais que ainda apresente um carter de sazonalidade nas formas como sao produzidas, geralmente atendendo a interesses imediatos dos profis- sionais, verifica-se um novo momento em que o assistente social € convocado a produzir sistematizagdes mais elaboradas, traduzindo-se em processos de andlise que requerem maior disponibilidade de tempo para a percepgao de novas demandas ou a identificagao de tendéncias e possibilidades na ago das politicas ptiblicas e sociais. Essa forma de planejar seu trabalho, uma forma que contém e pressupde a pesquisa, nao se esgota somente na coleta de depoimentos de usuarios ou 12. Ainda € necessério superar essa heranga bindria na gestdo das politicas sociais em que o “pesquisa- dor” realiza o trabalho do pensar ¢ os demais situam-se na “execusa 468 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 gestores. Resulta em saber ler as produgées estatisticas excessivamente produ- zidas por bancos de dados infinitos na atualidade, fazer 0 cruzamento das in- formagées, produzir certa andlise de conjuntura & luz desses dados ¢ dar res- postas criativas ¢ embasadas em pressupostos teéricos sobre seu trabalho. Esgota-se 0 entendimento de que a pesquisa nas instituigdes comega e termina em uma simples fase coleta de dados em campo. Sua dimensio investigativa de maneira continua € 0 que insere o diferencial da ago, recombinando varios instrumentos, fases, referenciais, sistematizagoes e reflexGes criticas sobre os dados levantados. E exatamente nessa dimensio investigativa do trabalho que imprimimos uma nogdo constituinte do direito & satide e aos servigos sociais. Quando os istentes sociais pensam a realidade, capturando 0 seu movimento, projetam ¢ imprimem ages que proporcionam enxergar a necessidade de ampliagao e de universalizagao. Assim, em vez de compreender o direito como um campo que se esgota na lei, no constituido, passam a visualizé-lo como um campo aberto, em que novas demandas se reconfiguram, fazendo imprimir a necessidade de pensar as leis, 0 acesso, a politica ¢ a universalizagdo de forma cada vez mais ampla a Por outro lado, também as préprias instituigdes puiblicas comegam a criar suas estratégias para garantir seus pactos corporativos diante de tal crescimen- to da publicacao de estudos e pesquisas sobre érgaos ptiblicos. Se antes os comités de ética e pesquisa eram uma prerrogativa do trabalho académico hoje, as instituigdes publicas tentam se resguardar criando seus préprios comités de ética, os quais burocratizam por meses a entrada de determinados estudos em campo para coleta de dados. Uma forma clara de dizer nao a cientificidade quando atinge as bases criticas das politicas puiblicas. Os comités de ética criam verdadeiras barreiras burocraticas a estudos que nao venham de suas préprias demandas. As Secretarias Estaduais de Satide, municipais, hospitais publics e unidades de satide colocam profi sautorizados a falar em nome dos servigos que atuam, se antes nao passar pelo aval dos seus comités internos. Os assistentes sociais, que sempre estiveram na porta de entrada das instituigdes publica de satide, sdo hoje muitos dos que estao entre aqueles que nao permitem a entrada de pesquisadores nas instituigdes de satide ptiblica sem ter antes uma carta de apresentagdo dos seus préprios comités internos. jonais de- Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 469 Mas nao sao instituigdes puiblicas? Por que assistentes sociais nao fornecem depoimentos a pesquisas académicas sem ordem dos seus gestores? Sera uma nova ditadura provocada pela burocracia estatal contra a transparéncia da infor- magao? Nao esta, pois, em nosso cédigo de ética, o nosso papel na construgao do conhecimento cientifico? As instituigdes publicas tém criado, no campo da satide, ao invés de comités de ética, a ética dos comités, autorizando a entrada de pesquisadores que nao representam amegas aos seus gestores e, também, assistentes sociais que nao fazem uso de sua liberdade ou autonomia para falar sobre seu préprio trabalho ou o de suas equipes. O trabalho com a pesquisa sempre foi uma realidade das instituigdes de satide, principalmente os hospitais. No entanto, na atualidade isto vem se es- tendendo para as unidades de satide e ampliando-se para secretarias, fazendo crescer a figura do gestor com a funcao especifica de produzir estudos e pes quisas no campo da satide. Muitas vezes, esse gestor no campo das politicas publicas voltadas para a satide tem sido um assistente social. Temos por certo a preocupagdo com o campo da pesquisa associada & gesto; entretanto, o que se mostra novo é que muitos assistentes sociais organizam comités de pesquisa nas instituigées e dificultam a entrada de pesquisadores que sejam externos & gestao das politicas publicas e sociais. 0 processo de trabalho do assistente social e as novas demandas para a salide Nao é recente 0 conflito em que o assistente social se insere e que demar- ca os interesses polarizados entre as instituigdes sociais e as necessidades dos usuarios na busca pelo acesso aos servigos sociais. Esse espago tensionado torna-se inevitavel &s profissdes que atuam nas politicas sociais durante os culos XIX e XX, por meio do reconhecimento dos direitos sociais. O cardter social do Estado, sob a forma de direitos de cidadania, reconhece formalmente a exploragao, a impossibilidade de satisfacdo das necessidades basicas da vida tendo como tinica fonte o salério direto. O que se traz como elemento de andlise é 0 processo de trabalho do assi tente social que tem seu objeto manifesto nas expresses das contradigdes da questo social. Por isso, o Servigo Social nao esta vinculado as profissdes que geram produtos materiais, concretos. Ele atua nas condigdes de vida, reprodu- 470 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 zindo aquelas condigdes que sao indispensaveis ao funcionamento de uma ordem — 0 que, no campo da satide, ganha evidéncias expressivas. Temos como pressuposto que toda riqueza existente é fruto do trabalho humano. Essa riqueza é redistribuida na forma de rendimentos distintos, bem como parte dela ¢ transferida ao Estado, especialmente sob a forma de impostos e taxas pagas pela populagdo. Por outro lado, parte dessa riqueza apropriada é transferida para a classe trabalhadora sob a forma de servigos sociais. Desta maneira, muitas vezes tais servigos ganham a forma de “doagao” ou “beneficio” Em nosso caso, as politicas de satide se travestem claramente com esse perfil “provedor” de Estado, aparecendo como politicas sobre a vida, com forte nu- ance “humanizadora”. Merece destaque o processo de trabalho do assistente social em sua dimen- sio educativa dentro dessa politica aparentemente provedora de um “bem comum” O assistente social realiza atividades que incidem sobre comportamentos e atitu- des da populacdo e tem na linguagem seu principal instrumento privilegiado de agdo. Isso lhe permite trabalhar nas expressdes concretas das relagdes sociais, no cotidiano da vida dos sujeitos e faz com que disponha de relativa autonomia na condugdo do exercicio de suas fungGes institucionais (Iamamoto, 2007). Nas ages de execugao das politicas de satide, esse perfil “humanizador” da politica social ganha maior visibilidade, visto que o o trabalho dos pro! nais da satide, neste caso do assistente social, cria os nexos de ligagao entre os interesses de Estado e os dos usuarios por meio da linguagem, uma aco emi- nentemente humana. Por intermédio dessa dimensao do trabalho vivo, pode-se afirmar que nunca seu processo de trabalho seré idéntico, ainda que as tentativas dos interesses de seu empregador sejam transformar esse trabalho em uma ago serializada, maciga, sem reflexao contida na ago. io- O assistente social é proprietrio de sua forga de trabalho especializada, Ela € produto da formagao universitéria que o capacita a realizar um “trabalho comple- xo”, nos termos de Marx. Essa mercadoria, forga de trabalho, é uma poténcia, que 86 se transforma em atividade — em trabalho, quando aliada aos meios necessé- rios A sua realizagao, grande parte dos quais se encontra monopolizado pelos empregadores: recursos financeiros, materiais e humanos necessarios & realizagio deste trabalho concreto, que supée programas, projetos e atendimentos diretos previstos pelas politicas institucionais (lamamoto, 2007, p. 421) Nesse processo histérico, Iamamoto (2007) acrescenta que o trabalho do Servigo Social possui a chancela da “sangio social e institucional”, produzindo Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 471 efeitos diversos como porta-vor das politicas piblicas, atestando uma possivel “polivaléncia” ou intervengao profissionalizada dentro dos aparelhos de Estado (p. 275). Sera esse 0 efeito mimsético do processo de trabalho do assistente social dentro da execugdo das politicas sociais. Um efeito que provoca e se autorrefere A sua execugdo como uma intervengao compensatéria, imediata e aparentemente benevolente. Toda politica social é apenas um fragmento das politicas ptiblicas. Nao se tem o esgotamento das questo social por meio da acio dos profissionais que atuam e executam as politicas sociais, mesmo porque nao ¢ interesse da ordem econémica e social vigente que isso de fato se concretize. As instituigées em- pregadoras dos assistentes sociais dependem de uma prévia fragmentagao das politicas definidas pelos organismos empregadores que estabelecem as priori dades das politicas piblicas como um todo, Atuar na questo social por meio das politicas sociais representa apenas uma parte da ago de um todo que 0 compromisso profissional do Servigo Social quer extinguir: as miiltiplas expres- sdes da questio social. Na satide isso nao ¢ diferente. Assim como em todas as outras politicas sociais, a satide tem vivenciado algumas tendéncias no seu diélogo com o Es- tado para a formagao de novas agendas para a politica publica. Os movimentos sociais atuais, congregados, por exemplo, no Férum Social Mundial da Satide, demostram que as novas lutas trazem muito mais que reivindicagées por leitos em hospitais ou “humanizagio” da atengdo. As agendas formadas dentro desses movimentos apontam para um debate que comega a pautar um novo modelo de seguridade social ampliado, mundial. Ou, em outros aspectos, trazem como debate a quebra de patentes de medicamentos monopolizados nas maos de la- boratérios intemacionais — verdadeiras manifestages de um capital mundia- lizado. Pautam ainda o dircito de exercer a profiss4o de qualquer profissional da satide, independentemente de sua nacionalidade, em qualquer pais. O forum de trabalhadores da satide do Mercosul trouxe-nos essa demanda."* 13, 0 Mercosul Salud é formado por profissionais de satide, entidades e representagdes dos movimentos sociais da América do Sul em prol do livre exercicio de suas profissses em qualquer pais do Cone Sul. Os profissionais de sade que o compdem pleiteiam o direito de ser enfermeiros, médicos, nutricionistas, psies- logos, fisioterapeutas ete., em qualquer pafs do bloco, sem barreiras nacionais por motivos da localidade de sua formagao, Os assistentes sociais sao representados por uma comissio de profissionais ligados o CFESS nesta rede, Os debates acontecem a cada seis meses com todos os ministros da Saiide do Mercosul e as refe- ridas representagées, além da Organizagio Pan-Americana de Satide (Opas) ¢ a Organizagio Mundial de 472 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 Em épocas de “capital fetiche”, 0 que temos por pressuposto ao estudar 0 processo de trabalho do assistente social no campo da satide é que nao existe um processo de trabalho do Servigo Social, visto que 0 trabalho ¢ atividade de um sujeito vivo, enquanto realizagao de faculdades, possibilidades ¢ capacida- des do sujeito trabalhador (Iamamoto, 2007). Isto é, falamos de uma poténcia em ato. Existe, sim, um trabalho do assistente social e processos de trabalho nos quais se envolve na condigao de trabalhador especializado. O trabalho, forga de trabalho em agao, é algo temporal, que sé pode existir no sujeito vivo. £ um movimento criador do sujeito (Idem, p. 429). Ao assistente social que atua no campo da satide torna-se importante trazer A tona que talvez a satide seja uma das politicas sociais que manifestam uma diversidade enorme de demandas ¢ necessidades da vida humana. Nao € poss vel realizar ages estanques ¢ padronizadas em politicas piblicas que atuam diretamente sobre a vida, Tomar a andlise de Iamamoto (2007) representa re- pensar as ferramentas de trabalho, seu objeto, mas principalmente repensar 0 proprio trabalho do assistente social como poténcia, constituinte — um trabalho que trard a tona manifestagdes da questo social que se conectam na sua dimen- so micro e macropolitica na rotina de atuagao desse profissional. O que os novos movimentos sociais, e aqui me refiro unicamente ao cam- po da satide, trazem como elemento de anélise é que uma das atuais manifes- tagdes da questao social se insere na apropriagao monopolista do produto do trabalho coletivo. A posse de patentes de medicamentos e do direito do exerei- cio da profisso nos remetem a uma apropriagao generalizada do trabalho social (general intelect). Isto nao significa mera transferéncia das novas lutas sociais para a dimensao mundializada de apropriagao global do capital ou simplesmen- te mais uma forma de acumulagio de capital fetichizado, mas sim uma ampla expropriagao do trabalho criado e acumulado coletivamente pela classe traba- Ihadora. A pauta gestada pelos movimentos sociais tem nos sinalizado que © direito 4 vida representa também ter direito aos direitos: direito a medicamen- tos, a atendimentos que contemplem a dimensao humana, a adoecer sem ser desrespeitado nas suas relagdes de trabalho, a exercer seu trabalho (nas mais Satide (OMS). As reuniGes ocorrem sempre em pafses diferentes. A presidéncia pro tempore neste momento € da Argentina, O Mercosul Salud esté hoje também relacionado a0 Ministério das Relagoes Exteriores no Brasil. Muitas de suas lutas esto sendo ampliadas no Frum Social Mundial da Saiide. © movimento, em. Ambito de Estado, se redine em um Subgrupo Trabalho do acordo Mercosul (SGT 11). 0 site para ter acesso a todas as atas, relat6rios e demais documentos produzidos pelo movimento 6 . Serv. Soc. Soc., Sao Paulo, n. 103, p. 453-475, jul /set. 2010 473 diversas formas), ter acesso & 4gua potivel, saneamento, alimentagao ¢ a um meio ambiente sem poluigao, por exemplo. Decifrar as novas mediagées por meio por meio das quais se expressa a questio social, hoje, é de fundamental importancia para o servigo social em uma dupla perspectiva para que se possa tanto aprender as varias expressGes que assumem, na atualidade, as desigualdades sociais — sua produgao e reprodugao ampliada — quanto projetar e forjar formas de resisténcia e de defesa da vida. (amamoto, 2001, p. 28) Mesmo 0 trabalho do assistente social, sob a égide de um capital financei- rizado, traz as repercussées disso. A atuagao deste profissional nao € deslocada das bases sociais que a sustentam. Nesta fase de acumulagao fetichizada do capital, o Servigo Social est4 sendo convidado a pensar os Estados nacionais e suas estratégias de reprodugdo que atingem profundamente as politicas ptblicas, entre clas as politicas sociais de satide, com complexas incidéncias na vida humana e refragées que nos permitem repensar as politicas publicas. O que dizer da criagao de um sistema de seguridade social mundial, como seré discuti- do em 2010 na primeira conferéncia que serd realizada no Brasil? Como pensar uma politica de satide como vem sendo apregoada pelo Mercosul? Uma politi- ca de Estados, ¢ nao de um Estado. O SUS, modelo brasileiro que nasceu das lutas sociais, tem servido de parametro para esse debate em toda a América Latina. As respostas e as formas de resisténcia ao capital mundializado também tém sido manifestadas de forma mundializada. Os movimentos sociais atuais tém apontado para isso. Se 0 neo- liberalismo pautou a focalizacao, a agenda dos movimentos é formada de novas formas de luta que transcendam as fronteiras dos Estados nacionais. E nao se trata de mais um discurso de “solidariedade” ou a busca por um prémio Nobel; refere-se a estar atento as estratégias do capital em se disseminar como ordem Yinica, parasitéria, apropriando-se unicamente do trabalho humano em todo o planeta. Deve se atentar para esse momento histérico como um novo momento ¢ uma outra forma de pautar a agenda piblica, visto que esses novos movimentos sociais preencheram as plataformas de governo da atual esquerda que chegou em bloco ao Cone Sul. A primeira década dos anos 2000 foi marcada pelas causas ligadas & terra, & questo indigena, aos negros, aos pobres, trabalhadores desempregados e ao ambiente. Mas também por dimensées novas das lutas so- 474 Serv. Soc. Soc., Sdo Paulo, n. 103, p. 453-475, jul/set. 2010 ciais: a luta por produgio de conhecimento e por direito democracia e transparéncia, Nessa tendéncia, identificamos claramente os processos de trabalho dos assistentes sociais como essenciais. A contribui do Servigo Social a este momento hist6rico € distante de padrées fordistas de producdo na gestio do seu trabalho, mas claramente pautada pela sua primazia: produgao de informagio qualificada na era da produgdo do acesso. Proporcionar 0 ter direito aos direitos e, assim, concretizar a democracia. informacdo, por mais Artigo recebido em mar,/2010 ®) Aprovado em jun./2010 Referéncias bibliograficas BRAVO, MLL. S. Servigo Social e reforma sanitaria: lutas sociais e priticas profissio- nais, Sio Paulo/Rio de Janeiro: Cortez/Editora UFRJ, 1996. . et al. Politica social e democracia. Sao Paulo: Cortez; Rio de Janeit 2001. BRAVO, M. I. S.; MATOS, M. C. A satide no Brasil: reforma sanitaria e ofensiva neo- liberal. In: BRAVO, M. I. S. (Org.). 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