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J. Psycho-Anal. (1995), 76, 4 No decorrer dos tiltimos anos, tornei-me cada vez mais consciente que o sentimento de vitalidade e de desvitalizagao da transferéncia- contratransferéncia é, para mim, talvez a medida mais importante da situagio de cada ‘momento do processo analitico. Através de qua- tro discussées clinicas, explorarei a idéia de que ‘um elemento essencial da técnica analitica in- clui o uso da experiéncia contratransferencial, por parte do analista, para abordar os papéis expressivos e defensivos do sentimento de vitalidade e de desvitalizago da analise, assim como a funcdo especifica desta qua- lidade de experiéncia, no panorama do mundo de objetos internos do paciente e de suas relagées de objeto. A partir desta pers- pectiva, 0 foco central de preocupagdo, tanto para o analista como para © analisando, sera0 as seguintes questdes: qual foi a diltima vez em que a andlise foi sentida com vida por ambos participantes; hé uma vitalidade disfargada que no pode ser reconhecida nem pelo analista e/ ou pelo analisando, por medo das conseqiién- cias deste reconhecimento; que tipo de forma- Bes substitutivas podem estar mascarando a falta de vida da andlise, por exemplo excitagao manfaca, prazer perverso, atuagdes histéricas dentro e fora da andlise, construgdes “como- se”, dependéncia parasitéria da vida intima do analista e assim por diante? ANALISANDO FORMAS DE VITALIDADE E DESVITALIZACAO DA TRANSFERENCIA-CONTRATRANSFERENCIA THOMAS H. OGDEN, SAO FRANCISCO Procuraremos por um terceiro tigre agora, mas como 0s outros este também seré uma forma Daquilo que sonho, uma estrutura de palavras, ¢ no O tigre de carne e osso que além de todos mitos Anda pela terra, Conheco essas coisas maxito bem. “Apesar disso alguma forca continua me dirigindo Nesta vaga, irracional e antiga busca, eu continuo, perseguindo através das horas Outro tigre, a fera ndo encontrada ent verso. 0 outro tigre, J. L. Borges, 1960 As idéias que apresentarei esto baseadas, em grande parte, na concepedo de Winnicott (1971) sobre “o lugar onde vivemos” (uma ter- ceira frea de experiéncia entre realidade © fan- tasia [1951] e os problemas envolvides em gerar esse “lugar” (estado mental intersubje- tivo) na andlise. Estou muito embasado também na nogao de Bion (1959) de que o analista/mae mantém vivo, e em certo sentido traz & vida, os aspectos projetados do self do analisando/ crianca através da continéncia bem-sucedida das identificagdes projetivas. As discussdes de Symington (1983) e de Coltart (1986) sobre a liberdade de pensar do analista representam uma utilizagao importante do trabalho de Bion Winnicott para a técnica analitica. Green (1983) fez uma contribuigdo importante a com- preensdo analitica da experiéncia de morte como uma internalizacao primitiva do estado inconsciente da mae deprimida. Nos tiltimos anos, muito se tem escrito so- bre a importincia da “realidade” do analista, isto é, sua capacidade de espontaneidade e li- berdade, para responder ao analisando a partir de sua propria experiéncia, na situacdo analiti- ca, de modo que nio seja estrangulado por ca- ricaturas afetadas de neutralidade analitica (ver por exemplo, Bollas, 1987; Casement, 1985; Meares, 1993; Mitchell, 1993; Stewart, 1977), Como ilustrarei clinicamente, minha técnica ra- 116 “THOMAS H. OGDEN ramente inclu discuir a contratransferéncia df= rarumente com 0 paciente. Ao contrésio, & rerrransferéncia® € apresentada, implicitamen- fo, por exemplo, no modo de me conduzir como werMita, no manejo do enguadte analitico, ne tom, paiavras e conteddo dh ‘ cntras intervengoes, na i apeteemes, a dmminuigdo de sintomatolozie, 0

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