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Prefacio Como escrever Matemética? Qual a melhor forma de redigir um texto matemético? Como expressar as ideias mateméticas da maneira mais inte- ligivel? Essas perguntas frequentes sao feitas por estudantes do ensino médio, alunos de graduagao, de pés-graduacao, professores e demais interessados, tanto em Matemética como em Computagio, Engenharia e éreas afins. Os questionamentos ndo so novos e a busca por respostas satisfat6rias tem afligido desde os iniciantes aos mais experientes. O astronomo-mate- mitico Johann Kepler', em 1609, na introdugdo do seu livro Astronomia Nova, jd externava essa preocupacdo, questionando-se como obter sucesso no tema. Suas palavras refletem com propriedade as dificuldades sentidas por todos ao escrever um texto matemético: « a pmolivl : Fe concisiio. Esta escapa aos olhos da mente, aquela os confunde; esta carece de luz, aquela sofre de excesso de luminosidade; aqui a visdo ndo se move, ‘Johann Kepler (1571-1630): matemético e astrOnomo alemao, mais conhecido pelas Leis de Kepler do movimento planetirio, expostas no livro acima mencionado, de redigir hem decorre.do aciimulo de experiéneias.2o.longo-dos-anos, ld é ofuscada.” (21] E talvez, em davida, tenha decidido: “Por isso tomei a decisao de ajudar o entendimento do leitor com uma introdugao a mais clara posstvel a esta obra.” (21) As palavras de Kepler séo a maior prova de que expressar e redigir um resultado matematico € to importante e demanda tanto esforgo quanto saber ou desenvolver a Matemética que esté nele. Certamente 0s leitores hao de concordar que mesmo as boas ideias, quando expressas de forma incompreensivel, perdem seu valor. Quem es- creve bem se comunica com facilidade, tem melhores chances de preparar boas aulas, além de ser um requisito imprescindivel para solicitar bolsas de estudo ou de pesquisa, pedir financiamento de projetos, publicar arti- gos, ter éxito em concursos, etc. Quando se escreve, melhora-se a convicgdo nos préprios argumentos, apura-se 0 raciocinio, e é quando podem surgir novas ideias. Escrever é uma maneira de pensar, de organizar o que se deseja comunicar. Ao esere- ver, no é incomum surgirem ideias inesperadas. Outras vezes, quando se redige descobrimos erros nos raciocinios que jurdvamos estar corretos. Professores ¢ alunos necessitam perceber a importincia da prética de escrever no processo de ensino ¢ aprendizagem da Matemética, Saber ex- pressar as ideias de forma escrita é uma das ferramentas didaticas bésicas requeridas de um docente. Além do mais, praticar a escrita é um excelente exercicio de Légica. Nao hé como fugir dessa realidade. Enfim, € importante saber escrever para comunicar as ideias com efi- ciéncia, Reconhecemos: escrever qualquer texto, inclusive os de Matemitica, ndo é uma tarefa imediata que se aprende do dia para a noite. O sucesso pratica constante ¢ de muita observacdo de como os bons autores escrevem seus textos. Felizmente, cada vez mais cedo, nossos estudantes esttio percebendo © fato da Matematica cobrar-Ihes mais do que simplificar express6es, usar f6rmulas, dar respostas corretas ou mesmo ter ideias geniais para resolver problemas. Em geral, ja antes de entrarem na universidade, os alunos so solicitados a redigir matematica, e muitos no sabem como proceder, pois ninguém os ensinou. Seguramente, 05 iniciantes terdo mais facilidade com o tema quanto mais cedo se dedicarem a ele. Para este fim, alguns livros tém sido escritos ‘em outras linguas, e o assunto chegou a tomnar-se disciplina em universida- des estrangeiras. Em nosso pafs, a preocupaco de como ensinar a escrever um bom texto matemstico, caso ainda nfo faga parte da pritica didética do professor, deve aparecer como tema indispensdvel em disciplinas introdu- (Grias, Pelos motivos apresentados, pela falta de um texto sobre o tema em lingua portuguesa (até onde nos consta!), preparamos este pequeno ma- nual. Ele complementa o texto [5], onde apresentamos a parte bésica da Légica, usada na Matemética. Independentemente do grau académico dos leitores, cada um, de acordo com suas necessidades, poderd tirar proveito deste manual: 0 estudante olimpico, o aluno pré-universitério ansioso por escrever a solugo de um: exercicio, 0 professor preocupado em preparar suas aulas, os professores: do PROFMAT, os apreensivos em escrever dissertagdes de final de curso. ou de mestrado, dentre tantos outros. livro foi propositadamente dividido em capitulos e segdes curtas. Algumas citagdes foram extra(das da pagina eletrénica do Mathematical Quotation Server: http://math. furman.edu/~mwoodard/mquot .htm1, (consultada em janeiro de 2014) mantida por Mark R. Woodard, e rever- tidas para 0 Portugu8s pelo autor; outas vieram de [11], © as demais, da a la ra Popular. As referéncias [33] e [2], ape- sar de nfo citadas, foram consultadas e merecem constar na Bibliografia. {As ilustragées dos livros apresentadas no decorrer do texto foram re~ tiradas da Internet, Jé os comentérios sobre essas ilustragdes foram nos- sos, da percepgiio que tivemos sobre cada uma delas, E um modesto pas~ seio pela histéri ponto vista. Agradecemos profundamente & Professora Karine Viana Amorim, da Unidade Académica de Letras da Universidade Federal de Campina Gran- de, por uma primeira revistio do texto e pelas proficuas conversas que ti- vemos, Mais uma vez, meu obrigado ao Prof. José Lindomberg Possiano Barreiro, pela ajuda com o editor de texto IST3X. Agradecemos ainda os seguintes colegas: Prof. Francisco Jdlio Sobreira de Aratijo Corréa, pelas sugesties e por nossas prazerosas conversas; Prof. Eng. Celso Rozendo Bezerra Filho e Prof. José Uranio das Neves, nosso grande mestre, pelas sugesties. Escrever um livro desta natureza causa uma angtistia adicional a qual- quer escritor, pois se teme cometer os erros que ensinamos evita. Com certeza, por mais cuidadosos que fomos, ¢ por mais tempo que gastamos sevisando incansavelmente este manual, devemos ter tropegado, dado es- corregdes ¢ cometidos erros. Por esse motivo, sugestdes e colaboragées, iconogrifica de textos mateméticos, analisados sob nosso as quais previamente agradecemos, devem ser enviadas para 0 endereco: daniel@dme.ufcg.edu-br Muito obrigado, um abraco fratemno a todos, bom proveito! ‘Umas Palavras: Deixamos claro que todas observagdes, dicas e estilos de redagio en- sinados neste manual so de preferéncia e responsabilidade do autor e, portanto, nfo refletem, necessariamente, qualquer opinido da Sociedade Brasileira de Matemética sobre o tema. CAPITULO 1 Como se escreve um texto matematico — | “A maiovia das ideias fundamentais da Ciéncia sao essencialmente simples e podem, como regra, ser expressas com wma linguagem compreensivel a todos.” ‘Albert Binstein (1879-1955) ‘The Evolution of Physics “Qual isa pode se tornar téo simples quanto possivel, mas ‘ndo mais simples do que si.” Albert Einstein (1879-1955) in Calculus Gems, G. Simmons, McGraw Hill Inc., 1992 1 “Ble é como uma raposa que apaga suas pegadas na areia com a cada.” Niels H. Abel (1802 - 1829), comentando sobre 0 estilo de como Gauss escrevia matemitica, “Vocés'sabem que escrevo vagarosamente. Isso deve-se rincipalmente ao fato de eu nunca estar satisfeito até poder dizer (9 méximo possivel em poucas palavras, e escrever concisamente tora muito mais tempo do que quando se é prolixo’ Karl Friedrich Gauss (1777-1855), Justificando seu estito de escrever. Todos devem ser undnimes em aceitar 0 treno eo tempo como alae dos indispensdveis para alguém desenvolver seu estilo pessoal de escrever. Mas algumas dicas ¢ técnicas podem ajudar muito, e so elas que preten- demos ensinar. Nio ha diivida, o primeiro passo para aprender a escrever € escre- vendo e lendo, principalmente com aquele olhar observador variando de uum aprendiz. a de um critico. Certamente, praticar esse exercicio exige bem mais do que simplesmente ler! Por isso, aconselhamos 0 leitor, ja partir dese momento, a comecar a reler alguns livros que estudou; dessa ‘vez, nio mais com intuito de aprender (apenas) Matematica, mas de anali- sar a maneira como os autores os escreveram. O que esses autores podem Ihe ensinar nesse sentido? O que vocé mudaria nesses textos? Aprende-se muito com essa pritica Para os iniciantes, aconselhamos comegar a escrever, com detalhes, as resoluges dos exercicios, mesmo aqueles mais simples; reescrevam tam- escrever, imediatamente! Nas proximas segdes, iremos expor e estudar detalhadamente vérios itens importantes que lhe ajudarao a escrever um bom texto matematico. Esperamos colaborar nesta empreitada, Boa leitura! Um esclarecimento: ‘Tudo a ser escrito a0 longo deste manual refere-se a um texto acadé- mico ou formal, chamado apenas texto. Temos em mente a construgdo de textos a serem produzidos por leitores com grau de conhecimento mate- mitico bem diverso, variando entre 0 do Ensino Médio ao de uma pés- graduagao, Para atingir esse leque de piblico, preferimos dar exemplos onde usamos conhecimentos matematicos bisicos. Com excegio das regras gramaticais, a maioria das sugestées dadas em cada capftulo nao sao leis ou normas infiexiveis, imutaveis. Longe disso! Blas devem ser usadas sem exageros ¢ com bom senso. Quando se tem mais experiéncia, € possfvel relaxar alguns pontos, mas na diivida, € aconselhavel o iniciante ndo se arriscar muito, 1.1 Consideragées gerais sobre uma boa reda- cio matematica 1. Ao escrever, vocé organiza suas ideias em um texto e espera serem entendidas por quem o leia, Ha nessa atividade, no minimo, duas pessoas: vocé e um leitor. Por isso, nunca esqueca de seus leitores, do que, na medida do possfvel, vocé pode fazer para tomar as coisas mais simples e inteligtveis para eles. ‘beim Os enunciados € as demonstragdes dos teoremas, dos resultados prin- cipais, dando-thes uma versio mais intima, pessoal, realmente sua. Aos veteranos, 6 preciso redigir suas ideias originais, teorias, textos mais lon- g0s, mais complexos. Enfim, nosso conselho para todos é: comecem a Muitos acusam a Matemética de ser complicada e dificil. Cuidado para nilo torné-la mais inacessfvel para quem tem essa opinido. Seus leitores podem ter mais ou menos conhecimento do que vocé sobre aquilo que escreveu; geralmente, em qualquer desses casos, voc no estard por perto para esclarecer-lhes alguma passagem mal es- crita ou mal explicada. Nao vale a desculpa posterior: “Ah, mas 0 que eu queria dizer com isso era ...”. Ao escrever, nao desperdice a oportunidade de expressar 0 que deseja, e certifique-se de que isso realmente ocorreu. Na maioria das vezes, nao ha uma s tunidade, ° .egunda opor- 2. No processo de produgo de um texto, é essencial perceber que pode haver uma diferenga muito grande entre os seguintes elementos: (a) 0 que vocé pensa; (b) 0 que deseja expressars (©) 0 que vocé escreveus (@) 0 que os leitores vido entender do que esta escrito. Fazer esses elementos serem uma nica coisa € um dos requisites essenciais da arte de bem escrever. Nesse sentido, ¢ necessdrio buscar a clareza e fornecer aos leitores condigées para entenderem, de fato, 0 que o escritor quer transmitit. Em textos cientificos (¢ talvez em todos os outros), nao é permitido ao escritor outra altenativa. 3. Para construir um bom texto matematico, deve-se buscar algumas gualidades especificas exigidas pela Matemética: clareza, concisdo, rigor e formalismo necessétios requisitados tanto pelo tema quanto pelo piblico alvo. Nessa busca, hd sempre questionamentos se escre- ‘yeu-se em demasia ou se ficou faltando explicar mais detalhadamen- te alguma passagem, Em relagZo a essas diividas, a prética, 0 tempo, a observagiio ¢ o bom senso sao auxiliares indispensaveis para chegar _—______.20_equilfbrio necessério._Até chegar nesse ponto, € preciso ter um pouco de paciéncia, 4, Um escritor deve sempre objetivar a construgao de um texto, cuja leitura flua com facilidad , escrito em estilo agradavel, gostoso de ser lido e possa atrair a atengao e o interesse dos leitores. Essas qualidades referem-se, inclusive, a um texto extremamente téenico, por que no? 5. Um ponto merecedor de destaque € que a linguagem a ser utilizada deve se adaptar ao piblico para o qual vocé esté se dirigindo. E pre- ciso haver interagao, ¢ af entra a sensibilidade do escritor em com- preender os limites e explorar as possibilidades de seus leitores. Uma coisa € escrever um texto de divulgagao cientifica para nao especia- listas ou para alunos do Ensino Médio, outra é escrever uma disser- taco de mestrado, uma tese de doutorado ou um artigo cientifico. Essa distingaio deve basear-se, principalmente, no tipo de motivaco a ser empregada ¢ no quanto de rigor e formalismo que podem — ou devem — ser usados em cada caso. Cada um desses ptblicos possui caracteristicas especificas e o escritor deve saber aproveiti-las para construir seu texto e atingir seus objetivos. Esse item nos faz lembrar a histéria real de um insensivel profes- sor da universidade que, na primeira aula da disciplina de Calculo introdut6rio para uma turma de calouros, referia-se ao conjunto dos niimeros reais como a: variedade unidimensional ndo compacta. Realmente, um mau exemplo, Assustava qualquer um. 6. Sobre 0 formalismo — e, em alguns casos, nossas palavras também se aplicam para 0 rigor — parece valer a seguinte comparaco: for- malismo é como uma roupa, fica desconfortavel se muito apertada ou se muito folgada! deve ser honesta, isso ndo significa, simplesmente, chamar os resul- tados que voce vai apresentar de interessantes ou importantes, sem maiores raz6es ou explicagdes. Os leitores devem ser informados do “T> Como jé-dissemos; € importante motivar os leitores--Essa-motivagdo— —_____ Ainda contendo esses defeitos, veja.as frases reais-a seguir, extrafdas; real motivo de certos resultados terem o privilégio de serem assim denominados. Por exemplo, concordemos que, antes de apresentar a teoria de sis- temas de equagées lineares, apena escrever uma frase do tipo: “0 estudo dos sistemas de equagaes lineares é muito importante na formagao de wn estudante”, sem vir adicionada com maiores explicagées, torna-se enigmiética e no motiva absolutamente nada! . Certamente, 86 conseguiré dar uma boa motivago quem conhece bem o tema sobre 0 qual esta escrevendo e 6 capaz de transmiti-lo com habilidade. Na motivac2o, processo inicial da escrita, é comum buscar um estilo informal, ou mesmo usar uma linguagem mais co- loquial, 0 que é recomendavel. Entretanto, sem diivida, chegaré o momento em que algumas ideias s6 poderdo ser fidedignamente ex- pressas usando-se a linguagem técnica apropriada. Quando chegar 0 momento propfcio, exponha suas ideias utilizando a terminologia adequada. Mais uma vez, nao esqueca a dose certa do devido rigor ¢ formatismo demandados pelo t6pico sobre 0 qual vocé estd escrevendo e seu ptiblico seja capaz de entender. Como exemplos de descuidos sobre o que acabamos de expor, ob- serve como a frase a seguir, se dirigida para uma turma adiantada, carece de explicagdes mateméticas mais precisas: ‘Uma elipse é um linha fechada, arredondada, parecida com uma circunferéncia meio achatadinha.” 10, 1. “prolongando o raio’ até a extremidade da circunferéncia encontramos seu diametro.” Encerramos os mal exemplos com uma frase extraida de um com- péndio de preparagio para o antigo Exame de Admissio, publicado em 1947: “Reta perpendicula outra, sem pender para um lado nem para outro. é a linha que encontra . Principalmente na construgao inicial de seu texto, prefira usar pala vras simples, que ajudam a desenvolver, com clareza e seducéo, 0 tema sobre 0 qual voce est discorrendo. Nao assuste os leitores. Use apropriadamente as metéforas e evite palavras inadequadas a0 contexto. E imprescindjvel usar as palavras certas nos lugares cer- tos, correspondendo a seus verdadeiros significados, principalmente a seus significados matematicos, Nesse sentido, lembre 0 fato do significado de algumas palavras diferirem muito quando usadas na linguagem coloquial e quando usadas na linguagem matemética. Fa laremos mais detalhadamente sobre esse tema na Seco 4.2. Fuja da linguagem vulgar e cuidado com histérias ou anedotas poli- ticamente incorretas ou impréprias.,Palavras expressando, sob qual- quer disfarce, algum sinal de intoleréncia, destespeito ou discrimina- fo sto inaceitéveis! Vivemos uma época de muita vigiléncia nesse sentido, Nao ponha em risco todo um texto por uma fras¢ infeliz, principal- mente se for desnecessétia, Tespectivamente, de uma prova e de uma enciclopédia de Matemé- tica: “O centro do plano.” “12> Evite Fedigir wii texto Confso, desorganizado, dificil de seus leito- res lerem, de compreenderem os simbolos matematicos ou as equa- des; enfim, um texto velado, precisando ser decifrado para ser en- tendido, Infelizmente, essa é a descricao fiel de algumas provas e 13, 1.2 redagdes que 0s professores so obrigados a corrigir. Concordemos ser desanimadora a leitura de um texto escrito dessa man a, Nunca esquega: seus leitores jé vio ter o trabalho de entender a ma- temética que vocé quer expressar. Mais uma vez, nao complique as coisas para eles! Os leitores querem um texto capaz de compreender eno um quebra-cabega! Esse recado torna-se particularmente inci- sivo se algum de seus leitores for um de seus professores ou alguém que 0 julgard pelo que voc? escrever. Complementando o item anterior, prime pela organizagao Idgica das ideias. Deve-se encarar a construgo de uma redagio matemética como um dos melhores exercicios de Légica. sempre recomenda- yel ter em mente 0 esquema: introdugdo, desenvolvimento e conclu- séo. Esse esquema deve ser levado em conta para o texto como um, todo, como também para cada parte dele. . Em geral, as agdes para construgiio de um texto so: planejar escre- ver, revisar, re-escrever, planejar, escrever, revisar, re-escrever, etc. Essas agdes nio devem ser tomadas, necessariamente, nessa ordem, tampouco de uma tinica vez. Busque e encontre sua prépria metodo- logia de escrever, repetindo e explorando cada uma delas. Algumas consideragées técnicas . Em primeiro lugar, escreva corretamente o Portugués, respeitando as regras gramaticais da nossa Lingua. $6 poderd obter sucesso a0 escrever quem conhece 0 mfnimo necessério da lingua usada para se comunicar. Nao hé Ciéncia no mundo capaz de suportar um texto com erros gramaticais. Erros dessa natureza poem em risco a cre- dibilidade de um escritor, por mais especialista em qualquer assunto cientifico. E creia, isso realmente ocorre! Infelizmente, encontram-se erros crassos de Portugués em provas, dissertagdes, teses, etc. Ha quem pense, pelo fato de estar fazendo ‘uma redagio cientifica, principalmente uma redacao matemitica, ter a permissao de nao usar virgulas, de esquecer a pontuagao, de des- Prezar as regras da concordancia verbal, as regras de acentuagio, a ortografia, etc. Mesmo que alguns relutem em admitir, todas essas normas existem para expressar as ideias mais claramente. Nao usé- las € correr 0 risco de nao entenderem o que voce escreveu. Nao hd alternativa. Ha varias graméticas existentes no mercado para ajudé-lo nesse sen- tido. Nos Capitulos 3 ¢ 4, daremos algumas dicas da Lingua Portuguesa, especificas da linguagem matematica. 2. Caso tenha diividas quanto a grafia, a0 uso, ou ao significado de alguma palavra, uma gramética. Quando usado convenientemente, um diciondtio é um fiel companheiro de um escritor, Uma gramética normativa e um (© arrisque, recorra depressa a um dicionétio ou a bom dicionétio de sindnimos e anténimos também auxiliam muito ‘No Capitulo 5, estudaremos algumas palavras usadas na Matemética que causam muitas dlividas em relagdo as suas grafias. 3. Em textos mateméticos nao ¢ incomum abreviar-se algumas palavras ou expressées. Caso deseje estabelecer a abreviago de uma palavra ou de uma expresséo, o faca na primeira vez.em que ela aparecer no texto. Para isso, escreva a palavra ou a expresso a ser abreviada, seguida da respectiva abreviacao entre parénteses. Por plo“ Definimens-o-maximo divist rane (mech ti niimeros inteiros me n como o maior niimero inteiro que os divide.” 4. Nao utilize abreviagées indevidas — a menos que sejam abreviagdes + pois pode ocorrer onsagradas, ou previamente convencionadas de seus leitores nao as conhecerem. Além do mais, estamos falando de um texto académico, bem diferente da linguagem de Internet, por exemplo, sempre repleta de abreviagdes. Evite: “A expressdo é valida para q.q. que seja o niimero par.” “Um ntimero € divisivel por 5 sse termina em 0 ou 5.” Nos exemplos acima, q.q. abrevia a expresso qualquer que seja © sse abrevia a expressiio se, e somente se. Observacio: informalmente é bastante comum, mas em textos aca- démicos ndo se deve abreviar as palavras: capitulo, demonstracéo, equagiio, exemplo, exercicio, figura, observagdo, teorema, dentre outras. . Exemplo de uma abreviagtio consagrada e recomendada pelos dicio- nétios: a abreviagao da palavra pagina, escrita como p.. Nesse caso, nio se deve usar a abreviacdo pg. (a abreviagdo pg. est mais para ago do que para pagina). J4 a palavra paginas é abreviada como pp. Exemplo: “Vide p. 34” ou “Vide pp. 46-59”, . Ao externar suas opinides, aconselhamos nio o fazer como se fossem verdades irrefutaveis. Por exemplo, em vez de impor: “O teorema a seguir é o mais importante de to- da Matematica!”, seria mais conveniente escrever: “Consideramos 0 teorema a se guir; como o mais importante de toda Matemdtica!”, ou ainda, se Wopiniao Tor de outia pessoa: “Segundo o matemdtico Fulano de Tal, decano da matemdtica brasileira, o teorema a seguir é 0 mais importante de toda Matemdtica~ e acrescente a referéncia — (vide [Fulano de tal}).” 7. Geralmente, nao sao aceitas notas de rodapé em artigos cientificos matemiticos. Comentérios sobre a figura da pagina anterior Os egipeios usavam o caule de uma planta para fabricar um dos mais antigos antepassados do papel: © papiro. Nos papiros, escreveram textos de natureza diversa, e apesar de nao muito durdvel, alguns deles felizmente sobreviveram até nossos dias. Na figura da pagina anterior, vé-se o fac-simile de um fragmento do Papiro de Rhind, texto de Matemitica egipcia (c.1600a.C-1500 a.C.), que 0 documento matemético mais antigo conhecido. Analisando-o, pode- ‘mos entender pelo menos as figuras geométricas. O papiro revela o estégio da matemética egipcia de sua época e é “uma lista de exercicios resol- vida", constando de 87 problemas com as respectivas resolugoes. Tem um titulo interessante, jé posicionando a Matemética como “ciéncia inacessi- vel”: “Para conhecer todas as coisas secretas”. Esse papiro é ainda conhecido como Papiro de Ames, nome do escriba ‘que 0 escreveu. Ahmes se estabelece, portanto, como o primeiro autor de um texto matematico a ter seu nome registrado na Hist6ria. ‘J4o nome Rhind vem de A. Henry Rhind (1833-1863), um jovem an- tiquério escocés que em sua época pode desfrutar da invejavel e rarfssima oportunidade de comprar um papiro histérico legitimo, na cidade de Lu- xor, pleno Egito, em algum dia escaldante do ano de 1858. Atualmente, 0 papiro encontra-se no Museu Britanico. Para quem conhece a antiga Coleco Schaum, cujos livros tinham uma teoria resumida e muitos exercicios resolvidos, para felicidade de vérios alunos e de alguns professores, certa vez, um colega ~ 0 Joio Sampaio, professor da UFScar —, possuidor de muito bom humor, me disse que 0 Papiro de Rhind foi o primeiro volume dessa colegio! 4 Como se escreve um texto matemstico — CAPITULO 2 a Como se escreve um texto matematico — Il a “Era uma vez, uma floresta genérica F, na qual moravam um lobo muito mau Lys, ¢ trés porquinhos inocentes Pigs Bin © Pig” Matemético contando historinha de ninar para seus filhos. “0 estilo € 0 esquecimento de todos os estilos.” J, Renard (1865-1910) Journal, 1891 * Ko escrever sobre temas transcencdentes; se} transcendentemente claro.” René Descartes (1596-1650) Calculus Gems, G. Simmons, ‘McGraw Hill Inc., 1992 15 2.1 Ocuidado coma estruturacao das frases 1. Diferentemente do que as vezes pode ocorrer na Literatura, niio € conveniente usar frases muito longas em textos matemiticos. Preca- vendo-se dos exageros, pois ninguém deseja ler um texto telegrafico, € preferivel usar frases curtas, mas uma bem conectada com a outra, Uma frase longa nada mais é do que duas ou mais frases curtas, no devidamente divididas! Lembremos que a respirago e os olhos, em coordenacto com 0 cérebro, sempre pedem uma pausa apés se ler certo nimero de palavras a fim de compreender a mensagem lida. sse sentido, é preciso fornecer aos deitores as melhores condicdes para entenderem e gostarem do que leem, Comprovando o que acabamos de dizer sobre frases longas, comece agora sentindo nesta frase a dificuldade enfrentada por um leitor a0 ser obrigado a ler uma frase qualquer muito longa, a qual, na maioria dos casos, requer muita habilidade para pontué-la corretamente, nos eva a travar a respiracdo e também exige, de forma inevitével, um maior poder de concentragdo, bem como muito mais atengo, sem mencionar que uma frase dessas cobra um descanso para entender o que se I, pois ninguém é de ferro, nem preparado para uma tarefa dessas. Ufa! Sentiu como ¢ dificil ler uma frase longa? Como dissemos, uma frase longa exige muita habilidade de quem a escreve para usar corretamente a pontuagao, daf a chance de cometer erros é bem maior. Nao convém arriscar, 6 aconselhavel quebrar as frases longas. O conselho dado em [30] também vale para textos cientificos: “Na diivida, use o Ponto”. Pronto! 2-H quenraconselhre também 8vitar parggrafos muito longos, pois po- dem tornar a pégina muito “pesada”, aparentando ser lida. ificil de ser Caso siga esse conselho, cautela com frases ou pardgrafos descone- Lr eetnanany warn wonnucsipeny ae sao xos; lembre-se de uma linha ldgica de raciocinio que um texto deve seguir. Nao introduza objetos estranhos nas suas frases nem acrescente fatos que, mesmo corretos, sejam intiteis. A frase a seguir pode ser cOmica, mas representa com muita propri- edade a falta desse cuidado: Evite: “Seja Y um conjunto. Chamemos ¥ de x. Logo, ...” Um outro caso: ao pedir para resolver — apenas para resolver — uma equagio do segundo grau, no final da resolugdo, alguém escreve: 5. Observe 2em Evite: “As solugdes s4o 2 que —5 6 uma raiz negativ: E daf? No contexto no qual 0 exemplo foi construfdo, essa observa- gf € irrelevante. Enfim, aqui vale mais uma vex lembrar um dos requisitos exigidos por um texto matemético: concisao. 4. Ainda sobre o item anterior, evite palavras desnecessérias, causado- ras de prolixidade, redundancia ou excesso de detalhes. Por exemplo: (a) Evite iz quadrada M tal que satisfaz a condicao detM =3." Prefira: “Suponha que a matriz quadrada M satisfaca a con- digo detM = 3.” ou “Suponha que a m: “Suponha que a matriz quadrada M seja tal que detM (b) Bvite: “Todas as e as quais estudamos no capitulo anterior, agdes algébricas, tém raizes reais.” 18 . Ainda quanto ao conselho do item anterior, devemos ficar atentos Como se escreve umitexto'matematico ~ IL Prefira: “Todas equagées algébricas estudadas no capitulo anterior tém ratzes reais.” Em um texto cientifico, pense numa frase como se fosse uma mé- ‘quina, e nas palavras, como pegas dessa maquina. Imaginando dessa forma, as maquinas niio devem ter pecas desnecess: ias. Uma frase também nao deve ter palavras desnecess: ias. O uso repetido, ¢ dispensdvel, das mesmas palavras pode transfor- ‘mar seu texto em um tormento para quem o 16, Certa vez, contei 18 palavras portanto escritas em um pequeno texto de meia lauda! Evite: “Como a divide b, entaob = na. divide c, entéo c=mb. Entéo, c=(manja. a divide c.” Como b Logo, Sugerimos: “Como a divide b, temos b = na. Da mesma forma, como b divide «resulta c = mb. Essas duas igualdades implicam em c = (m.n)a. Concluimos entdo que a divide c.” Receba esse conselho com prudéncia. Certamente, aqui e ali, po- demos e somos forgados a repetir mesma palavra sem constrangi ‘mento algum, como fizemos no exemplo anterior. 105 “ecos” gerados pelas palavras. Cuidemos, em especial, com as rimas, apreciadas em algumas poesias e, em geral, abominadas na prosa, principalmente em um texto cientifico. As vezes fazemos ri- ‘mas involuntariamente e nem percebemos. Por exemplo, evite: “ Apés o trabalho de programagio, percebe~se que a iteragio foi feite sem a participacio da equagio em questio” £ muito no acham? Opa, 0s ecos apareceram novamente! exemplo acima parece uma cantoria de repentistas nordestinos, por sinal, uma de qualidade muito baixa. Prefir “A equagao analisada néo participa do processo iterativo, como se pode constatar, apés andllise dos programas realizados.” 7. As palavras que e se, devido aos seus miiltiplos usos em nossa Lin- ‘gua, tendem a ser usadas em demasia. Cuidado para no empregé-las desnecessariamente, pois podem se transformar em ervas-daninhas do seu texto. Observe exemplos de uso exagerado do que € do se cometido por este autor em alguma ocasido da vida: “...que tem muita importancia no contexto e que poderia gerar dividas.” “...0 tempo e a observagéo sdo auxiliares indispensaveis para se chegar ao equilibrio necessario.” Bastaria apenas escrever: “gue fem muita importdincia no contexto e poderia gerar dividas. ..0 tempo e a observagdo sao auxiliares indispensdveis para che- gar ao equilibrio necessério.” 8. Caga aos que’s. O qué? ‘Ainda sobre o uso da palavra que, faga um teste: escolha uma pagina de algum trabalho que escreveu € conte quantos que’s vocé usou. Nao é raro exagerar. Muitos deles nao poderiam ser eliminados, reestruturando-se as frases? O texto nao ficaria mais enxuto e melhor 10, de ser lido economizando esses que’s? Ao corté-los, proceda com ‘muita cautela, para no modificar o significado das frases. Quando tiver oportunidade, faga esse teste. . De vez em quando, modifique a forma como vem estruturando as frases para nfo tomar seu texto monétono e previstvel. Também mo- difique a maneira de enunciar ou de apresentar definigdes, teoremas, demonstragbes, etc. Néo se deve abusar da forma usual como alguns escrevem textos matemiticos, ordenando-os cansativamente com 0 esquema: definigdo-exemplo-teorema-demonstragdo-coroldrio-exercicios, definigdio-exemplo-teorema-demonstragdo-corolério-exercicios, definigdo-exemplo-teorema-demonstragdo-corolério-exerctcios,. Além da preocupagio com 0 uso da palavra certa no lugar certo, deye-se observar com toda atengdo a ordem das palavras ao estrutu- rar uma frase. O recado vale, principalmente, para textos mateméti- cos, nos quais simbolos e palavras se misturam. Palavras posiciona- pj para j = 1,2,...,n, entéo, necessariamente, 0 ntimero N possui algun fator primo pip, que & um dos niimeros primos anteriormente enumerados. Dessa maneira, observemos que, como pj, divide Ne divide 0 produto pyp2 ... Pn, ento py divide N — pypy...Py = 1. Ou seja, pjy divide 1. Absurdo, pois pjy € um niimero primo, conse quentemente maior do que 1. Portanto, nossa hipétese inicial de que existia apenas wn niimero finito de primos ¢ falsa e, assim, conclut- mos que 0 conjunto dos nimeros primos é infinito. C.Q.D.2 Demonstragéo (Verséio 2): Provaremos o resultado pelo método de redugiio ao absurdo. Consi- dere que exista apenas um ntimero finito de mimeros primos. Logo, € posstvel enumerar todos os ntimeros primos como ,Pa,--+ Pus A seguir, construa o nimero inteiro N = pyp2..- Da + 1. Ora, jé que N > pj para j = 1,2,....n, entiio, necessariamente, o niimero N possui algum fator primo pjp, que é um dos nimeros primos enume- rados anteriormente. Dessa maneira, observe que, como jy divide Ne divide o produto pips ...Pr, entdo pig divide N ~ pypa... Pn = 1, ou seja, pj, divide I, Chegamos entéo a um absurdo, pois pig & um niimero primo e é maior do que 1. Portanto, a hipétese inicial de que existia apenas um miimero finito de primos é falsa e, assim, 0 conjunto dos niimeros primos é infinito, C.Q.D. pact) pelorquehojeconhe como Teoria dos Nomeros. A obra destacou-se por se ineitsmo o tatar a Matemi- tien com umn modelo axiomatico, ulzando postulados edemonstragbesWgico-dedtivs. Com esse estilo, Evclides fundou 0 método aviomstco, infaenciando deSnitivaente © modo de fazer Ciencia, Pouco ficou regstrado sobre a vida de Bucides, mas sabe-e que também escreveuoutras obras sobre Matemsica, Astronomia, Optica e Misica. ‘Demonsiragao (Varsito 3): A demonstracdo sera feita por wn argumento de reducdo a um ab- 2C.Q.D. € a abreviagdo de “Como queriamos demonstrat”. No Item 17 da Segio 8.2 falaremos mais sobre 0 uso dessas ts letras. surdo, supondo-se que exista apenas um niimero finito de niimeros primos. Logo, é posstvel enumerar todos os niimeros primos como PisPoy--+ De O passo seguinte é construir o nimero N = pipp..-Putl. Ora, jd que N > p; paraj =1,2,...,n, entéo, necessariamente, 0 ntimero N possui algum fator primo pig, que € um dos niimeros primos ja enumerados. Dessa maneira, deve-se ob- servar que, como px, divide N e também divide o produto p1P2..- Pr entio pj, divide N —prp2.. Pn = 1. Ou seja, Pjy divide 1. Absurdo, pois pj é um niimero primo. Portanto, a hipdtese inicial de que existe apenas um niimero finito de primos é falsa e, dessa forma, se conclui que o conjunto dos niimeros primos & infinito. C.Q.D. Comentérios sobre redagGes anteriores: Em nossa opiniao, a melhor maneira de escrever uma demonstragdo € convidando os leitores para acompanhar as ideias do escritor. Para esse fim, vocé tem duas opgdes: usa sempre 0 nds (leitor e escritor) como na Versio 1, ou mescla 0 nds com 0 vocé, dirigindo-se ao leitor, como na Versio 2. Particularmente, preferimos a Versio 2, por parecer mais um diélogo entre escritor ¢ leitores. Usando esse estilo de redigir, 0s leitores tomam-se e sentem-se importantes ao compattilhar os passos da de- ‘monstrago que o escritor esté apresentando. Assim, talvez a leitura possa prender mais a atengilo deles e os faga sentir participando do proceso da construgdo do texto. Note nas duas primeiras versGes 0 fato dos verbos serem conjugados no imperativo: consideremos, defina, etc., € os pronomes pessoais nds e vocé nfo aparecerem explicitamente na redagao. 4 na Versio 3, usou-se a voz passiva, sem a participagao de qual- quer pessoa, tanto 0 escritor como 0s leitores parecem ter ficado fora do processo de redagio, Hé os que acham esse estilo muito impes- soal, sem interagdo entre quem escreve e quem Ié, Mas sao apenas opinides. Vocé tem a liberdade de optar pelo estilo de sua preferéncia. Nao hi necessidade de ser rigoroso nessa escolha, Hé escritores que mes- clam esses estilos, sem se prender estritamente a qualquer um deles, € € isso que recomendamos. HG ainda a opgio de redigir uma demonstragiio na primeira pes- soa do singular, usando o pronome eu, que no esta entre as ante- riores. Sequer vamos exemplificar esse estilo. Por ser tio pouco usual 0 vimos sendo usado apenas uma tinica vez. Muitos opi- nam que nesse estilo se constroi um texto egocéntrico, recheado, com frases do tipo: “Eu vou agora provar”, “conside- © que”, “observo que”, “acabei € parece ser também a opinido de todos, com excecio do teimoso solitério que usou esse estilo. de demonstrar” ete. Essa é nossa opinitio, 2. Um dos usos do se, muito comum na Matemética, € como conjun- do condicional. Ao usé-la numa frase referente a algum resultado dedutivo, geralmente complementa-se a frase com 0 advérbio entao. Exemplo: “Se a soma dos algarismos de um nimero é divistvel por 3, entiio 0 niimero é divistvel por 3.” OBSERVAGAO: note o uso da virgula: ‘Se P, entao Q’, 3. No caso anterior, as vezes a palavra entéio pode ser suprimida, mas condicional e dedutivo a frase. Exemplo: “Se a igualdade vale, temos. _-deve.ser substitufda. ras que ainda deem um sentido Pa} Lomo se escrevesumitextormatematico — I “Se as condigdes (1), (2) e (3) se verificam, valem as seguintes as- sercoes i ete, Entretanto, evite frases do tipo: “se n>2,n3>8." Nesse caso, a auséncia da palavra entdo s6 atrapalha o entendimento. Prefira escrever, por exemplo: “Sen > 2, entdo n > 8.” ‘Um outro exemplo do mal uso de uma virgula numa frase dedutiva: b “Como a po hb=oa+d)." Toma-se bem mais inteligivel éscrever: b “Como a =~ — a tem-se b= o(a+ a)” Nao se pode comegar uma frase com 0 se, ¢ somente se. Nao faz sentido! Se, e somente se é um conectivo légico usado para conec- tar duas sentengas mateméticas, cada uma podendo ser deduzida da outra, Errado:*Se e somente se uma reta é paralela a uma reta de um plano é que essa reta é paralela ao plano.” A frase correta é: 2ck_ Sugestoes tecmicas paravazer uma vow reuuyau macimauca “ 5. Expresses matemiticas fazem parte de um texto matemético e se misturam com palavras. Por isso, no contexto geral, devem set encaradas como frases, estruturadas com sujeito e predicado, is cluindo o verbo. Assim, elas no devem fugir as regras de pontu- ago. Acostume-se a também pontuar expresses matemiticas. Exemplos: “Consideremos niimeros «,y € Z, tmpares, tais que x* > 8y — 2e ¥ <2, Dessa maneira, ...” z “Desenvolvendo a expressdio (9.32), encontramos YP +30 = Portanto, a curva procurada é uma elipse.” Observaciies: ) Observe o uso do ponto na pentiltima linha do segundo exemplo, mesmo tendo sido a frase encerrada com uma expressdo matematica. b) Ressaltamos o cuidado com o ponto e virgula (;) quando usados em expresses mateméticas, pois denotam a expresso ral que. Exemplo: “Defina o conjunto 2N = {2n;n € N}.” 6. Muitas vezes, é preferivel escrever uma equago em destaque, res- saltando a importincia dela no contexto. Observe: “Uma reta é paralela a um plano se, e somente se, ela é paralela a uma reta desse plano” OBSERVACAO: atente para 0 uso das virgulas: “ ...se, e somente Se,” “Para resolver a equacao ax* + br +c professores aconsetham usar a formula: —b+ VP = Fac Ta a # 0, a maioria dos 28. 7 Como se escreve um texto matemético ~ II ‘Veja como a férmula ficaria com bem menos destaque, caso escre- 3 ‘yssemos: “para resolver a equagdo az? + ba + c= 0,0 0, amaioria dos —b+: vbr Fac 2a professores aconselham usar a formula Quando possivel, escreva uma expressio matemética em uma mesma linha, sem quebré-la. ‘Além de esteticamente feia, a frase a seguir pode suscitar dividas: ‘B importante os alunos saberem que para resolver uma simples equag&o do segundo grau am tc +e = 0,a # 0, deve-se usar a formula: —bt VP fac ,, 2a" E preferivel escrever: “E importante os alunos saberem que para resolver uma simples equagdo do segundo grau ax? + bz + ¢ = 0,0 # 0, deve-se usar a formula: —b+ vi? —4ac 2a Complementando o item anterior, caso a expresstio matemiitica seja muito longa e néo for possfvel escrevé-la em uma mesma linha, ‘aconselhamos quebré-la no local onde aparecer uni dos simbolos <,>,S,2,bs—+ ete. seguindo essa ordem de prioridade, ‘Ao quebrar a expresstio em um dos simbolos acima, muitas vezes © simbolo é repetido no comego da linha seguinte. Por exemplo: 2.2. Sugestbes técnicas para fazer uma boa tedago matemitica 2 «1290-4.1900-+ 1400 + 1500 + 1600-+ 1700-+ 1800+ 2000 +2100-+ 442200 + 2300 + 2400 + 2500.” ou abd < Hi + 1500 + 1600 < seni 700° + 1800 + 200+ 2100 < < 22008 — 2300 + In200 + 2500.” De qualquer maneira em que uma expresso matemiética precise ser quebrada, deve-se sempre procurar a mais adequada, que facilite 0 entendimento dos leitores. Suu 96 SSUICyE UITEERIO THALEMIAUCO — Comentarios sobre a figura da pgina anterior Essa é uma versio de Os Elementos de Euclides. Essa versio, dentre varias produzidas ao longo do tempo, € um manuscrito grego do Século IX, preservado na admirivel Biblioteca do Vaticano. © texto € do Livro I, Proposigio 47, justamente 0 decantado Teorema de Pitégoras, 0 teorema mais famoso de toda Matematica! O desenho no centro da pagina & direita indica que realmente est se demonstrando 0 Teorema de Pitégoras. Observe os escritos, em letras menores, circulando o texto principal. ‘As figuras na pagina & direita da ilustragZo, ao pé da pégina, parecem ter sido desenhadas posteriormente ao texto, por algum leitor que estudou © manuserito

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