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EM FOCO y ene ele eeec 126, 2018.2 RESUMO, te artigo discorre sobre como 0 Contato Improvisacao (Cl), apartir da relagao como chao.com aquedae com ahorizontalidade, pode nos ensinar outros modos de estarno mundo. Um caminho para dangar Cl se da pelo campo do sensivel, da propriocep¢ao, da escuta e da sobrevivencia, sa perspectiva aprofunda os processos de percepeae de si, do outroe do espaco, edecamoa forgada gravidade age sobre 0s corpos ea maneira como esses corpos se organizam em relagao verticalidade. Esquiva-se da narrativahegeménica da cultura sacioecondmica, que elogis alto, ‘a ambigfo de estar no “topo”, hem como as comportamentos socials habituais de tentativa de controle da verticalidade. Na busca por tornar esse vetor mais flexivel, a prética do Cl propde o exercicio da desorientago, da queda e do.amor® gravidede e&horizontalidade. Desse modo, essa prética pode praporcionar uma condicao de resiliéncia que nos ajuda # sobreviver 8s inevitaveis uedes, sejam eles resis ou metaforicas. Essas pratices cotidienas no corpo de quem dangs Cl compGem posticas que inscrevem agGes politicas alternativas ao referido status quo, 4 ABSTRACT This article discusses how the Contact Improvisation (C)), from the relationship with the ground, with the fall and how horizontality can teach us other ways of beingin the world. One way todance Clis through the field of sensibility, proprioception, istening and survival. This perspective deepens the processes of perception of seif, of the other, of space and of how the force of gravity acts on bodies and how they organize themselves in relation to verticality. Dodging the hegemonic narrative of socioeconomic culture that praises the high, ambition to be at the top, as well as habitual social behaviors of attempt to control the verticality. In the search to make this vector more flexible, the practice of Cl proposes the exercise of disorientation, fall and love of gravity and horizontality. In this way, this practice can provide a condition of resilience that helps us to survive the inevitable falls, be they real or metaphorical. These daily practices in the body of those who dane Cl compose poetics that inscribe alternative political actions to the said status quo, 4 RESUMEN Este articulo discurre sobre como el Contacto Improvisacién (C)) 4 partir de la relaccién con el suelo, conta caida y de la horizontalidad, puede ensefiarnos otros modos de estar en el mundo. Un camino para ballar Cl se da por el campo del sensible, de la propriocepci6n, de la escuche y de la supervivencia, Esta perspectiva profundiza los procesos de percepci6n de sf, delotro, del espacio de como la fuerza de la gravedad actba sobre los cuerpos y la manera como éstos se organizan enrelacién ala verticalidad. Esquivase aa narrative hesemdnica de a culture socioeconémica que efogia a alte ambicion de estar en le cima, asi como los comportamientos sociales habituales de intentar controlar fa verticalidad. Ena busqueda de flexiblizar esse vector la practica de Cloropone elelercicio de la desorientacion, la calda y el amor de la gravedad y la horizontalidad. De este modo, 106 /REPERT. Salvador: / 2021.7. 51 105-126, 20182 PALAVRAS-CHAVE Corpo. Queda. Contato Improvisac30.Gravidade. Danga. Kevworos: Body. Fol. Contact |Improvisaton, Grow, Dance PALABRAS CLAVE: Cuerpo. Ceida, Contacto |Improvisacién.Grovedod. ‘sanza RODUCAO Neste momento em que escrevo, eu, Fermanda, me dou con- ta de que se passaram 20 anos de minha primeira experiéncia em uma aula de Contato Improvisacao! (Cl). Isso aconteceu em janeiro de 1998, no Movement Research, sob a orientacao de K. J. Holmes. Lembro-me de meuarrebatamen- to com essa experiéncia recordando a profundidade das sensagGes fisicas, as emogdes € os pensamentos que reververam em meu corpo desde aquele die. Tive a certeza de que ali, naquela forma de movimento, havia grande riqueza de conhecimentos a ser vivenciada, dada a ruptura que senti. Era uma percep¢ao de movimento a ser desbravada e revelada, um imenso campo de conhecimento a ser desenvolvido ¢ explorado. Hoje, comas leituras somadas as experiéncias ao longo dos anos, sao factiveis as minhas impressdes iniciais, uma vez que a perda do equilibrio na queda é uma das premissas na técnica do Cl. E importante destacar que o Cl é resultado de uma pratica e fisicalidade que se originou em torno da denca pés-moderna america- na, com forte influéncia de técnicas e de métodos do que veio a se constituir a Educagao Somatica’ enquanto um conjunto de praticas corporais voltadas para a consciéncia, a percepgao e a analise do movimento do corpo. Contact improvisation foi ‘cunhiada.em 1972 por Steve Paxton, entre outros fortes colaboradores, des- taca-so Nancy Stark Smith ‘come uma das grandes itusoras dessa pritica. Nancy esteve no Brasit ‘em 2008, por ocasiao de um projeto de dez dias de ‘oficinas.jams perfor- rmances financiada pelo Fumproarte, da Prefetura dePorto Alegre. 2 Movement Research ~ avehicte For moving Ideas & um dos prncipais, laboratérias do mundo para _ainvestigacao de formas de ddanga e movimento 2 K.JHolmesé uma artis- ta independente da danca, cantora, poeta eatriz, haseada no Brooklyn, Nova locque. Farmada tambérn pela The School for Body- Mind Centering” (SBMC) ‘com Bonnie Baintridge Cohen (1399). 4 Aeducaga0Somatics 4 um conjunto de prticas corporais e métodos edu- ‘cacionais que visam 3 cons éncia do corpo através do movimento e que perpas- ‘samasareas da arte, da ‘saidee da educacao. Flas ternaram-se conhecidas partir de diferentes _abordagens eexperiéacias ‘de educaco do corpo pelo movimento e peta busca ‘da unidade corpo-men- te. Entre os exemplas ‘depraticas no ambito da ‘ecucacd0 somstica temos ‘osmétados desenvalvidos A conferéncia realizada no Brasil por Ann Cooper Albright intitulada “Caindo na Meméria"® é também uma grande inspiradora do tema deste artigo. Albright (2013) relaciona meméria e queda, e como ambos representa deslizamentos através do tempo e do espaco, antes € depois, sentidos no presente, reorienta- Ges de estar em cima ou embaixo, Para a autora americana, a queda das torres gémeas, o World Trade Center,® em Nova York, em 11 de setembro de 2001, a queda de status sociais, bem como as quedasna economia, a queda de partes dos corpos, como os seios das mulheres, entre outras tantas quedas, so exemplos que nos levam a rever as expectativas de como 0 corpo pade estar no mundo, literalmente ou metaforicamente. A partir do destaque de experiéncias fisicas de queda e meméria, ela propée a prética de Contato Improvisagdo como uma forte ferramenta para aprender a“..] cair com graga em vez de cair em desgraca’ (ALBRIGHT, 2013, p.49) Este artigo se embasa em referencias pr ¢ reflexivas especializadas da pratica do Cl em diferentes nogdes de queda do licas, tedricas corpo e ainda em experiéncias pessoais das autoras.” Cabe destacar também que, ao elegermos o Cle a queda do corpo como refe- réncias, acreditamos flexibilizar alguns valores associados as posturas do corpo construidas ao longo dos séculos em torno da verticalidade. A verticalidade do corpo, que a arte do balé classico® representa de modo exemplar, esté afinada comuma cultura hegeménica construida a partir do século XVII, que superestima oideal de corpo a partir da verticalidade e da “elegancia” do corpo. Isso & reflexo de uma heranga sociale cultural ocidental, construida ao longo do tempo através do que veio a ser designada educacao do corpo. Uma grande parte das restricdes a0 corpo no Ocidente inicia-se na sociedade de corte, considerada por Norbert Elias (1990) o bergo da fabrica do homem civiizado e moderno. Adanca, enquanto meio décil de domesticacao do corpo e postura ideal, simbolo de distincdo da nobreza, em que a verticalidade do corpo é realcada e almejada, colaborou de modo significative para esse proceso civilizatério de “etiqueta” do corpo, Os comportamentos ditos civilizados foram difundidos a partir de Luts XIV, €poca em que se deu o nascimento de uma rede de processos colonizado- res, Para Elias (1990), a ascensao do conceito de civilidade nas sociedades da monarquia europeia marca o inicio da condenagao dos exageros corporais até 108 REPERT. Salvador / ano). 7. 51 105-126, 20182 or Mathias Atexanaler, Moshe Feldenkrais, maard Barteneff, entre outros. No Brasi,cabe destacara ‘atua¢30 da familia Vianna (Angel Vianna, Kiauss Vanna e Rainer Vianna) @ Ge lvaldo Bertazzo. A cria (00a revista Somatics oa publicagso do artigo Whae Is somatics? de Thomas Hanna em 1986 foram mar- cos para oreagrupamento {ess9s praticas enquanto tum campo de conhecimento com a foco na experién- a do movimento vivido, consideranco aimpor- tBncia da experiéncia da primeira pessoa através da observacio subjetiva das sensacoes, 5 Artigo transcritoa partic ae conFerénela apre sentada no Vil Congresso da ABRACE em 2012, Porto ‘age. Ver Aubright (2013). 6 World Trade Center (WTC) era um comptexa ae e:ficos na regido de Lower Manhattan, Nova lorque, Estados Unidos, naugura- ‘oem 1973, 7 Esteartigo raz parte ae estudo maior incitutado “Sul ‘em Contato: um Festivat e Contato Improvisacao fe seus rastrosna forma- (80 de corpos dancantes", desenvalvidonoPPGAC- UFRGS, 8 Obatletcléssico busca nos ludir de que 3 gra (ade fol superada através seussaltos, gros eequili= bios em pontas, tendo af sua forga enquanto gest Virtual (LANGER, 1980) De modo algum, queremos dizer que os bailarinos cléssicos no sabem cai, unde desenvolvem senso proprioceptive eficiente entao valorizados na sociedade tradicional da época, dentre eles a embriaguez, a comilanca e até a beleza da gordura dos corpos, simbolo de prosperidade. A partir dessa perspectiva, comeca, na sociedade, a se delinear 0 corpo ideal do homem modero: considera-se entéo o corpo contido, refinado e altivo, Os respingos dos valores dessa aristocracia europeia em ascensao fizeram-se valer nas colénias europeias, como 6 0 caso do Brasil? Esse ideal europeu de postura econduta corporal, coma valoriza¢ao da verticalidade, ainda funciona como mo- delo fortemente valorizado na sociedade e, de certo modo, perdura em grande parte das artes cénicas enquanto ideal de praticas corporais. (ROMANO, 2013) E nesse sentido que, neste artigo, referimo-nos a hegemonia de valores associados verticalidade enquanto dominio ideal do corpo. No caso do Cl, hé uma busca de flexibilidade frente a esse vetor de verticalidade: trata-se da exploragao da queda coma observacao do sentido de desorientacao, e ainda areflexividade na nogao icos, como demonstra Albright (2001, 2013), quanto em termos de valores somaticos, como aponta Steve Paxton’? (1987, de queda, tanto em termos simbe 1997a, 1997b, 2015). Reside nesses aspectos simbélicos e somaticos a reflexdo proposta por esse artigo tendo a queda no Cl como um dos temas principais. RESSIGNIFICANDO A QUEDA Temos lei da gravidade como uma lei constante em nossa vida: estamos submetidos a ela enquanto estivermos na Terra. Viverios nesse movimento de descer € de subir, de deitar e de levantar, de cair e de recuperar a verticalidade todo o tempo, inconscientemente por ser onipresente. O proprio caminhar 6 uma queda e uma recuperagao constante. A dancaé a arte que tem como uma das principais caracteristicas a relacdo com a gravidade, pois “..] cada movimento é,na verdade, uma danga com a gravidade", (ALBRIGHT, 2013, p. 58) Rudolf Laban,” entre os importantes nomes que “abriram terreno” para o movimento somatico!? (EDDY, 2009), compreendeu de modo precursora relacao do homem com a gravidade e a organizagao da transferéncia de peso do corpo 109 REPERT. Salvador: / ano). 7. 51 105-126, 20182 pelo ato de nao trabatna- rem especficamente com praticas das quedas e bus- carem suaforca naattivez Go corpo, 9 Nopetiode do Brast Império, com a vinda da corte portuguesa para ca, aparece um dos primeicos mate a danser(mestres a danca) na cidade do Rio «e Janeiro, Lou's Lacombe. (TAVARES, 2013) 10 Steve Paxton é coredgrato, dangarina e pe 4agogo americano. Ginasta se Formacao, dancou nas ‘compan de José Limon Merce Cunningham. Paxton & cansiderado um {os principats fundadores Contact improvisation. 11 Rudolf Laban (1879-1958), nascido na Bratislava época Império Aystro-Hingaro, desen- volveu seutrabathona Alemanna e na inglatera, Criou importante método paraanstise do movimen- ta, Internacionatmente abreviada por LMA (Laban Movement Analysis), sada para descricso {do movimento cénico ou cotiiano, uthizada também coma técnica dacorpe na teatro, na danga ena danga terapia.Criou também um sistema de sinas réficas elaborados pararegistrar ‘0s movimentos do corpo labenotaton 12, Martha Eddy (2009) lista Francois Delsarte (181-1879, Emite Jacques Dateroze (1865-1950), Rudolf Laban (1673-1958), Isadora Duncan (1878-1927) Mary Wigman (1886- 1873) como artistas que ajudaram a preparar oter- rene para surgimento do como origem do “projeto motor”, tanto de modo individual quanto cultural, Para ‘Suquet (2008) a grande intuigao de Laban foi articular a meméria com relagaoas leis da gravidade. Do outro lado do oceano, a filésofa americana Susanne Langer (1980), nos anos 1950, na busca por entender a especificidade do gesto na danga, ja apontava a gravidade como algo primordial a danga se comparada a outrasartes. Para a autora, a gravidade é um desafioa ser conquistado por parte do dangarino, uma relacao de particularidade que resta atual para pensarmos a danga e suas manifestacdes enquanto gesto e movimento No dia a dia com a gravidade, nés, dancarinos, aprendemos a confiar no nosso senso proprioceptivo, preparando 0 corpo para respostas possiveis as diversas si- tuagdes em que ele possa se encontrar. As técnicas e praticas sométicasbuscam valorizar a conquista do autoconhecimento através da experiéncia vivida, sentida, ou seja, a nossa habilidade de perceber e influenciar nossos processos internos como relevantes do corpo em movimento. Em outras palavras, sao praticas que promovem técnicas corporais e de movimento capazes de evidenciar a qualidade de nossas sensacdes e denossas dinamicas cinestésicas favorecendo assim uma pratica reflexiva, Em consondncia cam a Educacao Somatica, a aprendizagem ea estética em Cl recusou 0 olhiar ao outro ou a si através do espelho, como 0 fazem, de modo geral,,algumas técnicas corporais de danca, que trabalham com modelos visuais, modelos diretivos, tal como o ballet e muitas das praticas de danga moderna. Propondo um modelo alternativo a esses modelos diretivos, a génese da técnica de Cl trabalha com a sensacao do corpo, coma percepgao de seus sistemas e suas estruturas internas* conforme se configuram em relacao a si propria, ao outro e ao espaco. Tal como uma das premissas do movimento somiatico (EDDY, 2009), trata-se de uma énfase no corpo como um processo fisico, objetivo e, ainda, atentivo ao proceso subjetivo da consciéncia a partir da experiéncia vivida, ‘Segundo Martha Eddy (2009) 0 propésito da educacaoe da terapia do movimento soméatico € melhorar os processos humanos de conscléncla e funclonamento psicofisico através da aprendizagem do movimento. Essas praticas fornecem as condigdes de aprendizagem para que o individuo possa: 10 /REpERT. — Satiasor, / ano). 7. 51 105-126, 20182 ‘movimente somatico come ‘uma forga vkal em nosso ‘mundo atual, Segundoa autora, eles molaarama cultura na qual os pionei- ros somsticos primarios lestavam trabalhando; a autora destaca também a Importancia de Margaret H'Doubler (1889-1982), por seus estudos de dangasno s0l0 e estudos de bologia. 13 Olivra Feeling and Form, de Suzanne Langer, fol publicado peta primeira vez nos Estados Unidos no ano de 1953. 14. Schmid (2017) destaca que oespirto dos anos 1970 folmarcado petas ates mar- ais, plas dangas de pés descaleose por formas de terapia com éntase no movt- ‘mento eno corpo, 05 quai, nos pases de tinguainglesa, foram designadas como somaticas, ov movimento somatco, Onascimento do Cleresceu junto cam essas pritcase 6 fortemente inftvenciago por elas. [..] concentrar-se no corpo como um processo fisico objetivo © como um proceso subjetivo da consciéncia vivida; refinar a sibilidade perceptiva,cinestésica, proprioceptiva einterocep- tivaqueapoiaahomeostase e aautorregulagao; reconhecer pa- drdes habituais de interacao perceptiva, posturale de movimento ‘com o meio ambiente; melhorar a coordenagéo de movimentos que suportam integracao estrutural, funcional e expressiva. AS experiéncias envolveram sentido de vitelidade e ampliaram as capacidades de vida. (EDDY, 2008, p. 8) Outro aspecto da génese do Cl é a sensacao do peso de si e do outro, ou seja, 0 didlogo ponderal realizado frequentemente pelo duo, que acontece por meio de sensagdes dinamicas de troca de peso, entre meu corpo e ofs) do(s) outro(s}, envolvendo didlogos corporais. (SUQUET, 2008) Por isso, muitas vezes, no Cl sao Utilizados os olhos fechados oua visao relaxada para uma perspectiva per a relacao do corpo com a gravidade é examinada nao s6 no eixo vertical, mas ‘erica, também em experiéncias de deitar, agachar, sentar, rolar, agugando outros sen- tidos, especialmente o tato, para orientar o corpo. O alinhamento corporal esta mais proximo das relagdes internas de posicdes e de esforgos do corpo do que emrelagao a verticalidade com o faco de uma determinada orientacao de visao. Nesse aspecto, Suquet (2008) entende o corpo dangante como um laboratorio da sensagao, da percepgdo e da propriocepgao. Também, ressalta 0 tato como um sentido revolucionério do Cl, uma danga desenvolvida na época de difusdo da contracultura americana nos anos sessenta e setenta e também no periodo de organizacdo dos métodos intitulados sométicos, Assim como K. |. Holmes, expoente da segunda geracao do Cl, tem uma s6li- da formagao somatica de Body-Mind Centering™, método criado por Bonnie Bainbridge Cohen, muitos sao os professores de Cl que fazem uso de concei- tos e ferramentas de técnicas de Educagao Somatica em suas aulas. No Brasil ena América Latina, por exemplo, destacam-se professores, tais como Camillo Vacalebre,'* com formacaoem Técnica Alexander" e Eliana Bonard® que trabalha como Sistema Consciente de Fedora Aberastury. Aprendemos muito com estar no chao, sentir nosso esqueleto, saltar 0 peso e as excessivas tensdes muscula- res, observar as posigdes dos ossos, as articulagdes, os reflexos e as inibigoes. AM / Revert. Satvador 7 021,93, 105-126, 20182 15 Rnorte-americana Bonnie Bainbridge Cohen ddesenvalve um métod que aborda aanalise 2 rena ‘roniza¢ao do movimento, cujosprinclpiose préticas podem ser encontrados no seu ivr: Sent, perceber agir educacao somética pelo método Body Mind Centering" (2015) No ivro lencontram-se entrevs: tase artigos publicados originalmente pela revista rte-americana Contact uarterty, 0 ave demons- lea.aaproximacao entre o métada #0 ct 16 Camilo Vacalebreé ballarino Ratana interna- conalmente conhecido, memoro da Associaca0 Brasileira da Téenica de Alexander. 17 Téeoica de Alexander 6 uma pratca corporal baseada ns experiénciae na odservacae individual 2 Fim de aiviar tensbes-eree- car certos movimentos @ cettas posturas. Essa pré Lica ft criada por Frederick Mathias Alexander. 18 Eliana Bonard é dan- carina e professora de Cl ra Argentina eesteve em Porto Alegre em 2008, no Festival SuLem Contato, quando ministrou oficina rmesclando Cleo Sistema Conscionte de Fedora Aberastury(pianista e pedagogs chiteno-argen- tina criadora do Sistema Consciente para Técnica de Movimento), Essa aprendizagem, muitas vezes, requer um longo tempo para que saibamos sentir e entender aquilo que é consciente ou nao. E preciso reconhecer ¢ inibir certos movimentos que muitas vezes sao incons- clientes ¢ condicionados pela cultura em que estamos inseridos e pela histéria comportamental de cada um, € tanto nds, que estamos dangando e escrevendo este artigo, como provavelmente vacé, que o esta lendo, somos criadase criados dentro de uma cultura capitalista, que nos incentiva a querer um actimulo de riquezas, a subir degraus, a chegar ao topo - o que exige uma tensao crescente reflexa em nosso corpo. Desta forma, para soltar 0 peso, ajustar o tonus muscular erealinhar nossos ossos earticulacdes, precisamos aprender a desaprender ea reaprender.# Suquet (2008, 535) também menciona que os pressupostos do Cl “[.]implicam uma visdo poética, mas também politica, da relago ao outro... 0 corpo do contacter atesta que ele nao quer apoderar-se dos seres e das coisas, e essa atitude emblematica de todo um setor da danga contemporanea’. A improvisagao por contato nao 6 a Gnica técnica em danga a praticar a queda; técnicas contemporaneas, camo o butoh, o hip hop, entre outras, valorizam ouso do solo e as quedas do corpo. E importante destacar que algumas técnicas de danga moderna, como as desenvalvidas pelas coredgrafas expressionistas ale- mas Mary Wigman® e Hannya Holm,” entre outras, tinham a queda como parte de seus ensinamentos, 0 que jé demonstrava novos valores trazidos pela Danga Moderna na busca por romper coma verticalidade da cena teatral. As coreégra- fas da danca moderna americana Doris Humprey®? e Martha Graham? também so exemplos do uso da queda nos seus diferentes niveis no espaco. Segundo Novack (1990), Thrisha Brown* coreografou Light-fall (1963), uma criagao que estudava a nocao de queda e tinha Thrisha e Steve Paxton como dancarinos. Essa criagao teria certamente influenciado Paxton, conformeas autoras Novack (1990) e Banes (1987). Mas qual é 0 diferencial do Cl no estudo da queda frente a outras praticas de danga? Acreditamos que o Cl, além da pratica de cair de ind- meras maneiras, desde o minimo rolamento da pele até os grandes movimentos acrobaiticos e de impacto, agrega a reflexao sobre as agdes de queda 112, / REpERT. — Satiador, / ano). 7. 51 105-126, 20182 19 Nosinspiramos aqui ‘em Mignolo,em sua colocacio de que “a opca0 descolonia signiica, entre cutras coisas, aprender 3 cfesaprender (como tom sido claramente areulage no projeto de aprendizagem Amawtay Wasi, voltarel 2 Isso, j8 que nossos (um vasto nimero de pessoas a0 redor do planeta) cére- bres tinnam sido progra- ‘mados peta razio imperial colonial’. MIGNOLO, 2008, p.290) “Aprendera \desaprencer ea reapren- dar" 6 oterceiro de cinco nivels de aprencizagem na Pluversidad Amawtay Wasi (Universidade Intercultural as Nacionalidades e vos Incigenas Amawtay Wasitocaizada no Equador). Para mats infor- magbes, ver Rosa (206). 20 Mary Wigman (1885- 1973) coredgrata, danga- rina e pedagoga lems, raseev em Hanover na ‘Alemanha. Wigman foi uma as principaisreprosentan- tes ca corrente exprassio rista, partdéria da danga Livre. Discipula e colabora- dora de Rudolf Laban, 24 Hanya Holm (1803- 1992) coreégrata, dancari- ae pedagoga americana de origam alem3, Nascou fem Worms na Alemanha emuda-se para NYem 1931para abrir a escola de Wigman, de quem foi atuna, 22 Doris Humphrey (1805- 1958), corebgrata,dancarina ' pedagoga americana, nas- ‘ev em Oak Parke cresceu em Chicago, nos Estados Unidos. Deservolveu na ddanga uma exploragso de ives do corpo conhecidos ‘como queda erecuperacso (alt and recovery, Os textos de Steve Paxton e Ann Cooper Albright aqui citados, bem como ind- meros artigos de outros autores da Contact Quarterly5 constituem uma fonte de riqueza reflexiva para compreender a ac¢ao de cair. Nesse sentido, a comu- nidade do Cl destaca-se em refletir sobre sua pratica através de seus festivais, encontros e, sobretudo, publicagées, constituindo-se, assim, como a busca de uma pratica corporal em danca de pretensao reflexiva com énfase no movimento vivido, experimentado, explorado. PRIMEIRAS QUEDAS Para ilustrar um pouco do que quero dizer relacionado a re- aprender, falarei a partir de minha experiéncia com meu filho, Juan, quando ele iniciava suas aventuras de movimentos auténomos de engatinhar, tentar ficar em é, andar, apoiar-se para subir e cair, Desde seu nascimento, interesso-me tanto pelo desenvolvimento de sua psicomotricidade quanto pela minha relagao cor- poral com ele. Uma conversa com o bailarino Itay Yatuv** foi iluminadora quanto a quedas. Itay ficou conhecido mundiaimente aps um video seu (YATUV, 2011), dangando Cl com sua filha Sophie, de 2 anos, haver viralizado na internet. A partir de tantos pedidos de pais para que hes ensinassem a dancar com seus filhos, ele foidesenvolvendo o que chamou de Contakids. Eu o conheci em 2011, no Freiburg Contact Festival (Alemanha) e, quando, dois anos depois por uma conversa por Skype, eu perguntei-Ihe sobre como praticar Contato com outros pais e bebés, ele me falou que eram os pais que precisavam ser ensinados a transmitir confianca e permitir que seus filhos caiam, Em sua fala no TEDxBGU,”’ Yatuv (2012) conta um episddio, em espaco plblico, quando estavaaumacerta distancia de sua filha observando-aexplorar seus mo- vimentos na tentativa de tentar ficar em pé sozinha. Certa vez, quando elaestava quase caindo, imediatamente dois adultos foram a ela com olhar de terror para salva-la. Ele achou divertido nao sé os olhares, sem dilvida repressivos dirigidos a ele por “negligenciar a seguranga de sua filha’, mas a atitude de indiferenca de M3 /REpERT. Salvador / ano). 7. 51 105-126, 20182 23 Martha Granam (1894 1991 coreégrafa, dancarina pedagoga americana, aseeu em Pitsburg, nos Estados Unidos. A técnica de Graham seusliza do Inémaras posicbes na no- rizontalidade, concentran- o-se narespiracao entre contracao (contraction) expans8o (release). Outro principio dominanto 2 spiral da torso a0 redor do ‘exo da coluna 24 Thesna Brown (1936-2017), coreégrafa, ancarina © pedagoga americana, nasceu em Aberdeen, nos Estado Unidos. Consigerada uma «as fundadoras da danca és-maderna eda Judson Dance Theater. 25 Contact Quarterly -2 vehicle for moving ideas & uma revista internacionat {de danga, mprovisa,30, performance e artes do mavimente contamparaneo, fundada em 1978 por Nancy ‘Stark Smith Lisa Nelson, Steve Paxton, Daniet Lepkoff e Elizabeth Zimmer. 26 Autista sraetense, ‘iretor da Escola de Danga Hakvutza, tay tom praticado eensinado Cl or 15 anos, Nos ittimos. ‘anos, vern desenvotvendo Contakids, com criangas ® pais dancando juntos. 27 TED (acrénimo de Technology, Entertainment, Design; em portugues: Tecnologia, Entretenimento, Planejamento) & uma série de conferdncia reaizadas ra Europa,naAsiaenas Américas pela Fundac30 Sapling, dos Estados Unies, sem fins lurativos. Sophie ao tentar subir mais uma vez e muitas outras vezes cair. Ele relata que, observando as brincadeiras com interagées fisicas entre pais ¢ filhos, perce- beu que, quando os pais estavam confortaveis com 0 jeito com que se moviam, 08 filhos também estavam confortaveis e se divertindo com a situacao. Porem, quando os pais estavam apreensivos ou estressados, 08 filhos sentiam cada uma dessas reagées. Entao, ele discorre sobre como se dé a comunicacao nao verbal em Cle sobre a necessidade de decisées instantaneas na improvisagao, que revelam muito de nossos habitos comportamentais, produtos da nossa ex- periéncia de vida. Segundo Itay, por exemplo, se uma pessoa costuma ser mui- to falante, propositiva e criativa, provavelmente sua danca também serd assim, com muita proposigao de movimentos. Ou, se uma pessoa é boa ouvinte, habil em se conectar com os outros, provavelmente ela poderd ter dangas de maior complexidade. Ele defende que, no Cl, podemos reconhecer nossas proprias tendéncias por meio da passividade, da iniclativa, da manipulacao, do jogo, da busca do fluxo harmonioso ou da tendéncia de quebrar certas diregdes e buscar por surpresas. Com essa percepedo, podemos estar conscientes desses padrées de comportamento e até brincar com eles. Conclui que nés podemos aprender com as respostas fisicas como ferramenta efetiva positiva no jeito como nos comunicamos e nos comportamos com o mundo. Refletindo sobre isso, sigo praticando um olhar atento e curioso em relagao a0 meu filho, oferecendo suporte corporal para que brinque e se apoie quando quiser € permitindo- Ihe cair livremente enquanto explora sua fisicalidade. Procuro nao transmitir medo ou estresse frente a uma queda segura, alertando-0 dos riscos, e atendé-lo carinhosa e calmamente frente @ um eventual machucado, Passe da mesma forma, a observar outras relagées parentais e os comportamentos tranquilos ou frustrados em relagao as quedas das criancas. Cair faz parte da vida e nao precisa significar um problema, um erro, uma falha. Inclusive, pode ser intencional e divertido, como reconheci que meu filho, agora com quatro anos, brinca de cair para puxar risadas e conquistar amigos. Cair, paraele, pode ser um sucesso social Para Bonnie Bainbridge Cohen, a maneira como lidamos comnossos filhos quando. criangas reflete a maneira camo fomos criados. “Nao é apenas por instinto,mas por habitos de movimentos aprendidos - a sua propria padronizacao”. (COHEN, 2015, 14 / REPERT. Salvador, / ano). 7. 51 105-126, 20182 1.206) Ressalta que, para a crianca, oimportante € 0 prazer que os pais tem com ela, Se os cuidadores expressam entusiasmo com os movimentos da crianga, ela ir&sesentirbem consigo mesma. Se 0s pais a olharem echamarem asua atencao por causa do que consideram ser seus problemas, a crianca ira pensar que esta fazendo coisas erradas para estar gerando tanta preocupacao e tensao. Cohen (2015) discorreainda sobre a importancia, para o desenvolvimento psicomotor do bebé, de os pais se colocarem no chao junto ao filho para sua satisfacdo sociale, assim, a crianga desejar sentar e se verticalizar como os adultos fazem. De outra forma, seas adultos sempre estiverem a longe, noalto, ea crianca no chao, sendo colocada sentada ou sempre movida de um lugar para outro, ela poderd nao se mover com uma sequéncia padrao eficiente. (COHEN, 2015, p. 208) O exercicio da queda é uma pratica fundamental no Cl, sejam quedas muito pe- quenas, como na pequena danga,% sejam elas mais vertiginosas, como cair do alto do ombro de alguém. Muito do que queremos aprender em Cl é transpor a calma de estar apenas observando as reflexos do corpo se mantendo em pé para momentos de queda e retreinar o corpo para que amplie seus membros ¢ distri- bua mais as areas de impacto, e ainda inibir ages, como nos agarrar, contrair ou prender a respiracdo quando perdemos 0 chao*®. Boa parte desse treinamento est na substituicdo do nosso julgamento de que cair é uma falha, pela sensa- G0 na queda. (ALBRIGHT, 2013, p. 59) E, se temos em vista que caimos muito quando crianga, perdemos nossa performatividade da queda, ou seja, a queda enquanto um valor de se explicitar, de mostrar-se, de se permitir cair, enfim, 0 consentimento da queda A sensagao dard informagdes para que nosso corpo responda da forma mais eficiente para sobreviver as quedas. A eficiéncia pode ser resultado da percep- 0 e da consciéncia do corpo, do estado mental e da canalizagao do impulso de uma descida vertical em um percurso horizontal. Com o exercicio voluntario da queda, com o habito de cair conscientemente, o corpo vai aprendendo a ter reflexos mais tranqullos com a situagao, e cair deixa de ser uma ameaga ou uma desgraga, Parte da técnica de Cl pode ser uma oportunidade de inverter certos padr6es € perceber que a queda pode ser um evento frequentemente prazeroso para quem pratica, tal como so capazes de fazer as criangas, rindo de si e de MS /REPERT. Salvador / ano). 7. 51 105-126, 20182 28 Small Dance, terma cunhado por Steve Paxton parao exerccio de estar em 6, parado, omats.etaxada possivet para poder sentir os ajustes que nossos ‘masculos mats profundos fazem para manter nosso esquoleto erate, 29. Natranscrigso do video Fall Aftar Newton narrado por Steve Paxton ele ana: lisa uma queda de Nancy S.Smith: “The calmness of standing is extended to the fal" (Acalma deestar em pé Gestendida 3 queda). ainda “Its useful to retrain the reflexes to extend the Limbs, rather than contract them during the fall” (Ectt retreinar os relexos para testender o€ membros a0 in vés de contrai-tos durante: ‘3 queda). (PAXTON, 1997, 143, tradugto nossa) Para uma atualizaczo deste Idea ver Paxton (2015) 116 / reper. Frouna » JUAN € Feenanon €M JaM no FESTIVAL Sut em Conraro. Porro ALEGRE, SETEMBRO DE Foro: Junior Al i seus desequilibrios e quedas. E que possamos ter uma atitude de incentiva-las e assim nos inspirarmos. ROXIMACOES ENTRE DESORIENTACOES E QUEDA NO Cl E NA CAPOEIRA Albright (2013, p. 61) ressalta que, na desorientagao, na perda do equilibrio: [..1 0 corpo distorce o nosso senso de diregdo de modo que a nossanocaodo que constitui uma politica de localizagao ouorga- nizago cultural do espago possa ser reformulada. Parece,ento, que a queda oferece um novo ponto de vista, por assim dizer, do binario em cima (up) © embaixo (down) Entendemos este como um lugar de fluxo, transitorio, de rever orientagdes no espaco ede como estar em cada um desseslugares sem ter necessariamenteum julgamento sobre isso ser bom ouruim. Steve Paxton, em seutexto Improvisation is a word.. (1987), alerta-nos de que sao os momentos de desorientagao que nos levam a novos caminhos, que nos permitem desestabilizar certos condicio- namentos psicofisicos. Se perder € possivelmente o primeiro passo para encontrar no- vos sistemas. Encontrar partes de novos sistemas pode ser uma das recompensas para se perder. Com alguns novos sistemas, descobrimos que estamos orientados novamente e poderios ‘comecar a usar a polinizagao cruzada de um sistema com outro para construir maneiras de seguirem frente. Se perderéproceder para odesconhecido. Rejeitar 0 familiar, tao arraigado emnossos sistemas nervosos @ mentes, requer disciplina. A dificuldade 6 w REDERT. Salvador, ano). 7. 51 105-126, 20182 que temos que saber tanto para entender o que fazemos e por que fazemos, para saber o que evitar. Nao estamos tentando simplesmente eliminar os sistemas conhecidos. Sao os habitos de adaptagao que nos manterdo reproduzinde o sistema. O sis- tema em sinao é 0 problema, mas sim a capacidade humana de imprimir inconscientemente um novo sistema em nosso sistema antigo - ou incorporar os mapas de nosso conhecimento, por com condigdes desconhecidas de tomar lugares. A danca improvisada (PAXTON, 1987, p.129, tradugae nossa) intra os lugares, Apartir de uma proposi¢ao sua em aula de danga, Albright (2013) relata-nos uma atividade interessante que dialoga com essa possibilidade de estar no universo. Ela propde imagens corparais que convidam o mundo a entrar pelos poros da pele dos bailarinos, pelos olhos e, dessa forma, ampliar a viso periférica. Assim, a consciéncia do espaco ao redor se aguca e permite cada um ver a sino mundo, no apenas ver o mundo a partir de si. Consideramos essa uma reorganizacao psiquica que, a partir dessa imaginacao somatica, pode alterar a nacéa de indi- vidualidade. Contrapondo ao paradigma colonialiste do individuo - no qual ele € impulsionadoa dominar 0 mundo, deixar suas marcas -, com esta outranogéo,0 self se percebe uma parte interdependente que flui pelo e com o mundo, assim como o ato de respirar é uma troca constante entre uma pessoa e o ambiente. (ALBRIGHT, 2013, p. 59) O momento da desorientacao pode ser uma oportunidade de transformacao, de tomada de novas diregdes. Para Albright (2013), trabalhar o corpo para estar desorientado, rolando, de cabeca para baixo, caindo de costas e girando propor- ciona experiéncias fisicas que podem abrir portas para novas ideias que amente sozinha poderia ter dificuldades de encontrar. Ha, para ela, além dasimplicagdes fisicas nessa pratica, implicagdes psiquicas também. Entao, se estamos neste lugar de queda, neste espaco entre, neste corpo do entre antes e depois dainevi- tavel queda, a questo é como cair. A resiliéncia é uma qualidade evocada como 18 / REpERT. Salvador: / ano). 7. 51 105-126, 20182 30 “Getting Loti possibly the frst step toward finding new systems. Finding partsof new systems can be one ofthe rewards for petting lost. With afew now systems, we discover we are oriented again and can begin tose the crass poll nation of one system with ‘another to construct ways tamave on. Getting ost is proceeding nto the unk- ‘own. To reject the familiar, 0 roaked i our nervous systems and minds, require Gisciptne. The dificult is that we nave to know so ‘much to understand whatit [swe do and why we din ‘order to know what to void Weare not attempting to simply eliminate the known systems tisthehabits of adaptation which wil keep Us reproducing the system. The systom itself isnot the problem, but rather this human capacity to imprint unconsciously anew system ‘upon our ol6 system = oF toembody the maps of our acquaintance, however tenuous. We are close to Improvisation here. When lost, we will have torelate appropriately to unknown ‘and changing conditions [dance is the art of taking places, Improvisational dance finds the places” (PAXTON, 1997 p.129) resposta adequada ao corpo para se recuperar de uma queda, ter capacidade de sobreviver e manter sua integridade fisica. Em se tratando de capoeira e Cl, Albright (2001)* reconhece 0 quanto essas técnicas vém influenciando fortemente a imaginacao cinética de bailarinos con- temporaneos do mundo todo, apesar de guardarem entre sidiferengas sociocul- turais ¢ histéricas. A autora, através de sua propria pratica de capoeira e de im- provisaco por contato, busca ressaltar certas semelhancas entre elas, o quanto so capazes de promover atos frente ao desconhecido por meio de trocas entre pessoas. Ann Cooper Albright nao € a primeira pesquisadora em danga a bus- car na pratica da capoeira brasileira aspectos de desorientagdes, de queda ede inversdes do corpo como valores positives de conduta, de postura e de criagao através de movimento. A pesquisadora norte-americana Barbara Browning,* grande conhecedora das manifestages culturais brasileiras, no artigo "Headspin: Capoeira's Ironic Inversions” (2001), compreende a capoeira como uma pratica que 6 capaz de subverter certas condutas, a partir de cambalhotas, rolamentos rapidos, apoios com as aos, inimeras inversdes do corpo que demonstram a capacidade emblemitica da capoeira de ver o mundo de cabe¢a para baixo. Esse aspecto dessas duas praticas, capoeira e Cl, mostra o potencial de alteri- dade que elas sao capazes de promover em nossa experiéncia somatica, uma possibilidade de transgressao frente a diferenga. Tanto na roda de capoeira, quanto nas jams de Cl, dangamos e jogamos muitas vezes com desconhecidos, potencializando, dessa maneira, os jogos eas relacdes de improvisacao contidas rnessas praticas. Para Albright (2001) essas duas préticas possuem fortes he- rangas culturais de resistencia. Na mesma diregao, Gravina (2015), assim como Albright, dancarina, capoeirista e pesquisadora no campo dos estudos culturais, também busca contrastes e semelhancas entre essas praticas. Gravina (2015) sintetiza que a capoeira surge no Brasil como estratégia de resisténcia fisica e simbélica no contexto da escravidao dos povos negros. Jé a fisicalidade do Cl emerge em meio aos movimentos sociais norte-americanos, nos anos 1960, buscando dar voz a uma juventude que almejava uma sociedade mais igualitaria eatravessada por valores ecologicos. E bastante notorio que as duas praticas, de modo recorrente, desenvolvem uma relacao de improvisagao através de duos, frequentemente em uma roda, Sao formas que favorecem 0 risco, oimprevisivel, 19 /REPERT. — Satiador, / ano). 7. 51 105-126, 20182 31 Oartigointitulado A comps ouverts, changement etéchange dindenités dans 1a Capoeira ete contact [improvisation (Com coroos abertos, troca e intercémbio de dentidades na Capoeira eno contato com improvi- 's3¢80] desenvolve as proxi- midadese dferencas entre esses praticas corporais, 32 Barbara Browning Desquisadora norte-ameri- cana e professora da NYU, esereveu indimeros artigos sobre acultura braslera e desenvolveu parte ce seus estudos de doutorado na cidade de Salvador; desta ca-se sua obra Samba: re- sistance in motion, publicada pela Indiana University Press.em 1995. 0 jogo com 0 outro. A fluidez no “coracao da forga” (ALBRIGHT, 2001) é o que alimenta essas duas praticas. Asduas formas também representam, ecada vez mais, fenome- nos globais. 0 contato improvisacao ea capoeira surgiram apartir de momentos de confusdo eefervescéncia historicaecultural,e as duas formas conser vam ainda hoje em suas estratégias fisicas elementos desses momentos de resisténcia e de rebeldia. E, no entanto, ambas as formas também continuaram ase reinventer, incorporando, em um sentido forte, preocupagdes contempora- neas em seus vocabularias de mavimento. E 0 mais importante que ambasas formas contribuiram para o questionamento das nogdes convencionais de identidade e de geografia, criandouma experiéncia somattica que reconstr6i de dentro as nogdes que temos dealteridade. (ALBRIGHT, 2001, p. 40, tradugdo nossa) Para Allright (2001) as duas praticas promover, em suas técnicas, fortes aspec- tos de desorientagao e uma curiosidade de se defrontar como outro, efetuando, desse modo, experiéncias somaticas capazes de suspender o sentimento de identidades fixas. Inspiradas por Albright (2001), no que se refere as caracteris- ticas cinestésicas da capoeira e do Cl, consideramos que se destacam:a atencao concentrada no jogo espacial ¢ tatil, o prazer experimentado nos momentos de suspensdo ede queda, a espontaneldade de movimentagdes complexas;afluidez, junto a fusao intuitiva de energias; 0 afrontamento a situagdes abertas, a visao periférica agucada, o investimento em inversées da verticalidade convencional do corpo, 0 jogo constante do deseauilibrio e aceitagao da vertigem que isso pode produzir. Essa disposigao de aceitar estar despreparado, desamparado, ‘assumir riscos, colocar-se em situagdes inusitadas, esta rela- cionada ae que constitui a dimensao da improvisagao propria na Capoeira e a improvisagao por contato.** (ALBRIGHT, 2001, p. 47, tradugao nossa) 120 REPERT. Salvador, ano). 7. 51 105-126, 20182 33 “Les deuxtormes e- présententauss\ et de plus ten plus, des phénoménes lobaux. Le contact im- provisation eta Capoeira ‘ont surgi de moments de confusion et eetfar- vescence historique et culturelle les deux formes. conservent encore dans leurs stratégies physiques es éléments issus de.ces ‘moments de résistance et de rébeltion, Et pourtant, les deux formes ont aussi continué de se rbinventer, en incorporant, au sens fort, des préoccupations contemporaines dans lours vocabulares de mauve- iments. Etle plus important, est que les doux formes font cantribud la remise lenquestion des notions conventionnelies 'identits etde aéographi,créant& la place une experience so- matique qui reconstrut do \intériaur las notions qu nous avons de altricé” (ALBRIGHT, 2001, p.40) 34 “Cettevolonté acceptor dere pris au épourvu, sans défense, Se courir des risques, dese mettre dans des situations inhabitueles, est ide ace {qui constitve ta dimension «de Limprovisation propre- iment ete dans la Caposira tle contactimprovisation, ALBRIGHT, 2001, 47) Para seguir na exploragao de possibilidades de respostas, vamos aqui trazer um termo que usamos quando temos um insight, quando nos damos conta de uma ilusdo, quando se “cai em si”. Embora o termo se relacione também ao reconhe- cimento de um e1ro, & mais apropriado para a metafora que propomos:a ideia de“cair em si” como uma tomada de consciéncia de que antes havia uma ilusdo. Acreditamos que somos influenciados cotidianamente pelas diversas fontes de dimensées moleculares da politica, com ideias ilusérias de conquista de estabi- lidade, de manutencao do corpo javem, de uma trajetéria de vida que nos leveao topo, uma busca de ascensao profissional, econémica etc. No entanto, agravidade nos mostra que mais cedo ou mais tarde as coisas caem, mudam, se movimentam. Como nos sentimos com esse fato? Ha os que tém uma reagao de pavor e luta constante contra a perda (do dinheiro, da beleza, da jovialidade), ha os que se rendem e apenas esperam o fim chegar, e, entre tantos outros, ha os que brincam comessa forga terrena, transformando sua energia em outros movimentos: dan- cando, surfando, jogando com os esforcos para resistir e se render a gravidade. Entendemos como uma aceitaco. Sim, vamos cair. Vamos “cair em si”? Que tal entao ter uma relacdo amorosa com a queda em ver de t8-la como inimiga ou ameacadora? Por que nao “caimos de amor”®® com a gravidade? Por que nao a usamos a nosso favor, como uma professora que tem algo a nos ensinar, como uma energiaa respeitar - a qual, somada 4 nossa energia humana e aos desejos ~ pode nos levar a outras diregdes? Albright (2013) reconhece que, embora muito do trabalho profissional no Cl seja celebrado no virtuosismo do up, nos carrega- mentos e giros no alto, o potencial verdadeiramente radical do Contato - para a autora - esta notreinamento fisico do down, do estar deitado, rolar, rastejar: Através da memériaincorporada de trabalhar coma gravidade, 0 Contato podenos levar a umaresisténcia que nao s6 nos ajuda a sobreviver 8s quedas inevitaveis da vida, mas também nos livra daascensaoimplacavele da luta pelo sucesso quemercouo final do século XX. (ALBRIGHT, 2013, p. 66) Apratica da pequena danga em Cl- quando, mesmo em pé, sentimos nosso corpo cair ese recuperar enquanto tentamos estar o mais relaxados possivel, deixando que nossos musculos antigravitacionais (ligados diretamente ao nosso estado 12 / REpERT. Salvador, / ano). 7. 51 105-126, 20182 35 Natinguainglesa, sa-se muito term fallin love para quando alguém se apaiona emocional) trabalhem involuntariamente tensionando e relaxendo na tomadaena perda do equilibrio - mostra-nos muitas coisas. Hubert Godard (2000) aponta que a postura ereta, a relagao do peso coma gravidade, jé traz em si um humor, um projeto sobre o mundo, ¢ esse pré-movimento produza carga expressiva do movimento que iremos fazer no mundo, uma predisposicao que ele compreende como o pré-movimento. (GODARD, 2000, p.13) Esse exercicio de percepedo, quando conseguimos manter 0 foco de nossaaten- co no momento presente, no corpo, pode nos levar aum estado mental de muita calma, Pode-se ter, aqui, nessa atividade tao simples, uma rica metafora para o “cairemsi”,deaceitacdo, de consciéncia, de resiliéncia, de estado de graca, de um campo de possibilidades que se abrem com nossa permissao. E quando unimos duas ou mais pequenas dangas em contato ¢emimprovisagao numa relagao dis- ponivel,atenta, empatica e tidica, esse estado de graca se potencializa ainda mais. Ha quedas que se dao por atos de violencia, como a queda das torres gémeas, ou quedas por brigas, assaltos. Outras quedas acontecem por descuidos, de- saten¢des, acidentes. De muitas delas podemos ser vitimas. Porém, podemos tentar estar preparados, fazer quedas voluntarias, aprender a sobreviver e melhor conviver com elas. Podemos querer e criar um mundo onde as quedas sejam consentidas e suportadas com menos julgamentos. Convidamos vocé a assistir a.um video intitulado We rise and fall together (Nés subimos e caimos juntos). (DRYDEN, 2017) Trata-se de uma conferéncia dangada, de Nathan Dryden, no TEDx SaltLakeCity, onde dancarinos de diversas etnias entram, dirigem-sea um microfone e falam uma frase antes de dancar Cl. Seus depoimentos so motiva- dos pela expressdo do desejo de viver em um mundo onde haja empatia, iverda- de, paz, auséncia de racismo ete, tais como: * ‘usonho com um mundo em onde todos tenham a chance de se mover expressivamente e sem julgamentos”; “Eu vivo em um mundo onde eu posso rolar por af com meus amigos como vocé rola com suas criangas e seus cachorros” (DRYDEN, 2017, traducao nossa) 122, /RevERT. Salvador / ano). 7. 51 105-126, 20182 36 “Idreamwitha word Inwhich everybody has the chance to move expressively ‘and without judgement’; "| we in a world where lean ‘ll around with my friends the way you roll around with {your kids and your dogs (ORYDEN, 2017) GONCLUSAO Entre quedas ¢ tropecos, desilusdes ¢ perdas que tive na vida, nestes tiltimos 20 anos, tenho tido na p’ 2 muita sabedoria. E um entendimento de grande valor somdtico que pode nos convidar a tica do Cl um encontro com um campo ressignificar a relacdo coma horizontalidade, a amar estar jul ito A ter- ‘a, como uma grande oportunidade para rever outras relagdes. Perceber a si,a0 outro e entender que é nas tracas e relacdes que o movimento essencial a vida acontece, que ha muitos lugares entre. e baixos na topografia da existéncia, Ficuea 2 = Juan e Feenanoa em Jaw no Festival Sut eM Conraro. Poaro Atccae, sereweso of 2017 Foro: Junior Alceu Grandi 123 REDERT. 124 / REPERT. Sava / soo 21051 105-126, 20182 que trabalhar nossos corpos e mentes nos ajuda a sobreviver e estar em paz na instabilidade, tudo isso pode nos trazer a resiliéncia necessaria a um bem-viver individual e coletivo e a descoberta de outras diregdes além das habituais. Com tudo isso, acreditamos que a queda, como vem sendo desenvolvida no Cl, pode fortalecer reflexdes ¢ préticas de um corpo politico que configura outras relagdes. de poder e de estar no mundo, as quais enriquecem a vida por meio da busca de valores alternativos aos valores hegeménicos. FERENCIAS ALBRIGHT, Ann Cooper. Caindo na memoria. In: ISAACSSON, Marta. (Coord). Tempos ae -Meméria: vestigios, ressonancias © mutagoes, Porto Alegre: AGE, 2013. p. 49-67. ALBRIGHT, Ann Cooper. corps ouverts. Changerents et échanges didentités dans la Caposira tle Contact Improvisation. Protée, Québec, v.29, n.2,p. 39-49, 2001, BANES, Sally. Terpsichors in sneakers: post-modern dance. Middlstown: Wesleyan University. 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