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This novel is entirely a work of fiction. The names, characters and incidents
portrayed in it are the work of the author’s imagination. Any resemblance to
actual persons, living or dead, events or localities is entirely coincidental.
First edition
Narration by Adami
Narration by Alves
Narration by Dane
Narration by Julia
Narration by Luka
Narration by Menezes
Narration by Muffin
Narration by Nico
Narration by Rosa
Narration by Von
Editing by Adami
Prelúdio iii
I 10 DE OUTUBRO
1 Capítulo I – O Retorno 3
2 Capítulo II – A Ponte 6
3 Capítulo III – Caminhos da Madrugada 20
4 Capítulo IV – Companhia e Cannabis 28
5 Capítulo V – Memórias e Saudades 33
6 Capítulo VI – Respostas Ocultas 42
7 Capítulo VII – Sonos Interrompidos 45
II 11 DE OUTUBRO
III 12 de Outubro
8 de outubro de 2028
hssss… chk
“…E numa outra nota, as obras no parque iniciam ainda nessa semana,
e eu acho importante dar as boas vindas à Harris & Co., que está cuidando
da logística do festival mais uma vez, totalizando - caramba, onze anos!
Caramba. É claro que os nossos músicos são as estrelas do show, mas é
essa equipe de profissionais que faz a magia acontecer, não é mesmo?”
“Enfim, vamos aos pedidos dos ouvintes. E, falando da Noite dos Vazios,
o primeiro vem de ninguém mais, ninguém menos que Outis da Nemo’s
Vinis. E aí está mais um herói dos bastidores desse festival, então, nada
mais justo que honrar os desejos dela com Bad Moon Rising, do Credence
Clearwater Revival. O meu nome é Eileen e você está escutando a Rádio
da Universidade. Eu volto com vocês logo mais.”
iii
I
10 DE OUTUBRO
Capítulo I – O Retorno
Esse era o terceiro ano que eu vinha trabalhar n’A Noite dos Vazios. Era
trabalho como qualquer outro, pelo menos no início, mas… Ao longo dos
anos eu tinha criado uma afeição especial pela cidade, pelas pessoas, por todo
o espetáculo que era o festival. Além disso, mais do que nunca, eu precisava
de uma distração.
Encarar as paredes daquele estúdio minúsculo que eu alugava todo ano
tinha rapidamente se tornado algo opressivo. Era fútil, eu percebi mais uma
vez, tentar encontrar familiaridade depois de tudo que tinha acontecido nos
últimos meses. Mesmo assim, era a única coisa que me restava: tentar, tentar,
tentar.
Outis me recebeu em sua loja com uma boa xícara de café e um abraço
apertado. Ele sabia, mesmo sem eu precisar dizer, que as coisas não iam
muito bem. Sempre sabia. Mas eu não queria mais condolências, então, ao
invés disso, ela me ofereceu uma distração.
“Trinta anos de festival…” Eu comentei. “Você deve ter cada história.” Ela
sorriu.
“Trinta anos não parecem nada no grande esquema das coisas,” disse
simplesmente. “Mas sim. É uma pena…”
“Pena?” Perguntei.
Ele tomou um longo gole de café, soltou um suspiro profundo e finalmente
me respondeu:
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“Temo que este será o fim d’A Noite.” Admitidamente, fiquei um tanto
chocada com a resposta. Outis não elaborou, e eu não insisti.
“Parece que o meu mundo tem se acabado aos poucos,” comentei com a voz
fraca.
“Mais do que você imagina, Nora.”
Essas palavras se marcaram na minha cabeça como ferro em brasa. Mas no
fim, era Outis. Ele falava coisas desse tipo sem aviso, e muitas vezes elas não
significavam nada demais.
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CAPÍTULO I – O RETORNO
Eu não sei como você acorda pela manhã. Há um grito entalado em sua
garganta? Ou você não esboça reação?
Bom, talvez não seja nada no fim. Foi só um sonho, não é mesmo?
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Capítulo II – A Ponte
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CAPÍTULO II – A PONTE
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CAPÍTULO II – A PONTE
Nora.
“Gente, calma.” Jojo ergue a própria mão e a fecha.
“Bom, eu tive um sonho mas eu tento não justificar todas as minhas escolhas
ruins dessa forma.” Nora continua, enquanto começa a mexer em seu colar.
“Mas se todos vocês… Bom isso é bizarro.”
“Bizarro é pouco, eu diria.” Emma diz, colocando o cabelo atrás da orelha.
“Não sei vocês, mas eu não consegui fazer nada hoje. Nada. Tudo que eu
tentava fazer, eu só lembrava do sonho.”
Ela encara Alfred. Seu colega de quarto. É estranho pensar que tantas
pessoas tenham sonhado com a mesma coisa. Mas… a pessoa que dorme ao
lado dela? E logo alguém que entende tanto sobre o oculto? Depois ela teria
que falar com ele sobre isso. Teorias?
Alfred retribui o olhar de Emma igualmente confuso. Nunca imaginou que
tanta gente pudesse ter sonhado a mesma coisa.
Oliver finalmente para na frente dos Borapinhas, que são os cachorrinhos da
Nora, e se ajoelha para fazer carinho. Ele não entende muito toda a comoção.
“Eu vim porque eu precisava ver essas coisinhas lindas,” ele continua sorrindo.
Completamente tranquilo. De boassa. “Quem são as coisinhas mais lindas do
mundo?”
Ele dá dois beijinhos estalados nas bochechas dos doguinhos. O cara está
apenas tendo um momento. E ele também fede a maconha. As duas coisas
podem estar interligadas!
“Bela e Vicky. Minhas meninas.” Nora também sorri. “Mas voltando ao
assunto.” Ela olha para os outros.
“Por qual motivo todo mundo veio pra cá? Esse clima tá estranho. Foi um
sonho… mesmo?” Jojo questiona. “É só responder. Não tem nenhum culto
aqui.”
“Não tem?” Lillith parece despontada.
“Não tem, Lilith.”
Anna olha para Jojo como se confirmasse que também está aqui por conta
do sonho, visão ou seja lá o que aquilo foi. Ela ainda aparenta estar confusa e
não sabe o que dizer.
…Ele assente para Anna. Mesmo que seja pelo sonho, ele quer reassegurar
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CAPÍTULO II – A PONTE
aqui. Então…”
“Bom…” Nora se escora nas vigas. “Acho que parte de mim queria que o
sonho só… Acontecesse de novo.” Ela fala isso mais diretamente para Jojo.
Óbvio. “Ou sei lá também. Que porra, isso é esquisito demais. Eu só queria
sair de casa. Acho que todo mundo aqui tá entediado demais, vocês são
universitários caramba.”
“O que vocês lembram do sonho?” Os olhos de Lillith voltam a se esgueirar
para a borda da ponte.
“Muito pouco.” Responde Emma. “Eu lembro mais de… sensações. Tipo
quando você sabe que tem alguém atrás de você sem precisar olhar. Um
pressentimento.”
Anna completa Emma “Sim. Comigo foi exatamente assim também. Mas
eu não conseguia ver realmente quem eram as pessoas”
Alfred está tomando notas mentais. Ele sabe que vai pesquisar algo assim
que sair daqui. Sabe até em quais textos. Mas ele não acredita mesmo em
sonhos proféticos, acredita? Não de verdade… “Figuras, meio borradas.” Ele
responde Lillith.
Oliver já está abraçando as cachorras como se fossem dela. “Lembro de
pessoas. E de pensar que queria segurar a mão delas, mesmo sendo frias.”
“…E um pressentimento ruim. Muito, muito ruim. De dar frio na barriga.”
“…Deve vir daí o frio,” Oliver concluiu.
“Duas, então três, e por final uma.” Andy lembra.
“E por final uma.” Jojo ecoou.”Eu sonhei o mesmo.”
Nora apenas assente silenciosa.
“… É que nem o enigma da esfinge, olha aí. A resposta é “Homem.”” Alfred
está olhando para a água.
“Eu lembro de estar aqui, com vultos. O que é meio… coincidente. E aí, lá
embaixo…” Lillith olha para fora da ponte, mas não vê nada. Apenas sente um
arrepio em suas costas. Um calafrio. A sensação de que algo terrível chegou.
As cachorras, que até agora brincavam alegremente, param de súbito.
Formando uma barreira na frente de Nora - e, consequentemente, na frente
de todos -, elas se viram paralelamente à estrada, olhos fixos no fim da ponte.
Bela toma uma posição de ataque, rosnando de leve, e Vicky apenas se
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CAPÍTULO II – A PONTE
“Não sei que tipo de pegadinha de merda foi essa, é melhor que esse cara se
cuide.” Andy bufa, irritado.
Jojo se ajoelha junto com Nora, e afaga a cachorrinha tremendo um pouco.
Ele costuma dizer que é ateu porque, honestamente, perdeu a fé em Deus faz
anos e anos. Mas, sabe… nunca deve se duvidar.
…Jonathan Byrd realmente acreditava que estava, err, lidando com o Diabo.
“Puta merda.”: “Boa garota!”
“A gente vai matar ele, Andy.” Jia afirma. Ela ainda está encucada com isso.
Andy dá tapinhas nas costas da Jia e acena com a cabeça.
“Devem ter sido só umas crianças. É quase halloween, sei lá.” Nora mente.
Falta bastante pro halloween ainda. Ela busca algum conforto nos olhos de
Jojo.
Lillith volta a andar em frente. Se realmente não é natural… pode ser uma
pista.
Alfred também procura alguma coisa na direção da aparição.
Ela apressa o passo.
Anna está aliviada por Bela estar de volta e bem, mas ela olha envolta nas
outras direções para ver se outra dessas sombras irá aparecer de novo. Ela
está alerta.
Ao ver Bela voltar, Emma apenas congela. Olha para o nevoeiro. Lem-
brando de alguma frase. Mas qual? Estava na ponta da sua língua.
“Não é quase Halloween. Sua percepção de tempo foi embora com o seu
cabelo.”
“Garota, pelo amor de deus.” Nora só a encara.
“Culpa sua ser careca.” Jia apenas sorri.
“Careca é foda” Andy pensa.
Ao redor deles, só se escutam os sons da noite. Se antes a ponte os lembrava
do sonho deles, agora ela é apenas… mundana. O que aconteceu, aconteceu,
e a natureza segue seu curso por enquanto.
Lillith para, finalmente. Sentindo que a eletricidade correndo pela sua
espinha a deixou. Não tem nada aqui. Nada além do que os olhos veem.
Andy percebe sua colega de quarto. “Tudo certo aí Aninha?” Ela parece
estar toda errada da cabeça.
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Anna ouve a voz de Andy, o que a traz de volta para a realidade. “Ah,
sim, sim. Agora tudo parece tão… normal” Ela parece estar só pensando
alto. Realmente, após a aparição sumir, era como se nada demais tivesse
acontecido.
“Pois é, meio normal, meio fodido, como sempre é.” Ele dá de ombros.
“Qualquer coisa grita.”
Jia aproveita para olhar para o seu colega de quarto também. Continua
sendo consumido pelo medo cristão. Tudo certo, nada errado. Típico Jojo.
Lilly dá meia volta e retorna com uma expressão de derrota. Foda que
quando você tem a visão ruim você caminha muito.
Ela começa a bolar unzinho.
Emma fecha seus olhos e lembra.
“Fair is foul and foul is fair.” A garota cita. “Hover through the fog and filthy
air.”
Oliver pensa que essa é uma baita frase.
“Macbeth…” Nora nunca leu a peça. Charlie costumava citar o tempo todo,
e algo se prende em sua garganta. Mas ninguém se importa com isso além
dela, então é um sentimento que guarda para si.
“By the pricking of my thumbs, something wicked this way comes.” Alfred
leu a peça um dia, mas na verdade só gosta dessa frase e sabe que é das bruxas.
Não sabe que é de outra cena, e acha que está continuando a frase de sua
roomie.
Emma pensa em corrigir o colega de quarto, mas para. Ele não estava
errado, tecnicamente. A névoa era sinal de augúrio, na peça pelo menos.
Talvez na vida também. “Something wicked this way comes…”, ela repete em
sua cabeça.
As palavras também parecem apropriadas para Alfred. Pessimismo é foda.
“A gente já entendeu, vocês leram Shakespeare…” Jia não está falando com
ninguém em particular. Só murmurando baixinho.
“Isso é Shakespeare?” Lauro fala… fofo.
“Macbeth. É a que tem as bruxas, lá. O cara mata o rei e fica chateado. Não
termina bem”
Lauro não liga pra teatro. Muito menos anglofono. “Ah, tá…. Beleza.”
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CAPÍTULO III – CAMINHOS DA MADRUGADA
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nesse caso.”
“Tô ligado… e a gente chegou tudo junto, né? Praticamente na mesma hora.
Parece até destino. Que coisa.” Lauro lembra de novo que tá tocando Twice.
“Eu gosto dessa.” Deve ser TT porque é impossível desgostar de TT.
Andy tá olhando pro beck que nem aquele emoji do gato se aproximando
da tela.
“Yep.” Ela tá focada na rua.
O Laurence não tá focado na rua, então vez ou outra ele olha pra Andy pelo
espelho do meio. “Você parece o meu gato quando eu comia patê de atum,” e
o sorriso preguiçoso dele vai se alargando devagar. Ele só queria fazer uma
inofensiva provocação antes de socializar o beck logo depois, passando-o de
mão.
Andy com certeza vai seguir com a provocação. “Eu sou bem gatinho
mesmo.” Ele pega o beck e dá uma piscadela.
Lillie dá uma sorridinha para Lauro de canto.
Lauro troca de assunto: “Okay, então, enquanto a gente ainda não chega
na pizzaria, vamos pôr os pingos nos is. Abacaxi na pizza: moral, amoral ou
imoral?”
“Eu acho ok, na verdade.” A garota dá de ombros.
“Moral pra caralho. Não tem nada de imoral em duas coisas boas
misturadas.” Lembra do comentário da pizza doce em cima da salgada? Andy
lembra.
“Éééé…” Lauro começa, lento e preguiçoso, então tem um pico de energia:
“Éééé! Você entende! Tem outra coisa sobre mim e pizzas pra cês saberem.”
Andy se inclina pra frente com extremo interesse, botando uma mão no
queixo.
Laurence Fernando coloca uma mão no peito. “Eu sou brasileiro,” começa,
e é sempre um ótimo jeito de começar uma frase, “então eu como pizza de
garfo e faca, foda-se. Não vou ficar com a mão fedendo a pizza.” Ele já tá
fedendo a maconha e numa van que fede a carniça, mas tá. Cada um cada
qual.
“Mas às vezes sujar a mão é a melhor paaaarte.” Andy se espalha pelo banco
traseiro que nem um gato.
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