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Revista Juridica Direito, Sociedade ¢ Justica/RJDSJ Curso de Direito, UEMS - Dourados/MS RESUMO EXPANDIDO A POSSIBILIDADE DA USUCAPIAO DE BEM PUBLICO NOBRE, Adler Batista Oliveirat; DONDONI, Henrique Zanoni?; ALENCAR, Joaquim Carlos Klein de? RESUMO: A usucapiio ¢ forma de aquisi¢ao da propriedade, fundada no principio da fundacdo social dessa, com vistas a proteger a destinagao de todos os bens. Ainda assim, a legislacao e jurisprudéncia patria sao firmes no sentido da impossibilidade da usucapio dos bens piiblicos, ainda quando nao se prestem a fim especifico da Administracdo, que to somente detém sua titularidade. Contudo, tal posigao carece de ser repensada, com vistas a sanar o evidente conflito entre a prevista fungao social da propriedade, frente 4 nao utilizago de um bem, ainda que piiblico. 0 pensamento ver sendo apresentado por corrente minoritario, e merece reflexao PALAVRAS-CHAVE: Usucapiao; Bem Piblico; Civil; Administracdo; Administrativo. INTRODUGAO A usucapidio, como forma de aquisigio da propriedade, vem ha tempos sendo reconhecido na meio social, como forma de privilegiar o efetivo uso do bem, contra aquele que apenas ¢ dono, mas nao o da qualquer fim, © Instituto possui como base o principio da fun¢Zo social da propriedade, entende-se que todo bem deve ser utilizar a partir de sua destinagao, no sendo _concebfvel simplesmente abandonado. Por outro lado, sabem-se que Administragéo também possui o dominio de bens, denominados bens ptiblicos, que nem sempre esto destinados & qualquer fungio, os bens desafetados, e nomeados pela doutrina como bens dominicais. Nossa legislago constitucional infraconstitucional preocupou-se, com base na preponderancia do interesse piiblico face ao interesse parcial, em vedar usucapido de todos os bens piiblicos, inclusive os bens dominicais, ainda que tais ndo se a prestem qualquer fungao social, Nesse interim, cabivel a reflexdo acerca da possibilidade da usucapio dos bens ptblicos, a partir de andlise sistematica do fim da usucapiao frente no utilizagio de bens pela Administracao. METODOLOGIA A elaboracao deste resumo deu- se por levantamento bibliografico acerca da temética, conceitos, principios, e pesquisa na legislago patria. Usamos ainda, 0 método objetivo exploratério, que objetivaproporcionar maior familiaridade com o problema, buscando torna-lo mais explicito. Empregamos ainda, 0 método indutivo, 0 qual considera 0 conhecimento como baseado na experiéncia, elaborado a partir de constatagées particulares. TAcadémico do Curso de Graduacao em Direito da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), E-mail: adler_nobre@hotmail.com. ? Acad@mico do Curso de Graduagao de em Direito da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMs). E-mail: hdondoni@gmail.com. 3 Orientador, Bacharel em Direito e Especialista em Direito pelo Centro Universitério da Grande Dourados (UNIGRAN). Mestre em Educagdo pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Docente de Ensino Superior efetivo dos Cursos de Graduagio em Direito e de Administragao de Empresas e de Pés-Gradua¢ao Lato Sensu em Direitos Difusos e Coletivos da A POSSIBILIDADE DA USUCAPIAO DE BEM PUBLICO NOBRE, Adler Batista Oliveira‘; DONDONI, Henrique Zanoni LENCAR, Joaquim Carlos Klein de? RESULTADOS E DISCUSSAO © atual Cédex Civil, apés tratar acerca da propriedade, em linha gerais, passa a regulamentar as formas de aquisigo de propriedade, distinguindo, neste interim, a aquisigo da propriedade de bens méveis e iméveis Ainda assim, 0 presente trabalho foca no que tange aos bens iméveis, que sempre, até mesmo porque, nosso legislado, com espeque na tradicao romana e medieval, sempre presto relevo ao viés imobilidrio, conforme apresenta Carlos Roberto Gongalves (2013, p. 254), Em relagio a aquisi¢ao dos bens iméveis, 0 Cédigo Civil de 2002 nao trouxe rol especifico acerca das formas de aquisiséo, contudo, disciplina nos artigos 1.238 a 1.252 ("Da aquisicao da propriedade imével”), a usucapiao, 0 registro de titulo e a acessdo, observando-se que a propriedade ainda pode ser adquirida mediante a sucesso, nos termos do art. 1.789. Dentre as espécies de aquisicéo, a doutrina leciona que dividem-se em forma de aquisicao originaria e derivada, sendo que a primeira quando nao ha transmissio entre sujeitos (exemplo: acessdo) e a derivada quando oriunda de relagdo negocial entre 0 ailtimo propriedade e o adquirente (exemplo: compra e venda), ou seja, 0 dominio transmite-se mediante declaragio de vontade, munida da tradi¢ao ou registro no titulo. A corrente majoritéria defende, nesse passo, que a usucapiao enquadra- se como forma de aquisicdo originaria, Nesse sentido, discorre Adroaldo Furtado Fabricio (1980): (..) a usucapizo ¢ forma originaria de adquirir: 0 usucapiente nao adquire a alguém; adquire, simplesmente. Se propriedade anterior existiu sobre © bem, & direito que —morreu, suplantando pelo do _usucapient sem transmitir ao direito nove qualquer de seus caracteres, vicios ou limitages. Alids, 6 de todo invelevante, de ponto de vista da prescrigéo aquisitiva, aexisténcia ou nao daquele direito anterior. Portanto, € firme dizer, que na usucapiao, cumpridos os requisitos legais, a propriedade se adquire sem vicios e livre de limitagdes que poderiam existir anteriormente. Conceituando 0 _instituto, colaciona-se de Paulo Nader (2016): Embora haja varias espécies de usucapido é possivel a formulagao de seu conceito unitirio, capaz de revelar 0 contetido bésico que Ihe & inerente. Usucapido, ou prescricao aquisitiva, é modalidade de aquisi¢ao originatia da propriedade, mével ou imével, © de outros direitos reais, Donde se infere que a usucapizo possui duplo cardter: ao mesmo tempo em que o possuidor adquire o dominio da coisa, 0 proprietario a perde. Embora haja varias espécies de usucapiao possivel a formulagao de seu conceito unitério, capaz de revelar o conteiido basico que Ihe é inerente, Usucapido, ou prescrigao aquisitiva, modalidade de aquisicdo originaria da propriedade, mével ou imével, e de outros direitos reais. Donde se infere que a usucapiao possui duplo cardter: ao mesmo tempo em que 0 possuidor adquire 0 dominio da coisa, 0 proprietario a perde. Os princfpios da fungao social da propriedade é o que norteia a usucapidio, com vistas 3 tutelar seu fim, sua estabilidade, e a seguranga juridica que merece, manejando a busca pela paz social Em relagdo as espécies, divide-se a usucapiao, primeiramente quanto ao objeto, bens méveis e bens iméveis, ¢ quanto a estes, tem-se trés_espécies, Revista Juridica Direito, Sociedade e Justi¢a/RJDS), v. 6, n. 1, Mar-Jun./2018, p.291-294 Suplementn Eenecial. RESUMOS EXPANDIDOS. 28 Mostra Cientifica 2017 - UI S Dourados/MS- 292 A POSSIBILIDADE DA USUCAPIAO DE BEM PUBLICO NOBRE, Adler Batista Oliveira‘; DONDONI, Henrique Zanoni LENCAR, Joaquim Carlos Klein de? quais sejam, a extraordinéria, a ordinaria ea constitucional (ou especial), podendo a ultimar ser pro labore (rural) e urbana (pré-moradia ou pro misero). Hi, ainda, a previsio da usucapido indigena, prevista no art. 33, da Lei n2? 6.011/73 (Estatuto do indio) Entre todas as modalidades de usucapiao, verifica-se sempre que o principio ¢ comum requisito é 0 lapso temporal, d’onde se extrai o conceit de prescrigao aquisitiva, que, em poucas palavras, nada mais é do que tempo necessdrio a aquisicao do direito dominial, em detrimento da inércia do antigo proprietario. Tem-se que 0 préprio Cédigo Civil relaciona a prescricéo aquisitiva & prescrigao extintiva (arts. 205 e 206), nao cabendo afirmar que tal conceito é impréprio, consoante se extrai do art 1.244: “Estende-se ao possuidor o disposto quando ao devedor das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrigio, as quais também se aplicam a usucapiao, Nos termos do art, 98, do Cédigo Civil: "os bens do dominionacional pertencentes as pessoas juridicas de direito piblico interno, sendo quetodos 0s outros sdo particulares, seja qual for a pessoa que pertencerem” Outrossim, a doutrina encarrega de dividir os bens piblicos quanto a titularidade e quanto a destinagao. No que tange A titularidade, os bens publicos subdividem-se pelo ente da administragao direta que detém seu dominio, que pode ser da Unido, dos Estados, Municipios e Distrito Federal, ou ainda por ente da administragio indireta Quanto A destinagao, em curtas linhas, os bens podem ser bens de uso comum do povo, de uso especial, ou ainda bens dominicais ou dominais, estes iiltimos de maior relevancia ao nosso trabalho, conforme se vera. Para Matheus Carvalho (2016, p. 1065), os bens dominiais sao aqueles que no possuem qualquer destinacao piiblica, sendo que s6 ostentam a qualidade bens piiblicos pelo fato de pertencerem A determinada pessoa juridica de direito piblico, tanto € que podem ser alicnados respeitadas as condigdes legais (art. 17, da Lei n2 8.666/93). 0 direito positivo preocupou-se em vedar & usucapiao dos bens piiblicos. Dispie o art. 102 do Cédigo Civil que “os bens piiblicos no esté sujeitos a usucapiao' Por sua vez, a Constituicao Federal de 1988 também impede a possibilidade da usucapido de tais, mormente, conforme se extrai dos arts. 183, §32, e 191, pardgrafo dnico. Contudo, ha tempos, parcela da doutrina vem dando nova interpretacao aos comandos legais, defendendo a possibilidade da usucapiao dos bens piiblicos, com destaque em relacao aos bens dominicais, de forma a fazer com que tais bens efetivamente cumpram sua fungao social Nesse sentido & o entendimento de Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald (2006): “A nosso viso, a absoluta impossibilidade deusucapiéo sobre bens piiblicos € equivocada, por ofensa ao principio constitucionalda fungao social da posse, em tiltima instancia, ao préprio princfpio da proporcionalidade.” Ainda sim, a maior parte da comunidade juridica ainda apresenta entendimento diferente. Tem-se, nesse interim, 0 entendimento sumulado do Supremo ‘Tribunal Federal: Samula n° 340. Desde a vigencia do Cédigo Civil, os bens dominicais, Revista Juridica Direito, Sociedade e Justi¢a/RJDS), v. 6, n. 1, Mar-Jun./2018, p.291-294 Suplementn Eenecial. RESUMOS EXPANDIDOS. 28 Mostra Cientifica 2017 - UI S Dourados/MS- 293 A POSSIBILIDADE DA USUCAPIAO DE BEM PUBLICO NOBRE, Adler Batista Oliveira‘; DONDONI, Henrique Zanoni?; ALENCAR, Joaquim Carlos Klein de? como os demais bens piblicos, nto podem ser adquitidos por usucapiao. No Tribunal de Justica do Rio Grande do Sul, encontramos deciso isolada, que levou em consideragao a finalidade de — propriedade, em detrimento de sua titularidade: AcKO _-DE_—_USUCAPIAO, CONTESTACAO PELO MUNICIPIO. APONTAMENTO DE AREA UTILIZADA, EM TEMPOS ANTIGOS, COMO. VIA. DE _TRANSITO, ATUALMENTE DESATIVADA. LOTEAMENTO CONSTITUIDO SOBRE 0 LOCAL. AUSENCIA DE REGISTRO NOME DO MUNICIPIO. FINALIDADE PUBLICA NAO COMPROVADA. DOMINIO PUBLICO INEXISTENTE. POSSE ‘AD USUCAPIONEM’ — FARTAMENTE DEMONSTRADA. Inexistindo comprovasio efetiva de que a via de {rinsto integrou 0 dominio piblico, nao ha cogitar da aplicagao do artigo 183, § 3%, da Carta Maior, Loteamento registrado sobre a area antigamente ocupada pela via, sem qualquer oposigio. da municipalidade, Auséneia de registro fem nome da pessoa juridica de direito piblico,Inexistencia de prova acerca da antiga destinasio piblica Ambito local indicado pela. prova Posse vintendria e ‘animus domini inequivacos. Asao._ procedente Primeiro apelo provide, Segundo apelo e reexame — necessério Prejudicados. (Apelagao ¢ Reexame Necessério VI CONVIBRA = Congresso Virtual Brasileiro de Administragao 6 n° 70.002.094.753, 2a Cimara Especial Civel, Relator Des. fearo Carvalho de Bem Osério, julgado em 23/04/02) Contudo, certo muito ha de ser trabalhado acerca do tema nos tribunais patrios, tendo em vista a jurisprudéncia pacifica no sentido de impedir a usucapiao dos bens pitblicos, refutando a corrente minoritério que entende pela possibilidade Consideragées finais Ante todo 0 exposto, conclui-se que a usucapido, fundada na funcao social da propriedade, ainda encontra-se majoritéria corrente que entende por sua impossibilidade quanto aos bens piiblicos. Contudo, mostra-se necessaria a reflexo acerca dos bens dominiais, uma ver que este, desafetados, nao se presta a fim beneficio Administracao, que tao somente possuem sua titularidade, Ainda sim, a corrente minoritéria que defende a possibilidade da usucapiao estes casos vem sendo considerada, encontrando-se precedente no Tribunal de Justiga do Rio Grande do Sul. Destarte, a discussao deve continuar. REFERENCIAS BRASIL. Cédigo Civil, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2012. Disponivel em: , Acesso em 01 de ago. de 2017, CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrative. 3. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016, FABRICIO, Adroaldo Furtado. Comentarios ao Gédigo de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 180, v. Ill, tll. FARIAS, Cristiano Chaves. _— de; ROSENVALD, Nelson, Direitos Reais. 2° edi¢do. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006. GONGALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 5: direito das coisas. 88 edigao, Sao Paulo - Saraiva: 2013, NADER, Paulo. Curso de direito civil, volume 4: direito das coisas. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, Revista Juridica Direito, Sociedade e Justi¢a/RJDS), v. 6, n. 1, Mar-Jun./2018, p.291-294 Suplementn Eenecial. RESUIMOS EXPANDIDOS. 28 Moctra Cientifica, 2017 - EMS Dourados/MS- 294

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